OS PURITANOS

Origem, identificação, reprodução social e declínio de um grupo da Aristocracia Portuguesa do Antigo Regime (1630-1800)

Miguel de Araújo Proença

Dissertação de Mestrado em História Moderna e dos Descobrimentos

Outubro, 2015

Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em História Moderna e dos Descobrimentos, realizada sob a orientação científica do Professor Doutor Jorge Pedreira

Declaro que esta Dissertação é o resultado da minha investigação pessoal e independente. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia.

O Candidato,

Lisboa, 30 de Outubro de 2015

Declaro que esta Dissertação se encontra em condições de ser apreciada pelo júri a designar.

O Orientador,

À avó

Agradecimentos

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À minha família - em especial à mãe - o meu mais sincero agradecimento pela presença constante em todos os momentos da minha vida!

À Maria Guedes - a quem se deve, em muito, a apresentação deste trabalho - pelo apoio, disponibilidade, paciência e graça, o meu muito obrigado!

Aos meus amigos, principalmente àqueles que mais saíram prejudicados com as minhas ausências e afastamentos, agradeço o facto de serem os melhores do mundo e de não terem desistido de mim, mesmo quando começaram a acreditar que eu já tinha desistido deles (ou quando estavam simplesmente fartos de me ouvir falar dos Puritanos)!

Aos professores doutores Ana Isabel Buescu, Alexandra Pelúcia, Jorge Pedreira e Pedro Cardim, o meu muito obrigado por tudo o que aprendi - e pela generosidade com que foram partilhando o seu conhecimento comigo - nos seminários no âmbito do Mestrado em História Moderna e dos Descobrimentos.

Last but not least (and again...), ao orientador do presente trabalho, o Professor Doutor Jorge Pedreira, que me apresentou os Puritanos e aceitou acompanhar-me neste grande e desafiante projecto, deixo o meu mais profundo agradecimento.

OS PURITANOS

Origem, identificação, reprodução social e declínio de um grupo da Aristocracia Portuguesa do Antigo Regime (1630-1800)

THE PORTUGUESE PURITANS

Origin, identification, social reproduction and decline of a Portuguese Aristocracy group from the Ancien Régime (1630-1800)

Miguel de Araújo Proença

RESUMO

A presente dissertação tem como objectivo a produção de uma base historiográfica sobre o grupo dos Puritanos em Portugal, capaz de explicar o enquadramento da sua origem na sociedade do Antigo Regime, identificar os seus membros e a sua forma de reprodução social e, por fim, o seu declínio, tanto enquanto grupo social, como ao nível do seu discurso, apresentando como exemplo a Casa aristocrática, reputada como puritana, dos marqueses de Alegrete, condes de Vilar Maior.

O período de análise sobre o qual incidirá esta dissertação está compreendido entre o ano de criação da Confraria (de Nobreza) dos Escravos do Santíssimo Sacramento da Freguesia de Santa Engrácia, 1630, e o ano de 1800, último ano do século XVIII.

PALAVRAS-CHAVE: Puritanos; Aristocracia; Limpeza de sangue; Antigo Regime a b s t r a c t

This dissertation aims to create an historiographical basis to the study of the Portuguese Puritans’ group, in order to explain its origins in the Portuguese Ancien Régime society, who were its members and its social reproduction model, and, finally, its decline, not only at a social group level but also in terms of discourse, presenting as an example the Portuguese aristocratic house of the marquises of Alegrete, counts of Vilar Maior.

The period of analysis is comprehended between the year of the creation of Santa Engrácia Parish’s Brotherhood (of nobility) of the Slaves of the Blesses Sacrament (1630), and 1800, the last year of the 18th century.

