Os Nomes Próprios nas Sociedades indígenas das Terras Baixas da América do Sui

Marco Antonio Gonçalves

A sociologia da nominação não é um te­ do estudo da onomástica dentro das cosmo- ma novo na Etnologia sul-americana. De um logias indígenas sul-americanas. modo geral, as monografias sobre esta região Apresentamos, de forma sumária e es­ fazem referência ao emprego dos nomes quemática, alguns sistemas onomásticos en­ pessoais, mas um interesse específico sobre contrados na literatura etnográfica sobre as os sistemas de nominação é algo recente terras baixas (Tupinambá, Aché-Guaiaki, (Lopes da Silva, 1984; Petesch, 1984). Apapocuva-Guanani, Nandeva-Guarani, Ta- O fio condutor deste trabalho é a inter­ piraré, Sirionó, Araweté, , Jívaro, ferência seminal feita por Viveiros de Castro Txicão, Apinayé, Krahó, Krikati, Suyá, Kaya­ em nota a seu trabalho sobre os Araweté pó, Xikrin, , , Tukano, Kain- (1986). No jogo das comparações entre a gang, Suruí, Xinguano, , Marubo, Pi- onomástica Araweté e as de outras socieda­ rahã). Nesta empresa, correremos o risco de des indígenas, o autor esboça um sistema de empobrecer as interpretações destes siste­ transformações. De um lado, estariam os mas de nominação, uma vez que teremos de “sistemas canibais” ou exonímicos (Tupi- recortá-los com vistas a uma formalização. nambá, Tupi-Guarani, Txicão, Yanomami) Buscaremos examiná-los a partir do esque­ e, de outro, “os sistemas centrípetos” ou ma proposto por Viveiros de Castro (1986), “dialéticos” (sistemas Timbira; Kayapó, Tu­ que estabelece um continuum entre os siste­ cano). Nos “sistemas canibais”, os nomes mas de nominação designados canibais e vêm de fora: dos deuses, dos mortos, dos ini­ centrípetos. Os sistemas canibais trabalham migos, dos animais; são sistemas onde se re­ a partir de uma ênfase em: individualização, cebe, essencialmente, o nome dos outros. aquisição, renomeação, séries diacrônicas, “Sistemas centrípetos” são aqueles em que história social e pessoal, abertura, distintivi- “os nomes designam relações sociais, podem dades suplementares. Os sistemas centrípe­ definir grupos corporados com uma identi­ tos trabalham a partir da classificação, da dade coletiva” (idem, p. 384). Se nos siste­ conservação, da transmissão, dos conjuntos mas “canibais” a onomástica é mediatizada sincrônicos, da referência mitológica, da con­ pela metafísica e tem uma função individua- tinuidade de identidades complementares. lizadora, nos “dialéticos” ela é da ordem da Nossa apresentação dos sistemas ono­ sociedade, e exibe uma função classificatõria.1 másticos procurará marcar que ênfase 6 da­ Viveiros de Castro avança a questão quando da aos sistemas, se “exonímicos” ou “endoní- atribui certas particularidades a cada um dos ti­ micos” (Viveiros de Castro, 1987, p. 279). pos de sistema onomástico (idem, p. 388), con­ Iniciaremos pelos Tupinambá. tribuindo, assim, para realçar a importância Na sociedade Tupinambá havia os no­

BIB, Rio de Janeiro, n. 33,1.° Semestre de 1992, pp. 51-72 51 mes de infância e os nomes de adulto. Os no­concediam a um homem poderes suficientes mes de infância “os tiram [...] dos animais para que pudesse suportar normalmente e selvagens e tomam para si muitos, com uma resistir vantajosamente às forças negativas diferença' porém: após o nascimento é dadodesencadeadas pelo morto, sem precisar re­ um nome, que menino usa somente até que petir todas as provas a que se submetiam os se torne capaz de guerrear e mate inimigos. iniciados”. Então recebe tantos nomes quanto inimigos Em outro lugar, diz que o jovem Tupi­ tenha matado” (Staden, 1974, p. 169). nambá deve passar por certos ritos, entre Os nomes de infância são também bus­ eles a troca de nomes, para ingressar na vida cados entre os nomes dos antepassados, con­adulta. O nome, aqui, localiza o jovem na es­ forme Hans Stadenpode observar (idem, p. trutura social (idem, p. 201). Sobre o nome 170). Segundo Metraux (1979, p. 97), forma­ adquirido da vítima, Fernandes comenta: “O va-se um conselho para eleger um nome para a nome adquirido por intermédio do massacre criança. O nome escolhido deveria exprimir a ritual não provinha estritamente desta, em­ personalidade da criança, bem como identificarbora seja provável que o sacrificante captas­ qual dentre seus parentes já falecidos teria res­ se através da ação sacrificatória, uma parte suscitado. Em toda a bibliografia consultada, o dos poderes do sacrificado, inerentes à por­ que se encontra com mais ênfase é a forma ção destrutível de sua pessoa[...] é permitido de adquirir nomes via os inimigos: “A maior interpretar o nome como sendo o símbolo honra de um homem é capturar e matar carismático do benefício recebido de uma muitos inimigos, recebendo um novo nome entidade sobrenatural através da vítima por cada novo inimigo morto. Ter muitos (idem, p. 312). nomes significa ter matado muitos inimigos, Uma outra fonte sobre os Tupinambá o que consideram uma alta honra” (Staden, explicita que os nomes não podem ser ditos 1974, p. 172). senão no momento dos rituais: “[...] os cava­ Monteiro (1949, p. 409) chegou mesmo leiros nunca fazem menção dos seus nomes, a dizer que os Tupinambá só se casavam senão quando há festa de vinhos[...]” (Mon­ após adquirir nomes ligados à guerra e ao teiro, 1949, pp. 409-10). canibalismo. Disse ainda que, “[...jtomando Outro processo de receber nome dá-se novos nomes, conforme aos contrários que através do fiího do cativo (inimigo) com uma matam dos quais chegam a ter cento e mais mulher Tupinambá, como registrou Montei­ apelidos, e em os relatar são mui miúdos, ro: “[...jlhe dão (ao prisioneiro) por mulher porque em todos os vinhos, que é a suma filha daquele que o tomou ou uma parenta festa deste gentio, assim recontam o modo das mais chegadas; e a causa é pela honra com que os tais nomes alcançaram, como se que daquele casamento lhe nasce, porque aquela fora a primeira a tal façanha aconte­ tendo filhos do tapuia, neles hão de tomar os cera; e daqui vem não haver criança que não mesmos nomes, e com a mesma solenidade saiba os nomes que cada um alcançou, ma­ que no pai, porque cuidam estes bárbaros, tando os inimigos, e isto é o que cantam e que na criança não tem a mãe parte alguma, contam[...]” (pp. 409-10). e que não concorre para a geração, e assim Cardim registra a relação entre nomes e dizem que não serve mais que um saco; e guerra entre os Tupinambá: “De todas as por esta causa comem os filhos que foram honras e gostos da vida, nenhum é tamanho gerados dos contrários...” (idem, p. 411). para este gentio como matar e tomar nomes Examinando as descrições sobre a ono­ nas cabeças de seus contrários...” (Cardim, mástica Tupinambá, observamos que a ênfa­ 1939, pp. 159-60). Fernandes (1963, p. 283) se recai nos nomes adquiridos mediante o sa­ dá uma interpretação do papel dos nomes crifício da vítima. O nome parece, por um la­ entre estes fndios: “O primeiro sacrifício ri­ do, estar associado a uma qualidade que se tual e as primeiras cerimônias de renomação adquire. Por outro lado, parece produzir

