Renascer Da Esperança -.:: Biblioteca Virtual Espírita
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RENASCER DA ESPERANÇA Pelo Espírito lucius Psicografia de Sandra Carneiro vivaluz Copyright 2004 by VIVALUZ EDITORA ESPÍRITA LTDA Av. Dona Gertrudes, 1076 - sala 02 Telefone: (Oxx11) 4402.2312 CEP: 12940-580 - Atibaia - SP. [email protected] Lucius (Espírito) Renascer da Esperança / Lucius: psicografia de Sandra Carneiro. Atibaia, SP: Vivaluz, 2004. ISBN 85-89202-03-8 1. Espiritismo - Obras psicografadas. I. Carneiro Sandra II Título índices para catálogo sistemático: 1. Romance espírita: Espiritismo 133.9 4a. edição Junho 2006 8.000 exemplares Revisão de texto: Maria Helena de Mola Capa e projeto gráfico: SGuerra Design Coordenação editorial: Alexandre Marques Impressão: Lis Gráfica e Editora Impresso no Brasil / Printed in Brazil É proibido a reprodução de parte ou totalidade dos textos sem autorização pr évia do editor Embora este romance utilize experiências verdadeiras vividas por diversas personagens, para aprendizado de todos nós, não se propõe narrar fat os históricos, não obstante revele casos que ocorreram nos primórdios do Espiritismo. Lucius PREFÁCIO O encontro da alma humana com o Criador é a experiência mais profunda e uma das mais desejadas por todos nós, quer estejamos encarnados ou fora do corpo físico. Ao vasculharmos nossos mais íntimos anseios, percebemos ess a necessidade, por vezes adormecida e até amortecida. Quando a alma se abre para a luz divina, inicia a compreensão de si mesma e do Universo à sua volta. A existência ganha novo significado e pas samos a melhor entender nosso papel no mundo; e encontrando nosso lugar, começamos a faz er real diferença. Sentimos como se o mundo, antes acinzentado e sombrio, adquirisse brilho e cor. E o princípio da jornada de autoconhecimento e de descoberta das verd ades espirituais. O homem adia essa caminhada, iludindo-se e distraindose com extrema facilidade; entretanto, a dor e o sofrimento o alcançam, levando-o a lutar p ara tirar de seu interior a angústia e o desespero. Muitos se entregam à revolta e ao desalento, desistindo da vida. Ainda assim, Deus continua esperando Sua cr iatura acordar do torpor em que está submersa e enxergar a luz mextinguível que sempre a envolveu, sem que se desse conta. A 9 Providência se faz presente de mil modos diferentes, cuidando de nós e nos guiando. A Doutrina Espírita, codificada e sintetizada pelo grande companhei ro Allan Kardec, amplia nosso entendimento do Criador e de Suas leis, desco rtinando as verdades do mundo invisível, ajudando-nos a compreender melhor nossa exist ência, nossa realidade interior e a realidade social a que estamos vincula dos. Em toda a história da Humanidade, Deus conduziu os acontecimentos e, amoroso e atuante, enviou socorro àqueles que se desviavam do caminho do bem e do amor, mas que a ele desejavam retomar. Na infância do espírito humano, os ensinos religiosos educavam com r igor, sem admitir questionamentos, pois éramos ainda limitados para realizar raciocínios complexos. No tempo em que o homem já estava mais preparado, Deus enviou Jesus, o espírito mais puro e perfeito que viveu sobre a Terra, para nos revelar as verdades espirituais e nos transmitir as lições morais de que tanto necessitávamos, e assim nos reaproximar do Pai. Todavia, o Mestre dos Mestres não podia des vendar mistérios que naquela etapa o homem seria incapaz de compreender. Quando, mais amadurecida, a Humanidade viu a ciência florescer, tra zendo o conhecimento de fatos antes encobertos pelo misticismo e pelas cren dices da ignorância, Deus enviou a Doutrina Espírita, que, penetrando o invisível, harmoniza o homem com sua essência divina. Através deste romance, desejamos convidar o leitor a testemunhar a experiência de homens e mulheres que enfrentaram seu destino e viram a espe rança renascer em seus corações, vivendo o momento histórico em que novo alento chegava à Terra: a revelação espírita acontecia por todo o mundo. Rogamos ao Pai que a mesma luz que um dia nos tocou, conscientizan do-nos de Seu amor e Sua grandeza infinitos, 10 RENASCER. DA ESPERANÇA possa alcançá-lo, amigo leitor, despertando-o para a magnitude da Vida da qual fazemos parte. Somos filhos de Deus e por isso imprescindíveis onde q uer que estejamos. Entreguemos o melhor que temos ao Criador, e seremos surpreendidos pela inesgotável fonte de bênçãos, sabedoria, luz e amor a que iremos nos c onectar. Lucius 11 Lucius SANDRA CARNEIRO Capítulu um Era um dia frio. O vento gélido castigava o corpo cansado de Emilie, que ca minhava titubeante pelas estreitas vielas de Bilbao, pequena província ao n orte da Espanha. Enxugando as lágrimas que não paravam de correr por seu rosto, ela procura va desviar os olhos da indiscrição dos viandantes. Experimentava naqueles olhares fria curiosidade, pois sabia que ninguém