2 A Semana - Sexta-Feira, 28 de Jan. 2005 K R I O L I D A D I

MANUEo últimoL

POR: JOSÉ VICENTE LOPES

Logo agora que já nos tínhamos, todos, acostu- flagelados do vento leste (1960). mado com a eternidade de , prepa- Ainda que os primeiros sinais de Chuva braba, rando-nos para comemorar o seu centenário em cujo nome inicial era Terra viva, tivessem surgido vida, eis que ele morre aos 97 anos, em Lisboa, no número 4 de (Janeiro, 1947), os dois onde residia há 45 anos. Com ele extingue-se tam- romances são de um autor que se encontra em ple- bém o último sobrevivente dos fundadores de Cla- na maturidade pessoal e estética, porque publica- ridade, revista criada por ele, Baltasar Lopes da dos quando ele tinha 49 e 53 anos, respectivamen- Silva, e Manuel Velosa, já lá vão te, portanto, numa altura em que encontrara já o ca- quase 70 anos, marcando para sempre a literatura minho que todo o artista tem de procurar. E, nessa cabo-verdiana em antes e depois dessa publicação. busca, quem quiser haverá de encontrar ressonân- E nesta hora ficamos também a saber que, afinal, cias dos regionalistas brasileiros (José Lins do Rego, Manuel Lopes era o único cabo-verdiano “natural” Graciliano Ramos...), dos neo-realistas portugueses de três ilhas: de S. Nicolau onde nasceu realmente; e até do americano John Steinbeck, de que Manuel de S. Vicente para onde foi levado e registado dias Lopes era um assumido admirador. depois do seu nascimento, até ser levado, criança Na terça-feira, a propósito da sua morte, ouvi ainda, para Coimbra (Portugal), de onde retornaria Germano Almeida dizer à Rádio de Cabo Verde que jovem adulto por não aguentar as saudades; e, fi- Manuel Lopes era o mais politizado dos claridosos, nalmente, de Santo Antão, por obra e graça de Ma- bastando para isso a leitura das suas “tomadas de nuel Ferreira que, No reino do Caliban I, lhe fixa vista”, publicadas na Claridade. Eu diria que Ma- essa ilha como seu local de nascimento, induzido nuel Lopes era, ao lado de Baltasar Lopes, o mais certamente pelo facto de o grosso da ficção deste intelectualizado do grupo. Veja-se já agora o que claridoso ter a ilha das montanhas como o espaço ele escreve logo no primeiro número de Claridade, de acção. Haverá, em Cabo Verde, maior glória do na sua primeira “tomada de vista” sobre a nossa que esta ubiquidade? vocação de conhecer o mundo: “Todo o caboverde- Ao longo de todos estes anos, quando o assun- ano vive na ilusão de que não morrerá antes de to é Claridade e os claridosos (por claridosos en- conhecer o mundo. Esta ilusão é alimentada pelos tenda-se vários outros escritores e intelectuais que que regressam, pelos marítimos, pelos emigrantes, se foram juntando ao grupo), a atenção dos críticos pelas cartas que vêm de longe, pelo sentimento ob- tem-se centrado em Baltasar Lopes da Silva e Jor- sessional de lugares melhores. O caboverdeano tem ge Barbosa, mas é provável que, dos três, seja Ma- o espírito cheio de visões distantes. Sonha libertar- nuel Lopes aquele que melhor conseguiu realizar o -se do ‘palude’. Partir é, para ele, viver. ‘C’est ne que hoje se chama “programa claridoso”. Antes de pas partir qui est mourir en peu’, como disse Mo- mais, por ter, a nível da ficção, produzido uma no- rand”. Isto antes, minha gente, de Jorge Barbosa velística onde o drama existencial dos cabo-verdi- dar à estampa Ambiente (1941) onde consta o “Po- anos ficou a todos os títulos bem patente. Primeiro ema do mar” com aqueles célebres versos que são a no romance “Chuva Braba” (1956) e depois, e so- divisa da poesia claridosa: “Este desespero de que- bretudo, nesse épico que é também o romance “Os rer partir / e ter que ficar”. Um lugar cativo na galeria

As reacções à morte de Manuel Lopes são unâ- dever de tudo fazer para que não sejamos jamais Lopes, segundo o autor de “Memórias de um Es- mio Camões, era saber que uma geração de escri- nimes, independentemente da sua proveniência. ‘Os flagelados do vento leste’ e, teimosamente, con- pírito”, “tivesse uma intervenção política muito tores cabo-verdianos pugnavam para que ele fosse Todos, sem excepção, mostram-se pesarosos por ver tinuemos de pé, superando, dia após dia, os desafi- mais activa do que os outros membros da Clarida- agraciado com tal galardão”, afiança o presidente desaparecer uma figura tão marcante da literatura os que se colocam à nação cabo-verdiana no seu de, isso sem desmerecer os outros”. da AEC, para quem Cabo Verde perdeu uma das cabo-verdiana e de uma época, tão importante para percurso de paz de desenvolvimento”. A morte do escritor põe assim fim às hipóte- suas maiores referências culturais. o despertar da consciência do cabo-verdiano. A Pedro Pires juntou-se depois o coro de pesar ses de ele poder ser distinguido com o Prémio De acordo com o poeta, “Manuel Lopes po- O presidente Pedro Pires foi um dos primeiros do primeiro ministro José Maria Neves, intelectu- Camões, como tantas vezes defendeu o poeta voou a nossa memória colectiva com as persona- a a manifestar o seu pesar ao dizer: “A nação cabo- ais e políticos de todo Cabo Verde. O bispo D. Pau- Corsino Fortes, presidente da Associação dos Es- gens dos seus romances, Chuva Braba e Os Flage- verdiana acaba de perder um dos vultos maiores da lino Évora rezou por Manuel Lopes e pediu paz critores de Cabo Verde. Mas, para Germano Al- lados do Vento Leste, que não eram meras mario- sua literatura”. Manuel Lopes, de cuja pena bro- para a sua alma. meida, “muito dificilmente nós cabo-verdianos netas mas figuras com vontade própria. Quanto à taram obras de insofismavel beleza e profundida- “Com toda a dignidade e justiça, Manuel Lo- vamos algum dia obter esse prémio ou outros do sua poesia, é emblemático o Poema de quem ficou”. de histórica sociológica como ‘Os flagelados do ven- pes vai fazer parte da história da literatura cabo- mesmo tipo porque estão marcados”. Ou seja, “te- Herdeiro do testemunho dos denominados na- to leste’ e ‘Chuva Braba’ ficará guardado na me- verdiana, não só por fazer parte do Movimento da mos que ser conhecidos. Por isso, não estranho tivistas, entre eles Eugénio Tavares e Pedro Car- mória colectiva dos cabo-verdianos como um dos Claridade, mas também pelos textos que escreveu que ele não tenha recebido o Prémio Camões”. doso, Manuel Lopes foi, segundo Fortes, “um dos que melhor souberam traduzir todo o drama de antes disso, e que mostravam como ele era um ho- Aliás, conforme declaração de Corsino For- primeiros a pronunciar-se a favor da independên- um povo em luta titânica permanente contra as mem preocupado com Cabo Verde”, afirma Ger- tes ao Kriolidade, para Manuel Lopes, mais im- cia das ilhas de Cabo Verde, e com Jorge Barbosa lestas, a escassez das chuvas e outras adversidade. mano Almeida, lembrando que o malogrado es- portante do que esse prémio era saber que os e Baltazar Lopes da Silva fundou o regionalismo O grito de denúncia subjacente as obras de Ma- critor “estava sempre a desafiar a juventude cabo- cabo-verdianos o consideravam merecedor de tal cabo-verdiano”. nuel Lopes e de outros claridosos ecoou fundo no verdiana no sentido de tomar partido a favor do distinção. “Um dia Manuel Lopes telefonou-me e E a melhor maneira de exaltar a sua obra, peito das novas gerações, incutindo-lhes o pátrio seu país”. Uma postura que fez com que Manuel disse que o essencial para ele, mais do que o Pré- agora que não pertence ao mundo dos vivos, é, A Semana - Sexta-Feira, 28 de Jan. 2005 3 K R I O L I D A D I L LOPES, claridoso Biobibliografia de MANUEL LOPES

