Universidade Anhembi Morumbi Fábio De Amorim Santana
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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI FÁBIO DE AMORIM SANTANA QUASE HUMANOS, QUASE MÁQUINAS O Inumano em Metropolis, Tempos Modernos e Cosmopolis e sua relação com a tecnologia SÃO PAULO 2016 0 FÁBIO DE AMORIM SANTANA QUASE HUMANOS, QUASE MÁQUINAS Dissertação de Mestrado em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. (a). Dr. (a) Laura Loguercio Cánepa SÃO PAULO 2016 1 SUMÁRIO INTRODUÇÃO – quase humanos, quase máquinas 6 CAPÍTULO 1 - O futuro, o tempo, as máquinas e os humanos inumanos 1.1 - Metropolis 12 1.1.1 Roteiro e Abertura 13 1.2 - Fritz Lang 18 1.3 - Charles Chaplin e Tempos Modernos 19 1.3.1. – Carlitos 23 1.4. – Cosmopolis (2012), de David Cronenberg 27 1.4.1. – O enredo 28 1.4.2. – As cosmópolis 32 1.5 - O tempo passado, presente e futuro 38 CAPÍTULO 2 – Metropolis, Tempos Modernos, Cosmopolis: o tempo e a tecnologia 2.1 - A religião das máquinas: A excitação tecnológica, o pós-humano, tecnologia digital em Cosmopolis, Tempos Modernos e Metropolis. 50 2.1.1. – A excitação tecnológica 51 2.1.2. – O pós-humano 53 2.1.3. – Tecnologia digital 56 2.1.4. – Os filmes: Cosmopolis 57 2.1.5. – Tempos Modernos 59 2.1.6. – Metropolis 64 2.2 - A decadência da Modernidade: Tempos Modernos e sua crise das relações de trabalho e da tecnologia 69 2.3 - A decadência da Modernidade: Metropolis e o papel da tecnologia no conflito entre trabalhadores e patrão 73 2.4 – O contemporâneo em Cosmopolis: a cultura do produto e o tempo multiplicado: 77 2 CAPÍTULO 3- O inumano e o tempo 3.1 – O inumano em Metrópolis (1927): o progresso tecnológico de Fredersen contra a pacificação de Freder 79 3.1.1. – Um pouco de angústia 85 3.1.2. – A perseguição a Maria e o expressionismo 86 3.2 – O inumano em Tempos Modernos (1936): a magia de Carlitos contra a maquinização fordista 98 3.3 – O inumano em Cosmopolis (2012): o capital cibernético, a fragmentação do tempo e a ressignificação da luta de classes 102 3.3.1. - O tempo, Moloch e a relação com Metropolis e Tempos Modernos 102 3.3.2. – Cosmopolis, o tempo e a luta de classes 104 CONSIDERAÇÕES FINAIS - Sobre humanos: que futuro os filmes preveem? 119 BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 123 ANEXO 130 3 RESUMO Esta dissertação tem o objetivo de analisar o inumano (LYOTARD, 1990) em Metropolis (ALE, 1927), Tempos Modernos (EUA, 1936) e Cosmopolis (CAN, FRA, POR, ITA, 2012) e sua relação com a tecnologia. As três obras estão interligadas pelo inumano, tanto aquele que se refere ao chamado desenvolvimento (ou progresso) técnico e econômico, quanto o outro inumano, individual, que está presente em nossa infância e nos acompanha na fase adulta pela recorrência da memória (LYOTARD, 1990). Portanto, o tempo e a tecnologia são dois fatores fundamentais na formação de nossa humanidade contemporânea, e os filmes Metropolis e Tempos Modernos, de Fritz Lang e Charles Chaplin, respectivamente, representam o marco de uma nova humanidade no século XX, cada vez mais atenta a velocidade, ao progresso tecnológico. Estes filmes criticam a chamada Modernidade e seu projeto de conforto, segurança e felicidade para todos graças à tecnologia. Cosmopolis, de David Cronenberg, atualiza a discussão mostrando onde estamos. Metropolis imagina as cidades do futuro, divididas entre os privilegiados e os operários. Tempos Modernos critica a industrialização, o fordismo numa cidade do presente, e pede outro futuro mais humano. Já Cosmopolis é o futuro realizado, agora, o caos, o momento em que o dinheiro foi tão acumulado pela ideia de “tempo é dinheiro”, que agora o capital “vende” o tempo em seus produtos tecnológicos. Afinal, pensando bem, o que um smartphone oferece para nós? Os humanos foram arrastados, desde a época dos dois primeiros filmes (período entre as guerras), para um desenvolvimento inumano, em que não há mais alternativa humana, política e econômica para este processo de aceleração do tempo. A “vida administrada” (pelos homens-corporações, pelo sistema financeiro) anula o tempo, a memória, o corpo, sempre ao tentar programá- los. Uma solução seria voltar para o outro inumano (LYOTARD, 1990), nós mesmos, nossas memórias, recuperar nossa educação não-pronta, executada na velocidade lenta que precisa ter para digerir e vivenciar experiências e emoções. As personagens destes três filmes buscam a solução para a velocidade. Querem sua inumanidade (a infância) de volta. É disso que se trata este trabalho. Uma reflexão sobre nossa quase humanidade e nossa quase “maquinicidade” nesta sociedade contemporânea. Palavras-Chave: Cinema. Análise Fílmica. Tecnologia. Tempo. Inumano. 