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População da Península de Setúbal: o passado, o presente e o futuro

Mestre José Manuel Gameiro Rebelo Santos* Escola Superior de Ciências Empresariais Campus do IPS, Estefanilha, 2914-503 Setúbal Telefone: 265709406/265709300/965600372 Fax: 265709377 E-mail: [email protected]

Resumo A Península de Setúbal constitui uma das regiões do País em que a pressão demográfica mais se tem feito sentir. Interessa perceber porquê e como. Importa ainda prospectivar o futuro próximo, a nível populacional.

O objectivo deste estudo é analisar a evolução demográfica da Península nos últimos 40 anos e ensaiar dois cenários contrastados dessa evolução até ao ano 2011. Num dos cenários o pressuposto é não existirem alterações significativas em termos de taxa de natalidade, de mortalidade e movimentos migratórios. No outro admite-se a hipótese de correcção da taxa de natalidade. Nesse sentido impõe-se antes de mais analisar o crescimento verificado nas últimas décadas (desde 1970) e identificar os factores determinantes desse crescimento.

Num segundo ponto há que verificar se os factores que determinaram esse crescimento se mantêm inalteráveis ou se sofreram alguma variação e, sobretudo, qual a tendência de variação futura.

Por fim, com recurso a técnicas prospectivas, construir dois cenários em termos de evolução populacional até ao 2011.

*Professor Adjunto do Departamento de Comportamento Organizacional e Gestão de Recursos Humanos, da Escola Superior de Ciências Empresariais do Instituto Politécnico de Setúbal, Coordenador do Curso de Licenciatura em Gestão de Recursos Humanos, Doutorando em Demografia e Recursos Humanos no Departamento de Sociologia da Universidade de Évora Introdução

A evolução demográfica duma região, permite identificar um conjunto de factores explicativos da própria dinâmica dessa região, numa perspectiva que não se esgota na demografia e que inclui o social e o económico. Se essa análise não se limitar ao passado e ao presente mas pretender ainda cenarizar o futuro, constituirá um elemento de grande utilidade para planear. Uma primeira questão surge desde logo: o presente surge como consequência do passado implicando conformismo ou a razão de ser do presente é o futuro? Ou será ambas as coisas? Neste caso pode-se imaginar como será o futuro e como gostaríamos que fosse, agindo em conformidade. Nesse sentido é necessário construir cenários a partir de dados do passado, mas admitindo a existência de novas variáveis. É o que vamos procurar fazer.

O tema da presente comunicação é: População da Península de Setúbal: o passado, o presente e o futuro. Como objectivo geral propomo-nos analisar a evolução demográfica na Península de Setúbal desde 1970, procurando ainda prospectivar essa evolução até ao ano 2011. Os objectivos específicos são comparar a realidade demográfica da Península de Setúbal (PS) com a da Região de Lisboa e Vale do Tejo (RLVT) e a de , através duma análise dos componentes da dinâmica populacional: o crescimento natural (a natalidade e a mortalidade) e o crescimento migratório.

A estrutura que apresentamos é constituída por três pontos: começamos por analisar a evolução demográfica desde 1970 a 2001; num segundo ponto procuramos identificar quais as causas do crescimento verificado; finalmente, com recurso a metodologias prospectivas efectua-se uma projecção da evolução populacional de 2002 a 2011.

A metodologia utilizada na realização deste estudo incide fundamentalmente na análise estatística e documental e na pesquisa bibliográfica. No último ponto e em relação às projecções recorreu-se ainda a métodos estatísticos, nomeadamente à regressão. A realização do presente estudo não tem em conta o DL nº 244/2002 de 5 de Novembro que alterou a delimitação das NUTS, por razões de natureza operacional. 1. Movimento da população de 1970 aos nossos dias - Portugal, Região de Lisboa e Vale do Tejo e Península de Setúbal

A análise da evolução demográfica dum país ou duma região assume grande importância por duas ordens de razões:

• em primeiro lugar, fornece informação que pode contribuir para identificar o nível de desenvolvimento humano e a inerente qualidade de vida das populações residentes; nesse sentido não basta verificar se houve ou não crescimento mas é necessário efectuar uma análise mais fina por componentes que indique se o eventual crescimento se deve ao aumento de nascimentos, à diminuição dos óbitos e maior esperança de vida ou a um saldo migratório positivo;

• em segundo lugar permite verificar até que ponto as infra-estruturas existentes (habitações, serviços de saúde, escolas e transportes e outros serviços) estão ajustadas às necessidades da população residente; possibilita também, quando se trate duma análise prospectiva, planear a construção de infra-estruturas que assegurem a satisfação das necessidades básicas dos residentes futuros.

