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C Á L I C E D E S A N G U E

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CAPÍTULO 16 (NOVELA EM 30 CAPÍTULOS)

“Momentos de Tensão”

ORIGINAL de: Carlos Lira e Escrita Por: Carlos Lira E João Sane Malagutti João Sane Malagutti

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

1. LEOFÁ (José de Abreu) 16. SINIRA (Bel Kutner) 2. SUMÉRIA (Elisa Lucinda) 17. PABLO (Luiz Felipe Mello) 3. SALVADOR (Antônio Fagundes) 18. SOLIMAR (Rosane Gofman) 4. ÚRSULA (Bianca Bin) 19. DIONE (Sophie Charlotte) 5. JÚLIO () 20. FILIPA (Totia Meireles) 6. GORETE (Bia Seidl) 21. SERENA (Beth Goffman) 7. EURICO () 22. PILAR (Malú Galli) 8. BRIANE (Daniele Winitz) 23. JOSÉ () 9. VALDIR (Paulo Rocha) 24. JOÃO (Gabriel Godoy) 10. MANFRED ()25. NADIR (Paloma Bernardi) 11. GUTEMBERG (Humberto Carrão) 26. HAIDÊ (Ísis Valverde) 12. EPITÁCIO (Tony Ramos) 27. JADE (Camila Queiroz) 13. LEOPOLDINA (Regina Duarte) 28. KEILA (Nanda Costa) 14. PETRÔNIO (Sidney Sampaio) 29. PÂMELA (Adriana Birolli) 15. QUITÉRIA (Nívea Maria) 30. P.PAULO (Milton Gonçalves)

Direitos autorais pertencentes à CARLOS LIRA e JOÃO SANE MALAGUTTI ® CENA 01. FACHADA DO CASARÃO BIANCHINI/MATA. EXTERNA. NOITE Retoma de onde parou. Eurico com arma em punho.

FILIPA: (assustada) – Vamos sair logo daqui.

DIONE: - (arrependida) – Não devíamos ter vindo.

Eurico volta para o carro de costa e desconfiado. Montam no carro e saem.

ÚRSULA: (in off) - Não gosto dessa mulher. Ela tem o olho ruim.

Close: Felipa desconfiada.

Fusão com:

CENA 02. ESCRITÓRIO E SALVADOR. INTERNA. NOITE Salvador esta atrás da mesa, Pilar encostada na porta e Úrsula anda de um lado para o outro irritada.

ÚRSULA: - Ela ter entrado aqui foi um ultraje! (com ódio) Se ela pudesse, matava mamãe para ficar com o senhor.

SALVADOR: (controlado) - Quer se acalmar? Elas já foram.

ÚRSULA: - O pior foi a sonsa de sua filha pedir para vender tudo. Duas interesseiras!

PILAR: (repreende) – Úrsula!

ÚRSULA: (rebate) – É verdade! Sempre tentei ser amiga da Dione e ela sempre me ignorou como se eu nem fosse irmã dela. No fundo, tenho dó dela manipulada pela cobra da mãe. Onde já se viu?! Vender tudo para ficar com a herança?

PILAR: - Falar da herança nesse momento não te torna diferente dela. E, outra, ela tem o direito! Isso é uma coisa que só o seu pai pode resolver. (joga a indireta) Assim como todas as outras coisas que estamos vivendo.

SALVADOR: - Tiraram o dia para me atacar?

PILAR: (cansada) - Não, Salvador, mas paciência tem limites. Há anos que guardo tudo dentro de mim, mas, agora, está tudo revirado. Eu não dou mais conta dessa incerteza. Quero me sentir amada e valorizada como mulher. A SUA mulher!

SALVADOR: (esquiva) – Eu... Te valorizo!

PILAR: - Mas, não me ama. (T) Vou para o quarto dormir. Talvez o veja por lá (sai).

Clima pesado.

ÚRSULA: - Não quero uma história de amor mal resolvida para a minha vida. Por isso ficarei com o Gutemberg.

SALVADOR: (tentando) - É diferente!

ÚRSULA: (poda) – Não! Não é! Trata-se da mesma coisa. Não nasci par ser como a mamãe: vivendo à sombra de uma possibilidade.

SALVADOR: (desiste) – Não falo mais nada. Só torço para que seja feliz.

Úrsula encara o pai e sai e Salvador fica pensativo.

Corta para:

CENA 03. MATA. EXTERNA. NOITE Leopoldina limpa o suor. Está arfando. Faz o sinal da cruz.

LÉO: (sussurrando) – Que loucura! Será que foi uma boa ideia ter vindo aqui?

Encosta numa árvore.

(Cont’d) Já que estou aqui, vou até o final. Seja o que Deus quiser!

Corta para:

CENA 04.CASARÃO PIMENTA:VARANDA/SALA/QUARTO.INTERNA.NOITE Petrônio chega cambaleando. Encosta na porta.

PETRÔNIO: (triste) – Preciso de um motivo pra parar com isso! Essa bebedeira ainda me mata!

Fusão com:

SALA:

Epitácio anda de um lado para o outro. Leofá está lendo na cadeira de balanço visivelmente incomodado.

LEOFÁ: - Sempre desejamos ter um buraco no chão da sala e, você, nos fará esse favor com a sua andança.

