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A Voz do Brasil em Sistematização de Marcos e Eventos Históricos desde a Criação do Programa até os Dias Atuais1 Luciana Paula Bonetti SILVA2 Valci Regina Mousquer ZUCULOTO3 Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC Resumo O artigo apresenta uma revisão e sistematização de marcos e eventos que fazem parte da trajetória histórica de A Voz do Brasil. Através da legislação e estudos sobre o programa, como o de Perosa (1995), o trabalho se dedica ao estudo de A Voz do Brasil desde a sua criação, em 1935, no Governo Vargas, até os dias atuais. Entre as principais rupturas identificadas, está a defesa do conteúdo noticioso em detrimento da propaganda de Estado. Esta mudança começou ainda na Ditadura Militar, quando o modelo informativo foi almejado para afastar o programa da herança totalitária varguista. À partir da reabertura política, diversos documentos registram que o conteúdo noticioso deveria nortear a sua produção. Outra distinção relevante entre A Voz do Brasil em sua origem e o programa nos dias atuais é o espaço dedicado aos informes dos poderes Legislativo e Judiciário e não apenas do Executivo. Realiza-se então uma pesquisa de caráter documental sobre o tema com objetivo de buscar suportes a um estudo sobre o caráter jornalístico do programa. Palavras-chave: História da Mídia Sonora; A Voz do Brasil; Radiodifusão pública; Radiojornalismo Introdução O programa radiofônico A Voz do Brasil nasceu no Estado Novo, em 1935. A partir da ideia de promoção do governo e da integração nacional, em seu início, reunia discursos presidenciais e peças musicais e literárias. Ao longo de mais de 80 anos, porém, evidencia-se a busca pelo afastamento do modelo personalista em prol da produção de conteúdo noticioso. Esta mudança não foi abrupta. Mesmo antes da reabertura política, no final da Ditadura Militar, percebia-se que o programa voltava-se mais para veiculação de informes. Na época do presidente Geisel, os discursos presidenciais passaram a ser realizados em transmissões em cadeia obrigatória de rádio e TV, ao invés de no espaço dedicado ao Poder Executivo na Voz do Brasil – o que pode ser sintoma também da baixa audiência do programa e da popularização da TV. 1 Trabalho apresentado no GT História da Mídia Sonora, integrante do 11º Encontro Nacional de História da Mídia. 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina. Integrante do Grupo de Investigação em Rádio, Fonografia e Áudio (Girafa) do POSJOR/UFSC. [email protected] 3 Professora e pesquisadora do Curso de Graduação e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Jornalista (UFRGS), mestre e doutora em Comunicação (PUCRS) e pós-doutora (Eco/UFRJ), coordenadora do GP Rádio e Mídia Sonora da Intercom e da Rádio Ponto UFSC, subcoordenadora do POSJOR/UFSC, conselheira do FNPJ – Fórum Nacional de Professores de Jornalismo e diretora da FENAJ – Federação Nacional dos Jornalistas. Uma das líderes do Grupo de Investigação em Rádio, Fonografia e Áudio (Girafa) do POSJOR/UFSC. [email protected] 1 No governo Sarney, dá-se um passo adiante nessa direção, com a criação do programa Conversas ao Pé do Rádio, uma tentativa de separar o conteúdo noticioso acerca do Poder Executivo da comunicação direta entre presidentes e cidadãos. Hoje chamado de “Café com o presidente”, o programa se inspirou na iniciativa do mandatário estadunidense Franklin Roosevelt, que falava com a população de maneira próxima no programa “Conversas ao pé da Lareira”, até usando o termo “meus amigos”. O que nos instigou a refletir e investigar a adoção de critérios jornalísticos na versão contemporânea do programa foi o seguinte anúncio trazido na página da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), no campo reservado ao histórico de A Voz do Brasil: 2003, o foco na cidadania. Em 2003, como parte do novo conceito de comunicação pública do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Radiobrás promoveu a mais profunda reforma editorial realizada no programa. A parte destinada ao Poder Executivo adquiriu enfoque jornalístico e formato atual. A reportagem deixou os gabinetes para sair às ruas em busca da relação entre as políticas públicas implementadas e as necessidades da sociedade. Pela primeira vez, A Voz do Brasil abria seus microfones para a população perguntar, comentar e avaliar os projetos e ações do governo abordados no programa.