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~~-=------V ENCONTRO AN&AL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL--- ~- I DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS

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A QUEM DEVEMOS SERVIR: IMPRESSÔES SOBRE A IINOVELA DAS OITO:~

Yvonne Maggie Alves

-'( , .

- Trabalho Apresentado na Reunião do Grupo de Trabalho "Cultura Popular e Ideologia POlítica", Friburgo 21 a 23 de outubro de ----- 1981. A QUEM DEVEMOS SERVIR : IMPRESSÕES SOBRE A "NOVELA DAS OITO" *

~ difícil para quem há anos se dedica ao estudo de Rel! giões ditas "Afro-Brasileiras" pensar sobre um assunto tão p0.2- co "exótico" e tão coti.diano. Explico, portanto, através de que caminhos cheguei lá.

A estória começou em uma sala de aula do CUP (Centro Uni ficado Profissional) quando, pela primeira vez, estava lecionan do em uma faculdade particular. Sempre imaginara que a client~ la dessas faculdades fosse composta de pessoas de nível social mais alto do que o das faculdades públicas. Engano. Os prime! ros meses de aula revelaram que os estudantes eram,em sua maiQ ria, primeira geração de universitários de suas famílias, que nao eram mais ricas do que a de seus colegas em faculdades p§ blicas mas, talvez, de um setor nem especIfico de camada média que defini, poeticamente, como "pequena burguesia suburbana".

Filhos de donos de pequenos estabelecimentos, funcionários py blicos de escalões médios, tipo enfermeiras, delegados de poli cia, etc. Havia também alguns estudantes de "Zona Sul" (como se classificavam e eram classificados). Esses estudantes de

"Zona Sul" eram considerados pela maioria dos professores m~ lhores alunos, mais aplicados, etc. No entanto, espantava-me

* Devo agradecer. especialmente. aos estudantes de História da Cultura de 1978 do CUP e à turma de Antropologia Cultural da ECO, UFRJ. do primeiro semestre de 1981. pela participação neste trabalho. A Ouda Machado. por ter discutido comigo o assunto TV. Friso. porém. que as impressões aqui registradas são de minha inteira responsabilidade e peço desculpas se de algum modo interpretei 'mal as opiniões das pessoas citadas.

J 2

a distância cultural entre os estudantes de "Zona Norte" e os'

professores e alunos de "Zona Sul". Meus exemplos em sala de

aula eram incompreendidos, a linguagem que eu empregava pare-

cia não chegar a meus interlocutores. Como "boa" Antropóloga,

como me considerava, via nessa dificuldade uma diferença de c§.

digo cultural e não uma "incapacidade" para o aprendizado. QUê

ria entender que cultura era essa diante dos meus olhos e prQ

curava um meio de me comunicar com esses estudantes. Acho que

comecei a poder fazer isso no dia em que, ao mesmo tempo, de§

cobri a "Novela das Oito" (programa de TV com elevado IBOPE,

tipo folhetim, escrito por autores nacionais e transmitido pela

rede Globo para todo o país) .

Nesse dia havia recomendado a leitura do texto de Laura

Bohanan, "Miching Malecho, ou seja, a Feitiçaria!!l e como a a!!

tora referia-se ao Hamlet de Shakespeare, resolvi contar a hi§

tória, parafraseando a autora, para os "meus nativos". A sur

.presa foi rnaí.o r do que a de minha colega americana com os Ti v.

A turma ouviu atentamente meu relato emocionado sem que, no en

tanto, seus olhos brilhassem. Nenhuma pergunta foi feita, ne

nhum comentário. Fiquei deprimida e achei que a culpa devia ter

sido minha. Talvez não fosse boa contadora de estórias. Acho

que fiquei calada e aí alguém disse: "mas que estória boba I

morrem todos no final". Fiquei mais afli ta e ia despedir-me,

terminando a aula, quando uma moça falou, timidamente: " mas

que coisa, essa estória parece com o Astro!" A turma concordou

com a colega mas eu fiquei meio atônita e perguntei o que era

o "astro". Disseram, em uníssono, os estudantes: "a novela das " oito". (Nessa época eu era dessas intelectuais que desprezam a

1 Laura Bohanan, "Miching Malecho, ou seja, a feitiçaria", mimeo, tradução de Alba Zaluar Guimaraes. 3

TV e n~o possuía o aparelho por "ideologia".) Pedi, ent~o, ji me refazendo do fracasso corno "contadora de estórias", que me dissessem do que se tratava. Foi difícil no começo o relato dos estudantes, que n~o sabiam resumir, ou melhor, por onde começar o resumo; mas aos poucos a moça, que estava sendo minha tábua de salvação, conseguiu dizer: "ora, o filho de Salomão Hayala fala com o fantasma do pai dele que foi assassinado e a mae de le casa, em seguida, com o irm~o do falecido".

Comecei a vibrar com "minha 11 descoberta e a partir desse dia minhas aulas foram debates estimulantes centrados na novela e nas regras de parentesco de meus "nativos"~

Pedi a esses estudantes que fizessem urna descrição etnQ gráfica de um capítulo da novela e de como era assistido por suas famílias. Além disso, fizemos urna listagem dos comentários feitos sobre os personagens e urna discussão dos finais pos sI+ veis da novela.

Desde ent~o, venho acompanhando as novelas corno uma es- pectadora comum, ou quase. Sigo os capítulosGom certa regula- ridade e emociono-me de uma forma muito semelhante a de meus alunos.

Este ano, voltei aos estudantes, desta vez, da Escola de

Comunicação da UFRJ. Ao contrário dos primeiros, esses sao em sua maioria de "Zona Sul", de famílias de camadas médias I mas

já não mais primeira geraçao de universitários. Geralmente sao pessoas mais "politizadas" e encaram a novela com bastante re- serva.