EPITÁCIO: (ríspido) - Seria bom para lhe enterrar. Mas não posso fazer isso enquanto não me entregar o que pedi.

LEOFÁ: (sorri amarelo) - O dinheiro já está à caminho, se esse é o motivo de sua andança, pode sossegar.

EPITÁCIO: (entrega) – Não vou sossegar. Tenho certeza que ela foi rever o amor do passado.

Leofá caminha até ele.

LEOFÁ: (provoca) – Óbvio, cunhado! Aliás, ex. Toda mulher precisa de um homem de verdade. Cá entre nós, você não é, nem de longe, esse homem.

Clima de suspense. Epitácio o encara.

EPITÁCIO: (ofendido) – Cínico. Criminoso!

LEOFÁ: - Enfadonho. Apático. Sem sal. Chato! Não há mulher que se interessará por você. Só rameiras, e por dinheiro. Mesmo assim, capaz de lhe trocarem por outros bem sucedidos.

Petrônio entra e Epitácio não nota.

EPITÁCIO: (desabafa) - Pelo visto, sua irmã descobriu isso: o dinheiro. Era melhor ter se tornado uma dessas mulheres da vida a me iludir. Não sei onde estava com a cabeça de ter aceitado me casar com ela.

PETRÔNIO: - Minha mãe não é uma qualquer. Só quer ser feliz. Como eu quero e como você deve ser.

EPITÁCIO: (surpreso) – Petrônio! (desabafa) Mas, ainda é casada comigo. E, é aqui que deveria estar! Nem que fosse por respeito!

PETRÔNIO: - Ela não está feliz! Segue a tua vida e vai ser feliz também.

EPITÁCIO: (com nojo) - Está alterado de novo!

PETRÔNIO: - Sim. Eu sei que te enojo. Não precisa falar. Eu vejo em seus olhos. Aliás, eu vi e senti a sua rejeição a vida inteira. Ainda bem que acabou. Não precisa mais ficar preso à minha mãe.

LEOFÁ: (tenta esconder a satisfação) - Deixa para lá sobrinho. Isso é dor de corno! (envenena) Ele só quer ofender a tua mãe.

PETRÔNIO: (à Leofá) - Esse assunto não lhe diz respeito. (à Epitácio) Para de fingir que ainda são casados e dá o fora com dignidade enquanto pode.

Close: Leofá sorri ironicamente.

(Cont’d) (com carinho) Com licença, preciso me livrar desse cheiro horroroso de álcool (sai).

LEOFÁ: - Sem mulher, sem respeito, sem empatia. Quantos fracassos para um homem só!

EPITÁCIO: - Vai à merda!

Encara Leofá e sai.

Fusão com:

QUARTO:

Leofá entra batendo a porta. Petrônio se vira.

PETRÔNIO: - Agora não! Discurso não!

EPITÁCIO: - Um dia vai sentir remorso de como me tratou naquela sala. (lacrimejante) Não sabe o que é amar alguém. Mas, eu ainda amo a sua mãe.

Close: Petrônio chateado.

(Cont’d) Sabe o que é amar e esperar a vida toda da boca de outra pessoa um “eu te amo” sem ser pedido? Como uma única forma de realmente sentir-se amado? (T) Acho que não. E foi por isso que esperei a minha vida toda. Mas, não! Você estava lá. Com a cara do outro para lembrar que sempre existiu uma história, e eu? Tratei de cuidar de você como quem cuida do próprio amor, mesmo sendo fruto de uma lembrança que me impedia de ser feliz. E, ainda me impede! Só espero qeu um dia tenha mais sorte que eu de amar e se sentir amado.

Música instrumental. As lágrimas de Epitácio escorrem. Petrônio abraça Epitácio e encosta testa com testa.

PETRÔNIO: (emocionado) – Vai ser feliz. E, me desculpa por tudo. Mas, desejo de coração que possa encontrar a sua .

Funde com:

CENA 05. CASARÃO BIANCHINI/LATERAL. EXTERNA. NOITE Leopoldina se aproxima da casa de Salvador. Vai em direção da luz acesa pela janela lateral. A câmera focaliza pelas costas quando ela se posiciona de frente com a janela. Ele passa pela janela e ela joga uma pedrinha. Salvador abre a janela. O diálogo dos dois deve ser sorrateiro.

SALVADOR: (estranhando) – Leopoldina!

Olha sorrateiramente para dentro.

(Cont’d) O que faz aqui?

LÉO: (sorriso) – Tenho que lhe contar algo. Muito sério.

SALVADOR: (ressabiado) – Pode falar, mas tem que ser breve.

LÉO: (desfaz o sorriso) - Não. Aqui não. Pode ser em outra hora, no rio. Como da outra vez.

SALVADOR: (chateado) - Melhor não. Sabemos o que aconteceu da última vez. Somos casados. Isso pode machucar muita gente.

LÉO: (disfarça) – Desculpa aparecer assim. Só vim pelo assunto mesmo. Pode ser amanhã ou no mês que vem. (mente) Por mim tanto faz. Mas é algo que tenho a lhe dizer.

SALVADOR: (pensativo) – Encontre-me ao nascer do sol de quatorze dias.

LÉO: (decepcionada) – Quatorze dias?! (se afastando) Está certo. Quatorze dias.

