Literatura Cabo-Verdiana: Leituras Universitárias

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Literatura Cabo-Verdiana: Leituras Universitárias Simone Caputo Gomes Antonio Aparecido Mantovani Érica Antunes Pereira (Organizadores) Grupo de Estudos Cabo-verdianos de Literatura e Cultura CNPq-USP Literatura Cabo-verdiana: leituras universitárias Cáceres-MT 2015 UNEMAT Editora Editor: Maria do Socorro de Souza Araújo Diagramação: Ricelli Justino dos Reis Foto da capa: Genivaldo Rodrigues Sobrinho, tirada na Ponta do Sol – Ilha de Santo Antão, Cabo Verde, em 2009, no âmbito do Grupo de Estudos Cabo-verdianos CNPq/USP Revisão: Simone Caputo Gomes Publicação Online Conselho Editorial: Maria do Socorro de Souza Araújo (Presidente) Severino de Paiva Sobrinho Ariel Lopes torres Tales Nereu Bogoni Luiz Carlos Chieregatto Roberto Vasconcelos Pinheiro Mayra Aparecida Cortes Fernanda Ap. Domingos Pinheiro Neuza Benedita da Silva Zattar Roberto Tikau Tsukamoto Júnior Sandra Mara Alves da Silva Neves Gustavo Laet Rodrigues CIP – CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO G6331 Gomes, Simone Caputo. Literatura Cabo-verdiana: leituras universitárias / Simone Caputo Gomes, Antonio Aparecido Mantovani, Érica Antunes Pereira (organizadores). Cáceres: Ed. UNEMAT, 2015. 205 p. ISBN: 978-85-7911-145-7 1. Literatura Cabo-verdiana. 2. Literatura Comparada. 3. Letras. I. Mantovani, A.A. II Pereira, É. A. III Gomes, S. C. IV. Título. V. Título: leituras universitárias. Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Luiz Kenji Umeno Alencar - CRB1 2037 Unemat Editora Avenida Tancredo Neves n° 1095 Fone (0xx65) 3221-0023 Cáceres - MT - Brasil - 78200-000 Proibida a reprodução de partes ou do todo desta obra sem autorização expressa dos (as) autores (as). (art.184 do Código Penal e Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 do Código Civil Brasileiro de 2002). SUMÁRIO HOMENAGEM A SIMONE CAPUTO GOMES 5 APRESENTAÇÃO 7 Os dois irmãos, de Germano Almeida e Dois irmãos, de Milton Hatoum: verdades não esclarecidas entre estilhaços do passado 10 Antonio Aparecido Mantovani Cinco balas contra a América, de Jorge Araújo: desconstrução e identidade na literatura Severino de Paiva Sobrinho infantil e juvenil cabo-verdiana 18 Tales Nereu Bogoni Avani Souza Silva Roberto Vasconcelos Pinheiro A fala autoral e o plano literário de A cabeça calva de Deus 31 Fernanda Ap. Domingos Pinheiro Christina Ramalho Roberto Tikau Tsukamoto Júnior Vera Duarte: ventos da memória num presente de distopias 47 Gustavo Laet Rodrigues Cláudia Maria Fernandes Corrêa Revisitações poéticas: Manuel Bandeira na berlinda dos cabo-verdianos 58 Érica Antunes Pereira Eugénio Tavares: amor a Cabo Verde na prosa de intervenção social 71 Genivaldo Rodrigues Sobrinho Entre dois mundos: a loucura feminina em A Louca de Serrano, de Dina Salústio 86 Juliana Primi Braga Gênero e sexualidade em As memórias de um espírito, de Germano Almeida 99 Mailza R.T.Souza Lendo o sentido de existir em Coração de lava, de José Luiz Tavares 112 Maria de Fátima Fernandes Claridade revista (2000-2013) 124 Norma Sueli Rosa Lima Psicologia reversa e reatância psicológica: o narrador masculino na produção ficcional de Fátima Bettencourt 137 Pedro Manoel Monteiro Sentimentos em trânsito: a representação das masculinidades em Outros sais na beira mar, de Filinto Elísio 146 Raquel Aparecida Dal Cortivo Navegando na poética de Filinto Elísio 157 Rute Maria Chaves Pires Lulucha e Titina: personagens à margem da sociedade 166 Sonia Maria Alves de Queiroz Vítimas e Rebeldes: mulheres escrevem Cabo Verde 176 Sonia Maria Santos Corpos negros que ecoam do outro lado do Atlântico 185 Suely Alves de Carlos O poema, a viagem, o sonho: o mapa de uma poética 195 Vilma Aparecida Galhego AUTORES DOS CAPÍTULOS 203 HOMENAGEM A SIMONE CAPUTO GOMES Cabo Verde, país africano formado por dez ilhas e com área total de apenas 4.033km2, agigantou-se no coração dos estudantes brasileiros graças, so- bretudo, ao trabalho incansável e à paixão arrebatadora compartilhada pela Pro- fessora Doutora Simone Caputo Gomes, que, desde 1976, dedica-se a pesquisar e a difundir, em nível de graduação