A Experiência Do Museu De Arte Contemporânea Da USP Na Década De 1970 Anais Do Museu Paulista, Vol

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A Experiência Do Museu De Arte Contemporânea Da USP Na Década De 1970 Anais Do Museu Paulista, Vol Anais do Museu Paulista ISSN: 0101-4714 [email protected] Universidade de São Paulo Brasil Costa, Helouise Da fotografia como arte à arte como fotografia: a experiência do Museu de Arte Contemporânea da USP na década de 1970 Anais do Museu Paulista, vol. 16, núm. 2, julio-diciembre, 2008, pp. 131-173 Universidade de São Paulo São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=27312292005 Como citar este artigo Número completo Sistema de Informação Científica Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto Da fotografia como arte à arte como fotografia: a experiência do Museu de Arte Contemporânea da USP na década de 1970 Helouise Costa1 1. Docente do Museu de Arte Contemporânea da Universi- dade de São Paulo. E-mail: <[email protected]>. RESUMO: Este ensaio visa sistematizar os primeiros resultados de uma pesquisa, ainda em curso, sobre o processo de legitimação da fotografia pelo sistema de arte no Brasil, cujo foco principal é o museu. Os museus de arte da cidade de São Paulo foram escolhidos para dar início a essa investigação. Primeiramente, será abordada, em linhas gerais, a presença da fotografia no Museu de Arte Moderna de São Paulo e na Bienal de São Paulo, dada a vinculação de origem do Museu de Arte Contemporânea com essas duas instituições paulistanas. Na seqüência será analisada a formação do acervo fotográfico do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo durante a década de 1970. Por fim, esse percurso permitirá observar que a atuação de Walter Zanini, o primeiro diretor do Museu, e as particularidades da posição do MAC-USP no sistema de arte no Brasil naquele período resultaram no entendimento da fotografia prioritariamente no âmbito da arte contemporânea de caráter experimental e não como obra de arte autônoma, segundo os princípios da chamada fotografia artística. PALAVRAS-CHAVE: Museu de arte. Fotografia artística. Coleção fotográfica. Museu de Arte Moderna de São Paulo. Bienal de São Paulo. Museu de Arte Contemporânea. Universidade de São Paulo. ABSTRACT: This article presents the first findings of a research still under development about the process of legitimation of photography as a kind of art by the artistic scene in Brazil. The art museums of the city of São Paulo were chosen for starting that research. Initially, we will be investigating the presence of photography at the Contemporary Art Museum of São Paulo and at the Biennial of São Paulo, as the origin of the Contemporary Art Museum is tided to those two institutions. Following, the arrangement of the photographic technical reserve of the Contemporary Art Museum in the 1970s will be analyzed. This study will be focusing on the work of Walter Zanini, as the first director of the museum, and on the particularities of MAC- Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Sér. v.16. n.2. p. 131-173. jul.- dez 2008. 131 2. Este ensaio é resultado USP position in the art system in Brazil which resulted in the understanding of photography as parcial de pesquisa realizada para a Fundação de Amparo belonging to the sphere of contemporary art in an experimental way and not as an autonomous à Pesquisa do Estado de São work of art, according to the principals of the so called artistic photography. Paulo (Fapesp) no biênio KEYWORDS: Art museum. Photography as art. Photographic collection. Museum of Modern Art 2005-2009. Para sua elabora- cão, foram consultados os of São Paulo. Biennial of São Paulo; Museum of Contemporary Art. University of São Paulo. arquivos do Museu de Arte Contemporânea da USP, do Museum of Modern Art – New York e da Fundação A possibilidade de integrar o projeto temático – Lugares e modos Bienal de São Paulo (arquivo críticos da arte contemporânea nos museus – motivou-me a formalizar uma Wanda Svevo). pesquisa, cujo objetivo central é resgatar o processo de legitimação da fotografia 3. Fazem parte dessa rede pelo sistema de arte no Brasil, tendo como foco principal o museu2. Para tanto, de agentes os artistas, os marchands e galeristas, os parti do pressuposto de que o museu é uma das instâncias fundamentais do colecionadores, os críticos, sistema de arte, e sua atuação tem profundos desdobramentos no campo da os acadêmicos, os curado- res, os diretores e profissio- crítica e da história da arte. Por sistema de arte, entendo uma rede complexa de nais de museus e institui- agentes que confere significado social à obra de arte3; e, por legitimação, o ções culturais, os editores de publicações especializa- resultado de estratégias diversas, levadas a cabo por esses mesmos agentes das ou de divulgação, entre para obter o reconhecimento, junto a seus pares, de certas modalidades de outros. A composição dessa rede varia de acordo com a obras ou práticas artísticas, em observância a determinados sistemas de valores 