1.1. Evolução demográfica

Neste estudo vamos começar por comparar a evolução demográfica em Portugal, na Região de Lisboa e Vale do Tejo (RLVT) e na Península de Setúbal (PS) desde os censos de 1970 até aos de 2001.

Quadro 1 – Evolução da População Residente Ano Portugal – hm Região de Lisboa e P. Setúbal – hm Vale do Tejo – hm 1970 8.611.110 2.532.395 402.940 1981 9.883.940 3.275.650 588 220 1991 9.960.534 3 350 034 653 896 2001 10.356.117 3.468.901 714.589 Fonte: INE, Censos de 1970, 1981, 1991 e 2001 (quadro da responsabilidade do autor)

Nestes 31 anos a população residente aumentou em Portugal 20,26%, na Região de Lisboa e Vale do Tejo 37,35% e na Península de Setúbal 78,4%.

Quadro 2 – Variação da População Residente Período Portugal – hm Região de Lisboa e P. Setúbal – hm Vale do Tejo – hm 1970-1981 1.272.830 743.255 185.280 1981-1991 76.594 74.384 65.676 1991-2001 395.583 118.867 60.693 Total (1970-2001) 1.724.449 945.967 315.905 Fonte: INE, Censos de 1970, 1981, 1991 e 2001 (quadro da responsabilidade do autor)

Em termos percentuais verifica-se grande heterogeneidade quer em termos de variação nos vários períodos, quer nas unidades territoriais: Portugal revela um acréscimo populacional de 14,78% no 1º período, 0,77% no 2º e 3,97% no último; a RLVT no 1º período regista um crescimento de 29,35%, no 2º de 2,27%.e no último de 3,55%; na PS de 1970 a 1981 o crescimento é de 45,98%, entre 1981 e 1991 de 11,17% e entre 1991 e 2001 de 9,28%.

Gráfico 1 - Acréscimo percentual da População Residente

48 45 42 39 36 33 30 27 24 21 18 15 12 9 6 3 0 1970-1981 1981-1991 1991-2001

Portugal RLVT PS

Fonte: INE, Censos de 1970, 1981, 1991 e 2001 (gráfico da responsabilidade do autor)

Pode-se verificar que em qualquer das unidades territoriais se verificou um acentuado crescimento entre 1970 e 1981, com particular destaque para a Península de Setúbal. Este crescimento pode ser explicado em parte com a vinda dos retornados das ex-colónias e também com o regresso de muitos emigrantes. No período 1981-1991, assiste-se em todas as unidades territoriais a uma diminuição significativa desse crescimento. No último período em análise, verifica-se de novo uma tendência de crescimento mas mais moderada.

A nível de população residente nos nove concelhos da Península de Setúbal, constata-se uma grande heterogeneidade com três concelhos a registarem desde 1991 mais de 100.000 habitantes (, e Setúbal) e um acentuadamente mais pequeno ().