Nessa turma, fizemos uma experiência de dois meses na qual cada estudante deveria, como tarefa principal, escrever um

diário do "ritual da novela", corno o denominei. Deveriam des-

crevér, etnograficamente, os modos de cada família assistir a I-

4

novela e se comportar diante dela. O resultado foi extremamen te rico, não só pela descrição das casas na "hora da novela" como pelos comentários feitos sobre enredo e personagens. Essa descrição mostrou-me que os dois grupos de estudantes tinham reações, comentários, expressões e modos de se comportar dian- te da novela muito semelhantes apesar de suas diferenças ideo- lógicas e sociais.

Minhas Lmpr es sóe s sobre a novela foram baseadas nessas

duas experiências com estudantes e em minhas próprias observa-

çoes. o ritual da novela, nesses dois grupos, difere em alguns

pontos. No entanto, dois aspectos fundamentais aparecem com mu! ta nitidez nas descrições feitas pelos estudantes. Em primeiro lugar, expressões de caráter geral a respe! to da novela refletem uma oposição que talvez marque o funciQ namento do ritual em dois tempos: "novela é coisa leve", 0pon do-se à expressao "novela é a hora sagrada em que a família se

reúne". "A novela é como a vida" opondo-se a "só representa s1 tuações irreais". Essas expressões revelam que a novela funciQ na no tempo das vidas de quem a assiste e em um tempo quase mi tico. Essas expressoes são ditas por todos e vêm acompanhadas de comentários sobre o caráter dos personagens. Estes são di§ cutidos a partir de seu comportamento e durante o ritual os a~

sistentes se limitam a tecer julgamentos sobre os mesmos. A§ . sim enquanto veem a novela, as pessoas dizem: "olha como Joana é piranha", "esse aí é um mau caráter", etc. Em segundo lugar, nos dois grupos, personagem e ator sao, geralmente, vistos e tratados como a mesma pessoa. Quando exi~ te necessidade de distingui-los, usa-se a expressão - "na vida real" . 5

Pensarei a prática de assistir a novela a partir desses

dois aspectos comuns. Utilizarei as descrições etnográficas de

uma noite de cada famí lia dos estudantes do CUP, os finais da

novela elaborados por este grupo de estudantes e os diários do

ritual da novela feitos pelos estudantes da ECO como material

base de análise. Alguns dados foram também extraídos de entre-

vistas feitas por um grupo de estudantes da ECO com atores da

novela e de entrevistas feitas por uma estudante,também da ECO,

sobre os possíveis finais da novela.

Não me referirei às discussões dos estudiosos de cultura

de massa nem à questão da novela e "merchandising". Não penso

a cultura de massa ou a TV, paranoicamente, como algo maquiav~

lico, arquitetado para a manipulação das massas. Apesar de s~

ber que essa questão é crucial, quis, propositalmente, fugir

dela para poder pensar como se vive essa produção cultural de

massa e levantar algumas questões sobre formas cotidianas, mas

nao menos ritualizadas, de um ethos cultural de camadas médias

urbanas.

Consanguinidade e Afinidade

Como disse acima, comecei a pensar a novela a partir da

aproximação feita pelos estudantes entre ela e a tragédia sha-

kespeareana. Fiquei de início assustada e, confesso, irritada

com o que me pareceu urna discussão moralista. Os estudantes se

limitavam a julgar o caráter dos personagens. O enredo nao era

tão importante nas discussões. Os estudantes quase não mencio-

.. navam a estória, mas apenas classificavam os personagens como maus, bons, chatos, maus caráteres, piranhas, etc. Quando eu

perguntava porque eram isso, respondiam dando exemplos de cenas

em que apareciam os personagens em questão dizendo ou fazendo algo, e comentavam: "tá vendo, está na cara que ela é uma pir~ nha". Como essa era a discussão básica, resolvi fazer uma 1is- tagem dos personagens com os julgamentos feitos sobre cada um.2

A partir dessa listagem descobrimos que os personagens eram classificados em três grupos: personagens com julgamentos POS! tivos, negativos e ambíguos. Por trás desses julgamentos mora- listas encontramos um critério de classificação extremamente recorrente, todos os qu~ eram conotados positivamente tinham exce len tes relações com seus consanguíneos, eram considerados bons pais, filhos, maes ou filhas, etc. Os que recebiam clas- sificação negativa tinham péssimas relações com seus consangu! neos. Os personagens ambíguos, embora tivessem boas relações de consanguinidade, agiam de forma a ameaçar a organização de al- guma estrutura familiar. Darei alguns exemplos, mas antes terei que resumir brevemente as novelas em questão para facilitar a compreensao.

O Astro - Mareio é filho de Salomão Hayala e Clô. Resol ve sair de casa para se juntar a 'um grupo de jovens francisca- nos e tocar seu instrumento predileto, a clarineta. Seu pai é assassinado e sua ;nãe casa-se em seguida com o tio de Mareio,

irmão do falecido. Mareio volta para casa e tenta desvendar o

cr í.me , tendo uma relação amorosa com Lilly, moça pobre e mal vista pela família Hayala, que é muito rica. Desse caso amoro- so nasce um filho. A família Hayala opõe-se a essa relação e

cria uma série d2 dificuldades que afastam o par amoroso. Mar-

eio casa-se então com Jose, de outra família rica e muito pró-

xima da família Hayala, a família Assunção.