52 uma diferença. Aqui, o nome é o emblema os índios dizem: “eu sou a alma de fulano”. da diferença. À cada morte de inimigos, os O canibalismo é o meio pelo qual alguém se indivíduos, através dos nomes adquiridos, torna a alma de um morto. Na concepção contrapõem-se aos inimigos. Os nomes de­ nativa, a alma é um princípio neutro, impes­ notam o homicídio e a guerra, evocam os soal, sem influência sobre o novo ser vivo eventos da morte e do canibalismo. que habitará, sendo indiferente ao seu sexo. Os Tupinambá privilegiam o acúmulo O caso Kimiragi é elucidativo: Dokogi estava de nomes. Se identificam a guerra e o cani­ grávida quandoTerygi morreu. Os Guaiaki balismo como produtores de sua sociedade ofereceram o pênis deTerygi a Dokogi para (Viveiros de Castro e Carneiro Cunha, 1987), que ela o consumisse no ritual antropofági- os nomes são símbolos, a concretização desta co. A intenção da doação do pênis àquela concepção mais geral nos indivíduos. A re­ mulher grávida era devida ao desejo de que cordação dos nomes durante os rituais faz seu filho nascesse homem. Entretanto, nas­ reviver o modo como foram adquiridos, co­ ceu uma menina — chamadaKimiragi — locando em operação os temas do canibalis­ que passa a ser identificada como a “alma de mo e da guerra. Terygi” (idem, pp. 338-9). Nesse caso, a alma A prática da “produção de inimigos” procede do morto canibalizado. Entre os através do casamento de uma mulher Tupi­ Guaiaki temos, assim, as seguintes equações nambá com um inimigo produz também no­ onomásticas: mes. Na sociedade Tupinambá, os nomes chegam do exterior (da morte dos inimigos). Estão sempre vinculados à prática guerreira miilíi.er grávida — — — criança \ s corae | bikwa - nome de alguma e ao hábito canibal. Temos assim: caçador _ _ animal parte do animal mata (qualidade) hom icídio natureza sociedade T u p in a m b á------inimigo caça homens

produção de nomes canibalismo I m arca da diferença bikua

NOMES ALMA Entre os Guaiaki observa-se um sistema onomástico com propriedades semelhantes ao dos Tupinambá. Através do caso “belles • MULHER GRÁVIDA" cornes”, Clastres (1972, p. 252) explica o processo de nominação. A criança, ainda no ventre materno, recebe um nome referente a A partir destas duas equações vemos uma qualidade da caça (vaca) consumida que a onomástica se realiza de du;is forma:; por sua mãe: belos chifres. Neste momento pela natureza e pelos mortos canibalizadns. o feto passa a ter bikwa — essência da caça No caso do canibalismo funerário, incorpo­ transmitida ao feto. Uma forma de nomina­ ra-se a alma e esta engedra um processo no­ ção metonímica e particularizante: uma vaca vo de referência: “animanímia”. Adquire-se cm particular, não a classe das vacas; e uma a substância, a alma, ao mesmo tempo que qualidade desta vaca (os belos chifres), não se evoca o outro para se identificar: “Eu sou ioda a vaca. Nesta primeira forma de nomi- a alma de Terygi”. A incorporação tanto do nação, os nomes vêm dos animais, da nature­ bikwa quanto daove se dá pela ingestão da za. Existe um outro processo de nominação caça ou de homens. O canibalismoé o que relacionadoà alma (ove). Segundo Clastres, opera a transferência das substâncias para o

53 indivíduo que devora. Identifica-se o outro tante para a “distinção social”, destatus so­ para, então, identificar-se. cial. Viveiros de Castro (1986, pp. 383 e Entre os Apapocuva-Guarani, descritos segs.) faz uma correlação entre a acumula­ por Nimuendajú (1987), há uma relação en­ ção de rezas dos Nandeva e a acumulação de tre a alma e nome. Alguns dias depois de a nomes dos guerreiros Tupinambá. Ambos os criança nascer, os pajés reúnem-se para sa­ processos cumprem papéis semelhantes na ber qual alma “veio ter conosco”. A alma sociedade. Rezas e nomes vêm de fora (as vem do exterior e, com ela, o nome. O pajé rezas são recebidas das divindades através do indaga sobre sua procedência e o seu nome. sonho). Ter reza e ter nome significa ser ho­ Existe entre os Apapocuva um ritual de no- mem, ser social. Se no caso Tupinambá o ho­ minação muito complexo, em que se dá o mem sem nome não pode casar, no Guarani nome à criança na presença de parentes e o homem sem reza é colocado à margem da padrinhos. O nome que um Guarani recebe sociedade. tem para este uma significação muito pro­ Entre os Tapiraré existem nomes de in­ funda. Não é uma simples designação. Pelo fância e nomes de adulto. A mãe dá o nome contrário, o nome é parte do possuidor, um de infância ao seu próprio filho (Baldus, “pedaço”, idêntico a ele, inseparável da pes­ 1970, p. 279). Não há mais de um Tapiraré soa. O nome é a própria pessoa. Maldizer o com o mesmo nome (idem, p. 280). Os ho­ nome prejudica seu portador. É nesse senti­ mens trocam de nomes pelo menos duas ve­ do que os Guarani, segundo Nimuendajú, zes na vida; com as mulheres sucede o mes­ guardam segredo dos seus nomes, atribuin­ mo. Os nomes de adulto são atribuídos aos do apelidos aos filhos. Em casos de doença, homens quando passam a usar o estojo pe- quando todos os esforços para salvar o doen­ niano, às mulheres depois da primeira mens­ te fracassam, o recurso utilizado é a troca de truação (Wagley, 1977, p. 142). A menção nome. O doente, ao receber o novo nome, do nome de infância de um adulto lhe causa torna-se um novo ser. A doença -fica as­ embaraço, o nome lhe parece ridículo (idem, sociada ao nome anterior.2 p. 232). Segundo Wagley, os nomes são her­ Assim, o nome Guarani é o ser da crian­ dados em Unha paterna ou dos irmãos da ça, que o acompanhará até a morte. Uma mãe. Entre os Tapiraré o nome parece ser das obrigações dos xamãs é precisar de que da ordem da transmissão, são herdados, lo­ região do “paraíso” provêm as “palavras-al- go, ligados mais à sociedade e menos ao cos­ ma” que se “encarnam” nas crianças da tri­ mos e ao sobrenatural. bo. O nome é a confirmação de que uma al­ O sistema de nominação Sirionó é apre­ ma se encarnou na criança. Os deuses infor­ sentado por Holmberg (1978) da seguinte mam a procedência desta alma (Cadogán, forma: assim que a mulher sente as primei­ 1954, pp. 41-2). ras dores do parto, seu marido sai para caçar Shaden (1974) nos diz que há uma um animal; o nome da espécie do animal identificação entre a alma enviada â terra, is­ abatido será aquele dado à criança. O pai to é, a criança reencarnada enviada pelos procura por um animal que mostre qualida­ deuses, e a reza que o indivíduo recebe co­ des positivas (por exemplo, corajoso), como mo dádiva sobrenatural. Se existe uma cor­ o tapir e o jaguar. Não sendo encontrados relação entre alma e reza e outra entre alma tais tipos de animal, procura por outro qual­ e nome, logo reza e nome também estão li­ quer. Se a caçada não for bem-sucedida ou o gados. Não se encontram duas pessoas com nascimento ocorrer à noite, a criança recebe­ a mesma reza entre os Nandeva; a reza, co­ rá um nome referente a uma característica mo o nome, é individual; é uma característi­ anômala que possua, por exemplo, um pé ca do indivíduo. Liga-o ao cosmos, ao sobre­ deformado, ou algum traço que a associe a natural. Existe, também, uma acumulação algum animal. Não existem cerimônias for­ de rezas pessoais, e este é um fator impor­ mais de nomeação. A partir da nomeação,

