Trabalho, Interessa Mais a Discussão Jornalística, Da Produção Do Conteúdo Até Sua Apropriação Pelo Público

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Trabalho, Interessa Mais a Discussão Jornalística, Da Produção Do Conteúdo Até Sua Apropriação Pelo Público Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 Tecnologias do imaginário como ferramentas para compreender as derrotas do Brasil nas Copas de 1950 e 20141 Lucas RIZZATTI2 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS Resumo Diante da repercussão da derrota do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo de 2014, surgiram diversas comparações do trauma recente em relação ao primeiro revés da seleção como anfitrião desse evento, em 1950. O objetivo é igualmente estabelecer uma comparação, mas sob ponto de vista jornalístico, acerca do possível impacto dos meios de comunicação de cada época na construção dos vilões das derrotas. Pretende-se apresentar a noção de tecnologias do imaginário para nortear as seguintes questões, entre outras: teriam os brasileiros absorvido da mesma maneira um fracasso esportivo com diferença de 64 anos uma vez que os meios de comunicação parecem ter recursos distintos de emissão e apropriação? O quanto isso pode afetar a cristalização do imaginário do culpado por uma derrota? Assim, busca-se uma reflexão preliminar sobre os meios e suas coberturas. Palavras-chave: tecnologias do imaginário; jornalismo esportivo; Copa do Mundo; vilão. Introdução Um dos maiores eventos esportivos do planeta, a Copa do Mundo vai muito além de suas implicações relativas ao futebol. Mexe com imaginário de uma nação, tem capacidade de eleger heróis e vilões e, por que não, pode sintetizar conceitos e tendências de uma determinada época. Não raro, lembranças ou personagens são evocados como exemplos ou sintetizadores de determinada Copa do Mundo e, por consequência, acabam se perpetuando e ultrapassando a fronteira de um campo de jogo. O que muitas vezes acaba ficando em segundo plano é o papel dos meios de comunicação nesse complexo processo. Parte-se aqui de dois eventos, as Copas de 1950 e 2014, de reminiscências dolorosas aos brasileiros, anfitriões dos torneios. Em ambas, a seleção nacional decepcionou o torcedor com derrotas traumatizantes. A escolha desse assunto para estudo surgiu exatamente do revés mais recente, que provocou, tanto no cotidiano das pessoas quanto na imprensa esportiva, comparações com o tropeço de 64 anos antes. Qual foi mais vergonhoso? Qual foi mais vexatório? Qual expôs mais os defeitos do país como uma nação? Aqui, neste trabalho, interessa mais a discussão jornalística, da produção do conteúdo até sua apropriação pelo público. Qual seria o papel dos meios de comunicação 1 Trabalho apresentado no GP Estudos Interdisciplinares do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do Intercom Nacional 2016. 2 Mestrando do Curso de Comunicação da PUCRS, email: [email protected]. 1 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 nesse emaranhado de referências a respeito das Copas de 1950 e 2014? Ao tentar trabalhar com o conteúdo jornalístico e, ao mesmo tempo, entendê-lo como algo a ser apropriado por quem o recebe, surge a importância da noção de imaginário e, depois, de tecnologias do imaginário. Da mesma forma, faz-se necessário citar a importância da sociologia compreensiva como uma espécie de moldura metodológica que permite ao estudo levar em conta fenômenos menos concretos, como o próprio imaginário. Assim, o imaginário que se tem de 1950 conserva relação direta com a cobertura dos veículos de comunicação daquela época? O mesmo vale para 2014? Seria possível outras formas de imaginário desses eventos se houvesse outros meios de comunicação? Essas perguntas não deverão ser respondidas a pleno nestas páginas, que têm como intenção, primeiramente, apresentar uma proposta de reflexão da cobertura das derrotas do Brasil nas Copas de 1950 e 2014 por meio da noção de tecnologias do imaginário. O segundo ponto reside na questão do vilão. O vilão, neste caso, não é um fim em si mesmo. Trata-se muito mais de um meio ou ferramenta tangível para trazer à tona ou acentuar os contornos das discussões que permeiam a erupção do imaginário pela mídia. Tecnologias do imaginário Antes das considerações mais específicas a respeito das tecnologias do imaginário, torna-se importante a contextualização do imaginário nos estudos acadêmicos. A sociologia compreensiva surge muito pela insatisfação de teóricos com o caminhar da sociologia já estabelecida. O sociólogo francês Michel Maffesoli (2010) se debruça sobre as relações em uma sociedade pós-moderna, na qual se quer viver o presente em vez de se apoiar em uma vida de sacrifícios a fim de obter algum privilégio futuro, algo típico das narrativas dominantes da modernidade, calcadas no racionalismo, no progresso e na autonomia. Segundo o autor, o imaginário vai além do indivíduo e se torna algo coletivo, numa espécie de superação da