Entre os seus pares, Manuel Lopes era aquele que vento leste, cuja importância se deve fundamentalmen- parecia ter um projecto literário e conseguiu realizá-lo, te à carga dramática e épica, de tal modo que acabou POR: ARNALDO FRANÇA não na plenitude certamente, mas, ainda assim, levou-o por servir de mote para Ovídio Martins escrever o seu avante quer através dos seus contos de O galo cantou não menos célebre poema “Flagelados do vento leste”, Manuel dos Santos Lopes que nasceu na localidade de Campinho, ilha de São Nicolau, a 23 de Dezembro de 1907, com baptismo, dois anos de- na baía, quer sobretudo através dos seus dois roman- dedicado a Manuel Lopes. pois em São Vicente, freguesia de Nossa Senhora da Luz, figura errada- ces, sendo no entanto um poeta com muito menos força Mas enquanto Chuva braba termina com um sinal mente no respectivo assento como dela natural. Nesta ilha frequenta a telúrica do que Jorge Barbosa e Osvaldo Alcântara. En- de esperança (a chuva que cai e leva Mané Quim a escola primária residindo durante algum tempo, coincidente com o da I tre os seus pares, Manuel Lopes deu mostras de levar desistir da emigração), Os flagelados do vento leste é Guerra Mundial, no sítio do Mato Inglês, situado a umas duas dezenas de quilómetros da cidade do . Com a morte do pai, acompanha a ma- mais a sério a literatura, sendo disso prova suplementar todo ele desolação, falta de perspectiva e fatalidade, drasta que se fixa em Coimbra, aí residindo de 1920 a 1923, tendo-se matri- alguns dos seus ensaios, especialmente “Considerações que levariam qualquer observador no seu juízo nor- culado no Colégio São Pedro e depois na Escola Comercial. De regresso a sobre as personagens de ficção e seus modelos” (1973) mal a repetir aquela célebre pergunta de Marinha de Cabo Verde frequenta, como aluno externo, o Liceu fundado no Mindelo em 1917, não tendo porém concluído o curso geral. mas também “Os meios pequenos e a cultura” (1951). Campos: porque é que esta gente não se revolta?! O Adolescente, aos dezasseis anos emprega-se no Telégrafo Inglês, a Politicamente, não se pode dizer que Manuel Lopes próprio Manuel Lopes, que se recusava a misturar Western Telegraph Company, situação em que se mantém até 1930, tran- tenha sido um clarividente ou um homem de apostas política com literatura, afirma que Os flagelados do sitando então para a Italcable, companhia italiana do mesmo ramo. A acertadas. O seu envolvimento com o Estado Novo le- vento leste contém uma das muitas respostas aos pro- carbográfica inglesa, sediada na ilha desde 1875 e as companhias carvo- eiras, também inglesas, eram os pólos dominantes da economia Sanvi- vou-o a não compreender devidamente o fenómeno da blemas que Chuva braba levanta. “Se ‘Os flagelados’ centina que, com o relativamente elevado número de empregados britâ- independência de Cabo Verde. Este facto levava Onési- traduzem uma resposta pessimista e real na sua dra- nicos tiveram um papel preponderante, a todos os níveis na formação da mo Silveira a desancar nele sempre que podia, numa maticidade, outras poderão, felizmente, ser dadas”, sociedade mindelense sempre muito dependente dos altos e baixos des- sas companhias. Assim, o Telégrafo com a introdução de novas tecnolo- animosidade retribuída com igual intensidade pelo au- confessa ele em entrevista a Michel Laban, em En- gias no sistema das comunicações provocou, cerca de 1930, uma grave tor de Os flagelados desde a publicação de Conscienci- contro com escritores. crise de desemprego, com o despedimento de algumas dezenas de fun- alização na literatura cabo-verdiana em 1963. Será, pois, essa falta de resposta ou de resposta ade- cionários cabo-verdianos qualificados, isto numa ilha cuja população na Melhor dizendo, ao lado de Jorge Barbosa, Manuel quada que nos leva ainda hoje a questionar o “progra- altura rondava os treze mil habitantes. A permanência de Manuel Lopes na Companhia Telegráfica Italiana, Lopes é o claridoso que melhor absorveu a ideologia ma claridoso”, ainda que o movimento em si represen- criada em 1925, não ultrapassa dez anos pois com a entrada da Itália na claridosa, ideologia essa reflectida nessa angústia de te a independência literária de Cabo Verde, como pro- II Guerra Mundial, em 1940, a Marinha Real Britânica corta-lhe o cabo “querer partir e ter de ficar”, que gerações de cabo- clamou Aristides Pereira aquando do cinquentenário de submarino e a cabográfica suspende as actividades. verdianos continuam ainda hoje a experimentar, embo- Claridade, em 1986. Pois, não só o movimento consti- Manuel Lopes fixa-se então na vizinha ilha de Santo Antão onde explo- ra, como agricultor, uma pequena propriedade rústica que lhe pertence e ra sem a intensidade nem o dramatismo de outrora. tuiu um “fincar de pés” na terra crioula, como, outros- vive um período dramático que lhe dá o saber de experiência feito reflecti- Mané Quim, personagem principal de Chuva Braba, sim, definiu os contornos da moderna literatura cabo- do nas obras chave da sua ficção. Período de dois anos em que as conse- depois de muito se debater, acaba aliciado por nho Lou- verdiana nos seus mais variados géneros artísticos. E, quências da Guerra e da Estiagem se irmanam no contributo à redução de vinte e dois por cento da população da ilha, no total do decénio 1940/50. rencinho e troca a emigração que lhe é proposta