Universidades Lusíada

Mafé, Luiene Indira Augusto, 1991- Centro Comercial Amoreiras : marco arquitetónico e ícone da cidade http://hdl.handle.net/11067/3803

Metadados Data de Publicação 2018-03-28 Palavras Chave Centros comerciais - - Lisboa, Centro Comercial das Amoreiras (Lisboa, Portugal), Taveira, Tomás, 1938- - Crítica e interpretação, Lisboa (Portugal) - Edifícios, estruturas, etc., Lisboa (Portugal) - História Tipo masterThesis Revisão de Pares Não Coleções [ULL-FAA] Dissertações

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA

Faculdade de Arquitetura e Artes

Mestrado Integrado em Arquitetura

Centro Comercial Amoreiras: marco arquitetónico e ícone da cidade

Realizado por: Luiene Indira Augusto Mafé Orientado por: Prof. Doutor Arqt. Rui Manuel Reis Alves

Constituição do Júri:

Presidente: Prof. Doutor Horácio Manuel Pereira Bonifácio Orientador: Prof. Doutor Arqt. Rui Manuel Reis Alves Arguente: Prof.ª Doutora Arqt.ª Maria de Fátima Silva Freire e Veiga

Dissertação aprovada em: 16 de Março de 2018

Lisboa

2017

U NIVERSIDADE L U S Í A D A D E L ISBOA

Faculdade de Arquitetura e Artes

Mestrado Integrado em Arquitetura

Centro Comercial Amoreiras: marco arquitetónico e ícone da cidade

Luiene Indira Augusto Mafé

Lisboa

novembro 2017

U NIVERSIDADE L U S Í A D A D E L ISBOA

Faculdade de Arquitetura e Artes

Mestrado Integrado em Arquitetura

Centro Comercial Amoreiras: marco arquitetónico e ícone da cidade

Luiene Indira Augusto Mafé

Lisboa

novembro 2017

Luiene Indira Augusto Mafé

Centro Comercial Amoreiras: marco arquitetónico e ícone da cidade

Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitetura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa para a obtenção do grau de Mestre em Arquitetura.

Orientador: Prof. Doutor Arqt. Rui Manuel Reis Alves

Lisboa

novembro 2017

Ficha Técnica

Autor Luiene Indira Augusto Mafé

Orientadora Prof. Doutor Arqt. Rui Manuel Reis Alves

Título Centro Comercial Amoreiras: marco arquitetónico e ícone da cidade

Local Lisboa

Ano 2017

Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação

MAFÉ, Luiene Indira Augusto, 1991

Centro Comercial Amoreiras : marco arquitetónico e ícone da cidade / Luiene Indira Augusto Mafé ; orientado por Rui Manuel Reis Alves. - Lisboa : [s.n.], 2017. - Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa.

I - ALVES, Rui Manuel Reis, 1964-

LCSH 1. Centros comerciais - Portugal - Lisboa 2. Centro Comercial das Amoreiras (Lisboa, Portugal) 3. Lisboa (Portugal) - Edifícios, estruturas, etc. 4. Lisboa (Portugal) - História 5. Taveira, Tomás, 1938- - Crítica e interpretação 6. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses 7. Teses - Portugal - Lisboa

1. Shopping centers - Portugal - 2. Amoreiras Shopping Center (Lisbon, Portugal) 3. Lisbon (Portugal) - Buildings, structures, etc. 4. Lisbon (Portugal) - History 5. Taveira, Tomás, 1938- - Criticism and interpretation 6. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations 7. Dissertations, Academic - Portugal - Lisbon

LCC 1. NA6218.M34 2017

Àqueles que sempre estiveram presentes na minha vida, dando apoio incondicional e força para seguir em frente – os meus pais.

AGRADECIMENTOS

À Faculdade de Arquitetura da Universidade Lusíada de Lisboa que proporcionou a realização do Mestrado em Arquitetura.

Ao Professor Doutor Arquiteto Rui Reis Alves pela disponibilidade e orientação na realização desta dissertação.

A todos os docentes que, de forma geral, contribuiram para a minha formação e gosto pela arquitetura.

Aos meus pais e à minha irmã pelo carinho, paciência e apoio incondicional, apesar das minhas ausências.

Aos colegas e amigos que sempre me acompanharam e deram apoio. Em particular, ao Rogério Ferreira.

À arquiteta Ana Maria Guedes Lebre e ao arquiteto Pedro Trindade pelo incentivo e pelas dicas e sugestões.

A todos, muito obrigada!

“Primeiro estranha-se, depois entranha-se.”

Fernando Pessoa

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 – Casa de Queijas,1968-73, Raúl Hestnes Ferreira. (Ruep, 2015)...... 48 Ilustração 2 – Casa Avelino Duarte, 1984, Siza Vieira. (FG+SG ARCHITECTURAL PHOTOGRAPHY)...... 52 Ilustração 3 – Casas no Van der Venne, 1985-88, Siza Vieira. (Almery, 2015)...... 53 Ilustração 4 – Edifício Residencial “Leão que Ri”, 1954-55, Pancho Guedes. (Miranda, 2012)...... 55 Ilustração 5 – Centro Psico-Geriátrico de Nossa Senhora de Fátima, 1981-85, Luiz Cunha (Ilustração nossa, 2017) ...... 56 Ilustração 6 – Armazéns do Chiado, 1894 (Leite, J., 2012)...... 61 Ilustração 7 – Mercado da Ribeira em 1936 (Leite, J., 2014a)...... 61 Ilustração 8 – Mercado da Praça da Figueira antes de 1949 (Leite, J., 2014b)...... 61 Ilustração 9 – Palais Royal, 1630, Jacques Lemercier. (Nguyen, 2006)...... 64 Ilustração 10 – Galeria Palais Royal, 1630, Jacques Lemercier (TxllxT, 2012)...... 64 Ilustração 11 – Colunas de Daniel Buren. (Buren, 2012)...... 65 Ilustração 12 – Fonte de Pol Bury no Palais Royal. (Cals, 2017)...... 66 Ilustração 13 – Passage des Panoramas, 1800. (Inforzato, 2014)...... 66 Ilustração 14 – Galerie Vivienne, 1826 (Inforzato, 2015)...... 66 Ilustração 15 – Entrada da Galeria Vittorio Emanuelle II. (Halun, 2011) ...... 67 Ilustração 16 – Interior da Galeria Vittorio Emanuelle II. (Vogue Living, 2015)...... 67 Ilustração 17 – Harrods Department Store. (Bhatt, 2014)...... 68 Ilustração 18 – Praça de Alimentação Harrods. (Quagliatti, s.d.)...... 68 Ilustração 19 – Centro Comercial Roland Park, 1907, James Wyatt e William Nolting. (Roland Park, 2011.)...... 69 Ilustração 20 – Centro Comercial Southdale, 1956, Victor Gruen. (Intercom, 2016). . 70 Ilustração 21 – Publicis Drugstore, 1958. (Tom Dixon, 2017)...... 71 Ilustração 22 – Entrada do Apolo 70, 1971. (Vasques, 1977a)...... 73 Ilustração 23 – Interior do Drugstore Apolo 70, 1971. (Pastor, c.1980)...... 73 Ilustração 24 – Interior Apolo 70, após renovação (Ilustração nossa, 2016) ...... 74 Ilustração 25 – Centro Comercial Castil, 1973, Francisco Conceição Silva. (Pastor, c.1980)...... 76 Ilustração 26 – Interior do Centro Comercial Castil, 1973, Francisco Conceição Silva. (Pastor, c.1980)...... 77 Ilustração 27 – Entrada do Centro Comercial Imaviz, 1975, Fernando Silva. (Vasques, 1977)...... 78 Ilustração 28 – Interior do Centro Comercial Imaviz, 1975, Fernando Silva. (Pastor, c.1980)...... 78

Ilustração 29 – Entrada e Esplanada do Centro Comercial , após renovação (MUNDICENTER, s.d. a)...... 79 Ilustração 30 – La Rinascente, 1957-61, Franco Albini. (Cavaliere, 2008)...... 89 Ilustração 31 – Edifício Economist, 1959-64, Peter e Alison Smithson. (Denovi, 2011)...... 90 Ilustração 32 – Laboratório de Engenharia de Leicester, 1959-63, James Stirling. (Woods, 2010)...... 93 Ilustração 33 – Cadeiras “Rick”, “Maria” e “Sandman”. (Broadbent, 1990, pp. 262-265)...... 94 Ilustração 34 – Studio Alchimia. (Alchimia, s.d.)...... 95 Ilustração 35 – O Galo de Barcelos e o Galo de Barcelos Transfigurado. (Broadbent, 1990, p. 272)...... 97 Ilustração 36 – Objetos Transfigurados: Jarra, Panela, e Vaso. (Broadbent, 1990, pp. 271, 272)...... 97 Ilustração 37 – Hotel da Balaia, 1968, Conceição Silva. (Leite, I., 2014, p. 29)...... 100 Ilustração 38 – Torres de Alfragide, 1970, Conceição Silva. (Fiúza, 2010)...... 100 Ilustração 39 – Hotel do Mar, 1956, Conceição Silva. (Leite, J., 2013)...... 100 Ilustração 40 – Vista Aérea do Complexo da Torralta, 1970-74. (Cristelo, 2008). .... 101 Ilustração 41 – Loja Valentim de Carvalho, 1966-69, Cascais. (Ilustração nossa, 2016)...... 103 Ilustração 42 – Alçado da Loja Valentim de Carvalho, 1966-69, Cascais. (Ilustração nossa, 2016)...... 104 Ilustração 43 – Vista Perspética da Loja Valentim de Carvalho, 1966-69, Cascais. (Ilustração nossa, 2016)...... 105 Ilustração 44 – Alçado Principal da Loja Valentim de Carvalho, 1966-69, Cascais. (Ilustração nossa, 2016)...... 105 Ilustração 45 – Planta da Loja Valentim de Carvalho, 1966-69, Cascais. (Bettella & Broadbent, 1994, p. 16)...... 106 Ilustração 46 – Vista da Estrada de Paço d’Arcos da Entrada da Fábrica Valentim de Carvalho, 1968-70. (Ilustração nossa, 2016)...... 107 Ilustração 47 – Vista da Estrada de Paço d’Arcos da Fábrica Valentim de Carvalho, 1968-70. (Ilustração nossa, 2016)...... 108 Ilustração 48 – Vista Lateral da Fábrica Valentim de Carvalho, 1968-70. (Ilustração nossa, 2016)...... 108 Ilustração 49 – Vista Lateral da Fábrica Valentim de Carvalho, 1968-70. (Ilustração nossa, 2016)...... 108 Ilustração 50 – Edifício Satélite, à direita, em frente ao Edifício do Centro Comercial Amoreiras, à esquerda. (Ilustração nossa, 2016)...... 109 Ilustração 51 – Fachada Principal e Fachada Traseira do Edifício Satélite, 1972-82. (Ilustração nossa, 2016)...... 110 Ilustração 52 – Plantas do Edifício Satélite, 1972-82. (Taveira, 1986, p. 7)...... 110

Ilustração 53 – Conjunto Habitacional de - Zona J, 1975-78. (Ilustração nossa, 2016)...... 111 Ilustração 54 – Montreal’67 Safdie, 1967, Kisho Kurokawa. (Quirk, 2013)...... 112 Ilustração 55 – Nagakin Capsule Tower, 1972, Kisho Kurokawa. (Brito, 2013)...... 112 Ilustração 56 – Planta Tipo de Bloco Habitacional, 1972-78. (Land, Hücking, & Trigueiros, 2005, p. 384)...... 113 Ilustração 57 – Conjunto Habitacional de Chelas - Zona J, 1972-78. (Bettella & Broadbent, 1994, p. 24)...... 113 Ilustração 58 – Conjunto Habitacional de Chelas - Zona J, 1972-78. (Ilustração nossa, 2016)...... 114 Ilustração 59 – Conjunto Habitacional de Chelas - Zona J, 1972-78. (Ilustração nossa, 2016)...... 114 Ilustração 60 – Conjunto de Edifícios em Olaias, 1978-80. (Ilustração nossa, 2016)...... 115 Ilustração 61 – Runcorn New Town, 1977, James Stirling. (MMU VISUAL RESOURCES, s.d.)...... 116 Ilustração 62 – Edifício de Escritórios, 1972-80. (Ilustração nossa, 2016)...... 116 Ilustração 63 – Entrada do Centro Comercial, 1972-80. (Ilustração nossa, 2017). .. 117 Ilustração 64 – Piazza d’Italia, 1978, Charles Moore. (Fisher, 2011)...... 118 Ilustração 65 – Interior Olaias Plaza, 1972-80. (Land, Hücking, & Trigueiros, 2005, p. 386)...... 118 Ilustração 66 – Bloco de Apartamentos com Hotel Altis Park atrás. (Ilustração nossa, 2016)...... 119 Ilustração 67 – Plantas Tipo das Habitações. (Duarte, 1989, p. 68)...... 119 Ilustração 68 – Conjunto Habitacional, 1972-80. (Ilustração nossa, 2016)...... 120 Ilustração 69 – Conjunto Habitacional voltado para Chelas, 1972-80. (Ilustração nossa, 2016)...... 120 Ilustração 70 – Edifício D. Carlos I, 1973-83. (Land, Hücking, & Trigueiros, 2005, p. 208)...... 121 Ilustração 71 – Alçados e Corte do Edifício D. Carlos I, 1973-83. (Duarte, 1989, p. 67)...... 122 Ilustração 72 – Plantas do Edifício D. Carlos I, 1973-83. (Bettella & Broadbent, 1994, p. 29)...... 122 Ilustração 73 – Edifício de Escritórios na Av. João XXI e Bloco de Apartamentos na Av. Óscar Monteiro Torres, 1978. (Ilustração nossa, 2016)...... 123 Ilustração 74 – Fachada Principal do Banco Nacional Ultramarino, 1983-89. (Ilustração nossa, 2016)...... 124 Ilustração 75 – Interior do Banco Nacional Ultramarino, 1983-89. (Land, Hücking, & Trigueiros, 2005, p. 302)...... 125 Ilustração 76 – Planta do Piso de Entrada do BNU, 1983-89. (Land, Hücking, & Trigueiros, 2005, p. 302)...... 125

Ilustração 77 – Alçados do BNU, 1983-89, Tomás Taveira. (Taveira, 1986, p. 30). . 126 Ilustração 78 – Esquisso do BNU, 1983-89, Tomás Taveira (Duarte, 1989, p. 69). . 126 Ilustração 79 – Ortofotomapa de Enquadramento. (Google Inc, 2016)...... 127 Ilustração 80 – Ortofotomapa de Localização. (Google Inc, 2016)...... 127 Ilustração 81 – Cartografia Histórica, 1856-58, Filipe Folque. (CML, 2017a) ...... 128 Ilustração 82 – Cartografia Histórica, 1878, César e Francisco Goullard. (CML, 2017b)...... 128 Ilustração 83 – Cartografia Histórica, 1911, Silva Pinto. (CML, 2017c)...... 129 Ilustração 84 – Cartografia Histórica, 1950. (CML, 2007)...... 129 Ilustração 85 - Estação de Autocarros e Elétricos da Carris. (Portugeo, 2014)...... 130 Ilustração 86 – Aqueduto das Águas Livres. (Cunha, ant 1938)...... 131 Ilustração 87 – Vista do Aqueduto para as Torres das Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017)...... 132 Ilustração 88 – Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras. (Madureira, 1961). .... 133 Ilustração 89 – Interior do Reservatório e Vista do Terraço. (Ilustração nossa, 2017)...... 133 Ilustração 90 – Hotel Ritz, 1959, Pardal Monteiro. (Ilustração nossa, 2010)...... 134 Ilustração 91 – Palácio da Justiça, 1970, Januário Godinho e João Andresen. (Ilustração nossa, 2010)...... 135 Ilustração 92 – Hotel Dom Pedro Lisboa, 1998, Nuno Leónidas. (Ilustração nossa, 2017)...... 136 Ilustração 93 – Edifício Amoreiras Square, 1999-2001, Raposo Cordeiro. (Ilustração nossa, 2017)...... 136 Ilustração 94 – Edifício Amoreiras Plaza, 2000-2005, atelier Daciano da Costa. (Ilustração nossa, 2017)...... 137 Ilustração 95 – Hotel Epic Sana, 2010-2013, Nuno Leónidas. (Ilustração nossa, 2017)...... 137 Ilustração 96 – Edifício Portland, 1982, Michael Graves. (Merin, 2013)...... 138 Ilustração 97 - Les Espaces d’Abraxas, 1982, Ricardo Bofill. (RBTA RICARDO BOFILL TALLER DE ARQUITECTURA, s.d.)...... 138 Ilustração 98 – Fachada de Edifício de Habitações. (Ilustração nossa, 2017)...... 139 Ilustração 99 – Esquema ilustrativo da estrutura funcional do Complexo das Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017)...... 141 Ilustração 100 – Complexo das Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017)...... 142 Ilustração 101 – Praça de Alimentação. (SARAIVA + ASSOCIADOS, 2014)...... 145 Ilustração 102 – Vista do Miradouro. (Ilustração nossa, 2017)...... 145 Ilustração 103 – Pilares com capitéis. (Tomás Taveira & Associados, 2011.)...... 146 Ilustração 104 – Cavaleiro Medieval (à esquerda) e Ordenação de um Cavaleiro (à direita). (Santiago, 2013)...... 147

Ilustração 105 – Vista Geral do Complexo das Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017)...... 149 Ilustração 106 – Esquema da Planta das Tipologias habitacionais do Complexo das Amoreiras (adaptação nossa, a partir da planta do Arquivo Municipal de Lisboa, 2017) ...... 150 Ilustração 107 – Entrada do Bloco de Apartamentos, Sala e Quarto de um Apartamento. (Tomás Taveira & Associados, 2011)...... 151 Ilustração 108 – Vista da Torre 1 sobre os coroamentos do edifício de habitação. (Ilustração nossa, 2017)...... 151 Ilustração 109 – Vista das arcadas. (Ilustração nossa, 2017)...... 151 Ilustração 110 – Torres das Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017)...... 152 Ilustração 111 – Contraste da Torre com as arcadas e com o edifício de habitações. (Ilustração nossa, 2017)...... 152 Ilustração 112 – Entrada das Torres de Escritórios (Tomás Taveira & Associados, 2011.) ...... 153 Ilustração 113 – Planta do Piso Tipo das Torres 1 e 3 (à esquerda) e Planta do 4º Piso da Torre 2 (à direita) (Taveira, 1986, p. 18) ...... 153 Ilustração 114 – Vista do Complexo das Amoreiras. (Amoreiras Shopping Center, 2016.)...... 154 Ilustração 115 – Skyline de Lisboa com as Torres das Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017)...... 155 Ilustração 116 – Imagens das Torres das Amoreiras. (Ilustração nossa, 2016)...... 156 Ilustração 117 – Esquema dos Pisos 0 e 1 do Centro Comercial das Amoreiras. (Adaptação nossa, a partir de MUNDICENTER, s.d. b, 2017)...... 156 Ilustração 118 – Imagens das Fontes. (Tomás Taveira & Associados, 2011)...... 157 Ilustração 119 – Casa da Música, 2001-2005, Rem Koolhas. (Ilustração nossa, 2016)...... 158 Ilustração 120 – Centro Comercial Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017)...... 159 Ilustração 121 – Praça Central do Centro Comercial. (Ilustração nossa, 2017)...... 161 Ilustração 122 – Interior do C.C. Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017)...... 163 Ilustração 123 – Centro Comercial Amoreiras. (Ilustração nossa, 2016)...... 164 Ilustração 124 – Arcada envolvente e Praça de entrada para uma das Torres. (Ilustração nossa, 2017)...... 165 Ilustração 125 – Pormenores do Complexo das Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017)...... 166 Ilustração 126 – Memória Descritiva, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa) ...... 213 Ilustração 127 – Memória Descritiva, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa) ...... 214 Ilustração 128 – Memória Descritiva, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa) ...... 215

Ilustração 129 – Memória Descritiva, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa) ...... 216 Ilustração 130 – Memória Descritiva, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa) ...... 217 Ilustração 131 – Memória Descritiva, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa) ...... 218 Ilustração 132 – Memória Descritiva, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa) ...... 219 Ilustração 133 – Planta de Parcelas a Permutar, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa) ...... 220 Ilustração 134 – Planta de Implantação do Complexo das Amoreiras, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa) ...... 220 Ilustração 135 – Estudo Volumétrico do Complexo das Amoreiras, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa) ...... 221 Ilustração 136 – Planta de Acessos ao Complexo das Amoreiras, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa) ...... 221 Ilustração 137 – Planta das Habitações do Complexo das Amoreiras, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa) ...... 222 Ilustração 138 – Alçado Principal do Complexo das Amoreiras, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa) ...... 222 Ilustração 139 – Corte do Complexo das Amoreiras, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa) ...... 222 Ilustração 140 – Alçado Poente do Complexo das Amoreira, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa) ...... 223

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Espaços Comerciais depois do Drugstore Apolo 70 e antes do C.C. Amoreiras (Ilustração nossa, 2016) ...... 75

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS

AAP - Associação dos Arquitetos Portugueses AICA - Associação Internacional de Críticos da Arte BD - Banda Desenhada BNU - Banco Nacional Ultramarino CC - Centro Comercial CEE - Comunidade Económica Europeia CGD - Caixa Geral De Depósitos CIAM - Congresso Internacional da Arquitetura Moderna ESBAL - Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa FMI - Fundo Monetário Internacional GEFEL - Gabinete de Estudos e Empreendimentos Técnicos, S.A LET - Lisbon Electric Tramways MIT - Massachusetts Institute of Technology PDM - Plano Diretor Municipal SIC - Sociedade Independente de Comunicação TVI - Televisão Independente

SUMÁRIO

1. Introdução ...... 23 1.1. Apresentação e Justificação do Tema ...... 23 1.2. Objetivos da investigação ...... 24 1.3. Metodologia e Estrutura da Dissertação ...... 24 2. Do Modernismo ao Pós-Modernismo e a Emergência do Consumismo ...... 27 2.1. A Transição do Moderno para o Pós-Moderno: O Contexto Internacional ...... 27 2.2. O Pós-Modernismo em Portugal ...... 38 2.2.1. A Pós-Modernidade ...... 43 2.2.2. O Pós-Modernismo “Crítico” ...... 51 2.2.3. O Pós-Modernismo “Afirmativo” ...... 53 2.3. A Emergência do Consumismo: A Sociedade e a Arquitetura de Consumo .... 57 2.3.1. A Sociedade de Consumo: Panorama Internacional ...... 59 2.3.2. Emergência do Consumismo em Portugal ...... 60 2.3.3. Os Centros Comerciais ...... 63 2.3.3.1. Origem Europeia ...... 64 2.3.3.2. Origem Americana ...... 69 2.3.3.3. Panorama Português ...... 70 2.3.3.3.1. Centro Comercial Castil (1973) ...... 76 2.3.3.3.2. Centro Comercial Imaviz (1975) ...... 78 2.3.3.3.3. Centro Comercial Alvalade (1976) ...... 79 3. Tomás Taveira: Do Racionalismo ao Pós-Modernismo ...... 81 3.1. O Arquiteto ...... 81 3.1.1. “Bagagem” Cultural: Influências e Referências ...... 85 3.1.2. Pensamento Arquitetónico ...... 91 3.1.3. Arquiteto / Designer ...... 94 3.2. Emergir do Atelier Conceição Silva ...... 98 3.3. Roteiro para o Pós-Modernismo ...... 103 3.3.1. Loja Valentim de Carvalho, Cascais (1966 - 69) ...... 103 3.3.2. Fábrica Valentim de Carvalho, Paço d’Arcos (1968 - 70) ...... 107 3.3.3. Edifício Satélite, Lisboa (1972 - 82) ...... 109 3.3.4. Habitação Social em Chelas, Lisboa (1975 - 78) ...... 111 3.3.5. Complexo das Olaias, Lisboa (1972 - 80) ...... 115 3.3.6. Edifício Dom Carlos I, Lisboa (1973 - 83) ...... 121 3.3.7. Edifício do IVA – Edifício na Av. João XXI, Lisboa (1978) ...... 123 3.3.8. Banco Nacional Ultramarino, Lisboa (1983 - 89) ...... 124 4. Centro Comercial Amoreiras: Marco e Ícone da Cidade ...... 127

4.1. O Lugar, as Referências e o Projeto ...... 127 4.1.1. O Lugar ...... 127 4.1.1.1. O Que lá esteve ...... 128 4.1.1.2. O Que ainda lá está ...... 130 4.1.1.3. O Que lá está ...... 134 4.1.2. As Referências ...... 138 4.1.3. O Projeto ...... 140 4.1.3.1. O Programa ...... 143 4.1.3.2. O Conceito ...... 146 4.1.3.3. A Estética ...... 149 4.2. Marco Arquitetónico ...... 154 4.3. Ícone da Cidade ...... 159 4.3.1. Lugar de Encontros e de Apropriação na Contemporaneidade ...... 163 5. Considerações Finais ...... 167 Referências ...... 171 Bibliografia ...... 185 Apêndices ...... 190 Lista de apêndices ...... 192 Apêndice A ...... 194 Apêndice B ...... 202 Anexos ...... 207 Lista de anexos ...... 209 Anexo A ...... 211 Anexo B ...... 225

Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

1. INTRODUÇÃO

1.1. APRESENTAÇÃO E JUSTIFICAÇÃO DO TEMA

O tema decorre do desejo de conhecer e compreender o “fenómeno” dos centros comerciais. Centra-se no estudo do Centro Comercial Amoreiras, em Lisboa, abordando as questões da arquitetura, da estética, da qualidade espacial e da apropriação do espaço.

Segundo Miguel Silva Graça, na seu texto “Shopping (&) Center: o centro comercial como lugar de consumo e de centralidade urbana”, os centros comerciais são um dos elementos mais marcantes da paisagem urbana e uma das mais visíveis manifestações da sociedade de consumo, além de representarem um dos lugares de socialização da vida quotidiana dos cidadãos.

Nesse sentido, o Centro Comercial Amoreiras é um desses objetos indispensáveis na sociedade em que vivemos. Dá início a uma nova geração de centros comerciais, não só pela dimensão dos espaços mas também pela introdução de luz natural. Além disso, é um marco na carreira do arquiteto Tomás Taveira, que vê a sua obra ganhar notoriedade e protagonismo na cidade de Lisboa.

Como elemento marcante da paisagem lisboeta, é um espaço não só de consumo mas também de lazer que, com o passar dos anos, se tornou um ícone, além de ser um marco arquitetónico e um elemento identitário e diferenciador de Lisboa, que serve de modelo a outros centros comerciais.

Em geral, quando se fala de centros comerciais, fala-se em quantidades e funções que esses espaços comportam, na ótica de servirem mais e melhor os seus visitantes, esquecendo-se que esses espaços, outrora apenas de consumo, hoje, têm valências recreativas e culturais, que carecem de características arquitetónicas que possibilitam atrair o cidadão.

Assim, mais do que falar de quantidades, nesta dissertação, procura-se falar de qualidades, nomeadamente qualidades espaciais, nas quais a arquitetura tem um papel determinante para a criação de ambientes aprazíveis, não só, para consumo mas, também, para se estar.

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1.2. OBJETIVOS DA INVESTIGAÇÃO

O principal objetivo desta dissertação é refletir sobre o papel da arquitetura no centro comercial, nomeadamente, no Centro Comercial Amoreiras, na cidade de Lisboa.

Assim, com o desenvolvimento deste tema, pretende-se:

 Compreender o contexto que proporcionou o aparecimento do Centro Comercial Amoreiras e o impacto que teve na cidade de Lisboa, atendendo à estética do edifício;  Entender a importância que o edifício adquiriu, ao longo dos tempos, como marco e como ícone da cidade, tendo em conta os aspetos arquitetónicos e as suas qualidades espaciais;  Explorar e experienciar o Centro Comercial Amoreiras, através da apropriação do espaço.

1.3. METODOLOGIA E ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Este trabalho desenvolve-se a partir da consulta bibliográfica que visa o entendimento dos conceitos de pós-modernismo e sociedade de consumo. Faz-se uma leitura da obra de Tomás Taveira, através de publicações, impressas e digitais, para compreender o percurso do arquiteto, o desenvolvimento das suas obras e o impacto da obra em estudo.

De modo a perceber o enquadramento do Complexo das Amoreiras faz-se um estudo do lugar, que envolve uma investigação histórica, cartográfica e/ou iconográfica, e um estudo do Plano Diretor Municipal.

A história permite conhecer a génese do lugar e saber como este evoluiu até os dias de hoje.

Os parâmetros urbanísticos, embora não estivessem em vigor na altura, ajudam a perceber qual é a situação atual do lugar em estudo.

A dissertação organiza-se em três partes, partindo de uma visão geral para uma visão particular do objeto em estudo.

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A primeira parte, de carácter contextual, centra-se no enquadramento social e cultural, marcado pela transição do modernismo para o pós-modernismo e pela emergência de uma sociedade de consumo.

A segunda parte, foca-se no percurso do arquiteto, tendo em conta não só os seus antecedentes culturais e arquitetónicos, mas também, o seu papel como protagonista do pós-modernismo em Portugal.

E, por fim, a terceira parte, baseia-se no caso de estudo, nomeadamente, o Centro Comercial Amoreiras, que além de abordar questões conceptuais e de conceção da obra em estudo, aborda a apropriação do espaço do Centro Comercial Amoreiras, através da experiência direta e individual, com o objetivo de estruturar uma reflexão crítica, em torno das questões levantadas.

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2. DO MODERNISMO AO PÓS-MODERNISMO E A EMERGÊNCIA DO CONSUMISMO

2.1. A TRANSIÇÃO DO MODERNO PARA O PÓS-MODERNO: O CONTEXTO INTERNACIONAL

Na viragem nos anos cinquenta para os anos sessenta, em clima de pós-guerra, a arquitetura moderna entra em crise. Surge um debate internacional sobre o estatuto da arquitetura moderna, onde Inglaterra e Itália são protagonistas, tendo como porta-vozes Ernesto Rogers1 e Reyner Banham2 que se fazem ouvir, não só, através de publicações como a Architectural Review3, Architectural Design4 e Casabella-Continuità5, mas também no CIAM6.

Por um lado, Rogers defende a “continuidade”, isto é, a adaptação da arquitetura moderna ao contexto existente, no sentido de esta estabelecer uma relação constante que colmate as falhas, por assim dizer, da arquitetura moderna, mas que aproveite o

1 Ernest Nathan Rogers (1909 - 1969) – Arquiteto, escritor e professor italiano. Formado pelo Instituto Politécnico de Milão, em 1932, Rogers destacou-se no pós-guerra como jornalista, crítico e publicitário de arquitetura. Fundou o atelier BBPR com Lodovico di Belgiojoso, Enrico Peressutti e Gian Luigi Banfi. Foi co-editor da revista “Quadrante” (1933-36) e diretor das revistas “Casabella” (1953-65) e “Domus” (1946- 47). 2 Reyner Banham (1922 - 1988) – Historiador e Engenheiro aeronáutico inglês. Formando pelo Instituto de Arte Courtauld, Banham tornou-se, em 1952, crítico da Architectural Review. Foi o principal teorizador e divulgador da corrente brutalista inglesa. Foi professor na Escola de Arquitetura de Bartlett, na University College de Londres, na Universidade Estadual de Nova Iorque e na Universidade da Califórnia. Recebeu o prémio Sir Misha Black. 3 Architectural Review – Revista internacional de arquitetura, publicada em Londres desde 1896. 4 Architectural Design – Revista de arquitetura fundada em 1930 no Reino Unido. Conhecida por estar na vanguarda do design e das novas tecnologias, a revista abrange temas diversos como a história da arquitetura, meio ambiente, design de interiores, arquitetura paisagística e desenho urbano. Atualmente é publicada por John Wiley&Sons e é editada por Helen Castelo. 5 Casabella Continuità – Revista de arquitetura italiana, fundada em 1928. Teve Ernesto Rogers como diretor de 1953 a 1965. 6 CIAM (Congresso Internacional da Arquitetura Moderna) – Organização fundada em 1928, responsável por eventos e congressos na Europa, com o objetivo de difundir os princípios do Movimento Moderno, principalmente, em arquitetura.

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legado modernista, herdado da Bauhaus7 e dos mestres do modernismo, como Walter Gropius8, Le Corbusier9 e Mies Van der Rohe10.

[…] o trabalho de Rogers à frente da Casabella-Continuità assenta num pressuposto de fundamentação e de ligação do moderno […] a motivação central de Rogers é integrar a arquitectura moderna nessa velha árvore civilizacional e estabelecer uma genealogia que pressuponha uma continuidade natural. Rogers quer enquadrar o esforço moderno na conjuntura histórica e para superar a “crise”, “reafirmar a continuidade da história sem negar as acções originais [do moderno] mas pelo contrário insistindo na nossa responsabilidade de as completar”. (Figueira, 2014, p. 25, 26)

Nesse sentido, Rogers analisa a cultura arquitetónica, criando pontos de contacto com diferentes disciplinas, nomeadamente, a filosofia, a música e a arte, no intuito de contextualizar o moderno na tradição ocidental, sugerindo a arquitetura como uma herança social, na qual a técnica e o estilo são parte de um todo.

Propõe a arquitectura como cultura e não se fixa na sua filiação tecnicista ou estilística. Por isso adere ao termo design: porque “envolve o pensamento e não só o desenho”. […] Para Rogers […] “a acção crítica sobre a história passada e presente, a historicização dos fenómenos” deve ser uma componente central da pedagogia e da prática arquitectónica. […] O que Rogers propõe […] é a manutenção da ideia de arquitectura moderna como um método e não um estilo […] Na perspectiva de Rogers, “superar o complexo da história” permitiria refazer o método que levaria à sobrevivência da arquitectura moderna. […] Rogers pretendia considerar a herança moderna de modo a poder continuar a lição dos Mestres […] (Figueira, 2014, p. 26, 27)

Rogers rejeita a formatação imposta pelo modernismo, em que existe um código comum e é reproduzido como um estilo, independentemente do contexto, alegando que a história é parte importante, não só do ato de projetar mas também do ato de ensinar

7 Bauhaus – Escola de design, artes plásticas e arquitetura impulsionadora do modernismo. Entre muitos, teve como mestres Walter Gropius, Mies Van der Rohe, Wassily Kandinsky e Paul Klee. 8 Walter Gropious (1883 - 1969) – Arquiteto alemão, com nacionalidade norte-americana, fundador da Bauhaus. Considerado um dos principais nomes da arquitetura do século XX foi diretor do curso de arquitetura da Universidade de Harvard e presidente do CIAM. Premiado com Medalha de Ouro da AIA em 1959 e o Prémio Goethe em 1961. 9 Le Corbusier (1887 - 1965) – Arquiteto, pintor, escultor e urbanista suíço, cujo nome original é Charles- Édouard Jeanneret. Autodidata, Le Corbusier foi uma figura importante do Movimento Moderno, sendo considerado mestre da arquitetura racionalista. Deu a conhecer as suas ideias para a arquitetura moderna na revista “L’Esprit Nouveau”, em 1926, das quais destacamos os cinco pontos da arquitetura – planta livre, fachada livre, construção sobre pilotis, janelas horizontais, cobertura habitável – e o sistema Modulor (sistema de medidas ergonómicas que dimensiona a arquitetura para um homem ideal de 1,83 metros de altura). Foi membro impulsionador dos CIAM (1928-59). Aplicou o funcionalismo para desenhar as cidades industriais, estabelecendo relações entre as formas das máquinas e as técnicas da arquitetura moderna. 10 Mies Van der Rohe (1886 - 1969) – Arquiteto alemão. Considerado um dos principais arquitetos do século XX, foi professor na Bauhaus e um dos criadores do Estilo Internacional. Procurou uma abordagem racional que guiasse o processo de projetar em arquitetura. Concebeu espaços despojados de forma que transmitem elegância, seguindo os preceitos do minimalismo. A sua arquitetura destaca-se pelo racionalismo e sofisticação na utilização de materiais como o aço e o vidro. Premiado com o Prémio Antonio Feltrinelli em 1953, a Medalha de Ouro do RIBA em 1959 e a Medalha Presidencial da Liberdade em 1963.

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arquitetura, para que haja a continuidade ou a contextualização da obra arquitetónica. E, para que isso aconteça, é necessário ultrapassar a falta de confiança na história e adotá-la como referência fortalecedora do progresso do pensamento arquitetónico, o que permitiria prolongar o processo da arquitetura moderna, sem que ela entrasse em crise.

A abordagem italiana […] acentua os aspectos culturalistas e visa religar a arquitectura ao território e à cidade […] Rogers quer integrar o moderno na história, situando a componente abstracta e mecanicista do movimento como conjuntural. Banham, pelo contrário, pretende reavivar e acelerar essas componentes […] (Figueira, 2014, p. 28)

Por outro lado, Banham, procura aprofundar os aspetos técnicos da arquitetura moderna, fazendo uma análise à sua origem e valorizando o seu processo, porque, no seu entendimento, o funcionalismo não conseguiu satisfazer as necessidades da era da máquina.

E, uma vez que a Inglaterra não experienciou o espírito dos anos 1920/30, no momento em que a era da máquina estava ao rubro, Banham tem interesse em reconstituir a força desse período, com o objetivo, pode-se assim dizer, de iniciar uma “Segunda Idade da Máquina” (Figueira, 2014, p. 28).

Além disso, Banham censura a orientação revivalista e historicista da arquitetura italiana, acusando-a de não estar à altura para dar respostas às oportunidades que surgiram no pós-guerra.

Em resposta às acusações de Banham, Rogers destaca o carácter único da arquitetura italiana e torna a afirmar que o uso de formas, independentemente da sua época, e o retorno à história têm utilidade, na ótica de permitirem a continuidade como meio de renovação.

Em qualquer dos casos, há repercussão, teórica e/ou prática, destas sensibilidades que tornam claro o rumo da arquitetura moderna e, no fundo, estabelecem as bases para o desenvolvimento arquitetónico, nomeadamente, uma linha historicista, onde se encontram Ernesto Rogers, Aldo Rossi11 e Paolo Portoghesi12, e uma linha tecnicista,

11 Aldo Rossi (1931 - 1997) – Arquiteto e teórico italiano. Licenciou-se em arquitetura no Politécnico de Milão em 1959. Ficou conhecido pela utilização de formas puras. Premiado com Prémio Pritzker em 1990 pelo conjunto da sua obra. 12 Paolo Portoghesi (1931 - …) – Arquiteto, escritor, teórico e professor universitário italiano. Formado em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura de Sapienza, enquanto estudante publicou a sua primeira monografia de Guarino Guarini e alguns ensaios sobre Borromini, referência invariável no seu trabalho. Foi reitor da Faculdade de Arquitetura na Universidade Politécnica de Milão entre 1968 e 1978. Atualmente é

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de origem brutalista que evolui para uma expressão high tech, onde se situam Reyner Banham, Alison e Peter Smithson13, James Stirling14 e os Archigram15. Em Portugal, é a linha italiana, de Rogers e de Bruno Zevi16, que tem destaque, apesar da arquitetura portuguesa ser caracterizada pela estética austera e pouco ornamentada, também patente no brutalismo.

Todavia, nos anos 1960, perante o enfraquecimento do racionalismo como padrão, a cultura arquitetónica esforça-se por encontrar, novamente, a ciência e a razão. Esse esforço desenvolve-se em duas direções distintas, o lado academicamente científico e o lado inspirado na ficção científica.

Do lado academicamente científico, apoiado nas ciências exatas e sociais, trabalha-se com motivações objetivas e métodos positivistas, tendo uma abordagem baseada nas evidências sociológicas do incómodo físico ou moral causado pela cidade moderna em contraste com a vitalidade da cidade existente com a cidade projetada.

Desta abordagem tem-se como exemplo os “métodos de projecto” (Figueira, 2014, p. 67) tutelados por Leslie Martin17 na Escola de Cambridge e o trabalho de Christopher Alexander18 em Harvard, que procuram estabelecer, cientificamente, o processo professor de arquitetura na Universidade La Sapienza, em . Fundou a Revista “Controspazio” em 1966 e foi diretor dela até 1983.Foi presidente da seção de arquitetura da Bienal de Veneza entre 1979 e 1992. 13 Alison Smithson (1928 - 1993) e Peter Smithson (1923 - 2003) – Arquitetos ingleses, associados ao Neo – brutalismo. Foram fundadores, juntamento com Lawrence Alloway (criador da pop art), Richard Hamilton, Eduardo Paolozzi, Reyner Banham, do Independet Group, que é um grupo de artistas ingleses, fundado em 1952 no Instituto da Arte Contemporânea, em Londres, que tinha como objetivo produzir arte que chegasse as grandes massas e, para isso, utilizavam a produção gráfica. 14 James Stirling (1926 - 1992) – Arquiteto inglês. Premiado com a Medalha Alvar Aalto em 1977, a Medalha de Ouro RIBA EM 1980, o Prémio Pritzker em 1981 e Praemium Imperiale em 1990. 15 Archigram – Grupo de arquitetos ingleses cuja atividade foi marcada pela publicação de revistas, entre 1961 e 1974. Procuravam dialogar com o contexto cultural da época, tendo a tecnologia como meio de expressão. Propagavam o imaginário de um mundo fantasioso através da arquitetura tecno-pop. São herdeiros da tradição tecnológica inglesa que aludem às experiências da arquitetura de “ferro e vidro” de Joseph Praxton e decorrem da experimentação pop inaugurada pelo Independet Group nos anos 1950. Apesar da atmosfera tecnológica, o grupo funciona artesanalmente, sendo pródigos em desenho e craft. Criaram algumas das imagens mais atraentes, resultantes da adesão à cultura de massas e seguindo a humanização da tecnologia que a banda desenhada, o cinema e a ficção científica transformaram em algo popular e partilhável. Os principais membros do grupo foram Peter Cook, Warren Chalk, Ron Herron, Dennis Crompton, Michael Webb e David Green. 16 Bruno Zevi (1918 - 2000) – Arquiteto e urbanista italiano, conhecido como historiador e crítico da arquitetura moderna. Defendeu a arquitetura orgânica como solução para o racionalismo da arquitetura moderna. Foi professor de História e Teoria da Arquitetura no Instituto Universitário de Arquitetura de Veneza e na Universidade La Sapienza em Roma. Da sua obra destacam-se: Verso un’Architettura (1945), Saber Ver a Arquitetura (1948) e História da Arquitetura Moderna (1950) 17 Leslie Martin (1908 - 2000) – Arquiteto inglês. Foi um dos principais defensores do Estilo Internacional, sendo a sua obra influenciada por Alvar Aalto. Estudou na Universidade de Manchester e foi professor na Universidade de Hull. 18 Christopher Alexander (1936 - …) – Arquiteto, matemático e urbanista austríaco. Foi um dos críticos da arquitetura moderna, indicando a desagregação social como do funcionalismo racionalista da arquitetura

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espontâneo de construção da cidade para depois o tornar em método aplicável, fundamento e regra de procedimento.