Quadro 3 – Evolução da População Residente nos Concelhos da Península de Setúbal Concelho / Ano 1981 1991 2001 Alcochete 11.280 10.373 13.208 Almada 148.530 154.928 161.054 Barreiro 88.650 86.866 78.555 Moita 53.620 66.464 67.485 Montijo 36.950 36.752 39.324 37.020 44.786 53.967 Seixal 89.990 119.968 152.489 23.270 27.863 38.296 Setúbal 98.910 105.896 114.467 Fonte: INE, Censos de 1981, 1991 e 2001 (quadro da responsabilidade do autor)

Quanto à evolução demográfica é de destacar entre 1981 e 1991 o decréscimo populacional verificado em Alcochete, Barreiro e Montijo (-8%, -2% e –0,5% respectivamente) contrastando com os acréscimos verificados no Seixal, na Moita, em Palmela e Sesimbra (33,3%, 24%, 21% e 19,7% respectivamente). Entre 1991 e 2001 apenas se regista decrescimento no concelho do Barreiro, acentuando-se a tendência verificada anteriormente (-9,6%); no entanto assiste-se a uma significativa desaceleração na Moita que passa de 24% para 1,5%; os crescimentos mais significativos registaram-se em Sesimbra, Alcochete, Seixal e Palmela (37,4%, 27,3%, 27,1%, 20,5% respectivamente).

Quadro 4 – Variação da População Residente nos Concelhos da Península de Setúbal Período/ Concelho Alcochete Almada Barreiro Moita Montijo Palmela Seixal Sesimbra Setúbal 1981- -907 6.398 -1.784 12.844 -198 7.766 29.978 4.593 6.986 1991 1991- 2.835 6.126 -8.311 1.021 2.572 9.181 32.521 10.433 8.571 2001 Fonte: INE, Censos de 1981, 1991 e 2001 (quadro da responsabilidade do autor) No sentido duma melhor compreensão da dinâmica populacional inerente, optou-se por uma breve caracterização em termos de relação de masculinidade e estrutura etária, para de seguida efectuar uma análise de componentes ou seja dos factores que influenciam essa dinâmica, nomeadamente os saldos migratórios, a taxa bruta de natalidade e a taxa bruta de mortalidade.

1.1.1 – Relação de Masculinidade

A relação de masculinidade compara o número de efectivos do sexo masculino e do sexo feminino (Nazareth, 1996).

Em Portugal verificou-se entre 1991 e 2001 um aumento da proporção entre homens e mulheres, passando de 930,1 homens por cada mil mulheres, para 933,6; inversamente tanto na RLVT como na Península de Setúbal verificou-se um decréscimo nesta relação, neste último caso bastante acentuado. Não obstante, esta região continua com valores significativamente mais elevados que Portugal e sobretudo que a Região de Lisboa e Vale do Tejo.

Quadro 5 – Evolução da relação de masculinidade Portugal Região Lisboa e Vale do Tejo Península de Setúbal 1981 930,1 930,1 969,7 1991 930,6 924,5 954,7 2001 933,6 925,9 950,6 Fonte: INE, Censos de 1981, 1991 e 2001 (quadro da responsabilidade do autor)

1.1.2 Estrutura etária da população

A análise da população em termos de estrutura etária, ou seja por classes de idades, constitui um contributo precioso para uma melhor percepção da natalidade e da mortalidade, uma vez que qualquer destes indicadores varia em função desta estrutura. Tendencialmente a taxa de mortalidade aumenta e a de natalidade diminui numa população estruturalmente muito envelhecida. Em termos de análise da população portuguesa por grandes grupos etários, verifica-se um decréscimo significativo a nível dos jovens que passam de 29% da população em 1970 para apenas 16% em 2001; A nível de idosos verifica-se o inverso, passando de 10% da população em 1970, para 16% em 2001.

Quadro 6 – Evolução da Estrutura etária em Portugal Portugal Estrutura etária 1970 1981 1991 2001 0-14 29 26 20 16 15-64 62 63 66 68 65 e mais 10 11 14 16 Fonte: INE, Carrilho 1993 e Censos de 1981, 1991 e 2001 (quadro da responsabilidade do autor)

Analisando os quadros relativos à Região de Lisboa e Vale do Tejo e Península de Setúbal confirma-se o acentuado decréscimo a nível de jovens e um aumento a nível de população idosa.

A Região de Lisboa e Vale do Tejo apresentava em 2001 uma percentagem de jovens ainda menor que a verificada em Portugal (15%) e uma percentagem de idosos similar à portuguesa.

