A Imagem Do Sertão Em José De Alencar

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A Imagem Do Sertão Em José De Alencar Eduardo Vieira Martins A IMAGEM DO SERTÃO EM JOSÉ DE ALENCAR Dissertação apresentada ao Curso de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas como requisito parcial para obtenção do titulo de Mestre em Letras na Área de Teoria Literária Orientador: Prof. Dr. Luiz Dantas Unicamp Instituto de Estudos da Linguagem 1997 -·umoAOE Jt-r; --~,.A-·"·-~-----·~·-- N.' CHAMAOA: - CM-00105137-5 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA IEL - UNICAMP !I Mart1ns, Eduardo V1e1ra li 11 - 11M..::i66l A 1magem do sertio em Jos~ de Alencar I 11 Eduardo Vtetra Mart1ns. -- Camptnas, SP ' li Cs n ) , 1997 H 11 Ortentador Lutz Dantas ç=- 1 Dtssertaçio <mestrado! - Untvers1dade ~- jll tadual de Camp1nas, Inst1tuto de Estudos da 11 Ltnguagern l 11 li' 1 Alecar, .José de, 1829-1877 - O ser ta- l I neJo 2 Romantismo 3 Fic~ão brastlelra ~· it I Dantas, Lutz II Un1vers1dade Estadual ~:I •. de Camptnas Instttuto de Estudos da Llngua- 11 g em III Titulo li I!1 11,1 ~JI===============================~ 2 Prof Dr. Luiz Dantas- Orientador Prof Dr. Francisc Foot Hardman defendld:ii. r;·:· 3 Aos meus pais À memória do Prof. Mário Pereira de Souza Lima Para Mirhiane 4 Agradeço ao CNPq~ ao Prof Luiz Dantas, que orientou esta dissertação e sempre esteve pronto a me auxiliar; ao Prof Francisco Foot Hardman, de quem fui monitor nos tempos de graduação e que, ao me pedir que trabalhasse no CEDAEIIEL, ensinou-me a importância de lidar com as fontes primárias; à Profa. Valeria De Marco, que me auxiliou com suas observações e me emprestou alguns livros dificeis de serem encontrados; ao Prof Alcir Bernardes Pécora, que aceitou um convite de última hora para participar da banca do exame de qualificação; e aos professores Maria Eugênia Boaventura e Paulo Fernando da Motta de Oliveira (UFMG), que leram partes do trabalho. Agradeço aos funcionários do IEL, a todos os amigos e colegas que, de alguma maneira, colaboraram para que eu pudesse elaborar esta dissertação, e, em particular, a Mirhiane Mendes de Abreu. Por fim, quero registrar um agradecimento especial ao Prof José Aderaldo Castello, que muito gentilmente aceitou ler e comentar meus escritos. 5 Sumário Introdução ... .................................. ? L O cenário ....................... ._ ........................... ··········--·· ................................................ 30 2. Os atores ................................... .. ..... 67 3. O grande drama do deserto .............. .. .. .............................. 122 Palavras finais .. .................................................. 1~ Bibliografia .. .. .... 159 6 Resumo A presente dissertação é uma análise de O sertanejo, de José de Alencar. Partindo da hipótese de que o "sertão" é um espaço literário, constituído pelas diversas narrativas que foram forjando suas imagens ao longo do tempo, procuramos identificar no romance os temas utilizados pelo autor na sua construção. No primeiro capítulo, "O Cenário", argumentamos que Alencar, em conformidade com a visão que se tinha desse espaço na sua época, compreendia o sertão como espaço semidesbravado, localizado entre as áreas mais densamente povoadas e o mato ainda não penetrado pelos conquistadores. Utilizando-se dos lugares-comuns que faziam parte da visão romântica da natureza, o autor construiu um cenário grandioso, que servia para afirmar a diversidade e a superioridade do Brasil em relação aos países do Velho Mundo. No segundo capítulo, "Os Atores", propomos a hierarquização dos personagens do romance segundo duas ordens diversas: a primeira, social; a segunda, dada pela sua relação com a natureza. O lugar de Arnaldo, o herói, nessas hierarquias é sempre complexo. Habitando o espaço intermediário entre a fazenda e a floresta, o sertanejo desempenha o papel de um elo entre esses dois mundos e se constitui como mais legítimo representante do sertão. Finalmente, em "O Grande Drama do Deserto", terceiro capítulo desta dissertação, tomando por base as sugestões de Alencar em O nosso cancioneiro, texto em que analisa as canções populares do Ceará, discutimos a pecuária do sertão como uma atividade marcada pela luta do vaqueiro com o gado. Num segundo momento desse capítulo, analisamos a disputa pela posse da terra, enfocando a relação conflituosa dos grandes fazendeiros com os índios e entre si. INTRODUÇÃO Porque o vento do sertão é a liberdade, o homem sertanejo é o valente, o honrado, o melhor. Há um mito do sertão. Antigo. Está em José de Alencar, em Franklin Távora. Está nos documentos vellios, nos romances populares, cantados em quadra ou sextilha. (M. Cavalcanti Proença) 1 I. Analisando o aparecimento da ficção na literatura brasileira, Antonio Candido afirma que "o romance romântico [ ... ] elaborou a realidade graças ao ponto de vista, à posição intelectual e afetiva que norteou todo o nosso Romantismo, a saber, o nacionalismo literário". 