Música tema. Leopoldina vira as costas para ele e sai lacrimejando. Close: Salvador triste fechando a janela.

Fusão com:

CENA 06. CAMPO (TRANSIÇÃO DE TEMPO). EXTERNA. DIA Mantém a música. Cena de transição. Imagens de cavalos correndo e brincando nas fazendas das famílias Pimenta e Bianchini. Lagoa com marrecos, patos e gansos vivendo em harmonia. A câmera busca o céu com aves voando.

Fusão com:

CENA 07. RIACHO. EXTERNA. DIA Mantém a música. Continua a cena: a câmera abaixa e busca as pedreiras. Detalhe: botas femininas andando nas pedras. Abre o plano e revela Leopoldina em passeio.

Close: Leopoldina saudosa.

SALVADOR: (in off) - Léo! Léo!

Salvador acena longe. Apaixonada, Leopoldina vai até ele.

LÉO: (romântica) - Não imagina o quanto foi penoso esperar por esses quatorze dias para lhe ver.

SALVADOR: (seco) – Vim para saber o que tinha de tão importante para falar.

Cessa a música. Close: Leopoldina chateada.

LÉO: - Eu não devia ter vindo. Foi um erro te procurar naquela noite. (T) Você tem razão, a nossa proximidade só machuca a todos.

Se vira para sair. Ele a segura pelo braço.

SALVADOR: (insiste) – Disse que tinha algo a me dizer. O que quer me contar Leopoldina?

LÉO: (tenta se soltar) – Esquece!

SALVADOR: - Não! Não me procuraria se não fosse sério.

LÉO: (nervosa) – Me solta!

SALVADOR: (provoca) – Não vai fugir. Nem vai ser como você quer. Basta, Leopoldina!

Música. Léo coloca o rosto bem perto do dele.

LÉO: (acuada) – Você quer saber. Então vou falar! Eu... Ainda te amo!

Eles se olham por um tempo e se beijam. Abre o plano e eles se abraçam demoradamente. Vários takes de beijo.

SALVADOR: (emocionado) – Isso é um sonho. Queria poder reviver tudo o que deixamos para trás.

LÉO: (sonhadora) – Então vamos fugir. Vamos viver esse amor! Me leve para onde for, dessa vez eu vou com você para onde quiser. Sou tua, meu amor, toda tua!

Salvador a acaricia pelos cabelos e ela beija a mão dele.

SALVADOR: (carinhoso) – Não é tão fácil quanto pensa. Eu construí uma vida enquanto esteve fora. Não posso chegar nessas pessoas e descarta-las como peças de um tabuleiro de xadrez.

LÉO: - Compreendo. Eu espero Salvador. Agora que sei que esse amor não morreu, terei forças para te esperar, dia após dias esperando e revivendo esse beijo.

SALVADOR: - Vamos deixar o tempo agir. Se a vida me ensinou alguma coisa é que o tempo resolve tudo.

LÉO: - Eu espero.

SALVADOR: - Sem forçar nada?

LÉO: - Prometo que estarei do seu lado, mas tenha-me como uma amiga ao menos. Longe de você não conseguirei viver.

SALVADOR: - Isso é arriscado. LÉO: - Mas, é do perigo que eu gosto! (sorri) O que sempre gostei.

Léo abre um sorriso e o beija como adolescente ousada.

(cont’d) Agora, você está livre. Volte para os braços dela. Porque eu já sei que sempre vou ser tua, no seu coração. E você será meu Salvador Bianchini.

Léo se levanta e sai. Close: Salvador em êxtase.

SALVADOR: (riso/apaixonado) – Ela é louca!

Corta:

CENA 08. COPA DO CASARÃO PIMENTA. INTERNA. DIA Leofá, Júlio e Gorete à mesa tomam café. Gutemberg chega carregado de tubos de projetos nas costas e se senta.

GUTEMBERG: - Bom dia!

LEOFÁ: - Para quê essa parafernália toda?

GUTEMBERG: - São projetos. Acabei ontem à noite e vou tentar vender ao prefeito.

Leofá bate a xícara com força na mesa.

GORETE: (intervindo) – Leofá, por favor!

LEOFÁ: - Cale-se!

GUTEMBERG: - Algum problema?

JÚLIO: (resmunga) - A vinda de você e sua família são um problema.

GUTEMBERG: (de ombros) - Por mim, nem estaria aqui. Isso é um capricho de minha mãe. Mas, logo me arrumo e saio daqui.

LEOFÁ: - Deixe de papo! Que projeto é esse?

GUTEMBERG: - Da estação de trem que querem erguer na cidade.

LEOFÁ: (irônico) – Será que sou o único que vê a insanidade desse projeto? Esse prefeito é um lunático.

GUTEMBERG: - Ninguém que busca o progresso é lunático. O custo benefício é...

LEOFÁ: (sobrepõe) – Bom! Muito bom! Já sei a opinião de todo mundo que quer essa merda na cidade. Sei até dos custos. Vocês estão contaminados dessa loucura.

GUTEMBERG: - Eu não acho loucura!

LEOFÁ: (impõe) - Você não vai apresentar esse projeto a Salvador!

GUTEMBERG: (enfrenta) - Vou sim. Esse é o meu trabalho.