e pós-graduação, a literatura e a cultura do arquipélago. Pelas mãos de Simone, a semente lançada em chão de poeira foi cuida- dosamente regada e, com o tempo, tornou-se o enorme poilão que hoje verdeja em seu próprio corpo, também este um solo adubado para várias gerações de alunos e pesquisadores. A ideia de publicar o presente livro com o intuito de homenageá-la surgiu espontaneamente dos autores dos textos, que são ou foram seus orien- tandos e supervisionados nos cursos de Mestrado, Doutorado e Pós-Douto- rado da Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade de São Paulo. Em quase quarenta anos de pesquisa na área, Simone Caputo Go- mes recebeu diversas condecorações, entre elas, a Medalha do Vulcão de Primeira Classe, outorgada, em 2007, pelo Presidente da República de Cabo Verde em razão de seu trabalho com a cultura daquele país, e a Comenda Oxum Muiwá, outorgada pela Universidade Estadual da Bahia em 2010. Além disso, foi designada como Membro Honorário da Academia Cabo- verdiana de Letras, pelo Plenário da ACL, em 2013. Em 2008, organizou o I Seminário Internacional de Estudos Cabo-ver- dianos na Universidade de São Paulo, trazendo um grande número de intelec- tuais, escritores e artistas cabo-verdianos, o que possibilitou o contato direto en- tre estes e os pesquisadores brasileiros. Também na USP, a professora fortaleceu o trabalho realizado pelos professores da área de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, renovou as pesquisas sobre a Literatura Cabo-verdiana, instituiu e inaugurou uma disciplina voltada especificamente à produção literária do ar- quipélago e, ainda, criou o Grupo de Estudos Cabo-verdianos de Literatura e Cultura CNPq/USP, em cujo âmbito foi idealizado este livro. Os artigos, que abordam autores e obras cabo-verdianas desde o século XIX até a atualidade, dão mostra da importância que os estudos acerca das Li- teraturas Africanas de Língua Portuguesa vêm assumindo nas últimas décadas. No Brasil, tal fato se deve à ampla divulgação e valorização da Lei nº 10.639, sancionada pelo Presidente da República em 9 de janeiro de 2003 (e revista em 10 de março de 2008 pela Lei Ordinária nº 11.645), que instituiu a obrigatorieda- de do ensino de História e Cultura indígena e afrodescendente tanto no Ensino Fundamental quanto no Médio das redes pública e privada. A publicação desta coletânea é mais uma contribuição aos professores e pesquisadores de Literatu- ras Africanas de Língua Portuguesa num país onde ainda impera no cotidiano escolar uma educação eurocêntrica. Oferecer a presente coletânea à Professora Doutora Simone Caputo Gomes, essa Árvore-Mãe cujos galhos abraçam todos aqueles que aprendem a “amar Cabo Verde”, é uma forma de agradecimento pela confiança em nós de- positada, pela seriedade, pela dedicação e pela competência do trabalho funda- mental na formação de pesquisadores dentro e fora do Brasil. Continuemos a regar a semente plantada por Simone! Antonio Aparecido Mantovani Érica Antunes Pereira (Organizadores) Literatura Cabo-verdiana: leituras universitárias APRESENTAÇÃO Cabo Verde completa este ano quarenta (40) anos de independência. Neste clima de comemoração, completei trinta e nove (39) anos de pesquisa da Literatura e da Cultura Cabo-verdiana, que descobri lendo versos de Daniel Fi- lipe. Têm sido décadas de investigação e docência, com a satisfação de ter ino- vado no campo da investigação, implantado a disciplina específica nos íveisn de Aperfeiçoamento, Especialização, Graduação, Mestrado, Doutorado e Pós- doutorado na área de Letras, em várias universidades brasileiras. Muitos alunos foram formados na área de Literatura Cabo-verdiana e, por extensão, de Litera- turas Africanas de Língua Portuguesa nestes 39 anos, além dos demais oito (8) anos que perfazem quarenta e sete de docência, em outras áreas que abrangem a Literatura Portuguesa e a Teoria da Literatura, com trabalhos nas áreas de alfa- betização e de ensino para alunos com necessidades especiais. Da trajetória na área de Letras tenho recebido, para minha satisfação, o reconhecimento dos meios acadêmicos nacionais e internacionais e, em espe- cial, da comunidade