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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS PROGRAMA MULTIDISCIPLINAR DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA E SOCIEDADE WALY SALOMÃO: POÉTICAS PERFORMÁTICAS DO GESTO E DA VOZ por ANTONIO BRITO DE SOUZA JUNIOR Orientadora: Professora Doutora EDILENE DIAS MATOS SALVADOR 2019 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS PROGRAMA MULTIDISCIPLINAR DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA E SOCIEDADE WALY SALOMÃO: POÉTICAS PERFORMÁTICAS DO GESTO E DA VOZ por ANTONIO BRITO DE SOUZA JUNIOR Orientadora: Professora Doutora EDILENE DIAS MATOS Tese apresentada ao Programa Multidisciplinar de Pós- Graduação em Cultura e Sociedade do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da Universidade Federal da Bahia como parte dos requisitos para obtenção do grau de Doutor. SALVADOR 2019 3 4 Ao meu pai (in memoriam) e a minha mãe, que sempre estiveram ao meu lado, e me incentivaram nessa caminhada 5 Agradecimentos À Professora Doutora Edilene Matos, orientadora dessa Tese, por ter abraçado com todo vigor poético essa travessia. À minha esposa e às minhas duas filhas, motivos constantes de inspiração, pela dedicação e pelas horas que lhes roubei de atenção. À Clarice e Gabriel, jovem casal de sobrinhos, pelo apoio, pelo carinho e pelos cuidados nas horas de maior carência. Ao Professor Jorge Barros, amante das artes, pelo apoio e incentivo incondicional desde minha adolescência. A tia Carmen, uma tia octogenária, mão amiga e afetiva de todas as horas. Ao Professor Doutor Leonardo Vincenzo Boccia pelas sugestões espetaculares. À Professora Zilda Freitas pela disponibilidade tradutora. A todos aqueles que muito gentilmente se dispuseram a falar sobre Waly Salomão: Val Rodrigues, Gramiro de Matos, Antonio Cícero, Luciano Figueiredo, Maurício Almeida, Robinson Roberto, Bené Sena, Capinan, Omar Salomão. À Guilherme Salomão pela fala afetiva de histórias da família em Jequié e na ilha de Arwad. À Jorge Salomão pelas preciosas informações e pela fabulosa energia viva ao me transportar para o mundo artístico do Rio de Janeiro por onde ele e o irmão transitaram por longos anos. À Samira Salomão pelas narrativas e materiais sobre seu irmão Waly Salomão. 6 Vi terras de minha terra Por outras terras andei. Mas o que ficou marcado No meu olhar fatigado Foram as terras que inventei. Manuel Bandeira E nesses versos de angústia rouca Assim dos lábios a vida corre, Deixando um acre sabor na boca. - Eu faço versos como quem morre Manuel Bandeira 7 RESUMO Considerando-se os estudos avançados da interculturalidade e tomando-se a produção poética como força capaz de expressar cruzamento das culturas e das artes, esta pesquisa intenta “vasculhar” o universo performático da voz e do gesto, que estão presentes na vida e na obra poética de Waly Salomão, especificamente no seu último livro, Pescados Vivos, parte integrante de uma trilogia, cujos primeiros são Lábia e Tarifa de Embarque. Existe uma confluência entre vocalidade e escritura na arena dos signos poéticos que compõem muitos poemas desse poeta. Essa confluência, às vezes, evidencia-se por uma semiose performática da disposição das palavras no papel e na sonoridade semântica que envolve ritmos, melodias, compassos de mundos culturais diversos. Deles todos emanam vozes vivas reveladoras de seus próprios modos de vida e de suas estruturas mentais. Poesia Cantante, faiscante e vulcânica, a poesia de Waly Salomão convoca o leitor ao ato e à cena do mundo, à ação representativa de nós mesmos e do outro em gritos e sussurros de vozes vivas recolhidas de diferentes espaços culturais. Palavras–chaves: vocalidade, escritura, inteculturalidade, poesia, performance 8 ABSTRACT Considering the advanced studies of interculturality and taking poetic production as a force capable of expressing cross-cultures and the arts, this research attempts to "search" the performative universe of voice and gesture, which are present in life and work poetry of Waly Salomão, specifically in his last book, Pescados Vivos, an integral part of a trilogy, whose first are Lábia and Tarifa de embarque. There is a confluence between vocality and writing in the arena of the poetic signs that compose many poems of this poet. This confluence is sometimes evidenced by a performative semiosis of the disposition of words on paper and in semantic sonority that involves rhythms, melodies, and bars of diverse cultural worlds. From them all emanate living voices revealing their own ways of life and their mental structures. Poetry Singing, sparkling and volcanic, the poetry of Waly Salomão summons the reader to the act and scene of the world, the action representative of ourselves and the other in shouts and whispers of voices alive collected from different cultural spaces. Keywords: Vocality. Writing. Interculturality. Poetry. Performance. 