LEOFÁ: - Gorete e Júlio, nos deixe à sós.

GORETE: - Não, Leofá, ele é seu sobrinho...

LEOFÁ: - Saia logo! Estou mandando!

JÚLIO: (puxa a mãe) – Ele sabe o que faz. Vamos logo. Mulher não tem que desrespeitar o marido.

Gorete olha para Júlio com negativa e sai. Ele vai atrás.

LEOFÁ: (pigarreia) – Vamos negociar. Quanto quer por esse projeto?

GUTEMBERG: - Nada! Esse projeto já tem dono.

LEOFÁ: - Não seja tolo! Mostre-se um Pimenta de verdade e que sabe ganhar dinheiro.

GUTEMBERG: - O dinheiro não compra tudo, tio. Um projeto engavetado não dá projeção. Não nasci para o anonimato. (com paixão) Quero a minha arte exposta! Arquitetura é uma arte e um bem-estar. Essa estação é uma assinatura importantíssima para minha carreira e para Tetembau. (T) Agora, se me der licença, vou entregar o projeto ao seu dono.

Gutemberg se levanta e sai. Leofá empurra as coisas da mesa no chão.

Corta para:

CENA 09. HOTEL/CASARÃO PIMENTA: ESCRITÓRIO. INTERNA. DIA Telefone sobre o balcão. Euriquinho se aproxima e atende.

EURICO: - Perdão; finalizava uma conta. Em que posso lhe ajudar.

Intercut conversa telefônica:

LEOFÁ: - Aquela reserva no banco. É hora de mexer com ela.

EURICO: (assustado) – Mas, é muito dinheiro!

LEOFÁ: - Faça bom uso dele. Eu não quero esse projeto de Salvador aprovado. O meu sobrinho saiu de casa com o projeto arquitetônico pronto. Ele deve apresentar na reunião da Câmara como o previsto. Não quero que esse projeto saia do papel. (sombrio) Já sabe o que tem que fazer.

EURICO: (preocupado) - Está certo. Farei o combinado!

Leofá desliga o telefone.

LEOFÁ: (para si mesmo) – Hoje começa a sua derrocada, Salvador!

Sorri doentiamente.

Corta para:

CENA 10. PORÃO DO CASARÃO PIMENTA. INTERNA. DIA Suméria está trocando de roupa. Júlio entra e a espia.

SUMÉRIA: (sem olhar) - Não se cansou de ver a velha nudez de sua ama.

JÚLIO: - Não.

Se aproxima dela.

(Cont’d) Não sou mais um menino como antes. Tenho sede de mulher; e o seu cheiro! Hum! Me deixa maluco, negra.

Pega o cabelo dela e cheira.

SUMÉRIA: (esquiva) – Não lhe dou confiança e essa intimidade, Júlio.

JÚLIO: (irônico) - Confiança?! Intimidade?! Desde quando prostituta tem dessas frescuras, Suméria.

SUMÉRIA: (ofendida) – Não sou prostituta!

JÚLIO: - Não foi o que soube na cidade. Sabe, cidade pequena, povo de língua grande! Nada fica escondido por muito tempo.

A abraça por trás e ela reluta.

(Cont’d) Se serviu a outros homens, pode me servir também.

Olhos lacrimejantes de Suméria.

SUMÉRIA: - Para mim, você é como um filho. Eu o amamentei e cuidei de você. Isso é doentio, Júlio. Me solta!

JÚLIO: - Não! Negra ordinária!

SUMÉRIA: (acuada) – Eu não vou passar por tudo isso de novo.

Empurra Júlio que bate a cabeça numa caixa e cai o cálice. Júlio com a mão na cabeça se abaixa e pega o cálice.

JÚLIO: (admirado) - Como uma negra velha, sem ter onde cair morta, como você pode, ter um artefato tão caro como esse guardado em seus pertences?

Suméria tira da mão dele.

SUMÉRIA: - Isso não é brinquedo para ficar na mão de um moleque como você!

JÚLIO (ameaça um tapa) – Negra imunda! Vou te mostrar quem é o moleque.

GORETE: (in off) – Júlio! Júlio!

JÚLIO: – Já vou, mãe. (à Suméria) Dessa vez você se safou. Mas, tem volta! Abra os olhos!

Júlio sai. Suméria cai na cama.

SUMÉRIA: – Esse pesadelo! Nunca termina.

Funde com:

CENA 11. FACHADA DO CASARÃO. EXTERNA. DIA Júlio aparecendo ao encontro de Gorete.

JÚLIO: - O que foi?

GORETE: - Precisamos conversar sobre a sua postura comigo.

JÚLIO: - Não temos nada para falar.

Júlio passa por ela e esbarra. Sobe as escadarias.

GORETE: - Eu sou sua mãe e exijo mais respeito!

JÚLIO: - É minha mãe, sim! (para e olha para ela) Admito a sua maternidade. Mas, isso não significa que eu te aceite como tal. Você é uma mulher fraca. Meu pai merecia ter se casado com uma mulher mais ativa.

GORETE: (explode) – Não aceito que fale assim comigo!

JÚLIO: - Então conviva com essa mágoa, porque nunca; nunca! Nunca vou aceitar em mim algo que venha de você!