Quadro 7 – Evolução da Estrutura etária na Região de Lisboa e Vale do Tejo

RLVT Estrutura etária 1991 2001 0-14 18 15 15-64 69 69 65 e mais 13 16 Fonte: INE, Censos de 1991 e 2001 (quadro da responsabilidade do autor)

No caso da Península de Setúbal a percentagem de jovens na estrutura populacional é próxima da relativa à Região de Lisboa e Vale do Tejo (15%) mas, em termos de população idosa, o valor percentual situa-se aproximadamente dois pontos abaixo quer de Portugal quer da Região de Lisboa e Vale do Tejo, o que assume especial significado num país que em 2001 registava a existência de 102 idosos por cada 100 jovens (Carrilho, 2002). Gostaríamos ainda de realçar que o envelhecimento populacional acentuou-se em todo o país na última década (entre 1991 e 2001), fazendo-se sentir mais nas sub-regiões mais jovens (Carrilho, 2002) em que se incluem alguns concelhos da Península de Setúbal como é o caso do Seixal.

Quadro 8 – Evolução da Estrutura etária na Península de Setúbal P. Setúbal Estrutura etária 1981 1991 2001 0-14 25 19 15 15-64 67 70 70 65 e mais 9 11 14 Fonte: INE, Censos de 1981, 1991 e 2001 (quadro da responsabilidade do autor)

1.2 – Crescimento Natural

O saldo natural resulta da diferença entre o número de nascimentos e o número de óbitos registados num dado período. A taxa de Crescimento natural é-nos dada pela diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade (Nazareth, 1988).

Entre 1970 e 1981 o crescimento natural médio anual rondou em Portugal os 0,85% e na Região de Lisboa e Vale do Tejo os 1,1%. Entre 1981 e 1991 registou-se uma acentuada descida deste crescimento passando em termos médios anuais para 0,31% em Portugal, 0,21% na RLVT e 0,41 na PS. De 1991 a 2001 a descida foi ainda mais acentuada com valores médios anuais para Portugal de 0,08%, para a RLVT de 0,06% e para a PS de 0,15%.

Em Portugal nos anos de 1995 e 1996 este crescimento esteve muito próximo de zero (0,04% e 0,03%); Na Região de Lisboa e Vale do Tejo verificaram-se mesmo valores negativos nos anos de 1995 e 1996 (-0,02) e valores próximo do zero em 1991, 1993, 1994, 1997 e 1998 (0,04%, 0,02%, 0,04%, 0,04%, 0,04% respectivamente); na Península de Setúbal os valores seguem as tendências encontradas nestes dois casos mas sempre com o crescimento natural a ser bastante superior, como se pode constatar no gráfico 2 (implicando maiores taxas de crescimento natural). Gráfico 2 - Taxa de Crescimento Natural

0,8

0,6

0,4

0,2

0

3 1 9 -0,2 81 8 85 987 89 9 93 995 97 9 01 19 19 19 1 19 19 19 1 19 19 20

portugal tx cresc natural rlvt tx cresc natural ps tx cresc natural

Fonte: INE (gráfico da responsabilidade do autor)

Uma vez que a taxa de crescimento natural resulta da diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade analisámos a evolução tanto a nível de nascimento como de óbitos.

1.2.1 – Taxa de Natalidade

A taxa bruta de natalidade dá-nos conta do número de nascimentos que ocorrem num dado período, por cada mil habitantes e estabelece a relação entre a população média nesse período e os nascimentos verificados (Nazareth, 1996). Estes nascimentos dependem em primeira instância do número de mulheres com idade para ter filhos (considera-se por convenção que esse período vai dos 15 aos 50 anos) e também do número médio de filhos que cada mulher vai ter nesse período da sua vida ou seja do índice de fecundidade. Por outro lado a fecundidade não é igual em todo o período de vida fértil. Assim seria vantajoso para um estudo mais de outra natureza partir da análise destes indicadores. No entanto neste estudo optou-se por analisar somente a taxa de natalidade. Gráfico 3 - Taxa de Natalidade

