Rui E Machado O Povoamento Poético De Brasília Funerais
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outubro/novembro 2012 ANO VII n° 4836 O POVOAMENTO POÉTICO DE RUI BRASÍLIA E Anderson Braga Horta MACHADO rasília foi um gesto ousado, corajoso, temerário para alguns, combatido por muitos. Mas não foi um gesto impensado. Repito o que disse em “Notícia de Poesia em Brasília”, texto que abre o livro Sob o Fabio de Sousa Coutinho Signo da Poesia: Literatura em Brasília: BA idéia de uma cidade do futuro atravessa os séculos encoberta pela névoa da Profecia, que se clarifica no sonho-visão de Dom Bosco. A Palavra —o Logos, o Verbo— está associada a ela, em particular a Criação, ma das mais belas peças de a Poesia. E Brasília surge, em verdade, como um Farol de autoconhecimento, de auto-realização, de integração nacional e supranacional, de fraternidade. retórica da Literatura Brasileira O planejamento e a implantação, no cerrado quase deserto, de uma cidade moderna, destinada a ser a é a oração de adeus de Rui capital de um país em ascensão —melhor ainda: cidade nascida de uma idéia progressista, de um pensamento UBarbosa a Machado de Assis. Muita gente generoso— mexeu com o País e provocou o interesse do mundo. Natural que estimulasse a imaginação de boa acha que vem a ser o melhor discurso alguns poetas. Pois, como disse e gosto de repetir, Brasília nasceu sob o signo da Poesia. Os grandes poetas que primeiro cantaram a nova cidade foram Vinícius de Moraes, Cassiano Ricardo e de despedida jamais pronunciado em Guilherme de Almeida. Vinícius na Sinfonia da Alvorada (música de Tom Jobim), Cassiano Ricardo na “Toada nosso país. Ora, direis, ouvir estrelas: era pra se Ir a Brasília”, Guilherme na “Prece Natalícia a Brasília”. Rui exaltando Machado, ou seja, o notável Brasília está, com essa espécie de batismo poético, desde o nascedouro ligada à melhor literatura nacional. A rigor, desde antes, e muito antes, se pensamos em tudo quanto se escreveu —em tudo o que se advogado homenageando a memória do sonhou!— sobre a interiorização da capital brasileira. Recordo, a propósito, o caso curioso de Osvaldo Orico, maior escritor do Brasil. que publicou, no livro Dança de Pirilampos, de 1923, o poema “A Cidade do Planalto”, que lhe parece cair — Continua na página 4 premonitoriamente— como uma luva. Continua na página 3 FUNERAIS NO BRASIL HOLANDÊS Leonardo Dantas Silva ogo que se estabeleceram no Recife, após o incêndio de Olinda em novembro de 1631, os holandeses instalaram em todas as igrejas católicas, além de templos luteranos, calvinistas e até anglicanos, os seus cemitérios. Nelas passaram a ser realizadas todas as solenidades religiosas, inclusive sepultamentos dos membros de cada congregação. L Continua na página 11 MACHADO DE ASSIS PEDRO SALINAS NA E O CONTO MODERNO TRADUÇÃO DE JOSÉ M. Paulo Nunes JERONYMO RIVERA omancista dos maiores de nossa língua, na condição de renovador João Carlos Taveira da técnica do romance na literatura brasileira, cronista, poeta, crítico literário, foi ainda um contista dos maiores, cultivando a história epois de várias e bem-sucedidas incursões no campo da tradução Rcurta com a mesma maestria de um Maupassant, de um Edgar Allan Poe de poesia, francesa e espanhola, José Jeronymo Rivera chega agora e de outros maiores. a Pedro Salinas —“el poeta del amor”— que, na fase inicial, sofre Como contista, foi ele um renovador do conto, podendo mesmo certaD