Gorete segura ele pelo braço.

GORETE: - Eu devia, agora, dar todos os tapas que nunca lhe dei diante esses destratos. (olhos lacrimejantes) Mas, isso não é de meu caráter. A vida vai lhe dar tudo isso por mim. (T) Eu só queria ter respeito e uma família feliz. Queria que recebesse o meu amor e o meu carinho. Mas, você está tão contaminado quanto seu pai que é impossível enxergar o bem querer.

Júlio fraqueja por alguns segundos, mas retoma a dureza.

JÚLIO: - Bela tentativa, mãe! Quase me levou para o seu lado; porém, fracassados não fazem história. E eu quero imprimir a minha história nesse mundo.

Gorete o encara com tristeza. Júlio com severidade.

(Cont’d) Vou para o meu quarto; lá tenho mais privacidade. Com licença!

Corta para:

CENA 12. FACHADA DO HOTEL. EXTERNA. DIA Pâmela está na sacada com roupão. Gutemberg desce do carro e passa em frente ao Hotel com os tubos de projeto.

PÂMELA: - Veja só! Alguém da construção civil na cidade! Nunca imaginei que alguém dessa profissão pudesse escolher esse fim de mundo.

GUTEMBERG: (Sorri) – Não, não sou daqui. E, pelo visto você também não é!

PÂMELA: (desconversa) - É e não é. Isso é uma longa história. Prazer, Pâmela, engenheira.

GUTEMBERG: - Bom, eu sou Gutemberg e sou arquiteto, como pode notar pelos tubos.

PÂMELA: - Sabe, essa cidade é muito parada! Estou aqui há pouco mais de quinze dias e até agora não fiz nenhuma amizade. Seria bacana sair para conversar com alguém, só para variar um pouco e quebrar a monotonia; melhor ainda se for da mesma área de trabalho.

GUTEMBERG: (olha o relógio) – Interessante! Agora, agorinha, estou atrasado para uma reunião na prefeitura, mas se quiser ir na sessão da Câmara estarei lá e, depois, quem sabe damos uma volta. Quem sabe não me ajude num projeto?

PÂMELA: - Seria ótimo! Vejo-te por lá, então.

GUTEMBERG: (saindo) – Até mais tarde!

Trocam acenos e ele segue caminho.

PÂMELA: - Não perco essa sessão por nada!

Corta para:

CENA 13. BOTECO. INTERNA. DIA Meninas limpam o salão. Quitéria está sentada na janela observando o panorama.

NADIR: - É hoje a votação da estação. HAIDÊ: - Não vejo a hora de ver um trem passando por aqui. Trazer mais gente para essa cidade e nos levar para passear mais longe ainda!

JADE: - Meu sonho é ir à capital. Nunca fui. Quero ver aqueles prédios luminosos, gente com roupas bonitas e da última moda. (chateada) Aqui, parece que até a moda tem medo de vir.

KEILA: - Fazer o quê nesse fim de mundo? Passar raiva, só se for!

JADE: - Você é muito grosseira. Por isso tem poucos clientes.

KEILA: - Flor que nasce feia tem que se defender. Senão os homens se aproximam e arrancam nossas vidas. (T) Você não entende isso porque é bonita!

HAIDÊ: - Para com isso, Keila. Cada um tem a sua beleza e do seu jeito.

KEILA: - Menos você. Tá ficando velha e gorda.

HAIDÊ: - Nenhuma gordurinha, meu bem! Veja! (exibe e o corpo)

As meninas riem. Nadir ajeita umas cadeiras sobre a mesa.

NADIR: - O assunto em questão era a estação.

JADE: - Verdade! Queria ir acompanhar a votação. O Prefeito convocou a todos os interessados a acompanhar a votação na Câmara. Preciso ver como que roupa eu vou!

KEILA: - Pelada! Se ao menos não impressionar aqueles velhos rabugentos, pelo menos despertará a fúria das irmãs D’Ávila.

HAIDÊ: - Vou passar aquele batom novo que comprei pelo catálogo. Está novinho! A ocasião pede.

Nadir gesticula para as meninas apontando para Quitéria.

NADIR: - Melhor vocês irem descansar antes de ir. Não é bacana chegar com olheiras num lugar desses.

As meninas saem. Nadir se aproxima de Quitéria.

NADIR: - Está pensativa. É raro vermos você desconectada de tudo o que acontece aqui.

QUITÉRIA: (volta em si) – Onde está Manfred. Achei que tivesse ajudando vocês.

NADIR: - Está no quarto dele. Chateado para variar. Tá pra 15 dias que Petrônio não volta aqui.

QUITÉRIA: (como dó) – Pedi tanto para ele tomar cuidado e não se apaixonar.

NADIR: - Pare de se preocupar com ele. Ele já é um adulto. Se preocupe com você. (amiga) Seus olhos de tristeza não cessam, você não é mais ativa e nem alegre como sempre fora. Eu sei que é por causa dela.

QUITÉRIA: - Sim. Pâmela quer vir para cá, mas não acho esse ambiente um lugar adequado para minha filha.

NADIR: (com carinho) – Oh, amiga! Se ela quer, não há você quem vai impedir. Prostituta já nasce assim. Ela pode estar onde for que sempre será uma prostituta. Ela é diferente da gente. Quem faz o lugar é a gente. Não se preocupe. Confie no que o destino reserva a você e sua filha. O que importa é a proximidade de vocês.