16 15 14 13 12 11 10

1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 198 198 198 198 198 198 198 198 198 199 199 199 199 199 199 199 199 199 199 200 200

portugal tx natalidade rlvt tx natalidade ps tx natalidade

Fonte: INE (gráfico da responsabilidade do autor)

Como se pode verificar no gráfico 3, a taxa de natalidade nas unidades territoriais em análise segue tendências semelhantes, verificando-se uma descida acentuada até meados dos anos 90. Em 1995 tanto em Portugal como na RLVT, como na PS atingiam-se os valores mais baixos de natalidade (10,8 por mil, 10,36 por mil e 10,67 por mil respectivamente). A partir desse ano verifica-se uma inflexão com os valores a subirem até 2000, verificando-se em 2001 uma nova descida.

Apesar disso gostaríamos de realçar o facto de até 1996 a taxa de natalidade em Portugal ser um pouco superior à da Península de Setúbal que por sua vez está ligeiramente acima da que se verifica na Região de Lisboa e Vale do Tejo. A partir de 1997 a taxa de natalidade da Península de Setúbal passa a ser superior à de Portugal. A Região de Lisboa e Vale do Tejo, a partir de 1999, passa também a apresentar taxas de natalidade superiores às verificadas em Portugal, sendo no entanto sempre inferiores às da Península de Setúbal. As razões desta situação estão ligadas à estrutura etária da população nas diferentes regiões, com a Península de Setúbal a registar uma menor percentagem de idosos.

1.2.2 – Taxa de Mortalidade

A taxa bruta de mortalidade indica o número de óbitos ocorridos por cada mil habitantes. Uma vez que a taxa de mortalidade varia com a idade e com o género uma análise em profundidade da mortalidade implicaria conhecer os óbitos por sexo e estrutura etária. No entanto neste estudo optou-se por analisar este indicador em termos globais.

Gráfico 4 - Taxa de Mortalidade

11

10

9

8

7

81 83 85 87 89 91 93 95 97 99 01 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 20

portugal tx mortalidade rlvt tx mortalidade ps tx mortalidade

Fonte: INE (gráfico da responsabilidade do autor)

A nível de taxa de mortalidade a análise do gráfico 4 permite verificar que entre 1981 e 2001 nas diferentes unidades territoriais em análise se registou uma tendência de subida que é explicada com o aumento de idosos (e neste grupo a proporção de óbitos é maior).

Portugal, no âmbito das unidades territoriais em análise, apresenta sempre as maiores taxas de mortalidade, seguindo-se de perto a RLVT. No Península de Setúbal observa-se que no início dos anos 80 havia grande disparidade em relação quer a Portugal quer à Região de Lisboa e Vale do Tejo, sendo a taxa de mortalidade significativamente mais baixa (7,29 por mil, contra 9,72 por mil em Portugal e 9,13 por mil na Região de Lisboa e Vale do Tejo). No entanto, esta disparidade vai-se esbatendo ao longo dos anos, fruto dum acelerado envelhecimento da população. Mesmo assim verifica-se em todo o período em análise uma taxa de mortalidade menor.

1.2 – Saldo Migratório

Em termos de saldo migratório, ou seja da diferença entre o número de imigrantes e emigrantes, importa distinguir migrações internacionais e migrações internas, uma vez que as primeiras concorrem para a evolução demográfica de um país e as segundas para a evolução de uma região.

Na década de 70 verificou-se em Portugal um saldo migratório positivo, próximo dos 440.000 indivíduos, contribuindo assim para o crescimento efectivo verificado (Barreto e Valadas Preto, 2000). Este saldo migratório resulta em grande parte do retorno em massa das ex-colónias.

Entre 1981 e 1991, Portugal conhece um novo ciclo registando um crescimento migratório negativo verificando já na década de 90 uma inflexão desta tendência com Portugal a transformar-se de país de emigrantes em país de imigrantes. Essa tendência parece ter-se consolidado à luz dos dados registados no decurso do período 1991-2001, assistindo-se inclusivamente nos últimos anos a um acelerar significativo no crescimento migratório. Os fluxos migratórios internacionais para Portugal têm repercussões a vários níveis, nomeadamente na recomposição da estrutura etária, rejuvenescendo-a, a nível da natalidade, tendendo esta a aumentar e a nível da mortalidade no sentido inverso.