54 faz ,sc uso de tecnônimos para classificar os Viveiros de Castro diz que “o nome tem pai.-, da criança (idem, pp. 175-6). uma função de individualização, não de clas­ Iim representação gráfica: sificação” (idem, p. 375): como em outros sistemas sul-americanos, “os nomes e as identidades vêm de fora, remetem ao exte­ rior da sociedade, onde a morte e a alterida- TEC de são diretamente constitutivas da pessoa” (idem, p. 383). Acrescenta que este tipo de classificação onomástica é característica dos sistemas canibais “onde os nomes vêm dos deuses, dos inimigos, dos mortos, dos ani­ mais consumidos; onde se obtém os nomes do outro” (idem, p. 384). O sistema onomástico Yanomami foi apresentado por vários autores. Ramos (1976) estabelece uma divisão entre os no­ mes pessoais e patronímicos. Ambos são se­ cretos. Os nomes pessoais são recebidos em Entre os Araweté existem nomes de in­ qualquer idade e pode-se ter mais de um no­ fância e nomes de adulto. Na infância o no­ me. Existem cinco possibilidades de se ad­ me é arbitrário; os pais é que fazem a nomi- quirir um nome pessoal. Através da caçada naçâo. O nome de adulto provém dos filhos ritual em que o pai abate um animal e o no­ por intermédio da tecnonfmia (Viveiros de me deste animal é dado à criança; baseado Castro, 1986, pp. 372-3 e 382). Existem em características físicas ou de comporta­ “duas regras mínimas e básicas de nomea­ mento; baseado em circunstâncias ou even­ ção: não se usa (se fala, se dá) o próprio no­ tos ocorridos na ocasião do nascimento ou me; dois vivos não podem portar o mesmo no decorrer da vida do indivíduo. Patroními­ nome” (idem, p. 382). Há três fontes de no­ cos personalizados. E, finalmente, tecnôni­ mes para crianças: de inimigos, de um ances­ mos (idem, pp. 23-4). Este tipo de referência tral ou de uma divindade (idem, p. 383). nominal sugere as seguintes equações: Os pais perdem o nome de infância quando nasce o primeiro filho: “O primeiro filho é considerado o nominador dos pais” (idem, p. 371). O nascimento de filhos é a única possibilidade para a mudança de no­ mes. O nome de adulto é o nome da criança, do filho, mais o termo de parentesco. Não há autonomeação, nomeia-se a criança, o filho, e captura-se este nome por meio da clas­ sificação terminológica. Os pais se autonomi- nam utilizando como recurso os próprios fi­ lhos. Tem-se a seguinte equação:

Segundo a autora, os nomes de patroní­ MORTOS micos são de sibs e de linhagens. São dados DIVINDADES INIMIGOS EXTERIORIDADE de pai para os filhos e nunca se repetem. O patronímico de sib + patronímico de li-

55 nhagem + nome pessoal estabelece um tés collectives que la subjectivent tandis qu’à processo de distinção entre as pessoas (idem, l’inverse, le processus onomastique d’indivi- pp. 25,30 e 31). duation classe implicitement les univers so­ Para a autora, o sistema Sanumã situa- ciaux successivement pertinents pour la per­ se entre a categorizaçáo e a individualização. sonne nommée: il oppose dans l’enfance les A individualização é feita com o recurso do ascendents directs du rest de la société puis à binômio formado pelo nome pessoal + no­ l’âge adulte la parentele (’yayë) à la parenté me do grupo (ou categoria). Todos os no­ classificatoire (bio)” (idem, pp. 398-9). mes, sejam de categoria ou de individualiza­ Albert associa o nome também ao traço ção, são secretos. Existe uma gradação em do morto. A proibição de proferir o nome termos de ocultação, de segredo, entre os dos mortos está relacionada à anulação da distintos modos de nominação. O maior se­ individualidade do morto; é um esforço de gredo é com os nomes pessoais, seguidos dos fazer do defunto “un corpe anonyme” (idem, patronímicos e do tecnônimo (Ramos, 1977, p. 400). Clastres e Lizot (1978, p. 116), por pp. 150-1). sua vez, interpretam este fenômeno da se­ Segundo Lizot, uma criança pode ser in­ guinte maneira: “[...]tout se passe como si les diferentemente chamada pelo termo de pa­ noms propres des Yanomami étaient donnés rentesco ou pelo seu nome pessoal. As restri­ pour signifier à chaque individu singulier ce ções ao uso do nome começam quando ela qui est son destin singuler, c’est-à-dire sa atinge a puberdade. A liberdade de usar os propre mort”. nomes das crianças como referência autoriza Albert afirma que a interpretação de o uso da tecnonímia (Lizot, 1973, p. 65). Clastres e Lizot relaciona os nomes aos mor­ Existem alguns indivíduos cujos nomes so­ tos e não a nominação à morte (Albert, frem tabu: pai, mãe e sogros potenciais 1985, p. 401). A proibição do nome do mor­ (idem, p. 66). A maior interdição recai sobre to prende-se muito mais à escatologia indivi­ os nomes dos mortos. O nome pessoal faz dual e a uma concepção de morte. Sendo as- parte da personalidade. A interdição de pro­sim, “Empreintes, résidus, marques, posses­ nunciar os nomes dos mortos estende-se ao sions, nom propre[...]ou photographie[...]; la uso lingüístico dos radicais formadores do ‘trace du mort’ est ainsi recueillie et detruite nome (idem, p. 68). A proibição de pronun­ (’’mangée") avec une méticulosité pointilleu­ ciar o nome de uma pessoa em sua presença, se par les deuilleurs (parents yayë du dé­ segundo as crenças Yanomami, está ligada à fu n t)^ .]" (idem, p. 403). morte. Dizer o nome pessoal de alguém tem O sistema de nominação Jivaro e suas duas conseqüências: um vivo correr o risco correlações com outros domínios sociais põe de morrer e um morto, de reaparecer (na em evidência um sistema onomástico de tipo forma de espectro) (idem, p. 70). “canibal”. A criança é nomeada alguns dias Albert (1985, p. 398) reforça a idéia de após nascer. Deve receber, idealmente, o no­ que “1’anthroponimie yanonamê incline plus me de um parente falecido, da geração dos à individuation qu’a à la classification de la pais ou avós. Os nomes são de animais, em personne nommée”. Uma outra característi­ sua^ maioria provenientes de pássaros. O co­ ca deste sistema de nominação apontada por nhecimento e manipulação dos nomes defi­ Albert é que se proscreve de toda a reflexivi­ nem as relações entre os grupos. Quando dade de identificação pessoal, isto é: “Une um Jívaro visita uma casa estranha, o dono personne ne peut jamais proférer elle-même pergunta ao visitante o nome de seus paren­ son propre nom. Nom d’enfant ou surnom tes e de seus não-inimigos. O visitante põe, d’adult, il n’a cours en toute circonstances cuidadosamente, numa categoria mais dis­ que pour autrui. L’individuation ne prend tante, alguns de seus parentes, que pensa te­ donc jamais socialement effect dans ce systè­ rem possibilidades de serem inimigos do do­ me que du point de vue successif des altéri­ no da casa. Quando se tem um amigo em vi­

56 sita à aldeia, é preciso acompanhá-lo cons­ Neste sistema, o nome e a alma (aru­ tantemente e nunca identificá-lo, nãò dizer otam ) provêm dos ancestrais. Assim fecha-se seu nome, pois provavelmente este deve ter o ciclo interno da sociedade. Porém, o jovem muitos inimigos na vizinhança (Harner, perde a sua arutam para conseguir a arutam 1973, pp. 84-5,103 e 131). de um inimigo, do exterior. O nome vem do Os nomes entre os Jívaro parecem ter a interior mas define, por oposição, o inimigo, função de separar os amigos dos inimigos. o exterior; devem-se buscar almas onde não Este tipo de procedimento permite aos Jíva- se buscam nomes. ro saberem quem eles poderão matar. Para­ Os Txicão possuem um complexo siste­ lelamente, e relacionado ao sistema onomás­ ma de nominação que se mescla à clas­ tico, há o sistema de captura de almas, que sificação terminológica e remete ao exterior parece complementá-lo. A obtenção doaru­ da sociedade. Para Menget (1977, p. 187) os tam, da alma, é o que está na base da morte nomes pessoais Txicão individualizam. Exis­ dos inimigos. Os homens necessitam captu­ tem categorias que permitem, em certas cir­ rar almas. Ninguém nasce com umaamtam. cunstâncias, transformar um não-parente em Esta é adquirida por meio de um ritual en­ um parente e vice-versa. O sistema de nomi­ volvendo os jovens e os ancestrais, que lhes nação segue caminhos genealógicos; assim, passam sua arutam. No ritual, a amtam de os nomes pessoais são eles mesmos clas­ um ancestral entra no peito do jovem tor­ sificadores que desencadeiam novas relações nando-o forte e despertando nele o desejogenealógicas (idem, pp. 187-8). de matar. Após este ritual, os jovens estão Menget distingue os nomes próprios e preparados para empreender uma expedição os tecnônimos como duas modalidades com­ de guerra e matar suas vítimas. Nas proximi­ plementares de classificação. Na sociedade dades da aldeia inimiga, realizam um ritual Txicão, pode-se recitar os nomes em alguns em que perdem as suas arutam para poder, rituais, sobretudo quando se retorna de uma então, capturar a arutam do inimigo (idem, expedição guerreira bem-sucedida. O rito é pp. 135-43). designadoOrengo eganoptovo. primeiro O Viveiros de Castro (1986) faz um para­ nome da série éemiru: este é o nome mais lelo entre o sistema de nominação que está corrente e importante, adquirido na metade baseado na obtenção de nomes (como o ca­ da vida do indivíduo, quando seus pais já es­ so Tupinambá) e o sistema Jívaro, baseado tão mortos. O nome emiru é acompanhado na obtenção de almas. O universo dos inimi­ dos nomesimon, nomes secundários, ligados gos, neste caso, é estabelecido por meio dos ao emiru desde a nominação. O processo de nomes. O nome identifica e classifica pes­ nominação é cumulativo; um indivíduo é no- soas. Sendo inimigo, pode-se obterarutam. Vejamos a representação gráfica deste siste­ minado muitas vezes conservando todos os ma: seus nomes (1 emiru + nomes imon). Assim, existem diferentes classes de antropônimos: (a) emiru-, (b) imon; (c) amut (idem, p. 247). ancestrais. nomes ^ criança Este último seria o apelido, um nome descri­ \ arutam tivo, acidental, singular, suscetível de esque­ cimento. Embora os Txicão possuam uma quan­ jovem tidade elevada de nomes próprios, seu uso é J 1 perdearutam muito raro. Não há propriamente uma proi­ bição de uso dos nomes. Um parente escolhe ------► inimigo para uma criança uma seqüência de nomes mata / captura já existentes, de um de seus próprios paren­ tes, em geral morto. A relação entre nomina- arutam dor e nominado caracteriza-se por ser uma