Herculano, o Astro I é um vidente, astrólogo que aj uda

2 Ver lista anexa. 7 .. Marcio, e é considerado por ele como um pai: mas, ao mesmo tem-. po, ajuda Clô; a mãe, a separar o casal Marcio e Lilly. .•. Jose tem uma irmã, Amanda, que dirige a firma da família

Assunção e apaixona-se por Herculano, casando-se com ele. De-

pois do casamento Amanda abandona a firma e cede seu lugar a • Herculano, que consegue trapacear e quase leva a firma à falêg

cia. Amanda e Herculano separam-se. Jose morre de parto e Ma~

cio e Lilly casam-se. Durante um jantar, Clô, arrependida de

ter sido tão "terrível", cede seu lugar à cabeceira da mesa di

zendo a Lilly que ela seria, agora, a Senhora Hayala - Lilly

assume o lugar de Clô na família.

Herculano foge para um país da América Central e vira o

vidente do velho ditador, que já estava no poder há mais de 40

anos. (O personagem Herculano, segundo a autora, foi baseado na

figura de Lopes Rega.) Amanda corre a seu encontro, mas quando

vê a situação, volta e reassume a firma do pai.

Baila Comigo Um médico, Plinio, vê o nascimento de g~

meos em um hospital e lembra-se do último parto que fez, também

de gemeos:- Vitor e Quinzinho.

Quinzinho e Vitor não sabem quem sao seus verdadeiros

pais, embora acreditem que Plinio e Helena sejam os pais do pri

me~ro e Martha e Quim, os do segundo.

Martha, mulher muito rica, casa-se com Quim e,nao podeB

do ter ·filhos, adota um menino, que Quim diz que e órfão (Vi-

tor). Logo depois tem uma filha. Helena e Plinio casam-se e têm

também uma filha. Helena, Plinio, Quim e os telespectadores sª

bem da verdadeira estória, mas os outros personagens vao descQ

bri-Ia aos poucos.

J Vitor descobre que não é filho de Martha e Quim quando .. 8

este último fica doente e a família que morava em Portugal vol ta para o Brasil. Quinzinho namora Lúcia, filha de Caio e Silvia, que já sao separados há anos. Caio tem uma academia de dança e fôra sócio de Quim, tendo-lhe roubado grande parte dos bens. No Brasil Vitor começa a namorar uma professora de dan- ça, Joana. Há outro casal q~e tem um filho, Caê, e uma filha, Mira. Esta última é apaixonada por QUinzinho e uma revoltada. Seu Ps drasto, Otho, é um negro. Caê apaixona-se por Débora, filha de Martha e ouí.m,

Paula, uma mulher independentet casada com Mauro, resol

ve subir na vida e abandona seu marido indo trabalhar na firma de Quim. Mauro, louco de ciúmes, resolve matar Caio, que julga

ser amante da mulher. A morte de Caio deixa Quim aliviado. As-

sim poderia recuperar seus bens. Saulo liga-se a Dolores, que fica grávida, mas resolve abandoná-Ia para ficar com a filha de Plinio e Helena (Lia).

Ouim s'epara+s e de Martha e começa um romance com Silvia,

dona e herdeira dos bens de Caio. Lucia revolta-se com essa r~ lação pois desconfia de que Outm tenha planejado a morte de seu pai. Todos os personagens já sabem que Vitor e Quinzinho sao irmãos gêmeos, a não ser o próprio Quinzinho que até agora nao viu o irmão, apesar das incríveis tramas de relações que cercam os dois.

Essa novela ainda nao terminou, mas o padrão é bastante semelhante ao da anterior.

J Os personagens amados e que recebiam classificação POS! tiva na primeira novela eram Mareio e Lilly. Clô era odiada. 9

Os dois primeiros eram tidos como excelentes filhos e a segun-'

da, péssima mãe, já que se casara com o irmão do seu falecido

marido, sem pensar no filho. Amanda e Herculano, os personagens

ambíguos, eram bons filhos ou pais, mas por amor ou ambição t!

nham resolvido abando~á-los. Herculano era o personagem mais

estrangeiro, não só porque de outra cidade, mas por não ter Ia

ços de parentesco com nenhuma das famílias importantes até o

casamento com Amanda.

Na segunda nove la Quinzinho e Vitor são muito queridos

por serem bons filhos e irmãos, especialmente Vitor por não r~

velar a verdadeira estória a seu irmão, escondendo-se dele cada

vez que há possibilidade de um encontro.

Martha é péssima por não ser boa mãe e Helena criticada

por ter mentido aos filhos. Plinio é muito querido pois cria

Quinzinho "como se fosse seu filho".

Mira é odiada por ser uma filha e irmã revoltada e por

,tentar separar os casais com sua atitude de "piranha". Essa cª

racterística de Mira está se transformando.

Joana, a bailarina, é também vista negativamente pois

so pensa na sua carreira e não tem ninguém (nenhum parente).

Na primeira novela, os casais que se ligam ou separam

têm algumas características interessantes~ Jose e Marcio,casal

de' famílias muito próximas, se separam e Amanda e Herculano mu!

to distantes também se separam. Só dão certo os casamentos que

não desorganizam a família de origem de cada membro do novo cª

sal. O caso de Lilly e Marcio é esclarecedor. Marcio recupera

a família.desorganizada pela morte do pai e pelo casamento da

mãe com seu cunhado através do casamento com Lilly, moça que é

muito boa mãe, filha, irmã, etc., e que toma o lugar de sua s2

gra na estrutura da família Hayala. í.

10

Nesses casamentos, as esposas ou

sao sempre obedientes a seus maridos ou às suas famílias, e nos

casais que "dão certo", as mulheres aceitam o domínio de seus

maridos.

