Jacques Rivette
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JAC QUES 2 RI 3 VET TEJÁ NÃO SOMOS INOCENTES Ministério da Cultura apresenta Banco do Brasil apresenta e patrocina JAC QUES 4 RI 5 VET JÁ NÃO SOMOS INOCENTES TEMOSTRA DE FILMES, PALESTRAS E DEBATES RJ - 25 de junho a 15 de julho de 2013 SP - 3 a 21 de julho de 2013 O Ministério da Cultura e o Banco do Brasil apresentam, com por esse motivo, não tinham lugar nos circuitos comerciais Jacques Rivette – Já Não Somos Inocentes apoio da Embaixada da França e Institut Français, a mostra mais tradicionais, ficando restritos a festivais, retrospectivas, , retrospectiva da sessões especiais e exibições na TV. Poucos foram exibidos 6 A Bela Intrigante Quem Sabe? 7 comercialmente no Brasil, assim como em mostras anuais de obra do polêmico diretor francês. Defesa Secreta cinema internacional, como , e Ao lado de Jean-Luc Godard, François Truffaut, Eric Rohmer e . Cahiers du Cinéma Claude Chabrol, Jacques Rivette foi cineasta da Nouvelle Vague e crítico da revista , da qual viria a se tornar Ao realizar a mostra, o CCBB reafirma seu compromisso Paris nos Pertence A editor em 1963. Realizou em 1960 um dos principais filmes do com a valorização da cultura e oferece ao público uma visão Religiosa movimento, , e em 1966, o mais polêmico, panorâmica da produção de mais um importante diretor , que chegou a ser proibido na França. internacional, exibindo quase integralmente sua obra, além de produzir uma publicação com ensaios e traduções de suas Os filmes de Rivette circularam menos do que os de seus colegas críticas, até hoje inéditas em português. provavelmente por causa da duração longa de muitos deles que, Centro Cultural Banco do Brasil É com imenso prazer que a Embaixada da França no Brasil, em Brasil promove o acervo da cinematografia francesa e de seus parceria com o Institut Français du Brésil, apoia essa primeira autores: isto é uma das suas principais missões na área da grande retrospectiva dedicada à obra de Jacques Rivette. cooperação cultural. 8 9 Ainda hoje, Jacques Rivette permanece como o menos Essa retrospectiva deverá despertar um grande interesse conhecido dos cineastas da Nouvelle Vague. Como a maioria no Brasil, país que sempre demostrou a melhor acolhida aos dos realizadores deste movimento, Rivette faz uma abordagem cineastas da Nouvelle Vague. do cinema através da cinefilia e da crítica. Gostaria de agradecer aos responsáveis pelo evento e, A duração muitas vezes excepcional dos seus filmes, bem particularmente, ao Banco do Brasil, que patrocinou a mostra. como sua abordagem intelectual do cinema, fizeram com que, por muito tempo, ele passasse injustamente a imagem Estou convencido de que, para um vasto público, esta Mostra de um cineasta “sério”, o que explica em parte, hoje ainda, a representa a oportunidade de descobrir uma das mais confidencialidade da sua carreira. cativantes personalidades do cinema francês. Por serem longos e densos, os filmes de Rivette são concebidos como verdadeiras experimentações, permitindo a participação ativa do espectador no processo de criação da obra. Essa exigência tem um excelente retorno e constitui uma experiência inesquecível para todos os cinéfilos. Com a sua participação nesta Mostra que oferece ao público a Bruno Delaye quase totalidade da obra de Rivette, a Embaixada da França no Embaixador da França no Brasil Apesar de sua importância capital na história do cinema, os a exemplo de Luc Moullet, Jean Eustache e o casal Danièle filmes de Jacques Rivette foram exibidos no Brasil de modo Huillet e Jean-Marie Straub. muito irregular, ficando restritos a alguns poucos títulos lançados no circuito exibidor ou trazidos para mostras anuais Mas a que se deve essa influência? Entre outras coisas, ao 10 11 de grande porte. Seguindo a mesma toada, sua carreira de fato de que ela imprimiu uma noção e um olhar modernos crítico (tão ou mais influente do que a de cineasta) é também do cinema, de suas questões e de suas formas, diferentes Cahiers praticamente desconhecida por aqui, já que seu trabalho, que das teorias complexas das vanguardas heroicas e de uma du Cinéma se deu quase que exclusivamente nas páginas dos certa ortodoxia realista de André Bazin. Tanto na direção nas décadas de 1950 e 60, permaneceu até hoje quanto na crítica, Rivette foi um dos protagonistas e sem tradução (à exceção do texto “Gênio de Howard Hawks”, profetas do cinema moderno. Entre tantas definições do Mestre recentemente traduzido para o catálogo de uma retrospectiva “moderno” no cinema, a que cabe a Rivette é a que implica Mizoguchi: Uma Lição de Cinema Hawks, e “Mizoguchi visto daqui”, incluído no livro uma reflexão fina, profunda e ampla sobre o próprio , organizado por Lúcia Nagib ofício do artista que – paradoxo – nunca se definiria por mise-en -scène e publicado em 1990), reverberando de maneira ainda muito completo