Universidade De São Paulo Faculdade De Educação Iê
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE EDUCAÇÃO IÊ, VIVA MEU MESTRE A Capoeira Angola da ‘escola pastiniana’ como práxis educativa Rosângela Costa Araújo Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutora em Educação. Orientadora: Professora Doutora Roseli Fischmann São Paulo 2004 Dedicado à memória de Vicente Ferreira Pastinha (1889-1991) – Mestre Pastinha, e Nzinga Mbandi Ngola (1581-1663) – Rainha Jinga, ancestrais deste trabalho. À Ricardo Mendonça e Uiraí Fuscaldo, em memória. ii AGRADECIMENTOS Começo agradecendo a minha orientadora, Profª. Drª. Roseli Fischmann pelos ensinamentos que me possibilitaram agregar ao difícil caminho do fazer institucional a crença sobre o valor da amizade, do amor, da confiança e da paixão na esfera do inconformismo e da resistência. Também por acolher esta proposta de pesquisa, e com ela, minhas dificuldades e limitações. Sem dúvida alguma este trabalho situa-se na tomada de referência de uma pessoa que me encorajou na vivência humanizada do conhecimento, pela ética. Aos professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, pelos muitos ensinamentos e trocas, ao longo de todo o Programa. Ao CNPq, pela concessão de bolsa de doutoramento por um período de dois anos. Aos vários professores e colegas nos vários departamentos da Universidade de São Paulo, com especial agradecimento aos professores Antônio Sérgio Guimarães (Departamento de Sociologia), Kabengele Munanga (Departamento de Antropologia) e também Ernst W. Hamburger e Dilma de Melo e Silva por apoiar as muitas necessidades de formação que esta pesquisa impôs durante a minha permanência na equipe da Estação Ciência Centro de Difusão Científica, Tecnológica e Cultural da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo. Aos capoeiristas de várias gerações pelos muitos ensinamentos, sobretudo aos angoleiros que se dedicam à preservação dos ensinamentos da escola pastiniana, pelas colaborações e trocas constantes, enquanto aprendizado da sua manutenção. Agradeço especialmente aos meus mestres, João Grande, Moraes e Cobra Mansa, por me ajudarem a reconhecer na nossa filosofia de vida, o lugar da comunidade e da solidariedade nos ensinamentos da Capoeira Angola. iii Às companheiras do Geledés - Instituto da Mulher Negra, pelo acolhimento às minhas inquietações de educadora “metida com estas coisas de cultura”. A Cidinha da Silva, pelos muitos ensinamentos sobre a nossa juventude negra e os desafios impostos à construção da história das ações afirmativas no Brasil. Para além disto, pela confiança e incentivo no alargamento ao lastro do meu próprio sonho. A Paula Barreto e Paulo Barreto, parceiros de sempre. A Elisabeth Zolcsak, pelas leituras, sugestões e construções que acrescentaram a este trabalho a junção de informações técnicas e conceituais, bem como padrões estéticos importantes para as muitas linguagens aqui propostas, e também pelas valorosas demonstrações de confiança e amizade. A Manoela Ziggiatti, Selma Perez, Valesca Rios e Eduardo de Andrea (Kito), da Itinerante Filmes, pela realização do vídeo-documentário, apêndice deste trabalho. A minha família, pela compreensão sobre as minhas visitas rápidas justificadas numa “tal faculdade que não acaba nunca”. Aos jovens do Projeto Afro Ascendentes e do Projeto Geração XXI, pela oportunidade de construirmos juntos a crença de que nos formamos a partir da nossa história e da história dos nossos ancestrais. Às crianças e familiares do Projeto Ginga Muleeke e às senhoras do Projeto Kakurukaju, ambos do Instituto Nzinga, a minha mais profunda gratidão por acreditarem em nossa proposta comunitária e por nos ajudar a ampliar nosso conceito de diversidade. A vereadora Tita Dias, do Partido dos Trabalhadores, e a minha querida amiga Graça Cremon, por me concederem a honra de tornar-me também uma Cidadã Paulistana. A Marília Andrade e funcionários do Elenko KVA, pelo acolhimento e parcerias. iv Aos queridos amigos do Instituto Nzinga de Capoeira Angola, na tentativa de dialogar com o muito que me ensinam, e na esperança de que, no futuro, este trabalho seja questionado e superado com muito mais talento. Ao tata Mutá Imê, pelo chão tão bem cuidado, mocoiú. v Roda de Angoleiros1 IÊ, MAIOR É DEUS...2 Iê, maior é Deus... Pequeno, sou eu. O que eu tenho Foi Deus quem me deu. O que eu dou e o que eu tenho Foi Deus quem me deu. Na Roda da capoeira... Grande e pequeno sou eu, camará... 1 .Foto realizada pelo contramestre Poloca durante o II Encontro Internacional de Capoeira Angola, na Fundição Progresso, Rio de Janeiro, RJ, em 2002. 