QUITÉRIA: (cedendo) – Tem razão. Mas, está difícil entender isso. Mas, eu vou conseguir!

NADIR: (sorri) – Assim, que se fala. (muda o ritmo) Bem, temos que nos organizar para irmos à Câmara apoiar Salvador. Está na hora dessa cidade sentir uma reviravolta. Contamos com você?

QUITÉRIA: (se animando) - Não pergunte duas vezes. Vamos balançar Tetembau!

Close em Quitéria sorrindo amarelo. Corta para:

CENA 14. GABINETE. INTERNA. DIA Gutemberg e Salvador avaliam o projeto. Abre a cena com o projeto sobre a mesa.

SALVADOR: (irradiante) – Perfeito! Perfeito! Do jeitinho que sempre quis! (emociona-se).

GUTEMBERG: - Que bom que gostou! Fico feliz em poder ajudar essa cidade a desenvolver o progresso.

SALVADOR: - Você é excelente rapaz! Quanto lhe devo por isso?

GUTEMBERG: - Nada! Isso é um presente!

SALVADOR: - Deixe de bobeira, homem! É seu trabalho, tem que ganhar por isso!

GUTEMBERG: - A satisfação do senhor já é a minha pagamento. Essa estação é um cartão de visitas para meu trabalho!

SALVADOR: (admirado) – Você é empreendedor! Nunca imaginei que admitiria isso a um... (procura palavras) ...Pimenta.

GUTEMBERG: - Eu sou um Pimenta sim. Orgulho disso, Senhor Salvador; mas, é pra frente que se anda. (T) O que passou, passou!

SALVADOR: (emocionado) – Está certo! Posso apresentar esse projeto hoje na Câmara?

GUTEMBERG: - Sim; estarei lá para prestigiar e dar o meu apoio se preciso.

Gutemberg lhe estica a mão em cumprimento. Salvador a olha com desconfiança, mas cede.

Corta para:

CENA 15. FACHADA CASARÃO PIMENTA. EXTERNA. DIA Leofá sentado no carro. Júlio se aproxima e entra no carro.

JÚLIO: (estranha) - Está calmo demais, pai!

LEOFÁ: (na dele) – A causa está ganha.

JÚLIO: - Como pode ter certeza?

LEOFÁ: - Euriquinho tem meios convincentes junto aos demais.

JÚLIO: (sobressalto) – Deixou tudo nas mãos daquele... daquele interesseiro?!

LEOFÁ: - Eurico é presidente da Câmara. Ele nos representa.

JÚLIO: (tenta) - Ele não consegue agregar nem valor a ele mesmo!

LEOFÁ: (nos olhos) – E você agrega? Me diz sinceramente Júlio: o que tem de experiência política pra isso?

Júlio abaixa a cabeça.

(Cont’d) O idiota do Euriquinho pode não ser a melhor pessoa do mundo para isso, mas está lá. Seja como for ele chegou lá e já está bem à frente de qualquer outro idiota. Entendeu?

JÚLIO: (contrariado) – Sim!

LEOFÁ: (ríspido) - Agora, cale-se e dirija.

Música de suspense.

Corta para:

CENA 16. SALA DE REUNIÃO. INTERNA. DIA Todos os vereadores em suas cadeiras e Eurico anda de um lado para o outro discursando.

EURICO: (inflamado) – Esses progressistas querem acabar com a moral de Tetembau. Querem jogar na lama a moral do Tetembauense. Buscam o retrocesso. Re-tro-ces-so! E, ainda tem a coragem de se dizerem progressistas. Já cansei de criticar isso enquanto presidente dessa Câmara, e vocês sabem.

A câmera passeia pelo rosto dos vereadores.

(Cont’d) Imaginem? Uma estação ferroviária em plena década de 90! É um retrocesso! Estamos entrando na era das pavimentações asfálticas e um sonhador ainda quer colocar trilhos de trem em nossa cidadezinha. Seremos mais uma vez esculhambados enquanto classe política. Chacota nacional aos olhos de outras cidades. É isso o que querem?! Mas, dessa vez, veio um incentivo para garantir que votemos certo. Um incentivo que vai nos ensinar a ser honrados com nossos ideiais justos e conservadores.

Vai até a outra mesa e abre diversas valises de dinheiro.

(Cont’d) Tinha uma real necessidade disso?

Close: Eurico olhar ambicioso.

Corta para:

CENA 17. GABINETE. INTERNA. DIA Salvador ajeita a gravata. Úrsula e Pilar entram.

PILAR: - Só passamos para avisar que já estamos indo para a Câmara garantir os nossos lugares na primeira fileira.

ÚRSULA: - Pai. (o abraça) Eu sei que isso é muito importante para o senhor e lhe desejo sorte.

SALVADOR: (tenso) - Vai dar tudo certo! Tive uma ajuda especial hoje que vai nos auxiliar nessa batalha.

ÚRSULA: (curiosa) - Que ajuda?

SALVADOR: (desconversa) – Na hora certa você saberá.

PILAR: - Úrsula, nos dê licença. Quero conversar brevemente com seu pai.

Úrsula sai e fecha a porta.

