Revista-Brasileira-58.Pdf

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Revista-Brasileira-58.Pdf Revista Brasileira Fase VII Janeiro-Fevereiro-Março 2009 Ano XV N. o 58 Esta a glória que fica, eleva, honra e consola. Machado de Assis ACADEMIA BRASILEIRA REVISTA BRASILEIRA DE LETRAS 2009 Diretoria Diretor Presidente: Cícero Sandroni João de Scantimburgo Secretário-Geral: Ivan Junqueira Primeiro-Secretário: Alberto da Costa e Silva Comissão de Publicações Segundo-Secretário: Nelson Pereira dos Santos Antonio Carlos Secchin Diretor-Tesoureiro: Evanildo Cavalcante Bechara José Mindlin José Murilo de Carvalho Membros efetivos Produção editorial Affonso Arinos de Mello Franco, Alberto da Costa e Silva, Alberto Monique Cordeiro Figueiredo Mendes Venancio Filho, Alfredo Bosi, Revisão Ana Maria Machado, Antonio Carlos Luciano Rosa Secchin, Antonio Olinto, Ariano Frederico Gomes Suassuna, Arnaldo Niskier, Candido Mendes de Almeida, Projeto gráfico Carlos Heitor Cony, Carlos Nejar, Victor Burton Celso Lafer, Cícero Sandroni, Domício Proença Filho, Eduardo Portella, Editoração eletrônica Evanildo Cavalcante Bechara, Evaristo de Estúdio Castellani Moraes Filho, Pe. Fernando Bastos de Ávila, Helio Jaguaribe, Ivan Junqueira, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS Ivo Pitanguy, João de Scantimburgo, Av. Presidente Wilson, 203 – 4.o andar João Ubaldo Ribeiro, José Murilo de Rio de Janeiro – RJ – CEP 20030-021 Carvalho, José Mindlin, José Sarney, Telefones: Geral: (0xx21) 3974-2500 Lêdo Ivo, Luiz Paulo Horta, Lygia Setor de Publicações: (0xx21) 3974-2525 Fagundes Telles, Marco Maciel, Fax: (0xx21) 2220-6695 Marcos Vinicios Vilaça, Moacyr Scliar, E-mail: [email protected] Murilo Melo Filho, Nélida Piñon, site: http://www.academia.org.br Nelson Pereira dos Santos, Paulo Coelho, Sábato Magaldi, Sergio Paulo Rouanet, Tarcísio Padilha. As colaborações são solicitadas. Os artigos refletem exclusivamente a opinião dos autores, sendo eles também responsáveis pelas exatidão das citações e referências bibliográficas de seus textos. Sumário EDITORIAL João de Scantimburgo A Academia e a Nova ortografia . 5 CULTO DA IMORTALIDADE Murilo Melo Filho R. Magalhães Júnior: Um operário da inteligência . 9 PROSA Celso Lafer Eduardo Lourenço – uma homenagem. 19 Walnice Nogueira Galvão Digressões carnavalescas . 23 Moacyr Scliar Os Donos do Poder, cinquenta anos depois . 37 Arnaldo Niskier A educação segundo Fernando de Azevedo . 41 Ligia Chiappini Utopia, tragédia e irrisão: autoritarismo e resistência nos romances de Antonio Callado . 47 Marta Spagnuolo Zama, de Antonio Di Benedetto, em sua Terra do Nunca. 59 Guilherme d’Oliveira Martins A memória do António . 89 Vera Lúcia de Oliveira O Brasil de Via Civitavecchia, número 7 . 89 André Seffrin O ano literário: 2008. 95 José Mário da Silva Entre nuvens e conspirações . 107 Leodegário A. de Azevedo Filho A poesia de Murillo Araújo . 115 Ida Vicenzia Teatro em Foco, de Sábato Magaldi . 123 Lucila Nogueira De Gabriela Mistral a Nélida Piñon. 129 Jane Rodrigues dos Santos Os Anjos de Teolinda Gersão: uma tessitura em oposição a O Silêncio português. 139 Edson Nery da Fonseca A trajetória brasileira de Otto Maria Carpeaux . 151 POESIA Lêdo Ivo Poemas inéditos . 157 POESIA ESTRANGEIRA Poemas de Amalia Bautista Tradução de Ronaldo Costa Fernandes . 163 GUARDADOS DA MEMÓRIA Gustavo Barroso O cachorro. 177 Miguel Reale Um parecer do Acadêmico Miguel Reale . 189 Editorial A Academia e a Nova ortografia João de Scantimburgo epois de tantos encontros de acadêmicos e de especialistas, Dchega a nossa língua escrita , atrasada, graças à edição do Acordo de 1990, ao grupo dos idiomas de cultura que têm um só sistema ortográfico unificado e simplificado nos seus pontos essen- ciais. Estamos diante de um momento histórico, que não se pode perder, em que sete países independentes do mundo lusófono, com adesão da delegação de observadores da Galiza, – a que se juntam agora Timor-Leste e Macau, – para a construção dessa unificação gráfica, que constitui “um passo importante para a defesa da unida- de essencial da língua escrita e para o seu prestígio internacional”. A ABL fazia-se presente nos problemas de língua portuguesa ape- nas com a elaboração dos seus Vocabulários Ortográficos, consubs- tanciados nos formulários oficiais, quase sempre sem a consequente adesão dos portugueses, embora nunca estivesse desprezada a inten- ção dos dois governos e dos especialistas de alcançar uma unificação substancial do sistema de escrita. 