Brazilian Journal of Development
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77510 Brazilian Journal of Development Análise anatômica e histoquímica de sementes maduras de Eugenia stipitata ssp. sororia Mc Vaugh (araçá-boi) - Myrtaceae 1 Anatomical and histochemical analysis of mature seeds of Eugenia stipitata ssp. sororia Mc Vaugh (araçá-boi) - Myrtaceae DOI:10.34117/bjdv6n10-251 Recebimento dos originais:01/10/2020 Aceitação para publicação:13/10/2020 Angela Maria Da Silva Mendes Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Agronomia Tropical da Universidade Federal do Amazonas PPGATR/UFAM E-mail: [email protected] Maria Sílvia De Mendonça Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Agronomia Tropical da Universidade Federal do Amazonas PPGATR/UFAM E-mail: [email protected] RESUMO Estudos anatômico e histoquímico de propágulos de espécies nativas são importantes para a compreensão do processo de germinação e o estabelecimento das plântulas, além de fornecer informações para outras aplicações tecnológicas na agroindústria. O objetivo deste trabalho foi descrever as características anatômicas e histoquímica, bem como quantificar as substâncias de reservas da semente de Eugenia stipitata (araçá-boi). O material vegetal foi processado seguindo técnicas anatômicas e histoquímicas usuais e, a quantificação das reservas foi realizada pelo método da composição centesimal. A semente é exalbuminosa, amilácea e paquicalazal, com envoltório de estrutura complexa e impregnados de substâncias fenólicas. O embrião é eugenióde com sincotiledonia parcial e eixo embrionário indiferenciado. As células do parênquima cotiledonar são ricas em carboidratos armazenadas na forma de grãos de amido, compondo 43,5% do conteúdo da semente. Outros polissacarídeos ácidos foram identificados, além de pectinas em abundância. Não houve reação para lipídios totais, no entanto a reação foi positiva para ácidos graxos nos cotilédones e tegumento. Foram detectados compostos fenólicos em todos os tecidos da semente, principalmente tanino. Também houve reação positiva para terpenóides com grupo carbonilo no tegumento. Os testes histoquímicos demonstraram, além da principal substância de reserva, outros metabólitos que podem está relacionados com a dormência da semente de araçá-boi. Palavras-chave: embrião eugenióide, reservas, metabolitos secundários. ABSTRACT Anatomical and histochemical studies of propagules of native species are important for understanding the germination process and the establishment of seedlings, in addition to providing information for other technological applications in the agribusiness. The objective of this work was 1 Parte da Tese de Doutorado da primeira autora apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Agronomia Tropical da Universidade Federal do Amazonas PPGATR/UFAM. Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 10, p. 77510-77522 oct. 2020. ISSN 2525-8761 77511 Brazilian Journal of Development to describe the anatomical and histochemical characteristics, as well as to quantify the substances of Eugenia stipitata (araçá-boi) seed reserves. The plant material was processed following the usual anatomical and histochemical techniques and the quantification of reserves was performed using the proximate composition method. The seed is exalbuminous, starchy and pachicalazal, with a complex structure and impregnated with phenolic substances. The embryo is eugenioid with partial syncotyledonia and undifferentiated embryonic axis. The cells of the cotyledonous parenchyma are rich in carbohydrates stored in the form of starch grains, making up 43.5% of the seed content. Other acidic polysaccharides have been identified, in addition to pectins in abundance. There was no reaction for total lipids; however the reaction was positive for fatty acids in cotyledons and integument. Phenolic compounds were detected in all tissues of the seed, mainly tannin. There was also a positive reaction for terpenoids with carbonyl group in the integument. Histochemical tests have shown, in addition to the main reserve substance, other metabolites that may be related to dormancy of araçá-boi seed. Keywords: eugenioid embryo, reserves, secondary metabolites. 