SALVADOR: - Pode falar, Pilar.

PILAR: (meiga) - Eu sei que ocupa um cargo de muita pressão e de muita responsabilidade. Isso afeta a mim também. Não que eu não goste dessa caminhada ao seu lado, mas, eu sinto que nosso casamento está se esgotando. Tantas foram as coisas que disse e que lhe cobrei, que me sinto culpada. (respira fundo) Tudo o que lhe disse, gostaria que relevasse e procurasse esquecer. Fui uma tola! Só estava querendo mais atenção.

SALVADOR: - Eu sei...

Pilar coloca o dedo na boca dele com delicadeza.

PILAR: - Eu não acabei. (T) Desde aquela noite em que Filipa esteve em casa, eu compreendi que o amor não é algo que a gente prenda. Tem que ser nosso porque é verdadeiro. Saiba que eu aprendi esperar a minha hora e não vou cobrar mais nada. Mesmo me afastando um pouco para poder refletir sobre, saiba que lhe tenho imenso carinho e torço para que tudo o que você sonha dê certo. Não sei do futuro, mas sei que por agora estarei do seu lado enquanto mulher.

SALVADOR: (procurando palavras) – Não tenho o que dizer... (T) Obrigado. Você tem um coração maravilhoso e eu também lhe devoto muito carinho.

Salvador pega a mão de Pilar e a beija. Ela sorri para ele e sai. Música. Lembrança de Leopoldina e o beijo no riacho.

SALVADOR: (pensativo) - O que fazer com esse coração dividido?

Corta para:

CENA 18. PRAÇA DE TETEMBAU. EXTERNA. DIA Panorâmica da praça enchendo de gente. Os diálogos devem acontecer na praça em pontos diferentes.

ATRÁS DA IGREJA: Valdir, capelão José e Diácono João observam da porta da igreja.

JOÃO: (impressionado) - Há anos que não via a população tão eriçada por uma sessão na Câmara!

JOSÉ: - É o futuro da cidade que está em jogo. Se essa estação for construída, muita coisa será mudada.

VALDIR: (despeitado) - Queria que esse Eurico perdesse essa votação! Assim que pudesse eu colocaria esse homem para correr no primeiro vagão de trem que aqui passasse. IA dar paz para Dona Briane.

JOSÉ: (sacana) - A sua vontade também é a de muita gente! Pobre Briane!

JOÃO: (apontando) – Ih, olha lá!

Um comboio formado por Quitéria e suas prostitutas andam de braços dados pelas ruas sentido à Câmara.

(Cont’d) O negócio tá feio! Quando até puta se mete na política é porque o chumbo vem grosso!

JOSÉ: - Deixa de falar besteira, homem. Puta é uma pessoa como outra qualquer.

VALDIR: - Concordo. E, outra, elas tem que se manifestar, pois seriam as mais beneficiadas de todas com esse trem na cidade. Imagina a casa delas cheia de turistas!

JOÃO: - Só fala besteira, diacho! Que turismo tem nesse fim de mundo?

Os dois olham para José atravessado:

Funde com:

OUTRO LADO: Filipa e Dione passam pela praça.

FILIPA: - Essa cidade vai pegar fogo! Bando de babacas! Esse povo fica perdendo tempo de se meter na política. Essa gente não presta. A começar do seu pai.

DIONE: (decepcionada) – Deve ser! Ele não me deu resposta alguma sobre a minha herança. Já faz dias que estivemos lá e nada!

FILIPA: - E, nem vai dar! Conheço aquele traste! Fui casada com ele. Ele não presta! (com ódio) Ele não presta! Eurico tem razão de querer acabar com essa farra política dele. (com rancor) Como eu ficaria feliz de ver ele no chão com uma derrota hoje!

DIONE: - Nenhum político presta! Fica dando corda para esse Eurico. Esse é outro que vai te ferrar de verde e amarelo. Abra os olhos! (chateada) Principalmente com meu pai!

FILIPA: (ameaçadora) – Ele que tente uma gracinha contra você ou a mim. (enfática) Eu sou capaz de mata-lo!

Close: Dione assustada.

Funde com:

ATRÁS DA IGREJA: Valdir, João e José.

VALDIR: - Ah, lá! Lá vaia bruxa arrastando a pobre filha!

Câmera revela Filipa e Dione.

JOSÉ: - Pobre menina! Já era para estar namorando, mas aposto que essa mãe fica em cima.

JOÃO: - Não sei. Acho essa menina tão apática, sem propósito.

JOSÉ: - Mas, a mãe, não. Víbora! Essa mulher tem um olhar ruim. Tenho medo dessa daí.

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OUTRO LADO: As prostitutas estão passando com Manfred ao lado. De longe, no meio da multidão, Pâmela acena. Quitéria para surpresa.

MANFRED: (mandão) - Vamos mulher! Tua filha tá acenando. Devolva!

QUITÉRIA: - Melhor não ser vista conosco. As pessoas vão julgá-la.

NADIR: - Uma hora farão de qualquer jeito.

KEILA: - Quanto mais cedo melhor, Quitéria.

JADE: - Como ela é linda, madrinha!

HAIDÊ: (acena) – Ela vem vindo.