pelo no caso de Manuel Lopes, a sua força é tal que agora (35 930/27 947), e num período em que é secundário o papel desempenha- padrinho Joquinha pelo pedacinho de terra herdado do que o pano cai para ele, restam os seus personagens, do pelos saldos migratórios na evolução geral da população. pai. Joquinha, apesar de bem sucedido nas terras do que, de tão reais e verosímeis, parecem gente de carne Regressado a São Vicente, exerce, por pouco tempo, as funções de Brasil, era um homem infeliz a quem, no dizer de Lou- e osso, a ponto de haver leitores que chegaram a dizer tesoureiro da Câmara Municipal que, em 1944, abandona para reingres- sar na Western Telegraph que o coloca na ilha do Faial, no arquipélago rencinho, a emigração roubou a alma. Nenhum dos es- ao próprio escritor, para o seu espanto e delícia, conhe- dos Açores, aí permanecendo onze anos, deslocando-se então para Lis- critos de ficção de Manuel Lopes é tão carregado de cer Mané Quim, Lourencinho, Escolástica, José da Cruz, boa, onde se fixou definitivamente. simbolismo como Chuva braba, um livro em muitos Zefa, Leandro, Zé Viola, e outros mais. Há melhor re- Um dos fundadores da revista Claridade (foi seu director nos dois primeiros números), com colaboração ficcionista, poética e ensaística, aspectos imbatível. Nem mesmo por Os flagelados de conhecimento público que esse para um escritor? intermitente após a sua saída de Cabo Verde. As suas Tomada de Vista publicadas no primeiro e terceiro números, subjectivando o homem cabo- verdiano, são como que suportes que corporizam a efabulação dos seus dois romances: Chuva Braba (Prémio Fernão Mendes Pinto, 1956) e Os Flagelados do Vento Leste (Prémio Meio Milénio do Achamento das Ilhas de Cabo Verde, 1960). É autor de uma colectânea de contos intitulada Galo Cantou na Baía. Um pequeno opúsculo monográfico intitulado Paul dos imortais foi publicado em 1932. Como poeta publicou em 1949 Poemas de Quem Ficou e em 1964 Crioulo e Outros Poemas. O conjunto da sua produção poética, incluin- segundo o presidente da AEC, “fazer com que a juventude da galeria dos imortais”. Mas é preciso que também as no- do parte da publicada antes de eclodir o movimento claridoso, foi antolo- leia e conheça a obra de Manuel Lopes, para que as histórias vas gerações conheçam o importante papel que ele desem- gizado por Alberto Carvalho em Falucho Ancorado, 1997. tristes que ele conta nos seus livros nunca mais aconteçam”. penhou para o despertar da consciência nacional, daí que A prosa ensaística de Manuel Lopes compreende as referidas Toma- Por isso, afiança Fortes, “ao mesmo tempo que apresenta- o ministro da Cultura diz estar pronto a trabalhar para da de Vista e, entre outra colaboração dispersa em periódicos e opúscu- mos os nossos sentimentos à família, também nos congratu- que as obras dele sejam reeditadas. los, Os Meios Pequenos e a Cultura e Considerações sobre as Persona- lamos com o facto dessa família nos ter dado uma figura tão Mas também não está posta de parte uma homenagem gens de Ficção e seus Modelos. importante como ele”. póstuma a Manuel Lopes, segundo o ministro da Cultura. Anteriormente à fundação da Claridade colaborou no Almanaque de Para o ministro da Cultura, Manuel Veiga, “a morte de Este revela que estava a ser preparado um programa de Lembranças Luso-Brasileiro e nos periódicos cabo-verdianos Notícias Manuel Lopes não é apenas uma perda para todo o Cabo louvor ao malogrado escritor, numa iniciativa conjunta da de Cabo Verde e Ressurgimento. Verde” porque, “além de ter uma fina pena tanto na prosa Câmara Municipal do Porto Novo, concelho onde viveu e Em 1979 em Colóquio/Letras, de Maio, publicou o conto Cebola Bran- como na poesia, ele revolucionou a literatura cabo-verdia- se inspirou para realizar a sua imensa obra, da AEC e do ca e em 1986, no número comemorativo do cinquentenário de Claridade, na”. É disso exemplo, aponta Veiga, “Chuva Braba, onde Ministério da Cultura. Iniciativa esta que, segundo Veiga, o conto A Morte de Nho Cacai e dois poemas intitulados Estiagem. denuncia toda a situação social que se vivia na época, a fome vai ser adiada porque “agora é hora de deixar as pessoas Manuel Lopes dedica-se à pintura tendo realizado exposições indivi- e a miséria que grassava nestas ilhas, ao mesmo tempo que recolhidas na sua dor”. Entretanto, as bandeiras estão em duais nos Açores e em Portugal. mostra como é importante fincarmos o pé neste chão para meia haste em todo o concelho de Porto Novo. Da Bibliografia passiva sobre a obra de Manuel Lopes distinguem- torná-lo um país melhor”. A Semana, sentindo-se devedora de obra de Manuel se: Maria Luísa Baptista, Vertentes da Insularidade na Novelística de E, embora nesta hora o que domina seja o sentimento Lopes, curva-se respeitosamente perante a sua memória, ao Manuel Lopes; Marie-Christine Hanras, Manuel Lopes - Um Itinerário Ini- de perda irreparável, Manuel Veiga considera que “é como mesmo tempo que endereça à viúva e aos demais familiares ciático; António Cândido Franco, Exercício sobre o imaginário Cabo-Ver- se Manuel Lopes não tivesse morrido, pois ele produziu obras, as suas mais sentidas condolências. diano (Simbologia Telúrico-Marítima em Manuel Lopes). entre elas O Galo cantou na Baía, que lhe abriram as portas Teresa Sofia Fortes 4 A Semana - Sexta-Feira, 28 de Jan. 2005 K R I O L I D A D I