Indo contra os “caixotes” produzidos pelo modernismo, Alexander procura, através da metodologia científica, lançar uma complexidade que a abordagem moderna não tinha.

No seu texto “Uma Cidade não é uma Árvore”, além de descrever a cidade natural, isto é, a cidade formada espontaneamente, como uma “semi-retícula” e a cidade artificial, ou seja, a cidade criada por urbanistas, como uma “árvore”, Alexander fala sobre a necessidade de se reconhecer que as cidades artificiais têm algo em falta quando comparadas com as cidades naturais. E, apoiando a preocupação de vários arquitetos com relação a ocupação do mundo com “caixotes de vidro” que vinculam “corajosos protestos e concepções, na tentativa de recrear sob uma forma moderna as múltiplas características das cidades naturais” põe em causa a tendência para refazer o que é antigo retendo características físicas e plásticas em vez de seguir “o princípio abstracto de ordenação que as cidades antigas possuem” (Alexander, 2010, p. 532-533).

No caso da inspiração na ficção científica, faz-se uma abordagem pop das novas tecnologias, onde a ciência é dominada pela imaginação e procura-se a humanização e popularização da tecnologia.

Como exemplo temos os Archigram que, seguindo o metabolismo japonês, isto é, a natureza das relações entre a tecnologia e o homem, divulgam um lado visionário que reintroduz as promessas futuristas asseguradas pelos avanços tecnológicos, mas que são levados ao exagero segundo uma sensibilidade de banda desenhada ao gosto americano.

Estas abordagens, ao contrário de outras abordagens mais conservadoras, apresentam-se “como meios extremos de tentar compreender e intervir numa realidade em transformação (Figueira, 2014, p. 67) e assemelhando-se a uma não-arquitetura rejeitam a componente artística e intuitiva do projeto, tentando anular as leis da gravidade e a estabilidade associadas à arquitetura.

Em Portugal, por razões estruturais, é incompatível a aplicação de abordagens inspiradas na ficção científica. Assim, acompanha-se o debate internacional através da

moderna. Os seus estudos contribuíram para a utilização de padrões geométricos e matemáticos no urbanismo e arquitetura. Professor emérito da Universidade da Califórnia em Berkeley.

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ciência, mas experimenta-se o futurismo em outras áreas como nas artes plásticas e nas letras, mas não na arquitetura.

Com o passar do tempo e, sobretudo, no decorrer dos anos setenta, a tendência para a tecnologia pop passa e dá-se início a uma cultura que aproveita dessa experiência a capacidade de representação de objetos não observados de forma construtiva e o carácter abrangente, mas reprova a falta de senso comum e a pouca praticabilidade. Além disso, apoia-se na semiótica, proveniente da abordagem científica, de modo a entender a arquitetura como forma de expressão que transmite algo, quando necessário. Ao mesmo tempo, do ponto de vista sociológico, esta cultura confere ao utente, que também é consumidor, o poder de decisão final. Assim, no fim da década de setenta, a arte é estimada pelos arquitetos, em vez da ciência.

No entanto, a discussão sobre o rumo da arquitetura não se fica pela Europa. Expande- se até a América. Desponta um debate entre os dois continentes, que tem por base a defesa da ciência e da ficção.

Nessa discussão, a passagem de Denise Scott Brown19 pela Architectural Association, entre 1952 e 1955, tem um papel importante, pois permite o estabelecimento de um ponto de contacto com a atividade dos Smithson e destes com a cultura americana.

Peter Smithson descobre na América um universo que ultrapassa as suas expectativas. No sentido inverso […] Scott Brown toma contacto com o brutalismo que entende ser percursor da abordagem pop […] (Figueira, 2014, p. 93)

19 Denise Scott Brown (1931 - …) – Arquiteta, urbanista, professora e escritora americana. Considerada, juntamente com o seu marido Robert Scott Brown, como arquitetos de influência do século XX, iniciou os estudos na Universidade de Witwatersrand, África do Sul, em 1948, tendo posteriormente, em 1952, prosseguido os estudos na Architectural Association School of , Londres, onde se formou em Arquitetura, em 1955. Em 1960, completou o mestrado em Planeamento Urbano, na Universidade da Pensilvânia, onde se tornou docente, concluiu o mestrado em Arquitetura e conheceu Robert Venturi. Posteriormente, deu aulas na Universidade da Califórnia, em Berkeley e na Universidade de Yale. Foi nomeada co-presidente do Programa de Design Urbano da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Em 2003 foi professora convidada ao lado de Venturi na Graduate School of Design, da Universidade de Harvard. Premiada com Edmund N. Bacon Prize, Philadelphia Center for Architecture em 2010, Design Mind Award, Cooper-Hewitt National Design Awards em 2007 com Robert Venturi, o Athena Award, Congress for the New Urbanism em 2007, o Vilcek Prize, The Vilcek Foundation também em 2007, o Harvard Radcliffe Institute Medal em 2005, o Visionary Woman Award, Moore College of Art & Design em 2003, em 2002 com o Vincent Scully Prize, National Building Museum em conjunto com Robert Venturi, oTopaz Medallion, American Institute of Architects em 1996, o National Medal of Arts, United States Presidential Award em 1992 com Robert Venturi, o Chicago Architecture Award em 1987, o ACSA (Association of Collegiate Schools of Architecture) Distinguished Professor Award em 1986-87 e o AIA Firm Award, to Venturi, Rauch and Scott Brown em 1985.

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E, enquanto Denise considera a precedência da abordagem pop, Robert Venturi tem uma opinião oposta. No entanto, Stanislaus von Moos20 confirma que os brutalistas estavam à frente dos artistas pop americanos, por declarar que o conceito de “vulgaridade” tinha sido introduzido por Alison e Peter Smithson, desde 1954, através do estudo de anúncios “como documentos do gosto contemporâneo” (Figueira, 2014, p. 93). Assim, a invocação do “feio” e “vulgar” que Venturi e Denise fazem, posteriormente, em “Learning from Las Vegas”, é precedente da Europa, mas sem o carácter representativo patente no brutalismo. Embora a metodologia de ambas as partes se assemelhe no intento de “abrir os olhos” para a realidade daquilo que se procura, os Smithson são dirigidos por preceitos programáticos, enquanto Venturi está livre disso.

Por um lado, os Smithson acumulam um conflito entre a tradição racionalista e a defesa do quotidiano e abordam a história com moderação, de maneira breve e pouco concisa.

Por outro lado, Robert Venturi faz desaparecer o conflito vivido pelos Smithson e utiliza a história com a tendência de privilegiar o que é prático. Coloca-se entre duas ideologias distintas, algo típico do pós-modernismo, recusando a conservação passiva da arquitetura moderna e rejeitando a arquitetura das grandes corporações e do status quo.

Com a publicação de “Complexity and Contradiction in Architecture” e “Learning from Las Vegas” Venturi torna presente o regresso à arquitetura, adotando as novas metodologias no âmbito da sociologia e da semiótica e afastando-se do plano teórico ou unicamente processual. Consequentemente redefine-se a imagem do arquiteto (Figueira, 2014, p. 95).

Em relação ao regresso à arquitetura, este apresenta-se com um caráter americano, porque as premissas se baseiam na ligação do projeto com o senso comum. Nesse sentido, surge um discurso “populista” que pretende ligar de modo coerente o que as pessoas querem dizer. Logo, Venturi procura a combinação de meios que possibilitem à arquitetura uma legibilidade facilmente percetível e que detenha um sentido de pertença (Figueira, 2014, p. 96).

20 Stanislaus von Moos (1940 - …) – Historiador e teórico de arquitetura suíço. Fundou, em 1971, a revista “Archithese”. Ensinou em várias universidades europeias e americanas, nomeadamente, Universidade de Harvard, na Technische Hogeschool em Delft, no Centro de Pós-Graduação da Universidade de Nova Iorque e na Universidade de Princeton, onde foi professor de Arquitetura de Jean Labatut, em 1977. Também, foi professor de Arte Moderna na Universidade de Zurique, entre 1983 e 2005 e, atualmente é professor visitante de História Arquitetónica na Universidade de Yale. Paralelamente ao ensino, organizou, sozinho e em parceria, exposições de arte e arquitetura, principalmente, sobre o trabalho de Le Corbusier e Venturi, Scott Brown & Associates. Em 2012, foi co-curador de uma exposição de retrospetiva sobre o trabalho de Louis Kahn. Foi premiado com o Prémio de Teoria da Arquitetura Schelling, em 1998.

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Assim, a arquitetura pós-modernista do início dos anos oitenta eleva-se. Isso acontece porque não se limita às imagens de Las Vegas, mas vai de encontro à celebração da cultura, onde as imagens são a porta de entrada.

Contrariamente, na Europa, a arquitetura racional e Aldo Rossi adquiriram discípulos e influência. Contudo, com Louis Kahn, Robert Venturi e Denise Scott Brown é evidente a aptidão da América para manipular a direção da cultura arquitetónica. Está em causa a exploração de abordagens formais externas à arquitetura moderna, o que requer a adoção de “linguagens de prazer” em substituição das “linguagens de batalha” (Figueira, 2014, p. 110).

Assim sendo, a origem do pós-modernismo enquanto dominante cultural localiza-se na década de sessenta, devido à progressiva presença da América. Dessa presença, assinalam-se três vetores que contribuem para o aparecimento da cultura pop e do pós- modernismo, nomeadamente, o Camp, o espectro da americanização e o fim da divisão entre “alta” e “baixa” cultura (Figueira, 2014, p. 143).

Na sua essência, o Camp, teorizado por Susan Sontag21, carateriza-se pelo amor ao desnatural, pelo artifício e pelo exagero. Isso é bem patente no seu ensaio “Notes on”Camp””, onde Susan fala do Camp como uma sensibilidade livre, sem compromisso, e interessada no duplo sentido. Assim sendo, é algo que procede do culto do superficial e proporciona à arte e, até mesmo à vida, um conjunto diferente e complementar de padrões de apreciação ou julgamento.

O espectro da americanização, segundo Dick Hebdige22 em “Hiding in the light”, surge devido ao facto da cultura ocidental ter como referência, a partir dos anos cinquenta, a cultura pop americana. E, uma vez que com a América surge um conjunto de coisas que se transformam em “marcas” e de instituições que se transformam em “produtos”, Hebdige estabelece este conceito em termos de autonomização da América e vê na

21 Susan Sontag (1933 - 2004) – Escritora, crítica de arte e ativista norte-americana. Formou-se na Universidade de Harvard, obtendo destaque por causa da sua defesa aos direitos humanos. Premiada com National Book Critics Circle Award em 1977, o National Book Award - Ficção em 2000, o Prémio Jerusalém em 2001 e o Prémio Princesa das Astúrias em 2003. 22 Dick Hebdige (1951 - …) – Teórico e sociólogo de media britânico. Professor de Arte e Estudos de Media na Universidade da Califórnia, Santa Bárbara. Seu trabalho é comumente associado ao estudo das subculturas e sua resistência contra a corrente principal da sociedade. Os seus atuais interesses de pesquisa incluem topografias de media, estudos do deserto e críticas performativas. Hebdige escreveu extensivamente sobre arte contemporâneo, design, media e estudos culturais, em estilo mod, reggae, pós - modernismo e estilo, surrealismo, improvisação e Takashi Murakami.

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Pop Art um meio de preservar a originalidade americana indo além das “convenções pictóricas europeias” (Dick Hebdige apud Figueira, 2014, p. 144).

O fim da divisão entre “alta” e “baixa” cultura sistematizado por Andreas Huyssen 23 em “After the Great Divide”, afirma que a relação com a cultura de massas desenvolvida pelo modernismo é um elemento determinante de descrição do pós-modernismo (Huyssen, 1986, p. vii). Embora Huyssen considere a existência de estratégias para desequilibrar a oposição entre a alta e baixa cultura dentro do modernismo, durante muitas décadas, a oposição entre o modernismo e a cultura de massas resistiu com êxito, chegando ao ponto de se desenvolverem teorias como a de Theodor Adorno24 e Clement Greenberg25 que insistiam na separação explícita entre a cultura de massas e a alta cultura (Huyssen, 1986, p. ix). Considerando isso, o pós-modernismo traduz um novo modelo que vai além da ruptura com o moderno. E, para a sua compreensão, a crítica da Pop Art desenvolvida por Roland Barthes26 e Jean Baudrillard é relevante.

Para Barthes a Pop Art é a inversão de valores, a utilização daquilo que é desconsiderado. E, esta utilização é feita através da repetição, aspeto característico, que faz com que as coisas sejam finitas mas não necessariamente completas ou acabadas. Segundo Barthes, a Pop Art procura separar o sinal representativo do objeto. Na realidade, o objeto da Pop Art exibe-se fora do seu contexto, o que aparentemente, parece não ter significado, no entanto, ele está lá, subtil.

Para Baudrillard a Pop Art é uma arte do consumo. Por um lado, ela serve como ferramenta para manipular signos, por outro lado, apresenta-se como um objeto de

23 Andreas Huyssen (1942 - …) – Professor de Alemão e de Literatura Comparada na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, onde fundou e dirigiu o Centre for Comparative Literature and Society (1998- 2003), tendo sido também diretor do Departamento de Línguas Germânicas (1986-1992; 2005-2008). Vencedor do Prémio Mark van Doren (2005), atribuído pela Universidade de Columbia aos que demonstram "espírito humanitário, devoção à verdade e liderança inspiradora", é também um dos diretores-fundadores da revista New German Critique (1974-). Andreas Huyssen pertence, desde 2009, ao Conselho Consultivo/Editorial da revista do CECC, Comunicação & Cultura. 24 Theodor Adorno (1903 - 1969) – Filósofo, sociólogo e músico alemão. Formado pela Universidade de Frankfurt em 1924. 25 Clement Greenberg (1909 - 1994) – Crítico de arte norte-americano. Estudou na Universidade de Siracusa, tendo publicado o seu primeiro ensaio “Avant-Garde and Kitsch” em 1939, onde declarou que o Modernismo era uma forma de combater o aviltamento cultural causado pela propaganda capitalista. 26 Roland Barthes (1915 - 1980) – Escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo francês. Formando em Letras Clássicas em 1939, e em Gramática e Filosofia em 1943, na Universidade de Paris, Barthes fez parte da Escola Estruturalista, por influência de Ferdinand de Saussure. Trabalhou, entre 1952 e 1959, no Centro Nacional de Pesquisa Cientifica, sendo critico dos conceitos teóricos que circularam nos centros educativos franceses nos anos 50. Usou a análise semiótica em revistas e propagandas, dividindo o processo de significação entre denotativo (percepção simples, superficial) e conotativo (sistema de códigos que não são transmitidos e são adotados como padrões).

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consumo. E, a aplicação de iniciais, marcas e slogans aos objetos é, efetivamente, o reconhecimento de que a essência dos objetos e produtos é ou está na sua marca.

Assim, a recepção da Pop Art é diferente, dependendo do contexto. No entanto, estudos referentes ao aparecimento do Pós-Modernismo e da Pop Art revelam que aquilo que caracteriza a Pop Art, nomeadamente, o anonimato, o conteúdo significativo difícil de entender e a representação da cultura, leva a um primeiro contacto com o pós- modernismo antes do seu estado definitivo. E, atendendo a isso, deduz-se que este movimento é o impulso idealista que abre caminho para o que define o pós-modernismo – ambivalência, subjetividade, valorização da cultura popular.

A princípio a expressão “pós-modernismo” não é usada deliberadamente, isto é, não é aplicada num contexto específico. É na década de setenta que isso começa a acontecer. E, no domínio da arquitetura, isso só acontece em 1977, quando Charles Jencks publica o livro “The Language of Post-”.

A seguir a Jencks, Jean-François Lyotard27 e Jürgen Habermas28 escrevem sobre a condição pós-moderna e estabelecem as diretrizes do debate.

Lyotard publica “A Condição Pós-moderna” em 1979, que é um relatório sobre a situação do conhecimento científico nas sociedades com nível de vida elevado e avançadas tecnologicamente, considerando o pós-moderno como descrente nas meta- narrativas que definem o modernismo, nomeadamente a autonomização gradual da razão, da liberdade e do trabalho e o desenvolvimento da humanidade através dos avanços tecnológicos. Ao mesmo tempo, rejeita a visão do pós-modernismo apresentada por Charles Jencks, critica o conceito de pós-moderno como uma nova direção e afirma que a oposição à modernidade sobrecarrega a cultura sem levar em conta os seus antecedentes.

27 Jean-François Lyotard (1924 - 1998) – Filósofo francês. Considerado um dos personagens importantes na discussão sobre a pós-modernidade. Autor do livro “A Condição Pós-Moderna” (1979), Lyotard, além de permitir que o conceito se alargasse a um público mais vasto, perspetivou uma rutura com a modernidade, propondo uma leitura pós-moderna no domínio do conhecimento, da ética, da política e da estética. Foi professor no liceu Constantine, Argélia, entre 1950 e 1952, e na Escola Militar de La Flèche, até 1959. 28 Jürgen Habermas (1929 - …) – Filósofo e sociólogo alemão. Deu aulas na Universidade de Heidelberg (1961-64) e na Universidade de Frankfurt (1964-71 e 1982). Foi Presidente do Instituto Max Planck, em Starnberg (1971-82). Grande nome da Teoria Crítica originada na Escola de Frankfurt, Habermas abriu-a a um largo espetro teórico, que vai das questões epistemológicas e relacionadas com a dinâmica das sociedades capitalistas avançadas, à filosofia analítica, filosofia das ciências, linguística, ciência política, funcionalismo estrutural, teoria sistémica e desenvolvimento moral e cognitivo. Em 2003, foi premiado com o Prémio Príncipe das Astúrias para as Ciências Sociais.

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Habermas questiona a necessidade de se apegar às intenções do Ilusionismo ou de considerar a modernidade como causa pedida. Publica, em 1981, “Modern and postmodern architecture”, onde defende o Movimento Moderno. Além disso, Habermas considera que os problemas não estavam no Movimento Moderno em si, mas na sua incapacidade de se libertar das imposições do mercado e do planeamento administrativo e conclui que, enquanto o Movimento Moderno tem uma tradição autocrítica, o Pós- Moderno é propenso a fugir à realidade e está disposto a mudar o que pode ser mudado.

Neste contexto Fredric Jameson29 também dá o seu contributo no ensaio “Postmodernism or, The cultural logic of late capitalism”. Apesar de não ser defensor, intenta afastar-se das diretrizes críticas e adotar o pós-modernismo como uma circunstância permanente. Desse modo, procura estabelecer um novo padrão cultural que se possa adequar às tendências que vão surgindo.

Assim, apresenta o pós-modernismo como um fenómeno global que domina a cultura. Descobre um conjunto de arquitetos cujas obras são referência nos debates de arquitetura e permitem o desenvolvimento do seu conceito sobre o pós-modernismo (Jameson, 1991, p. 2). No entanto, a sua descrição do pós-modernismo é, fundamentalmente, negativa. Essa descrição caracteriza o pós-modernismo como algo superficial, sem apego que troca a “paródia” pelo “pastiche” e usa o historicismo com êxtase e dependendo apenas da vontade do autor (Jameson, 1991, p. 17).

Após as primeiras definições e debates, o pós-modernismo torna-se o assunto principal e frequente ao longo dos anos oitenta. Publicam-se vários textos e ensaios a favor e contra o pós-modernismo, tendo a arquitetura como instrumento de avaliação desses pensamentos escritos. Assim, apresentam-se três tipos de abordagens ao pós- modernismo – “afirmativa”, “crítica” e “negativa”.

As abordagens “afirmativas”, como o próprio nome indica, declaram positivamente a operacionalidade do pós-modernismo, embora reconheçam que, como conceito, tem um carácter instável.

29 Fredric Jameson (1934 - …) – Crítico literário e teórico marxista norte-americano. Formado no Haverford College em 1954 e, posteriormente, na Universidade de Yale, Jameson é conhecido pela sua análise da cultura contemporânea e da pós-modernidade. Atualmente trabalha na Universidade de Duke. Foi premiado, em 2008, com o Prémio Comemorativo Internacional Holberg.

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2.2. O PÓS-MODERNISMO EM PORTUGAL

O Pós-Modernismo surge em Portugal na década de oitenta, impulsionado por mudanças que ocorrem no país desde a década de sessenta.

Esta década, conforme explicam Nuno Portas e Manuel Mendes no Catálogo “Arquitectura Portuguesa Contemporânea”, é caraterizada como a década do crescimento urbanístico, sobretudo, da periferia da capital, e do aumento do capital imobiliário, “dirigido aos segmentos solventes da nova procura social do terciário urbano” (Portas & Mendes, 1991, p. 11), o que leva à urbanização dos arredores da cidade de modo impróprio, devido à falta de investimento do estado em bairros sociais.

Perante esta situação, em 1969, o “Colóquio sobre Política de Habitação”, divulgado pelo Ministério das Obras Públicas, verifica a necessidade de reformular em bases estruturais o aparelho de Estado e de reformas jurídico-institucionais, de modo a coordenar e orientar todas as atividades do setor da habitação. Contudo, os programas habitacionais desenvolvidos revelaram falta de adequação ao contexto em que se inseriam, levando o processo de construção a ser algo pontual e fragmentado.

Em relação à cultura arquitetónica, nesta década, defende-se, ao projetar, a recuperação do contacto com o real e, em vez de se ter uma solução geral que abrange tudo, procura-se restaurar a vivência do individuo com o território. Em simultaneidade, desfaz-se o mito referente à linguagem, à ideologia, à tradição e à história através da análise do modo como os elementos se organizam, o que permite o entendimento da identidade disciplinar e o estabelecimento de maneiras de proceder nos diversos campos de projeto.

Tardiamente, o Estilo Internacional torna-se visível nos programas do setor terciário, em especial, no sector turístico a sul, nomeadamente no Algarve, onde os grandes escritórios têm domínio privilegiado por estarem, por vezes, ligados a grupos importantes de capital financeiro.

Como exemplo toma-se o Atelier Conceição Silva que se distingue no meio arquitetónico, não só, pela sua estrutura empresarial que engloba diversos departamentos quer de Arquitetura, Planeamento Urbano, Design, Artes Plásticas quer de Construção, Investimento Imobiliário e Publicidade, mas também, pelo seu contributo reorganizado de acordo com as tendências da época na produção arquitetónica que

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qualifica a imagem urbana através de recursos formais e linguísticos simples, relacionados com a escolha estrutural ou com aspetos programáticos.

Na segunda metade da década de sessenta, num período marcado pelo conservadorismo autoritário do poder político e pela ausência de estratégias de modernização do poder económico, acentuam-se os desequilíbrios territoriais e a aleatoriedade do crescimento urbano. As pressões desenvolvimentistas no processo de produção da edificação traduzem uma grande “anarquia” no planeamento espacial desse crescimento quantitativo. (Portas & Mendes, 1991, p. 17)

Após o 25 de Abril de 1974, as coisas começam efetivamente a mudar. Porém, Portugal que, anteriormente, era um país muito fechado, isto é, com pouca abertura para as culturas exteriores, começa a reduzir o seu isolamento, intensificando contactos com Espanha, Itália e Inglaterra. Ao mesmo tempo, o reconhecimento do significado da obra de Siza Vieira por parte de Espanha e de Itália, através de artigos publicados nas revistas “Hogar y Arquitectura” e “Controspazio”, também contribui para romper com o isolamento.

A crescente curiosidade pelos acontecimentos do “mundo exterior”, o desejo de acompanhar criativamente os movimentos europeus de prática crítica, bem como de investigação metodológica (que se reflectem na realização de viagens de estudo, estágios, participação em encontros internacionais ou na reciprocidade de plataformas de avaliação e permuta de experiências) associam maior circulação de informação, e o desbloqueamento de outras facetas da pesquisa disciplinar. (Portas & Mendes, 1991, p. 23)

No esforço de quebrar o isolamento e de tornar clara as tendências, a revista “Arquitectura” tem um papel importante, pois faz a divulgação crítica do panorama português e também dá a conhecer experiências dos brutalistas britânicos, de Georges Candilis30, Louis Kahn e Alvar Aalto31.

30 Georges Candilis (1913 - 1995) – Arquiteto e Urbanista francês. Formado em Arquitetura pelo Instituto Politécnico de Atenas (1931-36), Candilis conheceu Le Corbusier durante os estudos, no CIAM IV, em 1933, tendo este, depois, em 1943, lhe atribuído a liderança da Assembleia de Construtores para Renovação Arquitetónica. Em 1945, entrou para o escritório de Le Corbusier, tornando-se um dos principais colaboradores e arquiteto projetista da Unité d'Habitation em Marselha (1945-52). Em 1951, Candilis, Shadrach Woods e o engenheiro Henri Piot tornaram-se os líderes do Atelier des Bâtisseurs -Africa, em Tânger, Marrocos, fundado em 1947 por Le Corbusier, Vladimir Bodiansky, André Wogenscky e Marcel Py. Em 1954, abriu o seu próprio escritório, em conjunto com os engenheiros Paul Dony e Piot, e os arquitetos Alexis Josic e Woods. Com o fim do CIAM organizou várias reuniões do Team 10 e, por incentivo dos seus alunos, estabeleceu um estúdio externo na Escola de Belas-Artes de Paris, em 1965. 31 Alvar Aalto (1898 - 1976) – Arquiteto finlandês. Formado pelo Instituto Tecnológico de Helsínquia, estabeleceu-se por contra própria em 1921, depois de ter lutado na guerra da independência da Finlândia. Considerado um dos maiores arquitetos do século XX, Alvar Aalto, a princípio, adere aos princípios da arquitetura europeia do Movimento Moderno, embora já começasse a traçar o caminho para o seu estilo pessoal, como a importância ao estudo do pormenor, à integração do edifício na paisagem e à exploração das diferentes texturas dos materiais, tanto das novas tecnologias como os mais tradicionais. Com o passar do tempo, evolui de uma arquitetura racionalista com ligações à vanguarda europeia para uma obra mais pessoal, explorando as técnicas de construção tradicionais finlandesas e integrando-as em edifícios

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Neste clima de mudanças, a cultura arquitetónica apresenta novas possibilidades disciplinares e profissionais.

Em relação à prática disciplinar, esta torna-se policêntrica devido à liberdade de experiências que refletem a divergência entre escolhas de projeto e de estética pessoal e, também, devido à crescente informação e excesso de referências.

Entre os maniqueísmos ideológicos de liberdades recalcadas e a alvorada das consagrações de facto, a prática disciplinar da arquitectura segrega, no curso da própria acção, o redimensionamento das tarefas da projectação, impulsionando o realinhamento da estrutura profissional face às novas condições e possibilidades de exercício, no compromisso alargado com as expectativas do desejo de mudança. (Portas & Mendes, 1991, p. 45)

Quanto às possibilidades profissionais, estas diversificam-se. Por causa dos novos padrões de atuação coletiva a circulação do arquiteto propaga-se, desafiando as normas de produção arquitetónica na sua interação com o contexto.

De acordo com isso, Raúl Hestnes Ferreira, no artigo “O 25 de Abril e os Arquitectos” diz que antes do 25 de Abril, os arquitetos como profissionais liberais, comparativamente com o pós 25 de Abril, tinham uma posição favorável devido “à especulação fundiária incentivada pelo governo de Caetano, e cujo instrumento privilegiado eram as grandes agências de arquitectura e de planificação urbana” (Ferreira, 2010, pp. 657-658).

Perante esta realidade, muitos arquitetos preservaram a memória das suas posições tradicionais, transformando-a em oposição ao sistema político e em ações para recuperar a sua situação. Paralelamente, outros arquitetos esforçaram-se para alcançar uma coerência entre a sua prática profissional e a ação política e social da revolução. Outros, em representação das gerações, assumiram posições administrativas, algo que antes do 25 de Abril não era possível.

Neste último campo, é de salientar o papel de Nuno Portas32. Como secretário de Estado do Urbanismo e da Habitação, Portas lutou contra a especulação fundiária e, entre modernos, experiências que têm o seu auge na Villa Mairea (1938-39), que aponta novos caminhos para a evolução da arquitetura do Movimento Moderno. Além de arquiteto, também, foi um reconhecido designer de mobiliário. Premiado com a Medalha Príncipe Eugénio em 1954, a Medalha de Ouro do RIBA em 1957, a Medalha de Ouro da AIA em 1963 e a Medalha Alvar Aalto em 1967. 32 Nuno Portas (1934 - …) – Arquiteto português. Licenciado pela Escola de Belas-Artes do Porto em 1954, colaborou com o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, entre 1962 e 1974, promovendo importantes estudos urbanísticos. Lecionou na Escola Técnica Superior de Arquitetura de Barcelona, no Politécnico de Milão e na Universidade do Rio de Janeiro, sendo professor catedrático desde 1989. Participou no desenvolvimento do programa SAAL. Foi consultor de vários planos de ordenamento do território, dos quais destacam-se a expansão da Universidade de Aveiro e a urbanização de Chelas. Professor Emérito da FAUP

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muitas outras coisas, lançou programas, como o SAAL e os Ateliers Municipais que permitiram a aproximação do arquiteto e do habitante.

Chegada a década de oitenta, a cultura portuguesa “desliza para um certo intervalo lúdico, pós-moderniza-se” (Figueira, 2014, p. 202), aproximando-se dos modelos culturais internacionais e aceitando as formas populares que, gradualmente, permitem a introdução da cultura Pós-Moderna que se caracteriza como uma mistura de disciplinas que cruzam culturas, sem uma ordem aparente e que, resultante de um empenho individual por parte dos arquitetos que se identificam com esse novo movimento, tem o objetivo de vencer, sendo festivo e de boa disposição, ao contrário do movimento moderno.

Segundo Rogério Vieira de Almeida33, no livro “Arquitectura do Século XX:Portugal”, no início da década de oitenta, assiste-se à crescente iniciativa de instituições públicas e privadas na área da arquitetura. Isso acontece devido à estabilização política, à recuperação financeira da iniciativa privada, à junção de Portugal à CEE e, consequentemente, ao afluxo de fundos comunitários (Almeida, 1998, p. 78, 79).

Também, nesta altura, descobre-se, não só, o poder da publicidade e da comunicação como meio de manipulação de massas, mas também, as qualidades da arquitetura como meio de comunicação. E, como prova desta descoberta, tem-se o Complexo das Amoreiras, que conjuga as necessidades do promotor e a ideia arquitetónica, sendo a mais marcante, polémica e emblemática obra do pós-modernismo.

Como um fenómeno, este complexo torna-se referência para os edifícios de escritórios que privilegiam a tipologia da torre revestida com vidro. E, embora conservem uma certa distância com construções comuns, não se deixando misturar, marcam a sua presença como elemento de poder económico, associando revestimentos de luxo às formas que, nos anos sessenta, apareciam em betão à vista. Aparentemente, tem-se uma imagem de um modernismo tardio. No entanto, sempre que necessário, símbolos e sinais recuperados pela cultura pós-moderna são inseridos. Desse modo, investe-se numa arquitetura com imagem distinta e reconhecível, à qual se reconhece um carácter celebrativo passível de constituir uma afirmação.

e investigador do CEAU-FAUP, recentemente, foi galardoado com a Medalha de Mérito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. 33 Rogério Vieira de Almeida – Licenciado em Arquitetura, em 1988, pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa, fez o Mestrado em História da Arte em 1997 na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Foi docente no ISCTE entre 1997 e 2012.

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Em relação ao exercício profissional, neste período e, principalmente, nos centros urbanos, como Lisboa e Porto, os arquitetos com reconhecimento pouco aparecem ligados à promoção imobiliária privada, ao contrário do que acontecia nos anos sessenta.

Além disso, por causa do afastamento de alguns e da interrupção da atividade construtiva que afetou muitos ateliers, dá-se a dispersão dos arquitetos pelo país e o aparecimento de solicitações de pequena dimensão, espalhadas geograficamente.

A partir de meados da década de 80, o significado e o papel da arquitectura na sociedade altera-se, deixando de ser uma mera actividade profissional para se tornar uma actividade específica inserida nos processos de transformação e produção da realidade construída, e um corpo de ideias e de pensamento disciplinar. Nesta dupla problemática, é possível discernir algumas constantes que, com origem na situação de inevitável abertura sucedia após os anos de 1974-1975, foram evidenciando um desejo crescente: a afirmação da arquitectura enquanto instituição na sociedade. (Almeida, 1998, p. 78)

Nesse sentido, a reflexão e a divulgação da arquitetura, apesar de anteriormente ter uma expressão mínima, nos anos oitenta, tem um papel importante. Através de conferências, colóquios, exposições, prémios e concursos promove-se, não só, a arquitetura, mas, também, os arquitetos. Assim, a arquitetura torna-se tema da comunicação social, aproximando-se do público.

Entre todas as exposições realizadas, destaca-se a exposição “Depois do Modernismo” (1983), que marca o estabelecimento do Pós-Modernismo na cultura portuguesa. Nesta exposição pretendia-se mostrar o rumo que a arquitetura e a arte estavam a tomar no sentido de superar os processos criativos do modernismo e os seus pressupostos estéticos. Faz-se o ponto de situação da atividade dos arquitetos, sendo visíveis caminhos divergentes, um de ponto de vista vanguardista e outro que perspetiva a recuperação de imagens das belas-artes e da casa tradicional portuguesa. Ao mesmo tempo, a exposição revela-se como mensageiro de novos tempos.

No esforço de afirmar a arquitetura como algo público, a Associação dos Arquitetos Portugueses (AAP) e as escolas de arquitetura dão um apoio significativo. A AAP promove congressos com o objetivo de sensibilizar o público, os arquitetos e o poder político para a importância social e cívica da arquitetura, enquanto nas escolas se assiste ao aumento do número de alunos e ao crescimento de influências resultantes da divulgação de revistas nacionais e internacionais, levando a caminhos divergentes, onde a pluralidade é um caminho para ultrapassar o vazio (Almeida, 1998, p. 78).

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Mais do que outra coisa, os sinais e o esforço por parte dos arquitectos para afirmar a arquitectura junto da sociedade, mostram durante a década de 80 um ostracismo ainda não superado. Para além dos factores intrínsecos enunciados, a discussão que na sociedade a arquitectura vem provocando (por razões distantes, como a obra provocatória e polémica de Tomás Taveira, em Lisboa, ou o reconhecimento internacional de Álvaro Siza) é o resultado de um esforço de implantação social e de sensibilização do público à arquitectura, mas também sinónimo de uma marginalidade não superada face à sociedade e aos outros agentes intervenientes na actividade construtiva. (Almeida,1998, p. 78)

De qualquer modo, devido à recuperação económica, ao afluxo de capital estrangeiro, à construção progressiva de grandes equipamentos e ao reconhecimento da arquitetura portuguesa a nível nacional e internacional, muitos arquitetos reaparecem com destaque, como por exemplo Nuno Teotónio Pereira, Fernando Távora, Manuel Tainha e Vítor Figueiredo.

Para além do reaparecimento de arquitetos de destaque, surgem arquitetos, formados entre as décadas de sessenta e setenta, que adotam a pluralidade como suporte da sua atividade.

Assim, abrem-se caminhos que ditam as tendências para a evolução da arquitetura. Não restringindo a atividade dos arquitetos, estas tendências apresentam um conjunto de possibilidades desde o Historicismo ao Ecletismo Pop, passando pela Modernidade.

2.2.1. A PÓS-MODERNIDADE

Segundo Jorge Figueira34 Pós-Modernidade é “um conceito panorâmico e de espectro alargado temporal largo que permite incluir experiências dos anos 1950/60” (Figueira, 2014, p. 16).

Com o debate iniciado no final dos anos cinquenta surge um período de transição e de objeção ao Estilo Internacional, marcado pela rutura de gerações e pelo aumento de

34 Jorge Figueira (1965 - …) – Arquiteto português. Formado na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto é Doutorado em Arquitetura na especialidade de Teoria e História. Leciona no Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra (FCTUC) e no Programa de Doutoramento em Arquitetura na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP). É coordenador dos serviços de edição do Departamento de Arquitetura da FCTUC. Colaborou no Centro de Estudos da FAUP, entre 1991 e 1999, realizando o projeto de Reabilitação do Recinto do Palácio de Cristal, o restauro da Concha Acústica e o Restaurante do Palácio de Cristal no Porto. Desde 1998, desenvolve o projeto do Campus Universitário em Angra do Heroísmo, nos Açores, tendo realizado o edifício de Aulas, Auditório e Biblioteca em co-autoria. Projetou, também, o edifico de Serviços de Ação Social (2006-2009), o edifício Interdepartamental e o edifício da Associação de Estudantes. Fez parte de vários júris, nomeadamente, o júri do Prémio Secil, edição 2006/2007 e o painel de júris para Bolsas de Doutoramento da FCT, em 2009. Fez parte da comitiva representativa de Portugal na Bienal de Arquitetura de São Paulo, em 2009, com o projeto para uma escola em Benguela, Angola.

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tendências que, de algum modo, adulteram as relações entre a arquitetura e a construção da cidade e entre o privado e o público. Concretizadas e ordenadas num conjunto de obras de grande importância, estas tendências incorporam divergências que ganham força com novas equipas de arquitetos, como por exemplo, Álvaro Siza35, no Norte, Raúl Hestnes Ferreira36 e Manuel Vicente37, no Sul.

Enquanto Inglaterra e Itália debatem, com algum entusiasmo, o estatuto da arquitetura moderna, tendo polos de discussão divergentes, nomeadamente, a linha da cultura, da Itália, e a linha da técnica, de Inglaterra, em Portugal, começa a surgir uma reflexão crítica ao movimento moderno que tem por base os princípios anti-racionalistas de Bruno Zevi e a “continuidade” de Ernesto Rogers, embora o brutalismo, proveniente da linha inglesa, tenha presença na prática arquitetónica portuguesa (Figueira, 2014, p. 27).

35 Álvaro Siza Vieira (1933 - …) – Arquiteto português. Estudou na Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Trabalhou no atelier de Fernando Távora, entre 1958 e 1960. Foi professor visitante em diversas escolas e universidades, nomeadamente, na Escola Politécnica de Lausanne, na Universidade de Pensilvânia, na Escola de Los Andes em Bogotá, na Graduate School of Design of Harvard University, sendo atualmente professor na Faculdade de Arquitetura do Porto. Influenciado por Adolf Loos, Frank Lloyd Wright e Alvar Aalto, Siza desenvolve uma linguagem arquitetónica própria, resultante da conjugação de referências, designadamente, modernistas internacionais e tradição construtiva portuguesa. É membro da American Academy of Arts and Science e “Honorary Fellow” do RIBA (Royal Institute of British Architects). Da sua obra, destacam-se os projetos da Casa de Chá da Boa Nova (1958), as Piscinas das Marés (1961) e o Bairro da Malagueira (1977).Premiado com o Prémio de Arquitetura do Ano em 1982, o Prémio de Arquitetura da Associação de Arquitetos Portugueses em 1987, em 1988 a Medalha de Ouro de Arquitetura do Conselho Superior do Colégio de Arquitetos de Madrid, a Medalha de Ouro da Fundação Alvar Aalto, o Prémio Prince of Wales da Harvard University e o Prémio Mies van der Rohe, o Prémio Pritzker em 1992, o Prémio Wolf de Artes em 2001, a Medalha de Ouro do RIBA em 2009, o Golden Lion for life time achievement, Bienal de Arquitetura de Veneza em 2012 e o Prémio Vida e Obra da Sociedade Portuguesa de Autores em 2015. 36 Raúl Hestnes Ferreira (1931 -...) – Arquiteto português. Estudou na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, onde teve contacto com Fernando Távora. Também estudou na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, em Helsínquia e nos Estados Unidos, nomeadamente, na Universidade de Yale e na Universidade de Pensilvânia, onde obteve o Mestrado em Arquitetura, em 1963. Colaborou com Arménio Losa, Cassiano Barbosa, no Porto, Louis Kahn, entre 1963 e 1965, em Filaélfia, com as Câmaras Municipais de Almada (1960-62), de Lisboa (1965-68 e 1970-71), de Beja e com a Direção Geral das Construções Escolares (1970-80). Lecionou no Departamento de Arquitetura da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa (190- 72), no Curso de Arquitetura da Cooperativa Árvore do Porto (1986-88), sendo Professor Catedrático convidado do departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra (1991-2003), no ISCTE (2001-2003) e no Departamento de Arquitetura da Universidade Lusófona, como Professor Catedrático. Foi premiado com o Prémio Nacional de Arquitetura e Urbanismo, o Prémio Cadernos Municipais e a Menção Honrosa do Prémio Valmor em 1982, o 1º Prémio do concurso de remodelação do Café “Martinho da Arcada”, em Lisboa, em 1988, o Prémio Nacional de Arquitetura da AAP (Construção Técnica e Detalhe), o Prémio Eugénio dos Santos da Câmara Municipal de Lisboa e a Menção Honrosa do Prémio Valmor em 1993, o Prémio do Concurso de Remodelação do Museu de Évora em 1994, o Prémio Valmor em 2002, a Medalha de Mérito da Universidade de Lisboa em 2011 e o Diploma de Reconhecimento e Mérito da Universidade Lusófona em 2014. Em 2007 foi nomeado Doutor Honoris Causa pela Universidade de Coimbra e em 2010 Membro Honorário da Ordem dos Arquitetos. 37 Manuel Vicente (1934 - 2013) – Arquiteto português. Diplomado em Arquitetura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa em 1962. Obteve o grau de mestre em Arquitetura na Universidade da Pensilvânia, em 1969. Estudou com Louis Kahn. Trabalhou em Lisboa, Macau, Goa e Funchal. Lecionou na Faculdade de Arquitetura em Lisboa e de Hong Kong. Premiado com o Prémio Nacional da Arquitetura da A.I.C.A. em 1987 e com a Medalha de Ouro da Arcasia em 1994 e 2005.

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Inicialmente, o debate faz-se à noite, em cafés e outros espaços públicos, isto é, fora das escolas de arquitetura. No entanto, mais tarde, passa a fazer-se nas escolas, envolvendo várias disciplinas além da arquitetura, como as artes plásticas, a filosofia, a literatura e a música, o que torna o Pós-Modernismo mais acessível, por assim dizer.