Quadro 9 – Evolução da taxa de Crescimento Migratório em Portugal Região / ano 1981 1991 2001 Portugal 0,09 -0,25 0,63 Fonte: INE, Censos de 1981, 1991 e 2001 (quadro da responsabilidade do autor)

A nível de movimentos migratórios internos e reportando-nos à Região de Lisboa e Vale do Tejo e à Península de Setúbal verificamos que não existe uma relação directa entre o que se passa a nível de migrações internacionais e os saldos migratórios das diferentes regiões, uma vez que estes podem ser resultado somente de migrações internas.

A Região de Lisboa e Vale do Tejo registou uma taxa de crescimento migratório negativa entre 1981 e 1991. Entre 1991 e 2001 a taxa de crescimento migratório demonstrou uma tendência de crescimento.

Na Península de Setúbal verificou-se em todo o período em análise uma taxa de crescimento migratório sempre positiva, mas evidenciando oscilações várias e registando os valores mais elevados em 1991 e a partir de 1997, neste caso devido à construção da Ponte .

2. Causas do Crescimento

A evolução demográfica verificada entre 1970 e 2001, em Portugal, na Região de Lisboa e Vale do Tejo e na Península de Setúbal pode ser caracterizada por uma alteração substancial a nível de estrutura etária com a percentagem de jovens a diminuir de forma significativa ao mesmo tempo que o número de idosos aumenta também de forma significativa.

Embora o saldo natural neste período tenha registado valores positivos nas unidades em análise (exceptuando-se os anos de 1995 e 1996 na RLVT) a taxa de natalidade sofreu uma redução drástica e somente nos últimos anos surgiram sinais de inflexão na tendência de descida. A nível de taxa de mortalidade, a tendência de subida verificada, parece ter estabilizado e deve-se ao envelhecimento da população.

O crescimento que se verificou em Portugal deve-se em especial aos saldos migratórios positivos, decorrentes de migrações internacionais. No que diz respeito à RLVT e à PS a atractividade destas regiões tem-se feito sentir ao longo do tempo.

Estamos em crer que serão cada vez mais os saldos migratórios a influenciar o crescimento efectivo da população. As migrações internacionais têm implicação no crescimento populacional a dois níveis: directamente, com a entrada de fluxos de pessoas e indirectamente porque vão influenciar quer a natalidade, quer a mortalidade.

No caso da natalidade o comportamento dos imigrantes nos primeiros anos de permanência tende a ser similar ao dos países de origem onde a fecundidade é maior; no caso da mortalidade, uma vez que a grande maioria dos imigrantes são jovens e a mortalidade entre jovens é menor que entre idosos.

3. População em 2011: apresentação de dois cenários

A evolução demográfica será determinada apenas em função do tempo ou pode ser condicionada por outros factores? Se for somente função do tempo, com recurso à estatística conseguirá determinar-se com rigor a população existente num determinado horizonte temporal. Se assim não for, quaisquer que sejam os métodos utilizados tem de admitir-se que são falíveis e que a projecção pode gerar resultados diferentes daqueles que se vierem a verificar. Mesmo assim a projecção vai ter utilidade na medida em que fornece futuros possíveis, partindo de determinados pressupostos. De qualquer forma projectar é construir tendências a partir de hipóteses plausíveis ou não e espera-se que o futuro seja diferente do projectado (Nazareth, 1988); se assim acontecer e o futuro estiver mais próximo do desejado que a projecção admite-se um contributo válido desta.

Para a construção dos cenários, partimos de um conjunto de tendências observadas e a partir delas, procedemos à dedução de futuros (Nazareth, 1988). Embora a prospectiva deva ser global, no caso concreto vamos limitar-nos a uma análise parcial por ser de todo impossível neste contexto uma análise mais abrangente.