4 época e os países considera- compartilhados . Nessa linha interpretativa, o museu, na sua qualidade de dos. Sobre a arte moderna e instituição normalizadora, dita padrões de legitimação para diferentes práticas contemporânea como siste- ma, ver Anne Cauquelin artísticas, por meio de estratégias diversas, especialmente pelas exposições que (1992). realiza, pelas publicações que organiza ou endossa, e pela política de 5 4. Legitimar tem sua origem incorporação de obras adotada para seu acervo . etimológica ligada à palavra A história das instituições e de seu papel na conformação de sistemas lei. “A legitimação é um conceito de origem político- de valores em uma determinada área de conhecimento vem, há muito tempo, jurídica que designa o reco- sendo contemplada como objeto de investigação pela Sociologia. O mesmo nhecimento, pelas institui- ções do poder, e segundo não ocorre no âmbito da arte. Ao defender a autonomia da obra de arte e a articulações discursivas que subjetividade privilegiada do artista como fatores determinantes do significado esse mesmo poder domina, de determinados factos so- da arte na sociedade moderna, a teoria estética modernista subestimou o papel ciais, sejam eles processos das instituições na conformação dos valores artísticos. Foi somente a partir dos ou objectos. Como produto anos 1970, com o advento da chamada crítica pós-moderna, que o interesse social que sempre é, a litera- tura esteve, desde a origem, pelos processos de institucionalização da arte ganhou fôlego no trabalho de sujeita a essa mesma legiti- autores como Rosalind Krauss, Douglas Crimp e Abigail Salomon-Goudeau, para mação”. Podemos afirmar que esse fenômeno ocorre citar apenas alguns dos nomes, cuja produção teórica refere-se mais diretamente também com a arte em geral à fotografia6. Não por acaso, parte desses autores valeu-se das questões e a fotografia em particular. Ver: Dicionário eletrônico suscitadas pela assimilação da fotografia pelo museu para fundamentar suas de termos literários. Acessí- reflexões acerca da institucionalização da arte moderna e contemporânea e vel em: <http://www.fcsh. unl.pt/edtl/verbetes/L/legi- evidenciar seus paradoxos. Já no Brasil, só recentemente a institucionalização da timacao.htm>. Acesso em arte moderna e contemporânea começou a ser tomada como objeto de pesquisas dezembro de 2007. acadêmicas de modo mais sistemático7. Ainda assim, poucos estudos têm sido 8 5. Os termos coleção e acer- dedicados à assimilação da fotografia pelos museus nacionais . Foi, portanto, vo serão utilizados neste en- com o intuito de atuar nesta lacuna que dei início a este projeto de pesquisa. saio seguindo a sugestão de Maria Cecília França Louren- A primeira etapa desta investigação, realizada entre 2005 e 2007, ço: “Diferenciamos coleção tratou do processo de formação do acervo fotográfico do Museu de Arte de acervo, não tanto pelo sentido etimológico, pois Contemporânea da Universidade de São Paulo. A escolha do MAC-USP deveu- praticamente coincidem no se não apenas a meu vínculo profissional com a instituição, mas, principalmente, 132 Anais do Museu Paulista. v. 16. n.2. jul.-dez. 2008. às peculiaridades de sua trajetória. Fundado em 1963, constituiu-se no primeiro intento aglutinador […]. A palavra coleção associa-se a museu de arte contemporânea do país e teve sua origem ligada ao Museu de voluntarismos, em que um Arte Moderna de São Paulo e à Bienal de São Paulo. Essas conexões primordiais sujeito elege objetos como parte reveladora de sua exis- e sua condição de museu universitário pareceram-me conferir ao MAC-USP uma tência, seja por lazer, capri- trajetória complexa e particularmente propícia à realização deste estudo. Os cho, amuleto ou vaidade […] indica conjunto fecha- museus universitários constituem-se em uma dupla referência no sistema de arte: do e privado, transferido ou além de exercerem o papel de instituição museológica, têm por princípio, como não para instituições. A es- colha da palavra acervo para fundamento de todas as atividades que desenvolvem, a produção de segmentos conectados, se- conhecimento acadêmico. A vinculação universitária propicia a esse tipo de gundo um projeto museoló- gico, é aqui intencional […]. museu uma relativa autonomia em relação ao mercado de arte, o que ocorre de Pressupõe o debate e a elei- ção de critérios, o estabele- modo ainda mais evidente durante o período abarcado por este ensaio, quando cimento de plano de metas, ainda não havia um sistema de arte estruturado no país. dentro de padrões especial- mente formulados segundo De início, tratarei do processo de incorporação da fotografia pelo a realidade existente”. Cf. Museu de Arte Moderna de São Paulo. Na seqüência, em linhas gerais, Maria Cecília França Louren- abordarei a presença da fotografia na Bienal, para, finalmente, analisar a ço (1999, p. 13). experiência do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo na 6. Tais autores estiveram vinculados ao projeto edito- década de 1970.
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