Como ponto de partida, a crítica é feita, maioritariamente, num plano teórico, onde Nuno Portas e o grupo responsável pela Arquitectura38 são figuras importantes no desenvolvimento da reflexão crítica e encontram como modelos práticos de referência obras de Fernando Távora39, Nuno Teotónio Pereira40 e, posteriormente, Álvaro Siza Vieira, que marcam o início do processo de revisão da arquitetura moderna e da pós- modernidade, em Portugal.

Perante o debate, Nuno Portas, que é sensível à linha da cultura, adota uma postura crítica, exigindo uma pedagogia que esclareça ou que enquadre o momento que se vive, mas que evite o ecletismo. Não desconsiderando a prática de projeto, considera que para que a arquitetura tenha impacto na vida das pessoas e/ou um fundamento social e cultural, necessita ir para além do trabalho de atelier. Assim, propõe um desenvolvimento progressivo ordenado, onde a necessidade de reproduzir os conceitos definidos pelos arquitetos modernistas é substituída pela metodologia que permite acompanhar o processo de renovação e, tendo um enquadramento científico, permita respostas objetivas e planificáveis que rentabilizem os recursos. Além disso,

38 Arquitectura – Revista criada em 1957 que estava a cargo de Nuno Portas, Carlos S. Duarte, Frederico Sant’ana, José Daniel Santa - Rita, Nikias Skapinakis e Rui Mendes Paula. 39 Fernando Távora (1923 - 2005) – Arquiteto português. Formou-se em arquitetura na Escola Superior de Belas – Artes do Porto em 1952. Desempenhou um papel importante a nível pedagógico, nomeadamente, na afirmação do curso de Arquitetura da Escola Superior de Belas-Artes e do Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra, que apoiou na construção no final dos anos 1980, em colaboração com Alexandre Alves Costa, Domingos Tavares e Raul Hestnes Ferreira. Como membro da Organização dos Arquitetos Modernos introduziu, em conjunto com outros arquitetos, uma reflexão sem precedentes sobre a consequência social da arquitetura, contrastando com as realizações e os discursos oficiais da época. 40 Nuno Teotónio Pereira (1922 - 2016) – Arquiteto português. Iniciou a licenciatura em arquitetura na Escola de Belas- Artes de Lisboa, tendo concluído na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, com a classificação final de 18 valores. Trabalhou como arquiteto na Federação de Caixas de Previdência- Habitações económicas. Colaborou no “Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa” e na publicação do livro “Arquitectura Popular Portuguesa”. Premiado com o Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura em 1968 pelo projeto de Urbanização dos Norte, o Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura em 1971 com o edifício “Franjinhas” e o Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura em 1975 pela Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Foi condecorado com o grau de Doutor Honori Causa pela Universidade do Porto em 2003.

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estabelecendo contactos com Chombart de Lawe41, Lefèbvre42 e Castells43, Portas inicia uma ligação entre as preocupações dos arquitetos na conceção espacial e as preocupações que psicólogos e sociólogos começavam também a ter sobre a organização do espaço.

[…] Portas evolui no sentido de uma cada vez maior negação da centralidade da “forma” trocada pela análise e valorização do “processo”. […] Partindo da chave zeviana de crítica ao racionalismo – um debate assente na “forma” e no seu “significado” – evolui para a discussão de questões metodológicas com um enfoque científico. […] mantendo uma defesa táctica da “arquitectura orgânica” propõe uma evolução num sentido mais sistemático. (Figueira, 2014, p. 32)

Com essa ideia, defende a colaboração de diversas áreas do conhecimento, introduzindo na crítica ao racionalismo a componente sociológica que, juntamente, com o racionalismo funcionalista e o formalismo possibilitam a elaboração de espaços e de experiências humanas.

De acordo com as premissas de estruturalismo, então em voga, Portas visa encontrar aquilo que é decisivo no interior daquilo que é aparente, fixar uma estrutura que possa ser conhecida, dominada e comunicada. Para que haja feed back […] é necessária “a consciência de uma língua comum que assegure coerentes estruturas de signos, ou uma base de sintaxe arquitectural”. A ideia de um “meta-projecto” ou de um “meta-programa” significa a fixação dessa sintaxe como instrumento que permite a avaliação e resposta dos casos em questão, para lá das preocupações formais convencionalmente arquitectónicas. […] O que interessa a Portas é o “processo” e não a manutenção de um discurso sobre a arquitectura, no caso de Rossi, transferindo a poética da forma para a sua génese tipológica. (Figueira, 2014, p. 73)

Em relação à revista “Arquitectura”, esta desempenha um papel importante, como já foi mencionado anteriormente, não só pela divulgação crítica e criteriosa do panorama português, mas também, por reunir estudos originais sobre tipologias residenciais, construção da cidade, política de habitação e construção clandestina, por apresentar a necessidade de reflexão crítica dos conceitos de modernidade e tradição ao projetar, destacar o dever do arquiteto nesse respeito e invocar as mudanças feitas nos

41 Paul-Henry Chombart de Lawe (1913 - 1998) – Sociólogo francês. Conhecido como percursor da sociologia urbana em França. 42 Henri Lefèbvre (1901 - 1991) – Filósofo marxista e sociólogo francês. Estudou filosofia na Universidade de Paris, tendo-se formado em 1920. Criou o termo “Direito à cidade”, desenvolvido no livro “Le doit à la ville” publicado em 1968, com o qual defendeu que a população deveria ter acesso à vida urbana. Com uma obra extensa, contribuiu para o desenvolvimento da sociologia e da geografia. 43 Manuel Castells (1942 - …) – Sociólogo espanhol. Lecionou na Universidade de Paris entre 1967 e 1979, sendo neste último ano nomeado como professor de Sociologia e Planeamento Regional na Universidade de Berkeley, Califórnia. Em 2001, tornou-se pesquisador da Universidade Aberta da Catalunha, Barcelona, e em 2003 juntou-se à Universidade da Califórnia como professor de Comunicação.

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programas sociais, nos meios técnicos e na linguagem formal como elementos fundamentais e determinantes, suscetíveis de tornar uma obra eficaz e comunicativa.

Contrariamente a Nuno Portas, Pedro Vieira de Almeida, tendo por base a história da arquitetura, desenvolve a crítica procurando compreender a obra arquitetónica através da relação entre o estrutural e a arte.

No seguimento, surgem Raúl Hestnes Ferreira, com influências de Louis Kahn44, e Manuel Vicente, com influências de Robert Venturi45, como percursores do pós- modernismo em Portugal. Neste respeito, é de salientar o trabalho de Hestnes Ferreira com Louis Kahn, entre 1962 e 1965, que amplia os horizontes da cultura portuguesa.

Por um lado, Raúl Hestnes Ferreira procura incluir a história na arquitetura, indicando o campo das formas e dos modelos construtivos como meio de escape do impasse em que se encontra a arquitetura moderna. Também dá a conhecer a realidade americana através de artigos, nomeadamente, “Algumas reflexões sobre a cidade Americana” (1966) e “Aspectos e correntes actuais da arquitectura Americana” (1967).

Segundo Rogério Vieira de Almeida é na segunda metade da década de setenta que a obra de Hestnes Ferreira assume a sua posição constituída pela precisão e elementaridade geométrica, “o rigor lógico da forma herdado de Kahn e o uso expressivo dos materiais” (Almeida,1998, p. 75).

Exemplo disso, da influência de Kahn, é a Casa de Queijas (1968-73).

44 Louis Kahn (1901 - 1974) – Arquiteto norte-americano. Formou-se em arquitetura na Universidade da Pensilvânia, em 1924. Lecionou nas Universidades de Yale da Pensilvânia. Premiado com Medalha de Ouro AIA (American Institute of Architects) em 1971 e Medalha de Ouro RIBA (Royal Institute of British Architects) em 1972. A sua obra caracteriza-se pela combinação de formas geométricas puras, inspiradas na arquitetura clássica e/ou medieval e pela utilização dos materiais em estado bruto. 45 Robert Venturi (1925 - 1967) – Arquiteto norte-americano. Formado em Princeton em 1947. Trabalhou com Eero Saarinen e Louis Kahn. Foi professor na Universidade da Pensilvânia e crítico da arquitetura moderna. Publicou o manifesto “Complexidade e Contradição na Arquitetura” em 1966, base das transformações nas décadas de 1970 e 1980. Premiado com o Prémio Pritzker em 1991 e o Prémio Vicent Scully em 2002.

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Ilustração 1 – Casa de Queijas,1968-73, Raúl Hestnes Ferreira. (Ruep, 2015).

Por seu lado, Manuel Vicente desenvolve um discurso e uma prática claramente pós- modernista, com origem em Venturi, mas adaptado às necessidades e às exigências do arquiteto. Isso é notório nos anos setenta, onde passa por uma sucessão gradual de transformações e adota uma abordagem pós-moderna a tempo inteiro, através do método: a colagem, a réplica e a ampliação, através dos efeitos, o uso do lettering, da cor e da saturação geométrica; e através dos objetivos: de um “espaço denso, labiríntico e eletrizado” (Figueira, 2014, p. 170). Nesse contexto, a matriz venturiana coloca a arquitetura de Vicente no plano “afirmativo” do pós-modernismo. E, uma vez que o arquiteto tem grande sensibilidade pop, investe nos “insignificantes” do território, de modo a expressar as suas preocupações que, ao contrário de muitos, é a produção de sentido.

Como qualquer tendência, as coordenadas lançadas por estes arquitetos têm repercussões, que definem duas linhas distintas face ao pós-modernismo, polarizadas no Porto e em Lisboa, nomeadamente, o pós-modernismo “crítico” e o pós-modernismo “afirmativo”, que apesar de serem distintas visam a redefinição da cultura arquitetónica do país após a revolução e integram metodologias da cultura pós-modernista, como a complexidade e a contradição, oriunda de Robert Venturi, a criação de espacialidades conotativas, a liberdade gráfica, o uso da Pop Art, do minimalismo e de figuras literárias, como a ironia e a paródia.

Esta polarização, conforme Jorge Figueira explica, é um aspeto fundamental da cultura arquitetónica dos anos oitenta. Enquanto em Lisboa se propaga a imagem e as

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tendências pós-modernas, no Porto assiste-se a um revivalismo moderno associado a Siza Vieira.

De acordo com isso, Fredric Jameson em “Postmodernism or, The cultural logic of late capitalismo” diz que o retorno à problemática do moderno é, em si, parte do pós- moderno (Jameson, 1991, p. 17) e corresponde à concentração de influências entre Lisboa e o Porto. Todavia, esta dicotomia entre cidades e entre modernidade e tradição histórica não é estanque, pois alguns arquitetos do Porto fazem incursões na história e alguns arquitetos de Lisboa empenham-se na modernidade. Exemplo disso é Siza Vieira que experimenta uma abordagem “afirmativa” de Venturi, no Porto, e, em Lisboa, Vítor Figueiredo, Gonçalo Byrne e José Charters Monteiro que adotam uma “crítica” com diferentes graus de aproximação ao neo-racionalismo. Desse modo, fica claro que as linhas de evolução da arquitetura permitem ao arquiteto, conforme a necessidade, movimentar-se entre tendências.

No Porto, como em Lisboa, a arquitectura portuguesa é ciclicamente sensível a uma certa secura de meios o que explica o perdurante gosto pelo moderno. Gosto e necessidade: encontro de meios escassos com uma economia expressiva. […] Na sua radicalidade rossiana, o neo-racionalismo teórico e “exaltado” tem de facto uma expressão limitada em Portugal: a abordagem crítica do moderno impede o entusiasmo do Porto; e a severidade ideológica impede a apropriação em Lisboa. As traduções mais claras de Venturi e de Rossi, em Portugal, respectivamente de Manuel Vicente e de Charters Monteiro, reflectem um contacto directo com as personagens (no caso de Manuel Vicente, via Kahn). (Figueira, 2014, p. 173)

Enquanto polos de formação e de divulgação, Lisboa e Porto afastam-se progressivamente e afirmam-se prosseguindo pela energia do conjunto de princípios estéticos que orientam a atividade dos arquitetos. Surgem diferentes processos e possibilidades de atuação profissional que contribuem para o desenvolvimento de ações disciplinares independentes e revelam a necessidade de preparação teórica sobre o método e as tendências da arquitetura, visando a exposição sinóptica que se propõe sobre os novos modelos espaciais. Está em causa, não só, o desenvolvimento da arquitetura através do projeto, isto é, a definição de relações do edificado com o espaço público e entre a morfologia urbana e os tipos de edificação, mas também, a procura de operacionalidade como base para os projetos de desenho urbano, ou seja, o estabelecimento de relações espaciais significativas entre o antigo e o novo e entre a cultura e a morfologia.

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Na Escola de Lisboa, em resultado da passagem de docentes como Manuel Vicente, surgem objeções às práticas escolares marcadas pelas ciências sociais e humanas que afastam o ensino da modernidade e aumentam as propostas de tendências, nomeadamente, a recuperação da história e a monumentalidade de Kahn, o kitsch urbano e os grafismos da cultura popular seguindo Venturi e o classicismo que varia entre o carácter cenográfico de realizações americanas e a obediência rigorosa da Escola de Bruxelas.

Na Escola do Porto, devido ao prestígio que Álvaro Siza vai ganhando, à repercussão das operações SAAL e ao posicionamento em oposição à maioria da Europa com relação aos revivalismos contra o moderno, dá-se a continuidade à modernidade do século XX e aos valores portugueses.

Em 1969 realiza-se o Encontro Nacional de Arquitetos, em Lisboa, onde se debate a necessidade de recuperar a poética do projeto, tendo em consideração a sua vocação e o seu uso social e cultural, pois, a nível profissional, tanto o tipo de trabalho como a figura do arquiteto apresentam mudanças. Sobre isso, Raúl Hestnes Ferreira, após o encontro e em comentário na revista “Arquitectura”, reflete sobre a necessidade do arquiteto não abrir mão da sua natureza criativa que permite pensar nas alterações a fazer na cidade. No mesmo ano, numa conferência, também, em Lisboa, sobre o “Território e Formação do Arquitecto”, Vittorio Gregotti46 fala sobre a necessidade do ensino ser instrutivo, no sentido de conjugar as diferentes disciplinas num sistema educativo baseado naquilo que define projetualidade arquitetónica.

Tendo em consideração esses aspetos, o Curso de Arquitetura do Porto reestrutura o seu plano de estudos e métodos de ensino, visando a prática de projeto que incorpore

46 Vittorio Gregotti (1927 - …) – Arquiteto italiano. Licenciado em Arquitetura pelo Politécnico de Milão, em 1952, é um dos mais importantes teóricos da Arquitetura e da Cidade. Trabalhou com L. Meneghetti e G. Stopino entre 1953 e 1968, tendo posteriormente, em 1974, fundado a empresa “Gregotti Associati”. Foi editor da publicação “Casabella” (entre 1953 e 1955), editor-chefe de “Casabella-Continuità” (1955-1963), diretor de “Edilizia Moderna” (1963-1965), responsável pela secção de arquitetura da revista “Il verri” e diretor de “Rassegna” (1979-1998) e de “Casabella” (1982-1996). Entre 1984 e 1992 assinou a coluna de arquitetura da revista semanal “Panorama”, colaborou com o jornal diário “Corriere della sera” e escreve, desde 1997, no periódico “La republica”. Lecionou no Instituto Universitário de Arquitetura de Veneza, nas Faculdades de Arquitetura de Milão e de Palermo. Foi professor visitante das universidades de Tóquio, Buenos Aires, S. Paulo, Lausanne, Harvard, Filadélfia, Princeton, Cambridge e do MIT. Dirigiu de 1974 a 1976 a secção de artes visuais e arquitetura da Bienal de Veneza. É membro da Academia de S. Luca (desde 1976), da Academia de Brera (desde 1995), da Association of German Architects (BDA, desde 1997) e membro honorário do American Institute of Architects (desde 1999). Foi premiado com o Grande Prémio Internacional da XIII Trienal de Milão, em 1964 e com o grau de Doutor honoris causa pelo Instituto Politécnica de Praga (1996), pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Politécnica de Bucareste (1999) e pela Faculdade de Arquitetura daUniversidade do Porto (2003).

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informações teóricas para a fundamentação de projetos e, também, aprove o trabalhado do aluno como apoio da experiência pedagógica que facilita a aprendizagem.

Atendendo às particularidades e tendências de evolução de um processo criativo que recolhe e movimenta, simultâneamente, uma ideia de escola e de projecto; atendendo às condições de exercício de uma plataforma profissional que acompanha os novos problemas referindo-os a uma base racional comum, e usa de algum pragmatismo teórico na generalização de momentos de pesquisa, é com naturalidade que se esboça no Porto a primeira reacção purificadora. Reacção que ocorre através do retorno às origens do racionalismo, talvez mais quanto às opções construtivas, de gosto e das relações morfológicas com os sítios do que ao nível dos conceitos de espaço. (Portas & Mendes, 1991, p. 34, 35)

Esta reação manifesta-se pela renúncia gradual de conotações vernaculares, pelo retorno a volumetrias mais simples e pela rejeição de ornamentos, focando-se na particularidade e originalidade de cada obra, algo percetível no desenvolvimento das obras de Siza Vieira.

Na realidade, ambas as Escolas de Arquitetura, do Porto e de Lisboa, procuram ter conhecimentos sobre a constituição da cidade, os processos técnicos de desenho, a relação entre a morfologia e a tipologia, o método da construção vernacular, o estado da habitação e as suas ilegalidades. Introduzem-se preocupações realistas, envolvendo questões construtivas, sociológicas e urbanas, mas cada escola desenvolve-se seguindo rumos diferentes. A Escola do Porto interessa-se em ligar os diferentes elementos territoriais da arquitetura com a aquisição de conhecimentos através do ensino de projeto, o que realça o papel do desenho como agente orientador e estrutural da ação de projeto. Consequentemente e, também, por causa da presença de Fernando Távora e de Siza Vieira, a Escola tem como foco a composição e a construção da linguagem arquitetónica. Já a Escola de Lisboa, estando num ambiente versátil e com a presença de Nuno Portas, procura incutir nos alunos o interesse por questões tipológicas, adotando um sistema de aprendizagem voltado para a objetividade no acto de projetar.

2.2.2. O PÓS-MODERNISMO “CRÍTICO”

Constituída, principalmente, por arquitetos da Escola do Porto, como Siza Vieira, a linha “crítica” do pós-modernismo, tendo uma profunda ligação com a arquitetura moderna, apresenta resistência ao fim do modernismo fazendo uma abordagem de contestação que se reflete no desenvolvimento de objetos singulares de tradição racionalista que

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integram diversas referências e são uma influência importante perante o entusiasmo que Lisboa apresenta para com o pós-modernismo. Na verdade, é a cultura do pós- moderno que torna possível este tipo de abordagem.

Ao passo que em Lisboa o pós-modernismo é assumido como ideal, no Porto é diferente. A par com a rejeição há uma assimilação, uma procura de adaptação do pós- modernismo à sua sensibilidade. Assim, a corrente dominante é o tardo-moderno.

Segundo Figueira, o que vincula a Escola do Porto à pós-modernidade é o gosto pelas belas-artes e a presença da história (Figueira, 2014, p. 195). Em contrapartida, a nostalgia pelo moderno ou clássico tornam-na distinta e inapta para a linha do pós- modernismo “afirmativo”.

No caso de Siza Vieira, é a contínua presença da arquitetura moderna no seu trabalho que o coloca na linha do pós-modernismo “crítico”. No entanto, a sua manipulação formal produz uma arquitetura com carácter cartográfico e com referência a modelos passados que o colocam dentro do pós-modernismo. Consequentemente e com o passar dos anos oitenta, a obra de Siza ganha contornos formais não previstos, isto é, deixa-se envolver por outras arquiteturas, algo visível na Casa Avelino Duarte (1984) em Ovar e nas duas casas no Parque Van der Venne (1985-88) em Haia, Holanda.

Ilustração 2 – Casa Avelino Duarte, 1984, Siza Vieira. (FG+SG ARCHITECTURAL PHOTOGRAPHY).

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Ilustração 3 – Casas no Parque Van der Venne, 1985-88, Siza Vieira. (Almery, 2015).

2.2.3. O PÓS-MODERNISMO “AFIRMATIVO”

Ao passo que, no Porto, as mudanças culturais são assimiladas numa perspetiva de encadeamento, em Lisboa quer-se quebrar com o estado em que as coisas se encontram e através de manifestos, publicações e exposições tenta-se conquistar a nova arquitetura, emergente da crise do moderno, mas com uma lógica diferente, com o anseio de transmitir algo.

Assim, com uma atitude celebrativa perante o novo movimento que surge, esta linha do pós-modernismo constituída, maioritariamente, por arquitetos de Lisboa, concentra-se

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em experiências livres e desconcertantes, onde Pancho Guedes47, Luiz Cunha48 e Tomás Taveira49 são protagonistas.

Diante da tradição moderna, as propostas destes arquitetos apresentam-se como experiências ecléticas bem diferentes das abordagens comuns.

Por um lado, Pancho Guedes aproxima-se de uma abordagem surrealista, tendo “25 estilos” (Figueira, 2014, p. 180), o que denota um ecletismo profundo, sem medidas. É conhecido pelas formas heterodoxas, resultado da influência de Antoni Gaudí50, de Malangatana51, de Frank Lloyd Wright52, de Le Corbusier e da escultura africana. E, variando de influências, não se agrada do entendimento comum e adota uma linguagem historicista de carácter gráfico proveniente da cultura arquitetónica internacional. Nesse sentido, apresenta-se com um pós-moderno antes do seu desenvolvimento definitivo, sendo a sua ligação a este movimento, estabelecida pela fragmentação da racionalidade em diversos elementos sobrepostos e antagónicos.

O ecletismo de Pancho traduz uma linguagem em descontrole, hiperactiva. O que diz não é necessariamente comunicante. O que é pós-moderno é o lugar cruzado onde desenha: África, Portugal colonizador, Le Corbusier, a cultura anglo-saxónica. O que significa que tudo é aculturado e mediado. Não há “verdadeiro” na obra de Panhco, está tudo a evocar alguma coisa. O “novo” não serve para substituir o “antigo” […] Está já também interiorizado e é tão futurante ou dócil como o “antigo”. Neste processo de

47 Pancho Guedes (1925 - 2015) – Arquiteto, escultor e pintor português, cujo nome original é Amâncio de Alpoim de Miranda Guedes. Formou-se na Escola de Belas - Artes do Porto, em 1954.Tem a maior parte de sua obra construída em Moçambique. Estudou em São Tomé e Príncipe, Guiné, Lisboa e Maputo. Pertenceu ao Team 10. Fundou o departamento de arquitetura na Universidade Witwatersrand, em Joanesburgo. Lecionou na Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa, na Universidade Lusófona em Lisboa e na Universidade Lusíada. Das suas obras, destacam-se o Edifício Residencial “O Leão que Ri” e a Igreja da Sagrada Família, ambos em Moçambique. 48 Luiz Cunha (1933 - …) – Arquiteto português. Formou-se em 1957 na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, com a classificação final de 20 valores. Foi arquiteto do Gabinete de Urbanização da Câmara Municipal do Porto, entre 1957 e 1966. 49 Tomás Taveira (1938 - …) – Arquiteto português, cujo percurso será abordado nesta dissertação, que tem como enfoque o Centro Comercial Amoreiras – obra pela qual o arquiteto é, internacionalmente, conhecido. 50 Antoni Gaudí (1852 - 1926) – Arquiteto, urbanista, escultor e pintor catalão. Desde cedo, manifestou um interesse particular pelas formas da natureza e pelos recursos e soluções dos ofícios artesanais. Recusou os princípios académicos da arquitetura neoclássica e usou livremente as formas e as técnicas da arte bizantina, muçulmana, mudéjar e gótica, criando um estilo eclético e pessoal fora do comum. 51 Malangatana (1936 - 2011) – Artista plástico e poeta moçambicano. Galardoado com a medalha Nachingwea. Foi nomeado Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 1995, e membro honorário da Academia de Artes da RDA. Em 1997, a UNESCO nomeou-o «Artista pela Paz» e foi-lhe entregue o prémio Príncipe Claus. Em 2010, recebeu o título de «Doutor Honoris Causa» pela Universidade de Évora e a condecoração, atribuída pelo governo francês, de «Comendador das Artes e Letras». 52 Frank Lloyd Wright (1867 - 1959) – Arquiteto norte-americano. É considerado um dos arquitetos mais importantes do século XX, é uma figura importante da arquitetura orgânica. Defendia a singularidade dos projetos, que deviam ser adaptados à sua localização e função. Acreditava que a arquitetura não era só uma questão de habilidade e criatividade, mas também devia transmitir felicidade. Com as suas ideias influenciou o rumo da arquitetura moderna. Premiado com a Medalha de Ouro da AIA em 1949.

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modificação, o “novo” convive com o “antigo”, os seus interstícios dialogam, e essa é a espacialidade pós – moderna. […] O que caracteriza ainda Pancho é a sua susceptibilidade à cultura arquitectónica internacional. (Figueira, 2014, p. 181)

Como exemplo, temos o Edifício Residencial “O Leão Que Ri” (1954-55) em Maputo, Moçambique, considerado o edifício mais representativo de Pancho Guedes.

Ilustração 4 – Edifício Residencial “Leão que Ri”, 1954-55, Pancho Guedes. (Miranda, 2012).

Elevado, de modo a permitir o estacionamento automóvel ao nível da rua, o edifício com distribuição em galeria, possuindo três apartamentos por piso, é enriquecido em termos de composição, por modificações escultóricas da forma de origem e, também, por deformação das uniões dos materiais e elementos construtivos. Desta feita, Pancho Guedes cria uma obra que interage com as pinturas e máscaras moçambicanas que colecionava e, ao mesmo tempo, estabelece uma maneira de ocupar a cidade com construções expressivas, alegres e fáceis de compreender.

Segundo Manuel Graça Dias53, nesta obra, Pancho Guedes alcançou a proporção harmoniosa entre “a sua vontade de modernidade «africana», e o surrealismo, o

53 Manuel Graça Dias (1953 - …) – Arquiteto Português. Formado na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa em 1977, iniciou a sua carreira profissional em Macau, como colaborador de Manuel Vicente. Foi professor assistente na Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa entre 1985 e 1996, professor auxiliar da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto entre 1997 e 2015, onde fez o doutoramento com a Tese “Depois da cidade viária”, em 2009, e onde é professor associado desde 2015. É Professor Catedrático Convidado do Departamento de Arquitetura da Universidade Autónoma de Lisboa desde 1998. Foi colaborador da rádio TSF, de 1995 a 1999, assinando vários programas de divulgação de arquitetura, também foi colaborador do semanário Expresso, de 2001 a 2006, na área crítica da arquitetura. Foi diretor do Jornal Arquitectos, de 2009 a 2012, órgão da Ordem dos Arquitetos (cuja direção também assumiu em 2000, Comissário da representação portuguesa à VIII Bienal de Arquitetura de São Paulo em 2009, Comissário (com Ana Vaz Milheiro) da Exposição Sul África/Brasil, para a Trienal de Lisboa 2010, tendo sido, ainda, Presidente da Secção Portuguesa da Association Internacional des Critiques d'Art, SP/AICA entre 2008 e 2012. Premiado, juntamente com Egas José Vieira, com o Prémio AICA/Ministério

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expressionismo, a ambição escultórica e a capacidade de espacializar (e construir) sonhos, visões, grafismos, sem perder a relação com os sinais que, aos olhos do público, permitiriam a aceitação da sua arquitectura” (Dias, 1998, p. 221).

Por seu lado, Luiz Cunha desenvolve a sua obra numa dicotomia entre a linguagem tardo corbusiana e a versatilidade baseada na tradição. E, é, nesta versatilidade, que elabora a sua obra com um carácter de free-style, onde a “entropia de elementos, o humor e a grafia BD, transbordam para lá de qualquer “autenticidade”” (Figueira, 2014, p. 182).

Exemplo disso é a Residência das Irmãs Hospitaleiras (1977-81) e o Centro Psico- Geriátrico de Nossa Senhora de Fátima (1981-85), em Cascais.

Ilustração 5 – Centro Psico-Geriátrico de Nossa Senhora de Fátima, 1981-85, Luiz Cunha (Ilustração nossa, 2017)

A Residência apresenta a linguagem corbusiana em extremo e o Centro “é uma ampliação livre das características “portuguesas” de uma moradia preexistente” e a manifestação de um tradicionalismo exagerado.

Embora encare o princípio megaestrutural como um obstáculo à diversidade e à forma de habitar, Luiz Cunha defende a reinvenção das tipologias tradicionais e a mudança do discurso arquitetónico a favor do senso comum.

da Cultura (Arquitetura) em 1999 pelo conjunto da sua obra construída. Em 2006, foi agraciado com o Grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.

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No entanto, tanto Pancho Guedes como Luiz Cunha reproduzem Le Corbusier e adotam a pintura como origem da sua obra, convergindo o experimentalismo com o conservadorismo, embora a obra de Luiz Cunha possua uma carga religiosa.

No caso de Tomás Taveira, este torna-se o porta-voz do pós-modernismo em Portugal, sendo responsável por um conjunto de obras que indicam o caminho para o pós- modernismo. Adota uma perspetiva internacional e oficial, resultante das leituras de Charles Jencks54, que lhe permitem fazer parte do círculo de arquitetos pós- modernistas, a nível internacional.

2.3. A EMERGÊNCIA DO CONSUMISMO: A SOCIEDADE E A ARQUITETURA DE CONSUMO

Desempenhando uma função importante a nível económico, social e urbanístico, o comércio faz parte do quotidiano do homem desde os primórdios. No entanto, a atual sociedade de consumo, criou símbolos baseados no comércio que dão vida à cidade, levando à criação de espaços e de ambientes adaptáveis a distintos modos de vida.

[…] o consumo surge como modo activo de relação (não só com os objectos mas ainda com a colectividade e o mundo), como modo de actividade sistemática e de resposta global, que serve de base a todo o nosso sistema cultural. (Baudrillard, 2007, p. 9)

Para ilustrar o acontecimento, isto é, o aparecimento da sociedade de consumo, surge a seguinte mitologia:

A máquina de lavar […] serve de utensílio e actua como elemento de conforto, de prestígio, etc. É este último que constitui propriamente o campo de consumo. Nele, todas as espécies de objectos podem substituir-se à máquina de lavar como elemento significativo. Tanto na lógica dos signos como na dos símbolos, os objectos deixam totalmente de estar em conexão com qualquer função ou necessidade definida, precisamente porque respondem a outra coisa diferente, seja ela a lógica social seja a lógica do desejo às quais servem de campo móvel e inconsciente de significação. (Baudrillard, 2007, p. 9, 10)

54 Charles Jencks (1939 - …) – Teórico de arquitetura, paisagista e designer americano. Estudou Literatura Universidade de Harvard tendo, posteriormente, feito o mestrado em arquitetura na Harvard Graduate School of Design e o doutoramento em História da Arquitetura na Univeristy College em Londres. É conhecido por ter divulgado o uso do termo “pós – moderno” na arquitetura. Destacou-se como paisagista em Inglaterra, sendo o seu trabalho inspirado por fractais, genética, teoria do caos, ondas e sólitons. Trabalha como designer de mobiliário e escultor no DNA Sculpture em Londres.

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Assim, pode-se concluir e concordar com Jean Baudrillard55 quando afirma que:

O consumo […] transformou-se na moral do mundo contemporâneo. (Baudrillard, 2007, p. 10)

E, como tal, já não vivemos o tempo do homem, mas sim o dos objetos, pois constantemente são produzidos novos objetos, a que se chamam gadgets, que mantêm no ativo o consumismo.

Vivemos o tempo dos objectos: quero dizer que existimos segundo o seu ritmo e em conformidade com a sua sucessão permanente. Actualmente, somos nós que os vemos nascer, produzir-se e morrer, ao passo que em todas as civilizações anteriores eram os objectos, instrumentos ou monumentos perenes, que sobreviviam às gerações humanas. (Baudrillard, 2007, p. 14)

Em geral, a sociedade de consumo caracteriza-se pela “profusão e pela panóplia”, isto é, pela abundância e pela disposição ordenada dos produtos, tendo como antecedente o amontoamento, muitas vezes visível em armazéns, que se constitui, segundo Baudrillard, “a paisagem primária e o lugar geométrico da abundância” (Baudrillard, 2007, p. 14).

Além disso, alterou a relação do consumidor com o objeto. Através da montra, da publicidade e da marca, que impõem uma imagem de elementos bem ligados como se tratando de uma totalidade inseparável, os objetos deixam de ser referidos pela sua utilidade mas pelo que, em conjunto, representam.

Desse modo, pela apresentação de um objeto num contexto de outros objetos que, de certo modo, se complementam, o consumidor é enredado e levado a apropriar-se e a comprar tais objetos, não pela sua função, mas pelo que representam – conforto, prestígio, estatuto.

Consequentemente, as despesas individuais aumentam e faz-se um esforço para diminuir a desigualdade da distribuição de recursos, o que se traduz na intensificação das despesas de terceiros em benefício de particulares.

Em suma, é toda uma sociologia da diferença, do estatuto […] em função da qual todas as necessidades se reorganizam, segundo uma procura social objectiva de sinais e

55 Jean Baudrillard (1929 - 2007) – Sociólogo e filósofo francês. Desenvolveu teorias sobre os efeitos da comunicação e dos media na sociedade e na cultura contemporânea. Foi um dos fundadores da revista “Utopie” e publicou mais de 50 livros, ao longo da sua vida, centrados no estudo da simiologia do consumo.

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diferenças e que funda o consumo, não como função de satisfação individual […] mas como actividade social limitada. (Baudrillard, 2007, p. 85)

Por esta razão, o consumo revela-se “como poderoso elemento de dominação social” (Baudrillard, 2007, p. 100), onde a manipulação dos signos se revela como método e permite apontar o consumo como um sistema de comunicação e de valores.

2.3.1. A SOCIEDADE DE CONSUMO: PANORAMA INTERNACIONAL

Emergente da sociedade industrial, a sociedade de consumo descreve a época contemporânea, conhecida como era das massas, onde se estimula um consumo exacerbado de bens não essenciais, através de técnicas de publicidade.

Como ponto de partida, os Estados Unidos da América são o primeiro país onde se verifica a existência desta sociedade. E, embora se observassem características de uma sociedade de consumo logo após a Primeira Guerra Mundial, é após a Segunda Guerra que a sociedade ganha notoriedade, muito devido ao fim da recessão económica que impulsiona a produção em massa e o consumo ostensivo.

A economia de mercado, apoiada pelo marketing, é definida pela produção e pelo consumo de massas. O consumo pessoal desempenha um papel central. Uma parte do orçamento doméstico é consagrado a compras de bens e serviços, por vezes, menos utilitários do que simbólicos ou carregados de significação cultural: lazer, informação, educação, saúde, moda, etc.

A publicidade é um dos pilares da sociedade de consumo. As suas imagens representam a época em que vivemos. A realidade mostrada é um reflexo dos desejos dos indivíduos. A publicidade cria-lhes novas necessidades, apresenta-lhes paraísos inacessíveis […] contribuindo, por outro lado, para manter uma sociedade estereotipada. O apelo da publicidade leva principalmente os mais jovens a adquirirem produtos que não vão ser utilizados. (Porto Editora, 2017a)

Com efeito, as pessoas começam a comprar desenfreadamente, gastando dinheiro, simplesmente por gastar, pois a ideia é adquirir o que se quer e não o que se precisa. Para tornar o cenário mais apelativo, os empréstimos individuais aumentam, o que reduz a taxa de poupança. Desse modo, faz-se do ato de ir às compras um desporto. E, como desporto, carece de um espaço próprio para praticá-lo. Assim, surgem os centros comerciais, como espaço para o “desporto” de fazer compras, que rapidamente se constitui como uma forma de entretenimento.

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Em contrapartida, a sociedade de consumo cria um abismo entre os membros da sociedade, levando as famílias a perder a sua função social e as relações de vizinhança, caraterizadas pela proximidade, que são substituídas por relações impessoais.

Em suma, a sociedade de consumo é uma sociedade que vive de aparências. Considera admirável o que é passageiro, igualando valores, ou estabelecendo um conjunto de costumes que determinam o comportamento de um indivíduo ou de um grupo social.

A sociedade de consumo é […] modo novo e específico de socialização em relação à emergência de novas forças produtivas e à reestruturação monopolista de um sistema económico de alta produtividade. (Baudrillard, 2007, p. 95, 96)

2.3.2. EMERGÊNCIA DO CONSUMISMO EM PORTUGAL

O consumo em Portugal não é uma coisa recente. Como mencionado anteriormente, o comércio sempre fez parte da vida quotidiana do homem, tendo sofrido, ao longo dos tempos, mudanças que proporcionaram o aparecimento da sociedade de consumo, como a conhecemos atualmente.

Em retrospetiva, Portugal, e Lisboa em especial, devido à sua localização, sempre tiveram um papel importante no processo evolutivo do comércio e dos espaços comerciais, fazendo parte das principais rotas marítimas comerciais europeias.

Na idade média, as feiras detinham um papel importante. Organizavam um ajuntamento de pessoas, no Terreiro do Paço e/ou no , vindas de diversas zonas e permitiam a troca de bens de modo direto. Existiam diferentes tipologias de feiras, designadamente, as feiras francas, as feiras especializadas, as feiras anuais, bimestrais, mensais, semanais e diárias.

No século XIX, o Chiado, o Rossio e a da Liberdade, anteriormente conhecida como Passeio Público, eram centros de convivência politica e cultural, sendo posteriormente, espaços de comércio. Nestes centros, importando ideias e modelos franceses nasceram espaços comerciais, nomeadamente, no Rossio, nasce o primeiro Quiosque português, em 1869, no Chiado, em 1894, são inaugurados os Armazéns do Chiado e na Avenida da Liberdade, entre 1879 e 1882, surgem cafés, teatros e lojas, que desenham o perfil da Avenida que hoje conhecemos.

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Ilustração 6 – Armazéns do Chiado, 1894 (Leite, J., 2012).

Nesta altura, surgem também os mercados. O Mercado da Ribeira, inaugurado em 1882 com projeto de Ressano Garcia, e o Mercado da Praça da Figueira, inaugurado em 1885. Ambos iniciam o processo de fixação do comércio, que até então era ambulante.

Ilustração 7 – Mercado da Ribeira em 1936 (Leite, J., 2014a).

Ilustração 8 – Mercado da Praça da Figueira antes de 1949 (Leite, J., 2014b).

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No final do século XIX o comércio ambulante praticado, sobretudo, em feiras começa a desaparecer, dando lugar à expansão do comércio não ambulante que se vê consolidado no século XX.

Neste período, Portugal confronta-se com mudanças. Devido à implantação da República, a situação política e social altera-se. As pessoas começam a deslocar-se para a cidade, aumentando a sua população. Consequentemente, o comércio também aumenta, o que faz com que os espaços comerciais localizados ganhem importância.

Quando o mundo se confronta com a Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, Portugal, sob o regime de Salazar, mantém-se neutro ao conflito. Isso faz com que Portugal se torne um país de passagem para os refugiados que, com costumes diferentes, participam na economia e na cultura lisboeta, estabelecendo uma relação cultural de Portugal com o resto da Europa e influenciando a vida quotidiana dos lisboetas, em particular, o surgimento da mulher na vida pública.

Com o fim da guerra, Portugal, ou melhor, Lisboa, lentamente, em conjunto com os seus habitantes, começa a modernizar-se e a adquirir hábitos de consumo. A influência de outros países da Europa, como a França, a vulgarização do automóvel, dos eletrodomésticos, o aparecimento da RTP, em 1957, o desenvolvimento do Metropolitano, em 1960, e a inauguração da Ponte Salazar (depois 25 de Abril), contribuíram para a modernização e o desenvolvimento de novos hábitos.

Assim, nos anos setenta, com a mudança de hábitos, surge um novo formato de comércio fixo – o supermercado. Este novo formato, sob o domínio de empresas bem estruturadas e com grande capacidade de investimento e estratégias inovadoras, baseadas em exemplos internacionais, introduz o autosserviço e a exposição ordeira e cuidada de produtos, de modo visível e acessível aos clientes.

No entanto, até aos anos 1980, a atividade comercial em Portugal vive segundo os padrões tradicionais do comércio de retalho. Quer dizer, apesar das inovações introduzidas pelo supermercado, a atividade comercial, na sua maioria, ainda está sob o domínio de pequenas empresas, com poucas influências exteriores e, acima de tudo, localizada no centro da cidade, onde o comércio é distribuído segundo a especialidade do produto e o serviço prestado que, de modo geral, depende do vendedor.

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Enquanto isso, os Estados Unidos da América e os países da Europa, como o Reino Unido e a França, já estavam dotados de uma estrutura produtiva que possibilitava a produção em massa que o consumo requeria. Em Portugal, só por volta dos anos 1980 se inicia a adaptação ao conceito de consumo e ao que tudo isso envolve.

Para o aparecimento da sociedade de consumo em Portugal, muitas mudanças foram importantes, nomeadamente, a queda do regime ditatorial em 1974, a consolidação do estado democrático e a entrada de Portugal para a CEE em 1986, que permitiu o livre acesso de bens e serviços, um quadro político-económico de liberalização dos mercados internacionais, a flexibilidade do acesso a bens de consumo pelo sistema bancário, através da facilidade de crédito, o aumento do trabalho feminino, o aumento da urbanização, fruto do incremento de diferentes mobilidades, o aumento dos níveis de escolarização da população, a extensão das tecnologias de informação e o aumento generalizado dos rendimentos disponíveis.

Consequentemente, a consolidação do consumo na sociedade portuguesa, tal como na sociedade americana, teve aspetos negativos, nomeadamente, o aumento do materialismo, do individualismo, o endividamento do consumidor e as desigualdades sociais quer na distribuição quer no acesso a bens materiais e não materiais, designadamente bens simbólicos e culturais.

Em contrapartida, o consumo, não só, permite que um número maior de pessoas adquira bens diversificados, em quantidade e em qualidade, alcançando assim um padrão de conforto, prestígio e estatuto, mas também, contribui para o desenvolvimento económico e social do país.