57 relação de parentes próximos. A nominação uma relação de mutualidade designadaeret- é equilibrada bilateralmente: se o primeiro cakpo. Esta relação é transmissível, de ho­ filho é nominado pelo lado paterno, o segun­ mem para homem e de mulher para mulher, do será nominado pelo lado materno, e as­linear e colateralmente, de forma automáti­ sim por diante (idem, p. 250). ca, após a morte de um dos membros do par. Existe o epônimo, aquele de quem a A relação é totalmente simétrica, de partilha criança receberá o nome, e o nominador, (idem, p. 262). Da mesma forma que o epô­ aquele que busca o nome para transmiti-lo à nimo se identifica ao nominado, portar no­ criança. A relação entre o epônimo e o no­ mes iguais parece ser um indicativo de mes­ minado é uma relação de identidade, isto é,ma pessoa. Neste caso, os nomes Txicão são o nominado pode repetir o destino do epôni­constitutivos da pessoa ao mesmo tempo mo. É neste sentido que se procura buscar que definem certas relações sociais, produ­ um epônimo que não seja desonrado (idem, zindo mudanças nas relações genealógicas. p. 251). A aquisição de um nome não cria Os nomes provêm de fato do exterior e pas­ um laço durável entre o nominador e o no­ sam, com o decorrer do tempo, a ser nomes minado, mas sim entre o epônimo e o nomi­ próprios Txicão. Vejamos graficamente este nado. Além da explicitada repetição de desti­sistema: no há, também, uma equivalência de catego­ ria de parentesco. Estende-se a relação de epônimo parentesco com o epônimo para o novo por­ tador de seu nome. Assim, o sistema de no­ mes influi no uso de categorias de parentes­ co (idem, p. 253). O estoque de nomes é conservado. Po­ de haver o esquecimento de alguns nomes e (estrangeiro ou Txicão) sua conseqüente perda. Porém, o sistema é preenchido com novos nomes, criados conti­ Se o nominador estivesse sempre na ca­ nuamente. Criam-se nomes a partir de duas tegoria de estrangeiro, os nomes viriam de situações: (a) integrando os apelidos aos an- fora, do outro grupo tribal, passando a ser tropônimos, que passam a ser nomes pró­ incorporados aos Tx:icão como nomes pró­ prios, podendo ser transmitidos; (b) através prios Txicão. Os nomies, ao perder a referên­ de estrangeiros cativos de guerra que são in­ cia, poderão ser captturados pela sociedade. corporados à sociedade Txicão, passando, Neste sentido, se o n«ome vincula o epônimo então, a ser nominadores. Os cativos nomi- ao nominado, terem as então uma vinculação nam crianças de outras parentelas, distintas de pessoas ao exterior da sociedade, aos es­ das onde foram adotados, a partir de epôni-trangeiros e inimigos.. Mesmo que os nomes, mos provenientes de sua parentela original, hoje, sejam nomes Txricão, adquiridos não só estrangeira (idem, p. 254). Há aqui um du­ através dos estrange:iros mas também por plo processo: o prisioneiro recebe de seu um parente do norminado, eles foram, no raptor e da parentela deste um nome Txicão. passado, nomes de esstrangeiros, de inimigos. É, assim, naturalizado Txicão por um nome; A vinculação do norrne ao exterior é evidente em seguida passa a estabelecer relações com nesta situação. O noime liga a sociedade ao outras parentelas Txicão, transmitindo os exterior, ao mesmo tesmpo que produz novas nomes de seus ancestrais reais para as crian­ relações no interior dsa sociedade. ças Txicão (idem, p. 255). Os sistemas dee nominação Timbira A homonímia se carateriza quando as (Apinayé, Krahó, Camela, Krikati) são de ti­ pessoas têm um mesmo nome emiru. Quan­ po “centrípeto”. Dai Matta, já em 1967, do este nome é proferido formalmente na apontava para o signiffieado da nominação na presença de seus possuidores, estabelece-se produção da sociedacde: “A literatura sobre

58 os Apinayé e trabalhos de campo com os guém que se situa na esfera pública, da pers­ Krahó têm demonstrado que a nominaçáo pectiva do nominado. Com aquele estabele­ nestes grupos não é somente um modo pelo ce uma relação de formalidade e distância qual a sociedade rotula os seus membros, social. Com o arranjador de nome e com seu atribuindo a cada qual uma posição dentro pai verdadeiro tem uma relação cordial. Os de uma estrututra jurídica, familiar ou ceri­ nomes são, como vimos, básicos na estrutu­ monial. De fato os nomes funcionam, tam­ ração das relações sociais. Assim, encontra­ bém, como um mecanismo de recrutamento mos aqui a nominação produzindo relações para um conjunto de grupos cerimoniais e sociais (Da Matta, 1976, pp. 108-11 e 113-4). servem para atribuir, aos seus portadores, Embora os Apinayé tenham nomes que os li­ papéis sociais de grande importância. Do gam diretamente à sociedade, ao seu doador ponto de vista estrutural, estamos inclinados e à metade a que seu doador pertence, exis­ a crer que a nominação exerce influência nu­ tem nomes de “dentro de casa”, apelidos, ma série de outras instituições. Isto porque é responsáveis pela individualização. O público através da nominação que vários indivíduos e o privado penetram também na esfera da situados em gerações diferentes ficam uni­ nominação. Da Matta a representa da se­ dos num mesmo grupo social e por obriga­ guinte maneira: ções de reciprocidade” (Da Matta e Laraia, 1979, 1967, pp. 159-60). Examinemos alguns sistemas Timbira. Comecemos pelos Apinayé. Nimuendajú (1956) nos dá uma primeira descrição do sis­ tema de nominação Apinayé. Os nomes são transmitidos: assim, cada uma das metades tem um repertório finito de nomes, transmi­ tido de geração a geração. O nome é uma reunião de quatro ou mais palavras, cada qual com significados independentes. As pa­ lavras parecem perder a referência lingüísti­ ca quando utilizadas como nomes (idem, pp. 19-25). Os nomes são títulos, papéis sociais. Existem nomes “grandes” e “pequenos”. Os A relação ritualizada entre nominador e “grandes” parecem ter a função de ligar o nominado é contrastada com a relação cor­ sujeito à metade, investindo-o de um papel dial entre o filho e o genitor. Parece que es­ cerimonial. Na classe dos nominadores en- tas relações opostas querem sinalizar uma contram-se pessoas do mesmo sexo do nomi- não-identificação entre o pai e o nominador nado. Alguém transmitirá seu nome. A regra (idealmente o tio materno). Faz-se, portan­ básica entre os Apinayé é: aquele que fez o to, uma identificação social com o nomina­ corpo não poderá nominá-lo. Há, assim, dor e uma identificação pessoal e afetiva uma oposição entre nominador e genitor com o pai. Por uma dupla identificação, pro­ (idem, p. 21). duz-se uma diferença. A esfera pública, so­ Existem três posições centrais neste sis­ cial, é representada na figura do nominador. tema de nominação. O nominador, o ar- O nominado passa a ser uma réplica do no­ ranjador de nomes e o nominado. O ar- minador. Mesmo nome, mesmas atribuições. ranjador de nomes é aquele que procura um U m a relação mediada pelo social, ritualiza­ doador de nomes para seu “filho adotivo”. da. Estabelecida pela lei. O arranjador é Faz a medição entre o pai verdadeiro e o no­ quem vai buscar o nome. Ao fazê-lo, projeta minador, situando-se a meio caminho das es­ o nominado para fora de seu núcleo familiar, feras privada e pública. O nominador é al­ ao mesmo tempo que insere o nominador no