Na segunda novela, embora ainda não tenha havido um fi-

nal - que sempre significa casamentos felizes - vários casais

aparecem com essas mesmas características. Lúcia, por exemplo,

é excelente filha e mulher pois acata as decisões de seu namo-

rado apesar de todos a verem como pessoa mais preparada e se-

ria do que seu par. Helena era vista como boa pessoa até ser

revelado para o público que menti u para os filhos e é meio apa],

xonada por Quim, seu primeiro caso amoroso. O marido de Paula

e visto como "corno manso" por não conseguir "dobrar a mulher"

e de certa forma Plinio é visto também assim. Joana é pouco

querida porque não tem "ninguém" e só pensa em sua "carreira".

Nessas novelas, como em todas que já assisti, a estrut~

ra é a mesma. Os espectadores montam a estória a partir desses

julgamentos e desejam a morte ou "tragédias para os maus e a f~

licidade para os bons, ou seja, o casamento com a pessoa amada

aceito pelas famílias de origem.

Como nos mitos ou tragédias, as estórias se sucedem com

sofrimentos terríveis. Na novela, os comentários sobre os per-

sonagens se refer~m basicamente às regras de consanguinidade e

afinidade. Pode-se ser um bom filho e mau marido? Pode-se ser

uma filha ruim e boa esposa? O que é ser bom pai ou mãe? Exi§

te, a meu ver, uma aparente ambigüidade entre as regras de afá:

nidade e consanguinidade. As regras de afinidade são descritas

a partir de uma série de casamentos possíveis, porém so dão

certo os socialmente permitidos.

A consanguinidade é pensada de muitas formas com os 11 relacionamentos entre "siblings" e entre pais e filhos extrems mente complexos e diferenciados. Mas, uma das formas mais mar cantes é a questão crucial de se saber de onde nascemos. Sempre existe algum personagem que não conhece seu verdadeiro pai ou mae, que a e stória no· final reve Ia. Desde a primeira novela,

"0 Direito de Nascer", até " 11 , essa questão serve de caminho para se pensar a consanguinidade. No final da nov~

Ia, como do mito, a filiação é esclarecida, mas até lá disaxe-

-se a paternidade biológica e a paternidade ou maternidade so-

cial, sem que deixem de aparecer possíveis relações amorosas

entre irmãos que não sabem que são irmãos ou filhas e pais que

nao sabem que o são, etc. Quando a novela termina descobre-se que o personagem em questão é filho de um pai e uma mãe espec!

ficos e que pertence a esta ou aquela família. 3

o Ritual da Novela

"A hora sagrada em que a família se reúne"

Descreverei esse "ritual" a partir das. descrições fei-

tas pelos dois grupos de alunos de suas famílias.

Embora haja algumas diferenças entre os dois grupos,

principalmente no tipo de casa e disposição do aparelho de TV,

as semelhanças sãc impressionantes.

A novela é vista na grande maioria das famílias e pri!!

cipalmente por mulheres. Alguns homens a vêem e em 90% dos ca-

sos têm um lugar especialmente reservado, uma poltrona o.u a par

te mais confortável do sofá.

A maioria das casas descritas é ampla, sendo que a me-

3 E interessante que as famílias que são tratadas pelo sobrenome, os Haya- Ia. os Assunção, os Gama. at c , , são só as famílias ricas. As famílias pobres são referidas pelos prenomes do chefe - na casa do Oro Plinio e Dona Helena. por exemplo. 12

tade delas tem urna sala "de visitas" ou uma sala especial onde

fica a TV. Nas outras casas, a mesma sala onde as pessoas fa-

zem as refeições serve de sala para ver a TV. Em grande número

de casas a "novela funciona como um relógio", como disse um dos

membros do ritual. O jantar é servido na hora da novela, ou jag·

ta-se as pressas para não se perdê-Ia. Há em algumas casas uma

certa discussão entre os pais, que querem ver o Jornal Nacio-

nal e por isso pedem para retardar o jantar, e as maes que qu~

rem servir logo o jantar para poder assistir a novela. Como

disse acima, os lugares na sala são mais ou menos fixos na ho-

ra da novela. Quando os chefes das fami lias assistem, têm o me-

lhor lugar. As mães, geralmente, recostam-se no sofá.As filhas

ficam sentadas no chão, e quando os irmãos ou namorados estão

presentes, sentam-se em poltronas ou, algumas vezes, podem to-

mar o lugar do pai ausente.

Na maioria das casas há uma empregada doméstica que as-

'siste a novela no quarto ou na cozinha, ou à porta da sala, de

pe.

O ritual consiste de ver a novela e tecer comentários ou

julgamentos sobre os personagens, os quais, no entanto, devem

ser ditos durante os intervalos. As pessoas reclamam se há ba-

rulho na sala e mães ou avós, dedicadas durante o dia a seus

filhos e netos, exigem absoluto respeito durante o ritual, re-

preendendo ou mesmo expulsando os filhos e netos pequenos da

sala. Algumas vezes, as pessoas discordam do autor da novela e

dizem como deveria ter sido feita uma ou outra cena.

.. O ritual reflete quase como um espelho a estrutura da

novela como foi descrita a partir dos comentários feitos pelos

dois grupos. Há diários de estudantes clarissimos no que se r~

fere às discussões que se travam na familia em função dos prQ 13 tagonistas da TV. Por exemplo, em uma família onde a fiiha quer sair de casa para viver só, a mae comenta sobre a personagem

Joana, que é infeliz porque vive só, olhando para essa filha, podendo surgir daí uma discussão sobre sua própria família. Ou tro caso, quando um pai que bebe é encarado pela mulher no mQ mento em que Mauro aparece bêbado em cena. Assim como no vídeo, na sala onde e vista a novela há bons e maus personagens, que se identificam com os p~rsonagens da TV.

