A Crônica Vai À Guerra: Rubem Braga E Os Escritos Do Front
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA – ILEEL Programa de Pós-Graduação em Letras MARIANI CAROLINA DE SOUZA MELO A CRÔNICA VAI À GUERRA: RUBEM BRAGA E OS ESCRITOS DO FRONT UBERLÂNDIA – MG 2016 MARIANI CAROLINA DE SOUZA MELO A CRÔNICA VAI À GUERRA: RUBEM BRAGA E OS ESCRITOS DO FRONT Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras, Curso de Mestrado em Teoria Literária, do instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia – UFU, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Teoria Literária. Área de concentração: Teoria Literária Linha de Pesquisa: Poéticas do texto literário: cultura e representação. Orientadora: Profa. Dra. Kênia Maria de Almeida Pereira UBERLÂNDIA – MG 2016 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFU, MG, Brasil. M528c Melo, Mariani Carolina de Souza, 1990- 2016 A crônica vai a guerra : Rubem Braga e os escritos do front / Mariani Carolina de Souza Melo. - 2016. 120 f. Orientadora: Kênia Maria de Almeida Pereira. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-Graduação em Letras. Inclui bibliografia. 1. Literatura - Teses. 2. Braga, Rubem, 1913-1990 - Crítica e interpretação - Teses. 3. Braga, Rubem, 1913-1990 -. Crônicas da guerra na Itália - Crítica e interpretação - Teses. 4. Literatura e história - Teses. I. Pereira, Kênia Maria de Almeida. II. Universidade Federal de Uberlândia. Programa de Pós-Graduação em Letras. III. Título. CDU: 82 À minha família: pai, mãe, irmã e avó, construtores da minha base, do meu caráter. Ao Bruno, aquele que amplia e melhora a base que um dia meus pais construíram. AGRADECIMENTOS À CAPES pela bolsa concedida. Graças a esse apoio pude fazer essa dissertação em melhores condições. À minha orientadora Kenia Pereira pelas indicações de leitura, pela paciência, por confiar no meu trabalho e pelo humor levíssimo que contrasta com esse mundo muitas vezes áspero. Ao meu Pai por na infância me contar histórias antes de dormir, talvez naqueles instantes ele tenha plantado a afeição que hoje tenho pela literatura. À minha Mãe por me mostrar desde muito cedo a importância de ler e estudar, sem esse aprendizado eu certamente seria incapaz de construir esse trabalho. À Mariele que mais do que a missão do irmão mais novo de ensinar o mais velho a dividir, me ensinou a somar... somar uma nova amizade e a melhor companhia que eu poderia desejar. Obrigada por me escutar as mil e uma vezes que precisei falar sobre esse trabalho. À minha avó, Juracy, que cuidou de mim tantas vezes e foi parte indispensável na minha formação. Ao Professor Bruno Curcino que, mais que um companheiro e amigo, atuou como grande incentivador desse trabalho; nossas conversas se fundiram ao texto. Ao casal Lourdes e João Paulo que me receberam em sua casa com toda generosidade todas as vezes que precisei passar mais tempo em Uberlândia. Aos professores João Ayub e Regma Maria por se disporem a ler meu trabalho na qualificação e pelas preciosas intervenções. Aos professores do Curso de Letras da UFTM que melhor pavimentaram as trilhas dos saberes sobre Linguagem e Literatura. Aos professores do Mestrado em Teoria Literária por ampliarem meu horizonte intelectual. À Luciene Teixeira por se dispor, em tempos de Natal e Ano Novo, a revisar meu trabalho. É ISTO UM HOMEM? Vocês que vivem seguros em suas cálidas casas, vocês que voltando à noite, encontram comida quente e rostos amigos, pensem bem se isto é um homem, que trabalha no meio do barro, que não conhece paz, que luta por um pedaço de pão, que morre por um sim ou por um não. Pensem bem se isto é uma mulher, sem cabelos e sem nome, sem mais força para lembrar, vazios os olhos, frio o ventre, como um sapo no inverno. Pensem que isto aconteceu: eu lhes mando estas palavras. Gravem-na em seus corações, estando em casa, andando na rua, ao deitar, ao levantar, repitam-nas a seus filhos. Ou, senão, desmorone-se a sua casa, a doença os torne inválidos, os seus filhos virem o rosto para não vê-los. Primo Levi, 1947. RESUMO Este trabalho tem por objeto de estudo o livro Crônicas da guerra na Itália, do escritor e jornalista Rubem Braga. A tessitura da obra deu-se em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, quando Braga viajou para a Itália como correspondente de guerra do Diário Carioca, periódico no qual trabalhava, a fim de acompanhar os soldados da FEB – Força Expedicionária Brasileira. São exploradas neste trabalho as principais características do gênero crônica, aspectos de sua historicidade e a ligação com o jornal ou com livro. Destacam-se da crônica características como leveza, aparente despretensiosidade e humor, no entanto as crônicas ganham outras tonalidades visto que, nesse caso, a circunstância é a própria