5 João de Scantimburgo O texto acadêmico de 1986, discutido na ABL, e o de 1990, discutido na Academia das Ciências de Lisboa, representam o último resultado desses esforços de unificação que, se não é ótima, é boa, por se chegar a um amplo entendimento que, sem dúvida, virá facilitar a vida dos utentes do português escrito em todo o domínio da lusofonia. Os esforços anteriores foram tão bem encaminhados, que as inovações es- senciais de agora se detiveram ao capítulo da acentuação gráfica e ao emprego do hífen. Os brasileiros abriram mão do trema, da acentuação de palavras paro- xítonas com os ditongos abertos ei e oi (ideia, heroico), do acento em vogal tônica precedida de ditongo (baiuca, taoismo), do circunflexo em voo, perdoo, creem, leem; todas estas decisões já vigentes no sistema português de 1945. O novo Acordo invadiu o campo da morfologia e abriu a possibilidade de dois sistemas de conjugação para verbos como aguar, averiguar, adequar e outros, fle- xões que têm repercussão na acentuação tônica, conciliando usos que corriam em geral divergentes nas duas bandas do Atlântico. Os portugueses, por sua vez, abriram mão da antiga tradição de escrever consoantes diacríticas que não se ouviam (Egipto, redacção, director), prática ine- xistente no Brasil desde a reforma de 1943. A ABL, desde a presidência de Afrânio Peixoto, com a cooperação do Pro- fessor Antenor Nascentes, anos depois, com o Acadêmico Arnaldo Niskier, coadjuvado pela cultura e a operosidade do Acadêmico Antônio Houaiss e com a colaboração técnica do professor Antônio José Chediak, passou a ela- boração da 2.a e3.a edições do VOLP, de um VOLP reduzido e de um Dicio- nário Onomástico. As novas administrações de Tarcísio Padilha, Alberto da Costa e Silva, Ivan Junqueira, Marcos Vinicios Vilaça e Cícero Sandroni, en- cetam definitiva atuação no campo do cultivo da língua. Chamando ao seio da instituição o competente filólogo Acadêmico Evanildo Cavalcante Bechara, transformaram a Comissão de Lexicografia em Comissão de Lexicologia e Le- xicografia, e convocaram uma, ainda que pequena, qualificada e experimenta- da equipe de lexicógrafos. 6 AAcademiaeaNovaortografia A ABL inicia definitivamente operosa atividade para cumprir o preceito estatutário do cultivo do idioma, cria a coleção Antonio de Morais Silva para reunir obras de alto valor no domínio da língua, elabora o Dicionário Escolar da Língua Portuguesa,oÍndice Analítico do Léxico de Machado de Assis, ultima um Dicionário de Machado de Assis, cria um Banco de dados para um futuro Dicionário Brasileiro do Português Escrito e o programa ABL responde. Seu último produto lexicográfico é a 5.a edição do VOLP, que, partindo de uma leitura crítica do texto oficial de 1990, adapta o rico caudal lexical da obra ao novo Acordo Ortográfico. Com este trabalho, a ABL traz contribuição relevante ao sonho de unifi- cação ortográfica acalentado por tantos filólogos portugueses e brasileiros. Depois do Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, saído em 1943, esta histórica 5.a edição do VOLP acredita ter contribuído para a elaboração do futuro vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa, tarefa não só proposta pelos signatários do novo Acordo, mas que foi também sonho dos fundadores da ABL em 1897. 7 R. Magalhães Júnior Acervo ABL Culto da Imortalidade R. Magalhães Júnior: um operário da inteligência Murilo Melo Filho Ocupante da Cadeira 20 na Academia Brasileira de Letras. onterrâneo dos acadêmicos cearenses – José de Alencar, Cló- Cvis Beviláqua, Araripe Júnior, Franklin Távora, Heráclito Graça, Gustavo Barroso e Rachel de Queiroz –, Raimundo Maga- lhães Júnior também nasceu no Ceará, no município de Ubajara, dia 12 de fevereiro de 1907, há mais de cem anos, portanto. Aos 17 anos de idade, em 1924, o pequeno e modesto cearense, que desde os primeiros anos da infância já revelava sua vocação li- terária, veio para Campos, aqui no estado do Rio, e aí começou a sua carreira jornalística, trabalhando como repórter na Folha do Co- mércio, local. Um personagem no êxodo Ele era, então, mais um personagem no extenso fabulário e no êxodo da sua geração de jovens nordestinos nômades, que emigra- 9 Murilo Melo Filho vam de suas terras secas, lá no Ceará e no Nordeste, para vir batalhar por um lugar ao sol, nesta selva das grandes cidades, aqui no sul do País. Como um ousado viandante, trazia na sola dos sapatos aquilo que Manuel Bandeira chamou de “a poeira das extensas estradas percorridas”. Durante essa jornada, não raro em areias movediças, ele muito havia anda- do, muito vagado e muito peregrinado. Logo depois, aos 20 anos, escreveu seus primeiros contos e sua primeira peça teatral, “Espírito Encrencado”. Quase uma autopeça. Veio de Campos para o Rio em 1930, na alvorada da Revolução Tenen- tista, e trabalhou seguidamente nos jornais AEsquerda, A Batalha, Diário de Notícias (do qual foi um dos fundadores), A Noite, e em revistas como Vida Doméstica, Noite Ilustrada, Carioca, Vamos Ler e Revista da Semana, das quais foi diretor. Em 1933, casou-se com Lúcia Benedetti, que viria a consagrar-se como uma admirável autora de livros infantis. Desse casamento, resultou a filha Rosa, uma vitoriosa
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