Anna Flávia Dias Salles
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Anna Flávia Dias Salles RETRATOS EM ABISMO Poses e posses do diário de Maura Lopes Cançado Faculdade de Letras – UFMG Belo Horizonte 2017 Anna Flávia Dias Salles RETRATOS EM ABISMO Poses e posses do diário de Maura Lopes Cançado Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Teoria da Literatura e Literatura Comparada. Área de concentração: Teoria da Literatura e Literatura Comparada. Linha de Pesquisa: Literatura, História e Memória Cultural. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Juliana Gambogi Teixeira Faculdade de Letras – UFMG Belo Horizonte 2017 Ficha catalográfica elaborada pelos Bibliotecários da Biblioteca FALE/UFMG Salles, Anna Flávia Dias. C215h.Ys-r Retratos em abismo [manuscrito]: poses e posses do diário de Maura Lopes Cançado / Anna Flávia Dias Salles. – 2017. 106 p., enc. Orientadora: Maria Juliana Gambogi Teixeira. Área de concentração: Teoria da Literatura e Literatura Comparada. Linha de pesquisa: Literatura, História e Memória Cultural. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Letras. 1. Cançado, Maura Lopes, 1929-1993. – Hospício é Deus, diário I – Crítica e interpretação – Teses. 2. Escritoras brasileiras – Biografia – Teses. 3. Diários brasileiros – História e crítica – Teses. 4. Loucura na literatura – Teses. I. Teixeira, Maria Juliana Gambogi. II. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Letras. III. Título. CDD : B869.803 Bibliografia: f. 99-106. AGRADECIMENTOS A meus pais, Duca e Pingo, em cuja mesa aprendi (e continuo aprendendo) a dialogar entre verves nutritivas e pratos estimulantes; Às minhas irmãs, Vilmara, Renata e Luciana, companheiras de toda hora, e também às crianças adoráveis em que elas foram dar: Lucas, Tomaz, Luiza, João, Miguel, André e Samuel, e também aos queridos Beto, Luiz e Zé Geraldo; À Tânita e ao Krebis, pelo conforto de uma amizade risonha; Às amigas de tantas mesas que cercaram essa pesquisa e nossa convivência de conversas vitaminadas, em especial, Adriana Franca, Anna Karina Bartolomeu, Carolina Anglada, Cíntia Vieira da Silva, Cláudia Mesquita, Eleonora Santa Rosa, Gissela Mate, Márcia Valadares, e aos encantadores Rodolfo Magalhães e Rogério Velloso; À Irene Ernest Dias, pela interlocução preciosa, pelo acompanhamento atento de todos os passos desta pesquisa e também pela revisão do texto com direito a polimento extra; À Bárbara Guatimosim, pelos tantos sins vestidos de “por que não?”; À Juliana Gambogi, orientadora generosa, leitora astuta de entrelinhas, faiscadora de ideias encobertas, a quem tratei tantas vezes por “meu GPS” e hoje trato como amiga. Aos que tangenciaram de alguma forma esta pesquisa, mesmo quando ainda em seus mais débeis intentos, Yara Augusto, Cinara de Araújo, Felisa Anaya, Leísa Amaral, Leonardo Morais, Fábio Leite, Gislene Barral e ainda ao Ricardo Messias (salvador do meu PC, sem o que nada disso estaria a salvo); Agradeço, ainda, com grande admiração, às professoras Myriam Ávila, Márcia Arbex e Vera Casanova e, por meio delas, à Faculdade de Letras da UFMG, em especial ao Pós-lit; E, finalmente, à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pelo financiamento de parte da presente pesquisa. RESUMO Esta dissertação aborda aspectos da vida e da obra da escritora Maura Lopes Cançado fixados, primeiramente, em retratos jornalísticos (entre 1954 e 2015) nos quais, em geral, a condição da loucura preside à sua recepção; e em retratos de crítica (artigos, menções em obras e estudos acadêmicos). Em nossa análise de sua obra autobiográfica, Hospício é Deus, diário I, enfocamos, ainda, sua produção como autorretratista e retratista literária, examinando como, por meio de esforço técnico e criativo consciente, a autora supera o engessamento simbólico da loucura e desponta como escritora da modernidade brasileira. Palavras-chave: Maura Lopes Cançado, autorretratos literários, retratos literários, loucura, diário de escritor. ABSTRACT Portraits in the Abyss: Poses and possessions from the diary of Maura Lopes Cançado This paper discusses aspects of life and work of writer Maura Lopes Cançado focusing, first, on journalistic portraits (between 1954 and 2015) in which, in general, the condition of madness presides over their reception; and in critical portraits (articles, mentions in works and academic studies). In our analysis of the author’s autobiographical work, Hospício é Deus, diário I, we focus her production as a self and literary portraitist, examining how, through conscious technical and creative effort, the author transcends the symbolic plastering of madness and emerges as a writer of Brazilian modernity. Keywords: Maura Lopes Cançado; literary self-portraits; literary