1949 Aux quatre coins “O importante é aquilo que eu vejo a partir do 1950 Le quadrille que o ator “dá”, segundo um processo pessoal 1952 Le divertissement dele, que não me diz respeito. Quando Emanuelle [Béart] me propõe alguma coisa, ela não vem falar Le coup du berger 1956 comigo dizendo “E se eu fizesse isso...?” Ela faz. apresenta 1960 Paris nous appartient Em seguida eu vejo ela interpretar – não no visor 1966 A Religiosa (La religieuse) da câmera (eu sei muito bem o que ela filma, Cinéma de notre temps: Portrait conheço sua posição e sua óptica, que é quase de Michel Simon par Jean Renoir sempre a mesma) – e posso reagir em relação à ou Portrait de Jean Renoir par realidade, a uma matéria que existe. Essa Michel Simon ou La direction realidade, essa “matéria”, é Emanuelle atuando.” d’acteurs: dialogue (TV) “O fato de eu assistir a tantos filmes parece de fato Cinéma de notre temps: Jean assustar as pessoas. Muitos cineastas fingem que Renoir, le patron (TV) nunca vêem nada, e isso sempre pareceu muito 1969 L’amour fou estranho para mim. Todo mundo aceita o fato de 1971 que escritores lêem livros, escritores vão a 1972 Out 1: Spectre (versão reduzida) exposições e inevitavelmente são influenciados pelo trabalho dos grandes artistas que vieram 1974 Céline et Julie vont en bateau antes deles, que os músicos ouçam música antiga Naissance et mont de Prométhée além das coisas novas... Então por que as pessoas 25 de Fevereiro de 2004 – Ano II – Edição nº 41 Essai sur l’agression acham estranho que cineastas – ou pessoas que 1976 (une quarantaine) querem tornar-se cineastas – vejam filmes? Noroît Quando você vê os filmes de certos diretores, 1981 Paris s’en va você pensa que a história do cinema começa para 1982 eles em torno dos anos 80. Os filmes deles provavelmente seriam muito melhores se eles 1983 Merry-Go-Round tivessem visto um pouquinho mais de filmes, o 1984 L’amour par terre que vai contra aquela idéia estúpida de que você 1985 corre o risco de ser influenciado se assistir filmes 1988 La bande des quatre demais. Na verdade, é quando você vê muito pouco que você corre esse risco. Se você vê muita 1991 A bela intrigante coisa, você pode escolher os filmes pelos quais A () I você se influencia. Às vezes a escolha não é Divertimento. La belle noiseuse

F consciente, mas na vida há coisas que são mais ) (versão reduzida)

- poderosas do que nós, e que nos afetam A 8 1994 Jeanne la Pucelle I - Les batailles profundamente. Se eu sou influenciado por 2 S 9

R Hitchcock, Rossellini ou Renoir sem perceber, 1

Jeanne la Pucelle II - Les prisions E ( 1995 Haut bas fragile melhor pra mim. Se eu fizer algo sub-Hitchcock, já e G t fico muito feliz com isso. [Jean] Cocteau Õ t Lumière e cia

e costumava dizer: ‘Imite, e o que é pessoal vai

v (Lumière et compagnie) O i Ç aparecer eventualmente apesar de você. Dá R 1998 Secret défense sempre pra tentar.” s A M e 2001 Quem sabe? () T u L I

q 2003 Histoire de Marie et Julien I c

a F J C A BELA INTRIGANTE SESSÃO CINECLUBE PRÓXIMOS FILMES de Jacques Rivette

Mediação do Debate: 3/Mar A História de Adèle H Eduardo Valente e Ruy Gardnier. de François Truffaut

Programação e Produção: "La Belle Noiseuse" é o nome da última e inacabada obra La Belle Noiseuse – França/Suiça, 1991, cor, 240' Grupo Estação e Contracampo. Direção: Jacques Rivette Roteiro: Pascal de Frenhofer, um renomado pintor francês, que a Bonitzer, Christine Laurent e Jacques Rivette

abandonou dez anos atrás quando ela o consumiu e A Fotografia: Montagem: C realização colaboração destruiu seu relacionamento com a esposa. Quando ele I Produção: Martine N Marignac Elenco: Michel Piccoli (Edouard

conhece Marianne, a bela namorada de um jovem pintor C Frenhofer), Jane Birkin (Liz), Emmanuelle Béart É E T S que visita sua casa, se sente inspirado e resolve retomar (Marianne), Marianne Denicourt (Julienne), P