se preocupava com ela. Não estavam i nteressados em sua dor, em seu sofrimento. Naquela hora extrema não havi a sequer um braço amigo para ampará-la. Estava cansada e absolutamente só. Enquanto andava, pensava que a vida era penosa demais para ela, oferecendo-lhe apenas ama rgura e desgosto que não compreendia. Nada fazia sentido. Seguindo com dificuldade, passou duas vezes em frente ao vendedor d e frutas; sentiu o aroma suave das maçãs frescas e quase lhe roubou uma. En tretanto, o temor de ser descoberta era maior do que a tortura da fome. Emilie se cont eve e continuou andando. Por diversas vezes parou e se virou, temendo que já estivessem atrás dela. Mas o que realmente desejava era que alguém a socorresse naquel e instante. Uma vez mais olhou para trás e se convenceu de que ninguém a perseg uia. Voltou-se devagar e retomou a marcha, ator- 13 doada. Seus pensamentos eram confusos, descontrolados, e o coração lhe bat ia freneticamente no peito arfante. Emilie estava desesperada. Continuou vagarosamente em direção aos limites da província. Ao se aproximar dos portões, as sentinelas a observaram de alto a baixo, mas nada fizeram, tomando-a por mais uma mendiga. Estava maltrapilha, vestindo restos rotos das roupas que outrora usara; tinha os cabelos despenteados e embaraçados. Irreconhe cível, era apenas uma sombra da jovem, bela e rica mulher que fora até poucos meses antes. Sem maiores dificuldades, ela transpôs os limites da província. À me dida que se afastava dos portões, olhava para trás com ansiedade. Embora des ejasse voltar, avançava. Ainda que continuasse vacilante, a decisão estava tomada. Já era noite quando se desviou da estrada, entrando na floresta em di reção ao mar. Sempre sentira medo da floresta, especialmente à noite. Mas àqu ela altura nada a deteria, estava determinada. Caminhou por entre as árvores, afastan do os galhos e o mato, quase sem enxergar nada à sua frente. As lágrimas l he caíam incessantemente pela face. Tropeçou em um toco e foi ao chão. Permaneceu ali prostrada, chorando agoniada. Quase adormeceu entre as lágrimas, mas então, como qu e movida por uma força desconhecida, lembrou-se dos acontecimentos que a haviam conduzido até ali. Levantou-se e prosseguiu. Sabia que, continuando naquela direção , chegaria ao mar. Já era noite alta quando ouviu os primeiros sons das ondas agitadas ao pé do penhasco. Embora esgotada, não parou. Fazia dias que não comia, b ebendo apenas água. As árvores altas foram diminuindo, se espaçando, e ela pôde divisar o grande penhasco de onde se avistavam os navios que partiam para o alto-m ar. Até onde a vista alcançava, estendia-se o imponente penhasco; a praia se espalhava l á embaixo, aos seus pés. Emilie 14 RENASCER DA ESPERANÇA se aproximou devagar. Seu coração batia ainda mais descompassado; a respir ação era ofegante e seu corpo tremia inteiro. Exausta, faminta e sem esper ança, mal conseguia caminhar. Cambaleante, foi chegando à borda do penhasco. Observou a magnificência do lugar: o mar ao longe, a se perder no hor izonte; as estrelas cintilantes acima de sua cabeça e o vento que bafejava o cheiro do mar em seu rosto. Ali já estivera diversas vezes e vivera momentos de e norme felicidade. Quantos sonhos, quantos momentos de alegria tivera naque le lugar! Quantas promessas, quantas juras de amor eterno... Emilie sentou-se e contemplou o cenário com ternura e saudade: era a última vez que o via. Queria afastar d a mente todas as lembranças, esquecer o quanto havia sido feliz um dia. Agora tudo lhe for a tirado. Nada lhe restava além da dor, da revolta e do absoluto desalento. Diante daquela imensidão, sentia-se entregue à própria sorte, sem força s para lutar. Havia tentado - refletia ela. Tentara de todas as formas lutar co ntra o cruel destino que a visitava. Havia buscado ajuda, pedido, implorado. Ni nguém a amparara. Lutara contra a indiferença de amigos e parentes, pois t odos lhe haviam virado as costas. Quer por medo ou por indiferença, não encontrara um omb ro amigo, nenhum auxílio. Muito chorara pedindo socorro a Deus, mas senti a que até Ele a abandonara por completo. Melhor seria que lhe tivessem tirado a vida, logo de uma vez. Assim pensava Emilie, revoltada e desiludida, à beira do penh asco. Agora, as estrelas desapareciam uma a uma, à medida que os primeiro s raios de sol despontavam no horizonte. Logo o dia nasceria e Emilie não q ueria ver o alvorecer. Levantou-se devagar e caminhou para mais perto da borda. AH, r ecuou instintivamente. A altura sempre lhe causava vertigens. Respirou en tão, profundamente, como a buscar forças. Olhava para além 15 Lucius I SANDRA CARNEIRO de seus pés e via o gigantesco paredão que terminava no mar. Aterrorizada, assistia ao espetáculo das ondas batendo nas rochas c pensava que lá estari a em alguns instantes: junto à espuma das águas do mar, esquecida para sempre.