Atores e Personagens

Desde '0 meu primeiro contato com a novela e com o hábi- to de assisti-Ia reparava que os atores e personagens eram,mu! tas vezes, referidos como se fossem a mesma pessoa. Comecei a discutir com meus alunos da ECO essa questão e, nos diários, eles procuraram descrever como isso se dava. Descobrimos que os atores e personagens podiam sempre ser vistos como a mesma pessoa e que o caráter do ator era identificado com o de "seus" personagens. Assim, há uma linhagem de atores-personagens como

"Os Fragonard" ( e ) ou

("sempre bom") e Beth Faria ("sempre chata"). Além disso, sem- pre que se quer diferenciar ator de personagem pode-se dizer o nome do personagem tendo o cuidado de dizer em seguida "na vi- da real".

A expressão "trabalhar bem", é comum a todos os que as- sistem novela. Segundo a descrição dos diários (e pelo que pu- de verificar analisando a listagem dos comentários), são cons! derados bons atores os que são muito bons ou muito maus perso- nagens. Nunca se diz de um ator de segundo plano que ele trab~

lha bem. Assim, Tony Ramos pode trabalhar tão bem como Fernan- da Montenegro. 14

Numa entrevista feita por um grupo de estudantes da ECO 4.

com um ator que surgiu na TV e não é oriundo do teatro, este

refere-se a seu trabalho corno se fosse um transe. Diz o refe-

rido ator que ele "recebe" o personagem e que seu personagem

tem um pouco de sua p~rsonalidade, embora ele possa discordar

de algumas de suas características. Essa entrevista descreve o

trabalho do ator e a relação do ator com o personagem de ,forma

muito próxima às declarações de Mário, personagem do livro Gu~~

/ta d~ O/tixã., com referência à sua relação com suas entidades.

(Ver Velho, Yvonne, 1975,)

A TV, é claro, explora essa questão em revistas que co~

tam a vida dos atores relacionando-as com seus personagens. Em

uma dessas revistas vê-se a foto de e Lauro Coro-

na e uma manchete que di z: "Novo Romance - Beth Goulart casa-

-se com Lauro Corona". f.iaso casamento a que se refere a maté-

ria é o de Débora com Caê. Penso, no entanto, que a TV em si

,nao tem poderes para criar esse tipo de visão que, a meu ver,

está contido em um ethos cultural. Esse fato me faz lembrar as

discussões de Duvignaud sobre a Comédia deI Arte (Ver Duvignaud,

1972) •

Conclusões

Os comentários feitos sobre os personagens, as descri-

çoes do ritual da novela e seus finais possíveis revelam que o

que é discutido, fundamentalmente, é a questão do parentesco.

Tanto no vídeo como na casa onde existe o vídeo, o que se dis-

cute é - : fiaquem devemos servir?" Devemos servir a nossos

consanguíneos ou afins? A nossos pais ou maridos?

4 Vivianne Candiota, Valéria Macedo. Valéria Pinho, Ana Beatriz Carvalho, Denise S. de Castro. Teresa Lucia Banhara e Maria Clara Nunes. 15

Como foi descrito acima, embora possa haver pessoas que sejam maus filhos ou pais, etc., só são felizes aqueles que sao, ou se transformam em, bons filhos, pais ou irmãos. Ao la- do disso, embora possa haver mulheres que vivam sós, só ficam

felizes aquelas que se submetem ao casamento. Só são felizes,

certamente, aqueles que correspondem ao modelo de organizaçao da família de origem. Lilly e Lucia só são felizes porque, de

acordo com esse modelo," rendem obediência a seus maridos ou na morados e às suas famílias. Amanda, Paula, Joana devem ficar

sós e infelizes porque não se subjugam." As brigas entre casais

se dão, na ma.íor í a das vezes, quando uma dessas duas coisas não

se verifica.

A novela e os assistentes discutem um paradoxo ou uma

ambigüidade nas relações entre regras de casamento e regras de

consanguinidade. Por trás dessa questão do parentesco, ou junto

com ela, acredito que esteja a discussão do projeto individual

e da organização da família. Estou definindo projeto a partir

das discussões de Gilberto Velho 'em lndividuati~mo e Cuttu~a

(Ver Velho,Gi'lberto, 1981). Ou seja, a novela discute também a

questão da possibilidade de um projeto individual que se real!

ze sem a aprovaçao ou o referencial do grupo familiar (Ver aiO

da Velho,Gilberto, 1981). Essa possibilidade do projeto indiv!

dual existe, já que é pensado na novela a partir de alguns ca

sos (Mareio e os jovens franciscanos ou o casamento de Mareio

com alguém mal visto por sua família, etc.). No entanto, fra-

cassam os projetos que não corresponderam às expectativas das

famílias.

Penso que a questão da identidade de ator e personagem

está ligada a essa questão do projeto individual. Essa identi-

dade percebida por autores, atores e assistentes da novela pa- 16

rece marcar uma questão extremamente significativa. O fato de'

existir essa identificação estaria refletindo uma noção de e.u.

aparentemente dominante. Só poderia haver esse tipo de identi-

ficação em um ethos cultural onde predomina a noção do eu-per-

sona, e não a do eu individualizado (para essa discussão da ng

ção de eu, ver Mauss,M., Velho,G. e Velho,Y., 1975). ~ impre§

sionante o ator e o médium de um terreiro poderem se referir a

seu IItrabalho" da mesma maneira.

