Iversidade De Lisboa Faculdade De Letras
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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA A CRIAÇÃO DA REDE PAROQUIAL NA PENÍNSULA DE SETÚBAL (11471385) Francisco José dos Santos Mendes MESTRADO EM HISTÓRIA MEDIEVAL 2010 1 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA A CRIAÇÃO DA REDE PAROQUIAL NA PENÍNSULA DE SETÚBAL (11471385) Francisco José dos Santos Mendes MESTRADO EM HISTÓRIA MEDIEVAL Dissertação orientada pela Professora Doutora Manuela Rosa Coelho Mendonça de Matos Fernandes 2010 2 Resumo A presente dissertação tem como objectivo principal aclarar as formas de estabelecimento da rede paroquial na Península de Setúbal no tempo que vai da conquista de Lisboa, em 1147, à subida ao trono de D. João I, em 1385. Visa-se o estabelecimento de uma cronologia fiável da implantação paroquial, o reconhecimento no terreno dos seus limites originais e o modo como a interacção das jurisdições eclesiásticas com a jurisdição das outras instituições (nomeadamente os municípios e a Ordem de Santiago da Espada) teve influência sobre o estabelecer do sistema paroquial no espaço e no tempo em estudo, e vice-versa. De modo a reconhecer eventuais continuidades, é feito um enquadramento prévio, administrativo e eclesiástico, da Península de Setúbal, desde o Império Romano até 1147, sem esquecer os dados conhecidos das épocas visigótica e de Al Andaluz. Para detectar os primeiros sinais da presença eclesial após 1147, acompanham-se as vicissitudes militares da Margem Sul até à sua pacificação definitiva, em 1217, com a conquista de Alcácer. Por fim, apontam-se ainda as linhas de força da evolução subsequente da rede paroquial no espaço considerado. Palavras-chave Paróquia; rede paroquial; Península de Setúbal; Margem Sul do Tejo; Reconquista; Ordem de Santiago; Diocese de Lisboa; municípios; termo municipal; limite paroquial. Sommaire Cette dissertation tient comme objectif principal connaitre les formes d’établissement du réseau paroissial dans la presqu’ile de Setúbal, durant la période allant de la conquête de Lisbonne (1147) au début du régne de Jean I (1385). On envisage l’établir d’une chronologie fiable de l’implantation paroissiale, reconnaitre dans l’espace ses limites originales et bien aussi les formes comment l’interaction des juridictions éclésiastiques avec la juridiction des autres institutions (surtout les municipalities et l’Ordre de Saint Jacques de l’Épée) avait influence sur l’établissement du systéme paroissial dans l’espace et dans la période considéré. Pour reconnaitre des eventuelles continuités, on fait l’encadrement, administratif et eclésiastique, de la presqu’ile de Setúbal, dès l’Empire Romain jusqu’á 1147, en considérant aussi les donnés connus de l’époque wisigothique et d’Al Andaluz. Pour détecter les prémiers signes de la présence de l’Église, on verrons les campagnes militaires 3 dans la Rive Sud du Tage jusqu’á la pacification definitive em 1217, avec la conquête d’Alcácer. Au fin, on prendrons compte des lignes d’évolution posterieure du réseau paroissial dans l’éspace consideré. Mots-clefs Paroisse; réseau paroissial; presqu’ile de Setúbal; Rive Sud du Tage; Reconquista; Ordre de Saint Jacques de l’Épée; Diocése de Lisbonne; municipalités; termo municipal; limite paroissial. 4 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AA - Annales D. Alfonsi Portugallensium Regis. c./cc. – Coluna, Colunas. CDA - Chancelaria de D. Afonso III. CDD - Chancelaria de D. Dinis. CDDT - Chancelaria de D. Duarte. CDP - Chancelaria de D. Pedro I. Cf. – Conferir. Coord. – Coordenação. CSM-DM - Documentum Martyriale, Corpus Scriptorum Mozarabicorum. CSM-MS - Memoriale Sanctorum, Corpus Scriptorum Mozarabicorum. cx. – Caixa. DDS - Documentos de D. Sancho I. DHCL - Documentos para a História da Cidade de Lisboa. dir. – direcção. doc./docs. – Documento, documentos. ed. – Editor/edição. EN - Extractos do Numeramento de 1527-1532. et al. – et alii/e outros. EU - De Expugnatione Ulixbonensi. fl./ff. – Fólio, fólios. Gv - Gavetas da Torre do Tombo. IANTT - Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo. Intr. – Introdução. LC - Livro dos Copos. LN - Leitura Nova. LVAAG - Livro da Vereação de Alcochete e Aldeia Galega. mç. – Maço. MP – Memórias Paroquiais. MSN - Mosteiro de Santos-o-Novo. nº/nn – Número, números. OS/CP - Ordem de Santiago, Convento de Palmela. 5 p./pp – Página, páginas. PL – Patrologia Latina de Migne. PMH-LC - Portugaliae Monumenta Historica, Leges et Consuetudines. prep. – Preparação, preparado por. S. – Santo, Santa, São. ss. – Seguintes. SEA - Igreja de Santo Estêvão de Alfama. SMO - Igreja de Santa Marinha do Outeiro. SVF - Mosteiro de S. Vicente de Fora. t. – Tomo. transcr. – Transcrição. TVA - Livro de Tombo Velho de Azeitão. TVS - Livro de Tombo Velho da Vila de Sesimbra. v. – Verso. vol. – Volume. 