A Cultura Em Tempos De Reality Show CURITIBA 2006
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1 LUIZ BELMIRO TEIXEIRA A PAIXÃO DOS CÍNICOS: A cultura em tempos de reality show Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Sociologia pelo Departamento de Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Orientador: Prof . Dr. Nelson Dacio Tomazi CURITIBA 2006 2 LUIZ BELMIRO TEIXEIRA A PAIXÃO DOS CÍNICOS A cultura em tempos de reality show Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Sociologia pelo Departamento de Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Orientador: Prof . Dr. Nelson Dacio Tomazi CURITIBA 2006 3 À minha família 4 AGRADECIMENTOS Felizmente durante a realização deste trabalho muitos se fizeram presentes: amigos, parentes, professores, orientadores. Cada um à sua maneira contribuiu mesmo que não saiba para que eu chegasse até aqui, por isso fica difícil expressar com palavras o sentimento de gratidão e amizade que sinto por estas pessoas, a melhor forma que encontrei foi um poema escrito por Vinicius de Moraes, muito obrigado a todos, espero que continuemos juntos por muito tempo. SONETO DO AMIGO Enfim, depois de tanto erro passado Tantas retaliações, tanto perigo Eis que ressurge noutro o velho amigo Nunca perdido, sempre reencontrado. É bom senta-lo novamente ao lado Com olhos que contêm o olhar antigo Sempre comigo um pouco atribulado E como sempre singular comigo. Um bicho igual a mim, simples e humano Sabendo se mover e comover E a disfarçar com o meu próprio engano. O amigo: um ser que a vida não explica Que só se vai ao ver outro nascer E o espelho de minha alma multiplica... Los Angeles, 7/12/1946 5 Os personagens, nomes, acontecimentos desta produção são ficcionais, qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sido mera coincidência. Aviso padrão de programas ficcionais, como telenovelas. 6 RESUMO O objetivo da pesquisa é abordar aspectos culturais das instituições da comunicação de massas por meio de um dos gêneros televisivos de maior sucesso nos últimos anos, os reality shows. O objeto será o reality show de maior sucesso na televisão brasileira, o Big Brother Brasil, inspirado no romance 1984, no qual os indivíduos de um país, vigiados 24 horas por dia, passam a agir como autômatos que existem apenas para fazer as vontades do Estado totalitário (Partido), representado pela figura do Big Brother. Mas na sociedade contemporânea, ao contrário do mundo retratado no romance, vivemos sob os ideais democráticos ocidentais, e o “poder disciplinar” parece reproduzir-se com o consentimento e o prazer dos próprios sujeitos. Um estudo sobre o programa nos permite entender sua inserção nos paradigmas atuais da produção de significados da cultura contemporânea, enfocando elementos como: as “celebridades”; a simulação de uma realidade experimental; o consumismo; a alta competitividade e o individualismo exacerbado; o predomínio de uma razão cínica. Entre as principais referências teóricas incluem-se: Jean Baudrillard, Theodor Adorno, Max Horkheimer, Walter Benjamin, Edgar Morin, Jurandir Freire Costa, Friedrich Nietzsche, Gilles Deleuze e Slavoj Zizek. Palavras-chaves: Big Brother Brasil – cultura contemporânea – razão cínica. 7 ABSTRACT The purpose of this research is broach cultural aspects of mass midia institucions through of one most success televisive gender in last years, the reality shows. The object will be the most success reality show of brazilian television, the Big Brother Brasil, inspired in the novel 1984, in that individuals of a country are watched 24 hours for day, raising act like robots that exist only to make the purposes of totalitarian State (Party), represented in the person of Big Brother. But in the contemporary society, instead of world portrayed by the novel, we live under the ocidental democratic ideals, and the “disciplinary power” appear multiply with the acquiescence and the pleasure of own subjects. One study about TV program permit us understand your insertion in the actuals paradigms of production of meaning of contemporary culture, focalizating elements like: the “celebrities”; the simulation of a experimental reality; the consumption; the high competitivity and the exacerbated individualism; the predominancy of a cynical reason. Between the mains theoretical references include: Jean Baudrillard, Theodor Adorno, Max Horkheimer, Walter Benjamin, Edgar Morin, Jurandir Freire Costa, Friedrich Nietzsche, Gilles Deleuze e Slavoj Zizek. Word-keys: Big Brother Brasil – contemporary culture - cynical reason. 8 SUMÁRIO RESUMO.......................................................................................................................... 6 ABSTRACT....................................................................................................................... 