Decolonizando Sexualidades: Enquadramentos Coloniais E Homossexualidade Indígena No Brasil E Nos Estados Unidos
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO SOBRE AS AMÉRICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS COMPARADOS SOBRE AS AMÉRICAS Decolonizando sexualidades: Enquadramentos coloniais e homossexualidade indígena no Brasil e nos Estados Unidos Estevão Rafael Fernandes Brasília, 2015 ESTEVÃO RAFAEL FERNANDES Decolonizando sexualidades: Enquadramentos coloniais e homossexualidade indígena no Brasil e nos Estados Unidos Trabalho de tese apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – Estudos Comparados sobre as Américas do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas (Ceppac) da Universidade de Brasília, como exigência parcial para a obtenção do Título de Doutor em Estudos Comparados sobre as Américas, sob orientação do Prof. Dr. Cristhian Teófilo da Silva. Brasília 2015 Banca Examinadora Prof. Dr. Cristhian Teófilo da Silva (Ceppac/UnB – Orientador) Prof.ª Dr.ª Lilia Gonçalves Magalhães Tavolaro (Ceppac/UnB) Prof.ª Dr.ª Simone Rodrigues Pinto (Ceppac/UnB) Prof.ª Dr.ª Barbara Maisonnave Arisi (UNILA) Prof. Dr. Sulivan Charles Barros (UFG) Suplente: Prof. Dr. Stephen Grant Baines (Ceppac/UnB) 3 Agradecimentos As páginas que se seguem são a soma do esforço de muita gente, que me ajudou a pensar estas questões e/ou me suportou neste percurso. Há muita gente a agradecer e certamente sem essas pessoas este trabalho não teria chegado a êxito – ou eu não teria sobrevivido até aqui! Em primeiro lugar, agradeço imensamente ao meu orientador, Prof. Cristhian Teófilo, por haver acreditado em mim e no Projeto desde o início. Sem sua orientação, competência e paciência, não sei onde eu estaria! Agradeço ainda, a cada professor e servidor do Ceppac: em especial aos professores Camilo Negri, Fernanda Sobral, Flávia Barros, Henrique de Castro, Jacques Novion, Leonardo Cavalcanti, Lia Zanotta, Lilia Tavolaro, Moisés Balestro, Rebecca Igreja, Simone Rodrigues e Stephen Baines, pelo conhecimento passado no percurso, bem como à querida Jacinta, por todo o suporte e apoio na Secretaria do Programa, bem como ao Eduardo, nesta reta final. Tenho uma dívida de gratidão com os membros da banca - somando, aos citados acima, os professores Sulivan Barros e Bárbara Arisi -; por seu papel chave na confecção do trabalho e na tessitura dos temas que trabalho aqui. Meu muito obrigado também às professoras Ângela Sacchi e Rita Segato, pela paciência, conversas e ideias. Ainda falando do Ceppac, registro os agradecimentos aos colegas e amigos das turmas 2012 e 2013 do Mestrado e do Doutorado, além dos amigos que fui fazendo quando cursava disciplinas em outros Departamentos: na Antropologia pude conhecer pessoas ótimas como Francisco e Sâmia; no Ceppac descobri pessoas maravilhosas, que espero manter para sempre por perto, mesmo que longe: Renata, Daniel, Terêncio, Verônica, Osvaldo, Aline, Alena, Guilherme, Katie, Gustavo, e tantos outros! Some-se a esses os amigos do LAEPI, em especial Sandra, Liliana, Wildes, Juliana, Tamara e Thiago. Longe dali, em terras rondonienses, preciso agradecer aos colegas Ari, Márcia, Patrícia, Vinícius, Arneide, do Departamento de Ciências Sociais e aos colegas da Filosofia, Clarides, Leno e Fernando Danner, Vicente (e Leila) pela força e apoio até aqui. Mais longe ainda, agradeço ao acolhimento do Professor Walter Mignolo durante o período que passei na Duke University, bem como a sua equipe (especialmente Maria Maschauer e Tracy Carhart), à equipe da Duke International House, aos professores 4 Catherine Walsh, Mark Rifkin, Emilio Escalante e Esther Gabara, pelo acolhimento; e aos colegas e amigos Giulia, Ivan e Raul, por me fazerem sentir em casa, mesmo tão longe. Também na Duke, agradeço aos amigos de nossa pequena comunidade de brasileiros, em especial ao colega Pedro Mendes. Na esfera mais íntima, posso dizer que sobrevivi graças a Deus e ao apoio de amigos queridos, como Felipe Vander Velden e Aline Alves Ferreira (e Jorginho, claro!), aos queridos Homero, Jamily e Florence, e à minha família: meus irmãos, Lia, Otávio, Meire; meus pais, Leonel e Bete, minha cunhada, Renata (e Danilo), minha sogra, Carmelina, e meu sogro, Mário – e Luna. Fica ainda uma homenagem às minhas tias, Maria Augusta e Joaninha, pelo acolhimento e apoio incondicional, bem como à tia Olinda (in memoriam). Finalmente, agradeço a minha esposa, Ana Luiza, companheira de jornada, por ser meu porto seguro nos momentos mais complicados e difíceis: nada disso seria possível sem seu apoio, presença e paciência. Agradeço ainda imensamente a todas as pessoas que foram entrevistadas ou me acolheram durante o trabalho de campo que tornou possível esta pesquisa. Por uma questão de anonimato, não posso citá-los aqui, nominalmente, mas serei eternamente grato, por tudo. Cada uma dessas páginas possui um pouco dessas pessoas e de muitas outras, as quais, por espaço, não pude incluir... espero ter feito jus a cada uma delas neste trabalho. Não posso esquecer de agradecer ao CNPq e à Capes pelos recursos disponibilizados para esta pesquisa, por meio Edital Universal do Cnpq (Processo n.