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO : Ô ABRE ALAS: WALY SALOMÃO VAI PASSAR.........................................10 CAPÍTULO I PESCADOS VIVOS: TESTAMENTO POÉTICO OU O CANTO DO CISNE. 1.1. GESTO DE PARTIDA OU BOCA NÃO MAIS DISSE PALAVRA...........................................20 1.2. PORTO. .........................................................................................................................................33 1.3. TRAVESSIA .................................................................................................................................44 CAPÍTULO II VOZES PRIMORDIAIS 2.1. LADAINHAS EM FEITIO DE ORAÇÃO...................................................................................56 2.2. ARTE COMO DESTINO..............................................................................................................70 2.3. MUITO ALÉM DA PROVÍNCIA.................................................................................................94 CAPÍTULO III SOB O SIGNO DO BARROCO 3.1. TEATRALIDADE.......................................................................................................................106 3.2. CORPO E RELIGIOSIDADE......................................................................................................119 3.3. O CRUCIFICADO.......................................................................................................................132 CAPÍTULO IV POR UMA POÉTICA DA RELAÇÃO: PARA ALÉM DO BARROCO 4.1. O CAOS MUNDO........................................................................................................................146 4.2. ARTE-PARTICIPAÇÃO..............................................................................................................161 4.3. POLÍTICA CULTURAL: SOB O SIGNO POÉTICO.................................................................180 CONSIDERAÇÕES FINAIS: POR ESSAS LINHAS TORTAS: O LEGADO DE WALY SALOMÃO..........................................................................................................................................192 BIBLIOGRAFIA................................................................................................................................199 ANEXO A – CAPA DO LIVRO ME SEGURA QU’EU VOU DAR UM TROÇO.......................212 ANEXO B – CAPA DO LIVRO PESCADOS VIVOS....................................................................213 ANEXO C - ICONOGRAFIA ..........................................................................................................214 ANEXO D – RECORTES DE JORNAIS .......................................................................................226 ANEXO E – REVISTA O ORIENTE..............................................................................................230 ANEXO F – REVISTA NAVELOUCA...........................................................................................233 ANEXO G – PALESTRA MINISTRADA PELO POETA WALY SALOMÃO NA CIDADE DE JEQUIÉ-BA, EM 29 DE SETEMBRO DE 2001. TRANSCRIÇÃO ............................................271 ANEXO H – DVDs.............................................................................................................................286 10 INTRODUÇÃO: Ô ABRE ALAS, WALY SALOMÃO VAI PASSAR O poeta prepara-se para mais uma viagem rumo ao desconhecido. Vozes estrangeiras da infância há muito o convocavam. É chegado o momento de ir em busca da pequena ilha utópica. Tomada de mar em fora, em largo. Antes que o livro, anfíbio, se abra como um mar, eis que nos apresenta o poeta uma fotografia. Em seu processo artístico, já era hábito a preocupação com as capas de seus livros. Como Whitman, Waly punha uma foto na capa de muitos livros que publicara. Assim o fizera, desde sua primeira publicação no ano de 1972. Era o livro Me segura qu’eu vou dar um troço1. Nela aparece uma fotografia onde está o poeta Waly Salomão, um rapaz (o jornalista José Simão) e uma menina do Morro de Santa Marta (Márcia Rúbia). Enquanto o poeta segura um guarda–sol (metáfora para a tenda nômade de seus ancestrais) e uma plaqueta onde pode-se ler a palavra PEPSI, a menina compartilha uma faixa escura com o rapaz que suga o refrigerante. Nessa faixa, está escrita, em caixa alta, a palavra “- FA-TAL-”, com hífen indicativo da separação silábica e da ênfase na pronúncia, assim como outros dois hifens, um no início outro no fim da palavra, abrindo-se à imaginação do leitor que, conforme sua vontade, poderá completá-la, transformá-la. A palavra era uma menção ao show dirigido por Waly para Gal Costa. Ao fundo a avenida Nossa Senhora de Copacabana repleta de carros. Estavam os três entre mar e asfalto na calçada da praia de Copacabana. Em seu último livro, Pescados Vivos2, publicado