Susana Lubrano estará em concerto no próximo dia 3 de Fevereiro, quinta-feira, na cidade de Brabant, Holanda. Um espectáculo em que a Melhor Artista de África 2003 apresentará um repertório totalmente acústico dos seus mais importantes sucessos, entre eles “Fofo”, “Tudo pa Bô” e “Silêncio”.

“Insular Instantaneous” é o título da exposi- ção do fotógrafo português Luís Costa que é aberta hoje, 28, ao grande público, na mediate- ca do Instituto Piaget. Trata-se de uma colecção de fotografias tiradas por Luís Costa durante as suas viagens pelas ilhas de Cabo Verde. Free- lancer, Costa é um fotógrafo de carreira, com tra- balhos publicados nalguns dos mais importan- tes jornais e revistas do mundo, entre eles Pú- blico, Washington Post, Sunday Telegraph, Der Spiegel e National Geographic Travel.

São os grupos que dominam a programação deste fim-de-semana no Quintal da Música: hoje, 28, é o concerto do Tropical Som e para amanhã, Duas gerações, Lela Violão e Tó Tavares, jun- 29, está reservado o espectáculo do Vulcão do tam-se hoje, 28, no palco do Centro Cultural Fran- Fogo. Na terça-feira, 1 de Fevereiro, o palco é das cês, às 18h30, para uma tocatina tradicional cabo- Batucadeiras de Taiti. verdiana, com a guitarra no trono. Promessa de um agradável fim de tarde, de bonitas mornas e coladeiras.

A dança é rainha no Centro Cultural do Min- delo, neste fim-de-semana. Amanhã, 29, o gru- po Dangerous apresenta um espectáculo de es- tilos cabo-verdianos e internacionais, às 18h30. Domingo, 30, à mesma hora, o palco do auditó- rio é para o grupo do bailariano Jorge Dança.

Francisco Fragoso, “Canções de Cabo Verde” é o poeta e dramaturgo, di- título do concerto que a Morabeza rector do lendário grupo Records promove amanhã, 29, no Korda Kaoberdi, anima L«Hay-les-Roses, em Paris. Para hoje, 28, uma palestra cantar os diversos estilos que fa- cujo tema é: “teatro em zem a música cabo-verdiana, fo- desenvolvimento”. O lo- ram convidados Jorge Humberto cal escolhido é o auditó- (foto) e Mayra Andrade, ambos a rio da Biblioteca Nacional residirem em França. e a hora é às 18h15. A Semana - Sexta-Feira, 28 de Jan. 2005 5 K R I O L I D A D I ANDREW MAH em tournée pelo arquipélago

O guitarrista clássico Andrew Mah, canadiano, distinguido pela sua virtuosidade e fina musicalidade, inicia em Fevereiro próximo uma mini- tournée por Cabo Verde. O músico nascido em Ottawa, numa família de guitarristas, interpretará um repertório internacional, que inclui composi- ções do cabo-verdiano Vasco Martins. Andrew Mah estudou na Universidade de Toronto e no Conservató- rio de Música do Quebec. Frequentou aulas de mestres conhecidos em todo o mundo, como David Russel, Manuel Barrueco, David Tanenbaum, “Pétalas Vivas”, Sérgio Assad, entre outros, que lhe deram a erudição e o à-vontade sufici- entes para se tornar num supremo vencedor de competições nacionais e ° internacionais. 1 disco de O seu primeiro CD, apresentado em 2001, “ Presenting Andrew Mah”, tem vindo a receber crítica entusiástica pela sua técnica brilhante e estilo único. Facto que torna, desde já, muito apetecível para os apreciadores da TINA DUARTE música clássica, a digressão que Andrew Mah fará pelo arquipélago cabo- verdiano. O primeiro concerto será a 4 de Fevereiro, no Centro Cultural do A guerra obrigou-a a deixar a sua Mindelo. Ribeira Grande e Praia, nos dias 10 e 12 de Fevereiro, respecti- vamente, são os outros dois palcos da tournée. terra natal, Angola, e partir em busca Durante os espectáculos, que se realizam com o apoio do Canada Coun- de um porto seguro, que encontrou há cil for the Arts e o Ministério da Cultura de Cabo Verde, poderá ouvir com- nove anos em Cabo Verde. Agora, o posições de Roddy Elias (Nothing to Gain Nothing to Lose, Innocence e seu coração divide-se entre estes dois Bone Dance), Patrick Roux (Le bourdon de l’ame, Simplement choro, D’un países irmãos, como canta Tina Duar- ciel à l’autre e Valse vertigo) e, na segunda parte, as obras Situações trian- gulares, Sattva (em 3 partes), Prelúdio, Gesto flutuante, Estudo, Deserto te no seu primeiro disco, “Pétalas Vi- subtil (em 8 partes), Num Varanda e Molto Continuum de Vasco Martins. vas”. Um álbum em que o dialecto de Teresa Sofia Fortes Malange convive com o crioulo e o português, e o semba vai de mãos da- das com o cola-zouk. SILAS PINTO EM ESTREIA A SOLO Dirigido por Kim Alves e gravado no K Magic Studio, na Praia, “Pétalas O doutoramento em Psicologia da Educação do à sua avó. A orquestração do disco, que ainda Vivas” é, segundo Tina Duarte, “o re- ocupa quase todo o seu tempo, mas é nas horas não tem título, é entretanto uma tarefa que divi- livres que Silas Pinto, 27 anos, cabo-verdiano re- de com Djim Djob, Phil Base, Tony Kids, músi- sultado de um longo trabalho na me- sidente nos Estados Unidos há 15 anos, desfruta cos da A M S Recording que também interpre- dida em que outras situações foram do seu maior prazer - a música. Um hobby que vai tam diversos instrumentos. acontecendo na minha vida e adiaram mostrar os seus primeiros frutos com o lançamen- O lançamento do álbum, que apresenta esti- to do seu primeiro CD a solo: uma simbiose dos los como cola zouk, batuco, funaná e gospel - in- a concretização deste projecto”. Fun-