portraits; madness; writer’s diary. SUMÁRIO Introdução ..............................................................................................................................9 1. Retratos jornalísticos ........................................................................................................19 1.1 As Mauras das páginas policiais ...............................................................................20 1.2 Novo começo no meio público .................................................................................25 1.3 “Romance”, “autobiografia”, “depoimento”, “coisa”, “diário reelaborado”, “estranho livro”: as notícias de Hospício é Deus ......................................................32 1.4 De volta às páginas policiais .....................................................................................43 1.5 Maura, “porta estandarte de intelectuais” ou o bloco dos “somos todos culpados” ........................................................................47 1.6 Ou, ainda, “coisa folclórica”......................................................................................52 1.7 A ressurreição da louca-assassina .............................................................................54 2. Retratos de crítica ..............................................................................................................57 2.1 Tratamentos e destratos ou “Uhhhhhhhhhhhhhh”: o perfil de um biógrafo ..............57 2.2 Maura por outras leituras ............................................................................................65 2.3 Em primeira pessoa ....................................................................................................70 2.4 Retratos acadêmicos ...................................................................................................73 3. Poses e posses de um diário ...............................................................................................79 3.1 “Um gênero híbrido, a ser testado” .............................................................................83 3.2 Autorretratos e retratos literários ................................................................................88 3.2.1 “Eu preciso escrever, Durvaldina!” ...................................................................92 3.3 Retratos, elogios, vitupérios ........................................................................................94 3.3.1 Um dia em campo ..............................................................................................96 4. Conclusão ...........................................................................................................................97 5. Fontes e Bibliografia ..........................................................................................................99 Um grande número Wilsawa Szymborska* Quatro bilhões de pessoas nesta terra, e minha imaginação é como era. Não se dá bem com grandes números. Continua a comovê-la o singular. Esvoaça no escuro como a luz da lanterna, iluminando alguns rostos ao acaso, enquanto o resto se perde nas trevas, na deslembrança, no desconsolo. Mas nem Dante captaria mais. Que dirá quando não se é. Nem mesmo com a ajuda de todas as musas. Non omnis moriar – uma aflição prematura. Mas será que vivo por inteiro e será que isso basta? Nunca bastou e muito menos agora. Escolho excluindo porque não há outro jeito, mas o que rejeito é mais numeroso, mais denso, mais insistente do que nunca. À custa de incontáveis perdas – um poeminha, um suspiro. Ao chamado ruidoso respondo com um sussurro. O quanto silencio, isso não direi. Um rato ao pé da montanha materna. A vida dura o tempo de umas marcas de garra na areia. Meus sonhos – nem eles são como deveriam, habitados. Neles há mais solidão do que multidões e alarido. Às vezes aparece por momentos alguém há muito falecido. Move a maçaneta uma mão solitária. Expande-se em anexos de ecos a casa vazia. Corro da soleira até o vale silencioso, como de ninguém, já anacrônico. De onde vem em mim ainda este espaço – não sei. Para Maura, um rosto ao acaso * Tradução de Regina Przybycien. Introdução Compor um texto sobre a vida de Maura Lopes Cançado para introduzir o objeto desta dissertação passa, inescapavelmente, por fazer um “compilado biográfico” com os dados dispersos na tímida fortuna crítica da autora. Neles se repisam abordagens de fatos comuns, formando um ciclo de retroalimentação, em que as diferenças ficam por conta da faca estilística do autor na composição de algo que parece ser consenso: o perfil de uma personalidade “extravagante”, adjetivo que ocorre em semânticas diversas, por vezes antagônicas, ao sabor da apropriação do enunciador,