2.3.3. OS CENTROS COMERCIAIS

Os centros comerciais são hoje um dos elementos mais marcantes da paisagem urbana, assim como uma das mais visíveis manifestações da actual sociedade de consumo. […] representam tendencialmente um lugar incontornável da actividade do consumo e, cada vez mais, um dos lugares-chave da vida quotidiana dos próprios cidadãos. […] Porém, hoje, estes não são apenas espaços destinados ao consumo. […] são também tendencialmente lugares de passeio, de ócio e de lazer. (Graça, 2014, p.1)

No que diz respeito à origem do modelo dos centros comerciais existem duas linhas orientadoras, uma de origem europeia e outra de origem americana.

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2.3.3.1. ORIGEM EUROPEIA

A este respeito, o modelo dos espaços comerciais remete para as galerias em França, Itália, Bélgica e Inglaterra.

Estas galerias, inspiradas na cultura oriental e com carácter de luxo, são organizadas como ruas cobertas, com o objetivo de proteger a burguesia das condições climatéricas exteriores, permitindo fazer compras num ambiente agradável envolto em convívio.

Espacialmente, as galerias são compostas por uma ou mais ruas pedonais, simétricas e cobertas com estruturas de ferro e vidro que permitem a entrada de luz natural e uma relação do espaço interior com o exterior. São espaços ricamente ornamentados de modo a reproduzir o ambiente exterior.

Exemplo disso são o Palais Royal (Ilustração 9) e as “Passages” (Ilustração 13 e Ilustração 14), em França, e a Galeria Vittorio Emanuelle II, em Itália.

Ilustração 9 – Palais Royal, 1630, Jacques Lemercier. (Nguyen, 2006).

Ilustração 10 – Galeria Palais Royal, 1630, Jacques Lemercier (TxllxT, 2012).

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Construído em 1630, pelo arquiteto Lemercier56 para o Cardeal Richelieu, o Palais Royal, localizado em frente ao Museu do Louvre, tornou-se um palácio real, a partir de 1643, embora não tenha sido projetado para tal, dando abrigo, primariamente, à Rainha Ana da Áustria, ao Cardeal Mazarino e ao Luís XIV e, posteriormente, à família Orleães. Nos séculos XVIII e XIX o palácio é modificado pela mão do arquiteto Victor Louis57 e concluído por Pierre François Léonard Fontaine58.

Foi o centro da intriga política e social parisiense e o lugar dos cafés mais populares. Atualmente, com os teatros Comédie-Française e Palais-Royal, o restaurante Grand- Véfour e a arte contemporânea presente no pátio principal da autoria de Daniel Buren59 (Ilustração 11) e as duas fontes móveis de Pol Bury60 (Ilustração 12), o Palais Royal é um dos locais de eleição para passeios.

Ilustração 11 – Colunas de Daniel Buren. (Buren, 2012).

56 Jacques Lemercier (1585 - 1654) – Arquiteto e engenheiro francês. Estabeleceu, juntamente com Louis Le Vau e François Mansart, o barroco francês. 57 Victor Louis (1731 - 1800) – Arquiteto francês. Premiado com o Prémio de Roma de 1755 organizado pela Academia Francesa. O Grande Teatro de Bordeaux, construído entre 1773 e 1780, foi a sua primeira e mais importante obra. 58 Pierre François Léonard Fontaine (1762 - 1853) – Arquiteto, designer e decorador de interiores francês. Adepto do estilo neoclássico, estudou artes e arquitetura na Academia Francesa em Roma. Iniciou a sua carreira em 1794 em parceria com o arquiteto Charles Percier. Juntos impulsionaram o “Estilo Imperial”, isto é, a versão grandiosa e luxuosa do estilo neoclássico. Em 1801 foi contratado para ser arquiteto de Napoleão. 59 Daniel Buren (1938 - …) – Artista conceptual francês. 60 Pol Bury (1922 - 2005) – Escultor belga. Iniciou a carreira como pintor nos grupos Jeune Peintre Belge e COBRA.

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Ilustração 12 – Fonte de Pol Bury no Palais Royal. (Cals, 2017).

Construídas entre o final do século XVIII e metade do século XIX, as “Passages” foram, durante muito tempo, o ponto de encontro na cidade. Muitas dessas passagens foram demolidas, no entanto, restam algumas entre as quais destacamos a Passage des Panoramas (Ilustração 13), que é a mais antiga, estabelecida em 1800, e a Galerie Vivienne (1826) (Ilustração 14), a mais conhecida.

Ilustração 13 – Passage des Panoramas, 1800. (Inforzato, 2014).

Ilustração 14 – Galerie Vivienne, 1826 (Inforzato, 2015).

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Projetada por Giusepe Mengoni61 em 1861 e construída entre 1865 e 1877, a Galeria Vittorio Emanuelle, conhecida como “O Salão de Milão”, é um espaço pensado para ser um corredor chique e coberto que une duas praças. Como um espaço público, de excelência, no início do século XX, os burgueses desfilavam, conversavam e jantavam por ali antes dos espetáculos no Teatro alla Scala. Em termos arquitetónicos, este espaço segue a tendência da altura na Europa, tendo um teto em ferro e vidro. Em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, a Galeria é, em parte, destruída pelos bombardeamentos ingleses, sendo reconstruída nos anos seguintes.

Ilustração 15 – Entrada da Galeria Vittorio Ilustração 16 – Interior da Galeria Vittorio Emanuelle II. (Halun, 2011) Emanuelle II. (Vogue Living, 2015)

Ainda na Europa, o aparecimento de grandes armazéns transforma o modo de fazer compras. De origem britânica, estes armazéns são espaços inseridos em edifícios de grandes dimensões que apresentam produtos variados para venda.

Além de serem espaços de luxo, são espaços de conforto e de praticabilidade. Voltados para o interior permitem aos clientes percorrer em toda a sua extensão e encontrar tudo o que necessitam.

Toma-se como exemplo deste modelo comercial o Harrods Department Store, em Inglaterra.

61 Giusepe Mengoni (1829 - 1877) – Arquiteto e engenheiro italiano. Formou-se em engenharia na Universidade de Bolonha, tendo sido assistente do engenheiro Jean Louis Protche. Frequentou a Academia de Belas - Artes de Bolonha.

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Ilustração 17 – Harrods Department Store. (Bhatt, 2014).

Estabelecido em 1834 por Charles Henry Harrod, o Harrods, projetado após um incéndio em 1883, por Charles William Stephens62, é um armazém de luxo, dotado de trezentos e trinta departamentos, distribuídos por sete pisos, que ocupam a área de 20.000 m2.

Dadas as suas dimensões tornou-se no maior armazém da Europa, sendo conhecido pela dedicação ao serviço e pela mais alta qualidade, que vai ao encontro do lema do espaço – “Omnia Omnibus Ubique”, isto é, "Todas as coisas, Para todas as pessoas, Em todo lugar".

Ilustração 18 – Praça de Alimentação Harrods. (Quagliatti, s.d.).

62 Charles William Stephens (1846 - 1917) – Arquiteto inglês. Trabalhou na London School Board. Além de arquiteto, foi director do Harrods.

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2.3.3.2. ORIGEM AMERICANA

Em circunstâncias diferentes, nascem, nos Estados Unidos da América, espaços comerciais de carácter moderno – os Centros Comercias.

Exemplo é o Roland Park Shoping Center, em Baltimore.

Ilustração 19 – Centro Comercial Roland Park, 1907, James Wyatt e William Nolting. (Roland Park, 2011.).

Inaugurado em 1907, este pequeno espaço comercial, projetado por James Wyatt63 e William Nolting64, integra-se no empreendimento imobiliário Roland Park, desenvolvido entre 1890 e 1920, pela Companhia Roland Park.

Com um conceito inovador para a altura, no sentido de afastar o espaço comercial da rua, criando espaço para estacionamento, o empreendimento previa originalmente um programa misto que incluía habitação, escritórios e comércio. Posteriormente, essa ideia foi abandonada e a habitação passou a escritórios.

Organizacionalmente, as lojas estabelecem-se no piso térreo do edifício, voltadas para a rua, de modo a minorar as necessidades de consumo dos residentes no empreendimento, enquanto os escritórios ocupam os pisos superiores.

Todavia, o primeiro centro comercial, isto é, o primeiro espaço comercial voltado para o interior que junta diversas lojas e serviços fora do centro da cidade e com acesso automóvel, foi o Southdale, em Minneapolis.

63 James Bosley Noel Wyatt (1847 - 1926) – Arquiteto americano. Formado pela Universidade de Harvard em 1870, prosseguiu os seus estudos na Escola de Belas-Artes, em Paris, onde fez parte do Atelier Vaudremer. 64 William G. Nolting (1866 - 1940) – Arquiteto americano. Foi diretor do Instituto Americano de Arquitetos.

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Ilustração 20 – Centro Comercial Southdale, 1956, Victor Gruen. (Intercom, 2016).

Construído em 1956, com o projeto de Victor Gruen65, o Southdale é projetado tendo por base uma ideologia moderna, onde o centro comercial é tido como um espaço de lazer urbano com parque de estacionamento para os automóveis.

Com uma área de 120.000 m2, distribuída por três pisos, que albergam cento e vinte e três lojas, é o primeiro centro comercial totalmente fechado e com climatização, conseguida através da combinação de um sistema de ar condicionado com a cobertura que permite manter a temperatura de 24ºC, durante todo o ano. Além de ser um espaço comercial é um espaço de encontro comunitário, pois não só permite as pessoas fazerem compras como também é palco de eventos comunitários e de caridade.

2.3.3.3. PANORAMA PORTUGUÊS

Os centros comerciais, em Portugal, são um acontecimento que data de há relativamente pouco tempo e que ainda se encontra em expansão. Constituem-se obras importantes que promovem centralidades além de levarem a cidade aos subúrbios e contribuírem para a renovação dos centros urbanos.

Com tipologias e localizações variadas, são espaços projetados para juntar diversas lojas de venda a retalho e de serviços, por iniciativa privada ou pública e em associação às novas formas de urbanismo comercial.

Como símbolo da sociedade que emerge na década de setenta, os centros comerciais, começam a nascer em Portugal, nomeadamente, no centro de Lisboa, como meio de

65 Victor Gruen (1903 - 1980) – Arquiteto austríaco. Formado pela Academia de Belas-Artes de Viena é conhecido como pioneiro no projeto de centros comerciais nos Estados Unidos da América e por suas propostas de revitalização urbana.

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consagração do consumismo. Inicialmente, são espaços conhecidos como drugstores, sendo, posteriormente, mudada a designação para centros comerciais.

Embora o conceito de drugstore seja proveniente dos Estados Unidos, surge em Portugal por influência francesa, que nos anos 1960, tinha o Publicis Drugstore, isto é, um espaço que propunha a unidade de vários ambientes, através das formas, dos materiais, das cores e da luz (Coelho, 2011). Fundado em 1958 por Marcel Bleustein- Blanchet66 o Publicis Drugstore foi concebido para levar ao público de Paris a cultura de consumo americana.

Ilustração 21 – Publicis Drugstore, 1958. (Tom Dixon, 2017).

Segundo Baudrillard, os drusgstores resultam da abundância e do desejo irresistível de compra e de apropriação que caracteriza a sociedade de consumo, sendo um resumo, por assim dizer, da atividade de consumo que mudou de estatuto, passou a ser uma atividade lúdica, onde os objetos são mais do que a sua função são, também, acessórios de luxo e de distinção.

[…] o drugstore propõe […] o recital subtil do consumo, cuja «arte» consiste toda precisamente em servir-se da ambiguidade do signo nos objectos e em sublimar o seu estatuto de utilidade e de mercadoria pelo artifício de «ambiência» […] O drugstore modernizar-se-á ao ponto de oferecer «matéria cinzenta» […] (Baudrillard, 2007, p. 17)

66 Marcel Bleustein-Blanchet (1906 - 1996) – Publicitário francês. Fundador da Publicis Groupe, o terceiro maior grupo de publicidade do mundo.

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O drugstore, alargado até às dimensões do centro comercial e da cidade futura, constitui o sublimado de toda a vida real, de toda a vida social objectiva, onde acabam por abolir- se, não só o trabalho e o dinheiro, mas as estações […] O trabalho, o lazer, a natureza, a cultura, que outrora se encontravam dispersas e provocavam a angústia e a complexidade na vida real […] ei-las agora como um todo misturado, amassado, climatizado, homogeneizado no mesmo travelling de um shoping perene […] (Baudrillard, 2007, p. 20)

A princípio, os empreendimentos desenvolvem-se lentamente e são, maioritariamente, de pequena dimensão, sem unidade de gestão e relacionados à especulação imobiliária que procura tornar rentáveis espaços devolutos ou subaproveitados. Daí surgem as adaptações de edifícios existentes ao uso comercial.

A partir dos anos 1980, inicia-se a expansão dos espaços comercias. Passa-se da pequena dimensão para a média dimensão, surgindo novas tipologias e localizações.

No entanto, o conceito de centro comercial que se conhecia na altura sofre uma grande mudança com o aparecimento do Centro Comercial Amoreiras que introduz, em Portugal, a ideia de luxo e transforma o modo de fazer compras, associando-o ao lazer.

Até ao aparecimento do C.C. Amoreiras, os centros comerciais, como já foi referido conhecidos como drugstores, funcionavam como empreendimentos imobiliários. Inseridos em edifícios multifuncionais integrados no tecido urbano, os espaços comerciais dotados de pequenas lojas, organizadas sem qualquer critério de planeamento, refletiam a ausência de uma unidade de gestão. Desse modo, caracterizavam-se pela independência dos lojistas, que se traduzia na liberdade de horários e de atividade promocional, de falta de investimento nas áreas de promoção e marketing bem como de renovação e adaptação em conjunto das várias lojas.

Além disso, havia uma falta de preocupação com o interior. Os centros não só não tinham luz natural como também não estavam em harmonia no que diz respeito à relação entre os espaços comuns e as lojas. Com efeito, estes eram apenas espaços de consumo e não de interação social ou lazer, pois a atmosfera que os envolvia não era convidativa.

O primeiro espaço comercial a aparecer em Portugal, foi o Apolo 70.

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Ilustração 22 – Entrada do Apolo 70, 1971. (Vasques, 1977a).

Inaugurado em 1971, com projeto de Augusto Silva67 e decoração de Paulo Guilherme68, o Apolo 70 é dos primeiros espaços comerciais a abrir em Portugal. Na altura, era o maior centro comercial da Europa, com uma área de 3.000 m2, e revolucionou a maneira de comprar, conviver e de ver cinema na cidade de Lisboa, ficando, precisamente, conhecido pelo seu cinema, os seus gelados e a sua livraria.

Ilustração 23 – Interior do Drugstore Apolo 70, 1971. (Pastor, c.1980).

67 Augusto Silva – Arquiteto português. 68 Paulo Guilherme (1932 - 2010) – Arquiteto, cineasta, escritor, pintor, ilustrador, designer de livros, de interiors, de selos, de moedas, dono e decorador de clubes noturnos português.

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Atualmente este espaço comercial, apesar de ser o mais antigo da cidade de Lisboa, encontra-se em pleno funcionamento, tendo sido submetido a obras de renovação, em 2009, a cargo do atelier 4+Arquitectos69, de modo a adaptar-se aos novos tempos e à chegada das grandes superfícies comerciais.

Nesta intervenção de renovação, dividida por fases, optou-se pela criação de uma imagem jovem e forte, através da utilização da cor e de formas curvas. Fez-se a renovação das instalações sanitárias e os espaços de circulação e as zonas de estar foram trabalhadas com inspiração em padrões dos anos setenta.

Da apropriação deste espaço comercial, tem-se a ideia de ser um espaço muito luminoso, apesar da ausência de luz natural.

Ilustração 24 – Interior Apolo 70, após renovação (Ilustração nossa, 2016)

69 4+Arquitectos – Gabinete de Arquitetura, sediado em Lisboa, a cargo dos arquitetos Filipe Santana e Ricardo Antunes.

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A seguir do Drugstore Apolo 70 muitos foram os centros comerciais que abriram. No seguinte quadro faz-se uma síntese desses espaços com alguns dados relevantes.

ÁREA Nº DE ANO ESPAÇO COMERCIAL OBSERVAÇÕES (m2) PISOS

Construção de raiz Monumento de Interesse Público 1973 C. C.Castil 2.546 3 Projeto de Conceição Silva com Tomás Taveira

Projeto de Fernando Silva 1975 C. C. Imaviz - - Abandonado desde 2015

C. C. Alvalade 4.510 2 Renovado em 2013 1976 Galerias Almirante 570 4 Edifício adaptado

C.C. City 935 2 Edifício adaptado 1979 C. C. Palladium 766 3 Edifício adaptado

1982 C. C. Arco - Íris 500 3 Edifício adaptado

Construção de raiz, integrado no conjunto urbanístico da Quinta das Freiras. O centro comercial faz a ligação dos dois blocos C. C. Gemini 4.000 2 habitacionais. Construída pela Emaco com projeto de João Monteiro de Andrade e Sousa. 1984 Menção Honrosa do Prémio Valmor em 1984

Construção de raiz Olaias Plaza 3.300 3 Projeto de Tomás Taveira

Elaborado por Santos Garcia, C.C. Columbia 3 LDA.

C. C. Brasil 1.000 2 Construção de raiz 1985 C. C. São João de Deus 2.992 2 -

Tabela 1 – Espaços Comerciais depois do Drugstore Apolo 70 e antes do C.C. Amoreiras (Ilustração nossa, 2016)

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No entanto, nem todos foram relevantes no processo evolutivo destes espaços. Daí destacarmos o Centro Comercial Castil, o Centro Comercial Imaviz e o Centro Comercial Alvalade.

2.3.3.3.1. CENTRO COMERCIAL CASTIL (1973)

Ilustração 25 – Centro Comercial Castil, 1973, Francisco Conceição Silva. (Pastor, c.1980).

A modernidade do Castil reside na força da linguagem enquanto objecto urbano, revelando um tempo de mudança de escala e de opções individualizadas resultado da acentuação das actividades terciárias da cidade. O tratamento volumétrico imaginoso e livre extravasa os limites do lote em balanços estruturados e tectonicamente expressionistas. Apenas um volume cego revestido a azulejo claramente luminoso, a torre charneira dos dois planos de rua, articula em contraste com os planos de vidro o gaveto marcado pontualmente pela peça escultórica de Fernando Conduto, pousada em plano subtilmente elevado do nível da rua. (Tostões, 1998, p. 253)

Projetado pelo atelier Conceição Silva e inaugurado em 1973, como parte integrante de um edifício de quinze pisos, caracterizado por Ana Tostões70, no texto referente ao

70 Ana Tostões (1959 - …) – Arquiteta portuguesa. Formada em Arquitetura pela Escola Superior de Belas- Artes de Lisboa em 1982 e em História da Arquitetura pela Universidade Nova de Lisboa em 1994, Ana Tostões é presidente da DOCOMOMO Internacional e professora associada do Departamento de Arquitetura e Engenharia da Universidade Técnica de Lisboa, sendo reponsável pelas disciplinas de História da Arquitetura e de Teoria da Arquitetura. Autora de diversos trabalhos publicados na área da história, da teoria e da crítica da Arquitectura e da Cidade Contemporânea, Ana Tostões tem participado em diversos júris, comités científicos e conferências na Europa, África e América. Também, tem organizado e

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projeto no livro “Aquitectura do Século XX: Portugal”, como carismático, devido à introdução de uma imagem de carácter cosmopolita na paisagem da cidade do início dos anos 1970, o Centro Comercial Castil, encontra-se em pleno funcionamento, tendo sido, classificado como Monumento de Interesse Público, em 2011.

Com acesso a partir da rua, é um espaço comercial dotado de trinta e uma lojas, das quais a Loja das Meias é o símbolo máximo, três restaurantes e dois bancos, numa área comercial de 2.546 m2, distribuída por três pisos que comunicam entre si através de umas escadas de estrutura metálica de alumínio e vidro, possibilitando a visualização de toda a zona comercial.

Com efeito, da apropriação do espaço apercebe-se, comparativamente com os centros comerciais da atualidade, da pequena dimensão deste espaço comercial que, apesar do número reduzido de lojas abertas, detém um movimento notório, muito possivelmente devido aos escritórios ali integrados. Com galerias de circulação que possibilitam a fruição das montras interiores, as lojas aproveitam o máximo da luz natural, contribuindo para o ambiente calmo e de primor que o centro apresenta.

Ilustração 26 – Interior do Centro Comercial Castil, 1973, Francisco Conceição Silva. (Pastor, c.1980).

comissionado várias exposições. Foi acessora científica do IPPAR para o inventário da Arquitetura do Movimento Moderno e vice-presidente da Ordem dos Arquitetos e da AICA portuguesa.

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2.3.3.3.2. CENTRO COMERCIAL IMAVIZ (1975)

Ilustração 27 – Entrada do Centro Comercial Imaviz, 1975, Fernando Silva. (Vasques, 1977).

Inaugurado em 1975, com localização na zona de , o Centro Comercial Imaviz, projetado por Fernando Silva e inserido num edifício composto por trinta e cinco pisos, dos quais trinta são acima do solo e cinco são abaixo do solo, foi dos primeiros centros comerciais a ser inaugurado em Portugal.

Ilustração 28 – Interior do Centro Comercial Imaviz, 1975, Fernando Silva. (Pastor, c.1980).

Apesar do glamour conhecido à época, o centro comercial viu-se fechado e ao abandono por vários anos, devido ao declínio a que se vinha assistindo desde o final dos anos noventa e durante os primeiros anos do século XXI. Em 2013, no verão, o centro comercial volta a ganhar vida, adotando o nome “Imaviz Underground”. Surge um espaço dedicado a produtos alternativos, personalizados e diferentes, cujas lojas são especializadas em diferentes ramos da subcultura alternativa urbana, desde as tatuagens aos piercings, da banda desenhada, da ilustração ao action figures, passando

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pela roupa vintage, a streetware e até aos discos das correntes mais marginais do rock. Além das lojas, são promovidos eventos, nomeadamente, feiras e mercados de artistas independentes com direito a concertos musicais que remete para o espírito comunitário existente, nos anos noventa, no Centro Comercial Portugália, na Avenida Almirante Reis. No entanto, os esforços para manter o espaço aberto não foram bem-sucedidos, devido a ausência de uma administração unificadora, levando ao abandono do centro comercial, em 2015.

2.3.3.3.3. CENTRO COMERCIAL ALVALADE (1976)

Pertence à primeira geração de centros comerciais em Portugal, o Centro Comercial Alvalade, inaugurado em 1976, ainda está presente hoje no quotidiano dos lisboetas, tendo sido renovado em Outubro de 2013, de modo a adaptar-se às necessidades tanto dos lojistas como dos clientes.

Localizado no bairro de Alvalade e com boa acessibilidade, isto é, com acesso direto à estação de Metro Alvalade e servido por uma boa rede de transportes rodoviários, é um espaço comercial de pequena dimensão com luz natural, dotado de trinta e uma lojas e serviços, uma variada zona de restauração com esplanada e um parque de estacionamento subterrâneo com capacidade para trezentos e quarenta carros.

Ilustração 29 – Entrada e Esplanada do Centro Comercial Alvalade, após renovação (MUNDICENTER, s.d. a).

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3. TOMÁS TAVEIRA: DO RACIONALISMO AO PÓS-MODERNISMO

3.1. O ARQUITETO

Personalidade polémica com uma história atribulada, Taveira é um arquivo vivo de uma outra face da arquitectura portuguesa. Uma arquitectura de skyline fascinada com a sociedade de consumo que irrompe em Portugal no brilho controverso dos anos 1980. O momento-chave são os anos 1960, e as visitas de Taveira a Londres, onde toma contacto com a cultura pop […] Nos anos 1980, Taveira adopta, em coerência com estes passos anteriores, um pós-modernismo internacional, ampliado pela sua verve e carácter intempestivo. A convicção pós-modernista contamina totalmente a persona pública, e o trabalho de arquitectura, urbanismo e design. Mas Tomás Taveira nunca foi somente o talentoso desenhador, mas alguém que percebeu a importância – chave da teoria e da história para o devir pós-moderno […] No caso de Taveira, a arquitetura tem uma lógica particular, dilatada pelo espectáculo e pela sedução da comunicação, ao ponto da fantasia e da irracionalidade. (Figueira, 2011, p. 126, 127)

De origem humilde, Tomás Taveira surge em Portugal nos anos oitenta com grande protagonismo, não só como arquiteto mas também como figura social portadora de um nível cultural mais alargado, introduzindo um lado internacional na cultura portuguesa que, até então, estava muito fechada e centralizada.

Foi o primeiro arquiteto de quem se falou. Por aparecer na televisão, nas revistas, nos jornais e por circular no meio do jet set, Tomás Taveira ganhou notoriedade e projeção mediática, o que contribuiu para o seu reconhecimento, como arquiteto e figura pública.

Nascido em Lisboa em 1938, Tomás Taveira viveu a sua infância e juventude no Largo do Leão. Concluiu o curso preparatório na Escola Pedro de Santarém e prosseguiu os estudos na Escola Industrial Marquês de Pombal, em Alcântara, onde aprendeu serralharia que, a partir dos catorze anos, exerceu profissionalmente nas oficinas da Carris, em Santo Amaro, onde, também, trabalhava o seu pai, como agulheiro.

Enquanto trabalhava como serralheiro, foi-lhe descoberto o talento para o desenho, algo inato que foi estimulado por Joaquim Pereira71 e educado na Escola Industrial, e passou a trabalhar como desenhador.

71 Joaquim Pereira – Pintor e cenógrafo português.

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Ainda a trabalhar na carris, mas já como desenhador, foi convidado a ingressar no atelier de arquitetura de Formosinho Sanchez72 e de Maurício de Vasconcelos73 mas como moço de recados. Era considerado talentoso e de espirito crítico, sendo conhecido como o “brasileiro”, por causa dos seus projetos de influência tropical.

Devido ao seu talento e à sua expressividade, foi solicitado por vários arquitetos, alguns dos mais conceituados da altura. Chegou a exercer a função de desenhador para arquitetos como Keil do Amaral74, Nuno Portas, Nuno Teotónio Pereira, José Luís Tinoco75, Victor Figueiredo76, Alçada Baptista77, Duarte Nuno Simões78 e Daniel Santa Rita79, ainda que intentasse enveredar pela Escola Náutica para ser oficial da Marinha Mercante.

72 Formosinho Sanchez (1922 - 2004) – Arquiteto português. Formou-se na Escola Superior de Belas- Artes de Lisboa em 1949, onde também foi professor entre 1964 e 1973. Fundou, juntamente com Nuno Portas, Luiz Cunha, Diogo Pimentel e Nuno Teotónio Pereira, o Movimento para a Renovação da Arte religiosa. Premiado com o Prémio Municipal de Arquitetura, em 1954, pelo Bairro das Estacas, obra em conjunto com Ruy d’Athouguia. 73 Maurício de Vasconcelos (1925 - 1997) – Arquiteto português. Formado pela Escola Superior de Belas- Artes de Lisboa, estagiou no Brasil, nomeadamente, em São Paulo e no Rio de Janeiro entre 1950 e 1952. Foi consultor do Secretariado Nacional de Informação para projetos de utilidade turística, responsável pelos Planos de Urbanização da Costa da Caparica e Trafaria e administrador do Grupo de Planeamento e Arquitetura. Colaborou com Conceição Silva em diversos projetos ligados ao turismo. 74 Keil do Amaral (1910 - 1975) – Arquiteto português. Formado em Arquitetura, em 1936, pela Escola de Belas-Artes de Lisboa, contribuiu com obra construída e teórica para o fortalecimento da arquitetura moderna em Portugal. Para começo de carreira, ganhou o concurso para o Pavilhão Português da Feira Internacional de Paris em 1937 e, em 1938, entrou para os quadros da Câmara Municipal de Lisboa, onde lhe foram atribuídos os projetos para o Parque Florestal de Monsanto, o Parque Eduardo VII e a do Campo Grande. Foi docente do curso de Arte e Arquitetura na Universidade Popular, em 1943. Foi premiado com o Prémio Municipal de Arquitetura em 1951 pela Moradia de Sousa Pinto, no Restelo, o Prémio Diário de Notícias em 1960 pelo conjunto da sua obra e o Prémio Valmor de 1962 pela Moradia na Rua Almirante António , no Restelo. 75 José Luís Tinoco (1932 - …) – Arquiteto, artista plástico, músico, compositor e letrista português. Formado em Arquitetura pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, teve uma participação ativa no movimento de renovação da arquitetura portuguesa nos anos cinquenta. Premiado com o Prémio de Consagração da Sociedade Portuguesa de Autores em 2015. 76 Victor Figueiredo (1929 - 2004) – Arquiteto português. Formado pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto, dedicou-se durante a década de 60 e 70 a projetos de habitação social dm diferentes zonas do país. Foi professor na Universidade de Coimbra e na Universidade Autónoma de Lisboa. Premiado com o Prémio Secil em 1998 pelo projeto da Escola Superior de Artes e Design nas Caldas da Rainha. 77 Alçada Baptista (1924 - 2008) – Arquiteto português. Oriundo da Escola do Porto é um dos arquitetos dos aos cinquenta, a que Ana Tostões chamou de “verdes anos”. 78 Duarte Nuno Simões (1930 - …) – Arquiteto português. Diplomado pela Escola de Belas-Artes de Lisboa em 1955. Premiado com o Prémio Valmor em 1989 e o Prémio INH em 2006. 79 Daniel Santa-Rita (1929 - 2001) – Arquiteto português. Formado na Escola de Belas-Artes do Porto em 1951, defendeu a tese na Escola de Belas-Artes de Lisboa em 1960. Fez parte do Gabinete Técnico de Habitação e dos Serviços Culturais da Câmara Municipal de Lisboa, entre 1960 e 1961, foi consultor da Câmara Municipal de Almada e, também, fez parte da Direção da Revista “Arquitectura”, tendo desempenhado diversas funções no Sindicado Nacional Dos Arquitetos e na Associação dos Arquitetos Portugueses. Trabalhou em associação com diversos arquitetos, nomeadamente, Conceição Silva, entre 1951 e 1961, Duarte Nuno Simões, entre 1961 e 1974, e João Santa-Rita, com quem fundou o atelier “Santa-Rita Arquitectos, Lda”, em 1990. Participou com outros arquitetos em projetos específicos, dos quais destacamos, Manuel Vicente, Vicente Bravo, António Miguel, Alberto de Oliveira, Rosário Venade, José Caldeira, António Janeiro, Pedro Ucha, Manuel Graça Dias e Egas Vieira. Realizou trabalhos para o sector público e privado, tendo sido premiado em concursos de ambos sectores. Participou em diversas

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Contudo, o jeito para desenho e o saber fazer adquirido, ao longo do trabalho desenvolvido em ateliers, levaram Tomás Taveira a considerar a Arquitetura como uma possível área profissional.

Assim, ainda como desenhador no atelier de Teotónio Pereira, ingressa na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa (1959), onde só depois de onze anos, conclui o curso de arquitetura, com a classificação final de vinte valores. No decorrer do curso, ainda como desenhador, ingressa no atelier de Francisco Conceição Silva, onde aprende bastante para a sua vida futura.

Cerca de um ano após a conclusão do curso, funda o seu próprio atelier (1971), em Lisboa, onde adota a linha de profissionalismo adquirida no atelier de Conceição Silva, repartindo a sua atividade profissional entre a Arquitetura, o Urbanismo e o Design. Atualmente, além do atelier em Lisboa, possui um atelier em São Paulo, que foi responsável pela remodelação do estádio do Palmeiras.

Na altura, com o seu primeiro atelier estabelecido, inicia o curso de pós-graduação em Planeamento Urbano e Regional integrado nos programas de Doutoramento do MIT nos Estados Unidos da América, como Fellow do SPURS Program.

A par da sua atividade como arquiteto, Taveira dedica-se ao ensino, sendo docente em diversas escolas e universidades, em Portugal e nos Estados Unidos, designadamente, na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, atual Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa, na Universidade Nova de Lisboa e na California State Politecnic University.

Como professor, dava a conhecer aos seus alunos Michael Graves80 e James Stirling, seus modelos de referência. Também organizava conferências e seminários com arquitetos nacionais e internacionais mais conceituados da época, a fim de promover a cultura arquitetónica e alargar os horizontes dos seus alunos.

exposições nacionais e internacionais, tendo obra publicada em várias revistas de arquitetura e imprensa não especializada. 80 Michael Graves (1934 - 2015) – Arquiteto norte-americano. Formado pela Universidade de Harvard iniciou a sua carreira com George Nelson. Adepto do pós-modernismo, fundou o seu próprio atelier em 1964, em Princeton, e deu aulas na Universidade de Princeton desde 1962. Além de arquiteto produtivo, Graves foi designer industrial na produção de produtos para empresas como Target e Black&Decker. Foi premiado com a Medalha Nacional de Artes em 199, a Medalha de Ouro do AIA em 2001 e o Prémio Driehaus Arquitectura em 2012.

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Com esse propósito, organizou, por iniciativa do Departamento de Arquitetura da ESBAL e de Augusto Brandão81, quatro simpósios internacionais sobre pós-modernismo.

«Cá está uma boa oportunidade para dar a isto um conteúdo mais forte, algo que tenha algum peso cultural na sociedade portuguesa; trazer só as personalidades porque são gurus pode ser uma oportunidade perdida; portanto vamos enquadrar este acontecimento em alguma estrutura filosófica mais forte.» (Figueira, 2011, p. 134)

Este foi o pensamento do arquiteto no contexto dos seminários. Na altura tinha-se a impressão de que o lugar dos intelectuais da arquitetura portuguesa era no Porto. Assim, por meio das conferências, que visavam mais do que apenas promover arquitetura e arquitetos internacionais, Taveira viu uma possibilidade de mostrar que aquela impressão estava errada e que Lisboa, isto é, os arquitetos da capital, apesar da ousadia em relação ao pluralismo, tinham ideias para a arquitetura e para o desenvolvimento da sua estética.

Contudo, além das vertentes de atividade já mencionadas, Taveira envolve-se em cenografia e estilismo. Em cenografia foi responsável por cenários de teatro e de televisão, em particular, cenários televisivos da SIC e da TVI. Em estilismo, concebeu linhas de vestuário que acabaram por não ser produzidas.

Apesar da sua arquitetura extravagante, de formas exuberantes e coloridas, as suas obras foram reconhecidas, tendo recebido alguns prémios, nomeadamente, o Prémio Valmor e o Prémio Municipal da Cidade de Lisboa em 1984 pelo Conjunto Habitacional das Olaias, o Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura em 1993 pelo Complexo das Amoreiras e a Menção Honrosa do Prémio Valmor em 1994 pelo Banco Nacional Ultramarino.

81 Augusto Brandão (1930 - …) – Arquiteto português. Formou-se em arquitetura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa em 1955, tendo desenvolvido um longo percurso académico ligado, primeiramente, à Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde fez concurso de agregação, em 1968, tendo sido Presidente dos Conselhos Diretivo, Científico e Pedagógico entre 1976 e 1984. No âmbito do processo de reestruturação da Escola Superior de Belas Artes e criação da Faculdade de Arquitetura de Lisboa, foi Vogal da sua Comissão Instaladora, em 1984-86. Mais tarde foi nomeado professor Catedrático da Faculdade, sendo Presidente do Conselho Diretivo e Vice-Presidente do Conselho Científico em 1990-91. Desenvolveu uma longa colaboração com outras universidades, nomeadamente como Diretor do Departamento de Arquitetura da Universidade Lusíada, de que foi Vice-Reitor (1991-94), Diretor do Departamento de Artes da Universidade Moderna (1993-98), Diretor do Departamento de Arquitetura e Design da Universidade Independente (1998-99). Mais recentemente, encontra-se ligado à Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, de que é Pró-Reitor. Como arquiteto desenvolveu a sua atividade especialmente na área das construções escolares, tendo sido técnico superior da Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário e da Direcção-Geral das Construções Escolares entre 1955 e 1974. Além disso, tem intensa atividade no âmbito da intervenção e recuperação de património, em Portugal e no estrangeiro, e no campo da escrita, tendo publicado dezenas de livros e inúmeras intervenções em revistas de arquitetura.

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Membro da Associação Internacional de Críticos da Arte (AICA), Tomás Taveira é, sem dúvida, o arquiteto português mais polémico e ousado do final do século XX. Tem obra construída em Portugal, Arábia Saudita, Emiratos Árabes Unidos, Macau, Angola e Cabo Verde. Assume-se como uma pessoa alheia à sociedade de ideias inovadoras e afirma: Sou um revolucionário da cultura. (Silva, 2000, p. 120)

Além de ser considerado um:

[…] orquestrador de um tempo presente onde os diversos fantasmas do Pós- Modernismo se resolvem, no caótico e barroco cruzar dos seus diversos esquematismos. (Duarte, 1989, p. 29)

3.1.1. “BAGAGEM” CULTURAL: INFLUÊNCIAS E REFERÊNCIAS

Desde bem cedo, Tomás Taveira desenvolve a sua “bagagem” cultural, isto é, o seu conjunto de conhecimentos e saberes, tornando-se um poço de conhecimento dotado de uma vasta cultura artística e arquitetónica (Silva, 2000, p. 122).

Antes de iniciar o curso de Arquitetura, frequenta reuniões entre intelectuais para a troca de ideias no Café Gelo e no Café A Brasileira, onde conviveu com diversas personalidades do mundo das Artes, por exemplo, Mário Cesariny82, Fernando Lopes83 e Baptista Bastos84, que sendo de áreas diferentes contribuíram para desenvolvimento intelectual do arquiteto.

82 Mário Cesariny (1923 - 2006) – Poeta e pintor português. É considerado o principal representante do Surrealismo em Portugal. Foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade de Portugal. Premiado com o Grande Prémio Vida Literária APE/CGD em 2005. 83 Fernando Lopes (1935 - 2012) – Cineasta português. Cofundador da RTP2, da qual foi diretor nos anos 1980. Lecionou o curso de Cinema na Escola Superior de Teatro e Cinema. Foi feito Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Obras de destaque são: Belarmino, Dom Roberto e Os Anos Verdes. 84 Baptista Bastos (1934 - …) – Jornalista e escritor português. Estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio e no Liceu Francês Charles Lepierre em Lisboa. Iniciou carreira como jornalista em “O Século”. Fundou o semanário “O Ponto”. Premiado com o Prémio Literário Município de Lisboa (Prémio de Prosa de Ficção) em 1987 pela obra “A Colina de Cristal”, o Prémio P.E.N. Clube Português de Ficção, no mesmo ano e pela mesma obra, o Prémio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários em 2002 pela obra “No Interior da Tua Ausência”, o Prémio de Crónica João Carreira Bom em 2006 e, no mesmo ano, o Prémio Clube Literário do Porto.

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Descobre, através de Manuel Machado da Luz85, o cinema de Antonioni86, Joseph Losey87, Visconti88, Dreyer89 e Welles90, que compõem as referências do seu pensamento artístico. E, a respeito disso, Tomás Taveira declara:

O Manuel Machado da Luz […] teve muita importância […] porque me abriu a mente para esse mundo da imagem e eu explorava-o loucamente. (Figueira, 2011, p. 142)

Nessa exploração, Taveira manifesta interesse particular por alguns filmes que o marcam profundamente e que constituem parte inesquecível do seu percurso. Por exemplo, o filme “Eva” (1962) de Joseph Losey, o “Deserto Vermelho” (1964) e o “Blow Up” (1966) do Antonioni e o “Senso” (1964) de Visconti.

Eva é uma viagem fabulosa de cultura urbana na Roma clássica onde aparecem os Miguel Ângelo, os Rafael, os Brunelleschi […] Eva mostrou-me algo que me impressionou: o sentido na luz na arquitectura. Até à descoberta do cinema, nunca tinha percebido o que era a luz. Hoje suponho que domino a construção luminosa dos espaços, pela compreensão que tenho desta arte. (Figueira, 2011, p. 142, 143)

85 Manuel Machado da Luz (1943 - 1997) – Arquiteto, crítico de cinema e argumentista-dialogista português. Formou-se em Arquitetura na Escola Superior de Belas-Artes e iniciou a sua carreira como arquiteto no atelier de António Jacobetty. 86 Michelangelo Antonioni (1912 - 2007) – Cineasta italiano. É caraterizado pela realização de filmes cheios de beleza visual e de alienação das personagens. Premiado com o Prémio FIPRESCI em 1961 no Festival de Berlim, o Leão de Ouro honorário no Festival de Veneza em 1983, o Prémio especial em 1993 no European Film Awards, o Grand Prix Especial das Américas no Festival de Montreal em 1995, o Óscar Honorário em 1995, o Prémio Bodil de Melhor Filme Europeu, a Palma de Ouro no Festival de Cannes, o Prémio do Júri no Festival de Cannes, o Prémio do 35º Aniversário no Festival de Cannes, o Urso de Ouro no Festival de Berlim, o Leão de Ouro no Festival de Veneza, o Leão de Prata no Festival de Veneza, o Prêmio FIPRESCI no Festival de Veneza e o Prémio FIPRESCI de Curta-Metragem no Festival de Valladolid. Da sua obra, destaca-se “Deserto Vermelho”, onde explora temas modernistas de alienação e “Blow up”. 87 Joseph Losey (1909 - 1984) – Diretor do cinema norte-americano que se estabeleceu em Inglaterra. Premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes e o Prémio César de Melhor Filme e Melhor Diretor. Da sua obra, salientam-se os filmes “O Criado”, “O Mensageiro” e “Monsier Klein”. 88Luchino Visconti (1906 - 1976) – Diretor de cinema italiano. Amigo de Coco Chanel, trabalhou com o cineasta Jean Renoir. Premiado com o Prêmio Bodil de Melhor Filme Europeu, a Palma de Ouro no Festival de Cannes, o Prêmio do 25º Aniversário no Festival de Cannes, o Leão de Ouro no Festival de Veneza, o Leão de Prata no Festival de Veneza, o Prêmio Especial no Festival de Veneza e o Prêmio FIPRESCI no Festival de Veneza. Dos seus filmes dá-se enfâse ao “Senso”, o primeiro filme colorido. 89 Carl Theodor Dreyer (1889 - 1968) – Cineasta dinamarquês. É considerado o cineasta mais importante da Dinamarca e de todos os tempos. Nos seus filmes abordava temas como a responsabilidade da separação dos pais no amadurecimento dos filhos, a opressão das mulheres e a idealização do auto- sacrifício, que eram tidos como sombrios na época. 90 Wells (1915 - 1985) – Cineasta, roteirista, produtor e ator norte-americano. É considerado um dos artistas mais versáteis do século XX, tendo sido eleito o maior diretor de cinema de todos os tempos. Inicia a sua carreira no teatro, tendo trabalhado também no rádio. Premiado com o Óscar da Academia de Melhor Roteiro Original. Da sua obra destaca-se “Citizen Kane” ou “O Mundo a seus Pés”, em Portugal, que recebeu muitos elogios devido à inovação (usou diferentes ângulos de câmara, a exploração do campo, a narrativa não linear e a edição e a montagem), coragem (retratou a vida e a decadência de um magnata da comunicação norte-americana, William Randolph Hearst) e dinamismo (foi diretor, co-roteirista, produtor e ator).