6 INTRODUÇÃO A Península de Setúbal, como espaço administrativo, é hoje a parte Norte do Distrito com o mesmo nome, estando o seu território, nos nossos dias, divido em 58 freguesias civis, repartidas de forma desigual por nove concelhos: Almada, Seixal, Barreiro, Moita, Montijo, Alcochete, Sesimbra, Palmela e Setúbal. Os seis primeiros são os concelhos ribeirinhos do Tejo, os três últimos os que partilham a região da Arrábida. A sua população é de cerca de 780 mil pessoas. Tem dois portos – Setúbal e Sesimbra - e partilha ainda o estuário do Tejo com Lisboa. Eclesiasticamente, e com a excepção de uma pequena parcela para lá do Sado, na Comporta (por esta razão não considerada neste trabalho) estes limites são também os limites da Diocese de Setúbal, criada em 1976. Cinquenta e uma paróquias e sete quasi- paróquias, arrumadas em sete Vigararias Forâneas e distribuídas por onze Concelhos, dois Santuários, quatro capelanias hospitalares, três Reitorias e Capelanias autónomas, onze Misericórdias, três Confrarias, vinte e nove Centros Sociais paroquiais, nove Congregações Religiosas masculinas, doze Congregações Religiosas femininas, duas Ordens Terceiras, um Mosteiro, dois Seminários. Eis a actual estrutura eclesiástica, cujos alvores pretendemos acompanhar neste trabalho. Sendo nós um dos presbíteros desta Igreja de Setúbal, maior razão teremos para conhecer e dar a conhecer estes alvores, que explicam a organização de hoje e lhe dão sentido, pois só conhecemos o que somos quando sabemos de onde vimos. Este trabalho nasce do desejo de desvelar para o povo que servimos os primeiros raios de uma realidade chamada Igreja, divina e humana, num espaço que nos é muito significativo. Este espaço, como local concreto onde o povo dos cristãos vive, é ele próprio sinal de uma Presença que, em última análise, só a Fé pode fazer compreender na sua razão última, mas que na sua organização quotidiana, na tensão entre um «já» e um «ainda não», é local onde este povo, que se sabe peregrino, deixa marcas, marcas congruentes com cada época, mas que explicam o presente e ajudarão a compreender o futuro. Como não podemos ter a pretensão de fazer tudo, desejamos centrar-nos no aclarar uma época que, no espaço definido, e salvo melhor opinião, está pouco estudada: o tempo do pós-reconquista, com bitolas temporais no ano da reentrada cristã na Margem Sul, 1147, e na ascensão de uma nova dinastia régia portuguesa, em 1385. 7 Sendo verdade que se encontram alguns dados avulsos, contudo não lhes tem sido dada uma perspectiva de conjunto e de continuidade, o que os torna por vezes incompreensíveis, irrelacionáveis e até em certos casos, à primeira vista, contraditórios. Talvez isto aconteça porque a Península de Setúbal seja um espaço para o qual, nesta época, não há muita documentação disponível, e cujo conhecimento se tem feito a partir dos contributos, mais ou menos desgarrados, dispersos por monografias ou estudos particularizados sobre determinados pormenores, que os estudiosos têm conseguido trazer a lume com o seu labor. O que queremos fazer com este trabalho é ajudar a construir esta perspectiva de síntese. Para isso não basta a boa intenção, mas antes se torna necessário definir o que se quer aclarar, e utilizar os meios mais convenientes para aí chegar. Como é incontornável ter de escolher uma perspectiva de trabalho, a partir da qual se relacionem todas as outras perspectivas, julgámos conveniente tomar como objecto de estudo um tema que raramente tem sido aflorado para a zona considerada: o estabelecimento da rede paroquial. Será desejável, no entanto, tornar visíveis as continuidades, para que a análise não surja a modo de corte estratigráfico, sem relação com um antes, com um depois e sem contexto espácio-temporal. Por isso, seria impossível e desonesto não nos debruçarmos também sobre os principais factos administrativos «cívicos» (perdoe-se a expressão algo anacrónica) tanto os que estão dentro deste período como os que se verificaram previamente, já que terão deixado a sua marca no tempo e espaço que estudaremos. É impraticável não olhar também para as primeiras comunidades eclesiais hispânicas, desde os tempos pós-apostólicos, para percebermos até que ponto a estruturação medieval é herdeira da eclesialidade antiga. Seria trabalho insano, fastidioso e enciclopédico (no mau sentido) pretendermos ser panópticos sobre todos os factores de enquadramento e evolução deste espaço, pelo que escolhemos para começar a análise apenas os mais relevantes: as alterações físicas, a população e as vias de comunicação. Serão apresentados de forma breve, somente para permitir o enquadramento geográfico, e uma ideia genérica da sua evolução ao longo dos séculos. Reconhecendo a priori que, nesta época, falar de limites eclesiásticos é falar dos correlativos