A David Bursztein (Nicolas), Gilles Arbona

O a obra. Nesta arriscada colaboração, ele e sua nova H (Porbus), Marie Belluc (Magali), Marie-Claude N C I modelo sofrerão mudanças para sempre em suas vidas. I Roger (Françoise). F S www.estacaovirtual.com www.contracampo.com.br Criar (e recriar) o novo/belo não é coisa fácil. O que se cria? E como proceder? E o Vera também lembrou de Rodin, e falou com Camila. Sim, ela que acontece com a vida? Criar e viver bem são coisas que se conciliam, se sabia quem era, mas não, nunca tinha visto as estátuas dele (e Vera confrontam ou ambos? novamente se prometeu que iria corrigir isso). Mas Camila parecia realmente entretida no filme, que bom. Vera sentia que a filha se *** interessava mais pelos comentários sobre cinema, e falou O João chegou ao Odeon ainda cedo, bem antes da Sessão Cineclube. Comprou seu rapidamente sobre os planos longos. Eram todos muito simples, ingresso logo, pegou um folheto como este e teve que fazer hora até a sessão – ficou deixavam a imagem fluir, fosse dos atores ou de um desenho. passeando, esperando Maria, sua namorada, pensando no filme que ia ver, nas coisas João sentiu que Maria ficou bem perturbada pelo final do filme. que queria sentar para escrever quando chegasse em casa e achando tudo muito Ele se sentiu muito incomodado por não ter visto o quadro, mas estranho na Cinelândia. achou ao mesmo tempo que era uma boa solução. Mas ela realmente ficou incomodada com a história. Ele não entendia Vera teve que estacionar o carro correndo, em cima da hora, e Camila, sua filha de direito o que se passava na cabeça dela, e nisso até se sentiu dezesseis, veio reclamando o caminho todo por conta disso, era melhor ter pego o próximo ao personagem casado com Marianne no filme, Nicolas. metrô, além de estacionar no Centro ser terrível – ou caro. Mas já não via ela há tempos, Talvez fosse isso, Maria talvez estivesse se identificando com e nem se incomodou tanto – Vera apostava que o filme ia ser bom. Em filme francês ela Marianne, mas... em quê? Ele, no entanto, não podia negar: sentiu- confiava, só receava que fosse muito longo, mas era do Rivette, cineasta da Nouvelle se provocado por não ver o quadro. Achou que Freinhofer era um Vague que tinha feito recentemente Quem sabe, que ela tinha gostado muito. E era tremendo covarde, no final das contas. Chegou a comentar isso sobre pintura, ela queria dar uma boa educação artística para a filha. Entraram correndo com Maria. Pra quê, meu Deus?! Foi só ele falar isso que ela na sala e não houve como negociar: a mãe fez questão de sentar nas cadeiras mais mostrou o quanto estava transtornada com o filme: então era para distantes da tela, “para não perder as legendas”. Camila teve que aceitar, resignada, já expôr a garota?, era para mostrar que ele, Freinhofer, era o grande sabia que teria que escutar durante todo o filme os comentários da mãe. Vera começou gênio, o machão insuperável? Para mostrar que ele criava arte notando certos aspectos teatrais na relação dos atores. Ela gostava disso, um certo tom destruindo a vida? A vida é mais importante que a arte!, foi o que de encenação que lhe parecia sutil, começando sem parecer que começava. Mas achou ela vociferou. Só restou a João pedir desculpas (ela também graça e comentou (num tom mais alto do que Camila achava necessário) que o Michel pediu) e concordar, que ele não é tão bobo assim. Na verdade, Piccoli estava a cara do Iberê Camargo. Camila não sabia quem era Iberê Camargo, e estava louco para chegar em casa e sentar no computador para Vera se prometeu mentalmente que iria mostrar um álbum a ela mais tarde. escrever. Queria se arriscar como Freinhofer sugeriu, fazer tudo certo e depois ir além. Não ia mais escrever o ensaio em que Renata, ou Dona Renata, como lhe chamavam já os funcionários do Odeon e os estava pensando – ia arriscar uma ficção misturada com crônica da organizadores da sessão, estava feliz por poder ver aquele filme dos anos noventa sua vida. Sem medo, pelo menos na disposição. Mas sem ser cruel que ela tinha ouvido