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“Eva” revela o que é a luz na arquitetura, algo que até àquele momento tinha passado despercebido ao arquiteto. E, uma vez compreendida essa arte, o arquiteto tem a capacidade para desenvolver e criar espaços dotados de uma construção luminosa de qualidade.

Por outro lado, “Deserto Vermelho” abre os horizontes de Tomás Taveira para o universo industrial sem ornamentos dos subúrbios e as suas cores. E, na citação a seguir, diz como se sentiu.

[…] estava profundamente tocado pelo universo despojado, industrial, dos subúrbios e dos objectos que povoavam as imagens do Deserto Vermelho e as suas cores. (Figueira, 2011, p. 143)

Relativamente, a “Blow Up” e “Senso”, Taveira admite que são elementos essenciais do seu imaginário, apesar de serem opostos.

[…] duas coisas muito importantes e contraditórias […] Blow Up do Antonioni […] Senso de Visconti […] duas influências que me acompanham até hoje, almas tutelares, de tom melodramático. (Figueira, 2011, p. 143)

No curso de Arquitetura, da Escola de Belas-Artes de Lisboa, onde ingressa pelo incentivo de Joaquim Pereira, tem contacto com o passado, algo que o cativa e com o qual cria fortes laços.

Desde o 1.º ano da escola, que o «antigo» me fascina. […] A minha ligação à história vem desde o início. Tendo começado a trabalhar nestes materiais na Escola de Belas Artes, logo no 1º ano, naturalmente a minha relação com a história foi-se intensificando. (Figueira, 2011, p. 141)

Algumas descobertas são cruciais neste campo. E, em entrevista, fala, por exemplo, do trabalho realizado, em âmbito académico, sobre as cidades no Antigo Egito.

Além disso, a amizade com personagens como Herberto Helder91, Fernando Assis Pacheco92 e Nuno Portas foram preponderantes para o cultivo cultural. E, a respeito de cada um, Taveira refere em que medida essas amizades foram importantes.

91 Herberto Helder (1930 - 2015) – Poeta português. É considerado o maior poeta da segunda metade do século XX. Frequentou a Universidade de Coimbra. Trabalhou em Lisboa como jornalista, bibliotecário, tradutor e apresentador de programas de rádio. Premiado com o Prémio P.E.N. Clube Português de Poesia em 1983 e o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários em 1988. Em 1994, venceu o Prémio Pessoa, mas recusou. 92 Fernando Assis Pacheco (1937 - 1995) – Jornalista, crítico, tradutor e escritor português. Licenciado em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra foi, enquanto jovem, ator no Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra e no Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra e, também redator dar revista “Vértice”, o que permitiu estabelecer contacto com o poeta Joaquim Namorado, Manuel Alegre e José Carlos de Vasconcelos. Foi repórter no Diário de Lisboa, na República, no Jornal de Letras, Artes e

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O Herberto […] disse-me uma coisa interessantíssima […] “A arquitectura não é uma coisa natural, é uma coisa que vem do pensamento, tem de ser adptada à história e ao local.” (Figueira, 2011, p. 142)

Ao recordar esta frase, dita no momento em que travam amizade, Taveira reconhece que essa afirmação é um dos instrumentos do seu desenvolvimento cultural e do seu modo de atuação.

O Assis Pacheco tinha uma biblioteca incomensurável […] Quase toda a literatura americana que li, foi-me emprestada por ele […] (Figueira, 2011, p. 142)

Fernando Assis Pacheco foi importante por dar a conhecer e a ler a literatura americana que permitiu a Taveira ir além da cultura europeia.

[…] pensei em assinar uma revista, e pedi ajuda ao Nuno Portas […] para me ajudar a decidir. E, com enorme espanto meu, ele não me recomendou L’Architettura do Bruno Zevi, mas a Architectural Design. […] ao mesmo tempo, o José Forjaz, indicou-me o Architects Journal. Duas experiências tão impressionantes atiram-me para a arquitetura inglesa e para o amor ao «detalhe». (Figueira, 2011, p. 133, 134)

Nuno Portas apresentou, por assim dizer, a cultura arquitetónica inglesa a Tomás Taveira, algo que o marcou profundamente e acompanha a sua criação arquitetónica.

A par das tertúlias, do cinema, da história, dos amigos, das revistas e dos livros, Tomás Taveira absorve conteúdos intelectuais nas viagens que faz, designadamente, Roma, Inglaterra e, posteriormente, Estados Unidos da América.

[…] fiz a minha primeira viagem ao estrangeiro, a cidade escolhida foi Roma […] nessa altura já tinha descoberto um autor clássico muito pouco conhecido que escreveu uma lição única sobre a cidade antiga, sobre a construção da cidade: Marcel Poète. (Figueira, 2011, p. 143)

Em Roma, Taveira reconstrói o itinerário do filme “Eva” e vê, por influência do livro “Borromini nella cultura europea”, as obras de Borromini93, Brunelleschi94 e Miguel

Ideias, no Musicalíssimo e no Se7e, onde foi diretor adjunto. Também foi redator e chefe de redação de “O Jornal”, exercendo crítica literária e colaborador da RTP. 93 Francesco Borromini (1599 - 1667) – Arquiteto italiano. A sua obra insere-se no período Barroco. Disputou a glória de grande mestre com Bernini, com o qual trabalhou no início da sua carreira, na conclusão das obras do Palácio Barberini, depois de ter trabalhado com Carlo Maderno na Basílica de São Pedro. Como grande conhecedor da arquitetura clássica, reclama o direito de interpretar a herança da arquitetura romana, recusando a cópia dos monumentos romanos. 94 Filipo Brunelleschi (1377 - 1446) – Arquiteto e escultor italiano. A sua obra insere-se no período do Renascimento. Começou como ourives e tornou-se o primeiro arquiteto do renascimento. Da sua obra destaca-se a cúpula da Catedral Santa Maria del Fiore, em Florença.

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Ângelo95. Também, aproveita para ver La Rinascente do Franco Albini96 (1957-61) (Ilustração 30), que era uma obra defendida no atelier de Nuno Teotónio Pereira, onde foi desenhador.

Ilustração 30 – La Rinascente, 1957-61, Franco Albini. (Cavaliere, 2008).

[…] faço uma viagem a Inglaterra, atraído pelo Stirling – naquele momento principalmente pelos Laboratórios da Faculdade de Engenharia de Leicester – e, atraído pela forte impressividade da cultura pop. (Figueira, 2011, p. 143)

Em Inglaterra, faz o itinerário do filme “Blow Up” que tem como ponto de partida o edifício Economist (1959-64) (Ilustração 31) de Alison e Peter Smithson, apreende a cultura pop e toma contacto com a obra de James Stirling.

95 Miguel Ângelo (1475 - 1564) – Pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano. É considerado um dos maiores criadores da história da arte. Iniciou-se como aprendiz dos irmãos Davide e Domenico Ghirlandaio, em Florença, onde lhe foi reconhecido o talento. Desenvolveu o seu trabalho artístico por mais de setenta anos entre Florença e Roma, junto dos seus mecenas, a família de Medici e alguns papas romanos, sendo a sua abordagem influenciada pela Antiguidade Clássica, o primeiro Renascimento, os ideais do humanismo e do neoplatonismo, focalizado da representação da figura humana, em especial na figura masculina nua. 96 Franco Albini (1905 - 1977) – Arquiteto e designer italiano. Formado em Arquitetura pelo Politécnico de Milão, a sua arquitetura desenvolveu-se na linha neo-racionalista. Iniciou a sua carreira a trabalhar com Gio Ponti e exibindo as suas obras na Trienal de Milão. As suas criações permitiram que o design de mobiliário e o artesanato tradicional italiano se fundissem com as formas do modernismo. Usou materiais de baixo custo, explorando o artesanato italiano, o que levou ao desenvolvimento de uma estética elegante e minimalista. Como designer trabalhou para diversas empresas das quais destaca-se Brionvega, Cassina , Arflex , Arteluce e Poggi. A par da atividade como arquiteto e designer, foi escritor e editor entre 1945-1946, trabalhando para a revista italiana Casabella. Premiado com o Prémio Compasso d’Oro, por três vezes.

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Ilustração 31 – Edifício Economist, 1959-64, Peter e Alison Smithson. (Denovi, 2011).

Com o conjunto de informações obtidas sobre a cultura inglesa, particularmente, informações sobre James Stirling, Alison e Peter Smithson, Tomás Taveira completa um ciclo da sua “bagagem” cultural, tendo as principais bases para o desenvolvimento do seu trabalho como arquiteto.

É com informações sobre Stirling e os Smithsons que as formas e a estética começam a ganhar forma. […] a «história» […] o pop […] a «indústria», com o Stirling, o neo- brutalismo e os Smithsons; o cinema e a sua lição de luz…Estas passaram a ser as minhas âncoras para o exercício da profissão, para a minha evolução, e, a partir dai, consoante os projectos, eu mergulhava mais numa ou noutra poética. (Figueira, 2011, p. 143, 144)

Nos Estados Unidos, dedica-se a ver a obra de Josep Luís Sert97 e Frank Lloyd Wright, além de obter referências de Michael Graves.

[…] dediquei-me a ver toda a arquitectura que podia, ver Nova Iorque, o pop nova- iorquino. (Figueira, 2011, p. 154)

Vi todo o Frank Lloyd Wright que era possível ver. […] Achei tão fascinante a obra do Frank Lloyd Wright que, um pouco por falta de motivação estética, nunca estudei Corbusier. (Figueira, 2011, p. 155)

Também absorve o gosto pelas letras e pela comunicação, oriunda não só dos neo- plásticos, mas também de Robert Venturi e do que viveu em Las Vegas, cidade cheia de comunicação, através de letreiros, que variam em dimensão, cor e luz.

97 Josep Luíz Sert (1902 - 1983) – Arquiteto catalão. Estudou na Escola Superior de Arquitetura de Barcelona. Trabalhou com Le Corbusier e foi presidente do CIAM entre 1947 – 1956. Professor convidado na Universidade de Yale e reitor da Escola de Superior de Design da Universidade Harvard. Premiado com a Medalha de Ouro da Generalidade da Catalunha em 1981.

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[…] «o ataque das letras» vinha-me dos neo-plásticos… […] O Lettering e a comunicação das cidades vêm certamente do Venturi e da experiência em Las Vegas… (Figueira, 2011, p. 139)

Ainda em relação a Venturi, assume o seguinte:

[…] fui extremamente influenciado em temos da ambiguidade na arquitectura pelo Venturi. É também um momento muito importante ter encontrado o Learning from Las Vegas porque depois passei a ir a essa cidade com alguma regularidade, e a retirar daí uma influência libertária muito para além da visão redutora do kitsch. (Figueira, 2011, p. 147)

3.1.2. PENSAMENTO ARQUITETÓNICO

O que eu defendo é a fidelidade a princípios que resultam de uma determinada leitura histórica, pessoal, da articulação entre as necessidades das populações, o tipo de espaço urbano e o imaginário visual. (Bártolo & Baltazar, 2011, p. 45)

À sua obra construída, Tomás Taveira junta intervenções teóricas publicadas em revistas e jornais, nacionais e internacionais, das quais se destacam as revistas “Domus”, “Progressive Architecture”, “A+U” e “Arquitectura Portuguesa”.

Tendo uma postura exuberante e afirmativa quanto ao pós-modernismo, Taveira assume o free-style decorrente dos temas libertários dos anos sessenta, mas sem a carga revolucionária.

Afirma que o movimento “reinventa a história, os valores antropológicos, o espírito do lugar, transforma-os numa poética que acaba por ser alegre” (Bártolo & Baltazar, 2011, p. 9).

Taveira insists that architecture must satisfy its immediate functions: offer shelter from the weather and articulate spaces which enable particular activities to take place. It has to satisfy our physiological needs, for lighting at the necessary levels, for quiet when we need it, for pleasant temperatures, not to mention our needs for physical movement. (Broadbent, 1990, p. 21)

Para Tomás Taveira, a arquitetura deve satisfazer as suas funções e as nossas necessidades, proporcionando o conforto necessário para o nosso bem-estar e para o desenvolvimento correto de qualquer atividade. E, posicionando-se contra a imposição de uma única visão do mundo, Taveira defende a procura de diversas perspetivas que vão de encontro à natureza humana que está sempre em desenvolvimento e não tem apenas um único modo de ver ou entender as coisas (Figueira, 2011, p. 130).

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Aquilo que eu dizia […] era: «Não se encontra só uma estética na poesia, por exemplo, mas encontram-se muitas estéticas, como em todas as artes…e a arquitectura deve estar incluída nessa flexibilidade intelectual.» (Figueira, 2011, p. 131)

Assim, defende a adaptabilidade na arquitetura que, como qualquer outra arte, não “vive” exclusivamente de uma estética. E, uma vez que recebe influências de várias áreas e diferentes registos, deve ser flexível e sem limites criativos e intelectuais. Por isso, adota uma arquitetura eclética que tem por base o Movimento Moderno, mas que é alterada no sentido de desenvolver outras alternativas que não se limitem apenas a uma estética ou a um estilo arquitetónico.

[…] o que mostro na minha arquitectura vai sempre no sentido de dizer que o moderno não acabou. […] Aquilo que sempre apoiei […] era que o Movimento Moderno, tal como estava a ser entendido, estava eventualmente esgotado. […] procurei chegar ao double code e ao entendimento que tinha e tenho da arquitectura e que me diz que o Movimento Moderno é perene mas alterado. Embora procure criar alternativas, a minha arquitectura está cheia de moderno. (Figueira, 2011, p. 131,132)

Acredita que a arquitetura não é uma arte isolada que vive de si e para si. Ela carece e abastece-se de outras fontes, nomeadamente da vida, da pintura, da escultura.

No seu ponto de vista, a arquitetura, por envolver a construção de edifícios que duram muitos anos, é mais fácil de imitar ou de reproduzir. E, isso acontece ainda mais quando a arquitetura obedece a um conjunto de regras que padronizam e/ou até uniformizam a arquitetura, como acontece com a arquitetura moderna. Por isso, Taveira adota uma arquitetura pluralista que se torna difícil de mimetizar, embora possa ter elementos que facilmente são reproduzidos.

De modo a expressar as suas inquietações e os seus pensamentos teóricos e arquitetónicos, Tomás Taveira, como mencionado anteriormente, escreve e publica artigos e textos, dos quais destacamos o artigo “O Lettering” (1970) e o texto sobre O Laboratório de Engenharia de Leicester de James Stirling (1975).

Em “O Lettering”, onde abordou as questões da semiótica, Taveira:

[…] escreve sobre a importância da “letra”, do “seu uso na palavra, ou apenas como símbolo” enquanto “região particular do sinal, da informação da cidade”. Referindo o uso da “letra” na história do moderno e nas experiências da vanguarda dos anos 1960 […] fala de “investigação” em nome de uma “legibilidade da cidade”, visando “aprofundar a arquitectura como canal de informação plurifacetado dado que para além da informação que lhe é própria pode ainda suportar outros canais”. (Figueira, 2014, p. 184)

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Deste modo, Tomás Taveira dá a entender que a arquitetura deverá atingir uma função informativa tal como os meios de comunicação assumem. Além disso, promove a arquitetura, descrevendo a importância da imagem e caraterizando a nova condição do arquiteto.

No texto sobre o Laboratório de Engenharia de Leicester (1959-63) (Ilustração 32) de James Stirling, Taveira indica a natureza e as características da linguagem pós- moderna, que tem como intuito comunicar com eficácia o programa e os propósitos da arquitetura.

Ilustração 32 – Laboratório de Engenharia de Leicester, 1959-63, James Stirling. (Woods, 2010).

A par dos artigos em jornais e revistas, Taveira publicou os livros “Discurso da Cidade” (1973), “Análise Regional do Arquipélago dos Açores” e “Estudo da Renovação Urbana da Área do Martim Moniz” (1982), premiado com o Prémio José de Figueiredo da Academia Nacional de Belas Artes.

Em “Discurso da Cidade”, documento elaborado como dissertação de mestrado, no âmbito do concurso para professor da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, Taveira coloca as suas preocupações de ordem intelectual e aprofunda temas recorrentes relacionados com a comunicação mas aplicados à cidade, como a semiótica, a semiologia urbana, o design, o lettering e a sociedade elétrica. Articulando

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referências como Roland Barthes, Marshall McLuhan98 e James Stirling, Tomás Taveira, defende que a cidade, para que seja vista, pensada e vivida na sua plenitude, deve deixar de ser planeada por métodos baseados na forma e na função e, também, deve restituir a função didática da rua.

Uma das mais eficazes sensações que um planeador pode transmitir quando organiza um espaço, à escala da «cidade ou do bairro», é a da boa orientação. Esta é uma espécie de ciência dos pontos de referência que vão desde as formas aos cheiros, às pessoas ou sinais gráficos ou luminosos, que ajudam a comunicar. (Taveira, 1974, p. 60)

Além disso, considera a existência de duas cidades, uma real e material e outra elétrica. Ao passo que a real tem limites e elementos palpáveis, a cidade elétrica não tem limites. Existe através dos meios de comunicação e caracteriza-se por um conjunto complexo de signos que dão a conhecer os símbolos da cidade.

3.1.3. ARQUITETO / DESIGNER

Como designer, Tomás Taveira não abandona a estética exuberante patente na sua arquitetura e dedica-se ao desenho de mobiliário e de objetos decorativos, vendo nesta área uma oportunidade para criar peças de arte com uma função.

Ilustração 33 – Cadeiras “Rick”, “Maria” e “Sandman”. (Broadbent, 1990, pp. 262-265).

98 Marshall McLuhan (1911 - 1980) – Educador, intelectual, filósofo e teórico da comunicação canadense, conhecido por antever a internet antes de ser inventada. Foi pioneiro nos estudos culturais e filosóficos das transformações sociais derivadas da revolução tecnológica do computador e das telecomunicações.

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Adota a linguagem internacional do Novo Design99, conforme expressa Alessandro Mendini100, estabelecendo relações entre objetos, técnicas e formas tradicionais, com uma tendência artística que procura técnicas expressivas inovadoras. Algo que desafia as supostas leis do real e que pode ser, ao mesmo tempo, atraente e problemático. Contudo, é um tipo de re-design, emergente, capaz de transformar e “abalar” as estruturas tradicionais do design.

Ilustração 34 – Studio Alchimia. (Alchimia, s.d.).

Assim como na arquitetura, Taveira recolhe referências e influências que marcam a sua evolução criativa. Por exemplo, o Studio Alchimia101 desempenha um papel importante nesse processo, quer pelos ideais quer pela metodologia de trabalho.

99 Novo Design – No início dos anos sessenta, com o pós-modernismo, o design da “forma e função” praticado pela Bauhaus foi posto em causa, pois os designers, embora idealizassem os objetos, eram incapazes de controlar o significado ou o uso desses mesmos objetos, o que levou a um conflito ideológico entre as suas práticas profissionais e as suas preocupações sociais. Assim, começaram os estudos sobre o significado dos objetos e começou-se a dar importância ao design simbólico. Perante o design que existia até aquele momento, este tipo de abordagem constituía um novo design, pois não se limitava a projetar produtos funcionais, mas procurava estabelecer relações entre o produto e o usuário e, também, procurava o conceptual, a experimentação e a reflexão sobre o sentido do design. Como principais representantes deste movimento tem-se o Studio Alchimia e Memphis. 100 Alessandro Mendini (1931 - …) – Arquiteto e designer italiano. Formado pelo Politécnico de Milão em 1959, Mendini desenvolve o seu trabalho teórico e prático cruzando a arte, o design e a arquitetura. Foi diretor chefe das revistas Casabella, Modo e Domus e professor na Universidade de Milão. Faz objetos de design, móveis, interiores, pinturas, instalações e arquitetura. Trabalha com fabricantes internacionais e, também, é consultor de imagem e diretor de arte de empresas tanto da Europa como do Extremo . É membro honorário da Academia de Artes e Design Bezalel em Jerusalém. Foi premiado com o Compasso d’Oro de Design em 1979, 1981 e 2014. Foi nomeado, em França, “Chevalier des Arts et dês Lettres”. Recebeu o reconhecimento por parte da Architectural League em Nova York e um doutorado honorário da Politécnica de Milão e da École Normale Supérieure da China. Seus projetos são encontrados em museus e coleções privadas ao redor do mundo. 101 Studio Alchimia (1977 - 1992) – Fundado em Milão por Alessandro Guerriero, este grupo foi considerado o grupo de design mais importante a nível internacional. Tinham como intenção substituir a funcionalidade dos produtos de produção em massa, herdados do Modernismo, por uma funcionalidade emocional. Procuravam criar uma relação entre o objeto e o usuário que deveria produzir uma relação sensorial com um valor emocional associado ao objeto. Assim, fizeram releituras de objetos conhecidos,

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Também, o contacto com Hans Hollein102, Jorge Pensi103, Antonio Citterio104 e Jasper Morrison105, contribuiu para a produção artística em boas condições.

Realizou uma exposição de objetos pós-modernos, intitulada “New Transfiguration”, na galeria Cómicos de Luís Serpa106.

[…] a exposição de Tomás Taveira “New Transfiguration” representa a carga ácida da banalidade” face à impossibilidade de acrescentar o novo ao já existente. […] Tomás Taveira propõe-nos uma solução adaptada à forma organizada da própria sociedade, em que nem a arquitectura e muito menos o (seu) “design” revelam a “dignidade” do objecto – moderno, tornando o banal relevantemente realista, admitindo a citação, a incongruência e a inautenticidade. A sua proposta […] se baseia […] no resultado de uma atitude tolerante e antiheróica. (Serpa, 1985, p. 52)

produzidos artesanalmente, resultantes da transformação de objetos comuns do dia-a-dia em objetos de design, fazendo grande uso de cores e ornamentos. Este redesign de objetos banais é um marco diferenciador do grupo, sendo as suas criações caraterizadas por peças únicas com tons cómicos e irónicos. Participaram em diversas exposições e performances pelo mundo. Entre os membros do grupo estavam Alessandro Mendinni, Michele de Lucchi, Andrea Branzi e Ettore Sottsass (defensor do design racional, fundou o grupo Memphis, em 1981). 102 Hans Hollien (1934 - 2014) – Arquiteto e desenhado austríaco. Estudou na Academia de Belas – Artes de Viena, sendo aluno de Clemens Holzmeister. Foi professor nos Estados Unidos e, entre 1967 e 1976, lecionou na Academia de Belas – Artes de Düsseldorf, tendo depois lecionado na Universidade de Viena, onde em 2002 ocupou o cargo de professor emérito. Premiado com o Prémio Pritzker em 1985. 103 Jorge Pensi (1946 - …) – Arquiteto e designer argentino. É figura importante do design espanhol contemporâneo, tendo um profissionalismo que integra todas as fases de produção, desde as ideias para estratégias de mercado até a distribuição. Estudou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Buenos Aires. Premiado com dois deltas de Plata ADI FAD em 1988, o Prémio IMPIVA em 1989, o Design – Auswahl Stuttgard em 1990. 104 Antonio Citterio (1950 - …) – Arquiteto, designer industrial e de mobiliário italiano. Formou-se em arquitetura no Politécnico de Milão. Premiado com o Compasso d’Oro em 1987 e 1995. 105 Jasper Morrison (1959 - …) – Designer industrial inglês. Estudou na Kingston Plytechnic Design School e fez o mestrado na Royal Collegeof Art, além de ter estudado na Universidade de Arte de Berlim. Com cerca de 30 anos de carreira, projetou de tudo, desde objetos de mobiliário a transportes públicos, eletrodomésticos e sapatos. Na sua obra, está presente a procura constante pelo minimalismo, tendo por objetivo produzir peças “super normais”. Em 1986 abriu o seu primeiro atelier em Londres e em 2003 em Paris. Foi nomeado Designer Real da Indústria. Organizou uma exposição-manifesto, em Londres, Tóquio e Milão, intitulada “Super Normal:Sensations of the ordinary”, tendo presente cerca de 200 peças de design. Premiado com o Prémio IF Transportation Design e o Prémio de Ecologia pelo carro apresentado na Feira Industrial de Hannover, em 1997. 106 Luís Serpa (1948 - 2015) – Galerista e curador de arte português. Formado em Design e Museologia, desempenhou um papel importante na mudança de perspetiva das artes visuais em Portugal. Desenvolveu um modelo de galeria de arte original (Galeria Cómicos, hoje Galeria Luís Serpa Projectos), um espaço de forte dinâmica artística, conjugando invariavelmente projetos interdisciplinares de pintura, escultura, desenho, instalação, fotografia, vídeo, design e arquitetura, que foi fundamental para a cena artística da época. Foi gestor de projetos culturais, na área das indústrias criativas, ao mesmo tempo que exerceu as funções de curadoria e planeamento estratégico para instituições e empresas em programas de arte contemporânea. Fundou “O Museu Temporário”, um projeto de engenharia cultural, especializado na conceção e gestão de equipamentos e eventos, e coordenou o grupo de trabalho para lançamento da Agência para Apoio ao Desenvolvimento das Indústrias Criativas em Lisboa. Apresentou 225 exposições na galeria e em cooperação com diversos centros culturais e museus. Realizou ainda 35 exposições individuais e temáticas

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Ilustração 35 – O Galo de Barcelos e o Galo de Barcelos Transfigurado. (Broadbent, 1990, p. 272).

Comentando o tema abordado na exposição, Pierre Restany107 considera que uma transfiguração é sempre nova, mesmo quando a relação estabelecida entre o conceito e a forma, o projeto e o produto não é totalmente explícita. E, por isso, precisa ser apresentada como algo efetivamente novo. E, uma vez que se trata de uma escolha emocional e sensível, onde o criador assume o comando tendo estímulos culturais profundos, Taveira enquadra-se nessa envolvente devido à sua formação de arquiteto e de designer, tendo o trivial e o quotidiano como fontes do imaginário.

[…] há a constatar: o sopro desvairado do infinito veio agitar o barroco Taveira e a cultura mesclada dos subúrbios infiltrou-se no tomo 1985 da história enciclopédica das belas artes. Desencadeou-se em Lisboa um novo tremor de terra, ainda mais “Pós” que o “Pós–Moderno”. As ressonâncias sísmicas são imprevisíveis. Mas aquele que deslizou pela porta estreita e que descobriu este caminho não mais poderá parar o seu trajecto. (Taveira, 1986, p. 54)

Ilustração 36 – Objetos Transfigurados: Jarra, Panela, e Vaso. (Broadbent, 1990, pp. 271, 272).

107 Pierre Restany (1930 - 2003) – Escritor e crítico de arte francês. No início da sua carreira como crítico revelou um especial interesse pela arte abstrata, forma de expressão que constituiu o tema do seu primeiro livro "Lirismo e Abstração", publicado em 1958. Em 1960, ligou-se ao movimento Novo Realismo, dedicando-se a sua divulgação e assumindo o papel de teorizador e animador desse movimento. Participou em várias conferências e na organização de exposições em Paris e Nova Iorque, escrevendo, inclusive, os textos dos catálogos. Em 1960 colaborou com Yves Klein na organização de uma performance do artista numa galeria de arte na qual três mulheres nuas se cobrem de tinta azul e rolam sobre papéis brancos ao mesmo tempo que ouvem música. Mais tarde, associou-se a outra corrente estética, designada Mec Art (arte foto-mecânica), onde participam alguns dos artistas saídos do Nouveau Réalisme, como Alain Jacquet e Mimmo Rotella. Este movimento procurava o desenvolvimento de uma estética baseada em imagens produzidas por processos fotomecânicos como a serigrafia. Realizou em 1965 a exposição deste grupo, "Hommage à Nicéphore Niepce". Participou também na recriação de Alain Jacquet da tela de Manet "Dèjeneur sur L'Herbe". é autor de vários livros de referência, como o "L'Autre Face de l'Art" e de inúmeros artigos para catálogos e periódicos, colaborando com diversas revistas de arte francesas e estrangeiras, como a Art Internacional e a Domus.

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3.2. EMERGIR DO ATELIER CONCEIÇÃO SILVA

Criado por volta do ano de 1953, por Francisco Conceição Silva108, o atelier com o nome do arquiteto tornou-se num dos maiores do país, tendo um grande conjunto de encomendas dentro de uma classe distinta e com clientes do meio económico, cultural e político, como António Valadas Fernandes109, Amália Rodrigues110 ou Rogério Martins111.

Embora não fosse um atelier tão experimental, como outros da época, este atelier, multidisciplinar com visão empresarial, formou uma geração de arquitetos com espírito de rigor e qualidade.

A abordagem de Francisco Conceição Silva decorre da tradição moderna […] Mas evolui no sentido de considerar o arquitecto como um “gestor”, em detrimento da figura do “artista”: o arquitecto era um “chefe de orquestra. (…) Aquele que dominava a totalidade da concepção do chamado projecto arquitectónico ou da obra. (Figueira, 2014, p. 86)

De estrutura complexa e ligada a áreas de atividades que iam desde a construção civil à publicidade, este atelier permitia que os arquitetos trabalhassem enquadrados em setores afins da arquitetura. Era um atelier dotado de sector gráfico, que incluía agência de publicidade, sectores de engenharia, investimento e equipamento, e gabinete de programação.

Defendendo o exercício profissional a partir de métodos organizativos da estrutura empresarial, associando o fazer arquitectónico aos novos sistemas de industrialização da edificação, valorizando as qualidades formais do objecto arquitectónico como elemento de marketing, o “Atelier Conceição Silva” destaca-se como complexo de vários departamentos que incluem todas as áreas disciplinares e artísticas envolvidas na

108 Francisco Conceição Silva (1922 - 1982) – Arquiteto português. Formou-se na Escola de Belas-Artes de Lisboa, onde partilhou as aulas de desenho com alunos de pintura e escultura, disciplinas que veio a integrar nos seus projetos. Trabalhou no atelier de Adelino Nunes e na Federação das Caixas de Previdência. Criou uma parceria com José Bastos, que teve maior atuação na habitação unifamiliar para a classe média/alta. Funda o seu próprio atelier em 1953, onde a principio, devido à falta de encomendas, dedica-se ao desenho de mobiliário e que apresenta ao público numa exposição em conjunto com Júlio Pomar, Querubim Lapa, Sá Nogueira e Jorge Vieira, na “Jalco”, loja de referência em Lisboa. A par da arquitetura comercial, empenhou-se em projetar moradias, que refletem uma abordagem moderna de influencia brasileira. Em 1975, sofre um atentado que o leva a exilar-se no Brasil, onde projeta moradias, representando uma atitude experimentalista dos temas da modernidade revista, adaptadas ao lugar, aos materiais e aos métodos construtivos, em continuidade ao trabalho realizado em Portugal, nos anos 60. 109 António Valadas Fernandes (1927 - 2009) – Formado em Engenharia torna-se sócio de Simões Cúcio da construtora Engil em 1954. Foi presidente do Conselho Consultivo da Associação Nacional de Empreiteiros de Obras Públicas e membro do conselho-geral da Fundação Mário Soares. 110 Amália Rodrigues (1920 - 1999) – Cantora e atriz portuguesa. Considerada uma das mais brilhantes cantoras do século XX, tornou-se conhecida mundialmente como a “Rainha do Fado”, sendo a embaixadora deste género musical. Por cantar poemas de autores portugueses consagrados, contribuiu de modo inovador para a história do fado. 111 Rogério Martins (1928 - …) – Secretário de Estado da Indústria de Marcelo Caetano.

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Arquitectura, Planeamento Urbano, Design e Artes Plásticas, e numa associação de empresas complementares – construção, investimentos imobiliários e publicidade. No meio arquitectónico o “Atelier Conceição Silva” floresce e ganha marcas de cidadania num contributo modernizador do ciclo produtivo da arquitectura, qualificando a imagem urbana da grande dimensão, através de recursos formais e linguísticos simples, intimamente ligados às opções estruturais ou à exaltação expressiva de componentes programáticos dos objectos construídos. (Portas & Mendes, 1991, p. 14)

Com uma abordagem decorrente da tradição moderna, patente na colaboração com artistas, este atelier utiliza vários ramos estilísticos dos anos sessenta, adotando o clima de prosperidade económica vivido pelos países desenvolvidos. Funciona como intermediário da cultura e do comércio, tornando-se explorador da “democratização do gosto” (Figueira, 2014, p. 89).

Entende as experiências da vanguarda arquitectónica como fontes que permitem desenvolver um produto competitivo, bem informado, up-to-date. Faz a mediação entre as necessidades de um mercado que em Portugal é incipiente e um cosmopolitismo a que se aspira. […] A manifesta disposição de ir ao encontro do que a sociedade “quer”, num projecto de mediação […] rompe com a tradição politicamente resistente e profissionalmente severa que move centralmente a arquitectura portuguesa. […] A produção do Atelier Conceição Silva traduz uma adesão ao tempo presente, pretendendo introduzir e incentivar, a partir da arquitectura, valores emergentes nas “sociedades desenvolvidas”: o design, a moda, o conforto, o lazer, a sedução da imagem e o primado do consumo. (Figueira, 2014, p. 86)

Nesse sentido, revela influências da Bauhaus, no que respeita ao “controlo total do ambiente”, integrando práticas artísticas na produção industrial. Todavia, depois do 25 de Abril, o atelier procura integrar “o senso comum e o gosto do cliente”, tentando encontrar a sua viabilidade no mercado (Figueira, 2014, p. 89).

Não obstante, a obra do atelier Conceição Silva integra-se nas regras racionalistas. E, sendo flexível quanto à estrutura de funcionamento, faz abordagens que revelam a sensibilidade pop e o organicismo lírico de Frank Lloyd Wright, por exemplo no Complexo Turístico Sal-Shell em São Pedro do Estoril (1967), incluindo inspirações metabolistas, presentes no Plano de Ocupação da Avenida de Roma (1971) e no Plano de Urbanização do Vale do Restelo (1973), e integrando elementos brutalistas, visíveis no Hotel da Balaia (1968) (Ilustração 37) e nas Torres de Alfragide (1970) (Ilustração 38).

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Ilustração 38 – Torres de Alfragide, Ilustração 37 – Hotel da Balaia, 1968, Conceição Silva. (Leite, I., 2014, p. 29). 1970, Conceição Silva. (Fiúza, 2010).

Relativamente ao Hotel da Balaia, este constitui-se como um marco do desenvolvimento da indústria do turismo nos anos sessenta, em Portugal, sendo um hotel concebido na base do conceito “chave na mão”, isto é, concebido para ser entregue em condições de ser utilizado assim que a obra fosse concluída.

De matriz moderna, este projeto resume e expressa a visão do arquiteto e a sua capacidade de resposta, conseguida pela organização do atelier, além de alargar a experiência adquirida no Hotel do Mar (1956) (Ilustração 39), que lançou o atelier na mediação entre a arquitetura e o comércio e o consagrou como modelo para projetos futuros, devido à sua arquitetura de nível elevado e de fácil perceção.

Ilustração 39 – Hotel do Mar, 1956, Conceição Silva. (Leite, J., 2013).

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Localizado em Sesimbra, povoação sobre o mar e próxima de Lisboa, o Hotel do Mar foi um dos primeiros núcleos do turismo de massa em Portugal. Segundo Michel Toussaint112, Conceição Silva, através deste projeto, marcou o início de um conjunto de projetos do mesmo género e estabeleceu um alto padrão de qualidade arquitetónica para o país (Toussaint, 1998, p. 236).

Inicialmente estabelecido como residencial, o hotel apresenta-se como um conjunto arquitetónico estendido pela encosta, acompanhando o seu declive. Partindo da ideia de integração, o hotel revela referências à tradição portuguesa, nomeadamente, os quartos, vistos “como uma unidade branca no casario de uma povoação piscatória, e a torre da sala de estar a referência a um passado militar” (Toussaint, 1998, p. 236).

Devido ao dinamismo empresarial, decorrente das promoções imobiliárias e da mediação entre a arquitetura e o comércio, o atelier progrediu, tendo o seu apogeu no empreendimento Turístico da Torralta (1970-74) (Ilustração 40), interrompido na revolução de 1974.

Ilustração 40 – Vista Aérea do Complexo da Torralta, 1970-74. (Cristelo, 2008).

Este empreendimento, com um programa vasto que envolvia torres de hotéis, blocos de apartamentos, um centro comercial, salas de cinema e de espetáculos, campos de ténis,

112 Michel Toussaint (1946 - …) – Arquiteto português. Licenciado em Arquitetura pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa em 1973 e doutorado em 2009 pela Universidade Técnica de Lisboa, Toussaint foi professor na Universidade Lusíada de Lisboa (1990 – 2002) e é professor, atualmente, na Universidade Técnica de Lisboa desde 2003 e na Universidade Autónoma de Lisboa desde 2007.

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futebol e golfe, foi considerado um dos mais ambiciosos projetos turísticos alguma vez feito em Portugal até àquela época.

Com a Serra da Arrábida como pano de fundo, o Complexo da Torralta visava criar um pequeno mundo onde as necessidades, tanto a nível cultural como comercial, fossem supridas, tendo por base a qualidade e o conforto associadas, geralmente, à “boa vida”, isto é, à vida sem preocupações.

Como um microcosmos que integra as exigências da “alta cultura” em direcção às veleidades do “comércio” ou da “baixa - cultura”, o projecto de Tróia usa o turismo para aprofundar uma abordagem não-demiúrgica da arquitectura. Onde a ideia de qualidade, conforto ou “boa-vida”, se sobrepõe à ordem do político. (Figueira, 2014, p. 296)

Este atelier durou, em Lisboa, até 1975, quando Conceição Silva sofreu um atentado e fugiu para o Rio de Janeiro, Brasil.

De qualquer modo, o trabalho desenvolvido pelo Atelier Francisco Conceição Silva exemplifica uma das principais abordagens da cultura arquitetónica dos anos setenta, no contexto internacional, particularmente, na permeabilidade aos mecanismos do mercado – oferta/procura, publicidade/consumo – no entendimento da arquitetura como produto que marca o trabalho e o percurso de Tomás Taveira.

Conceição Silva move-se nos antípodas de uma poética pessoal, em nome da eficácia do conjunto de acções que se gera no interior ou externamente à arquitectura. A permeabilidade ao mercado significa uma vocação populista que é, no entanto, mediada com a qualidade de resposta projectual. De facto, esta intermediação cultural tende hoje a escapar à prática empresarial da arquitectura. (Figueira, 2014, p. 296)

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3.3. ROTEIRO PARA O PÓS-MODERNISMO

Neste ponto, faz-se uma “viagem” pelas obras de Tomás Taveira que precederam o Centro Comercial Amoreiras. O estudo destas obras permite, não só, perceber a evolução cultural e arquitetónica do arquiteto, mas também, lança as bases para a compreensão da obra do Centro Comercial Amoreiras.

3.3.1. LOJA VALENTIM DE CARVALHO, CASCAIS (1966 - 69)

Ilustração 41 – Loja Valentim de Carvalho, 1966-69, Cascais. (Ilustração nossa, 2016).

Elaborada no início do “caminho” para o pós- modernismo, ainda no atelier Conceição Silva, num “Experimentalismo pop” (Figueira, 2014, p. 180) Taveira adota elementos da cultura pop de Londres que conjuga com referências clássicas, nomeadamente, na planta e nos elementos decorativos.

A intervenção pictórica de Rolando Sá Nogueira, integrando palavras de Herberto Helder, percorre o interior e o exterior da intervenção, num diálogo que não segue a lógica modernista da “integração das artes”, mas visa um outro estado de sublimação. (Figueira, 2014, p. 183)

Com a experiência adquirida no atelier de Conceição Silva, Taveira combina a arquitetura com outras artes, mas numa lógica distinta, buscando a transcendência.

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Adota diferentes referências, nomeadamente, Miguel Ângelo, Brunelleschi e influências neo-plásticas, o que permite à obra ganhar movimento (Figuira, 2011, p.144).

As cores intensas, os pictogramas, as palavras tipografadas concorrem para uma arquitectura “em estado de máquina quotidiana, rigorosa como entidade cívica e útil, e insólita pela desenvoltura activa e o lirismo libertário” […] O graffiti surge como expressão da “baixa cultura” irrompendo na “lta cultura” da “fachada barroca”. Remete para uma lógica de “jornal de parede” circunstancial e efémero. A planta é desenhada com referência a S. Pedro de Roma […] A grafia pop de Sá Nogueira mobiliza o edifício para “comunicar”. […] A ideia é sair do constrangimento da “razão”: “a obra apresenta incidências de uma herança surrealista, pela inspiração libertária, certa confiança aleatória. […] A arquitectura-sonho da Loja Valentim de Carvalho traduz a impossibilidade da articulação de conteúdos modernos, em favor de um contínuo fluxo de comunicação já pós-moderno: formas, cores, palavras, arquitectura em papel-de- parede. (Figueira, 2014, p. 292)

Atualmente, apesar de já não ser uma loja de discos, este espaço mantém as suas caraterísticas de influências historicistas, com a pintura de Rolando Sá Nogueira113 e o texto escrito por Herberto Helder, propositadamente, para compor a obra.

Ilustração 42 – Alçado da Loja Valentim de Carvalho, 1966-69, Cascais. (Ilustração nossa, 2016).

113 Rolando Sá Nogueira (1921 - 2002) – Pintor e desenhador português. Formado em pintura em 1950, começou a participar de exposições coletivas em 1947, nomeadamente nas Exposições Gerais de Artes Plásticas na Sociedade Nacional de Belas-Artes. Frequentou a Slade School of Art em 1963, tendo sido aluno de Michael Andrews.Trabalhou como figurinista e cenógrafo. Na década de 70 lecionou no Curso de Formação Artística da Sociedade Nacional de Belas-Artes e trabalhou no atelier de Conceição Silva. Nos anos oitenta, fez a decoração em azulejos da estação de metro das Laranjeiras. Recebeu a Menção Honrosa do Prémio Soquil em 1971 e o Prémio Doutor Gustavo Cordeiro em 1990.

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Ilustração 43 – Vista Perspética da Loja Valentim de Carvalho, 1966-69, Cascais. (Ilustração nossa, 2016).

Ilustração 44 – Alçado Principal da Loja Valentim de Carvalho, 1966-69, Cascais. (Ilustração nossa, 2016).