cultura. Ele se baseia em um de seus mestres, Gilbert Durand, para trabalhar essa ideia. Assim como Durand, reforça, sempre que possível, o quanto o caráter etéreo e lúdico do imaginário vem sendo alijado do pensamento científico e propõe a sua inclusão por meio da sociologia compreensiva. Em vez de buscar a luz da sabedoria, persegue a clareza do cotidiano. Isso porque o conhecimento primário e seminal não está na academia ou nos livros de renomados escritores e pesquisadores. O conhecimento, segundo ele, parte da sociedade ou da “socialidade”, que é a alma da sociedade, o conhecimento que brota das conversas de bar, das relações de trabalho, em suma, do cotidiano das pessoas. O pensamento intuitivo pode 2 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 ser tão útil quanto uma fórmula. Para o autor, outras noções, como afeto e paixão, também podem servir de ferramentas metodológicas. Em suma, busca-se o equilíbrio entre a tão decantada razão com o que o instinto, a emoção e a consciência podem oferecer. Outro grande desafio dessa proposta de Maffesoli é como entrar em contato com os fenômenos do cotidiano sem cair na divagação vazia ou novamente apelar para esquemas reducionistas. O autor prevê a descrição desses casos cotidianos dentro da ideia do formismo, em vez de criação de leis. Maffesoli quer mais o “como se” do que os “porquês”. O que nos leva à analogia. Para se entender o presente, portanto, faz-se necessário voltar ao passado e fazer comparações. E, acima de tudo, entender que a inclusão do imaginário é uma alternativa irreversível. Mas como definir o imaginário? Parte-se, primeiramente, de uma distinção sobre a imagem, pois não há relação direta com o conceito corriqueiro, da imagem iconográfica. A imagem a que Durand (1998) se refere é no sentido amplo, um modo de a consciência apresentar ou representar objetos que não se apresentam diretamente à sensibilidade. Essa imagem simbólica também pode ser vista em textos, não apenas em vídeos ou fotografias. O imaginário pode ser entendido como um produtor de um conjunto de imagens, oriundo dos símbolos, que brotam da equação entre o contexto histórico e as pulsações internas de cada um. É a junção dessas duas forças que impulsionam o imaginário no seu processo criador. O imaginário agrega, serve de depositório de imagens, sensações, experiências. É ele o responsável por formatar o que foi vivido no que podemos chamar de mundo real. Segundo Silva (2012), o imaginário não é o real, mas, sim, uma maneira de representá-lo, transformando-o simbolicamente. Você, pois, não precisa necessariamente ter vivido algo para alimentar um imaginário sobre esse fato. A representação, assim, torna-se superior à própria noção de experiência. O imaginário precisa de uma dinâmica pela qual possa se locomover e ganhar vida. Durand usa a metáfora fluvial da bacia semântica para explicar o local para onde se dirigem os resultados da fusão do contexto histórico e das pulsações internas. Para Durand (1998), o imaginário de uma época sempre surge desse “escoamento”, ou seja, do resíduo primeiramente marginal de um imaginário pouco aproveitado pela época anterior. Tudo desemboca nos grandes oceanos, que são as culturas. Mas como o imaginário consegue chegar antes ao rio? Como ele tem impacto em larga escala? Neste momento, surge a importância das tecnologias do imaginário e sua capacidade de viralizar signos. A expressão tecnologias do imaginário foi cunhada e complexificada pelo professor Juremir Machado da Silva, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). 3 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 “As tecnologias do imaginário são, portanto, dispositivos (…) de produção de mitos, de visões de mundo e de estilos de vida. Mas não são imposições (…) Trabalham pela povoação do universo mental como sendo um território de sensações fundamentais” (SILVA, 2012, p. 22). O jornalismo é um exemplo. Mas o jornalismo não deveria apenas informar? Silva (2012) coloca as técnicas sedutoras das tecnologias do imaginário como uma espécie de demanda ou produto da sociedade em que vivemos, a sociedade do espetáculo. Nela, “tudo é mediado por tecnologias de contato, por instrumentos de aproximação massiva” (2012, p. 22). Para o autor, a informação pela informação se encontra na mitologia do jornalismo. Na verdade, busca-se mais do que isso. As tecnologias do imaginário “trabalham pela povoação do universo mental como sendo um território de sensações fundamentais” (2012, p. 22). Silva argumenta ainda que essas aproximações e caricaturas conseguem dizer muito sobre o que fora vivido por determinados grupos “na esteira das tecnologias dominantes em cada época” (SILVA, 2012, p. 78). Breve contexto tecnológico de 1950 e 2014 Após a exposição de noções fundamentais, retorna-se às Copas do Mundo para resgatar exatamente o contexto tecnológico, e também midiático, que circundou a cobertura do jornalismo da época.
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