59 interior deste núcleo. É neste sentido que os soma dos amigos formais de ambos. Sobre nomes classificam, Na verdade, nominam os nomes, ressalta que entre os Krahó a classificando. Inserem indivíduos num cam­transmissão de nomes segue a lógica dos no­ po social. Da M atta faz uma comparação en­ mes passarem de parentes próximos para pa­ tre os nomes na sociedade Apinayé e em ou­ rentes próximos e de parentes distantes para tras sociedades Timbira e Jê. Conclui que parentes distantes, o que garante que os no­ entre os Apinayé os nomes têm função clas- mes voltem para a casa de origem, de onde sificatória pelo fato de o sistema social não saíram com os homens. “É, aliás, em termos possuir outras fontes de classificação. Em de ‘casas’ (na realidade entenda-se segmen­ contraste, a nominação Kaiapó tem função tos residenciais) que os Krahó às vezes enun­ individualizadora, já que nesta sociedade exis­ciam esta regra: dá-se os nomes na casa de tem sistemas de classes de idades e metades or­ onde eles vieram” ibid( ). ganizadas responsáveis pela classificação (idem, Os Krikatí dão mais ênfase à nomina­ pp. 123-30). ção, como constitutiva do sistema social, que Julio Cezar Melatti (1976) apresenta o os demais Timbira. As relações de parentes­ sistema de nominação dos Krahó. Identifica,co e casamento organizam as atividades dos de imediato, uma relação de substância en­ grupos domésticos. A nominação, igualmen­ tre genitor e gerado, representada pelas res­ te importante, organiza as relações sociais trições alimentares simultâneas. Genitor e mais gerais. Os nomes têm a função de re­ gerado formam uma unidade biológica; no- crutar indivíduos para as três metades e as minador e o nominado uma unidade social.sociedades cerimoniais. Transmite, também, Os nomes pertencem às metades; ligam os papéis cerimoniais e permite que os nomina­ indivíduos a estes grupos, atribuindo-lhes pa­ dores socializem os nominados. Estabelece péis rituais. O nominado usa os mesmos ter­ um sistema de amizade formalizada. Os no­ mos de parentesco que seu nominador utili­ mes entre os Krikatí são uma instância deter­ za para classificar as pessoas. O nominado minante na perpetuação do sistema social reclassifica os indivíduos, os quais classificava (Lave, 1979). a partir da relação com seu genitor. Com o Ladeira (1982) realizou trabalho minu­ advento da nominação, parece adquirir a cioso sobre a troca de nomes e cônjuges en­ mesma pessoa social que seu nominador; re­ tre os Timbira. Segundo ela, duas questões pete as mesmas classificações empregadas são fundamentais para o estabelecimento da por ele. O nome não representa um indiví­ sociedade Timbira: com quem casar e com duo, uma pessoa; atribui um lugar social. Di­ quem trocar nomes. Entre os Timbira, as ferentes indivíduos vão ter a mesma máscara pessoas são parentes quando trocam de no­ social, embora não sejam a mesma pessoa. mes ou quando se originam de um mesmo Melatti usa as figuras do ator e personagem segmento residencial. A união de segmentos para interpretar o significado da nominação residenciais é estabelecida pela nominação entre os Krahó (idem, pp. 145-6). Neste sen­ ou pelo casamento. São escolhas excludentes tido, o nome enquanto oposto ao núcleo pri­ (idem, p. 57). A nominação influi nos ar­ mário da criação biológica é uma forma de ranjos matrimoniais. Umego masculino po­ reprodução social. Quanto à transmissão dos derá casar-se somente com as primas parale­ nomes, o caso Krahó segue a lógica Apinayé, las patrilaterais ou as primas cruzadas patri- com uma única diferença: entre os Krahó os laterais. As primas paralelas matrilaterais são primos paralelos de mesmo sexo estão na consideradas “irmãs” e as primas cruzadas posição de nominador (idem, p. 144). matrilaterais são “mães”. Com ambas não Carneiro da Cunha (1978, p. 76) enfati­ pode casar-se. Existe, portanto, a orientação za a relação entre a nominação e a amizade de casamento entre umego masculino e suas formalizada. Se uma pessoa recebe nomes primas cruzadas patrilaterais e entre um ego de dois nominadores terá, potencialmente, afeminino e seus primos cruzados matrilate-

60 rais (idem, pp. 105, 106 e 108). O retorno tos animais. Todos os nomes e privilégios po- dos nomes ao grupo doméstico de origem é dem ser transmitidos a membros de outros possibilitado pelos arranjos matrimoniais, segmentos. A transmissão realiza-se através expressando, assim, uma “política de não do sistema de parentesco e de laços diádicos perder nomes” (idem, pp. 44 e 110). Entre­ (idem, p. 104). O autor afirma que “quando tanto, nenhuma parentela detém um conjun­ nomes pessoais ou privilégios são transmiti­ to próprio e exclusivo de nomes. Todos os dos a membros de um outro segmento resi­ indivíduos têm um nome e um lugar no pátio dencial, estes devem ser devolvidos ao seg­ da aldeia. Trocando nomes e corpos entre os mento com o qual são associados, passando grupos domésticos de segmentos residenciais para um de seus membros” (ibid). Existem diferentes, tramam a rede que une os distin­ dois tipos de nomes entre os Kayapó: nomes tos grupos sociais. A vida cerimonial dos comuns e nomes belos ou grandes. Os no­ Timbira não interfere nos arrranjos estabele­ mes comuns estão associados a e são produ­ cidos na “periferia” (troca de nomes e cor­ zidos por algum elemento do ambiente natu­ pos). A terminologia de parentesco explicita ral, uma parte do corpo ou mesmo uma ex­ esta troca por meio de um conjunto de ter­ periência de vida. Os nomes grandes ou be­ mos de relação que orienta a troca de nomes los são constituídos por duas partes: o prefi­ e a troca de cônjuges (idem, pp. 112-4). La­ xo cerimonial (existem pelo menos oito prefi­ deira mostra-nos, assim, uma dimensão fun­ xos associados a cerimônias específicas) e o damental da nominação entre os Timbira. O radical que serve para a nominação indivi­ nome é algo que produz as relações sociais e dual. A transmissão destes nomes não se que funciona como outra face da aliança. realiza de pais para filhos reais ou clas- Existem as esferas da aliança e dos nomes; sificatórios; caso assim fosse feita, a criança ambas produzem sociabilidade. Com quem nominada faleceria. Tanto os nomes grandes se troca esposas não se troca nomes; com quanto os comuns são transmitidos por um quem se troca nomes não se troca esposas. homem ao filho da irmã e por uma mulher à Um sistema construído de forma interde­ filha do irmão. Os nomes comuns são doa­ pendente. Os nomes, neste caso, são mais do dos sem formalidades, enquanto os nomes que da ordem da transmissão e da socieda­ grandes são confirmados cerimonialmente de; fundam as relações sociais, separando e (idem, pp. 105-8). unindo grupos. Verswiger também discute a idéia sobre O sistema Suya, apresentado por Seeger a nominação Kayapó formulada por Bam­ (1981), assemelha-se aos dos demais Jê. O berger (1974), que diz que os nomes mascu­ autor acentua que o nominado seria a répli­ linos movimentam-se por uma linha uterina ca do nominador, no que se refere aos pa­ de parentela masculina (de filho da irmã pa­ péis cerimoniais. Partilham os mesmos direi­ ra filho da irmã) e que os nomes femininos tos e deveres, havendo uma real identidade movimentam-se por uma linha agnática de entre eles; num certo sentido eles são “um”. parentela feminina (da filha do irmão para a O menino é nominado pelo tio materno e a filha do irmão). Assim, a sugestão de Bam­ menina pela tia paterna. Nestes casos a ho­ berger é que os nomes movimentam-se em monímia faz a duplicação do sujeito, encar­ torno do círculo da aldeia (Bamberger, 1974, nação de um mesmo ser social (idem, pp. pp. 373-4). Verswiger procura provar que os 121-46). nomes Kayapó são de posse dos segmentos O sistema de nominação dos Kayapó é residenciais (Verswiger, 1983, p. 112). apresentado por Verswiger (1983). Entre os A tese de Lea (1986) segue a pista Kayapó, cada segmento residencial é as­ apontada por Verswiger. Para a autora, o sociado a um conjunto de nomes pessoais, princípio imperativo da nominação é que os privilégios rituais, itens de enfeite pessoal e nomes devem retornar ao local onde surgi­ direitos de receber partes específicas de cer­ ram. A maioria das pessoas tem entre 6 e 15