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Ilustração 45 – Planta da Loja Valentim de Carvalho, 1966-69, Cascais. (Bettella & Broadbent, 1994, p. 16).

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3.3.2. FÁBRICA VALENTIM DE CARVALHO, PAÇO D’ARCOS (1968 - 70)

Exibindo influências historicistas, nomeadamente, da arquitetura romana e gótica, em particular da Catedral em Lisboa, do século XII, este edifício segue a linha da loja Valentim de Carvalho, em Cascais, tendo um caráter mais fechado e brutalista.

Foi projetado para ter uma escala maior, no entanto, ainda hoje tem falta de área administrativa, social e de lazer.

Segundo Tomás Taveira esta obra:

[…] era um remake dos Laboratórios de Leicester do Stirling, em betão, reelaborados com capiteis esquisitíssimos, outra vez com as superfícies a mexerem, obra neo- brutalista puríssima. (Figueira, 2011, p. 145)

Ilustração 46 – Vista da Estrada de Paço d’Arcos da Entrada da Fábrica Valentim de Carvalho, 1968-70. (Ilustração nossa, 2016).

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Ilustração 47 – Vista da Estrada de Paço d’Arcos da Fábrica Valentim de Carvalho, 1968-70. (Ilustração nossa, 2016).

Ilustração 48 – Vista Lateral da Fábrica Valentim de Carvalho, 1968-70. (Ilustração nossa, 2016).

Ilustração 49 – Vista Lateral da Fábrica Valentim de Carvalho, 1968-70. (Ilustração nossa, 2016).

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3.3.3. EDIFÍCIO SATÉLITE, LISBOA (1972 - 82)

Situado em frente ao Complexo das Amoreiras, este edifício, projetado em 1972 e construído em 1982, é tido como a primeira incursão no pós-modernismo, apresentando uma estética que é perpetuada no Complexo das Amoreiras.

Ilustração 50 – Edifício Satélite, à direita, em frente ao Edifício do Centro Comercial Amoreiras, à esquerda. (Ilustração nossa, 2016).

Resultante do compromisso entre o neoclássico, o moderno tardio e o pop, este edifício sofreu diversas alterações, ao nível da estética, ao longo do projeto, por ter sido concebido no final do período moderno e a meio do debate pós-moderno. Além disso, o próprio arquiteto reconhece que o edifício, que a princípio era um projeto fantástico, foi perdendo qualidades, não só por causa das dificuldades financeiras do cliente, mas também por causa da pressão da Câmara (Figueira, 2011, p. 149).

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Ilustração 51 – Fachada Principal e Fachada Traseira do Edifício Satélite, 1972-82. (Ilustração nossa, 2016).

Ilustração 52 – Plantas do Edifício Satélite, 1972-82. (Taveira, 1986, p. 7).

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3.3.4. HABITAÇÃO SOCIAL EM CHELAS, LISBOA (1975 - 78)

Ilustração 53 – Conjunto Habitacional de Chelas - Zona J, 1975-78. (Ilustração nossa, 2016).

Resultante da competição organizada pelo Município e destinado a alojar as famílias carenciadas da área, este conjunto habitacional, inserido no projeto da Zona J e localizado no extremo nascente do vale de Chelas, recorre à adição e à acumulação, derivadas do metabolismo patente no Montreal’67 de Safdie (1967) (Ilustração 54) e no Nagakin Capsule Tower (1972) (Ilustração 55) de Kurokawa114, para compor as diferentes tipologias de torres e bandas, marcadas pelo jogo de avanços e recuos dos

114 Kisho Kurokawa (1934 - 2007) – Arquiteto japonês. Estudou arquitetura na Universidade de Quioto, tendo sido orientando de Kenzo Tange na Universidade de Tóquio. Fundou do Movimento Metabolista, em 1960, que procurava combinar e renovar os estilos de arquitetura no contexto asiático. Escreveu sobra filosofia e arquitetura sendo um professor bastante ativo. Recebeu, em 1972, uma bolsa da Fundação Graham para ensinar no Museum of Science and Industry de Chicago. Premiado com a Medalha de Ouro da Academia de Arquitetura de França em 1986, com o Prémio Richard Neutra da Universidade Politécnica da Califórnia em 1988, com o 48th Art Academy Award em1992, o Renaming The Art Institute of Chicago to the Kisho Kurokawa Gallery of Architecture em 1994, o Pacific Rim Award, American Institute of Architects, Los Angeles chapter (primeiro premiado, 1997), o Honorary Fellow, Royal Institute of British Architects, Reino Unido, o Honorary Member, União de Arquitectos, Bulgária, o Dedalo-Minosse International Prize (Grand Prix) for Kuala Lumpur International Airport, Malásia (2003–2004), o Certificação de sustentável, Green Globe 21, Nações Unidas, pelo aeroporto de Kuala Lumpur (2003), o Walpole Medal of Excellence, Reino Unido (2005), o Shungdu Friendship Award, China (2005), o International Architecture Award, The Chicago Athenaeum Museum (2006).

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volumes. E, segundo o autor, Tomás Taveira, esta obra tem um carácter neo-realista, resultante do vínculo entre a arquitetura muçulmana e as influências modernas (Bettella & Broadbent, 1994, p. 24).

Ilustração 55 – Nagakin Capsule Ilustração 54 – Montreal’67 Safdie, 1967, Kisho Kurokawa. (Quirk, 2013). Tower, 1972, Kisho Kurokawa. (Brito, 2013).

Tido como uma das maiores realizações no âmbito do plano de Chelas, este projeto que além do conjunto de torres e bandas de habitação inclui um centro cívico e um centro comercial, herda, no que respeita ao desenho urbano, “formalizações das news-tows inglesas e do Team X” (Almeida, 1998, p. 261).

O esquema é predominantemente aberto, mas configurando uma certa continuidade da rua e esboçando alguns elementos do urbanismo tradicional, através da relação forte entre os edifícios e as pracetas. Os edifícios exibem um vocabulário de clara influência inglesa, designadamente o neobrutalismo e a obra de James Stirling posterior a 1965. A clareza volumétrica das torres e das bandas é sucessivamente desfeita pela articulação volumétrica, que evidencia a organização espacial interior, criando uma riqueza plástica feita de sucessivos planos de luz e sombra. (Almeida,1998, p. 261)

Tipologicamente, os apartamentos são duplex e em galerias, algo que espantou os jornalistas na altura (Figueira, 2011, p. 150).

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Ilustração 56 – Planta Tipo de Bloco Habitacional, 1972-78. (Land, Hücking, & Trigueiros, 2005, p. 384).

Ilustração 57 – Conjunto Habitacional de Chelas - Zona J, 1972-78. (Bettella & Broadbent, 1994, p. 24).

Inicialmente, os edifícios eram brancos, sendo mais tarde, por iniciativa do arquiteto, pintados com as cores vivas que hoje se encontram no local.

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Ilustração 58 – Conjunto Habitacional de Chelas - Zona J, 1972-78. (Ilustração nossa, 2016).

Ilustração 59 – Conjunto Habitacional de Chelas - Zona J, 1972-78. (Ilustração nossa, 2016).

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3.3.5. COMPLEXO DAS OLAIAS, LISBOA (1972 - 80)

Ilustração 60 – Conjunto de Edifícios em Olaias, 1978-80. (Ilustração nossa, 2016).

Como um conjunto de obras sobre a história, o Complexo das Olaias permite conhecer o percurso do autor, num único sítio.

[…] funciona como uma síntese do trabalho de Tomás Taveira […] Aquilo que é experimentado por Taveira no Atelier Conceição Silva, das referências à obra de James Stirling à experiência pop da Loja Valentim de Carvalho, é aqui construído numa escala urbana, com complexidade e efeito cenográfico. (Figueira, 2014, p. 304)

Distinguida com o Prémio Valmor em 1982, esta obra surge como “uma estrutura de constrições formais muito próximas do Cubismo, “the Still” e Cassiano Branco” (Land, Hücking, & Trigueiros, 2005, p. 386), comportando um programa variado que inclui habitação (oitocentas unidades), escritórios, centro comercial (Olaias Plaza), hotel (Altis Park), clube desportivo, ginásio e parque de estacionamento. Apresenta-se como um cenário urbano, que abrange várias estéticas desde o modernismo, envolto na pintura pop, ao pós-modernismo, passando por um high-tech representativo, evidenciando referências a James Stirling, em particular ao Laboratório de Engenharia de Leicester (Ilustração 32) e ao conjunto habitacional em Runcorn New Town (1977) (Ilustração 61).

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Ilustração 61 – Runcorn New Town, 1977, James Stirling. (MMU VISUAL RESOURCES, s.d.).

Ilustração 62 – Edifício de Escritórios, 1972-80. (Ilustração nossa, 2016).

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Projetado por Tomás Taveira, como parte do Complexo das Olaias, desenvolvido no contexto de renovação urbana, o centro comercial Olaias Plaza, faz alusão ao pós- modernismo americano, transparecendo influências de Michael Graves e Charles Moore, nomeadamente, a Piazza d’Italia (1978) (Ilustração 64).

Ilustração 63 – Entrada do Centro Comercial, 1972-80. (Ilustração nossa, 2017).

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Ilustração 64 – Piazza d’Italia, 1978, Charles Moore. (Fisher, 2011).

Da apropriação do espaço, tem-se a perceção de que este espaço comercial contém soluções que funcionam como ensaio para o Centro Comercial Amoreiras. Com uma área comercial de 3.300 m2, distribuida por três pisos, possuindo oitenta e duas lojas, um supermercado e nove restaurantes, este centro comercial, à semelhança do Amoreiras, é dotado de clarabóias, que absorvem a luz natural e criam núcleos luminosos que, consequentemente, iluminam as galerias de acesso às lojas e contribuem para que o espaço seja agradável.

Ilustração 65 – Interior Olaias Plaza, 1972-80. (Land, Hücking, & Trigueiros, 2005, p. 386).

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Ilustração 66 – Bloco de Apartamentos com Hotel Altis Park atrás. (Ilustração nossa, 2016).

Neste bloco de apartamentos é visível a reformulação de outras obras do arquiteto, como os Blocos de Apartamentos da Zona J (Ilustração 53 e Ilustração 57) e o Bloco de

Apartamentos na Avenida Óscar Monteiro Torres (Ilustração 73).

Ilustração 67 – Plantas Tipo das Habitações. (Duarte, 1989, p. 68).

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Ilustração 68 – Conjunto Habitacional, 1972-80. (Ilustração nossa, 2016).

Ilustração 69 – Conjunto Habitacional voltado para Chelas, 1972-80. (Ilustração nossa, 2016).

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3.3.6. EDIFÍCIO DOM CARLOS I, LISBOA (1973 - 83)

Ilustração 70 – Edifício D. Carlos I, 1973-83. (Land, Hücking, & Trigueiros, 2005, p. 208).

Projetado em 1973, ambicionava-se que este edifício fosse construído em ferro, seguindo a linha da paisagem industrial onde se situa, de modo a articular-se com a imagem do rio Tejo. Contudo, por causa da revolução de 1974, que alterou a economia do país, isso não foi possível, acabando o edifício por ser construído em betão. No entanto, a imagem desenvolvida assemelha-se à intenção inicial e faz alusões ao high- tech.

Aparentemente, pode-se dizer que é a obra mais racionalista do arquiteto. No entanto, Taveira desfaz essa leitura com a criação de uma entrada de influência Art Decó.

Inicialmente, desenvolvido como edifício de escritórios, hoje tem sede aqui o IADE, o Instituto Universitário de Design, Fotografia, Marketing e Publicidade.

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Ilustração 71 – Alçados e Corte do Edifício D. Carlos I, 1973-83. (Duarte, 1989, p. 67).

Ilustração 72 – Plantas do Edifício D. Carlos I, 1973-83. (Bettella & Broadbent, 1994, p. 29).

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3.3.7. EDIFÍCIO DO IVA – EDIFÍCIO NA AV. JOÃO XXI, LISBOA (1978)

Representando “a última experiência ligada a uma estética neo-brutalista” (Land, Hücking, & Trigueiros, 2005, p. 303) este edifício ergue-se integrado num amplo plano de reconversão, que é reduzido a este edifício de escritórios e a um bloco de habitação, na Avenida Óscar Monteiro Torres, conjugando a pintura pop, presente no Complexo das Olaias, e o metabolismo, evidente na Habitação Social em Chelas.

Ilustração 73 – Edifício de Escritórios na Av. João XXI e Bloco de Apartamentos na Av. Óscar Monteiro Torres, 1978. (Ilustração nossa, 2016).

No edifício de escritórios é manifesta a influência de James Stirling, no volume em vidro recortado. Já a fachada, pintada com uma chaminé, recorda a antiga fábrica de cerâmica, que desta maneira, não fica esquecida e, segundo Jorge Figueira “sublinha a dimensão “ficcional” com que Taveira manuseia os elementos de arquitectura” (Figueira, 2014, p. 308).

Hoje, encontra-se em funcionamento neste edifício o Serviço de Informações Fiscais do Ministério das Finanças.

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3.3.8. BANCO NACIONAL ULTRAMARINO, LISBOA (1983 - 89)

Tido como um excelente exemplar do movimento pós-moderno, o Edifício do Banco Nacional Ultramarino (BNU), inaugurado em 1989, onde se encontra atualmente a Caixa Geral de Depósitos (CGD), foi projetado sobre uma estrutura que, inicialmente, estava destinada a um hotel e à qual o arquiteto submeteu algumas alterações para adaptá-la à nova funcionalidade. Destas transformações, destaca-se o tratamento das fachadas que é um aspeto marcante da estética do edifício e que exprime um simbolismo cenográfico no âmbito de um pós-modernismo internacional, onde se salienta a estética figurativa e a cor.

Ilustração 74 – Fachada Principal do Banco Nacional Ultramarino, 1983-89. (Ilustração nossa, 2016).

É a maior sede bancária construída em Lisboa. Com uma área bruta de 45.000 m2, o edifício distribuído por vinte e um pisos, dos quais dezasseis são acima do solo, representa, por sobreposição, os temas lançados no Complexo das Amoreiras, tornando-se uma “escultura” à escala urbana que comunica e encerra a época da extravagância.

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Com influência de Michael Graves, o BNU tenta a dissimulação para evitar ou atrasar o reconhecimento da sua verdadeira natureza, mas não se fica pelo uso de elementos clássicos, remete para peças de design transfiguradas de Tomás Taveira, recorrendo a imagens da cultura popular portuguesa submetida à exploração pop.

Taveira utiliza a forma da “guitarra portuguesa”, ampliando e repercutindo a sua silhueta, para escapar à banalidade da típica torre moderna. A composição segue uma gramática free-style […] combinando livremente elementos estilísticos que decorrem de uma versão coreográfica da arquitectura clássica e moderna. […] A “guitarra portuguesa” ganha a dimensão da cidade, num desconcertante gesto de ampliação pop, com tonalidade de cor e vibração formal que as maquetas do edifício mostram mais expressivamente do que o resultado construído. […] a estrutura convencional do edifício é transfigurada no sentido de uma “arquitectura falante”. (Figueira, 2014, p. 318)

Ilustração 75 – Interior do Banco Nacional Ultramarino, 1983-89. (Land, Hücking, & Trigueiros, 2005, p. 302).

Ilustração 76 – Planta do Piso de Entrada do BNU, 1983-89. (Land, Hücking, & Trigueiros, 2005, p. 302).

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Ilustração 77 – Alçados do BNU, 1983-89, Tomás Taveira. (Taveira, 1986, p. 30).

Ilustração 78 – Esquisso do BNU, 1983-89, Tomás Taveira (Duarte, 1989, p. 69).

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4. CENTRO COMERCIAL AMOREIRAS: MARCO E ÍCONE DA CIDADE

4.1. O LUGAR, AS REFERÊNCIAS E O PROJETO

4.1.1. O LUGAR

Ilustração 79 – Ortofotomapa de Enquadramento. (Google Inc, 2016).

Localizado na colina de Campolide, na freguesia de Campo de Ourique, o lote onde se encontra implantado o Complexo das Amoreiras, integrando o Centro Comercial Amoreiras, situa-se entre a Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, a Rua Tierno Galvan e a Rua Carlos Alberto da Mota Pinto.

Ilustração 80 – Ortofotomapa de Localização. (Google Inc, 2016).

Construído numa antiga área de estacionamento de autocarros e eléctricos da Carris, próxima do Marquês de Pombal, o C.C. Amoreiras beneficia de uma localização

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privilegiada, por assim dizer, onde os trabalhadores têm, de um modo geral, um poder de compra maior.

4.1.1.1. O QUE LÁ ESTEVE

Ao observar as cartografias referentes à cidade de Lisboa pode-se verificar o processo, gradativo, de desenvolvimento urbano até aos dias de hoje.

Incialmente, como se verifca através das cartas da época (Cartografia 1856-58, Ilustração 81), o local onde, hoje, se encontra o C.C. Amoreiras, era uma área rural, com quintas, vinhas e azinhagas.

Ilustração 81 – Cartografia Histórica, 1856-58, Filipe Folque. (CML, 2017a)

Ilustração 82 – Cartografia Histórica, 1878, César e Francisco Goullard. (CML, 2017b).

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Com o tempo, os espaços que eram ocupados por verde começam a ser ocupados com construções e, a pouco e pouco, compõem-se quarteirões e nascem espaços urbanos, como se pode verificar na cartografia de 1950 (Ilustração 84).

Ilustração 83 – Cartografia Histórica, 1911, Silva Pinto. (CML, 2017c).

Ilustração 84 – Cartografia Histórica, 1950. (CML, 2007).

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No terreno, onde viria a nascer o C.C. Amoreiras, existiu uma estação de autocarros e, antes disso, uma estação de elétricos, sobre a qual pesava uma certa obsolescência.

Diante de tal cenário, a LET (Lisbon Electric Tramways) fez um acordo com a Câmara do qual resultou o plano de ocupação da zona com edifícios de habitação, escritórios e comércio, com um estudo elaborado pela GEFEL (Gabinete de Estudos e Empreeendimentos Técnicos, S.A.) e aprovado em 1978.

Ilustração 85 - Estação de Autocarros e Elétricos da Carris. (Portugeo, 2014).

4.1.1.2. O QUE AINDA LÁ ESTÁ

Na envolvente do C. C. Amoreiras encontramos edifícios e outros elementos da cidade que, apesar do tempo, das transformações e do desenvolvimento da cidade, ainda existem e são marcas do passado e, em geral, constituem-se como referências.

Exemplo disso são o Aqueduto das Águas Livres (Ilustração 86) e o Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras (século XVIII) (Ilustração 88), construídos para solucionar os problemas de abastecimento de água à cidade de Lisboa.

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Ilustração 86 – Aqueduto das Águas Livres. (Cunha, ant 1938).

Construído por determinação do Rei D. João V, a partir de 1731, o Aqueduto das Águas Livres foi o primeiro sistema de abastecimento de água regular à cidade de Lisboa, tendo funcionado pela primeira vez em 1744. Com uma extensão de cinquenta e oito quilómetros, que se inícia na Mãe d’Água Velha, em Belas, e termina no Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras, o Aqueduto, até à sua desativação, em 1967, transportou a água de cinquenta e oito nascentes sobre cento e vinte e sete arcos, dos quais trinta e cinco estão sobre o Vale de Alcântara e contêm o maior arco em pedra - sessenta e cinco metros de altura e vinte e oito de largura.

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Classificado como Monumento Nacional, em 1910, o Aqueduto teve vários autores até à sua conclusão, entre eles, destacamos António Canevari115, Manuel da Maia116, Carlos Mardel117 e João Frederico Ludovice118.

Atualmente, além de ser considerado um prodígio da engenharia, o Aqueduto das Águas Livres é um elemento icónico e um símbolo da cidade.

Ilustração 87 – Vista do Aqueduto para as Torres das Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017).

115 António Canevari (1681 - 1764) – Arquiteto italiano. Depois de ganhar o concurso de desenho da Academia de São Lucas, em 1703, Canevara tornou-se conhecido. Foi admitido na “Congragazione dei Virtuosi” do Panteão, em 1713, e na Academia da Arcádia, em 1715, tornado-se tornado arquiteto oficial, em 1723, onde conheceu o Rei D. João V. Esteve em Lisboa entre 1727 e 1732, e executou várias obras que acabaram por destruídas no terramoto de 1755. 116 Manuel da Maia (1677 - 1768) – Arquiteto e engenheiro português. Depois de uma longa carreira ligada à arquitetura militar, sento até regente da Aula da Fortificação, Manuel da Maia designado como Engenheiro-Mor do Reino, em 1754, esteve envolvivo em grandes projetos de urbanismo e engenharia da época, nomeadamente, na reconstrução da cidade de Lisboa após o Terramoto de 1755 e na construção do Convento de Mafra. 117 Carlos Mardel (1696 - 1763) – Arquiteto húngaro. Responsável pelo projeto do Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras e do Arco das Amoeiras, Carlos Mardel também participou na construção do Auqduto das Água Livres e no Palácio do Marquês de Pombal. Foi um dos principais arquitetos da reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1755. 118 João Frederico Ludovice (1673 - 1752) – Arquiteto e ourives alemão. Participou na obra do Aqueduto das Águas Livres, resolvendo o problema das canalizações. Foi nomeado, por D. João V, como Arquiteto das Obras de São Vicente de Fora, em 1720 e, em 1740, recebeu a concessão do Hábito da Ordem de Cristo. Em 1750, por ordem de D. José I, foi nomeado Arquiteto-Mor do Reino.

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Projetado por Carlos Mardel, em 1746, o Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras juntamente com o Arco da Rua das Amoreiras marcam a entrada do Aqueduto das Águas Livres em Lisboa.

Ilustração 88 – Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras. (Madureira, 1961).

Utilizado para recolher e distribuir a água aduzida pelo Aqueduto, este Reservatório, com capacidade para cinco mil e quinhentos metros cúbicos de água, só foi conluído no Reinado de D. Maria II, oitenta e oito anos depois da elaboração do seu projeto. Assim, a obra, após a morte de Mardel, foi acompanha por Miguel Ângelo de Blasco119 e, posteriormente, por Reinaldo Manuel dos Santos120.

Atualmente, o Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras, espaço abobadado, amplo, luminoso e com carácter sacral, apresenta-se como uma obra de arte, onde o tanque de água atua como um espelho e o terraço contempla a cidade que a obra serviu.

Ilustração 89 – Interior do Reservatório e Vista do Terraço. (Ilustração nossa, 2017).

119 Miguel Ângelo de Blasco (1710 - 1772) – Engenheiro italiano. Foi contratado por D. João V, para integrar uma expedição que em 1750 foi à América portuguesa, chefiada pelo alto comissário Gomes Freire de Andrade, para proceder à demarcação dos limites, fazer mapas da região e as plantas das fortificações a construir. Em 1763 foi promovido a marechal de campo do exército e, após a morte de Manuel da Maia, foi nomeado engenheiro-mor do Reino. Também foi sucessor de Carlos Mardel na Casa do Risco. 120 Reinaldo Manuel dos Santos (1731 - 1791) – Arquiteto e engenheiro português. Foi aprendiz de canteiro nas obras de Mafra. Colaborou com Machado de Castro na parte arquitetónica da estátua equestre de D. José levantada na Praça do Comércio em Lisboa. Fez os projetos das novas igrejas dos Mártires e de S. Nicolau, do Chafariz das Janelas Verdes e do Passeio Público, que desapareceu na segunda metade do século XIX, para abertura da Avenida da Liberdade. No reinado de D. Maria II, levou a cabo a construção da Basílica da Estrela.

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4.1.1.3. O QUE LÁ ESTÁ

Edifícios que foram surgindo nos últimos tempos, nomeadamente, na segunda metade do século XX e no século XXI, e que se constituem como referências, quer arquitetónicas quer espaciais e/ou identificadoras do sítio. Dentre esses edifícios destacam-se o Hotel Ritz (1959), o Palácio da Justiça (1970), o Hotel D. Pedro (1998), o Amoreiras Square (1999-2001), o Amoreiras Plaza (2000-2005) e o Hotel Epic Sana (2010-2013).

Ilustração 90 – Hotel Ritz, 1959, Pardal Monteiro. (Ilustração nossa, 2010).

Classificado como Monumento de Interesse Público, o Hotel Ritz, da autoria de Pardal Monteiro121 com a colaboração de Jorge Ferreira Chaves122, é um dos mais importantes exemplos da arquitetura moderna portuguesa e o primeiro grande hotel de luxo construído em Lisboa. Inaugurado em 1959, com a presença de personalidades ilustres como o Rei Humberto de Itália, os Príncipes de Sabóia, os Condes de Barcelona e os Duques de Bragança, este edifício impõe-se sobre a cidade com grande

121 Porfírio Pardal Monteiro (1897 - 1957) – Arquiteto português. Formado em Arquitetura pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa em 1919, Pardal Monteiro trabalhou para a Caixa Geral de Depósitos, onde assumiu o cargo de arquiteto-chefe. Foi assistente, a partir de 1920, no Instituto Superior Técnico, passando, em 1942, a professor catedrático. Colaborou com Ventura Terra, algo que marcou o início da sua carreira profissional. Com o projeto para o Instituto Superior Técnico Pardal Monteiro estabeleceu ligações com Duarte Pacheco, na altura diretor do Instituto e futuro ministro das Obras Públicas, e iniciou o período das obras públicas, manifestando interesse pela grande escala e pela monumentalidade. A par dos projetos, Pardal Monteiro acumulou cargos públicos como o Conselho Superior de Obras Públicas, o Conselho Superior de Belas-Artes, a Junta Nacional da Educação e a Academia Nacional de Belas-Artes. Foi presidente da Sociedade Nacional dos Arquitetos. Premiado com os Prémios Valmor em 1923, 1928, 1929, 1938 e 1940, a Menção Honrosa e o Prémio Valmor em 1930 e o Prémio Municipal de Arquitetura em 1947. 122 Jorge Ferreira Chaves (1920 - 1981) – Arquiteto português. Formado em Arquitetura pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa em 1948. Colaborador de Pardal Monteiro, Joaquim Ferreira e Miguel Jacobetty Rosa, foi um dos arquitetos responsáveis pela fixação do Movimento Moderno em Portugal. Dos vários projetos que realizou, desde 1946 no seu próprio atelier, destaca-se a Pastelaria Mexicana.

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monumentalidade, devido à sua dimensão, geometria pura e, também, pelo revestimento das fachadas a mármore.

Ilustração 91 – Palácio da Justiça, 1970, Januário Godinho e João Andresen. (Ilustração nossa, 2010).

Projetado por Januário Godinho123 e João Andresen124, o Palácio da Justiça adota uma linguagem moderna de grande originalidade conceptual que rompe com a linguagem tradicional dos Palácios da Justiça. Impondo-se, não só pela sua função, mas também pelo seu enquadramento urbanístico, pela sua volumetria, expressão e materiais, apresenta-se como um edifício monumental e de importância indiscutível, algo que é reforçado pelo facto de se situar num dos pontos mais altos de Lisboa, à mesma cota do Castelo de S. Jorge.

123 Januário Godinho (1910 - 1990) – Arquiteto português. Estudou Arquitetura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, entre 1925 e 1930. Onze anos mais tarde obteve o diploma de Arquiteto com o estudo para o Hotel do Parque-Vidago, no qual contemplou algumas das principais preocupações que o acompanharam ao longo da carreira, tais como a interpretação do lugar, as acessibilidades, a relação entre a paisagem e o espaço interior e a escolha de materiais. Nos anos trinta do século XX iniciou o período de estágio, em colaboração com o arquiteto portuense Rogério de Azevedo. Durante a sua carreira, optou por uma arquitetura que conciliava o moderno e o contemporâneo, a tradição e o sítio e que prenunciava o regionalismo crítico. Trabalhou um pouco por todo o país em diversificadas obras de arquitetura e urbanismo. 124 João Andresen (1920 - 1967) – Arquiteto português. Frequentou o curso de Arquitetura, entre 1939 e 1948, na Escola de Belas-Artes do Porto. No ano em que concluiu a licenciatura foi convidado para assistente da cadeira de Projectos e Obras de Urbanização, função que assumiu até 1961, altura em que, por concurso público, passou a Professor Efectivo do 2.º Grupo – Urbanologia e publicou a sua dissertação "Para uma cidade mais humana". Participou em colóquios e congressos, no país e no estrangeiro, e competiu em vários concursos públicos, tendo alcançado o primeiro prémio no concurso para o Monumento ao Infante D. Henrique (1956), em Sagres, com o projeto "Mar Novo", em co-autoria com o pintor Júlio Resende e o escultor Salvador Barata Feyo, projecto esse que não chegou a concretizar-se. João Andresen é autor de uma obra centrada no planeamento e no risco de edifícios. Em 1964 passou a exercer atividade em colaboração com o arquiteto Cristiano Moreira. Também colaborou com Januário Godinho e integrou desde o primeiro momento a corrente do CIAM e foi um dos fundadores da ODAM (Organização dos Arquitetos Modernos), no Porto.

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Ilustração 92 – Hotel Dom Pedro Lisboa, 1998, Nuno Leónidas. (Ilustração nossa, 2017).

Situado em frente ao C.C. Amoreiras, o Hotel D. Pedro da autoria de Nuno Leónidas125, destaca-se pelo contraste entre a arquitetura moderna e a decoração clássica elaborada por Tereza Prego126.

Ilustração 93 – Edifício Amoreiras Square, 1999-2001, Raposo Cordeiro. (Ilustração nossa, 2017).

125 Nuno Leónidas (1954 - …) – Arquiteto português. Formado em Arquitectura pela Universidade de Santa Úrsula no Rio de Janeiro, em 1979, fez a Pós-Graduação em Planeamento Regional e Urbano na mesma universidade em 1980. Frequentou o curso "Planeamento em seis cidades italianas" pelo mestre Leonardo Benévolo (1980) e foi director técnico da Sopal do Brasil entre 1975-76, director técnico e financeiro da VERTIGO - Projectos e Construções, entre 1977-78 e arquitecto em CECAN no Rio de Janeiro entre 1978- 79. Foi professor na Fundação Mário Pinotti, Rio de Janeiro e na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Foi membro do Conselho de Delegados da Associação dos Arquitectos Portugueses (1987-95), membro do Conselho Directivo Regional do Sul da Associação dos Arquitectos Portugueses (1996-98), Presidente da Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Projectistas e Consultores (2004-2007) e Membro da Direcção da Associação Portuguesa de Projectistas e Consultores (2007). É Director Geral e sócio fundador de Nuno Leónidas - Arquitectos Associados, Lda. (desde 1983). 126 Tereza Prego – Designer de Interiores portuguesa. Formada em Arquitetura e Design de Interiores pela Escola Superior de Artes Decorativas, Tereza é membro profissional da International Association (IIDA) desde a sua fundação em Portugal nos anos noventa e membro fundador da Associação Portuguesa de Design e Arquitetura de Interiores (DESARQUI). Com mais de trinta anos de experiência profissional, Tereza Prego desenvolveu inúmeros projetos de luxo residenciais, empresariais e de hotelaria e, em 2003, criou a sua própria linha de Mobiliário e Iluminação, lançada em Paris na Feira Maison&Objet.

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Da autoria de Raposo Cordeiro127, o Amoreiras Square é um edifício de escritórios composto por dois edifícios, um de dez pisos e outro de seis, que oferece uma grande versatilidade de áreas e um parque de estacionamento público e privado, em cinco pisos abaixo do solo, com entrada pela Rua Silva de Carvalho.

Ilustração 94 – Edifício Amoreiras Plaza, 2000-2005, atelier Daciano da Costa. (Ilustração nossa, 2017).

Conjugando escritórios com uma galeria comercial e um Health Club, o Amoreiras Plaza, da autoria do atelier Daciano da Costa128, é um edifício que, tendo uma localização central, oferece instalações modernas, amplas e confortáveis.

Ilustração 95 – Hotel Epic Sana, 2010-2013, Nuno Leónidas. (Ilustração nossa, 2017).

127 Arsénio Raposo Cordeiro (1940 - 2013) – Arquiteto português. Formado pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa em 1967, Raposo Cordeiro trabalhou de 1961 a 1967 nos ateliers de Frederico George, Maurício Vasconcelos e Conceição Silva. Autor de diversos projectos de edifícios de escritórios em Lisboa e remodelações de agências bancárias, a partir de 1980 notabiliza-se como responsável por alguns dos maiores projectos de edifícios de Lisboa, tais como o da Torre do Tombo e o da nova sede da Caixa Geral de Depósitos. 128 Atelier Daciano da Costa – Atelier fundado em 1959 por Daciano da Costa (1930-2005) que desenvolveu as suas múltiplas vertentes de designer. Daciano da Costa foi um dos pioneiros do design industrial em Portugal e projetou para inúmeros setores da indústria nacional. Dedicou-se à concepção de mobiliário e equipamento para ambientes específicos, complementando e articulando-os com os projetos de arquitetura, ligados, na maioria das vezes, a edifícios públicos e equipamentos coletivos ligados ao turismo. Ao longo dos anos, o atelier afirmou-se como uma referência no panorama profissional mas também como um atelier-escola, permitindo a integração de jovens projetistas na equipa.

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Construído na área de uma antiga garagem de automóveis, com o projeto de Nuno Leónidas, o Hotel Epic Sana, inaugurado em 2013, nasce como um espaço único que pretende potenciar experiências, oferecendo pompa e elegância. Com trezentos e onze quartos, dois restaurantes (Flor-de-Lis e Switch), um spa (Sayanna Wellness SPA), o maior de Lisboa, salas para reuniões e eventos e dois bares (Scale Bar, junto ao lobby, e UpScale Bar, no oitavo piso, com vista para a cidade e para o rio), o Hotel composto por dois volumes, apresenta-se como um conjunto harmonioso e contemporâneo dotado de luz natural, devido à fachada de vidro, conjugando duas filosofias distintas, uma voltada para os negócios e outra para o lazer. No interior, a decoração, a cargo de Teresa Leónidas129, privilegia os tons beges, ferrugem e azul-turquesa, criando ambientes sofisticados e confortáveis.

4.1.2. AS REFERÊNCIAS

Considerada a maior obra pós-moderna construída em Portugal, o Complexo das Amoreiras faz alusão à cultura medieval e muçulmana, a Michael Graves e a Ricardo Bofill130, identificados, anteriormente, como referências do arquiteto Tomás Taveira e, também, segundo o autor, ao Castelo de S. Jorge e ao Bairro de Alfama.

Ilustração 96 – Edifício Portland, 1982, Ilustração 97 - Les Espaces d’Abraxas, 1982, Ricardo Bofill. (RBTA RICARDO Michael Graves. (Merin, 2013). BOFILL TALLER DE ARQUITECTURA, s.d.).

129 Teresa Leónidas – Designer de Interiores portuguesa. Em 1990, entrou para o departamento de decoração do atelier Nuno Leónidas – Arquitetos, passando, e em 1994, passou a coordenar as atividades desse mesmo departamento. Em 1997, com a passagem do departamento de decoração para um atelier próprio (NL Decoração) Teresa Leónidas tornou-se sócia gerente. 130 Ricardo Bofill (1939 - …) – Arquiteto espanhol. É considerado um dos representantes do pós- modernismo da arquitetura contemporânea, tendo frequentado a Escola de Arquitetura de Barcelona e a Universidade de Genebra. Abriu o seu atelier “Ricardo Bofill Taller de Arquitectura” em 1960. Nos seus projetos mantem as linhas claras do modernismo, abandonando as formas frias que são características do moderno, incorporando elementos clássicos. É membro honorário do Instituto Americano de Arquitetos, desde 1985.

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Nas torres de escritórios, Taveira reconhece, abertamente, a influência de Michael Graves. E, referindo-se ao Edifício de Portland (1982) (Ilustração 96) Taveira diz que aprecia a abordagem construtiva, o sentido formal, o design de organização clássica e a qualidade antropomórfica (Duarte, 1989, p. 65).

Nas habitações a referência é Bofill, nomeadamente, Les Espaces d’Abraxas (1982) (Ilustração 97). E isso é notório na fachada que compõe o edifício das habitações.

Enquanto, em Bofill, há uma tentativa “desesperada” de refazer o neo-clássico a uma escala monumental – existe a procura de uma escala portentosa, de fazer entrar a pessoa no próprio espaço urbano do empreendimento – em Taveira os termos da tipologia urbana já estavam pré-definidos. Por outro lado, Bofill trabalha muito virado para a pre-fabricação de elementos pesados e na sua articulação conjunta, em termos arquiteturais. Já Taveira procede dentro de uma visão impressionista e momentânea, procurando efeitos de imagem que, por vezes, se aproximam das soluções formais de Ricardo Bofill.

Ilustração 98 – Fachada de Edifício de Habitações. (Ilustração nossa, 2017).

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4.1.3. O PROJETO

Situado na periferia da cidade tradicional consolidada e próximo de uma das vias principais de acesso interurbano de Lisboa, o Complexo das Amoreiras é um conjunto com clara presença urbana.

Da intenção de criar um centro económico na cidade de Lisboa, surge o projeto do Complexo das Amoreiras, empreendimento de Urbanização Torres das Amoreiras realizado pela Mundicenter131 em conjunto com a LONLIS – Empreendimentos Imobiliários Amoreiras S.A., que conjuga escritórios, comércio e habitação, formando uma centralidade que, até aos dias de hoje, é palco de muito movimento.

Desenvolvido, inicialmente, pela GEFEL em colaboração com a C.M. de Lisboa, Tomás Taveira assume as rédeas do projeto, em 1980, já com um plano, aprovado em 1978, que definia a ocupação, a forma geral, a estrutura funcional, as volumetrias e as relações com a envolvente, num sistema apreciado pelo Movimento Moderno, envolvendo a existência de um pódio com edifícios sobrepostos, neste caso, torres e uma banda de apartamentos.

O “podium”, embora com um desenho mais “moderno”, existia já, com três edifícios mais ou menos em T que lhe sobrepunham, e que eu tenho vindo a transformar em edifícios pontuais mas mantendo a sua localização relativa; existia já, também, sobreposto ao “podium” um edifício em L, que “respeitei” em termos de localização e forma e que se destinava a habitação. (Taveira, 1985, p. 24)

Uma vez impossibilitado de fazer alterações que inviabilizassem a realização do projeto, Taveira age no sentido de ganhar transparência sobre o pódio. Altera a configuração das torres de escritórios, passando de edifícios em T para edifícios pontuais, neste caso, três torres.

Considerada como uma intervenção “clássico/moderna, devido à existência de um pódio com edifícios sobrepostos, parte-se do entendimento e da meditação feita pelos neo- modernos sobre a cidade antiga e desenvolve-se a ideia de “Cidade Feliz”, isto é, uma cidade composta por dois níveis sobrepostos, a Res-Pública (destinada a espaços e edifícios públicos, bem como monumentos e infraestruturas) e a Res-Privada (destinada

131 Mundicenter (1983) – Empresa do Grupo Alves Ribeiro que atua no setor da gestão e da promoção imobiliária, desenvolvendo a sua atividade em diversas áreas, nomeadamente, Contros Comerciais, Escritórios, Consultoria e Serviços de Assistência e Manutenção. É responsável pelo lançamento do Amoreiras Shoping Center, o primeiro grande Centro Comercial em Portugal, além de ser responsável pela gestão de mais sete centros comerciais, designadamente, Centro Comercial Alvalade, Arena Shoping, Braga Parque, Campus S. João, Oeiras Parque, Spacio Shoping e Strada Outlet.

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à administração, atividades produtivas e residências) para constituir um terceiro nível, a Res-Civitas.

Ilustração 99 – Esquema ilustrativo da estrutura funcional do Complexo das Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017).

Além da ideia de “Cidade Feliz”, Tomás Taveira, utiliza a ideia de caos para explicar o seu modo de atuação. Ele diz:

De facto, a minha arquitectura é, regra geral, um grande compromisso entre a Ideia Neo – Moderna de Classicismo, capaz de ser levada ao extremo do desenhar de edifícios com uma clara imagem antropomórfica e, ao mesmo tempo, a vontade de desenhar edifícios com um apelo ao sentido histórico, à reavaliação da nossa herança histórico- arquitectonica com a ajuda do uso de sinais que permitem, por assim dizer, uma chamada de atenção para o passado. (Taveira, 1985, p. 25)

O arquiteto não pretende resolver problemas de divulgação histórica, embora acredite que a história deva ser vista, como uma educação moral ou um repositório cultural e, não apenas, como um repositório de estilos. Justifica o aparecimento de uma “Contra- Força de Imagem” como meio de combater os esforços do Movimento Moderno em cortar raízes com a história e eleger a máquina como alma mater132 da arquitetura. E,

132 Alma Mater – Expressão de origem latina que pode ser traduzida como a “mãe que alimenta ou nutre". O termo era usado na Roma Antiga como um título para a deusa mãe e, durante o cristianismo medieval,

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esta Contra-Força atua no sentido de estabelecer um apelo à história e, também, possibilita a criação de um ambiente de reavaliação da destruição da Imagem Urbana que se vê após a passagem do Movimento Moderno.

Com isso, o arquiteto não quer dizer que o Moderno acabou. Antes, Taveira afirma que o Moderno se transforma progressivamente através da revisão das limitações impostas pelas teorias estabelecidas pelo próprio movimento.

Neste sentido, as habitações surgem fazendo referências à cultura mediterrânica, particularmente, através das colunas de vidro que, no fundo, são Bow Windows133. Já os coroamentos, numa lingaguem tardia do moderno, são um apelo à memória clássica e, ironicamente, uma reconstrução histórica.

Ilustração 100 – Complexo das Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017).

para referir-se à Virgem Maria. Atualmente, o termo é utilizado para referir-se às universidades, destacando a sua função como fonte de saber intelectual. É, também, uma expressão usada pelos poetas latinos para designar a pátria. 133 Bow Window – Janela de arco ou bússola. São janelas projetadas para criar espaço, além da parede exterior do edifício, e para ampliar a vista do jardim ou da rua. Estas janelas apareceram pela primeira vez no Reino Unido, no século XVIII.