2 Imbuídos da "intenção programática" de descrever lugares e costumes do povo, nossos primeiros romancistas entregaram-se a um verdadeiro trabalho de mapeamento do país, que ia sendo descoberto e fixado nos seus mais diversos aspectos: ('o nosso romance - diz Candido - tem fome de espaço e uma ânsia topográfica de apalpar todo o país. Talvez o seu legado consista menos em tipos, personagens e peripécias do que em certas regiões tornadas literárias [ .. .]. Assim, o que se vai formando e permanecendo na imaginação do leitor é um Brasil colorido e multiforme, que a criação artistica sobrepõe à realidade geográfica e social". 3 O sertão foi uma das regiões tornadas literárias nesse periodo. Heron de Alencar observa que foi a obra de autores como Bernardo 1 M. ün-alcanti Proença. "A Bagaceira'', in Estudos líterários, Rio de Janeiro, José Olympio Ed/INL, 1974, p.398. 2 Antonio Candido. Formação da literatura brasileira, v. II, Belo Horizonte, Ed Itatiaia, 1981, v. 2, p.ll2. 3 Idem, ibidem. p. 114. 8 Guimarães, José de Alencar, Franklin Távora e Taunay que «permitiu a conceituação de uma literatura sertanista".4 A hipótese que orienta esta dissertação é que, além de uma região geográfica, o sertão é um espaço, por assim dizer, de papel, de convenção, constituído pelas díversas narrativas e relatos que se foram sedimentando uns sobre os outros e definindo sua imagem, e que os romances nele ambientados não se limitam a representar um lugar dado a priori, desempenhando antes papel ativo na sua construção. 5 Nosso objetivo é analisar uma das convenções literárias que o configuraram, a proposta por José de Alencar em O sertanejo. No primeiro capítulo, "O Cenário", pretende-se verificar o que era o sertão para Alencar e quais os elementos empregados na sua construção. Tentaremos mostrar que o romancista cearense imaginou esse espaço a partir das tópicas fornecidas pela visão romântica da natureza, forjando uma imagem que possibilitava o seu uso como elemento de afirmação nacional. No segundo, "Os Atores", analisaremos os personagens do romance, procurando demonstrar que eles se hierarquizam segundo a sua relação com a natureza. Finalmente, em «O Grande Drama do Deserto", ressaltaremos o aspecto de luta da ação que aí se desenrola. Ainda nesta introdução, tentaremos determinar o significado da palavra "sertão" no século passado e discutiremos alguns problemas levantados pela critica a propósito de O sertanejo. ~ Heron de Alencar, "Sertão", in Jacinto do Prado Coelho (org.), Dicionário de literatura, Rio de Janeiro, Cia. José Aguilar Ed, 1973, v. li. p.1017. 5 Aproximamo-nos nesse aspecto da tese defendída por Simon Schama, para quem "paisagem é cultura antes de ser natureza; um constructo da imagínação projetado sobre mata, água, rocha. [ ... ] No entanto. cabe também reconhecer que, quando uma determinada idéia de paisagem. um mito, uma \isão, se forma num lugar con<:-reto, ela mistura categorias, torna as metáforas mais reais que seus referentes, torna-se de fato parte do cenário". Ver Simon &hmna, Paisagem e memória, São Paulo, Ed. Companhia das Letras, 1996, p. 70, 9 2. Nome dado a um território de contornos incertos e delimitação convencional, o tenno "sertão" possuía, no século XIX, um sentido um pouco diferente do atual, sendo usado para designar regiões consideradas hoje externas a esse espaço. Uma consulta aos dicionários revela que em nossos dias a palavra designa, principalmente, as porções áridas do interior dos estados do Norte e Nordeste, incluindo também áreas do norte de Mnas Gerais e algumas regiões de Goiás e Tocantins. Câmara Cascudo, advertindo que "as tentativas para caracterizá-lo têm sido mais convencionais que reais", descreve-o, inicialmente, como '"o interior" do pais, de forma genérica, mas a seguir observa que "'o nome fixou-se no Nordeste e Norte, muito mais do que no sul. O interior do Rio Grande do Sul não é sertão, mas poder-se-ia dizer que sertão era o interior de Goiás e Mato Grosso, na fórmula portuguesa do século XIX''.6 Aurélio Buarque de Holanda define-o como uma ''região agreste, distante das povoações ou terras cultivadas", como "terreno coberto de mato, longe do litoral". O sertão seria a "zona pouco povoada do interior do país, em especial do interior semi-árido da parte norte-ocidental". 7 Para Walnice Nogueira Galvão, por fim, "dá-se o nome de sertão a uma vasta e indefinida área do interior do Brasil, que abrange boa parte dos estados de Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas, Panu'ba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, Goiás e Mato Grosso. É o núcleo central do país". 8 No século XIX, essa limitação territorial ainda não havia ocorrido. Antonio de Morais 9 Silva- considerado por José de Alencar como "'o primeiro lexicólogo da língua" -, mantém o verbete "sertão" praticamente inalterado na primeira e na segunda edições de seu prestigioso dicionário. Na primeira, de 1789, o tenno era definido corno "o interior, o coração das terras, 6 Luís da Câmara Cas..<1do, Dicionário do folclore brasileiro, ruo de Janeiro, INL. 195-1. ~Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Xovo dicionário da Jingua portuguesa, Ed Nova Fronteira, s.d 8 Walnice Nogueira Galvão,Asfonnas do falso, Ed Perspectiva, 1986, p. 25. 9 José de Alencar, O nosso cancioneiro, in Flcçilo completa e outras escritas, v.
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