influência de Juan Ramón Jiménez, para logo depois criar o estilo admitir-se ter sido um contista moderno “avant la lettre”, muito antes que vai demarcar sua poesia até o fim. E Rivera saiu-se bem de espinhosa que tal reforma do gênero fosse modernamente empreendida por uma empreitada, pois traduzir a poesia de Pedro Salinas não é tarefa simples. Katherine Mansfield. Continua na página 5 Continua na página 2 2 Associação Nacional de Escritores Jornal da ANE OUTUBRO/NOVEMBRO – 2012 continuação da página 1 PEDRO SALINAS NA Soneto TRADUÇÃO DE do Mês JOSÉ JERONYMO RIVERA João Carlos Taveira or ser um poeta ao mesmo tempo clássico e moderno, com temáticas que abrangem vários assuntos do Pmundo, exige do tradutor mais do que simples conhecimento da língua espanhola, exige compreensão e respeito a certas nuanças formais e estilísticas da arte poética. Salinas foi um exímio criador, com pleno domínio do verso livre e do verso medido. O livro em questão, A voz a ti devida, CELESTE é quase todo construído em versos de seis sílabas e redondilha maior, com pouquíssima Adelino Fontoura utilização da métrica decassilábica. Aliás, Pedro Salinas, no caso específico, só pratica É tão divina a mágica aparência o verso medido; quando muito se aventura E a graça que ilumina o rosto dela, no verso polimétrico, mas nunca no verso Que eu concebera a imagem da inocência livre, ao contrário do que se constata em Nessa criança imaculada e bela. outros livros de sua autoria. Por essa razão, muitos críticos recusam aceitá-lo como Peregrina do céu, pálida estrela, um modernista, preferindo enquadrá-lo Exilada da etérea transparência, no classicismo. Na verdade, o autor de Sua origem não pode ser aquela Razón de amor está acima de qualquer talvez, a mesma exegese do mito, cujo fluxo enquadramento estilístico ou escolástico. de consciência perpassa cada verso e cada Da nossa triste e mísera existência. Seu lirismo é universal. estrofe para total alcance da finalidade a que Mas Rivera, com acuidade, soube foram concebidos. Tem a celeste e ingênua formosura enfrentar o desafio e trazer a público um Assim, a Thesaurus Editora coloca no E a luminosa auréola sacrossanta trabalho em que destila sensibilidade e mercado brasileiro a edição em português De uma visão do céu, cândida e pura. bom-gosto. A escolha de vocábulos, o de um dos melhores livros de poesia de respeito à sintaxe e o domínio da língua Pedro Salinas, A voz a ti devida, publicado E quando os olhos para o céu levanta, lhe dão créditos muito altos para enfrentar originalmente em 1933. Este livro traz, Inundados de mística doçura, os percalços de Salinas, nesta via-crúcis agora, a marca de qualidade da tradução de Nem parece mulher – parece santa. dos amores gozosos, e sair vitorioso. Cada José Jeronymo Rivera, com a confirmação do fragmento deste longo poema vertido para velho e conhecido axioma: “Todo tradutor o português exala a mesma sinceridade e, de poesia deve ser, em essência, um poeta.” (Seleção de Napoleão Valadares) Associação Nacional de Escritores Jornal da ANE no 48 – outubro / novembro de 2012 SEPS EQS 707/907 Bloco F – Edifício Escritor Almeida Fischer Editor Conselho Editorial CEP 70390-078 – Brasília – DF Afonso Ligório Pires de Carvalho Anderson Braga Horta Telefone: (61) 3244-3576 – Fax: 3242-3642 (Reg. FENAJ nº 286) Danilo Gomes E-mail: [email protected] Revisão Programação Visual 24a DIRETORIA 1° Tesoureiro: Luiz Carlos de Oliveira Cerqueira 2011-2013 2° Tesoureiro: José Maria Leitão José Jeronymo Rivera Thiago Sarandy Diretora de Biblioteca: Terezy Godoi Presidente: José Peixoto Júnior Diretor de Cursos: Paulo da Mata-Machado Júnior 1° Vice-Presidente: José Carlos Brandi Aleixo Diretor de Divulgação: Jacinto Guerra Composição e impressão: Centro Editorial e Multimídia de Brasília. 