A questão da possibilidade do projeto individual sem o

referencial da família relaciona-se com a questão da noçao de

eu em nossa cultura. Em uma cultura onde predomina a noçao- de

eu pouco individualizado, é difícil dar certo um projeto indi-

vidualizado. Não estou com isso dizendo que essa noção de eu é

a única. ~ claro que sempre haverá iugar para se pensar um eu

individualizado, tanto assim que entre os modelos de comporta-

mento possíveIs na novela aparecem casos de projetos altamente

'individualizados.

Vendo a novela a partir desta discussão penso que se co

loca ainda a problemática da importância da família no meio ur

bano. O fato da·novela ter tanto IBOPE me parece estar direta-

mente ligado ao problema que discute e aos modos de discuti-lo.

Rio, agosto de 1981 • 1 7

Anexo 1

Listagem dos comentários feitos sobre os personagens (só

os mais importantes) de "O Astro" pelos estudantes do CUP.

Herculano 1- Aproveitador, usa a superstição - Astro - para

subir na vida.

Personagem 2- . Aproveitador. Sem vergonha. Cara

ambíguo de pau.

·3- Patife. Mentiroso. Mau caráter.

4- Idealista - para atingir um ideal e capaz de

tudo.

5- Pisado pela sociedade, quer dar a virada na

mesa.

6- Cínico.

7- Gosta do filho e da mae.

8- Muito pesado quando criança e quer dar tudo ao

.fí.Lho .

9- Une o amor a vingança.

10- O astro, centro das atenções, esmaga e domina,

ajuda. ~ anjo e demônio.

Amanda 1- Super independente. Diferente. Sabe o que quer

e na vida. Não é dominada por qualquer homem, real!

Personagem zou-se mais profissionalmente. Voltada para os iU

ambíguo teresses da firma, tipo mulher de negócios.

2- Insegura. Por causa do amor a Herculano foi ca

paz de voltar. Mulher social, de princIpios. Afê

mília tem que ser forte. Fraca. 18

Amanda 3- Requinte de futilidade. Acomodamento. Robô.

4- Bacana, legal. Sem caráter a partir do momento

que se ligou ao Herculano sabendo do que ele fez.

Mareio 1- Homem dividido entre sua devoção a são Franci§ , co e a empresa.

Personagem 2- Otimo filho e bom marido. Bom pai. positivo 3- Verdadeiro altruísmo.

4- Muito dominado-manobrado.

Clô 1- Leviana. Mentalidade jovem. Histérica.

2- Louca por conveniência.

Personagem 3- Velha que nao- se convenceu da idade. negativo 4- Não se convenceu que tem neto.

5- Deslumbrada, fútil.

6- Não tem personalidade.

7- péssima mae porque se casou com o cunhado sem

pensar no filho.

Lilly 1- Moça inocente.

2- Meiga. Boa. Boba. Idiota.

Personagem 3- Vítima do preconceito social. positivo 4- Orgulhosa.

5- Forte. Teimosa.

6- Caráter irrepreensível.

7- Muita personalidade.

8- Otima mãe. 19

Jose 1- g capaz de tudo pelo amor do marido.

2- Super apaixonada.

Personagem 3- Meio neurótica.

negativo 4- e capaz de deixar o filho de Marcia morrer ..

5- Imbecil .

..• 20

Anexo 2

Finais possíveis do Astro assim como descritos pelos estudantes do CUP.*

Final 1- Morrem Jose e Herculano. Lilly casa-se com Mareio.

Amanda fica com a empresa.

Clô fica maluca.

Final 2- Herculano, desmascarado pelo filho, destituído, perde

tudo. Volta para o interior e morre de desgosto.

Jose falece. Mareio volta com Lilly.

Clô se entrega ao neto e esquece o cunhado.

Amanda casa-se com o filho de Herculano que substi-

tui o pai nas empresas.

Final 3- Jose separa-se de Mareio.

Herculano é desmascarado.

Mareio passa a ser missionário.

Final 4- eis perde o marido - que é o assassino de Salomão

Hayala.

Herculano, desmascarado por Lilly , volta para sua

terra e recomeça.

Amanda acompanha seu amor Herculano para o interior,

pois sempre foi insegura e o será sempre.

* Nessa ~poca. as revistas e jornais de TV nao "davam" os finais das nove- las como hoje. 21

Anexo 3

Listagem dos comentários feitos aos personagens de "Baila

Comigo", pela estudan1!e Ana Beatriz Carvalho.

Saulo 1- Babaca, devia ficar mesmo é com a Lia.

2- Bonito.

3- Indeciso, subjugado pela mae.-

4- Um bígamo (está com a Lia e quer voltar pra Do-

lores) .

5- Devia ficar com a Dolores, por isso ele e chato.

6- Bom rapaz.

7- Hoje há poucos que nem ele. Por isso inverossí-

mil, pois é muito bom.

8- Um pastel, inseguro e dependente da mae.-

Quinzinho 1- Super simpático, alegre, extrovertido.

Gosto dele.

2- Legal.

3- Tem muito amor pra dar.

4- Legal (chocante).

5- ~ mais simpático que o Vitor.

6- Muito simpático e alegre.

7- Personagem padronizado.

8- Pessoa insegura. ~ otimista e está sempre numa

boa.

Vitor 1- Sisudo, sério e mais fechado que Quinzinho.

2- Muito fechado. 22

Vitor 3- Amargurado.

4- Monótono.

5- Legal, pois se fosse outro já tinha se encontrª

do com o Quinzinho.

6- Já é um cara mais sério.

7- Não existe, é austero demais para seus 27 anos.

8- Pessoa confusa, não divide seus problemas (fe-

chado) .

Joana 1- Metida a naturalista. g um pouco exagerada.

2- Orgulhosa.

3- Vulgar.

4- Muito galinha.