Música Música estilos gospel, funaná, jazz, batuco. fluência da sua experiência de fé cristã vivida no cionária pública - é professora -, Tina Mestre Tigre é o nome de guerra com que Si- seio da Igreja do Nazareno, em Providence -, está las Pinto foi baptizado no seio da comunidade ca- previsto para Março ou Abril. Quanto ao país onde Duarte aproveitava as férias para gra- poeirista de Providence, onde reside desde que deseja fazer o lançamento do CD, Silas Pinto não var o disco, o que fez com que entre a partiu de Cabo Verde. E é essa garra, que tam- tem dúvidas: Cabo Verde. gravação da primeira música e a da bém põe na prática do Tae-kwondo, que agora quer Um desejo que se viu reforçado durante a vi- mostrar nas composições que seleccionou para sita que fez recentemente à terra natal e que lhe última decorresse um ano e meio. aquele que será o seu primeiro disco. deu a oportunidade de fazer alguns espectáculos - O disco, que se intitula “Pétalas Com um repertório 100 por cento da sua au- Quintal da Música, Bomba H, Mocidade para Vivas” porque, diz Tina Duarte, “é toria, Silas Pinto destaca neste seu CD temas como Cristo, dentre outros - e sentir o modo como as “Nôs Dia”, “Primeiro Amor”, “BCV Capoeira”, pessoas reagem à sua música. como uma rosa que nasce com péta- “No Djunta” e “Leban di li”, este último dedica- Teresa Sofia Fortes las vivas e bonitas para serem apreci- adas”, tem um repertório constituído por dez composições inéditas, todas da autoria da própria cantora. Ango- Cabo Verde na vanguarda da indústria fonográfica lana de nascimento e cabo-verdiana de nacionalidade, Tina Duarte faz nes- Cabo Verde, mais concretamente cido Ildo Lobo, e jovens talentos como O centro, que irá ocupar uma área a ilha do Sal, deverá em breve entrar Lura e Tcheka, artistas que ele ajudou de 3000 m2 na baía da Murdeira, per- te CD uma tripla homenagem: a Ma- no mapa mundial da indústria fono- a promover. mitirá ao cliente usufruir de todas as lange, a cidade que a viu nascer, a gráfica. É que o empresário e produ- E, segundo Djô da Silva, o centro comunidades que oferece a infraestru- tor musical Djô da Silva prepara a fase vai oferecer um estúdio equipado tura já existente na vila turística ali lo- Angola, o país do qual é originária, e final de um projecto para um centro “com o que de mais moderno há na calizada. “Será, se não o único, dos a Cabo Verde, um país que, confessa cultural na ilha do aeroporto que, além tecnologia de som digital”, pelo que poucos estúdios com vista para o de uma sala de espectáculo e exibi- “os músicos que queiram vir experi- mar”, salienta o empresário, ao mes- a cantora, “me acolheu há nove anos ções de vídeo, com capacidade para mentar os nossos sons e trabalhar de mo tempo que descreve esse mesmo quando a situação de Angola não era 600 pessoas sentadas, contará com perto com os nossos músicos”, irão estúdio: uma construção suspensa, um estúdio de som e imagem de últi- fazê-lo “em condições de primeiro com paredes de vidro que permitirão nada favorável e me ajudou, quando ma geração. mundo”. ao músico ter uma vista privilegiada mais precisei, com paz e segurança” O projecto do homem da Lusáfri- Desta forma, defende Silva, será e... “inspiradora”. Além da parte de Assim, Tina Duarte, que foi repre- ca quer desta forma atrair músicos do possível abrir um novo campo de coo- produção e captação de vídeo e ima- mundo inteiro, principalmente da cos- peração com as culturas do mundo, gem, a infra-estrutura funcionará tam- sentante de Malange por diversas ve- ta ocidental africana, e da Europa, para proporcionando um intercâmbio mu- bém como um centro de formação de zes no programa “Top dos mais que- gravarem em Cabo Verde, responden- sical sem precedentes no país, “seja técnicos nessas áreas. do dessa forma ao desejo manifesta- através dos músicos estrangeiros que O sucesso internacional de Djô da ridos”, transmitido em Angola, não só do por muitos desses músicos. “São possam vir, eventualmentemente, cá Silva, que já mereceu, inclusive, uma canta semba no dialecto de Malange cada vez mais os músicos estrangei- gravar, seja através de convites para candidatura ao Grammy de melhor ros interessados na sonoridade e na ri- palestras, ou outros intercâmbios. produtor, e levou Cesária Évora à con- e em português, como experimenta in- queza da nossa música”, diz Djô da Sil- Com isso, é um novo mercado turísti- quista de um Grammy em 2004, é, com terpretar cola-zouk em crioulo de Bar- va antes de apontar as perspectivas de co que se abre”. certeza uma quase garantia de que a abertura do mercado turístico trazido Pensando nessa combinação de ilha do Sal e Cabo Verde podem so- lavento e Sotavento, com uma voz que por um fluxo de turistas com gastos e música e lazer, nada mais óbvio do que nhar alto com este projecto. Projec- ora transmite a alegria típica do ango- apetência muitos particulares: a mú- optar pela ilha do Sal, que além de ser to, esse, que já mereceu aplausos de lano ora se torna profunda e quente, sica. Profundo conhecedor das poten- a “porta de entrada” e ponto de passa- músicos cabo-verdianos como Tito cialidades da música crioula, o empre- gem para milhares de turistas e poten- Paris, entre outros, quanto mais não cheia de saudade e amor pela vida e sário aposta na internacionalização da ciais clientes, possui a maior infraes- seja por representar a concretização pela música. música cabo-verdiana impulsionada trutura turística do país, sendo a “capi- de um sonho: gravar um disco na sua por nomes como Cesária Évora, o fale- tal” do turísmo nacional. terra natal, Cabo Verde. TSF 6 A Semana - Sexta-Feira, 28 de Jan. 2005 K R I O L I D A D I ASTROLOGIAASTROLOGIAASTROLOGIA 1a Semana de Fevereiro

CARTA DA SEMANA: 3 de Ouros, que signi- CARTA DA SEMANA: Ás de Espadas, que fica Poder. significa Sucesso. CARTA DA SEMANA: 8 de Copas, que signi- AMOR: Não espere que o amor vá ter consi- AMOR: Esta semana conhecerá pessoas im- fica Concretização, Felicidade. go, procure ser você a distribuir amor pelas pesso- portantes para a sua vida futura. CARTA DA SEMANA: Rainha de Espadas, AMOR: Semana marcada pelo romance e pela as que o rodeiam. SAÚDE: O stress levá-lo-á a situações de des- que significa Melancolia. paixão. SAÚDE: Período calmo, sem preocupações de gaste físico e mental. AMOR: Poderá reencontrar alguém que já foi SAÚDE: Algumas dores musculares, relaxe maior. DINHEIRO: Evite gastos desenfreados. muito importante para si no passado. mais. DINHEIRO: Lute pelos objectivos que preten- Número da Sorte: 51 SAÚDE: Atenção ao sistema respiratório. DINHEIRO: O seu chefe poderá testar a sua de atingir a nível profissional. Números da Semana: 17, 25, 30, 2, 9, 28 DINHEIRO: Será reconhecido pelo trabalho competência. Esforce-se por mostrar as suas com- Números da Sorte: 67 prestado. petências profissionais. Números da Semana: 7, 28, 16, 38, 24, 41 Número da Sorte: 63 Número da Sorte: 44 Números da Semana: 23, 11, 36, 44, 29, 6 Números da Semana: 17, 23, 38, 9, 49, 3