4 ABSTRACT The objective of this research is to analyze the inhuman (LYOTARD, 1990) in the films Metropolis (GER, 1927) Modern Times (USA, 1936) and Cosmopolis (CAN, FRA, POR, ITA, 2012) and their relationship with technology. The three works are linked by the inhuman, so that it comes to the so-called technical and economic development (or progress), as the other inhuman: individual, which is present in our childhood and follows us into adulthood by the recurrence of memory (LYOTARD, 1990). Therefore, time and technology are two key factors in shaping our contemporary humanity. The Metropolis and Modern Times films, by Fritz Lang and Charles Chaplin, respectively, represent the framework of a new humanity in century XX, more and more interested in speed and technological progress. These movies criticize the so-called modernity and its project of comfort, safety and happiness for everyone: only possible by technology. Cosmopolis, by David Cronenberg, updates the discussion. He shows where we are. Metropolis imagine the cities of the future, divided between the privileged and the workers. Modern Times criticizes the industrialization, the Fordism in the 30’s, and requests another future, much more human. While Cosmopolis is the future accomplished: the chaos, the time when the money was so accumulated by the idea of "time is money", that now the capital "sell" (or offers) the Time (itself) in technological products. After all, what a smartphone offers to us? Just time. Time layers. Humans were dragged - since the time of the first two films (the period between the World Wars) - to an inhuman development, where there is no more human alternative, political and economic too, for this time acceleration process. A "managed life" (by the men-corporations, by the financial system) annuls the time, the memory, the body, because it is always trying to program them. One solution would be to go back to the other inhuman (LYOTARD, 1990), to ourselves, to our memories, to recover our non-ready education, executed at a slow speed, that is necessary so that we can digest and live the experiences and emotions. The characters of these three films are looking for the solution for speed. They want their inhumanity (childhood) back. This is the subject of this research: just a reflection on our almost humanity, and on our almost "machinety" in this contemporary society. Key-Words: Cinema. Film analysis. Technology. Time. Inhuman. 5 INTRODUÇÃO – QUASE MÁQUINAS, QUASE HUMANOS O objetivo nesta dissertação é analisar os filmes Metropolis (Alemanha, 1927) e Tempos Modernos (EUA, 1936), associando-os com Cosmopolis (Canadá/França/Portugal/Itália, 2012), sempre numa perspectiva de como eles estabelecem a relação indivíduos-máquinas e o Inumano (LYOTARD, 1990). Tenho a intenção de compreender: como os filmes se relacionam com sua época; identificam temas recorrentes no cinema posterior ou contemporâneo a eles; identificam inspirações literárias, filosóficas e políticas; ou, ainda, pretendo analisar como estes filmes e seus debates são atuais, através de questões recorrentes, como a tecnologia, o tempo e o inumano. A perspectiva de inumano é a que Lyotard usa em seu livro O Inumano – considerações sobre o tempo (LYOTARD, 1990). Acredito que há uma linha ligando Metropolis (ALE, 1927), Tempos Modernos (EUA, 1936) e Cosmopolis (CAN, FRA, POR, ITA, 2012) com o inumano, tanto do ponto de vista de desenvolvimento quanto da anamnese. É a busca da nossa memória arquivada ou perdida, é uma lembrança pouco precisa. Trabalhamos nessa memória gradativamente para descobrirmos nossas verdades essenciais e latentes, que remontam a um tempo anterior ao da nossa existênccia empírica. Ou seja, perdemos tempo em busca do tempo perdido. É nossa experiência sensorial com o mundo, com nosso próprio corpo (como nos filmes de Cronenberg). Alguns chamam de contato com nossa alma. Outros chamam espírito. Não vou entrar nessa discussão. Há ainda sua relação com a tecnologia. Lyotard tem duas hipóteses que se aproximam e interagem. Uma é sobre estarmos no caminho de nos tornarmos inumanos. Outra questiona se não é próprio do ser humano ter o inumano dentro de si. Por isso ele trabalha com dois conceitos de inumanidade que se cruzam e, eu diria, se habitam. A primeira se refere, como disse antes, ao progresso, ao avanço científico, que necessita como combustível de um tempo em constante aceleração. Sua contraindicação é que “andar depressa é esquecer depressa”, segundo Lyotard. Henry Ford (1863-1947), autor de Minha filosofia e indústria, é fundador da Ford Motor Company em Detroit, EUA. E ele criou um sistema de produção em massa, ou linha de produção, para seus automóveis em 1913. É uma forma de racionalizar o tempo, dentro de uma produção capitalista, baseada em inovações tecnológicas e de organização de trabalho. Tudo isso se articula 6 pensando em fazer mais em menos tempo com um custo menor. Ou seja, a produção é automatizada o máximo possível (máquinas trabalham, homens operam). O objetivo de Ford era criar um mercado de massa também. Para isso, era preciso vender automóveis por preços acessíveis a todos. Cada operário realizava apenas uma função simples ou uma etapa da produção na linha de montagem. Dessa forma, não era necessário qualquer qualificação específica dos trabalhadores.