5- Muito bonita.

6- Corno ela pode morar num apart-hotel se é baila-

rina? g inverossímil. Quer dar golpe do baú.

7- Urna cabeçona, um barato.

Helena 1- Pessoa legal, mae dedicada, mas devia contar t~

do de uma vez.

2- Muito sofrida.

3- Pessoa sofrida .que ainda nao- sabe o que quer.

4- Chatinha.

5- Reagiu muito bem por nao ter falado.

6- Forte.

7- Não existe. g uma chata de galocha. g ambiciosa.

8- Quer controlar tudo, ajudar, mas às vezes atra-

palha. (Um barato.) 23 .. Dolores 1- Uma boboca. Enche a minha paciência. ~ introme.

tida.

2- Gruda no Saulo e nao- se manca (quer que leve um

fora de uma vez) .

3- Uma mulher forte e conformada.

4- Uma boba que não vai "à luta".

5- Tenho pena dela, ela sofre por causa do Saulo.

6- Ridícula. Não tem nada a ver o que ela faz.

7- Não existe. Mora junto com Saulo e sem ciúmes.

8- t; a vítima da novela. Sua pena de si mesma, dá-

-lhe força.

Mira 1- Chata e intrometida.

2- Chata e muito intrometida.

3- Carente.

4- Covarde (não quer admitir que perdeu Quinzinho).

5- Chata. Não deixa ningu~m em paz.

6- t; a mais autêntica dos personagens. ~ frustrada,

pois e sozinha, pobre e desempregada.

7- ~ revoltada çom o mundo. Por prazer, magoa as

pessoas.

caê 1- Um gatão, lindo, maravilhoso.

2- Personagem divertido.

3- Não se encontrou. Procura em D~bora um comple-

mento.

4- Lindo.

5- Acho uma boa ele ficar com a Débora.

6- Alegre.

7 - Representa o jovem da classe média. 24

Caê 8- ~ oportunista. Sabe o que quer e luta por isso.

(Mas tem escrúpulos.)

Quim 1- Um pai bacana, mas e muito ambicioso e às vezes

material.

2- Pessoa fraca, trocou o amor de H. pelo dinheiro

de M.

3- Legalzinho.

4- ~ ótimo, muito bom.

5- Vilão.

6~ ~ egoísta. Vive com a Marta sem gostar (por di-

nheiro) •

7- ~ inescrupuloso. Pra ele so o poder existe. (P~

rigoso. )

Plinio 1- Legal. Cara forte e compreensivo.

2- Bom, porque aceitou o Quinzinho como seu filho.

3- Sente muito amor por Helena, aceitou-a junto com

seu filho.

4- O maior barato.

5- O maior barato. Adoro, trabalha muito bem.

6- Vítima.

7- ~ uma figura interessante. Esse existe por aí.

8- Não gosta de enganar nem ser enganado. (Maravi-

lhoso. ) ,",'

Débora 1- ~ legal e simpática. Mas muito ingênua para os

dias de hoje.

2- Muito bobinha para ter 18 ànos (inocente demais).

3- Pessoa que está conhecendo a maturidade e o amor 25

Débora com caê.

4- Legalzinha, mas muito ingênua.

5- ~ ótima, deveria ficar com o Caê.

6- Simpática.

7- ~ uma ehata. Enjoada.

8- ~ uma menina minada. ~ indefesa. Tem uma certa

pureza.

Silvia 1- ~ uma pessoa lúcida, mas que transporta tudo pª

ra o teatro. (E: boa.)

2- Ela me lembra teatro.

3- Faz da vida uma peça de teatro, e por isso so-

fre ainda mais.

4- Maluca completa.

5- Uma boa amizade.

6- Aí o ator influi muito. A personalidade é cons-

truída pelo próprio autor (idem Plínio) .

7- t realista, mas frustrada no teatro. Sozinha.

~ Paula 1- Muito ambiciosa, mas e bacana com os outros.

2- Um pouco exagerada (galinha) .

3- Fútil.

4- Uma besta (igual a uma galinha) .

5- Chata. Só quer subir na vida. .. .• 6- Ela quer vencer na vida. 7- Nojenta. Ambiciosa, barata . .••. 8- Cínica, falsa, inescrupulosa, quer o poder.

Otho 1- ~ um cara sensacional e sensível. Muito humano.

2- Pessoa muito sensível. Sempr~ me transmite algo. 26

Otho 3- Marido que eu quero ter.

4- O maior barato. (Conserta bonecas.)

5- Gosto dele como personagem.

6- Bom sujeito.

7- Não existe. g um acomodado. Recebe dinheiro dos

filhos.

8- Vive no mundo dos sonhos. g boníssimo. Está fo-

ra da realidade.

Lia 1- Pessoa bacana.

2"- Ciumenta.

3- Não gosto dela.

4- g muito chata, detesto ela por ter se intrometi

do na vida do Saulo e Dolores.

5- Inteligente.

6- Nada a declarar.

7- Tem muita posição. g independente e segura. Luta

pelo que quer.

Caio 1- Muito ambicioso e possessivo. Não gosto dele.

2- Medíocre, trapaceiro.

3- Revoltado, apesar de ter poder, nao possui amor

por ninguém.

4- g um bêbado, chato, burro e imbecil.

5- Não presta, nao.

6- Vilão n9 2.

7- Um recalcado.

8- Violentíssimo. Um louco. Quer controlar todo mun

do. 27

Lúcia l~ Uma médica legal. Se preocupa com os outros e e

muito verdadeira.

2- Simpática. 3- Cultiva. um amor sincero e profundo por Quinzinho . 4- Legal (muito legal).

5- Ela tem que ficar com o Quinzinho.

