Alma Mía Colecao Musica
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MUSICA MUSICA COLECAO COLECAO Acervo Pessoal Regina Ribas Regina Ribas é jornalista. Dedica-se à comunicação corporativa, com foco em planejamento estratégico e publicações institu- cionais. Trabalhou em empresas de grande porte, agências de Relações Públicas e de publicidade. Fundou e dirige a Oficina Alma Mía de Texto e participa como parceira do Instituto de Mídias Digi- tais (IMD) – PUC-Rio, do Projeto Portal Rio Digital, de acesso das comunidades à internet, Graduada pela Universidade Federal da Bahia, tem pós gra- duação em Comunicação de Massa, Assessoria de Imprensa, Promoção de Vendas e Merchandising. Ao longo dos anos, participou de cursos, seminários, workshops e oficinas, atualizando-se em Assessoria a Executivos na Comunicação com a Mídia, Comunicação com Públicos Estratégicos, Andrade leny Webwriting e Novas Mídias. IBAS R Foi laureada em várias edições do Prêmio Aberje nas cate- gorias Relacionamento com o público interno, Jornal Mural, Comunicação Interna e Revista Impressa. REGINA De olho no futuro, estuda Astrologia ouvindo jazz. Com Urano na cabeça, o inesperado fez-lhe uma surpresa e a encomenda da biografia de Leny Andrade da Coleção Aplauso chegou até ela pela amiga-irmã, Eliana Pace. REGINA RIBAS Leny Andrade Alma Mía Leny Andrade capa pb.indd 1 22/03/13 16:55 Leny Andrade REGINA RIBAS Alma Mía 1 2 Leny Andrade REGINA RIBAS Alma Mía 3 Aos amigos que sempre insistiram para que eu escrevesse um livro. Para Carlos Gustavo Migliora in memoriam, que deu concretude ao meu amor pelo jazz. E para Gustavo, meu filho, que, com sensibilidade, disciplina e profissionalismo, fez a transcrição das entrevistas. Um agradecimento especial à minha amiga Mariflor Rocha, revisora. Regina Ribas 5 Sumário Introdução 09 Histórias da Infância 16 Precocidade e Independência 30 A Bossa Nova 35 Estreia Internacional 55 A Conquista do México 61 Muitos Contratos e um Casamento 72 Na Terra do Jazz 82 Lições de Música 88 Entre o Prestígio e a Fama 94 Encontro da Leny com a Leny 108 Epílogo 122 Discografia 124 6 7 8 Introdução AS 1.001 NOITES DE LENY ANDRADE Nas primeiras vezes em que falei com Leny Andrade – uma, no camarim do Bar do Tom, uma casa de shows carioca, e outra, ao telefone –, quanta intensidade. Antes mesmo de começarmos a trabalhar, ela já veio dizendo o quanto a música lhe era importante, presente em sua vida desde quando se encon- trava na barriga da mãe. Isso porque Dona Ruth dava aulas de piano para crianças enquanto estava grávida. Desse modo, o primeiro contato de Leny com a música se deu no mais aconchegante dos berços. Rapidamente sua memória voltou àquele dia em que, ainda criança, ousou abrir o bom piano de armário que ocupava a sala da casa no Méier, bairro carioca de classe média, para batucar nas teclas. Mamãe suspendeu a minha mãozinha pelo pulso e me deu a primeira lição de musicalidade: Aqui não se batuca, menina. É preciso antes sentir e, depois, começar a aprender o que fazer com essas teclas. A partir daquele dia, Leny saberia o que fazer com as teclas do piano, que ainda toca, e com as cordas de sua voz que vem encantando as mais diferentes plateias em todos os lugares do mundo, com extrema sensibilidade. Mas tem-se que pagar o preço e eu pago esse preço, como um pedágio – ela repetiu várias vezes, no nosso primeiro encontro e nos depoimentos. Muito trabalho, muita disciplina, nada de álcool, licença só para o cigarro, e assim tem sido a vida de Leny Andrade seja lá onde for, no Brasil, México, Estados Unidos, Europa, Japão, ou sentada em uma mesa do restaurante La Fiorentina – o seu escritório no Rio de Janeiro, onde me contou a maior parte de suas histórias. 9 Histórias essas que quase não foram contadas, pois Leny ficou zangada quando prometi telefonar às 9 da manhã de uma terça-feira para marcar a primeira entrevista, e só o fiz duas horas depois. De forma gentil, embora firme, ela demonstrou desapontamento e profissionalismo, e ameaçou adiar o projeto – quem sabe para sempre. Eu, que já tinha sido fisgada pelo seu carisma, fiquei triste. Senti-me como aquele sultão e a sua Sherazade. Preferiria que a madrugada não tivesse chegado tão de repente, pois já antevia narrativas de uma vida muito rica, plena de experiências únicas, boas de ouvir e de passar adiante. Esperava um mundo de revelações, muitas surpresas que seriam narradas do jeito dela, com sua voz inconfundível. Seria a primeira entre os que se deliciariam, orgulhosa por ser a porta-voz daquela que é uma grande intérprete do que nós temos de melhor – a nossa música. Inconformada, agi rápido. Escolhi cuidadosamente uma linda dúzia de rosas e mandei para ela com um pedido de desculpas, em que dizia não querer ficar como o sultão, esperando que uma nova noite chegasse para que ela resolvesse me presentear com as 1.001 noites de