guerra. Tendo em vista o tempo e o lugar no qual são escritas, as narrativas fundem na sua composição o histórico, o jornalístico e o literário. Plasmam-se na mesma paleta a realidade vivida pelo correspondente e a poeticidade que sempre foi marca desse prosador lírico. Para dar conta da especificidade desses escritos, foi selecionado um arcabouço teórico capaz de lidar com a memória, o relato dos horrores da Guerra e esse lugar único do narrador que testemunha. A Literatura de Testemunho, primeira escolha teórica, estuda como o trauma dos sobreviventes de eventos limítrofes é apresentada por meio da linguagem, no caso das Crônicas, entre o documental e o fictício. Além disso, foram essenciais para melhor compreensão das narrativas alguns conceitos do pensador alemão Walter Benjamin, como Experiência, Narrador, Limiar e sua concepção sobre história. Na análise das crônicas, procura-se perceber como a guerra alterou a leveza de algumas narrativas, como a questão política está imbricada em praticamente todos os eventos, desde a partida dos pracinhas brasileiros para a Europa até a miséria da população italiana, e como a ferocidade do conflito atingia principalmente as partes mais desprotegidas: mulheres, crianças e velhos. Com olhar aguçado e escritura lírica, o cronista ultrapassou o papel de simples correspondente para se tornar um Narrador, em outras palavras, aquele que transmite experiência, transformando o que viveu em sentido compartilhado. Palavras-chave: Crônica; Rubem Braga; Guerra; Literatura de testemunho; Walter Benjamin. ABSTRACT This work has by subject matter the book Crônicas da guerra na Itália, from writer and journalist Rubem Braga. The fabric of the literary work was in 1945, during the Second World War, when Braga traveled to Italy as war correspondent of Diário Carioca, paper in which he was working to follow the FEB – Força Expedicionária Brasileira – soldiers. In this work are explored the main features of chronicle gender, aspects of its historicity and the connections with the periodic or with the book. It stands out from the chronicles, features as literary lightness, a lack of pretension and humor, however chronicle get other shades, once that, in this case, the condition is the war itself. Given the time and place in which they are written, the narratives merge the historic, the journalistic and literary in its composition. In the same context are mixed the reality lived by the war correspondent and the poetry, constant feature of this lyrical prose writer. To account for the specificity of these writings, was selected a theoretical framework capable of handling memory, the story of the horrors of war and this only place in the narrator witness. The Testimonial Literature, first theoretical choice, studies how the trauma of neighboring events of survivors is presented through language, in the case of chronic, between documentar and fiction. Moreover, to better understanding of the narratives, it was essential some concepts of the German thinker, Walter Benjamin, such as Experience, Storyteller, Threshold and his conception about history. In chronicles analysis, we seek to understand how war changed the lightness of some narratives, how the policial issue is embedded in almost all events, since the departure of Brazilian soldiers to Europe, to the misery of the italian population and how the ferocity of the conflict reached especially the most vulnerable parts: women, children and old men. With keen eye and lyrical writing, the chronicler exceeded the role of a mere correspondent to become a Narrator, in other words, one that transmits experience, turning what he lived in shared sense. Keywords: Chronicle, Rubem Braga, War, Testimonial Literature, Walter Benjamin SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................ 9 1. A Crônica em tempos de guerra............................................................. 13 1.1. A crônica: será mesmo o gênero menor ou a prima pobre? .................. 13 1.2. O livro: Crônicas da Guerra na Itália................................................... 31 2. Testemunhar, narrar e lembrar.............................................................. 42 2.1. A Literatura de Testemunho: muito além da Shoah ............................. 42 2.2. Um marxista à espera do Messias e um prosador lírico.......................... 56 3. Rubem Braga e a terra devastada.......................................................... 72 3.1. O circunstancial é a guerra ..................................................................... 72 3.2. Mulheres, crianças, velhos e ruínas........................................................ 88 CONCLUSÃO...........................................................................................