CARTA DA SEMANA: 7 de Paus, que signifi- CARTA DA SEMANA: 10 de Ouros, que sig- ca Discussão, Negociação Difícil. nifica Prosperidade, Riqueza e Segurança AMOR: Nem sempre dizer sim é bom para a AMOR: O seu poder de atracção vai abalar sua relação. Imponha a sua vontade, pois o amor muitos corações. é dar e receber. CARTA DA SEMANA: Valete de Copas, que SAÚDE: Algumas dores de cabeça poderão in- SAÚDE: Sentir-se-á um pouco nervoso, deve CARTA DA SEMANA: 7 de Ouros, que signi- significa Lealdade, Reflexão comodá-lo, procure o seu oftalmologista. evitar o excesso de preocupações. fica Trabalho. AMOR: Não se preocupe, pois as discussões DINHEIRO: Época favorável para pedidos de DINHEIRO: Prepare-se e conte com despesas AMOR: Cuidado com aquilo que diz pois pode que tem tido com a sua cara-metade, não passam empréstimo, mas seja prudente. extra. magoar alguém de quem gosta muito. de uma fase menos positiva da vossa relação. Números da Sorte: 74 Número da Sorte: 29 SAÚDE: Reduza o ritmo de trabalho e descan- SAÚDE: Prováveis dores de dentes. Números da Semana: 29, 32, 43, 14, 2, 27 Números da Semana: 14, 18, 26, 48, 35, 7 se mais. Lembre-se que o seu bem-estar está aci- ma de qualquer coisa. DINHEIRO: Património protegido. DINHEIRO: Nem sempre trabalhar desenfrea- Números da Sorte: 47 damente é produtivo, pense nisso. Números da Semana: 20, 27, 9, 14, 40, 32 Número da Sorte: 71 Números da Semana: 49, 10, 5, 19, 11, 20

CARTA DA SEMANA: 2 de Ouros, que signi- fica Dificuldade/ Indolência. AMOR: Um romance está para breve. Fase CARTA DA SEMANA: Ás de Paus, que signi- propícia ao conhecimento de novas pessoas que fica Energia, Iniciativa. suscitarão o seu interesse. AMOR: Procure satisfazer os desejos do seu SAÚDE: Algumas dores de cabeça. par. DINHEIRO: Pense positivo e não se deixe aba- SAÚDE: Visite com maior regularidade o seu ter por uma pequena discussão com um colega de médico de família. trabalho. DINHEIRO: Período bastante positivo. Números da Sorte: 66 Número da Sorte: 23 Números da Semana: 21, 14, 16, 23, 45, 9 Números da Semana: 25, 11, 33, 5, 17, 1

CARTA DA SEMANA: 6 de Paus, que signifi- CARTA DA SEMANA: A Torre, que significa ca Ganho Convicções Erradas. AMOR: Dê mais atenção à sua família e deixe AMOR: Sentir-se-á manipulado pelos seus um pouco o trabalho de lado. Saúde: Possíveis amigos. problemas renais. SAÚDE: Cuide mais de si e do seu corpo. DINHEIRO: O aumento do seu rendimento DINHEIRO: Deve ser comedido e evitar gas- mensal poderá estar relacionado com uma promo- tos supérfluos. ção no seu local de trabalho. Número da Sorte: 16 Números da Sorte: 28 Números da Semana: 9, 46, 27, 33, 21, 14 Números da Semana: 45, 9, 28, 34, 17, 41 A Semana - Sexta-Feira, 28 de Jan. 2005 7 K R I O L I D A D I

CESTARIA TRADICIONAL DE S. NICOLAU Artesanato em extinção Contam-se nos dedos de sem que o estilo típico de São uma mão o número de arte- Nicolau se perca. Com uma sãos que actualmente se de- rapidez que, à primeira vis- dicam à cestaria em São Ni- ta, dá a impressão de que se colau. Kriolidade descobriu trata de um trabalho fácil, um deles, Miguel Fortes, na Fortes tanto fabrica peças de pequena localidade de Calei- cestaria grossa - mais rude e jão, onde, em meio a uma forte, próprias para as lides paisagem verdejante e de agrícolas ou domésticas -, montanhas imponentes, cria como cria obras mais delica- com mestria peças que cor- das, de acabamento fino e rem o risco de ser únicas. É perfeito que podem decorar que, se não bastasse a escas- qualquer casa. sez de materiais, são cada vez Cestos e cestas, fruteiras, menos os jovens que se inte- garrafas, potes e garrafões

Artesanato Artesanato ressam em aprender cestaria. empalhados são os produtos As mãos foram sempre o que não encontram um mer- principal instrumento de tra- cado de escoamento, conse- balho de Miguel Fortes, pri- quência do isolamento em meiro no exército, quando que a ilha de São Nicolau nos anos 80 cumpriu o servi- vive, sem ligações marítimas ço militar, depois como ser- ou aéreas permanentes. “Já vente de pedreiro em obras fiz algumas exposições na do Estado. Um belo dia, um Praia, no Sal e uma vez nos outro par de mãos, ágeis, rá- Estados Unidos, mas, exclu- pidas e certeiras cativaram a sua atenção. Uma paixão que dura até hoje e que bananeira, bambu, etc. Tenho que me indo uma loja na Ribeira Brava, normal- Eram as mãos daquele que lhe mostraria a só amaina quando falta material. Uma deslocar a lugares altos e de difícil aces- mente tenho dificuldade em vender as mi- sua actual profissão - artesão de cestaria. situação que é cada vez mais frequente so, e depois, devido à escassez de chuva nhas peças”. Talvez por isso, os jovens de “Quando vi aquele senhor a trabalhar ces- porque, de acordo com o artesão sani- sou obrigado a fazer longas distâncias São Nicolau não mostrem interesse em taria, gostei imenso e decidi experimen- colauense, “é muito trabalhoso conse- para consegui-los”. aprender cestaria tradicional. tar também”, conta Miguel Fortes, enquan- guir os materiais, nomeadamente vara Um contexto que obriga Miguel For- to dá forma a uma nova peça. de barnabeira, palha de coco, corda de tes a utilizar outros tipos de materiais, TSF C I N E M A

PRAIA - “Sky Captain e o MINDELO Mundo de Amanhã” “Cellular - Ligação de Alto Risco”