cabo-verdiana, representada por seu Presidente da Repú- blica e por sua Academia de Letras, que me outorgaram a Medalha do Vulcão de Primeira Classe (2007) e o título de Membro Honorário (2014), e ainda por seu Instituto Cabo-verdiano do Livro e do Disco, que publicou minha dissertação de Mestrado, defendida em 1979 (quando dissertações e teses de Literaturas Afri- canas de Língua Portuguesa ainda, timidamente, despontariam no Brasil e no exterior a partir de 1980). Dessa caminhada guardo inúmeros momentos de rea- lização, dos quais desponta esta homenagem idealizada pelos alunos formados sob minha orientação – Pós-doutores, Doutores, Mestres e atuais orientandos – cujas dissertações e teses se debruça(ra)m especificamente sobre temas relativos à Literatura e à Cultura de Cabo Verde. A ideia desse livro surgiu dos próprios orientandos, no âmbito de uma viagem que fiz a Cabo Verde com um grupo de cinco (5) alunos da Universida- de de São Paulo, membros do Grupo de Estudos Cabo-verdianos de Literatura e Cultura CNPq-USP (do qual sou líder), com visita a 5 ilhas das 9 habitadas. O objetivo de demonstrar a reação ao meu trabalho, sob a forma de coletânea, foi logo acolhido por outros orientandos e orientados com entusiasmo e é com muito orgulho da maravilhosa produção que eles têm apresentado que introdu- zo ao leitor uma parte do que temos realizado, em prazerosa parceria, em várias universidades e em vários níveis, sobre a Literatura de Cabo Verde. Da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do período em que fui Professora Visitante da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) destaco os trabalhos de Norma Sueli Rosa Lima e Sonia Maria Santos, que se dedi- caram mais profundamente aos estudos sobre a revista Claridade e sua relação 7 Literatura Cabo-verdiana: leituras universitárias com a Literatura produzida no Brasil no período modernista e, no segundo caso, à ficção literária de autoria feminina em Cabo Verde. Orientei Norma Sueli em nível de Doutorado na UFF e Sonia Santos, no Mestrado, na mesma universida- de; na UFRJ, Sonia teve minha co-orientação no Doutorado.
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    2 A Semana - Sexta-Feira, 28 de Jan. 2005 K R I O L I D A D I MANUEo últimoL POR: JOSÉ VICENTE LOPES Logo agora que já nos tínhamos, todos, acostu- flagelados do vento leste (1960). mado com a eternidade de Manuel Lopes, prepa- Ainda que os primeiros sinais de Chuva braba, rando-nos para comemorar o seu centenário em cujo nome inicial era Terra viva, tivessem surgido vida, eis que ele morre aos 97 anos, em Lisboa, no número 4 de Claridade (Janeiro, 1947), os dois onde residia há 45 anos. Com ele extingue-se tam- romances são de um autor que se encontra em ple- bém o último sobrevivente dos fundadores de Cla- na maturidade pessoal e estética, porque publica- ridade, revista criada por ele, Baltasar Lopes da dos quando ele tinha 49 e 53 anos, respectivamen- Silva, Jorge Barbosa e Manuel Velosa, já lá vão te, portanto, numa altura em que encontrara já o ca- quase 70 anos, marcando para sempre a literatura minho que todo o artista tem de procurar. E, nessa cabo-verdiana em antes e depois dessa publicação. busca, quem quiser haverá de encontrar ressonân- E nesta hora ficamos também a saber que, afinal, cias dos regionalistas brasileiros (José Lins do Rego, Manuel Lopes era o único cabo-verdiano “natural” Graciliano Ramos...), dos neo-realistas portugueses de três ilhas: de S. Nicolau onde nasceu realmente; e até do americano John Steinbeck, de que Manuel de S. Vicente para onde foi levado e registado dias Lopes era um assumido admirador. depois do seu nascimento, até ser levado, criança Na terça-feira, a propósito da sua morte, ouvi ainda, para Coimbra (Portugal), de onde retornaria Germano Almeida dizer à Rádio de Cabo Verde que jovem adulto por não aguentar as saudades; e, fi- Manuel Lopes era o mais politizado dos claridosos, nalmente, de Santo Antão, por obra e graça de Ma- bastando para isso a leitura das suas “tomadas de nuel Ferreira que, No reino do Caliban I, lhe fixa vista”, publicadas na Claridade.
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