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Em relação à habitação nas Amoreiras, Taveira afirma:

[…] foi “deliberadamente” pensada como uma “obra moderna”, com um coroamento neo – moderno de inspiração clássica, acentuando algumas das reminiscências daquele movimento (por ex: uma certa pureza no uso dos materiais), enquanto o desenho se assume como uma imensa alegoria ao que de mais tectónico existe na criação da Imagem! (Taveira, 1985, p. 26)

Relativamente ao projeto herdado, em entrevista, em 1985, Tomás Taveira diz:

Quando comecei o meu trabalho “tudo” estava basicamente determinado, faltando apenas a organização da “Imagem”. […] Assim a opção “Amoreiras”, que não foi feita por mim, a não ser em termos de Imagem Urbano – Arquitectonica […] não teria aquela FORMA URBANA se me tivesse sido dado ensejo para tal (os clientes por razões de tempo e finanças, absolutamente compreensíveis não permitiram que se alterasse o estudo Gefel – CML, senão em “quantidades” tão pequenas que não prejudicassem o andamento do processo), sendo, na minha opinião, uma solução moderna. (Taveira, 1985, p. 24, 25)

Assim, Taveira reconhece que o seu papel no desenvolvimento do projeto não foi tanto de planear e definir, mas de conferir uma imagem, uma estética ao edifício que estava previamente definido. No fundo, as Amoreiras são como uma operação de “cosmética”. Contudo, é uma “cosmética” organizada e construída com a ajuda de imagens tiradas do universo neo-moderno, herdeiro renovado do moderno, tentando definir praças, ruas e monumentos com o material disponível.

Este projeto conferiu uma nova singularidade à cidade de Lisboa, tornando-se um ponto de referência da cidade por causa da sua imagem que recolhe influências do local de implantação e inova pelo uso da cor.

4.1.3.1. O PROGRAMA

A nível programático, o conjunto restabelece a noção corbusiana de unidade de habitação associando-a à tradição americana dos grandes centros comercias. Contudo, essas ideias são interpretadas segundo os critérios urbanos.

Fazendo parte da cidade, o Complexo das Amoreiras afirma-se como uma das zonas de maior importância comercial em Lisboa. É um conjunto composto por habitação – apartamentos de luxo (20 000 m2), escritórios (60 000 m2), centro comercial e parque de estacionamento (100 000 m2).

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E, uma vez que a concepção do conjunto é uma expressão da tradicional cidade medieval, onde o trabalho, o lazer, o comércio e a habitação acontecem no mesmo sítio, tem-se um edifício híbrido, não só a nível compositivo mas também ao nível da imagem.

[…] todo o conjunto é dominado por uma vontade de afirmação apoiada no esquema de conjunto, na força cenográfica das imagens e nos sinais recuperados da memória colectiva. (Almeida, 1998, p. 288)

Ocupando uma área total de 45.000 m2 distribuída por dois pisos, o Centro Comercial Amoreiras, possui duzentas e setenta e oito lojas e sete âncoras, nomeadamente, Pão de Açúcar, Box, Fnac, Área, Sportzone, Zara e Cinemas NOS, duzentos e quarenta e um satélites, além de dispor de um amplo parque de estacionamento, com capacidade para novecentos lugares. De entre os espaços comerciais, encontra-se uma variada zona de restauração, cuja praça de alimentação sofreu uma remodelação da autoria de Nini Andrade Silva134 e Miguel Saraiva135, e lojas das mais prestigiadas marcas de vestuário, joalharia e artigos de casa.

Relativamente à praça de alimentação agora é um espaço que apresenta luz natural, um ambiente único e uma oferta diversificada com novos conceitos de restauração.

Segundo a designer, a praça de alimentação foi desenvolvida com o objetivo de ser um espaço de lazer inserido num ambiente comercial com uma atmosfera cosmopolita e moderna. Com esse objetivo, o projeto procurou não só satisfazer as expectativas de um consumidor cada vez mais exigente mas também destacar os aspectos comerciais,

134 Nini Andrade Silva (1962 - …) – Designer de Interiores portuguesa. Formada em Design no IADE em Lisboa, prosseguiu os estudos e a carreira profissional no estrangeiro, nomeadamente em Nova Iorque, Londres, Paris, África do Sul e Dinamarca. Cria a sua empresa “Esboço Interiores, Lda” em 1991, sendo responsável pela criação de espaços de referência e design. É consultora internacional do IADE, fazendo parte do painel de docentes convidados da Escola Superior de Design. Representou Portugal na Casa Decor 2002 em Barcelona, com a sua coleção de pintura “Garota do Calhau” que, posteriormente, foi exposta em Miami, Paris e Nova Deli. Distinguida com duas Menções Honrosas, como artista e cenógrafa pelo Governo Regional da , em 2006 foi premiada com o Galardão da Cultura e o Prémio IADE Carreira em 2010. Em 2011, foi condecorada pelo Estado Português com o Grau de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, pelos serviços relevantes prestados a Portugal, no País e no estrangeiro. Tem trabalhado na área da arquitetura e design de interiores, sendo autora de mobiliário que tem promovido internacionalmente. 135 Miguel Saraiva (1968 - …) – Arquiteto português. Licenciado em Arquitetura, em 1995, pela Universidade Lusíada de Lisboa, em 1996 fundou o atelier hoje denominado S+A, onde permanece à frente dos destinos do Grupo como CEO e como principal líder de projeto. Tem sido o mentor e o motor deste dinamismo, envolvendo-se pessoalmente em todos os processos de expansão e abertura de novos escritórios. A par da sua intensa atividade como gestor e arquiteto líder do Grupo S+A, foi vice-presidente da Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitetos, entre 1998 e 2001. Foi premiado com o Prémio de Melhor Atelier de Arquitetura do jornal Construir em 2011, os Prémios Melhor Projeto Privado, Melhor Atelier e Personalidade do Ano em Arquitetura do jornal Construir e do SIL em 2013 e em 2015 o Prémio Distinção Carreira.

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privilegiando a experiência e interação entre o cliente e o espaço. Para isso, recorre-se ao apelo aos sentidos, permitindo que em cada área se sintam diferentes sensações.

Ilustração 101 – Praça de Alimentação. (SARAIVA + ASSOCIADOS, 2014).

Ao programa, já conhecido, do Complexo das Amoreiras, recentemente, foi incluído um miradouro, o “Amoreiras 360º Panoramic View”.

Da autoria de Frederico Valsassina136 e localizado no topo da Torre 1, este miradouro situado a cento e setenta e quatro metros acima do nível do mar é o ponto mais alto da cidade de Lisboa. Com uma vista panorâmica sobre a cidade, do miradouro é possível perceber a topografia acidentada da cidade, o rio Tejo, Monsanto, o casario e monumentos como o Castelo, a Torre de Belém, a Basílica da Estrela, a Sé de Lisboa, as Pontes 25 de Abril e Vasco da Gama e o Cristo Rei. Também é possível observar os aviões a aterrar no aeroporto.

O acesso é feito de elevador, que se encontra no segundo piso do centro comercial. E, assim que se fecham as portas, os ecrãs projetam imagens que simulam a subida, como se se estivesse num elevador panorâmico, criando expectativa para o que se vai ver. No miradouro, são disponibilizados binóculos de longo alcance e mapas informativos sobre os monumentos e lugares mais importantes da metrópole. Tudo para que se possa tirar o maior proveito da paisagem.

Ilustração 102 – Vista do Miradouro. (Ilustração nossa, 2017).

136 Frederico Valsassina (1955 - …) – Arquiteto português. Licenciado em Arquitetura pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa em 1979, Valsassina colabora com ateliers nacionais e internacionais tendo formado o seu próprio atelier em 1986. Premiado com a Menção Honrosa do Prémio Valmor em 2003, o Prémio Valmor em 2004, o Prémio Nacional INH/IHRU em 2007, a Menção Honrosa do Prémio Valmor em 2012 e em 2014, em conjunto com Manuel Aires Mateus, o Prémio Nacional de Reabilitação Urbana em 2015 e o Palácio do Contador Mor em 2016.

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4.1.3.2. O CONCEITO

Na concretização deste centro comercial, Taveira avança com a ideia de “reconstrução da cidade” ou de “cidade feliz”, ensaiando um esquema de praças-ruas principais, ruas secundárias, pontuando com “monumentos”, a fonte e o relógio, que fossem sinais de referência para quem tem de se deslocar, indicando as entradas, os serviços e os espaços mais interessantes. Mas o desordenamento que se verifica é real. Primeiro, porque a malha de pilares e infraestruturas das torres está por cima, não se conseguindo articular tudo na “cidade do centro comercial”, segundo, porque os clientes não só não quiseram recorrer a artistas plásticos para execução de peças de referência como também não realizaram a maior parte dos objetos desenhados pelo arquiteto, como o mobiliário que, além de servir a sua função, serviria para orientação dentro do espaço comercial.

[…] dentro da ideia de “reconstrução da cidade”, ou da “cidade feliz”, ensaiando um esquema de praças – ruas principais – ruas secundárias, pontuado com “monumentos” que fossem sinais de referência (a “fonte”, o “relógio”) para quem tem de se deslocar naquela vastidão […] A noção de caos controlado que é a minha arquitectura; três vertentes o compõem: na perspectiva antropológica, o “Espírito do Lugar” onde se situa; a experiência e a teoria Neo – Racionalista; […] os temas neo – clássicos como presença da História. (Fernandes, 1985, p. 31, 32)

Falando do que foi construído, Taveira afirma que os construtores fizeram o que se costuma fazer na cidade real – construiu-se o que era essencialmente rentável. No entanto, assumiram a ideia do arquiteto como um belo e eficaz slogan “Uma Cidade Dentro da Cidade”.

Os pilares com capitéis que se prolongam em novos pilares, segundo o arquiteto, são um equívoco que introduz deliberadamente. No entanto, esse equívoco corresponde às caixas de teto falso e ventilação.

Ilustração 103 – Pilares com capitéis. (Tomás Taveira & Associados, 2011.).

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Em termos gerais, Tomás Taveira recorre a um tempo “desnorteado”, na tentativa de rearticular a arquitetura com a história.

Considerando que a cidade de Lisboa é, essencialmente, uma cidade medieval, Taveira torna presente essa teoria ao desenhar três torres, em que as laterais acompanham a central como se tratando de dois “cavaleiros” a acompanhar a “dama”, isto porque as torres laterais têm um desenho mais “masculino” e a torre central, um desenho mais “feminino” (Taveira, 1985, p. 27).

Ilustração 104 – Cavaleiro Medieval (à esquerda) e Ordenação de um Cavaleiro (à direita). (Santiago, 2013).

Neste processo simbólico, o arquiteto enfatiza as características do Movimento Moderno, nomeadamente, a anulação do ornamento e da decoração, a subordinação da forma à função, a pureza na utilização dos materiais, a assunção da ideia de progresso como ideia democrática e o corte com a continuidade histórica, e o resultado dessas características – o fim da relação da arquitetura com a história e da possibilidade da arquitetura ser, também, portadora de Mitos e Sinais além de cumprir a sua função de articular espaços.

Assim o Movimento Moderno transforma-se […] num tipo de arquitectura facilmente repetível, facilmente democratizável no pior sentido, no sentido de até os curiosos (para além de desenhadores, engenheiros e construtores), já sem cultura, poderem produzir; transforma-se numa força destruidora de uma imagem urbana que vinha embuída de valores culturais muito diferentes; e ao mesmo tempo, numa força destruidora de uma vida urbana que se tinha sedimentado ao longo de séculos. O Movimento Moderno sendo um movimento explosivo, mercê da explosão da população, da explosão da economia e do progresso, acaba por ser um movimento avassalador, transformando a imagem das cidades de tal modo que “ele” passa a ser a “Imagem” que as populações hoje vivas têm da cidade! (Taveira, 1985, p. 26, 27)

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Tudo isto para esclarecer o desenvolvimento da retórica do Medievalismo no Complexo das Amoreiras.

Para Tomás Taveira, Lisboa é uma cidade marcadamente Medieval e, uma vez que a poética pós-moderna possibilita o estabelecimento de laços com a arquitetura antiga e com o Genius Loci137, é justificavel o desenvolvimento da retórica do Medievalismo nas Amoreiras.

Pode ver-se claramente através das fotografias e dos alçados que as três torres destinadas a escritórios têm um desenho antropomórfico (neo – classicismo puro); as das pontas lembram guerreiros (são “evidentemente” masculinas) a central uma dama (evidentemente, também, feminina), enquanto a imagem geral se refere às torres medievais! Consuma-se assim o grande mito da idade média – os guerreiros defendendo a sua dama. (Taveira, 1985, p. 27)

De modo a exprimir aquilo em que acredita, que na mesma obra podem coexistir diferentes poéticas e um só arquiteto pode variar de poética de obra para obra, Taveira declara:

A poética como principio e o projecto é o grande território de meditação e de pesquisa da arquitectura! (Taveira, 1985, p. 27)

137 Genius Loci – Termo de origem latina que se ao “espírito do lugar” e é objeto de culto na religião romana. A associação entre espírito e lugar originou-se, possivelmente, na assimilação do Gênio aos Lares, a partir da era de Augusto (27 a.C – 14 a.C.). De acordo com o Movimento Tradizionale Romano, o Genius Loci é o génio do lugar habitado e frequentado pelo homem. A utilização do termo em arquitetura serve para definir uma abordagem fenomenológica do ambiente e da interação entre lugar e identidade, como propõe Christian Noberg-Schulz. Nesse sentido, a expressão remete para o conjunto de características socio-culturais, arquitetónicas, de linguagem e de hábitos que caracterizam um lugar, um ambiente ou uma cidade, indicando o caracter ou a personalidade do lugar. Aldo Rossi utilizou este termo referindo-se à preocupação com o local e a envolvente do terreno das suas futuras construções.

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4.1.3.3. A ESTÉTICA

Ilustração 105 – Vista Geral do Complexo das Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017).

Ainda com os edifícios em construção, Taveira antecipa: “Iremos ver uma profusão de elementos medievais e de elementos da história de Portugal. Apesar de construídos em ferro e vidro, estes serão edifícios que, ao contrário do Sheraton, que tanto podia estar em Lisboa como em Nova Iorque, só fazem sentido nesta cidade e nesta época. As Amoreiras são um fenómeno mediático, cultural e comercial. Como escreve Geoffrey Broadbent: “Captam a imaginação pública de um modo espectacular”. A argumentação antropológica e cultural é apimentada, nas Amoreiras, por uma ficção medievalista. Singular é a sobreposição do discurso “contextualista” com a contaminação mediática do cinema, do vídeo ou da televisão. Entre os guerreiros que defendem a dama nas Amoreiras e as referências ao Paris – Texa (Wim Wenders, 1984), abre-se um mundo pós-modernista. Taveira fala cruzadamente de uma “noção rigorosa de regionalismo mas não de regionalismo folclórico”, e do entusiasmo que lhe desperta o “vídeo, em especial, vídeo – clips, os desenhos animados de science fiction […] (Figueira, 2014, p. 185, 186)

Para a estética que conhecemos do Complexo das Amoreiras, a utilização de materiais como o alumínio, o vidro, o mármore e o betão foram de grande contributo. No entanto, a cor, quer dos materiais quer pintada, desempenhou um papel essencial. Funcionou como elemento aglutinador dos temas base do projeto, nomeadamente, a antropologia, a cidade e a história, e como meio de inserção do edifício na história da cidade.

Os três temas que referi antes (Antropologia, Cidade e História) são interligados pela cor – quero contrariar a tendência, generalizada em muito vocabulário de arquitectos “modernos”, para o desaparecimento do uso da cor como comunicação. (Fernandes, 1985, p. 34)

E, uma vez que a cor é um elemento básico de composição e significação utilizado ao longo dos anos, em todo o mundo, surge como um elemento natural que permite ao

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arquiteto, mais do que exercer uma contra-força à poética do movimento moderno, comunicar e transmitir algo ao povo, à sociedade, tendo a arquitetura como suporte.

Assim, de certo modo, regressa-se à história e à meditação do seu valor, pois até ao movimento moderno a arquitetura era pintada. A arquitetura usava a cor como elemento plástico e psicológico, constituindo-se parte integrande do homem.

Deste modo […] a cor, nas Amoreiras, faz parte do processo natural da invenção, embora eu não tenha escolhido umas cores quaisquer, e tenha, pelo contrário, escolhido cores que são, em minha opinião, as que se encontram facilmente em Lisboa, e em grande profusão. São os ocres, são os rosas, são os verdes, os azuis acinzentados…Os verdes, de facto, nas Amoreiras só aparecem em “desenho” visto que não me foi “permitido” (pelos clientes), usá-los; Eles que são tao importantes e tão decisivos para um certo desenho e para a luz de certas ruas… Veja-se o caso da Casa da Moeda! (Taveira, 1985, p. 30)

As habitações, como todo o projeto, estavam condicionadas às cérceas, o que impossibilitou a realizações de grandes alterações. No entanto, é notório o acumular de referências, quer clássicas, quer antropológicas, quer da tradição medieval ou mediterrânica lisboeta.

O uso do vidro, em abundância, formando fachadas em cortina é uma tradição moderna. E o fundamental nas habitações era captar o sol e introduzir a “confusão”, no esquema predefinido e convencional do esquerdo e direito. Faz-se isso através da coluna de vidro que surge naturalmente nessa aceitação dos valores do prédio burgues, dando a “bow- window” a cada sala de cada casa, um polo de conforto individualista.

Ilustração 106 – Esquema da Planta das Tipologias habitacionais do Complexo das Amoreiras (adaptação nossa, a partir da planta do Arquivo Municipal de Lisboa, 2017)

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Ilustração 107 – Entrada do Bloco de Apartamentos, Sala e Quarto de um Apartamento. (Tomás Taveira & Associados, 2011).

Os super-coroamentos da cimalha referem a “paródia” da memória clássica – ou o apelo à ideia de “reconstrução da cidade”.

Ilustração 108 – Vista da Torre 1 sobre os coroamentos do edifício de habitação. (Ilustração nossa, 2017).

A arcada, com as pilastras ritmadas, envolvendo toda a área comercial confere uniformidade que é quebrada para indicar as zonas de entrada.

Ilustração 109 – Vista das arcadas. (Ilustração nossa, 2017).

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As torres, devido ao uso do vidro, tornam evidente a sua função terciária. No entanto, a sua articulação volumétrica, o manifesto antropomorfismo e os coroamentos clássicos colocam-nas distantes das torres de escritórios comuns.

Ilustração 110 – Torres das Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017).

Ilustração 111 – Contraste da Torre com as arcadas e com o edifício de habitações. (Ilustração nossa, 2017).

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Ilustração 112 – Entrada das Torres de Escritórios (Tomás Taveira & Associados, 2011.)

Ilustração 113 – Planta do Piso Tipo das Torres 1 e 3 (à esquerda) e Planta do 4º Piso da Torre 2 (à direita) (Taveira, 1986, p. 18)

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4.2. MARCO ARQUITETÓNICO

Ilustração 114 – Vista do Complexo das Amoreiras. (Amoreiras Shopping Center, 2016.).

Construído a partir de 1981 e inaugurado a 27 de Setembro de 1985, por Ramalho Eanes138, como o maior centro comercial de Portugal e o quarto maior da Europa, o Centro Comercial Amoreiras é um ponto de referência que, presenteia a cidade com uma arquitetura ousada, marcando uma época da arquitetura e da cultura portuguesa, não só pela sua função mas, acima de tudo, pelo seu caráter único, marcante e provocante, decorrente da linguagem pós-moderna.

138 Ramalho Eanes (1935 - …) – Oficial militar e ex-político português. Foi o 16º Presidente da República (1976-1986) e o primeiro democraticamente eleito após a Revolução de 1974. Em 2010 recebeu o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa.

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Como Arquitetura Falante139, o edifício multifuncional do Complexo das Amoreiras integra-se e destaca-se na paisagem de Lisboa, respeitando a sua história e interagindo com o cidadão. E, faz isso, através da cor, do grafismo formal, da luminosidade e da palavra que, em conjunto com a escala e a arquitetura, completam a estética e a imagem do edifício, tornando-o visível também à distância.

Ilustração 115 – Skyline de Lisboa com as Torres das Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017).

Expressando a linguagem pós-moderna, bem como o uso inovador da cor, o Complexo das Amoreiras tem um grande impacto sobre a cidade, conferindo-lhe um skyline de carácter único. E, sobre isso Taveira afirma:

[…] não avaliei o impacto que o conjunto teve para a Cidade: toda, mas mesmo toda a gente discute o assunto (que, note-se, teve mais impacto do que êxito); e é toda a dimensão do empreendimento que vem desequilibrar o diálogo natural entre cidade e cultura. (Fernandes, 1985, p. 34)

Alvo de muitas críticas, o Complexo é apresentado como:

[…] uma composição fantástica de torres de apartamentos em cor de rosa e azul com torres de escritórios em vidro negro espelhado, que está hoje a causar uma grande controvérsia em Lisboa. Estas Torres das Amoreiras são consideradas exóticas por uns, enquanto outros as saúdam como uma lufada de ar fresco. […] Se o complexo das Amoreiras é visto por alguns como uma mera fantasia, também pode ser visto como um produto representativo da posição política do arquitecto face à arquitectura. (Duarte, 1989, p. 64)

Sendo um empreendimento polémico, esta obra, considerada, por uns como algo esquisito e, por outros, como uma renovação, com dupla interpretação – para uns como uma mera fantasia, para outros como produto representativo da posição política do arquiteto – é um marco arquitetónico que corresponde a uma tipologia a que os

139 Arquitetura Falante – Conceito que consiste no dever da arquitetura em exprimir através do estilo a função a que destina. Este conceito é característico do ecletismo.

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defensores do small is beautifull condenavam por razões económicas, sociais, estéticas e urbanísticas que pensavam, de modo incorreto, estar fora de época.

Ilustração 116 – Imagens das Torres das Amoreiras. (Ilustração nossa, 2016).

Funcionando como uma megaestrutura que articula diferentes dinâmicas - habitacional, empresarial e comercial – o Complexo das Amoreiras assemelha-se a uma cidade, apresentando-se como um lugar de encontros, habitação, trabalho, comécio e lazer. Por isso, não é de todo despropositado que o slogan do centro comercial seja “Uma cidade dentro da cidade”. E, para acentuar essa ideia, a estrutura geral do centro baseia-se na estrutura de uma cidade – um conjunto de ruas dispostas em dois níveis e articuladas com praças, em que as lojas ocupam “quarteirões” (Ilustração 117).

Ilustração 117 – Esquema dos Pisos 0 e 1 do Centro Comercial das Amoreiras. (Adaptação nossa, a partir de MUNDICENTER, s.d. b, 2017).

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Em certas circunstâncias a leitura do espaço é absolutamente evidente e a organização dos percursos bastante clara quando existem claraboias, isto é: luz natural. Acontece no entanto que nalgumas zonas existem edifícios que se sobrepõem ao Shopping evitando ou negando a possibilidade de estruturação normal do percurso (acompanhado por luz natural…) a leitura é mais problemática. Ao mesmo tempo existem algumas circunstâncias que duma forma imediata podem justificar a sensação de desnorteamento; por exemplo o facto de não existir praticamente “equipamento urbano”, digamos assim, considerando que a estrutura do centro foi pensada como se fosse uma cidade hipodâmica com ruas perpendiculares a formarem quarteirões e articuladas, como disse atrás, por praças que seriam portadoras de “sinais” (Landmarks Linchianos!) quer fontes quer enormes esculturas. De cada uma destas praças assim assinaladas, incluindo a praça exterior da entrada face ao Liceu Charles Lapierre, onde se localizava uma fonte, ver-se-ia sempre uma outra praça “marcada” de uma forma específica. Estabelecer-se-ia deste modo uma rede de sinais que mantinham sempre entre si uma “comunicação”, não permitindo o desnorteamento… (Taveira, 1985, p. 30)

Assim como uma cidade é dotada de espaços públicos de lazer e de estar com mobiliário adequado, o projeto incluía o desenho de mobiliário, floreiras e bancos, que ordenaria o espaço, à semelhança do espaço urbano tradicional, mas por razões de ordem financeira esse mobiliário bem como os elementos pensados para identificar as praças acabaram por não ser concretizados ou a ser, mas incompletos. No caso das praças, apenas duas foram identificadas com duas fontes (Ilustração 118) que, atualmente, já não existem.

Ilustração 118 – Imagens das Fontes. (Tomás Taveira & Associados, 2011).

A par da “cidade” que se organiza dentro do centro comercial, o próprio Complexo das Amoreiras constitui-se uma cidade, onde o C.C. Amoreiras é parte de um todo e interage com a habitação e os escritórios, criando um complexo vivo com um sistema de relações próprio que, satisfazendo as necessidades dos moradores, trabalhadores e clientes, estabelece um novo ritmo e modo de habitar que dinamiza a zona onde se insere.

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Como um promotor de relações com uma arquitetura marcante, o Complexo das Amoreiras torna-se na Catedral do Consumo, sendo um ex-libris da cidade de Lisboa e uma referência do pós-modernismo.

Embora seja uma obra criticada, por ser diferente e fora do comum, Manuel Graça Dias defende a liberdade criativa que inspirou as Amoreiras. Diz que é saudável que as cidades construam marcas de época e no caso do Complexo das Amoreiras é “a marca de um movimento pop (popular) filiado no pós-modernismo” (Manuel Graça Dias apud Henriques & Soares, 2010), que acabou por fazer escola, isto é, abriu o caminho para que edifícios pouco convencionais e até mesmo considerados estranhos fossem tolerados, como por exemplo, a Casa da Música, no Porto.

Ilustração 119 – Casa da Música, 2001-2005, Rem Koolhas. (Ilustração nossa, 2016).

Construida entre 2001 e 2005, com o projeto de Rem Koolhas140, a Casa da Música é um exemplo da tolerância mencionada por Manuel Graça Dias. Apresentando-se como um gigante “diamante branco” pousado num extenso espaço livre constitui-se “um polémico convite à diferença”.

[…] trata-se de uma intervenção assumidamente dissonante, de feição geometrista e abstracta, distanciada da arquitectura corrente da cidade (sobretudo se comparada com as obras mais exemplares dos seus arquitectos modernos, muito mais serenas e de geometria mais regular). (Fernandes, 2006, p. 63)

140 Rem Koolhas (1944 - …) – Arquiteto holandês. Inicia, em 1968, o curso de Arquitetura na Architectural Association School, Londres, prosseguindo os estudos, em 1972, na Cornell University, Estados Unidos da América. Em 1975, em conjunto com Madelon Vriensendorp, Elis e Zoe Zenghelis, funda o OMA (Office for Metropolitan Architecture). Em 1978 publica o livro “Delirious New York: A retroactive Manifesto for Manhattan” e em 1985 o livro “S, M, L, XL”. Foi professor na Universidade de Columbia, Estados Unidos, na Architectural Association School de Londres e na Universidade Técnica de Delft (entre 1988 e 1990), sendo atualmente professor na Universidade de Harvard. Foi director da 14ª Exposição Internacional de Arquitetura da Bienal em 2014. Premiado com o Rotterdam-Maaskant Prize em 1986, o Japanese Award fot the best building em 1991, o Gaudí Award em 1992, o Prémio Pritzker em 2000, o Praemium Imperiale pelo conjunto de sua obra em 2003, a Medalha de Ourto da RIBA em 2004, o Prémio de Arquitetura Mies Van Der Rohe em 2005 e o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza pelo conjunto da sua obra em 2010.

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4.3. ÍCONE DA CIDADE

Ilustração 120 – Centro Comercial Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017).

Como ícone, capaz de evocar e representar determinado movimento ou período, o Complexo das Amoreiras e, em especial o Centro Comercial Amoreiras, torna presente

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o espírito vivido nos anos oitenta, em que o consumo estava no auge e o centro comercial era o espaço de entretenimento e/ou de encontro das classes média/alta e alta, atentas às últimas tendências da moda. Espaço, também, onde se podia vislumbrar o estilo de vida que estava na moda.

É uma obra que na vontade clebrativa de si própria e dos valores de uma sociedade que saía do período de letargia que se sucedeu aos anos de 1974-1975, veio propor ao público a arquitectura como forma de restauração dos valores do mercado e da sociedade de consumo, como portadora de sinais de afirmação perante o público em geral, de uma forma até aí pouco comum. (Almeida, 1998, p. 288)

Com o embalo da entrada de Portugal para a CEE e no período que se segue ao resgate financeiro do FMI, em 1983, o Complexo das Amoreiras dá vida à cidade de Lisboa, exercendo um grande impacto a nível económico, social e cultural.

Era como que a materialização de todo um ambiente de aproximação ao cosmopolitismo e ao desejo de “ser europeu” que se vivia naquela década […] (Rodrigues, 2015)

Como parte do Complexo, o Centro Comercial Amoreiras torna real a atmosfera vivida na Europa e permite que os portugueses se aproximem do ambiente dos grandes centros urbanos a que estavam alheios até então.

As Amoreiras marcam uma ruptura na vida de Lisboa. E do país. […] À qualidade do espaço, maior do que nas galerias comerciais até aí existentes, junta-se a oferta de serviços e de lazer […] (Henriques & Soares, 2010)

Teresa Barata Salgueiro141 reconhece o carácter inovador do empreendimento e o papel que desempenhou na vida de Lisboa. Há época, eram feitas excursões ao centro comercial de pessoas de várias partes do país mas, mesmo assim, o sucesso do espaço não foi imediato. Só três anos após a abertura do Amoreiras, quando o Chiado incendiou, em 1988, é que as pessoas adotaram o centro comercial, como sendo o principal espaço de compras. (Teresa Barata Salgueiro apud Henriques & Soares, 2010).

141 Teresa Barata Salgueiro (1948 - …) – Investigadora do Centro de Estudos Geográficos da Faculdade de Letras de Lisboa e Professora catedrática da Universidade de Lisboa. Foi directora do IGOT desde a sua fundação em 2009 até dez 2013. Presidente da Direcção da APG, Associação Portuguesa de Geógrafos (1988 a 1991), mantendo-se directora do INFORGEO até finais de 1992. Presidente da Mesa da Assembleia Geral desta Associação entre 1993 e 1995 e desde Março de 2016. É autora de vários textos, entre os quais se incluem livros na Geografia Portuguesa como A Cidade em Portugal:Uma Geografia Urbana; Do Comércio à Distribuição: Roteiro de uma Mudança; Lisboa: Periferia e Centralidades. Também coordenou vários projectos de investigação, alguns internacionais, de entre os quais se podem destacar REPLACIS – Retail Planning for cities sustainability, e CHRONOTOPE, Time-Space Planning for Resilient Cities.

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Assim, este edifício vive da apropriação popular. E esta apropriação faz-se, essencialmente, a três níveis – a nível sintático, a nível semântico de recreação nominal e identitário e a nível pragmático. Relativamente ao nível sintático, é algo que ocorre pelo modo como a arquitetura redefiniu uma organização e uma discussão espacial da cidade de Lisboa. Ao nível semântico, o edifício, quer pelas formas quer pelas cores, adquire uma identidade única que o diferencia e identifica. Já a nível pragmático, a apropriação é feita através da vivência dos espaços. No caso particular do C.C. Amoreiras, a praça central do centro comercial passou a ser o “passeio público” ou a “praça pública” onde as pessoas se encontram e convivem.

Ilustração 121 – Praça Central do Centro Comercial. (Ilustração nossa, 2017).

Embora o conceito do edifício, como mencionado anteriormente, faça alusão à Lisboa medieval, para alguns, o edifício fazia lembrar a arte de tourear. Nuno Portas observa que as torres pareciam “um par de bandarilhas cravadas no dorso da cidade” (Nuno Portas apud Henriques & Soares, 2010). E, este ato de comentar sobre o edifício, quer pela dimensão do empreendimento, considerado excessivo, quer pelo aspeto pouco convencional, fez com que se falasse de arquitetura, em Portugal, como nunca havia acontecido. E, à medida que as obras do arquiteto iam se materializando, nos anos oitenta, surge o termo “taveirada” que descreve não só o conjunto de trabalhos característicos do arquiteto Tomás Taveira que, para o homem comum são excessivas, como também é sinónimo de mamarracho.

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Após trinta e dois anos da sua construção e de ter adquirido o estatuto de ícone, o Centro Comercial Amoreiras, bem como todo o Complexo, com a sua arquitetura ousada, na época, ainda desempenha um papel importante na vida económica, social e cultural da cidade, sendo palco de inúmeros eventos de destaque, que remetem aos gloriosos anos oitenta e estão associados ao histórico do edifício, que foi distinguido, em 1993, com o Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura.

Falando sobre a questão do edifício ser um ícone, em entrevista, Taveira afirma que a intenção de uma artista, no exercício da sua profissão criativa, é responder aos seus impulsos e envolver-se num processo poético que não tem em vista um fim pré determinado para além da arte. Portanto, um artista não procura fazer um ícone. No entanto, o trabalho realizado pelo artista, pelo modo como as pessoas reagem podem, sim, tornar-se um ícone.

Foi o modo como o mundo reagiu e desenvolveu o exercício da mente culta sobre esses objetos que lhes conferiu como a muitos esse valor de ícone. É a metalinguagem da Crítica e da História que no seu esforço de divulgação da Arte acabam muitas vezes por dar a uma obra esse “valor” icónico. […] o Ícone em Arquitetura como em qualquer Arte é mais uma invenção externa que propriamente um objeto premeditado e eleito à partida pelo artista. (Baptista & Melâneo, 2015, p. 36)

Desse modo, apesar de algumas dificuldades que foram surgindo ao longo dos anos, nomeadamente, o aparecimento do C.C. Colombo em 1997 e as obras do túnel do Marquês, entre 2003 e 2007, que provocaram o caos no trânsito da zona e diminuíram o fluxo de clientes, o Amoreiras é um ícone que sobrevive sem perder a atmosfera de vanguarda a que é associado e reinventa-se, não só por requalificar e redesenhar espaços, mas também por adaptar alguns horários à dinâmica dos clientes, transmitindo, assim, a ideia de comércio de bairro.

Como espaço comercial, mantém o nível, por ter lojas de luxo que, em Portugal, só se encontram ali ou na Avenida da Liberdade ou no El Corte Inglês.

De monstro megalómano, o Amoreiras passou a local onde se vai às compras com tranquilidade. E, com o passar dos anos, não dá sinal de falta de vitalidade, tendo um bom ambiente.

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4.3.1. LUGAR DE ENCONTROS E DE APROPRIAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE

O princípio que sempre seguimos foi o de não ser apenas uma área comercial, mas sim um ponto de encontro das pessoas que nos visitam. (Soares, 2015)

Hoje, o C.C. Amoreiras é, além de um espaço de compras, um lugar de encontros e partilhas, de acordo com o princípio expresso por Nelson Leite, diretor do C.C. Amoreiras, em entrevista ao Jornal Público (Nelson Leite apud Soares, 2015). Ao contrário de muitos centros comerciais, é um espaço pouco barulhento e agradável que permite a muitos que lá vão relaxar e passar o tempo.

Ilustração 122 – Interior do C.C. Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017).

Dotado de luz natural, wifi grátis, agências bancárias, caixas multibanco, estação de Correios, Igreja Católica e Institutos de Beleza, o C.C. Amoreiras constitui-se um espaço de lazer de excelência, distinto dos demais centros comerciais alguma vez construído, tendo serviços também pensados para crianças, nomeadamente, carrinhos de passeio, fraldário e playcenter, e para pessoas de mobilidade reduzida, nomeadamente, estacionamento privilegiado e reservado, acessos preparados previamente e instalações sanitárias próprias.

Apostando na arquitetura além de ter associado uma grande escala, este espaço comercial, aposta no segmento do turismo, através do miradouro, atrativo diferenciador, para dinamizar o centro comercial e tornar-se num espaço onde é possível comprar ou, simplesmente, estar.

Apesar dos desafios e da forte concorrência, Fernando Oliveira, diretor da Mundicenter, admite que o sucesso do centro foi concedido pelos visitantes e consumidores. Garante,

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também, que existem muitas gerações que se revêm no C.C. Amoreiras devido à sua capacidade de inovação, de criação de relações e de experiencias com as pessoas (Fernando Oliveira apud Rodrigues, 2015).

Com isso, fica claro que a apropriação do espaço do Amoreiras, quer do centro comercial quer das torres, por parte dos consumidores, trabalhadores ou dos moradores, foi imprescindível para grantir o sucesso do empreendimento que, como já referido, foi polémico e criticado.

Ilustração 123 – Centro Comercial Amoreiras. (Ilustração nossa, 2016).

Da perceção e da apropriação pessoal do espaço, talvez por falta de familiaridade, a sensação de desnorteamento domina. Em contrapartida, para quem conhece e está familiarizado, a sensação é outra. Qual cidade as lojas definem caminhos e criam quarteirões. A luz marca o espaço. E, com monumentalidade, a escadaria (muitas vezes palco de artistas), iluminada por claraboias, dá acesso ao piso superior do centro comercial que, com as colunas pretas conferem sobriedade e glamour ao espaço.

No entanto, no exterior, é a teatralidade que domina ou conduz para o interior, quer do centro comercial quer dos blocos de apartamentos. Evocando a Piazza d’Italia de Charles Moore (Ilustração 64), a arcada que envolve e unifica o complexo, bem como a praça que marca a entrada de para uma das torres, não só servem de “abrigo” ou local

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de paragem, ainda que sejam descobertas, como também, marcam a imponência do edifício, conferindo um tom dramático (algo preceptivel maioritariamente nas arcadas) que as cores da praça atenuam.

Ilustração 124 – Arcada envolvente e Praça de entrada para uma das Torres. (Ilustração nossa, 2017).

“Numa poética que acaba por ser alegre” (Figueira, 2014, p. 185), através da sobreposição das formas, da luz, da cor e dos materiais, o Complexo das Amoreiras apela aos sentidos, convidando a vivenciar o espírito dos anos oitenta. Além disso, através dos grafismos formais, isto é, das referências claras de inspiração clássica e, também, através do uso da palavra, o Complexo comunica connosco e com a paisagem urbana, refletindo a sua envolvente. Desse modo, apesar da sua exuberância, integra- se na cidade, adquirindo um valor significativo capaz de influenciar o desenho de outros edifícios.

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Ilustração 125 – Pormenores do Complexo das Amoreiras. (Ilustração nossa, 2017).

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tudo começa, na viragem dos anos cinquenta para os anos sessenta, quando a arquitetura moderna entra em crise. Apresentam-se novas tendências que abrem caminho para o pós-modernismo. Surgem três tipos de abordagens, “afirmativa”, “negativa” e “crítica”, que revelam a posição dos arquitetos, a favor ou contra o novo movimento.

A nível nacional, segue-se uma tendência ligada à história, embora a arquitetura apresente uma estética austera e pouco ornamentada. Em Portugal o Pós-Modernismo só surge na década de oitenta impulsionado por mudanças que ocorrem desde a década de sessenta. Uma dessas mudanças é a Revolução do 25 de Abril de 1974 que permitiu a Portugal reduzir o isolamento cultural e desenvolver novas possibilidades disciplinares e profissionais. Já na década de oitenta, com a estabilização política e a recuperação económica, há um esforço para fazer da arquitetura algo público. Realizam-se conferências, concursos e exposições que, além de promoverem a arquitetura e fazerem dela tema da comunicação social, promovem os arquitetos. Entre as exposições realizadas, a exposição “Depois do Modernismo” em 1983, foi de grande importância, pois marcou o estabelecimento do Pós-Modernismo em Portugal, apresentando as tendências para a evolução da arquitetura. Como percursores tem-se Raúl Hestnes Ferreira e Manuel Vicente que indicam duas direções face ao pós- modernismo, polarizadas no Porto e em Lisboa, nomeadamente, o pós-modernismo “crítico”, onde se insere Siza Vieira, e o pós-modernismo “afirmativo”, onde se insere Tomás Taveira.

Em relação à origem da sociedade e da arquitetura de consumo, o estudo revelou que, apesar da atividade comercial fazer parte dos primórdios da humanidade, a sociedade de consumo nasce da sociedade industrial, ganhando força após a segunda guerra mundial, nos Estados Unidos. Instalada a sociedade de consumo, surgem os centros comerciais cujas origens remetem para a Europa e para América, nomeadamente, as galerias de França e de Itália, os Armazéns de Inglaterra e os espaços comerciais de carácter moderno, com acesso automóvel e parque de estacionamento, nos Estados Unidos. No panorama português, a emergência da sociedade de consumo dá-se gradativamente e os centros comerciais surgem na década de setenta, como espaços de pequena dimensão, sem luz natural, integrados em empreendimentos imobiliários,

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até ao aparecimento do C.C. Amoreiras que altera, por completo, o conceito de centro comercial conhecido à época.

Fica claro que, apesar de ser uma personalidade polémica, Tomás Taveira é uma pessoa com um conjunto de conhecimentos muito vasto, no qual se apoia para desenvolver o seu trabalho. Percebe-se que não se limita a absorver conhecimento de uma única fonte e introduz na cultura portuguesa um lado internacional que Portugal desconhecia. Também, por fazer parte do jet set, Taveira torna-se uma figura pública e faz com que se fale de arquitetura e de arquitetos. Na retrospetiva às obras precedentes ao Complexo das Amoreiras, nota-se uma base racionalista que, de algum modo, quer através da cor, da sobreposição de formas, da introdução de elementos gráficos alusivos à história ou a modelos de referência, é completamente transformada e adquire um carácter único e, incontestavelmente, pós-moderno. Ao mesmo tempo, verifica-se uma coerência no trabalho do arquiteto, existindo, muitas vezes, de uma obra para outra, a reformulação de questões, como por exemplo, o metabolismo na Habitação Social em Chelas e no Bloco de Apartamentos na Avenida Óscar Monteiro Torres ou a pintura pop no Edifício na Avenida João XXI e no Complexo das Amoreiras, obra pragmática na arquitetura de Tomás Taveira.

Inserido num complexo que inclui habitação e escritórios, o C.C. Amoreiras, revolucionou a cidade de Lisboa, não só pela sua arquitetura e grande dimensão à época, mas também pelo seu carácter público e inovador. Assemelhando-se a uma cidade, tendo diferentes usos, habitacional, empresarial e comercial, o Complexo das Amoreiras é de uso público e, de certo modo, influenciou a vida pública da cidade por coincidir com a introdução de um novo padrão de consumo e de uma nova estética. Essa influência foi de tal modo que ir ao C.C. Amoreiras, ter um escritório ou uma casa no Complexo das Amoreiras significava estar em sintonia com todas as novidades. Falando, particularmente do C.C., este introduziu o luxo no modo de fazer compras. Tornou-se símbolo da sociedade de consumo, adquirindo uma grande importância na vida dos lisboetas como espaço de eleição para fazer compras ou, simplesmente, estar. Até à aquisição de tamanha importância, o Amoreias foi alvo de muitas críticas. No entanto, a apropriação do espaço por parte dos cidadãos foi essencial para a sua aceitação. Assim, a frase de Fernando Pessoa “Primeiro estranha-se, despois entranha- se” enquadra-se bem no caso do Complexo das Amoreiras que, de monstro, conquistou o estatuto de ícone, apelando aos sentidos e comunicando, quer com as pessoas, quer com a paisagem urbana envolvente.