61 nomes, com possibilidade de possuir mais de grupos, a casas. Entre os Kayapó os nomes 15. De um modo geral, o indivíduo não sabe ligam os corpos às casas, ao mesmo tempo sobre todos os nomes que possui; conhece que as diferenciam. apenas os que são usados. É obrigação de O sistema onomástico Xikrin, descrito sua mãe repetir seus nomes durante a sua vi­ por Vidal (1977), distancia-se do sistema Ka­ da, para que nunca os esqueça. Evita-se ho­ yapó. Os nominadores, do ponto de vista ge­ monímia. O controle do saber onomástico de nealógico, encontram-se na periferia do sis­ cada casa visa assegurar a perpetuidade dos tema de parentesco; da perspectiva termino­ nomes que a ela pertencem. O nominador lógica, são os avós paternos e maternos, os não renuncia aos seus nomes; passa a siblings cruzados dos pais de umego. Entre compartilhá-los com o nominado. Há, entre­ os Xikrin encontra-se uma nomenclatura si­ tanto, exceções: quando há disputa por um milar à presente entre os Timbira: existem os nome, este é abandonado pelo nominador,nomes “grandes” e “pequenos”. Os grandes tornando-se, assim, nome exclusivo do nomi­ são transmitidos cerimonialmente e os pe­ nado. Os homens defendem o patrimônioquenos, comuns, os acompanham. Vidal en­ onomástico de suas casas (idem, pp. 174-9). fatiza que os nomes “grandes” não formam A transmissão de nomes realiza-se por uma grupos corporados; agrupam indivíduos so­ regra também presente entre os Timbira: a mente na cerimônia de nomeação. À dife­ mulher transmite seus nomes à filha do ir­ rença dos Timbira, os nomes Xikrin não in­ mão e o homem transmite seus nomes ao fi­ corporam à mesma metade o nominador e o lho da irmã. O acervo de nomes e denekrets nominado. Os nomes estão ligados à esfera (bens cerimoniais) distinguem uma casa das das prerrogativas, conhecimentos e orna­ outras. Cada morador é um nominador po­ mentos rituais. Ganha-se um nome e herda- tencial; porém necessita de outros para se por meio de prerrogativas. Um indivíduo transmitir nomes aos seus filhos. O nome, pode doar todos os seus nomes a um único assim, é um símbolo, um valor (idem, pp. ou pode reparti-los entre vários. A relação 180-1). entre nominador e nominado do sexo mas­ Entre os Kayapó a relação nomina- culino é formal e ritualizada, enquanto a re­ dor/nominado não é de evitação. Está subor­ lação entre mulheres é mais descontraída. dinada à relação homem/filho de sua irmã e Entre os homens implica a herança de bens e mulher/filha de seu irmão. A nominação re­ privilégios rituais (idem, pp. 108-10). força a relação preexistente entre um ho­ Cruz (1939 e 1940), ao descrever o sis­ mem e sua irmã. Uma mulher deve transmi­ tema de nominação Bororo, registrou que o tir seus nomes (os de sua casa) para as filhas indivíduo pode ter mais de um nome, embo­ de seus irmãos, em retribuição aos nomes ra grave somente um em sua memória. Após que seus filhos recebem daqueles (idem, pp. o nascimento da criança, os pais convocam 182-6 e 203-4). Para Lea, o importante na os parentes matrilaterais para a escolha de onomástica Kayapó é a perpetuação do acer­ um nome e para participar da cerimônia de vo de nomes de cada casa e o enriquecimen­ nomeação. Nesta cerimônia, a criança terá to deste pela apropriação de nomes prove­ seu lábio perfurado e o perfurador adquirirá nientes de casas “vazias”. Neste sentido, o uma série de obrigações em relação à crian­ nome Kayapó segue outro princípio que não ça: desde fornecer o instrumento que lhe fu­ o de “pura” troca e constituição da sociabili­ rará o lábio até ocupar o lugar de seu pai, ca­ dade, como no caso Timbira. Aqui o nome so este venha a falecer. Durante a cerimônia, parece ter caráter emblemático. É o que dis­ o perfurador grita o nome da criança de for­ tingue as casas. O nome tem característica ma que todos possam ouvi-lo. Ao ser pro­ de totem. O nome Kayapó, como apresenta­ nunciado o nome, a mãe da criança cai em do por Lea, trabalha exclusivamente com a prantos, pois este nome é um homônimo de intenção classificatória. Liga indivíduos a um antepassado. Todas as pessoas ligadas ao

62 morto choram ao ouvir seu nome. O nome lhes a nominação e o parentesco entre os marca, assim, o começo de uma vida e o final Bororo. Os nomes pessoais estão associados de outra. Os nomes continuam enquanto as a títulos. Em função dos títulos, os indiví­ pessoas vivem e morrem. Se o filho for pri­ duos serão relacionados por termos de pa­ mogênito, o pai da criança terá o septo nasal rentesco recíprocos. Um homem Bororo, as­ e os lóbulos auriculares perfurados no mes­ sociado a um título mais importante, será mo ritual. Ritual que marca a incorporação um tio materno, avô ou irmão mais velho de do filho à sociedade e do pai à vida adulta. O um outro homem com título menos impor­ perfurador é designadoUidaga ; nunca pode­ tante; este, por sua vez, será um sobrinho, rá esquecer o nome da criança. Os nomes um neto ou um irmão mais novo daquele. atribuídos à criança são de uso privativo de Ambos os homens pertencem à mesma me­ sua metade e de seu clã. Paralelo a este no­ tade. Assim, o parentesco é estabelecido não me, atribuído pelo nascimento, existe um ou­ a partir dos indivíduos, mas sim por intermé­ tro, oculto, doado por um homem de prestí­ dio dos títulos, dos nomes que portem. A po­ gio do clã da criança; este nome somente po­ sição entre os indivíduos, de distância ou de ser pronunciado em voz baixa, por aquele proximidade, é equacionada às posições dos que a nomeou e pelos seus pais, e só será re­ títulos dentro do modelo circular da aldeia, velado ao seu portador após o nascimento de visto que a distribuição dos títulos é fixa. A seu filho. “política de não perder nomes” visa, por Quando um rapaz atinge a puberdade, meio de adoções, transferências e substitui­ adquire um estojo peniano Bá(. ) e um nome ções, manter intacto o círculo dos títulos que de um herói da tribo. Pode receber outros configuram o modelo da aldeia (idem, pp. nomes ao caçar, em memória de algum m or­ 62-3). Ao concluir, a autora destaca que o to. Quando entrega o animal abatido à famí­ complexo e o simbolismo da caça entre o lia e parentes do morto, estes recebem no­ Bororo estruturam a formação de: famílias mes, assim como caçador e o próprio morto rituais", que se tratam por termos de paren­ (Cruz, 1939, pp. 185-202). Neste caso os no­ tesco, alterando substancialmente as formas mes derivam das características percebidas de tratamento e de conduta anteriores à im­ no animal caçado ou relativas à alimentação posição do nome de morte, ou de caça. Nes­ encontrada em seu estômago. te sentido, “o parentesco é sempre mediado Viertler (1976) divide os nomes Bororo por uma hierarquia de títulos e de nomes em nomes Iebiomage (nomes de caça e de pessoais outorgados para a vida e para a morte) e nomesIe-mage (nomes de vida). Os morte de seus representantes”(idem, p. 68). iebio decorrem da caça domori e são consi­ Temos, assim, a seguinte representação: derados nomes de recompensa, proclamados cerimonialmente. Os nomes de morte po­ dem ser usados por todos da aldeia como re­ ferência em oposição aos nomes de vida que são de uso reservado. A caçada é realizada METADE CLÃ HERÓI por alguém que pertence à metade oposta à do morto. O caçador é visto como um “fi­ lho” da mulher que recebe o mori, conside­ rada a “mãe” do defunto, casado com o “pai” do defunto; ambos pertencem ao mes­ mo lado do caçador. A partir deste aconteci­ mento há uma nominação do defunto, do pai e mãe do morto e do caçador (idem, pp. 58-68). Viertler (1978) explora com maior deta­