Optou-se pela aplicação do método por componentes, projectando a mortalidade, a natalidade e os saldos migratórios. Embora conscientes que no caso da natalidade seria desejável ter utilizado a fecundidade por idades e na mortalidade grupos de idades e separar os sexos, optámos neste estudo por considerar apenas as taxas brutas, para evitar a acumulação de erros e dada a incidência regional do estudo, e numa perspectiva de um estudo comparativo que se pretende efectuar em que os resultados agora obtidos irão ser comparados com os que se obterão cumprindo os requisitos referenciados.

Pressupostos do estudo: em termos de taxa de crescimento migratório: • a nível de Portugal esta taxa irá manter-se nos níveis de 1997 e 1998 (0,15), admitindo- se que a explosão de crescimento dos últimos três anos será contida através de medidas legais, dado o aumento de desemprego e a situação conjuntural da economia; • considerou-se que a nível da RLVT as tendências observadas vão ter continuidade, e a nível da PS, optou-se por pressupor que a taxa actual se vai manter (0,81);

Pressupostos do estudo a nível de mortalidade: atingiu-se um ponto de estabilidade, pelo que se considera fixa a taxa de 2001;

Pressupostos do estudo a nível de natalidade: • Cenários Tendência Natural, respeitando a tendência apontada pela regressão para Portugal e RLVT e mantendo na PS os valores actuais, por serem bastante superiores aos de Portugal e RLVT e porque a nível de NUTS 3 é um risco elevado, projectar a partir de valores de regressões; • Cenários Tendência Natural Corrigida, admitindo a hipótese de um ligeiro e gradual aumento da natalidade, a partir dos valores de base do 1º cenário.

3.1.1. Cenários Tendência Natural

Embora os valores encontrados para a população residente, sejam a nosso ver elevados, constituem o resultado da projecção e optámos por não efectuar qualquer correcção aos mesmos.

Quadro 10 – Projecção da População Portuguesa ano População Tx crescimento Tx natalidade Tx mortalidade Portuguesa migratório (projecção) (def. Constante) (projecção) (def. Constante) 2002 10.489.711 0,15 11,34 10,20 2003 10.626.077 0,15 11,35 10,20 2004 10.764.216 0,15 11,35 10,20 2005 10.901.998 0,15 11,33 10,20 2006 11.036.093 0,15 11,28 10,20 2007 11.164.111 0,15 11,21 10,20 2008 11.282.451 0,15 11,11 10,20 2009 11.386.250 0,15 10,97 10,20 2010 11.470.508 0,15 10,79 10,20 2011 11.530.154 0,15 10,57 10,20

Em relação à RLVT o acréscimo é ainda mais significativo mas mais uma vez optámos por manter os resultados sem qualquer correcção. Quadro 11 – Projecção da População da Região de Lisboa e Vale do Tejo ano População Tx crescimento Tx natalidade Tx mortalidade Da RLVT migratório (projecção) (projecção) (projecção) (def. Constante) 2002 3.534.810 0,11 11,99 10,20 2003 3.604.799 0,05 12,13 10,20 2004 3.676.174 -0,05 12,23 10,20 2005 3.746.757 -0,17 12,29 10,20 2006 3.814.199 -0,32 12,32 10,20 2007 3.874.844 -0,50 12,29 10,20 2008 3.924.830 -0,72 12,21 10,20 2009 3.960.153 -0,97 12,07 10,20 2010 3.975.598 -1,27 11,86 10,20 2011 3.966.852 -1,60 11,58 10,20

A nível da Península de Setúbal, se fossem mantidas as taxas de crescimento migratório, natalidade e mortalidade de 2001, sem qualquer alteração, teríamos até 2011 um crescimento sem precedentes.