Leny Andrade. E aqui estou, feliz por ser a representante dessa maravilhosa pessoa que é Leny, a grande intérprete que muitas vezes esquecemos que é tão nossa. Aliás, devíamos ter vergonha de não estarmos sempre juntando os nossos aos merecidos aplausos que nunca lhe são negados nos quatro cantos do mundo por onde ela se apresenta. Interessante foi o evoluir deste livro. Logo no início, Leny e eu tivemos alguma dificuldade em encontrar o fio da meada para as narrativas. Ela, talvez preocupada em filtrar o que iria tornar público, ou mesmo em buscar a cronologia dos fatos perdidos no tempo. De minha parte, há muito deixara para trás as entrevistas tipo-caderno-B, para me dedicar aos textos do mundo corporativo. Mas fomos descobrindo coisas em comum, se não por razões superiores ao nosso entendimento, porque somos da mesma gera- ção: um grande amor pelo jazz, o interesse pela Astrologia (coisa que não lhe revelei), pelo esotérico (revelei pouco), e o gostar de ouvir e de contar 10 histórias (escancaramos). Aos poucos, relaxamos. Ela foi abrindo o jogo devagarzinho e depois já pontuava os depoimentos com um nossa, há muito tempo não toco nesse assunto, ou eu faço questão de contar como foi que isso aconteceu exatamente. Contrariando o catecismo, às vezes retribuía tanta generosidade com algumas histórias pessoais, sempre pontuadas pela música, nas noites da Bahia, Rio, São Paulo ou Nova York. Por exemplo, quando recordou sua estreia no João Sebastião Bar e eu disse que muitas vezes tinha ouvido música naquele lugar, na Rua Major Sertório. Acho que duvidou. Momento tocante foi quando recordou seu encontro com Piazzolla na boate La Noche, em Buenos Aires. Fiquei emocionada, ela percebeu e registrou. Por fim, acredito que o fato de Alcivandro Luz, Romero Lubamba, Ron Carter, Paquito D’Rivera, Bill Evans e Piazzolla ocuparem lugares especiais em nossos corações confirmou que habitávamos o mesmo quadrante neste universo cósmico. Leny foi tomando gosto pelas entrevistas, se entusiasmando pelo fato de estar organizando pela primeira vez a trajetória de sua vida em capítulos, tal qual uma Sherazade moderna. Mais ainda quando percebeu que este livro poderia salvá-la dos sultões da mídia e da ignorância das novas gerações, colocando-a no lugar onde verdadeiramente merece estar na história da nossa música. A cada encontro ela se organizava mais. Começou a chegar com um caderninho contendo poucas, porém, criteriosas anotações. Fazia comentários e sugestões inteligentes, discutia o projeto, colocando- se inteira naquelas duas, três, quatro horas que ficávamos conversando. Sem falsa modéstia e com muito orgulho. A história fluía sem tropeços graças à sua extraordinária memória: do jeito que ela contava, parecia que tinha acontecido ontem. Tudo era narrado com muito colorido. Leny reviveu: riu, sorriu, sentiu raiva, indignação, saudade, se emocionou e até amou de novo. No final, quando o passado já se encostava no presente, contava-me amigavelmente sobre o seu dia a dia no Brasil, ou sobre as curtas e constantes viagens que realizou neste último ano, deixava recados na secretária eletrô- nica e enviava e-mails, já que estava aprendendo a lidar com o computador. 11 Comecei a me sentir cada vez mais comprometida com esta biografia, com a obrigação de retratar os fatos com isenção, fiel às memórias da Leny. Não queria decepcioná-la. Também me encantou ser porta-voz de depoimentos muito verdadeiros sobre a noite de um Rio de Janeiro que já não existe e que foi “bárbara” (Leny tem vontade de resgatá-la), da história da Bossa Nova do ponto de vista muito pessoal de um de seus artesões, sem pesquisas sociológicas, antropológicas ou antropofágicas profundas, apenas com o compromisso de revelar os sentimentos da sensível mulher e intérprete que é Leny Andrade. Tudo isso tornou maior o desejo de fazer um registro que fosse verdadeiro e, ao mesmo tempo, desse prazer aos leitores, passasse informação, principalmente aos mais jovens – estou sempre preocupada com eles –, e a deixasse feliz. Paralelamente à confecção deste livro, Leny produziu vários shows e gravou Alma Mía – CD com 14 boleros magistralmente interpretados em perfeito espanhol. Cada vez que nos encontrávamos ela trazia notícias sobre o disco, ora contente com o andar da carruagem, ora impaciente, e, no final, já muito irritada com os tropeços da produção. Aconteceu de tudo. Ela dizia o tempo todo que precisava fazer um disco em língua espanhola, devia esta homena- gem aos fãs que habitam os países da América Latina e que a chamam de Deusa. Dois fatos foram mais marcantes, pelo menos para mim: no dia em 12 que ela ia fazer a primeira gravação com os músicos, num estúdio localizado no Recreio dos Bandeirantes – um lugar muito longe até para quem mora na Barra da Tijuca –, caiu uma chuva no Rio de Janeiro como não acontecia há 40 anos, arruinando a cidade.