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Será que o fenómeno Amoreiras parou no tempo? Certamente que não. Embora ainda se vejam resquícios das Amoreiras dos anos oitenta, muitas coisas mudaram. No entanto, o C.C. Amoreiras continua a ser uma referência. Reflete o espírito dos gloriosos anos oitenta, tendo um ambiente com um carácter de luxo bastante convidativo.

Sem dúvida, o Complexo das Amoreiras marca uma época na cidade de Lisboa. É um projeto único que colocou Portugal na cultura Pós-Moderna. Um acontecimento extraordinário e fora do vulgar que reflete as mudanças culturais e sociais após o 25 de Abril e marca uma época – os anos oitenta, uma sociedade – a sociedade de consumo, um movimento – o Pós-modernismo, tornando-se num elemento de referência. Referência, acima de tudo, para os outros centros comerciais. Um marco arquitetónico e um ícone da cidade de Lisboa.

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Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

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APÊNDICES

Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

LISTA DE APÊNDICES

Apêndice A - Vida e Obra de Tomás Taveira.

Apêndice B - Entrevista (não concretizada) a Tomás Taveira.

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APÊNDICE A Vida e Obra de Tomás Taveira

Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

TOMÁS TAVEIRA: VIDA E OBRA

1938 Nasce, em Lisboa

1955 Desenhador no Atelier de Nuno Teotónio Pereira

1959 Ingressa na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa

1965 Ingressa no Atelier de Francisco Conceição Silva

1966 Loja Valentim de Carvalho, Cascais

1968 Fábrica Valentim de Carvalho, Paço d’Arcos

Conclui o curso de Arquitetura na ESBAL, com 20 valores 1970 Publica “O Lettering”

Funda o Atelier Tomás Taveira, S.A., em Lisboa

1971 Convidado para Assistente na ESBAL

Urbanização para o Alto do Dafundo (não construído)

Edifício Satélite, Lisboa

Complexo das Olaias, Lisboa 1972 Edifício Habitacional na Avenida da República (não construído)

Complexo Habitacional, Morro da Luz, Luanda (não construído)

Presta provas para professor na ESBAL

Publica o Livro “Discurso da Cidade”

Edifício D. Carlos I, Lisboa 1973 Torre de Habitação e Serviços na Praça dos Lusíadas, Luanda (não construído)

Parque Infantil da Lisnave (não construído)

Complexo Industrial Sanimar, Loures (não construído)

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Quartel de Bombeiros de Campo de Ourique (não construído)

Complexo Habitacional para 10 000 habitantes, Portimão (não construído)

1974 Nomeado Professor Catedrático

Habitação Social em Chelas, Zona J, Lisboa

1975 Escreve sobre o Laboratório de Engenharia da Universidade de Leicester de James Stirling

Conjunto de Oito Colégios, Museu e Memorial para o Santuário de Fátima (não construído) 1976

Hotel Taipei Island, Macau (não construído)

1977 Inícia a Pós – Graduação no MIT, Estados Unidos da América

1978 Edifício do IVA – Edifício na Av. João XXI, Lisboa

Cooperativa de Habitação Lar Escalabitano, Santarém

Hotel Rosa Mar, Tróia

Edifício do Banco Totta&Açores, Avenida de Miguel Bombarda, Lisboa 1979 Complexo de Serviços Sociais das Forças Armadas, Oeiras (não construído)

Habitação Social, Calheta, Madeira (não construído)

Estação de Caminhos de Ferro do Cais do Sodré, Lisboa (não construído)

Início do Projeto do Complexo das Amoreiras, Lisboa

Edifício e projeto de interiores do Banco do Fomento Nacional, Lisboa

Cinema Estúdio Treze, Tróia 1980 Moradias em Banda, Sines

Casino e Centro de Congressos, Torralta, Tróia (não construído)

Estádio Porto Exterior, Macau (não construído)

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Início da Construção do Complexo das Amoreiras, Lisboa

Estudo de Renovação Urbana do Martim Moniz, Lisboa

1981 Edifício da Tranquilidade, Lisboa

Meridien Hotel – Petrogal, Lisboa (não construído)

Meridien Hotel – Petrogal, Porto (não construído)

Anuncia, no Expresso, o início do movimento Pós - Modernista

Publica o livro “Estudo de Renovação da Área do Martim Moniz”

Prémio José de Figueiredo da Académia Nacional de Belas Artes pelo Livro “Estudo de Renovação da Área do Martim Moniz” 1982

Central de Camionagem do

Organiza o I Seminário Internacional de Arquitetura na ESBAL

Centro de Congressos de Abu Dhabi (não construído)

Organiza o II Seminário Internacional de Arquitetura 1983 Edifício Banco Nacional Ultramarino, Lisboa

Prémio Valmor pelo Conjunto Habitacional das Olaias

Prémio Municipal da Cidade de Lisboa pelo Conjunto Habitacional das Olaias

Centro de Formação Profissional, Faro

1984 Edifícios Miece, Oeiras (não construído)

Edifício de Escritórios na Av. Da República, Lisboa (não construído)

Quinta de Santo António, Almada (não concluído)

Instalações Míele, Carnaxide, Lisboa (não construído)

Participação com peças de design na Exposição New Tranfiguration, na Galeria 1985 Cómicos, em Lisboa

Luiene Indira Augusto Mafé 198 Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

Cadeira “Marcello”

Edifícios de Escritórios e Comércio, Marquês de Pombal, Lisboa (não construído)

Estação Ferroviária do Cais do Sodré (não construído)

Edifício Bonança, Lisboa

1986 Exposição “Arquitectura, Desenhos e Objectos” no C.C. Amoreiras, Lisboa

Escola Preparatória e Secundária, Macau

Plano Urbanao para Castelo Branco (projeto vencedor do concurso público organizado pelo Conselho de Castelo Branco)

1987 Cenário para o Festival de Música da Figueira da Foz

Remodelação da Praça de Touros do Campo Pequeno, Lisboa (não construído)

Centro Cultural de Belém (não construído) 1988 Complexo Comercial e Habitacional Hilton, Lisboa (não construído)

Edifício da Portucel, Lisboa (concurso organizado pelo Portuguese Nationalised Paper Mill)

Peças de mobiliário transfiguradas

Cadeira “Rick” 1989 Cadeira “Sandeman”

International Tribunal for Maritime Law, Hamburg (concurso organizado pela ONU) (não construído)

Complexo Desportivo para o Sport Lisboa e Benfica (não construído)

Ideias para a reconstrução do Chiado, Lisboa

1990 Cadeira “Sílvia”

Torres de Escritórios (Twin Towers), La Défence, Paris (Não Construído)

Luiene Indira Augusto Mafé 199 Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

Urbanização do Terreno do Hospital Curry Cabral (Não Construído)

Urbanização do Terreno do Hospital Júlio de Matos (Não Construído)

1991 Agência do Crédito Predial Português em Benfica e Pegões

Presidente do concelho diretivo do California State Politecnic, em Los Angeles, Estados Unidos da América, até 1995

1992 Agência no BIC, Marquês de Pombal, Lisboa

Projeto de Remodelação da Assembleia da República, Lisboa (Não Construído)

Prémio Valmor pelo Complexo das Amoreiras

Prémio Municipal de Arquitetura pelo Complexo das Amoreiras

Edifício na Fontes Pereira de Melo, Lisboa

Cadeira “Dom Pedro”

Cadeira “Dona Inês”

1993 Cadeira “Dom João”

Cadeira “Olaias”

Cadeira “Lucia”

Cadeira “Laura”

Sofás “Fernando Pessoa”

Estabelecimento Prisional de Dordrcht (Edifício Dick Tracy), Holanda (não construído)

Menção Honrosa do Prémio Valmor pelo Edifício do BNU

Cenário do programa “Na Cama com…” apresentado por Alexandra Lencastre 1994 Sofá “Marilyn I”

Sofá “Marilyn III”

Luiene Indira Augusto Mafé 200 Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

Plano de Urbanização para a Expo’98 (não construído)

Edifício de Comércio, Fátima 1995 Restaurante “Casa do Rio”, Ponte da Arrábida, Porto

Centro Comercial, Cinemas e Complexo Habitacional em Fátima

1997 Edifício Multifuncional na Expo’ 98, Lisboa (não construído)

Edifício Tobis (não construído)

Estação de Metro das Olaias, Lisboa

Moradia de Família em Leça do Balio

1998 Torres de Benfica, Lisboa (Não Construído)

Plano Diretor Municipal para Cabinda, Angola (não construído)

Estádio do Sport Lisboa Benfica (não construído)

1999 Hospital de Braga (não construído)

Quartel do GNR em Santa Comba Dão

2000 Centro Cultural e Social do Barrô, Águeda

Complexo da Marina de Albufeira

2001 Quinta do Anjo, Palmela

2002 Habitações no Parque Expo, Lisboa

Estádio Dr. Magalhães Pessoa, Leiria

2003 Estádio Municipal de Aveiro, Aveiro

Casa do Futuro, Lisboa

Estádio do Palmeiras – Arena Palestra Itália, São Paulo, Brasil 2008 Estádio do Natal, Natal, Brasil

Luiene Indira Augusto Mafé 201

APÊNDICE B Entrevista (não concretizada) a Tomás Taveira

Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

LM. Como o projeto das Amoreiras se inscreve na cultura arquitetónica internacional e na arquitetura portuguesa em particular, dado que sempre fica um pouco a ideia de que as Amoreiras parecem um objeto estranho para aquilo que é e era a arquitetura da época? Existe, eventualmente, ligação a modelos exteriores?

LM. Terá isso a ver com o facto de as Amoreiras serem o “Templo do Consumo” e isso de certo modo representar uma identificação dos nossos padrões culturais com o que se passava noutros países mais avançados no seu desenvolvimento (económico, cultural)?

LM. Por outro lado, a metáfora medieval, dos cavaleiros e a dama, parece irónica, dado o confronto entre referências culturais ou de imagem que são diversas e, por vezes, contraditórias quando olhamos para o edifício. Apresenta-se como uma espécie de arquitetura International Style com signos clássicos e medievais sobrepostos. Assim, como se estabelece a relação do edifício com a cidade e, particularmente, com o Bairro das Amoreiras e com a arquitetura envolvente?

LM. Na cultura dos anos 80 a recuperação da malha tradicional da cidade era algo importante. Nesse sentido, há uma contradição em termos de volumetria, estrutura funcional e organização espacial, pois o Complexo das Amoreiras parece corresponder ao modelo Modernista de um pódio com torres sobrepostas embora no seu interior, o pódio albergue o centro comercial que contém uma estrutura de ruas interiores. Isso deve-se ao facto de ter “herdado”, segundo julgo saber, um plano que já definia a estrutura do projeto?

LM. As Amoreiras constituem o novo paradigma de Centro Comercial. Parece algo completamente diferente e novo do que se fazia, em termos de escala, introdução de luz natural, estrutura. Que relação considera que o Centro Comercial Amoreiras estabelece com os centros comerciais que se faziam até aí? E que importância teve para os centros comercias que vieram a seguir?

LM. De que importância é o Centro Comercial Amoreiras para a mudança de padrões na sociedade? É o reflexo da mudança de consumo ou também ajudou a que se alterassem esses padrões de consumo?

LM. Apesar da arquitetura Pós-Modernista já ter passado de moda, as Amoreiras não. E, embora, já tenham passado cerca de trinta e dois anos desde a sua inauguração, o

Luiene Indira Augusto Mafé 204 Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

edifício não entrou em decadência, enquanto outros foram desaparecendo. O projeto é bom, o espaço é agradável e tem luz natural. Nota-se que o Centro Comercial tem algo que as pessoas gostam. A quê que isso se deve? Qual o sucesso do Centro Comercial? Será que o sucesso deve-se só a fatores comerciais ou a arquitetura tem uma quota- parte importante neste caso?

LM. Jorge Figueira disse “a arquitetura tem uma lógica particular, dilatada pelo espetáculo e pela sedução da comunicação”. Nesse sentido, qual o papel da comunicação na arquitetura? E de que modo a escolha dos materiais e o uso da cor contribuem para a imagem e, consequentemente, comunicação na arquitetura?

LM. Em entrevista a Revista ARQA diz: “Foi o modo como o mundo reagiu e desenvolveu o exercício da mente culta sobre esses objetos que lhes conferiu como a muitos esse valor de ícone. É a metalinguagem da Crítica e da História que no seu esforço de divulgação da Arte acabam muitas vezes por dar a uma obra esse “valor” icónico […] o Ícone em Arquitetura como em qualquer outra Arte é mais uma invenção externa que propriamente um objeto premeditado e eleito à partida pelo artista.”. De que importância é a apropriação do Centro Comercial Amoreiras, para a sua compreensão, apreensão e aceitação?

LM. Por outro lado, qual o papel da crítica para o desenvolvimento do edifico como ícone?

Luiene Indira Augusto Mafé 205 Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

Luiene Indira Augusto Mafé 206

ANEXOS

LISTA DE ANEXOS

Anexo A - Memória Descritiva e Peças Desenhadas do Complexo das Amoreiras.

Anexo B - Plantas do PDM da Área em consideração

ANEXO A Memória Descritiva e Peças Desenhadas do Complexo das Amoreiras142

142 Reprodução do Arquivo Municipal de Lisboa

Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

Ilustração 126 – Memória Descritiva, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa)

Luiene Indira Augusto Mafé 213 Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

Ilustração 127 – Memória Descritiva, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa)

Luiene Indira Augusto Mafé 214 Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

Ilustração 128 – Memória Descritiva, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa)

Luiene Indira Augusto Mafé 215 Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

Ilustração 129 – Memória Descritiva, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa)

Luiene Indira Augusto Mafé 216 Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

Ilustração 130 – Memória Descritiva, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa)

Luiene Indira Augusto Mafé 217 Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

Ilustração 131 – Memória Descritiva, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa)

Luiene Indira Augusto Mafé 218 Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

Ilustração 132 – Memória Descritiva, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa)

Luiene Indira Augusto Mafé 219 Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

Ilustração 133 – Planta de Parcelas a Permutar, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa)

Ilustração 134 – Planta de Implantação do Complexo das Amoreiras, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa)

Luiene Indira Augusto Mafé 220 Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

Ilustração 135 – Estudo Volumétrico do Complexo das Amoreiras, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa)

Ilustração 136 – Planta de Acessos ao Complexo das Amoreiras, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa)

Luiene Indira Augusto Mafé 221 Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

Ilustração 137 – Planta das Habitações do Complexo das Amoreiras, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa)

Ilustração 138 – Alçado Principal do Complexo das Amoreiras, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa)

Ilustração 139 – Corte do Complexo das Amoreiras, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa)

Luiene Indira Augusto Mafé 222 Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

Ilustração 140 – Alçado Poente do Complexo das Amoreira, Tomás Taveira, 1982 (Arquivo Municipal de Lisboa)

Luiene Indira Augusto Mafé 223 Centro Comercial Amoreiras: Marco Arquitetónico e Ícone da Cidade

Luiene Indira Augusto Mafé 224

ANEXO B Plantas do PDM da Área em consideração143

143 Reprodução da CM Lisboa

Planta de Localização *

Requerente:Luiene Mafé Morada:Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, Lote 7-Lote 7A Fracção: 95842-2017 Freguesia:Campo de Ourique Escala 1:5000

Data de Emissão:26/11/2017 Número:

Rua de Artilharia Um

Rua Sampaio e Pina

Travessa Particular 1

Rua de Campolide Autoparque Campolide Travessa Particular 2 Rua Prof. Sousa da Câmara

Vila Cabaço Rua Dom Carlos de Mascarenhas Vila Raul Vila Maia

---- Alto do Carvalhão

Casal Filipe Rua do Garcia Avenida Engenheiro Duarte Pacheco

Tunel Marquês

Tunel Marquês

Rua Maria Ulrich Rua das Amoreiras

Rua Tierno Galvan

Rua José Gomes Ferreira

Pátio do Reis Rua do Arco do Carvalhão

Praça das Águas Livres

Rua Maria Pia

Pátio Fogueteiro Travessa do Barbosa Vila Sergio Vila Reis Rua Gorgel do Amaral

Pátio Sedas Pátio Rua de Campo de Ourique Rua Joshua Benoliel

Beco do Julião

Rua Custódio Vieira

Rua Pereira e Sousa Pátio Estalagem Rua Dom João V Pátio Centro

Beco do Paiol

Rua Silva Carvalho Pátio do Serra

Rua do Sol ao Rua Tomás de Anunciação de Tomás Rua Rua da Arrábida

Rua Correia Teles Rua Ferreira Borges Ferreira Rua

Rua da Páscoa

Projecção Hayford - Gauss, Datum 73, Elipsóide Internacional

* Validade de um mês a partir da data de emissão http://www.cm-lisboa.pt/servicos/formularios Câmara Municipal de Lisboa Campo Grande, 25 1749-099 LISBOA Tel. 217988000 Atend. Municipe. 808203232 [email protected] Certificação de Freguesias *

Requerente:Luiene Mafé Morada:Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, Lote 7-Lote 7A Fracção: 95825-2017 Freguesia:Campo de Ourique Escala 1:5000

Data de Emissão:26/11/2017 Número:

Resultados da Intersecção Avenidas Novas Geográfica Freguesias de acordo com a Lei 56 de 2012 Nome: Campo de Ourique

Freguesias anteriores a 1959 Nome: Santa Isabel

Freguesias de acordo com o Dec-Lei Campolide Autoparque Campolide 42142 de 1959 Rua Prof. Sousa da Câmara Nome: Santa Isabel

Rua Dom Carlos de Mascarenhas Vila Raul

---- Alto do Carvalhão Rua do Arco do Carvalhão

Santo António Tunel Marquês

Tunel Marquês

Rua Maria Ulrich

Rua Tierno Galvan

Rua José Gomes Ferreira

Pátio do Reis

Pátio Fogueteiro Travessa do Barbosa Vila SergioVila Reis

Campo de Ourique Pátio Sedas Pátio

Vila Lino Rua Joshua Benoliel

Beco do Julião Rua de Campo de Ourique Rua Dom João V

Rua Custódio Vieira

Rua Pereira e Sousa Pátio Estalagem Pátio Centro Rua do Sol ao Rato

Rua Silva Carvalho Beco do Paiol

Pátio do Serra Rua Tomás de Anunciação de Tomás Rua Rua da Arrábida

Rua Correia Teles Rua Ferreira Borges Ferreira Rua

Rua da Páscoa Projecção Hayford - Gauss, Datum 73, Elipsóide Internacional Freguesias de acordo com a Lei 56 de 2012 Freguesias anteriores a 1959 Freguesias de acordo com o Dec-Lei 42142 de 1959

* Validade de um mês a partir da data de emissão http://www.cm-lisboa.pt/servicos/formularios Câmara Municipal de Lisboa Campo Grande, 25 1749-099 LISBOA Tel. 217988000 Atend. Municipe. 808203232 [email protected] PDM em Vigor - Qualificação do Espaço Urbano (Uso do Solo) *

Requerente:Luiene Mafé Morada:Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, Lote 7-Lote 7A Fracção: 95830-2017 Freguesia:Campo de Ourique Escala 1:5000

Data de Emissão:26/11/2017 Número:

Resultados da Intersecção Geográfica Qualificação do Espaço Urbano Nome: Espaço Central e Residêncial -Traçado Urbano C Consolidado

Autoparque Campolide

Rua Prof. Sousa da Câmara

Rua do Arco do Carvalhão Rua Dom Carlos de Mascarenhas Vila Raul

---- Alto do Carvalhão

Tunel Marquês

Tunel Marquês

Rua Maria Ulrich

Rua Tierno Galvan

Rua José Gomes Ferreira

Pátio do Reis

Pátio Fogueteiro Travessa do Barbosa

Vila SergioVila Reis Pátio Sedas Pátio

Vila Lino Rua Joshua Benoliel

Beco do Julião Rua de Campo de Ourique Rua Dom João V

Rua Custódio Vieira

Rua Pereira e Sousa Pátio Estalagem Pátio Centro Rua do Sol ao Rato

Rua Silva Carvalho Beco do Paiol

Pátio do Serra Rua Tomás de Anunciação de Tomás Rua Rua da Arrábida

Rua Correia Teles Rua Ferreira Borges Ferreira Rua

Rua da Páscoa Projecção Hayford - Gauss, Datum 73, Elipsóide Internacional Espaço Central e Residêncial -Traçado Urbano A Consolidado Espaço Central e Residêncial -Traçado Urbano B Consolidado Espaço Central e Residêncial -Traçado Urbano C Consolidado Espaço Central e Residencial a Consolidar Espaço Verde de Recreio e Produção Consolidado Espaço de Uso Especial de Equipamentos Consolidado Espaço de Uso Especial de Equipamentos a Consolidar Espaço de Uso Especial de Infraestruturas Consolidado

* Validade de um mês a partir da data de emissão http://www.cm-lisboa.pt/servicos/formularios Câmara Municipal de Lisboa Campo Grande, 25 1749-099 LISBOA Tel. 217988000 Atend. Municipe. 808203232 [email protected] PDM94 - Qualificação do Espaço Urbano *

Requerente:Luiene Mafé Morada:Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, Lote 7-Lote 7A Fracção: 95831-2017 Freguesia:Campo de Ourique Escala 1:5000

Data de Emissão:26/11/2017 Número:

Resultados da Intersecção Geográfica Qualificação do Espaco Urbano 94 Nome: Área Consolidada de Edificios de Utilização Colectiva Mista

Autoparque Campolide

Rua Prof. Sousa da Câmara

Rua do Arco do Carvalhão Rua Dom Carlos de Mascarenhas Vila Raul

---- Alto do Carvalhão

Tunel Marquês

Tunel Marquês

Rua Maria Ulrich

Rua Tierno Galvan

Rua José Gomes Ferreira

Pátio do Reis

Pátio Fogueteiro Travessa do Barbosa

Vila SergioVila Reis Pátio Sedas Pátio

Vila Lino Rua Joshua Benoliel

Beco do Julião Rua de Campo de Ourique Rua Dom João V

Rua Custódio Vieira

Rua Pereira e Sousa Pátio Estalagem Pátio Centro Rua do Sol ao Rato

Rua Silva Carvalho Beco do Paiol

Pátio do Serra Rua Tomás de Anunciação de Tomás Rua Rua da Arrábida

Rua Correia Teles Rua Ferreira Borges Ferreira Rua

Rua da Páscoa Projecção Hayford - Gauss, Datum 73, Elipsóide Internacional Área Histórica Habitacional Área Consolidada de Edificios de Utilização Colectiva Habitacional Área Consolidada de Edificios de Utilização Colectiva Mista Área de Reconversão Urbanística Mista Quintas e Jardins Históricos Área de Usos Especiais Área de Equipamentos e Serviços Públicos Túnel Existente Via Principal Existente Rede Ferroviária Pesada - Túnel Existente U% Interface de passageiros- Nível 2 * Validade de um mês a partir da data de emissão http://www.cm-lisboa.pt/servicos/formularios Câmara Municipal de Lisboa Campo Grande, 25 1749-099 LISBOA Tel. 217988000 Atend. Municipe. 808203232 [email protected] PDM em Vigor - Qualificação do Espaço Urbano (Património Arqueológico e Geológico) *

Requerente:Luiene Mafé Morada:Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, Lote 7-Lote 7A Fracção: 95829-2017 Freguesia:Campo de Ourique Escala 1:5000

Data de Emissão:26/11/2017 Número:

Resultados da Intersecção Geográfica Níveis Arqueológicos Info PDM: Nível Arqueológico III Nome: Nível Arqueológico III

Autoparque Campolide

Rua Prof. Sousa da Câmara

Rua do Arco do Carvalhão Rua Dom Carlos de Mascarenhas Vila Raul

---- Alto do Carvalhão

Tunel Marquês

Tunel Marquês

Rua Maria Ulrich

Rua Tierno Galvan

Rua José Gomes Ferreira

Pátio do Reis

Pátio Fogueteiro Travessa do Barbosa

Vila SergioVila Reis Pátio Sedas Pátio

Vila Lino Rua Joshua Benoliel

Beco do Julião Rua de Campo de Ourique Rua Dom João V

Rua Custódio Vieira

Rua Pereira e Sousa Pátio Estalagem Pátio Centro Rua do Sol ao Rato

Rua Silva Carvalho Beco do Paiol

Pátio do Serra Rua Tomás de Anunciação de Tomás Rua Rua da Arrábida

Rua Correia Teles Rua Ferreira Borges Ferreira Rua

Rua da Páscoa Projecção Hayford - Gauss, Datum 73, Elipsóide Internacional Nível Arqueológico III

* Validade de um mês a partir da data de emissão http://www.cm-lisboa.pt/servicos/formularios Câmara Municipal de Lisboa Campo Grande, 25 1749-099 LISBOA Tel. 217988000 Atend. Municipe. 808203232 [email protected] Planta de Condicionantes do PDM e ARU *

Requerente:Luiene Mafé Morada:Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, Lote 7-Lote 7A Fracção: 95836-2017 Freguesia:Campo de Ourique Escala 1:5000

Data de Emissão:26/11/2017 Número:

Resultados da Intersecção Geográfica Aeroporto de Lisboa Nome: Canais Operacionais - Sector 3B1 Condicionante: Sujeito a parecer da Autoridade Nacional de Aviação Civil, se cota máxima absoluta de construção for igual ou superior a 164m. Autoparque Campolide

Rua Prof. Sousa da Câmara Imóveis Classificados Nome: Aqueduto das Águas Livres, Rua do Arco do Carvalhão seus aferentes e correlacionados Rua Dom Carlos de Mascarenhas Vila Raul (Concelho de Lisboa) / Aqueduto das Águas Livres e Mãe de Água Condicionante: Imóveis Classificados - Monumento Nacional

---- Alto do Carvalhão Zona de Protecção dos Imóveis Nome: Aqueduto das Águas Livres, seus aferentes e correlacionados Tunel Marquês (Concelhos de Lisboa, Amadora, , Oeiras e Sintra) / Tunel Marquês Aqueduto das Águas Livres e Mãe de Água Condicionante: Zona de Protecção dos Rua Maria Ulrich Imóveis Rua Tierno Galvan Área de Reabilitação Urbana (ARU) Rua José Gomes Ferreira Nome: Área de Reabilitação Urbana de Lisboa Pátio do Reis Condicionante: Aviso nº8391/2015 do Dec.Lei 2ªsérie nº148 de 31 Julho de 2015

Pátio Fogueteiro Travessa do Barbosa Vila Sergio Vila Reis Entidades a consultar: Autoridade Nacional de Aviação Civil

CML- Câmara Municipal de Lisboa Pátio Sedas Pátio Vila Lino DGPC - Direção Geral do Património Rua Joshua Benoliel Cultural

Beco do Julião Rua de Campo de Ourique Rua Dom João V

Rua Custódio Vieira

Rua Pereira e Sousa Pátio Estalagem Pátio Centro Rua do Sol ao Rato

Rua Silva Carvalho Beco do Paiol

Pátio do Serra Rua Tomás de Anunciação de Tomás Rua Rua da Arrábida

Rua Correia Teles Rua Ferreira Borges Ferreira Rua

Rua da Páscoa Projecção Hayford - Gauss, Datum 73, Elipsóide Internacional 2 Ferrovias Imóveis Militares Aeroporto de Lisboa Imóveis de Interesse Municipal Monumento Nacional Monumento de Interesse Público Imóvel de Interesse Público Imóveis em Vias de Classificação Zona de Protecção dos Imóveis Zona Especial de Protecção * ValidadeÁrea de de Reabilitação um mês a Urbana partir dade Lisboadata de emissão http://www.cm-lisboa.pt/servicos/formularios Câmara Municipal de Lisboa Campo Grande, 25 1749-099 LISBOA Tel. 217988000 Atend. Municipe. 808203232 [email protected] Património Classificado *

Requerente:Luiene Mafé Morada:Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, Lote 7-Lote 7A Fracção: 95835-2017 Freguesia:Campo de Ourique Escala 1:5000

Data de Emissão:26/11/2017 Número:

Resultados da Intersecção Geográfica Imóveis Classificados Nome: Aqueduto das Águas Livres, seus aferentes e correlacionados (Concelho de Lisboa) / Aqueduto das Águas Livres e Mãe de Água Condicionante: Imóveis Classificados - Monumento Nacional

Autoparque Campolide Zona de Protecção dos Imóveis

Rua Prof. Sousa da Câmara Nome: Aqueduto das Águas Livres, seus aferentes e correlacionados Rua do Arco do Carvalhão (Concelhos de Lisboa, Amadora, Rua Dom Carlos de Mascarenhas Vila Raul Odivelas, Oeiras e Sintra) / Aqueduto das Águas Livres e Mãe de Água Condicionante: Zona de Protecção dos ---- Alto do Carvalhão Imóveis

Entidades a consultar: Tunel Marquês DGPC - Direção Geral do Património Cultural Tunel Marquês

Rua Maria Ulrich

Rua Tierno Galvan

Rua José Gomes Ferreira

Pátio do Reis

Pátio Fogueteiro Travessa do Barbosa

Vila SergioVila Reis Pátio Sedas Pátio

Vila Lino Rua Joshua Benoliel

Beco do Julião Rua de Campo de Ourique Rua Dom João V

Rua Custódio Vieira

Rua Pereira e Sousa Pátio Estalagem Pátio Centro Rua do Sol ao Rato

Rua Silva Carvalho Beco do Paiol

Pátio do Serra Rua Tomás de Anunciação de Tomás Rua Rua da Arrábida

Rua Correia Teles Rua Ferreira Borges Ferreira Rua

Rua da Páscoa Projecção Hayford - Gauss, Datum 73, Elipsóide Internacional Monumento Nacional Monumento de Interesse Público Imóvel de Interesse Público Imóveis em Vias de Classificação Zona de Protecção dos Imóveis Zona Especial de Protecção

* Validade de um mês a partir da data de emissão http://www.cm-lisboa.pt/servicos/formularios Câmara Municipal de Lisboa Campo Grande, 25 1749-099 LISBOA Tel. 217988000 Atend. Municipe. 808203232 [email protected] CMPEP - Carta Municipal do Património Edificado e Paisagístico *

Requerente:Luiene Mafé Morada:Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, Lote 7-Lote 7A Fracção: 95827-2017 Freguesia:Campo de Ourique Escala 1:5000

Data de Emissão:26/11/2017 Número:

10.18 Resultados da Intersecção 50.55 10.37 Geográfica Conjunto Arquitectónico Nome: Conjunto arquitectónico das Amoreiras Código IMP: 30.03 Info PDM: Conjunto Arquitectónico

10.21 10.2010.33 10.31 10.32 10.22 Autoparque Campolide

Rua Prof. Sousa da Câmara

Rua do Arco do Carvalhão Rua Dom Carlos de Mascarenhas Vila Raul

10.24

---- Alto do Carvalhão

10.24

10.24

Tunel Marquês

Tunel Marquês 30.05

30.03 Rua Maria Ulrich 30.36 Rua Tierno Galvan 30.36

Rua José Gomes Ferreira

30.06 30.01 Pátio do Reis

Pátio Fogueteiro Travessa do Barbosa

Vila SergioVila Reis Pátio Sedas Pátio

Vila Lino Rua Joshua Benoliel

Rua de Campo de Ourique Rua Dom João V 35.35 Beco do Julião 30.07

Rua Custódio Vieira

Rua Pereira e Sousa Pátio Estalagem Pátio Centro Rua do Sol ao Rato 30.55

Rua Silva Carvalho Beco do Paiol Pátio do Serra Rua Tomás de Anunciação de Tomás Rua 30.12 Rua da Arrábida

Rua Correia Teles 30.57 30.37 Rua Ferreira Borges Ferreira Rua 30.64 30.56

Rua da Páscoa Projecção Hayford - Gauss, Datum 73, Elipsóide Internacional Imóvel Conjunto Arquitectónico Logradouro

* Validade de um mês a partir da data de emissão http://www.cm-lisboa.pt/servicos/formularios Câmara Municipal de Lisboa Campo Grande, 25 1749-099 LISBOA Tel. 217988000 Atend. Municipe. 808203232 [email protected] Planta de Servidão Aeronáutica *

Requerente:Luiene Mafé Morada:Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, Lote 7-Lote 7A Fracção: 95837-2017 Freguesia:Campo de Ourique Escala 1:5000

Data de Emissão:26/11/2017 Número:

Resultados da Intersecção Geográfica ANA- Áreas Sujeitas a Servidão Aeronáutica Nome: Canais Operacionais - Sector 3B1 Condicionante: Sujeito a parecer da Autoridade Nacional de Aviação Civil, se cota máxima absoluta de construção for igual ou superior a Autoparque Campolide 164m.

Rua Prof. Sousa da Câmara

Rua do Arco do Carvalhão Rua Dom Carlos de Mascarenhas Vila Raul

---- Alto do Carvalhão

Tunel Marquês

Tunel Marquês

Rua Maria Ulrich

Rua Tierno Galvan

Rua José Gomes Ferreira

Pátio do Reis

Pátio Fogueteiro Travessa do Barbosa

Vila SergioVila Reis Pátio Sedas Pátio

Vila Lino Rua Joshua Benoliel

Beco do Julião Rua de Campo de Ourique Rua Dom João V

Rua Custódio Vieira

Rua Pereira e Sousa Pátio Estalagem Pátio Centro Rua do Sol ao Rato

Rua Silva Carvalho Beco do Paiol

Pátio do Serra Rua Tomás de Anunciação de Tomás Rua Rua da Arrábida

Rua Correia Teles Rua Ferreira Borges Ferreira Rua

Rua da Páscoa Projecção Hayford - Gauss, Datum 73, Elipsóide Internacional 3b1, Zona 3, Canais Operacionais - Sector 3B1 7, Zona 7, Superfície Cónica de Transição

* Validade de um mês a partir da data de emissão http://www.cm-lisboa.pt/servicos/formularios Câmara Municipal de Lisboa Campo Grande, 25 1749-099 LISBOA Tel. 217988000 Atend. Municipe. 808203232 [email protected] Área de Reabilitação Urbana *

Requerente:Luiene Mafé Morada:Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, Lote 7-Lote 7A Fracção: 95834-2017 Freguesia:Campo de Ourique Escala 1:5000

Data de Emissão:26/11/2017 Número:

Resultados da Intersecção Geográfica Área de Reabilitação Urbana (ARU) Nome: Área de Reabilitação Urbana de Lisboa Condicionante: Aviso nº8391/2015 do Dec.Lei 2ªsérie nº148 de 31 Julho de 2015

Autoparque Campolide Entidades a consultar:

Rua Prof. Sousa da Câmara CML- Câmara Municipal de Lisboa

Rua do Arco do Carvalhão Rua Dom Carlos de Mascarenhas Vila Raul

---- Alto do Carvalhão

Tunel Marquês

Tunel Marquês

Rua Maria Ulrich

Rua Tierno Galvan

Rua José Gomes Ferreira

Pátio do Reis

Pátio Fogueteiro Travessa do Barbosa

Vila SergioVila Reis Pátio Sedas Pátio

Vila Lino Rua Joshua Benoliel

Beco do Julião Rua de Campo de Ourique Rua Dom João V

Rua Custódio Vieira

Rua Pereira e Sousa Pátio Estalagem Pátio Centro Rua do Sol ao Rato

Rua Silva Carvalho Beco do Paiol

Pátio do Serra Rua Tomás de Anunciação de Tomás Rua Rua da Arrábida

Rua Correia Teles Rua Ferreira Borges Ferreira Rua

Rua da Páscoa Projecção Hayford - Gauss, Datum 73, Elipsóide Internacional Área de Reabilitação Urbana de Lisboa

* Validade de um mês a partir da data de emissão http://www.cm-lisboa.pt/servicos/formularios Câmara Municipal de Lisboa Campo Grande, 25 1749-099 LISBOA Tel. 217988000 Atend. Municipe. 808203232 [email protected] Direitos de Preferência *

Requerente:Luiene Mafé Morada:Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, Lote 7-Lote 7A Fracção: 95826-2017 Freguesia:Campo de Ourique Escala 1:5000

Data de Emissão:26/11/2017 Número:

Resultados da Intersecção Geográfica Imóveis Classificados Nome: Aqueduto das Águas Livres, seus aferentes e correlacionados (Concelho de Lisboa) / Aqueduto das Águas Livres e Mãe de Água Condicionante: Imóveis Classificados - Monumento Nacional

Autoparque Campolide Zona de Protecção dos Imóveis

Rua Prof. Sousa da Câmara Nome: Aqueduto das Águas Livres, seus aferentes e correlacionados Rua do Arco do Carvalhão (Concelhos de Lisboa, Amadora, Rua Dom Carlos de Mascarenhas Vila Raul Odivelas, Oeiras e Sintra) / Aqueduto das Águas Livres e Mãe de Água Condicionante: Zona de Protecção dos ---- Alto do Carvalhão Imóveis

Área de Reabilitação Urbana (ARU) Nome: Área de Reabilitação Urbana de Tunel Marquês Lisboa Condicionante: Aviso nº8391/2015 do Tunel Marquês Dec.Lei 2ªsérie nº148 de 31 Julho de 2015

Rua Maria Ulrich Rua Tierno Galvan Entidades a consultar: CML- Câmara Municipal de Lisboa Rua José Gomes Ferreira DGPC - Direção Geral do Património Cultural Pátio do Reis

Ao abrigo do Decreto-Lei nº 307/2009, de 23 de outubro, com a redação dada Pátio Fogueteiro Travessa do Barbosa pela Lei nº 32/2012, de 14 de Vila Sergio Vila Reis agosto, da Lei nº 107/2001, de 8 de setembro, e legislação complementar,

o imóvel referenciado está situado Pátio Sedas Pátio Vila Lino em área abrangida por direito de Rua Joshua Benoliel preferência do Município de Lisboa, Rua de Campo de Ourique Beco do Julião Rua Dom João V pelo que deverá contactar os serviços municipais para solicitação de declaração. Rua Custódio Vieira

Rua Pereira e Sousa Pátio Estalagem Pátio Centro Rua do Sol ao Rato

Rua Silva Carvalho Beco do Paiol

Pátio do Serra Rua Tomás de Anunciação de Tomás Rua Rua da Arrábida

Rua Correia Teles Rua Ferreira Borges Ferreira Rua

Rua da Páscoa Projecção Hayford - Gauss, Datum 73, Elipsóide Internacional Imóveis de Interesse Municipal Monumento Nacional Monumento de Interesse Público Imóvel de Interesse Público Imóveis em Vias de Classificação Zona de Protecção dos Imóveis Zona Especial de Protecção Área de Reabilitação Urbana de Lisboa

* Validade de um mês a partir da data de emissão http://www.cm-lisboa.pt/servicos/formularios Câmara Municipal de Lisboa Campo Grande, 25 1749-099 LISBOA Tel. 217988000 Atend. Municipe. 808203232 [email protected] Ruído Global - Período Diurno-Entardecer-Nocturno *

Requerente:Luiene Mafé Morada:Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, Lote 7-Lote 7A Fracção: 95839-2017 Freguesia:Campo de Ourique Escala 1:5000

Data de Emissão:26/11/2017 Número:

Resultados da Intersecção Geográfica RUIDO- Ruído Geral Diurno (db) Nível LDEN: 60 < Lden <= 65 Nível LDEN: 65 < Lden <= 70 Nível LDEN: Lden > 70

Autoparque Campolide

Rua Prof. Sousa da Câmara

Rua do Arco do Carvalhão Rua Dom Carlos de Mascarenhas Vila Raul

---- Alto do Carvalhão

Tunel Marquês

Tunel Marquês

Rua Maria Ulrich

Rua Tierno Galvan

Rua José Gomes Ferreira

Pátio do Reis

Pátio Fogueteiro Travessa do Barbosa

Vila SergioVila Reis Pátio Sedas Pátio

Vila Lino Rua Joshua Benoliel

Beco do Julião Rua de Campo de Ourique Rua Dom João V

Rua Custódio Vieira

Rua Pereira e Sousa Pátio Estalagem Pátio Centro Rua do Sol ao Rato

Rua Silva Carvalho Beco do Paiol

Pátio do Serra Rua Tomás de Anunciação de Tomás Rua Rua da Arrábida

Rua Correia Teles Rua Ferreira Borges Ferreira Rua

Rua da Páscoa Projecção Hayford - Gauss, Datum 73, Elipsóide Internacional Lden <= 55 55 < Lden <= 60 60 < Lden <= 65 65 < Lden <= 70 Lden > 70

* Validade de um mês a partir da data de emissão http://www.cm-lisboa.pt/servicos/formularios Câmara Municipal de Lisboa Campo Grande, 25 1749-099 LISBOA Tel. 217988000 Atend. Municipe. 808203232 [email protected] Ruído Global - Período Nocturno *

Requerente:Luiene Mafé Morada:Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, Lote 7-Lote 7A Fracção: 95841-2017 Freguesia:Campo de Ourique Escala 1:5000

Data de Emissão:26/11/2017 Número:

Resultados da Intersecção Geográfica RUIDO- Ruído Geral Nocturno Nível LN: 50 < Ln <= 55 Nível LN: 55 < Ln <= 60 Nível LN: Ln > 60

Autoparque Campolide

Rua Prof. Sousa da Câmara

Rua do Arco do Carvalhão Rua Dom Carlos de Mascarenhas Vila Raul

---- Alto do Carvalhão

Tunel Marquês

Tunel Marquês

Rua Maria Ulrich

Rua Tierno Galvan

Rua José Gomes Ferreira

Pátio do Reis

Pátio Fogueteiro Travessa do Barbosa

Vila SergioVila Reis Pátio Sedas Pátio

Vila Lino Rua Joshua Benoliel

Beco do Julião Rua de Campo de Ourique Rua Dom João V

Rua Custódio Vieira

Rua Pereira e Sousa Pátio Estalagem Pátio Centro Rua do Sol ao Rato

Rua Silva Carvalho Beco do Paiol

Pátio do Serra Rua Tomás de Anunciação de Tomás Rua Rua da Arrábida

Rua Correia Teles Rua Ferreira Borges Ferreira Rua

Rua da Páscoa Projecção Hayford - Gauss, Datum 73, Elipsóide Internacional ￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿ ￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿ ￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿ ￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿￿

* Validade de um mês a partir da data de emissão http://www.cm-lisboa.pt/servicos/formularios Câmara Municipal de Lisboa Campo Grande, 25 1749-099 LISBOA Tel. 217988000 Atend. Municipe. 808203232 [email protected]