Quadro 12 – Projecção da População da Península de Setúbal ano População Tx crescimento Tx natalidade Tx mortalidade Da PS migratório (projecção) (def. Constante) (def. Constante) (def. Constante) 2002 743030 0,81 13,27 10,10 2003 772602 0,81 13,27 10,10 2004 803352 0,81 13,27 10,10 2005 835325 0,81 13,27 10,10 2006 868571 0,81 13,27 10,10 2007 903140 0,81 13,27 10,10 2008 939085 0,81 13,27 10,10 2009 976461 0,81 13,27 10,10 2010 1015324 0,81 13,27 10,10 2011 1055734 0,81 13,27 10,10

Embora os valores da taxa de crescimento migratório sejam bastante mais elevados que os de Portugal e da RLVT, a Ponte Vasco da Gama está a gerar crescimentos significativos nos concelhos de Alcochete e Montijo. A taxa de natalidade é também superior à nacional e à da RLVT, mas a proporção de idosos na Península é bastante inferior facto que também pode explicar a menor mortalidade que se verifica.

3.1.2. Cenários Tendência Natural Corrigida

Para a elaboração destes cenários vamos partir de um correcção positiva aos valores da natalidade de 0,01, mantendo os outros de acordo com os quadros 10 e 11.

Quadro 13 – Projecção da População Portuguesa ano População Tx crescimento Tx natalidade Tx mortalidade Portuguesa migratório (projecção) (def. Constante) (projecção) (def. Constante) 2002 10490747 0,15 11,34+ 0,01 10,20 2003 10628175 0,15 11,35+ 0,01 10,20 2004 10767404 0,15 11,35+ 0,01 10,20 2005 10906304 0,15 11,33+ 0,01 10,20 2006 11041542 0,15 11,28+ 0,01 10,20 2007 11170728 0,15 11,21+ 0,01 10,20 2008 11290255 0,15 11,11+ 0,01 10,20 2009 11395254 0,15 10,97+ 0,01 10,20 2010 11480719 0,15 10,79+ 0,01 10,20 2011 11541567 0,15 10,57+ 0,01 10,20

No caso de Portugal, esta correcção implicaria um acréscimo de pouco mais de 11 mil indivíduos, não sendo muito significativa, no entanto haveria ligeiras repercussões na estrutura etária (haveria mais jovens) e na própria mortalidade.

Quadro 14 – Projecção da População da Região de Lisboa e Vale do Tejo ano População Tx crescimento Tx natalidade Tx mortalidade Da RLVT (projecção) migratório (projecção) (projecção) (def. Constante) 2002 3.535.157 0,11 11,99+0,01 10,20 2003 3.605.507 0,05 12,13+0,01 10,20 2004 3.677.256 -0,05 12,23+0,01 10,20 2005 3.748.227 -0,17 12,29+0,01 10,20 2006 3.816.070 -0,32 12,32+0,01 10,20 2007 3.877.127 -0,50 12,29+0,01 10,20 2008 3.927.530 -0,72 12,21+0,01 10,20 2009 3.963.270 -0,97 12,07+0,01 10,20 2010 3.979.124 -1,27 11,86+0,01 10,20 2011 3.970.767 -1,60 11,58+0,01 10,20 Na RLVT esta alteração traduzir-se-ia em quase mais 4 mil indivíduos, com as consequências já referidas para o caso de Portugal

Conclusão

Neste estudo procurou-se analisar os aspectos mais relevantes da evolução demográfica em Portugal, na Região de Lisboa e vale do Tejo e na Península de Setúbal entre 1970 e 2001.

Embora estas evoluções sejam bastante diferenciadas existem características comuns: significativo envelhecimento da estrutura etária que se verifica quer na base, com a diminuição dos nascimentos, quer no topo da pirâmide com o aumento da longevidade; na península de Setúbal a natalidade é um pouco mais elevada, a mortalidade menor e a estrutura etária menos envelhecida.

A nível de movimentos migratórios os saldos na Península são sempre Positivos e particularmente elevados nos últimos anos. A nível da RLVT verificam-se grandes oscilações com saldos negativos durante toda a década de 80 tal como em Portugal. De qualquer forma nos últimos anos estes valores são positivos em ambos os casos.

Em relação às projecções que foram efectuadas até 2011, assumindo que se trata de um primeiro exercício de cenarização para a população sem respeitar todos os critérios desejáveis, ficámos com a ideia de que haverá um incremento na população bastante superior ao verificada nas últimas décadas o que a concretizar-se iria rejuvenescer a estrutura etária actualmente existente. Bibliografia

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