Quitéria tenta fugir e Manfred a segura. PÂMELA: (se aproximando) – Estava fugindo de mim. (chateada) Para que fazer isso.

QUITÉRIA: (perdida) – Não fique muito perto de nós. Você não é como a gente! As pessoas vão começar a falar de você e maldar a sua vida sem você ter feito nada errado.

PÂMELA: - Para com isso, mãe. Chateia-me com essa história. (T) Tanto tempo longe da senhora, o que mais quero agora é carinho.

QUITÉRIA: - Eu sou uma prostituta!

PÂMELA: - E eu, sua filha! Vamos seguir assim. Entendeu?

Pega no braço da mãe e trança ao seu. Quitéria fica apreensiva. As pessoas olham e Pâmela não se importa.

(Cont’d) Vamos à Câmara! Não quero atrasar!

Eles saem andando. Manfred debruça no ouvido de Nadir.

MANFRED: - Menina porreta! Gosto assim!

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ATRÁS DA IGREJA: Valdir, João e José.

JOSÉ: - Ouxe! Quem é aquela moça de mãos dadas com Dona Quitéria?

VALDIR: - Será menina nova da casa? Bem bonita, por sinal!

JOÃO: - Dizem as más línguas que é parente dela!

JOSÉ: - É puta!

JOÃO: - Olha os modos! Não levante calúnias!

JOSÉ: - E, não é? Parente de puta é puta também! Diz aí ‘Seu’ Valdir!

VALDIR: - Sei de nada! (pensativo) Ainda bem que somos homens, porque se fossem mulheres, a fofoca estaria correndo solta! Ainda mais se fossem as irmãs D’Ávila. JOÃO: (rindo) – Esse castigo está com o padre na sacristia!

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CENA 19. SACRISTIA. INTERNA. DIA Padre Paulo anda de um lado para o outro fugindo das três irmãs e elas o seguem na dinâmica da cena.

PADRE: - Não! Não e não! Já disse! Não vou à Câmara apoiar nada. A igreja é apartidária!

SOLIMAR: - Então o Senhor está apoiando a balburdia que está virando essa cidade!

PADRE: - De jeito algum, senhora!

SERENA: - Está se esquivando de lutar pelos bons costumes e tradições. A cada dia que passa, essa cidade está desestruturada. E o senhor não faz nada?

PADRE: - Eu sou um Padre, senhoras! Não um político.

SINIRA: - Mas a política também se aplica na igreja.

PADRE: - Dentro da própria igreja e não na política dos homens!

SOLIMAR: - A política dos homens precisa da voz de Deus.

SERENA: - E, o senhor é a voz de Deus em Tetembau.

SINIRA: - Tem que ajudar os tradicionalistas a salvar essa cidade.

PADRE: (explode) – Não vou! Chega! Ponham-se daqui para fora.

SOLIMAR: - Nos expulsando?

PADRE: - Sim! Me deixem em paz por um dia!

SERENA: - Deus é onipresente. Está em todos os lugares...

SINIRA: - E, ele está vendo isso.

As três fazem sinal da cruz juntas.

SOLIMAR: - Tenho medo do juízo final para o senhor. Um homem de Deus negando os princípios da própria igreja católica!

PADRE: - Meu saco encheu para as senhoras. Chega! (espantando) Fora! Fora daqui!

As três ficam boquiabertas.

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Cena 20.SALA DE REUNIÕES DA CÂMARA. INTERNA. DIA Abre com Euriquinho trancando dinheiro no cofre. Briane e Pablo estão juntos. Clima tenso.

EURICO: - Não quero que fiquem por aqui.

BRIANE: (estranha) - Porque não? Viemos para mostrar apoio a você. Seria importante isso demonstrado publicamente.

Eurico vai até a gaveta da mesa e tira uma arma na cintura.

EURICO: - Viu o inferno lá fora? Gente para todos os lados. A chance de dar uma briga aqui são enormes. Já pedi apoio à guarda da cidade.

BRIANE: - Está me deixando tensa.

EURICO: - Saia logo! Volte para casa e cuide do meu filho. Lá estarão seguros!

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CENA 21. FACHADA DA PREFEITURA. EXTERNA. DIA Salvador sai pela porta central. A cena é vista de cima. Muitas pessoas vão ao seu encontro. Estão inflamadas. Gritam o seu nome várias vezes felizes. Salvador sobe num carro.

SALVADOR: - Povo de Tetembau. (faz-se silêncio) Sinto-me feliz com a presença de todos e esse movimento de apoio à construção da nossa Estação de Trem. É impelido desse sentimento de vitória sobre os vereadores que querem nos derrubar e impedir o crescimento dessa cidade, que convido a todos a fazer a nossa caminhada junta até a Câmara Municipal e acompanhar a votação dos vereadores. Terão coragem de negar ao povo o que o povo deseja?

Ovação pública. Desce do carro e grita “Vamos! Vamos!” à frente do povo que vem atrás erguendo os braços e gritando “Progresso! Progresso!”. Vários takes.

Corta para:

CENA 22. CÂMARA MUNICIPAL. INTERNA. DIA Vereadores nas suas posições. Plateia repleta. Abre-se a porta e Salvador entra com uma multidão atrás.

Jogo de Closes: Euriquinho acuado. Leofá assustado.

Clima de suspense.

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