falar muito bem mas tinha perdido. Mas também estava – foi aí que se deu conta de que, no fundo, ele dava razão a Maria. chateada por saber que a sessão não teria debate (ela gosta muito de assistir) e o filme teria quatro horas, o que é uma verdadeira prova de resistência física, coisa Renata emocionou-se com a coragem de Freinhofer em perder própria para jovens como os rapazes da Contracampo, mas não era mais algo sua criação. Ficou novamente triste porque não haveria debate agradável para ela. Mas com poucos minutos já estava encantada. A atuação do naquela noite. Na saída, tomou coragem e chegou a sugerir ao Piccoli, a beleza das pinturas... ela achava graça que mesmo os desenhos que lhe Ruy que o debate da semana seguinte também falasse de A Bela pareciam lindos não agradavam o pintor – Freinhofer, o personagem, chega a dizer Intrigante. Ficou conversando um pouco, aprendendo sobre a que não fez nada de bom. E que menina linda essa garota, a Béart... carreira do Rivette, que, agora ela sabia, foi um dos críticos da Cahiers du Cinéma que fizeram a Nouvelle Vague. Agora ela quer João estava um pouco sem graça, já que não imaginava que tinha convidado Maria ver A Religiosa, que o Ruy disse que é o filme antigo mais para ver um filme que teria Emmanuelle Béart nua por horas a fio. E nem podia conhecido dele, e também esse recente, o Quem Sabe. Ela ainda comentar como ela era bonita! Se quando ele disse “meu deus!” ela já tinha ficado perguntou ao Ruy “por que é que vocês do Estação não organizam brava, imagine se falasse dos seios ou do bumbum? Ele já conhecia Maria – era motivo uma mostra com os filmes do Rivette?”, mas o Ruy explicou que para brigar a noite inteira! Mas tudo bem, menos mal que o filme parecia cada vez ele não era do Estação. Mesmo assim, disse ele, um dia isso há de mais interessante. E ela também parecia estar gostando, apesar do olhar enfurecido acontecer aqui no Rio. Dona Renata lembrou de novo de Cláudio na hora do comentário. Era o caso, então, de disfarçar a reação ao ver a nudez da e de Pedro. Resolveu que no dia seguinte iria comprar para o neto O personagem.. era só pensar como o pintor! Mas ele mesmo, Freinhofer, tem um tom muitas tintas guache e cadernos para ele começar a pintar. de sátiro, de artista sacana, então ficava difícil não dar bandeira. Mas Maria estava Vera estava bem feliz pelo filme e por ter saído com a filha. Só não à quieta. Embora João tenha achado que ela quase chorou num certo ponto, quando a esperava ter que ouvir o que ouviu dentro do carro. Camila modelo se impõe ao pintor e, ao mesmo tempo, vê sua vida privada ruir. começou falando que tinha que escolher logo o que fazer no vestibular. Oras, grande novidade... E a garota logo emendou que Ç Dona Renata ficou fascinada com a relação sofrida do pintor com sua arte. Achou muita graça quando viu as manias que Freinhofer tinha para começar a pintar, sabia que agora era moda, que não era fácil passar nem que seria fácil viver disso, mas que ela estava resolvida: queria fazer cinema. andando de um lado para o outro, mexendo em tudo para poder se concentrar. o A Vera ficou sem saber o que dizer – ela não gostou nem um pouco n Quando viu o pintor forçando a modelo a posições incômodas, lembrou de um a I da idéia, mas como agir numa hora dessas? Chegando em casa, t outro filme francês e das histórias que tinha lido sobre Rodin e sua relação com seus e lembrou do Rilke (e mostrou o livro à filha). Se lhe parecesse que a modelos. Incrível, ela achou, essa coisa de relacionar um certo êxtase do sofrimento

C seria impossível viver sem fazer aquilo, que fosse em frente, foi o

R l com a criação, que afinal era um dos temas do filme. Pensou no seu filho, Cláudio,

e que falou a Camila. E disse que, como o filme mostrava, isso não i que ela queria que tivesse sido músico, e no seu neto de seis anos, Pedro. Será que n era trabalho que se faz sem envolver toda a vida. Sim, a filha sabia a seria uma boa vida ser artista, como ela sempre sonhou para eles? disso. Mas como fugir do que a gente quer criar? C D