se tomado somente no campo das tradições tímida nos estudos de cinema praticados no Brasil. artísticas. Haja vista o próprio conceito de , ao qual Rivette, nos textos que escreveu entre 1953 e 1961, Jacques Rivette disputou com Éric Rohmer a liderança conferiu uma complexidade ainda hoje vital e misteriosa, no intelectual do grupo de críticos que viria se constituir como entrecruzamento da estética teatral com os novos desafios o núcleo principal da Nouvelle Vague. Tal grupo incluía, técnicos e filosóficos impostos pelo cinema. naturalmente, Jean-Luc Godard, François Truffaut e Claude Chabrol, entre outros. Mesmo que Rivette, no momento Esse mistério do cinema que não se subordinou a abstrações Paris nos Pertence de eclosão do movimento, tenha realizado um só filme de teóricas é o ponto crucial e fundamental de todo o trabalho longa-metragem, (1961), sua influência de Rivette. Ele sempre se obstinou em entender a engrenagem Amor Louco A Bela Intrigante como crítico foi decisiva junto aos jovens cineastas que, do tempo – seja como exegeta de Rossellini e Hawks, seja se não pertenciam à Nouvelle Vague, se avizinhavam dela, como diretor de e – e em fazer da história do cinema o campo que reflete, como reflexo e Como cineasta e como crítico, Rivette operou a síntese entre reflexão, as questões mais paradoxais da modernidade na arte o clássico e o moderno, entre o rigor e o esboço, entre o e no mundo. Entre elas, a problemática do controle (central na cinema americano e as tradições do cinema europeu, entre Cahiers du Cinéma 12 arte moderna, como disse Jacques Aumont) e do descontrole o cinema e outros ramos da arte e do pensamento. Foi ele, 13 (condição da natureza e também da máquina). O cinema estaria por exemplo, quem abriu os ao diálogo entre a mecânica do relógio e a fruição incontida do tempo. mais franco com as ciências humanas e a arte moderna, Essa “dialética do controle”, construída com rigor, estilo e entrevistando figuras como Pierre Boulez e Roland Barthes. gênio, consigna a Rivette a responsabilidade pelo pensamento O que, para muitos, parece uma contradição inconciliável mais original e livre entre seus pares que se dividiram entre a e extravagante em suas escolhas críticas (amar Hawks e reflexão (a crítica) e a ação (o trabalho de cineasta). Seus filmes Rossellini ao mesmo tempo) é, na verdade, o que alimenta são demonstrações do pensamento em ação, e talvez por isso seu cinema de modo incontornável. Mostra Jacques Rivette – Já Não Somos Inocentes as ideias do esboço e das “leis” do cinema (complementadas pelo segredo e pelo perigo) lhe sejam tão caras. Entender o A cinema e sua engrenagem é pensar sobre a realidade e seus exibe pela primeira vez no Brasil uma retrospectiva mecanismos evidentes e subterrâneos (daí a ideia de complô, quase integral de seus filmes, e apresenta um catálogo fundamental no seu cinema), é reconhecer que a consciência que, além de incluir textos que os discutem, constitui moderna do cinema não admite a inocência, já que seu objetivo a primeira publicação no mundo (França incluída) a Cahiers du Cinéma é acusar o poder das imagens – é tirá-las do mundo e devolvê- compilar as suas mais importantes críticas escritas para las a ele. O título do primeiro texto de Rivette, “Já não somos os . inocentes” (presente neste catálogo), exprime uma intuição que seus textos e seus filmes não cessaram de confrontar, sem atalhos e sem recuos. Francis Vogner dos Reis e Luiz Carlos Oliveira Jr. Curadores 14 15 JAC Rivette crítico Sobre Rivette QUES Galeria de imagens 177 Já não somos inocentes [1950] 23 A geografia do labirinto 101 Filmografia 215 Adriano Aprà RI A arte da fuga [1953] 29 metteurs en scène O transmissor 113 VET A era dos Jacques Aumont [1954] 35 Jacques Rivette/John Carpenter Créditos 232 16 JÁ NÃO SOMOS INOCENTES 17 TE Carta sobre Rossellini [1955] 43 – insularidades comparadas 131 Emmanuel Siety Notas sobre uma revolução [1955] 61 Conversa de Jacques Rivette com Marguerite Duras 151 Santa Cecília [1958] 67 Entrevista com Roberto Rossellini Rivette visto daqui [1959] 71 Du côté de chez Antoine [1959] 89 Jacques Rivette, antes tarde do Da abjeção [1961] 95 que nunca 159 Mateus Araújo Figuras traçadas no tempo 165 Luiz Carlos Oliveira Jr. O profeta do moderno: Jacques Rivette cineasta e crítico 171 Francis Vogner dos Reis 18 19 Rivette crítico 20 21 Já não somos inocentes 1 Jacques Rivette Assistir hoje a um filme de Mauritz Stiller, F. W. Murnau ou D. W. Griffith é tocante, e também revelador da 22 excepcional importância que todo e qualquer gesto humano 23 (na verdade, que o funcionamento de todo o universo sensível) assume em seus filmes: um ato tão corriqueiro quanto beber, caminhar ou morrer adquire densidade – a plenitude de significado e a evidência confusa do símbolo que sempre transcendem interpretações e limitações, e que gostaríamos de ver nos filmes de hoje.