6- Ela e a heroína da novela.

7- ~ legal.

8- Não acredito que exista. ~ boníssima. Ajuda a

todos.

Martha 1- ~ muito materialista, tem um amor possessivo p§

Ia filha.

2- Detesto essa mulher, muito egoísta.

3- Mulher poderosa. Magoa o marido, poda a filha.

4- Fingida e ridícula (superprotetora).

5- Egoísta.

6- Ela é a bruxa (má).

7- ~ mau-caráter e muito fria.

8- ~ uma neurótica, louca, histérica. Quer defen -

der o nome da família.

Letícia 1- Mulher normal. Transmite tristeza. ~ boa esposa

e mae.-

2- Mulher boa e generosa.

3- Mulher apaixonada por Otho. E o admira.

4- O maior barato.

5- Pacata.

6- Outra acomodada.

7- Apagadíssima na novela. 28

Mauro 1- Dominado pela mulher. ~ ciumento e apaixonado

por ela.

2- Muito enjoado.

3- Ama a esposa que o despreza, por isso bebe.

4- Bêbado regenerado.

S- ~ um babaca, muito bobo, não gosto dele.

6- Vítima da mulher.

7- ~ um pobre coitado. Sofre na mão da mulher.

Muito submisso.

8- ~ um masoquista, pois sua mulher não o ama. (I~

sistente.) 29

.•..

Anexo 4

Finais possiveis de "Baila Comigo"

Entrevistas feitas por. Mariza Ribeiro Barroso, estudante da ECO

• Mulher com 50 anos, Petrópolis.

Perguntei qual o final que ela daria para a novela. Ela

me perguntou: "final corno? Quem com quem?" Então ela começou:

"A Mira ficaria com o João Vitor, pois ele estã gostan-

do dela e ela o entende bastante. Ela é revoltada, mas não é

má (antes ela odiava a Mira). Lúcia com Saulo. A Helena deve

ficar com o Plínio mesmo. O Mauro, já que estã vivo, deve fi-

car com a Dolores, pois ela o compreende. O Quim? Ah! Eu mata-

va ele! Mas caso ele termine com alguém, que não seja com a

Lia, afinal ela é irmã dos filhos dele, ficaria muito estranho!

A Silvia .•• Eu tenho peno dela, ela é muito boba. E a Joana?

Vai ficar sozinha? Coitada! Tenho que arranjar um parceiro pa-

ra ela. Mas não tem mais homem nessa novela! Afinal, bem ..•até

que ela se realiza com a profissão. Caê e Débora, é claro! ~ o

casalzinho mais bacana da novela. João Vitor e Quinzinho têm

que se conhecer. Pelo visto é a Mira quem vai contar tudo. A

Marta tem que se conscientizar da errada criação que está dan-

do ã filha. Sõ tenho pena de matar o Quim por causa da Débora.

Ela gosta tanto do pai! Ih!!! Eu esqueci do Quinzinho, coitadi

nho~ Tirei a Lúcia e a Mira dele ... E agora?" (Então ela tentou

achar um par para ele; tentou a Joana, achou estranhoi tentou

a Bebel, realmente não dava, então ficou no ar •••) 30

• Mulher com 43 anos, dona-de-casa, Petrópolis.

Perguntei que final ela daria à novela. E a partir daí

ela saiu formando casais.

"Para mim, o Quinzinho deve ficar com a Lúcia. A Mira

com João Vitor. O Quim deve ficar sozinho, pois ele só quer o

dinheiro da Silvia. A Dolores deve ficar com o Saulo,que é seu

por direito. Joana, aquela horrorosa, tem que ficar sozinha rne~

mo. Helena com Plinio. Eu queria que o Caê ganhasse o prêmio,

mas como a Cidinha já disse, ele vai perder. Então, que termi-

ne com a Déb~ra. A mãe da Débora deve ir para o hospício. Sil-

via depois que passou a viver com Quim começou a ser uma bobo-

ca, ela era tão mais esperta. As mulheres quando gostam ficam

bobas mesmo ..."

• Mulher com 21 anos, universitária, Fac. de Administração.

"A LÚGia tinha que ficar com o QUinzinho. A Mira devia

acabar com o João Vitor. A Lúcia e a Mira devem provocar o en-

contro de João Vitor e QUinzinho. Estes deviam desprezar a He-

lena, principalmente o João Vitor, pois ela já está abusando

dos sentimentos dele. O Quinzinho não deve ficar chateado com

- '" o Plinio. Deve considerá-lo mais, pois ele o criou. Não quero

de jeito algum a Lúcia com o Saulo. Queria que o Quim perdesse

tudo e que a Silvia não lhe entregasse o testamento. Ele deve

ficar sozinho, ou com a Lia, para pisar ainda mais na Helena.

Paula com Gui lherme. Saulo com Dolores. Gostaria que a Joana

conseguisse ir para o exterior e que ela se revelasse mais. Ela • é muito fechada." 31

Bibliografia

Bohanan, Laura Mi~hing Maleeho ou seja a Feitiçaria, mimeo,

tradução de Alba Zaluar Guimarães.

Velho, Yvonne Maggie Alves - Gue~~a de O~ixa - Um e~tudo de

Ritual e Qon6lito, Zahar Ed. 1975

Velho, Gilberto - Individuali~mo e Cultu~a, Nota~ pa~a uma A~ t~opolog~a da SOQ~edade Contempo~ânea,Zahar

Ed. 1981

Mauss, MareeI SOQiolog~e et Anth~opolog~e, Paris,PUF 1950

Duvignaud, Jean - SOQ~olog~a do Comed~ante, Zahar Ed. 1972

I