“O Guarani” foi remixado ao ritmo de forró, samba, choro, bossa-nova, capoeira, moda de viola e até techno. E o tradicional “Em Brasília, dezenove horas” foi substituído por “Sete da noite, em Brasília”, sinal da opção pela linguagem mais simples, usual e em tom de diálogo. Desde então, A Voz do Brasil acumula três prêmios de jornalismo e é reconhecida como canal de acesso a informações precisas e objetivas sobre governo, Estado e Cidadania. (EBC, 2012) Percebe-se que a tentativa de dissociar o programa da noção de propaganda política, ideia central no excerto citado acima, exacerba-se nos anos 2000. São fartos os documentos que atestam o objetivo de produzir conteúdo noticioso, respeitando critérios jornalísticos como imparcialidade, neutralidade, entre outros. Neste trabalho reunimos e sistematizamos alguns destes documentos para que, futuramente, possamos analisar o impacto destes documentos no conteúdo de A Voz do Brasil. Assim, nosso principal procedimento metodológico é a análise documental. Tem-se como base bibliografias diversas, pesquisas acadêmicas e legislações referentes à instituição e produção do programa. Entre elas estão as obras da historiadora do rádio Lia Calabre (2006) e da pesquisadora da comunicação Lilian Perosa (1995), bem como o livro do ex- presidente da Radiobrás Eugênio Bucci (2008). Também foram importantes as entrevistas concedidas à autora Luciana Paula Bonetti Silva, quando na produção do 2 audiodocumentário “A Voz que não se calou: as mudanças no programa A Voz do Brasil a partir do governo Lula”, de 2014. Neste artigo, nos propomos a apontar algumas das principais transformações que ocorreram na estrutura de A Voz do Brasil desde a sua criação em 1935 até os dias atuais. Este trabalho faz parte da pesquisa de mestrado da autora Luciana Paula Bonetti Silva, orientada pela coautora Profa Dra. Valci Regina Mosquer Zuculoto, em desenvolvimento na Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (POSJOR/UFSC). Além da análise documental, a pesquisa em andamento tem natureza exploratória e investigará o conteúdo anunciado como noticioso pelo programa através da análise de conteúdo. Do Programa Nacional à Voz do Brasil No contexto da expansão do rádio, impulsionada pela legalização dos reclames comerciais, Getúlio Vargas institui um programa de rádio, designado como Programa Nacional, dedicado a integração das diversas regiões do país. Este foi o primeiro nome pelo qual designou-se o programa A Voz do Brasil. Entre outras medidas, os decretos nº 20.047 e nº 21.11, 1931 e 1932 afirmam o caráter educativo da programação, estipulam um prazo máximo de concessão renovável de dez anos às emissoras, estabelecem que dois terços dos funcionários delas deveriam ser brasileiros, e principalmente permitem a utilização dos reclames. Esta última medida foi fundamental para tornar a radiodifusão rentável, e assim promover a sua expansão. Este incentivo à expansão do rádio foi uma preparação para a criação do Programa Nacional (CALABRE, 2006). O programa foi veiculado pela primeira vez em de 22 de julho 1935 (PEROSA, 1995). O responsável pela produção e transmissão em rede era o Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (DPDC), a cargo de Lourival Fontes. O DPDC ficava subordinado nesta época ao Ministério da Justiça e Relações Interiores. O primeiro programa com a abertura da ópera O Guarani, de Carlos Gomes, foi transmitido dos estúdios da Rádio Guanabara, no Rio de Janeiro, e apresentado pelo locutor Luiz Jatobá. Nessa ocasião entraram em cadeia oito emissoras brasileiras: PRA-2, PRA-3, PRA-9, PRP-7, PRC-8, PRE-2, PRD-2 e PRF-5. (PEROSA, 1995, p. 44) 3 A informação de que naquele momento o programa se chamava Hora do Brasil entra em conflito com o que pesquisou Eugênio Bucci (2008), para o qual o nome teria sido atribuído ao programa apenas 1938, passando no ano seguinte para a responsabilidade do recém-criado Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), ainda sob a direção de Lourival Fontes. A obrigatoriedade da retransmissão teria se dado a partir de 1937 (PEROSA, 1995) ou a partir de 1938 (BUCCI, 2008; MATOS, 2001). Em 1939, o programa que até então só era veiculado no Distrito Federal passa a ser transmitido para todo o território nacional (CALABRE, 2006; MATOS, 2001). Especificamente sobre o formato de A Voz do Brasil, neste seu primeiro momento, dividia-se entre os discursos do presidente e as ditas boa literatura e boa música, aos quais eram dedicados seus minutos finais (MATOS, 2001). Relata-se ainda a presença de convidados: De fato, embora tenha sido revelado o seu caráter de divulgadora oficial do governo, principalmente dos discursos de Getúlio, à Hora do Brasil coube também a irradiação de programas culturais, uma vez que seus últimos minutos foram dedicados à transmissão de sucessos da música popular brasileira. Nessa fase passaram pelo programa Herivelto Martins, as “cantoras do rádio” Carmem Miranda e Aurora Miranda, Francisco Alves, entre outros. (PEROSA, 1995, p.45) Em 1941, no entanto, conferem-se novas atribuições ao DIP, via decreto, alterando o formato descrito acima, a nova legislação prevê a irradiação de conteúdos que primem pelo interesse coletivo, tais quais: música, literatura e história brasileiras, bem como dados do governo, previsão do tempo e até movimentação portuária. Ao DIP caberia a tarefa mesma de expandir a radiodifusão no país (CALABRE, 2006). Este momento do rádio no Estado Novo seria marcado pela influência do modelo de propaganda nazi-fascista. Sobre este tema, Perosa expõe o depoimento: O Lourival Fontes trouxe aquela filosofia de propaganda do Mussolini.