63 mes Xavante, por um lado, classificam e, por outro, individualizam. Marcam as fases de amadurecimento do indivíduo. Os velhos e os recém-nascidos não portam nomes. Entre os Xavante, a relação nominado/nominador não conforma grupos sociais distintos, com fronteiras bem definidas. A filiação às meta­ des é condição para a nominação masculina. Os nomes masculinos estão identificados à relação irmãos da mãe/filho da irmã. O no­ me feminino depende da classificação dos homens em grupos de doadores: metades opostas, distinções etárias. Os nomes femini­ nos classificam as mulheres em grupo, de Crocker (1985, p. 64) acrescenta que os acordo com seus radicais. No caso Xavante, “Bororo emphasize the intimate association o nominador perde o nome em prol do no- between proper names and the immaterial minado. Na sociedade não podem existir aspect of being termedaroe, soul. All such dois sujeitos com o mesmo nome. Entre o names are derived from the natural and su­ nominador/nominado a relação não é marca­ pernatural entities associated with each da pela evitaçáo. No caso Xavante, a nomi­ clan[...] The name-giving confers upon the nação não produz uma mudança no sistema child its nominal participation in these beings terminológico, como no caso dos demais Jê. which literally define all coletive individual O dualismo Xavante trabalha no inte­ identity” rior da nominação. Os nomes masculinos si­ Diz ainda que “[...] proper names, ritual tuam-se na esfera social, do parentesco e do titles, and the terms for clan property, all de­ campo cerimonial. Relacionam-se ao público rive specifying ways from these aroe[...] The­ e à esfera ritual da sociedade. Os nomes fe­ se essences provide the categories on which mininos circunscrevem-se à área natural, vin­ social differentiation and identity is vased[...]culam a sociedade à natureza. São nomes Everything in the world, say the Bororo, has criados a cada geração, nomes de animais e an aroe (that is, name) and, since names are plantas. Não são transmitidos, como os mas­ spatially organized, a cosmological place” culinos. Não classificam, não se vinculam à (idem, p. 270). sociedade. Individualizam. São relacionados Para Crocker, portanto, a alma está es­ à esfera privada, doméstica, da sociedade. Os treitamente vinculada ao nome próprio nomes de homens são permanentes e (Crocker, 1979, p. 257). transmissíveis enquanto os nomes de mu­ O sistema de nominação Xavante foi lheres são novos, individualizadores, perso­ apresentado por Maybury-Lewis (1967, pp. nalizados. A nominação Xavante pode ser 232-6) e detalhado por Lopes da Silva representada da seguinte maneira: (1987). Entre os Xavante, existem nomes fe­ mininos e masculinos. Os nomes masculinos Nomes Sociais Nomes “N aturais” são transmitidos pelo tio materno num ritual doméstico. Na nominação feminina faz-se Homens Mulheres um ritual público, agrupando-se as mulheres Transmissão MB/Zs Criação - Não Transmissão por classe de idade. Nota-se, assim, uma in­ versão: os homens, a quem são atribuídos Ritual Doméstico Ritual Público nomes sociais, realizam um ritual doméstico Classifica Individualiza e as mulheres, a quem são atribuídos nomes individuais, fazem um ritual público. Os no­ Não conforma Grupos Conforma Grupos

64 Assim, o caso Xavante torna-se singular Periféricos aos sistemas apresentados, por conter no seu sistema onomástico aspec­ mas não menos importantes, são os sistemas tos antitéticos: condensa no seu interior prin­, Suruí e Xinguano. O sistema cípios que operam no sentido da individua­Kaingang foi descrito primeiramente por ção e da classificação, de acordo com o gêne­ Henry (1963, p. 176). O autor não fornece ro. Assim, os nomes femininos individuali­ muitos dados sobre o sistema; diz que são os zam e os masculinos classificam. No entanto, parentes próximos os doadores de nomes às é interessante observar que, antes de clas­ crianças recém-nascidas. Recebem, também, sificar ou individualizar, o sistema de nomi- nomes de parentes falecidos. Deivair Melatti nação trabalha para a construção da pessoa. (1976) fornece outros dados. O nome pró­ A partir da constatação de Lopes da Silva de prio é transmitido em linha masculina (a do que “a pessoa costura a sociedade Xavante”, pai e do avô paterno). Há uma indicação que temos que a onomástica é de fundamental nos possibilita interpretar a nominação como importância na sua concepção de mundo sendo feita a partir de uma regra paralela. (Lopes da Silva, 1987, pp. 246-8). Por exemplo: O sistema de nominação (Tu- kano), do noroeste amazônico, foi apresen­ tada por Christine Hugh-Jones (1979). O processo de nominação realiza-se por meio da transmissão de nomes através das gera­ ções. Os nomes repetem-se por gerações al­ ternadas. A criança recém-nascida é nomea­ da com um nome de um parente patrilinear morto, pertencente à segunda geração as­ cendente do mesmo sexo do nomeado. Nes­ te sentido, se for menino, receberá o nome de seu avô paterno; se for menina receberá o nome da irmã do pai do pai. Tal regra é compatível com a regra de descendência pa­ O nome pessoal é relacionado ao nome trilinear; a criança pertence, portanto, à pa­ de grupo. Não se pode pronunciar o nome rentela do marido. Este sistema onomástico do morto. Aos três anos de idade, ganha-se mantém o estoque de nomes patrilineares nomes identificados e características da pes­ em circulação. A nominação é feita a partir soa, ao seu wiyi (espírito), contrastando com do xamanismo. A nominação transfere a al­ o nomeyiyi. Estes dois atributos são consti­ ma do ancestral morto para a criança, impe­ tutivos da pessoa Kaingang: um o liga ao dindo que desapareça. O nominador devegrupo, classifica-o — o yiyi — e o outro — o ser um “morto recente”, falecido há pelo wiyi — marca sua essência, seu espírito menos três anos. Representando grafica­ (Wieseman, 1960, pp. 177 e 180). mente (idem, p. 163): O sistema dos Suruí é apresentado por Mindlin (1985, pp. 90-3). A pergunta funda­ mental entre os Suruí não é sobre o nome, mas sim sobre quem transmitiu o nome. Isso MORTOS marca uma estratégia de identificação no

NOME mundo e a potencialidade da classificação. ALMA Os nomes não são usados como referência pelas pessoas; esta tarefa fica a cargo da ter­

VIVOS minologia de parentesco. É proibido dizer os nomes dos pais, dos avós, do tio paterno, da tia materna e dos cônjuges. Em relação aos

65 nomes de mortos observa-se a mesma regra. indivíduo com a história e a geração dos avós Algumas pessoas, como filhos de xamã, po­ (Gregor, 1982). Há uma proibição de pro­ dem receber nomes de espíritos. Os nomes nunciar os nomes dos afins (cunhados e so­ produzem modificações na classificação de gros não se chamam pelo nome). A criança parentesco. Há uma transferência de posi­ recebe nomes de avós paternos e maternos ção: o nominado passa a ocupar a mesma de acordo com o seu sexo. Vejamos: posição que o nominador. A transmissão se dá da seguinte maneira:

AC AC

Os nomes produzem mudanças na ge­ nealogia, nos termos de parentesco. Por exemplo: Na concepção Xinguana, receber um nome significa o mesmo que trocar objetos de mesmo valor (“pekaweintsa”). No ritual de nominação, “o falador” do nome dá o no­ me à criança, ele “o empurra para dentro, o coloca para dentro dela” (Gregor, 1982, pp. 244-6). Conforme o gráfico anterior, o pai cha­ ma a criança de A e a mãe a chama de B; as­ sim ocorre porque não podem pronunciar os nomes de seus sogros. Chamam a criança pelo nome de seus respectivos pais. À crian­ ça é atribuído, assim, nomes das parentelas de sua mãe e de seu pai. A autora desenvolve a hipótese de que O sistema de nominação Matis é trata­ a mudança nos termos de parentesco decor­ do no trabalho de Erikson (1987). Para os rentes da nominação facilitaria a troca de Matis, nomear significa dar vida (idem, p.2). mulheres.3 Nesta sociedade, onomástica e sistema de Os nomes Suruí são da ordem da socie­ parentesco estão estreitamente relacionados. dade, da classificação. Engendram relaçõesOs nomes, assim, classificam. Existem os sociais e, por isso, fazem a equivalência entre apelidos que particularizam os indivíduos, ou nominador e nominado. produzem uma individuação. A transmissão O papel dos nomes no sistema Xingua- dos nomes obedece a uma lógica social no pode ser apreendido nos trabalhos desemelhante à Jê. Porém, ambas as formas de Basso (1973) e Gregor (1982). Aí os nomes se adquirir nomes são sociais. O apelido po­ parecem estar na interseção da identidadede transformar-se em um nome após trans­ social e da identidade pessoal. O nome codi­mitido através de gerações. Neste caso, o fica muitas informações sociais: sexo, idade, apelido perde sua referência lingüística, pas­ participação em rituais públicos, identifica o sando a ser um nome próprio (idem, p. 12).

66 Entre os Marubo, os nomes pessoais mentares aos Pirahã, possibilitando o seu são transmitidos em gerações alternadas destino, sua transformação. (Melatti, D., 1985). O indivíduo recebe no­ Os nomes de?iblisi individualizam, for­ mes em três fases de sua vida: ao engatinhar, mam o corpo, um ser único; a homonímia na puberdade e na fase adulta. Nesta última não pode existir porque não podem existir faz-se o uso de tecnonímia. Os nomes pes­ corpos iguais. São nomes adquiridos (não soais não são enunciados cotidianamente. transmitidos); sempre novos, decorrentes Podem vir precedidos pela classificação refe­ dos eventos que os produzem, que envolvem rente à seção a que o indivíduo pertence a mulher e a natureza. Nomes únicos. São (existem nove unidades matrilineares com constituídos de forma diacrônica, formam duas seções cada uma). A divisão em duas conjuntos diacrônicos; os nomes de?ibiisi seções é estabelecida a partir da alternância são nomes ligados à vida e à história particu­ dos nomes, seguindo o princípio da alternân­lar do indivíduo, são temporais. Orientados cia das gerações. Segundo a autora, a equi­ para abertura, os nomes novos formam dis­ valência de gerações alternadas é importante tinções suplementares, algo que suplementa para a sociedade na ordenação da terminolo­o indivíduo. A onomástica Pirahã pode ser gia de parentesco, na transmissão de nomes representada das seguintes formas: pessoais e na divisão de cada unidade matri- linear em duas seções (idem, pp. 40 e 90). nominam matam O sistema de nominação Pirahã (Gon­ Pirahã <• • ; ...... > Inimigos çalves, 1988) constitui-se por dois tipos de nomes nomes: nomes de?ibiisi e nomes delãbàisí. Natureza Os nomes de?ibiisi são aqueles que provêm da natureza, que marcam o evento que pro­ Animais------Corpos (nomes du natureza) mulher duziu o corpo, o ?ibiísi. Algo da ordem do Plantas ------Corpos (nomes da natureza) acontecimento. Nome constituinte de uma individualidade, nome que só significa o f abaisi Tiblisi, o corpo. Os nomes de?ãbãisi são no­ mes de entidades, dos “deuses” Pirahã. No­ mes transmitidos ou pelas próprias entidades ou pelos mortos, quando comparecem ao ri­ tual Pirahã nomeando os vivos. Todos os no­ mes que não são de?ibiisi são de ?àbàisl. Os nomes de mortos são de?ãbãisi. A nosso ver Três domínios atuam no sistema de no­ o sistema Pirahã trabalha nitidamente com minação. Podemos agrupá-los em: duas orientações onomásticas: uma extrema­ mente individualizadora e outra clas- • extra-social: inimigos e/ou estrangeiros sificatória. Uma define o corpo, individuali­ • natureza: animais, vegetais, objetos etc. za, e outra que define suas relações com o • sobrenatureza:entidades?ãbãisi, m or­ cosmos e o seu destino. Neste sentido, os no­ tos (kãõãibõgi e tõipii) mes classificam ligando o indivíduo ao cos­ mos, possibilitando o destino no cosmos. Os Estes domínios, fontes dos nomes, estão nomes ?ãbãisi são conservados; há um acer­ fora da sociedade. Parece claro que o que vo dos nomes?ãbãisi que é transmitido pelas permite a constituição de uma sociedade e a entidades aos vivos. Os nomes formam con­ própria articulação da mesma com tais domí­ juntos sincrônicos na medida que retornamnios é o processo de nominação. Vemos este para a sociedade, são recuperados. São da processo como um exercício metafórico que ordem da continuidade, têm uma referência tenta conectar, no mínimo, duas séries distin­ cosmológica e atribuem identidades comple­ tas. O domínio extra-spcial é conectado à so- ciedade através dos inimigos. É via morte dos Ao finalizarmos esta exposição sobre al­ inimigos que o nome retoma para a sociedade. guns dos principais sistemas onomásticos das O domínio da natureza concebe os Pirahã. Os terras baixas da América do Sul, podemos seus nomes são, antes de tudo, nomes de concluir que as lógicas “canibal” e “centrípe­ quem lhes originou, possibilitou sua existência. ta”, representadas pela ordem da individua­ No domínio da sobrenatureza, é através dos ção e da classificação, não são excludentes. espectros dos mortos (kãõãíbõgí e tõipíí) e das Estão presentes nos sistemas porém de ma­ próprias entidades?ãbãisí ( ) que os humanos neira desigual: alguns sistemas têm uma ên­ adquirem nomes (Gonçalves, 1988). Assim, fase “canibal” e outros uma ênfase “centrí­ nomes e nominação são de fundamental im­peta”, o que lhes confere feições distintas. portância na sociedade Pirahã, por conectar (Recebido para publicação vários domínios e nesse exercício constituir um em outubro de 1991) campo social.

N otas

1. Goodenough (1964) nos dá um bom exemplo de como a problemática da nominação po­ de assumir outras características. Em seu artigo sobre a nominação em duas sociedades polinésias — os Truk e os Lakalai — evidencia uma primeira dicotomia no significado dos nomes no interior dos sistemas sociais. Enquanto entre os Lakalai os nomes têm uma função eminentemente classificatória, isto é, o meio de conexão entre o indivíduo e o so­ cial, em Truk ocorre o oposto: o nome é o próprio indivíduo. Aqui, os nomes têm uma função individualizadora. Goodenough, procurando dar conta das distintas sociedades, faz uma relação entre estrutura social e nominação. Assim, em Truk os nomes individua­ lizam porque o sistema social é composto de linhagens matrilineares. Os nomes em La­ kalai classificam porque lá não existe nenhuma instituição social com poder de clas­ sificação. Há, portanto, nesta visão uma adequação entre nome próprio e sociedade, co­ mo se uma compensasse a falta de estrutura do outro. 2. Entre os Paresi, grupo Aruak, observa-se a mesma prática da nominação. O nome repre­ senta a própria pessoa. Usa-se também trocar os nomes de doentes para que se curem (Costa, 1985, p. 188). 3. Este dado parece ser contraditório com os dados apresentados.

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