É um filme que aposta no retorno ao imaginário de aventu- Uma chamada de um número desconhecido no seu telemóvel ras de ficção científica dos anos 30 a 50. O desenrolar da ac- leva um jovem a uma corrida contra o tempo para salvar a vida ção começa em 1939, em Nova Iorque, que está a ser atacada de uma mulher. Sem conhecer nada de Jessica (Kim Basinger), por robôs gigantes. Polly Parkins (Gwyneth Paltrow) é apa- à parte a sua voz de pânico e terror do outro lado da linha, Ryan nhada no meio da confusão enquanto investiga o desapareci- (Chris Evans) é rapidamente lançado para um mundo de mento misterioso de diversos cientistas espalhados pelo mun- suspeição e morte com o intuito de salvar a mulher do outro do. No meio do caos, o ex-namorado de Polly, o capitão Joe lado da linha. Mas isso pode custar-lhe a própria vida. Sullivan (Jude Law) salva-lhe a vida e reunem-se novamente em busca dos estranhos gigantes mecânicos. ASSOMADA - “Era uma vez um pai” BAIRRO - “Supremacia” Esta é a história de Ollie Trinke (Ben Affleck), um calmo e bem sucedido publicitário de Manhattan, que parece ter tudo. Filme de acção, “Supremacia” conta a história de Jason Mas, quando menos espera, a sua vida perfeita é tragicamente Bourne, interpretado pelo oscarizado Matt Damon (“O Bom alterada com a morte da sua mulher - deixando-o no papel de Selvagem”), um ex-assassino frio e calculista criado pela pai solteiro, sem qualificações para tomar conta do serviço... Tretstone. Durante dois anos, ele conseguiu levar uma exis- Completamente desnorteado com uma filha pequena a seu tência anónima, abrindo mão da estabilidade de um lar e mu- cargo, Ollie vê a sua vida na grande cidade desmoronar-se. Ao dando-se com Marie (Franka Potente) sempre que surge uma perder o emprego e a sorte, ele é obrigado a regressar à sua ameaça de ser descoberto. É, então, que na pacata vila onde terra natal e viver com o seu pai nos subúrbios de Nova Jersey. moram, um dia aparece um agente, facto que não deixa ao Agarrado a um emprego desinteressante, ele não vê saída nem casal senão a alternativa de fugir mais uma vez. Entretanto, maneira de regressar à vida que antes amava. Certo dia, ao ir Bourne descobre que um novo jogo internacional de perse- pela milionésima vez com a filha ao cinema ver o seu filme favo- guição está em cena e faz com que o ex-assassino tenha que rito, Ollie conhece Maya (Liv Tyler), que desafia as suas priori- confrontar os seus velhos inimigos. dades e perspectivas... 8 A Semana - Sexta-Feira, 28 de Jan. 2005 K R I O L I D A D I BIOGRAFIA de Frei Gesualdo Fiorini em livro

A vida e obra de Frei Gesualdo Fi- Mas a grande obra de Frei Gesual- orini, padre italiano residente em São do Fiorini está na educação e forma- Nicolau há 50 anos, figura querida pe- ção profissional. Transformou capelas los naturais da ilha pelo seu abnegado em escolas para suprir a falta de infra- CABO-VERDIANO DE trabalho social, é tema de um livro que estruturas adequadas à massificação do José Cabral, actual vereador da Câma- ensino, inclusive pagava o salário dos 13 ANOS NA FINAL ra Municipal de São Nicolau, tem professores, e criou uma escola de for- pronto para lançamento. Trata-se de mação profissional, com cursos de cos- DO CAMPEONATO DE um opúsculo, afirma Cabral, “em jei- tura e oficinas de carpintaria, mecâni- to de reconhecimento pela obra feita ca, confecção de blocos de argamassa LÍNGUA PORTUGUESA para preservar a memória da ilha”. de betão, bem como fardamento e ar- Valter Delacht Mendes de Andrade, de De seu nome de família Giulio mazenagem de pasto para os animais, apenas 13 anos, é o único cabo-verdiano clas- Fiorini, o Frei nasceu a 26 de Janeiro que beneficiaram milhares de jovens. sificado para a final do Campeonato de Lín- de 1923, em Fiuggi, Itália. Enquanto Também por toda a ilha estão es- gua Portuguesa, que acontece a 12 de Feve- Frei da ordem franciscana, iniciou em palhadas infra-estruturas religiosas e

Literatura reiro próximo, em Lisboa, Portugal. O ra- Literatura 1955, aos 32 anos, a sua acção na ilha sociais promovidas por Frei Gesualdo paz, que frequenta o 8¼ ano na cidade do Min- de São Nicolau, onde desembarcou do Fiorini, que por ocasião das últimas fes- delo, sua terra natal, ultrapassou a concor- navio Senhor das Areias no antigo tas do município de São Nicolau, em rência de outros 35 cabo-verdianos, entre eles Porto da Preguiça. Trabalhou duran- Dezembro último, foi homenageado gente com curso superior e mais velha do que te 18 anos na vila da Ribeira Brava, e com a atribuição de seu nome a uma ele. Um facto que deixa Valter, como o pró- depois mudou-se para a vila do Tar- das principais vias da vila do Tarrafal. prio diz, “feliz e orgulhoso, mas ao mesmo tempo ciente da responsabilidade que é parti- rafal, na altura apenas um aglomera- Na forja, José Cabral tem também cipar na final de um concurso como este”. do de casotas de pescadores. Ali resi- biografias de outras importantes perso- A ideia de inscrever Valter no Campeo- de ainda hoje e ali espera comemorar nalidades sanicolauenses: Joaquim nato de Língua Portuguesa foi do seu irmão, as suas 82 primaveras. Loureiro Rabaça, principal financiador de 17 anos, aluno do Liceu Ludgero Lima. Além de sacerdote zeloso com a da Fábrica de Conserva de Peixe Ul- Mas, conta Valter, “quando vi a ficha de ins- vida conjugal dos seus fiéis - só en- tramarina, Frei Mauro e os pastores na- crição decidi definitivamente que iria partici- tre 1962 e 1963 Frei Gesualdo Fio- zarenos Luciano de Barros, Álvaro An- par, pois constatei que a participação nesse rini realizou 250 matrimónios de fa- drade e Daniel de Barros, do médico concurso poderia aumentar o meu conheci- mílias pobres, que viviam em esta- Júlio José Dias. Este condiscípulo de mento da língua portuguesa e fortalecer a do de mancebia, tendo assumido todas as des- Segundo José Cabral, “com o decorrer dos Louis Pasteur e grande filantropo teve a sua tese minha cultura geral”. pesas de vestuário, documentação e registo ci- anos”, elas “mandaram buscar familiares e de doutoramento - sobre tratamento para pedras Para se preparar para o primeiro teste do Campeonato de Língua Portuguesa, que vil dos noivos -, o padre franciscano foi o amigas”, tornando o destino Itália em “uma na bexiga - recentemente lançada em livro, na diz ter sido fácil, uniu-se aos seus três ir- grande impulsionador da emigração de rapa- emigração porventura das mais bem sucedi- vila da Ribeira Brava. mãos, que também se tinham inscrito no rigas sanicolauenses para a Itália nos anos 60. das”, e que até hoje perdura. Teresa Sofia Fortes certame. Todos foram classificados para a segunda fase. “Veio o segundo teste, pesqui- sámos juntos novamente, mas só eu fui apro- vado”, afirma Valter com um sorriso tími- do mas com um orgulho que o brilho dos olhos não deixa passar despercebido. “É uma grande responsabilidade represen- tar Cabo Verde num concurso como este. Mas não estou preocupado”, diz o adolescente, pois, acrescenta, “penso que o mais importante é par- ticipar, não ganhar. Só o facto de ter sido o me- lhor de Cabo Verde chega para mim”. Vai di- zendo entretanto que vai tentar ganhar a fi- nal. “Se vencer, melhor ainda é”, manifesta Valter, que vai a Portugal com a passagem de avião patrocinada pelo Instituto Camões. Felicitado por pais, irmãos, familiares, amigos de Campim e colegas de escola, Valter Raiz di Polon à conquista de África mostra-se mais surpreendido por ter sido A dupla de bailarinas da companhia de dan- Associação Francesa de Acção Artística, entida- anças do Soweto nos dias 4, 5 e 6 de Março, melhor do que Germano Almeida, advogado ça contemporânea Raiz di Polon, Elisabete e Rosy de que promove anualmente os Encontros Core- É a internacionalização do Raiz di Polón a