1 INTRODUÇÃO A família Myrtaceae tem uma distribuição predominantemente tropical, com aproximadamente 142 gêneros e mais de 5.500 espécies. O gênero Eugenia Linneaus (1753) pertence à subfamília Myrtoide, tribo Myrteae, subtribo Eugeniinae e apresenta aproximadamente 550 espécies (WILSON, 2011). Schmid (1972) comenta que é o segundo maior gênero da família e tem sido um dos mais difíceis e controversos para definição nas angiospermas; ainda hoje, na literatura pertinente, esse assunto é abordado. Landrum e Kawasaki (1997) inferem que no Brasil ocorrem cerca de 350 espécies de Eugenia, amplamente distribuídas nos diferentes biomas. Os órgãos reprodutivos de espécies de Eugenia são um amplo campo de investigação a ser explorada, a disponibilização de um maior volume de dados estruturais pode permitir a utilização em estudos filogenéticos (MOREIRA-CONEGLIAN, 2011). A grande importância econômica das mirtáceas brasileiras está nos seus frutos comestíveis, algumas com mercado garantido como Psidium guajava (goiaba), Myrciaria cauliflora (jabuticaba) e Eugenia uniflora (pitanga). Porém outras vêm se destacando como Eugenia stipitata (araçá-boi) com grande potencial de aproveitamento agroindustrial por apresentarem boas características físico- químicas e atributos sensoriais de boa aceitabilidade (ROGEZ et al., 2004; SOUZA FILHO et al., 2002). O araçá-boi é um arbusto de até 2,5 metros de altura, nativa da Amazônia peruana e encontrada em estado silvestre em várias partes da região amazônica. Completamente adaptada ao clima quente e úmido, produz flores e frutos o ano inteiro (MENDONÇA et al., 2001). A anatomia vegetal tem relevante destaque na Agronomia, principalmente na Fitotecnia, as práticas agriculturáveis exigem uma atenção especial na relação dos diferentes vegetais com os diversos manejos, pois o corpo do vegetal está dinamicamente relacionado com essas práticas Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 10, p. 77510-77522 oct. 2020. ISSN 2525-8761 77512 Brazilian Journal of Development (SILVA et al, 2005). A reprodução de E. stipitata é de difícil manuseio, a semente é o único meio propagação e, estas são de baixa longevidade, intolerantes ao dessecamento e apresentam dormência (ANJOS e FERRAZ, 1999; GENTIL e FERREIRA, 1999; MENDES e MENDONÇA, 2012, CALVI et al., 2016). Os autores supracitados comentam a importância de estudos anatômicos e composição química das sementes para elucidar a problemática e maximizar a propagação da espécie. Apesar das sementes de E. stipitata apresentarem totipotência, as frações que não apresentam a zona meristemática não são recomendadas para a produção de mudas, pois a porcentagem de plântulas anormais é elevada e, as sementes fracionadas não diminuem o tempo médio de germinação (MENDES e MENDONÇA, 2012). Os embriões das sementes do gênero Eugenia são considerados eugenióides, por apresentam cotilédones com características peculiares que diferem dos outros gêneros de Myrtaceae. As espécies de Eugenia são caracterizadas por possuírem embriões sólidos com os cotilédones fundidos sem diferenciação aparente entre o eixo embrionário e os cotilédones sendo, portanto, pseudomonocotiledonares; além de possuírem ovário geralmente com mais de sete óvulos, sendo distribuídas em secções caracterizadas segundo a morfologia da inflorescência (KAWASAKI, 2000; MAZINE e SOUZA, 2009). No entanto, Justos et al. (2009) observaram em microscopia de varredura eixo embrionário diferenciado em E. pyriformis. O envoltório da semente exerce um importante papel na nutrição do embrião durante seu desenvolvimento e também, na proteção contra os agentes nocivos do ambiente após dispersão. Em algumas sementes, o tegumento exerce ação restritiva à germinação, na maioria das vezes por ser impermeável à água e/ou de oxigênio ou pela sua resistência mecânica à protrusão da radícula. Werker (1997) comenta que substâncias inibidoras, de diferentes categorias químicas, podem ser encontradas no tegumento e em outras partes das sementes de várias espécies, interferindo no processo germinativo. Dentre estas substâncias, destacam-se os compostos fenólicos que podem atuar como inibidores do alongamento celular, ou consumir oxigênio durante o processo de oxidação, restringindo a quantidade de oxigênio que chega ao embrião; as substâncias fenólicas normalmente envolvidas nesses eventos são os taninos, terpenóides e hormônios (Taiz e Zeiger, 2016). Sabe-se que a composição química da semente madura influencia a germinação, o potencial de armazenamento e o estabelecimento da plântula, portanto o conhecimento das substâncias de reservas e outros compostos presentes na semente são fundamentais para a compreensão da propagação de espécies nativas. Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 10, p. 77510-77522 oct. 2020. ISSN 2525-8761 77513 Brazilian Journal of Development Diante dos comentários, o objetivo deste estudo foi descrever as características anatômicas e histoquímicas, bem como quantificar as substâncias de reservas da semente madura de Eugenia stipitata, visando contribuir com a propagação da espécie. 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 COLETA DO MATERIAL As sementes de E. stipitata utilizadas para as análises foram extraídas de frutos completamente maduros, antes da queda, coletados no pomar da Área Experimental da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Amazonas. A extração das sementes foi feita manualmente, seguida de lavagem em água corrente com auxílio de peneira,