º 472316/2011-7) e do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior da Capes (Processo n.º 8145-13-0). 5 AMÉRICA NO INVOCO TU NOMBRE EN VANO América, no invoco tu nombre en vano. Cuando sujeto al corazón la espada, cuando aguanto en el alma la gotera, cuando por las ventanas un nuevo día tuyo me penetra, soy y estoy en la luz que me produce, vivo en la sombra que me determina, duermo y despierto en tu esencial aurora: dulce como las uvas, y terrible, conductor del azúcar y el castigo, empapado en esperma de tu especie, amamantado en sangre de tu herencia.1 (Pablo Neruda, Canto General) “I write to record what others erase when I speak, to rewrite the stories others have miswritten about me, about you2” (Gloria Anzaldúa, Speaking in tongues: A letter to Third World women writers) 1 “América, não invoco o teu nome em vão. Quando sujeito ao coração a espada, quando aguento n´alma a goteira, quando pelas janelas um novo dia teu me penetra, sou e estou na luz que me produz, vivo na sombra que me determina, durmo e desperto em tua essencial aurora: doce como as uvas, e terrível, condutor do açúcar e o castigo, sorvido em esperma de tua espécie, amamentado em sangue de sua herança”. 2 “Eu escrevo para lembrar o que outros apagam quando eu falo, para reescrever as histórias que outros emendaram sobre mim, sobre você” 6 Resumo A partir da comparação entre Brasil e Estados Unidos, esta tese investiga as várias formas de manejo moral dos povos indígenas imbricadas em sua incorporação compulsória ao sistema colonial, bem como as respostas por parte dos povos indígenas nestes dois países. Tal comparação buscou incorporar as perspectivas two-spirit e decolonial a fim de compreender os caminhos a partir dos quais a subalternização da homossexualidade indígena passa a ser parte inerente da colonização. Assim, entendemos que a colonização equivale, necessariamente, à criação de um aparato burocrático-administrativo, político e psicológico (o enquadramento, em suas múltiplas formas) para normalizar as sexualidades indígenas, moldando-as à ordem colonial. Entretanto, tais práticas de disciplinamento não impedem respostas por parte dos indígenas cujas sexualidades operam fora do modelo hegemônico, de modo que tais formas de contestação nos permitem compreender mais sobre os movimentos indígenas, as relações interétnicas, políticas indigenistas e indigenistas, assim como relações de poder nestes dois contextos nacionais. Palavras-Chave: Homossexualidade indígena; Colonialidade; two-spirit; etnologia indígena; movimentos indígenas; relações interétnicas 7 Abstract From the comparison between Brazil and the United States, this thesis investigates various forms of moral management of indigenous peoples intertwined in their compulsory incorporation into the colonial system as well as the responses of the indigenous peoples in these two countries. Such a comparison sought to incorporate the two-spirit and decolonial perspectives in order to understand the paths from which the subordination of indigenous homosexuality become an inherent part of colonization. Thus, we understand that colonization necessarily mean the creation of a bureaucratic- administrative, political and psychological apparatus (straightening, in its many forms) to normalize indigenous sexuality, shaping them to the colonial order. However, such discipline practices do not prevent responses by the natives whose sexuality operates out of the hegemonic model, and such forms of contestation allow us to understand more about indigenous movements, interethnic relations, indigenous and policies, as well as relations power in these two national contexts. Keywords: Indigenous Homosexuality; Coloniality; Two-Spirit; Ethnology; Indigenous Movements; Interethnic Relations 8 Lista de Figuras Figura 1 – Gravura de Theodor de Bry, representando a execução de “índios sodomitas” por Núñez de Balboa, publicada em “Grand Voyages, Vol. IV” (Frankfurt, 1594) 96 Figura 2 – Xilografura anônima Lettera de Americo Vespúcio. Edição alemã de Joannes Gruninger (Estrasburgo, 1509) 112 Figura 3 - Casal de Índios do Rio Branco, pintada por Joaquim José Codina ou José Joaquim Freire 155 Figura 4 - Detalhe de caricatura de Ângelo Agostini, publicada na Revista Illustrada n. 310, em 1882 (pp. 4-5), por ocasião da Exposição Anthropologica Brazileira. Nas legendas lê-se “Para não assustar nossos assignantes, damos somente o retrato de um botocudo, ou antes, de uma botocuda. Que beiço!” 181 Figura 5 - Outro detalhe da mesma caricatura. Nas legendas lê-se “Imaginem dois botocudos enamorando-se e dando beijos! Que idyllio!” 181 Figura 6 - Escola do Posto Indígena com grupo de alunos Kaingang durante hasteamento da Bandeira Nacional, Acervo Museu do Índio (Foto de Heinz Foerthmann, 1942) 222 Figura 7 - We’wha (1895, aproximadamente) 238 Figura 8 - Representação da Medicine Wheel no Smithsonian Museu of Indian History, Washington (Foto do autor, Junho de 2014) 254 Figura 9 - Representação: two-spirit na medicine wheel 255 Figura 10 – Tom Torlino, ao chegar à Carlisle em 1882 (à esquerda) e em 1885 (à direita) 282 9 Sumário Capítulo 1 - Urdindo a pesquisa 13 1.1.Apresentação 13 1.2.