de profissão e tido como o melhor escritor Teatro Timas, partem no domingo, 30, para uma digres- ográficos de África e do Índico. fincar devagarinho a dança cabo-verdiano na Teatro cabo-verdiano da actualidade. “ Germano Al- são pelo continente africano com a peça “Duas Uma agenda jamais vivida pela dupla do Raiz roda do mundo, graças a “Duas sem Três”, peça meida é um excelente escritor e ter passado à sem Três”. A tournée, que é a recompensa pelo di Polon, que tem assim a oportunidade de mos- inspirada num texto de Mário Lúcio Sousa e co- frente dele e dos meus colegas do 8¼ ano e dos Prémio Especial do Júri arrecadado nos V En- trar a dança moderna cabo-verdiana a um público reografada pela portuguesa Margarida Mestre. meus irmãos que também concorreram faz-me contros Coreográficos da África e do Oceano Ín- internacional variado desde Addis-Abeba (Etiópia) O tema fala do lugar especial que a mulher ocu- sentir importante”, diz o jovem que confessa dico, em Novembro de 2003, durará dois meses a Port Louis (Maurícias), passando por Antanana- pa na cultura cabo-verdiana, pois sendo Cabo ser leitor compulsivo, facto que terá contri- e levará as duas dançarinas a 17 países da Áfri- rivo (Madagáscar), Moroni (Comores), Kigali, (Ru- Verde um país de emigrantes, são as mulheres buído para a sua boa performance. ca oriental e austral. anda), Bujumbura (Burundi) e Asmara (Eritreia); que mantêm as tradições e asseguram a so- “Gosto muito de língua portuguesa, leio A digressão começa a 8 de Fevereiro, no nor- e, ainda, Kampala (Uganda), Maputo (Moçambi- brevivência e a continuação. Esta força das mu- bastante graças a uma pequena biblioteca que deste africano, em Djibuti, e termina em Nairóbi, que), Lusaka (Zâmbia), Blantyre (Malawi), Harare lheres fica bem patente no canto e na dança de temos em casa e no 6º ano fiz vários trabalhos Quénia, no dia 2 de Abril. No total, são 17 espec- (Zimbabué), Windhoek (Namíbia), Manzini (Sua- Elisabete Fernandes e Rosy Timas, que utili- de escola que me permitiram aumentar o meu táculos que estão sendo organizados em parce- zilândia), Joanesburgo (África do Sul). Na cidade zam o corpo como instrumento musical, permi- conhecimento sobre a literatura, em especial ria com os Centros Culturais Franceses e Alian- sul-africana, o Raiz di Polon participará no festival tindo assim o desmultiplicar da linguagem cor- a cabo-verdiana, pelo que empenhei-me imen- ças Francesas dos países a serem visitados e a Dance Umbrella e leccionará workshops para cri- poral, dos ritmos e sonoridades. so neste último teste”, diz Valter. E valeu bem a pena o investimento. Num universo de 600 inscritos cabo-ver- OS PALCOS DA DIGRESSÃO dianos no I Campeonato Nacional de Língua 10 de FEVEREIRO - Alliance Ethio-Française d’Addis Abeba (Etiópia) 7/8 de MARÇO - Dance Factory, no âmbito do festival Dance Umbrella, Joanesb. (África do Sul) Portuguesa, que se iniciou a 25 de Outubro 12 de FEVEREIRO - Teatro Nacional de Kampala (Uganda) 10 de MARÇO - Centre Culturel Charles Baudelaire, Port Louis (Maurícias) último - com organização conjunta da Sic No- 15 de FEVEREIRO - Centro Cultural Franco-Moçambicano de Maputo (Moçambique) 14 de MARÇO - Centre Culturel Albert Camus, de Antananarivo (Madagáscar) tícias, jornal Expresso e Jornal de Letras -, 17 de FEVEREIRO - Alliance Française de Lusaka (Zâmbia) 17 de MARÇO - Centre Culturel Français de Moroni (Comoros) 35 foram apurados para a segunda fase. Um 20 de FEVEREIRO - Centre Culturel et de Coopération Linguistique de Blantyre (Malawi) 23 de MARÇO - Centre d’Exchanges Culturels Franco-Rwandais de Kigali (Ruanda) número que, corrigidos os testes, ficou redu- 23 de FEVEREIRO - Alliance Française de Harare (Zimbabué) 26 de MARÇO - Centre Culturel Français de Bujumbura (Burundi) zido a um só concorrente - o adolescente Val- 26 de FEVEREIRO - Centre Culturel Franco-Namibien de Windhoëk (Namíbia) 30 de MARÇO - Alliance Française d’Asmara (Eritreia) ter Delacht Mendes de Andrade. 2 de MARÇO - Alliance Française de Mbabane (Suazilândia) 2 de ABRIL - Alliance Française de Nairobi (Quénia) Teresa Sofia Fortes