7 INTRODUÇÃO – A CULTURA TELEVISIONADA............................................................ 09 CAPÍTULO 1 – NOS IDOS DE 1984................................................................................. 15 1.1–Público x Privado: Fronteiras difusas.................................................................... 27 CAPÍTULO 2 – A TELEVISÃO BRASILEIRA.................................................................. 48 2.1 – Os reality shows e sua história.............................................................................. 60 CAPÍTULO 3 – VIVENDO DE FOLIA E CAOS................................................................ 78 3.1– O niilismo: auto-destruição encenada.................................................................. 84 3.2 – Diante de uma terra desolada: a melancolia......................................................... 91 3.3 – Paixão pelo real x Paixão dos cínicos................................................................... 99 CAPÍTULO 4 – BEM-VINDOS AO DESERTO DO REAL................................................. 109 4.1 – Imagens espetaculares e a lógica do simulacro.................................................. 114 4.2 –.Uma visão cínica da cultura contemporânea....................................................... 126 CONCLUSÃO – UM CONVITE AO CINISMO.................................................................. 133 BIBLIOGRAFIA....................................................................................................... 137 9 INTRODUÇÃO – A CULTURA TELEVISIONADA “Desligue a TV e vá ler um livro!” Durante quinze minutos diários (entre os anos de 2004 e 2005), a MTV brasileira interrompia sua programação normal e colocava no ar apenas uma tela escura com estas palavras, além de um zunido incessante. Tornou-se lugar comum criticar a televisão, a ponto da própria elaborar a “crítica”. Alienada, idiotizante, superficial, alguns dos “adjetivos” normalmente utilizados pela intelectualidade, seja ela brasileira ou internacional, para definir a televisão. Parece ser quesito básico para qualquer um que se pretenda crítico cultural um certo desprezo pela TV, e tais “preconceitos” não se restringem à academia, até mesmo humoristas compartilham desse sentimento quando criam seus trabalhos, o cartunista Laerte, por exemplo, publica uma charge semanal satirizando a TV aos domingos na Folha Ilustrada (caderno cultural da Folha de São Paulo). Grandes diretores do cinema também já elaboraram sua crítica à televisão. Em 1967, o diretor francês Jacques Táti lançou “Play Time – Tempo de Diversão” , uma crítica aberta ao modo de vida das grandes metrópoles do século XX, em que o ritmo da vida das pessoas é ditado pelo ritmo dos aparelhos eletrônicos, principalmente pela TV. Em uma das cenas mais emblemáticas vemos um prédio de apartamentos, nos quais as televisões estão instaladas nas paredes, o que passa a impressão de que as pessoas assistem os seus vizinhos em seus afazeres domésticos ao mesmo tempo em que são assistidos pelos mesmos. As pessoas não vivem mais suas vidas, ao invés disso assistem os outros vivendo, a vida deixa as ruas para ocupar a sala de estar. Os primeiros pesquisadores dos meios de comunicação de massa, buscavam sobretudo desvendar os mecanismos de manipulação das audiências. A súbita expansão do rádio, do cinema e da televisão os fazia crer que estes meios substituiriam as tradições, as crenças e solidariedades históricas por novas formas de controle social. Nos seus traços essenciais, TV e rádio são semelhantes entre si 10 e não foram modificados desde o princípio: cada ouvinte e espectador está isolado em seu cubículo doméstico, onde o mundo lhe é fornecido em casa de forma escolhida pelos outros. Com a televisão especialmente, estamos diante de um instrumento que, teoricamente, possibilita atingir o mundo inteiro, simultaneamente. Mas a questão essencial não é se transmitem imagens e sons juntos, ou somente algum destes elementos isoladamente. Essenciais para o estudo da televisão são a relação social entre indivíduos e a relação entre os indivíduos e o mundo. Os escritos dos primeiros estudiosos apresentavam a televisão como uma espécie de gênio maligno, uma caixa de Pandora 1, vindo inexplicavelmente perturbar uma vida que antes era harmoniosa e feliz. O que estes críticos parecem não compreender, e que desejo ressaltar aqui, é que a TV não inaugura processos, muito menos rompe com a ordem social existente à época de seu surgimento. Antes de prefigurar aspectos sociais – que o faz em certa medida – , ela reflete aspectos de nossa sociabilidade. Nesse sentido, este trabalho é um esforço de pensar a televisão não como um meio de comunicação a priori superficial,