2° Vice-Presidente: Fontes de Alencar Diretor de Edições: Afonso Ligório SIG. Qd. 8 - Lote 2356 - CEP: 70610-480 / Brasília - DF - (61) 3344-3738 Secretário-Geral: Fabio de Sousa Coutinho Conselho Administrativo e Fiscal: Alan Viggiano, www.thesaurus.com.br 1ª Secretária: Rosângela Vieira Rocha Anderson Braga Horta, Danilo Gomes, José Jeronymo Rivera, 2ª Secretária: Kori Bolivia José Santiago Naud, Napoleão Valadares e Romeu Jobim. Toda colaboração não solicitada será submetida ao Conselho. Jornal da ANE Associação Nacional de Escritores 3 OUTUBRO/NOVEMBRO – 2012 continuação da página 1 O POVOAMENTO POÉTICO DE BRASÍLIA Anderson Braga Horta udo isso inspirou, direta ou indiretamente, conhecido como romancista, contista e ensaísta), Escritores de envergadura passaram por os escritores que para aqui vieram, e —já Astrid Cabral (que estreou magnificamente no Brasília, exercendo funções diversas, cargos agora o podemos dizer— há de ser sempre conto), Clovis Sena, Edson Guedes de Morais, públicos ou mandatos legislativos, sem contudo Ta melhor referência para os escritores que aqui Esmerino Magalhães Júnior, Ézio Pires, Fernando participar da vida literária local. Dentre os poetas nasceram e aqui vivem e produzem. Mendes Vianna (grande poeta e tradutor de que se incluem nessa categoria lembro os nomes de Lembrados e reverenciados esses fundamen- poesia), Guido Heleno (1958), Hugo Mund Júnior, Abgar Renault, Joaquim Cardozo, Plínio Salgado, tos é que devemos voltar os olhos para a poesia Jair Gramacho, Jesus Barros Boquady, José Geraldo Menotti Del Picchia, J. G. de Araújo Jorge, Álvaro que se tem feito em Brasília, para uma literatura Pires de Mello, José Jeronymo Rivera (notável Pacheco. de Brasília. tradutor de poesia), Lourdes Teodoro (1959), Mencionem-se, dentre os estrangeiros, Dentre os Marlene Andrade Martins (1957), Oswaldino os portugueses Agostinho da Silva, António primeiros poetas Marques (forte ensaísta), Paulo Bertran (1958), Campos e João Ferreira, o uruguaio Manini Ríos, o de Brasília, pio- Pedro Luiz Masi, Romeu Jobim (também contista argentino Rubén Vela, o búlgaro Rumen Stoyanov, neiríssimo foi o e cronista), Stela Maris Rezende, Yone Rodrigues. a venezuelana Trina Quiñones, os espanhóis gaúcho Antonio Vindos para Brasília com destino ao José António Pérez e Alicia Silvestre Miralles, Carlos Osorio, magistério superior, Domingos Carvalho da Silva o equatoriano Eduardo Mora-Anda, o polonês advogado, aqui e Cassiano Nunes, de notória influência em nosso Henryk Siewirski, o bielo-russo Oleg Almeida. aportado em 1957. desenvolvimento literário. Já eram reconhecidos como poetas, antes Também o foi Outros aqui chegados na primeira década de virem para Brasília, Afonso Félix de Sousa, Adirson Vasconce- (advirto que a lista é incompleta, mas não há Alphonsus de Guimaraens Filho, Cassiano Nunes, los, cearense che- memória nem tempo suficientes para esgotá-la): Domingos Carvalho da Silva (prócer da Geração gado nesse mesmo Affonso Heliodoro, Afonso Henriques Neto, An- de 45), Fernando Mendes Vianna, Ferreira Gullar, ano.