2 Canção de domínio público, registrada na forma de ladainha de capoeira através de gravação feita com Mestre Pastinha (Muricy, 1999). vi RESUMO Rosângela Costa ARAÚJO. IÊ, VIVA MEU MESTRE. A Capoeira Angola da ‘escola pastiniana’ como práxis educativa. São Paulo, Feusp, 2004 (tese de doutorado). Este trabalho apresenta a Capoeira Angola proposta pela escola pastiniana como uma práxis pedagógica articulada a ancestralidade e que toma a ancestralidade, a oralidade e a comunidade como paradigmas de pertencimento à dinâmica das tradições africanas no Brasil, dialogando permanentemente com o entendimento sobre a resistência negra e sua permanência nos fazeres educacionais destas matrizes, e apresentando-se sob a forma de comunidades culturais. Este trabalho lida com uma realidade, marcada não apenas pelo ressurgimento, mas pelo crescimento do estilo Capoeira Angola, tida como a capoeira tradicional, africana, através de novas gerações de mestres e contramestres originários da linhagem pastiniana (Mestre Pastinha, 1889-1981), e orientados por ela, buscando apresentar os resultados das suas práticas como um rico material para se repensar o lugar das tradições quando em constante entrosamento com os saberes produzidos nos sistemas oficiais de ensino. Desta forma, busca encaminhar ao campo da Educação a proposta de ampliar as bases de entendimento destas tradições fazendo-as migrar do lugar ingênuo e fossilizado da sua folclorização, e também do seu entendimento meramente desportivo, para dialogar com professores, educadores e movimentos sociais, outros entendimentos - filosóficos, espirituais, políticos, etc. - sobre os saberes tradicionais africanos na formação do conhecimento e demais códigos civilizatórios brasileiros. Aqui, apontamos o lugar da identidade na compreensão sobre a importância da alteridade a partir de um exemplo que transcende barreiras culturais e geográficas, sócio-econômicas, religiosas, etárias e, mais recentemente, de gênero, como um enfoque pertinente à contemplação do corpo como espaço sagrado onde é possível elaborar estruturas de autoconhecimento e de construção reflexiva da sociedade mais ampla. Para isto, este trabalho recorreu à análise de materiais produzidos em algumas organizações de Capoeira Angola pertencentes a uma mesma linhagem, embora em localidades distintas, concluindo a existência de um conhecimento cujas bases de continuidade estão assentadas na pertença à escola pastiniana como aspecto de resistência cultural frente aos processos de massificação verificados sobre a capoeira hegemônica, conhecida como Capoeira Regional. Unitermos: Capoeira Angola, educação, ancestralidade, escola pastiniana, identidade Área de Concentração: Cultura, Organização, Educação Banca Examinadora: Orientadora: Profª Drª Roseli Fischmann Examinadores: Profª. Drª. Inaicyra Falcão do Santos, Profª. Drª. Conceição Aparecida de Jesus, Profª. Drª. Dilma Melo e Silva, Profª. Drª. Maria Cecília Cortez Christiano de Souza, Suplentes: Prof. Dr. Marcos Ferreira dos Santos e Prof. Dr. Rafael Santos. Data de defesa: 21 de setembro de 2004. Rosângela Costa Araújo, é natural de Feira de Santana (Bahia). Formada em História pela Universidade Federal da Bahia, realizou Mestrado em Educação na Universidade de São Paulo. É contramestre de Capoeira Angola, sendo fundadora e presidente do Instituto Nzinga de Capoeira Angola. Contato: [email protected] vii ABSTRACT Rosângela Costa ARAÚJO. IÊ, VIVA MEU MESTRE. The Capoeira Angola from the “escola pastiniana‘’ as pedagogical praxis. São Paulo, Faculty of Education, University of São Paulo, 2004 (thesis (PhD). This work presents the Capoeira Angola proposed by the “escola pastiniana” as a pedagogical praxis. It includes the ancestral-root aspects and also the oral communication and community as a paradigm pertaining to the dynamics of the African traditions in Brazil. This work constantly expresses the understanding of the black resistance and its participation in the educational tasks of theses matrixes, and it is presented as cultural communities. It represents a new reality, which is not only marked by the revival, but also by the growth of the previously mentioned style of Capoeira, which is considered the traditional African one. This new reality is represented by new generations of mestres and contramestres from the “linhagem pastiniana” (Master Pastinha, 1889-1981), and guided by it, and it also tries to present the results of its practices as a rich material to rethink the importance of these traditions and their integration with the knowledge acquired at the official school systems. In so doing, the work tries to present to educational systems the proposal of enlarging the bases of understanding of these traditions by moving them from the naive and fossilized point of view of folklore, and also from their merely developmental