Revista Brasileira

Fase VII Janeiro-Fevereiro-Março 2010 Ano XVI N. o 62

Esta a glória que fica, eleva, honra e consola. ACADEMIA BRASILEIRA REVISTA BRASILEIRA DE LETRAS 2010

Diretoria Diretor Presidente: Marcos Vinicios Vilaça João de Scantimburgo Secretária-Geral: Primeiro-Secretário: Domício Proença Filho Conselho Editorial Segundo-Secretário: Tesoureiro: Murilo Melo Filho Lêdo Ivo Ivan Junqueira

Comissão de Publicações Membros efetivos Antonio Carlos Secchin Affonso Arinos de Mello Franco, José Mindlin , Alberto José Murilo de Carvalho Venancio Filho, , Ana Maria Machado, Antonio Carlos Produção editorial Secchin, , Arnaldo Niskier, Monique Cordeiro Figueiredo Mendes Candido Mendes de Almeida, Carlos Revisão Heitor Cony, , , Luciano Rosa e Gilberto Araújo Cícero Sandroni, Cleonice Serôa da Motta Berardinelli, Domício Proença Filho, Projeto gráfico , Evanildo Cavalcante Victor Burton Bechara, , Pe. Fernando Bastos de Ávila, Helio Editoração eletrônica Jaguaribe, Ivan Junqueira, , Estúdio Castellani João de Scantimburgo, João Ubaldo Ribeiro, José Mindlin, José Murilo de ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS Carvalho, José Sarney, Lêdo Ivo, Luiz Av. Presidente Wilson, 203 – 4.o andar Paulo Horta, , – RJ – CEP 20030-021 , Marcos Vinicios Vilaça, Telefones: Geral: (0xx21) 3974-2500 , Murilo Melo Filho, Setor de Publicações: (0xx21) 3974-2525 Nélida Piñon, Nelson Pereira dos Santos, Fax: (0xx21) 2220-6695 , Sábato Magaldi, Sergio E-mail: [email protected] Paulo Rouanet, Tarcísio Padilha. site: http://www.academia.org.br As colaborações são solicitadas.

Os artigos refletem exclusivamente a opinião dos autores, sendo eles também responsáveis pelas exatidão das citações e referências bibliográficas de seus textos. Sumário

EDITORIAL João de Scantimburgo Gonzaga, Nabuco, Rachel, Aurélio, Houaiss e Reale ...... 5

CULTO DA IMORTALIDADE Murilo Melo Filho Rachel: a centenária...... 7

PROSA As duas vidas de Nabuco: o reformador e o diplomata...... 17 Marcos Vinicios Vilaça Além dos tempos ...... 47 Lêdo Ivo O louva-a-deus e as folhas amarelas...... 51 , filho Itamarati: a herança gloriosa ...... 57 Arnaldo Niskier Evocação de no seu primeiro centenário . . . . 65 Walnice Nogueira Galvão Sob o signo de Euclides – um depoimento...... 89 Renato Kovach Antonio Houaiss ...... 103 Nísia Trindade Lima e o pensamento social no Brasil ...... 109 Anderson Braga Horta Em torno do Juca Mulato...... 137 Vera Lúcia de Oliveira Dom de poesia ...... 143 Leodegário A. de Azevedo Filho Lygia e a imortalidade da palavra ...... 153 Gilberto de Mello Kujawski Machado e o Rio de Janeiro ...... 159 Gilberto Mendonça Teles O luar e o lugar dos sertões...... 171 Ubiratan Machado Machado de Assis e a peça Forca por Forca ...... 219 André Seffrin 2009: o segundo semestre literário ...... 227

POESIA Milton Torres ...... 239 Cláudio Portella ...... 243 Fernando Fortes ...... 249

POESIA ESTRANGEIRA Juan Carlos Mestre Tradução de Ronaldo Costa Fernandes ...... 259

GUARDADOS DA MEMÓRIA Rachel de Queiroz O ateu ...... 279 Três mortos no avião...... 283

Editorial

Gonzaga, Nabuco, Rachel, Aurélio, Houaiss e Reale

João de Scantimburgo

Brasil comemora este ano cinco centenários: o da morte de OJoaquim Nabuco, do nascimento de Rachel de Queiroz, Aurélio Buarque de Holanda, Antônio Houaiss e e o bicentenário da morte de Tomás Antônio Gonzaga. Nascido no Porto, numa casa que ainda hoje existe e porta uma placa com seu nome glorioso, e presente em todas as histórias das li- teraturas brasileira e portuguesa, Gonzaga é, fundamentalmente, um poeta que nos pertenceu e foi decerto um dos primeiros a exprimir a nossa nacionalidade. A sua atuação na Inconfidência Mineira o liga inarredavelmente à história política e social do Brasil e ao nosso an- seio de Independência. Em Marília de Dirceu – esse livro de poemas que há quase dois séculos é um dos mais lidos de nossa língua –, nes- se livro de amor, a paisagem do nosso País irrompe de forma nítida e singular. Em sua História da Literatura Portuguesa, o professor Antonio José Saraiva observa, em Gonzaga como em outros árcades ligados à Inconfidência Mineira – como Claudio Manuel da Costa, Silva Alvarenga, Alvareganda Peixoto –, caracteri sticas peculiares que diferen-

5 João de Scantimburgo ciam o nascente lirismo brasileiro das feições estéticas do Arcadismo em Por- tugal. Acentua que Tomás Antônio Gonzaga “procura no ambiente em que vive, na paisagem dos negros que arrancam o ouro das minas e o joeiram, dos matos queimados pelos arroteadores de terra, do preparo do tabaco, da cana-de-açúcar, as imagens com que exprime os seus sentimentos ou embeleza o verso”. Assim esse grande poeta, que “deixou penetrar os seus versos da pai- sagem tropical”, – esse grande poeta da nossa língua comum – é fundamental- mente um poeta brasileiro, acidentalmente nascido em Portugal. Seu pai, aliás, era um brasileiro de nascimento, retornado a Portugal. O bicentenário da morte de Gonzaga haverá de ser registrado condigna- mente pela Revista Brasileira. A presença, neste número, das evocações relativas a , Ra- chel de Queiroz e Antônio Houaiss – a serem seguidas pela atenção que vamos dispensar ao alagoano Aurélio Buarque de Holanda – não apenas consignam o nosso preito a esses mortos admiráveis, que pertenceram ao nosso quadro de membros efetivos, como apontam para a diversidade cultural do nosso país e sua crescente riqueza. Por todo este ano, a Revista Brasileira haverá de espelhar em suas páginas a importância dessas efemérides. O grande escritor abolicionista e diplomata Joaquim Nabuco foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, ao lado de Machado de Assis e do jovem Lúcio de Mendonça. Rachel de Queiroz, a primeira mulher a ingres- sar nesta instituição, e fundadora do romance do Nordeste, ao lado de José Lins do Rego, e , é hoje um dos nossos clássi- cos mais lidos e mais amados pelo nosso povo. Aurélio Buarque de Holanda e Antônio Houaiss são nomes fulgentes na galeria dos nossos dicionaristas e fi- lólogos. O paulista Miguel Reale se alça como uma das maiores expressões da jurisprudência nacional. Quanto a Tomás Antônio Gonzaga, que é um dos nossos patronos, cabe apenas acentuar que Marília de Dirceu, lida há quase dois séculos no universo lusófono, é uma obra imortal. “Esta é a glória que fica, eleva, honra e consola”, como disse Machado de Assis, a cuja sombra e a cuja luz nos abrigamos todos.

6