KEYWORDS: Portuguese Puritans; Aristocracy; Cleanliness of blood; Ancien Régime ÍNDICE

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In t r o d u ç ã o ...... 1 Preâmbulo...... 1 Abordagem metodológica...... 4 Fontes...... 8 Estado da Arte...... 12

Pa r t e 1 - Co m po s iç ã o d o Lu g a r ...... 17 1. O Rei: o epicentro do poder...... 17 2. Os cortesãos: os títulos e os ofícios maiores da Casa R eal...... 22 3. Os puritanismos: o sangue e as nobrezas...... 29 4. A classe provável dos Puritanos...... 36

Pa r t e 2 - Os PURITANOS...... 43 1. O Alvará Puritano...... 43 2. O Relatório do Monsieur de Torcy...... 49 3. A dignidade real...... 54 4. Proposta de identificação de um grupo...... 62 5. O Modelo de reprodução social...... 71 6. As inconsistências e incoerências...... 79 7. O Processo dos Távoras ou o engano puritano...... 86 8. Alguns contributos...... 92

Pa r t e 3 - Uma fam ília PURITANA: o s M o u r a r ia s ...... 99 1. A Casa “imaginada” dos Mourarias...... 99 2. A Mouraria dos Cunhas...... 104 3. A Mouraria dos Alegretes...... 108 4. A reprodução social dos Mourarias...... 114

Co n c l u sõ e s e De s a f io s ...... 119

Fo n t e s e Bibliografia ...... 125 ANEXOS...... 139

Li s t a d e Abreviaturas

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ANTT - Arquivo Nacional da Torre do Tombo

BNF - Bibliothèque Nationale de France

BNP - Biblioteca Nacional de Portugal

Na última aula de História do ano, o Velho Joe Hunt, que conduzira os alunos letárgicos por Tudors e Stuarts, vitorianos e eduardinos, pelo Nascimento do Império e o seu Subsequente Declínio, convidou-nos a olhar para trás, para todos aqueles séculos e tentar tirar conclusões. «Talvez possamos começar com a pergunta aparentemente simples: O que é a História? Alguma ideia, Webster?» «A História são as mentiras dos vencedores», respondi com demasiada rapidez. «Pois, receava que o dissesse. Sim, desde que se lembre de que são também as ilusões dos vencidos. [■■■] «Finn!» « “A História é essa certeza que se produz no ponto em que as imperfeições da memória se cruzam com as insuficiências da documentação. "»

Julian Barnes, O sentido do fim

INTRODUÇÃO

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Preâmbulo

E não póde haver duvida para aquella conta, de que havemos precisamente de descender de quantos naquelle tempo havia em Portugal, e de muitos Estrangeiros. Agora se todos elles erão puros, tem muita rasão os Puritanos; mas como naquelle tempo não havia Santo Officio, nem Mesa de Consciencia, não sei quem nos hade passar essas certidões? O certo é que no principio do nosso Reino havia Mouros

convertidos, havia Christãos, e havia Judeos 1

Num dos raros retratos da família real que saem fora da propaganda política que marcou o período do Antigo Regime em Portugal - intimamente ligada à consolidação do poder real, numa primeira fase relacionada com a legitimação da dinastia brigantina e numa segunda com a necessidade de afirmação do poder da coroa face aos demais poderes da sociedade portuguesa - podemos observar o rei D. João V a ser servido de uma chávena de chocolate quente pelo infante D. Miguel, seu meio-irmão e 1.° marquês de Arronches, numa composição onde se identificam mais cinco personagens, incluindo o próprio pintor2 . Transformada numa fonte de grande interesse histórico pela recente historiografia que reclama a inexistência de retratos artísticos sobre cenas de costumes de época com personagens reais, tão importantes ao recente ramo da história que se centra, precisamente, no estudo do quotidiano e da vida privada, versando sobre assuntos tão vastos e diferentes como a sociabilização, a infância ou a alimentação, esta miniatura

1 Alexandre de Gusmão, Collecção de varios escritos ineditos politicos e literários. : Na Typografya de Faria Guimarães, 1841, p. 83. 2 Veja-se o Anexo 1 à presente Dissertação.

Pág. 1 Os Puritanos produzida por Alessandro Castriotto, em 1720, em óleo sobre marfim, desafia-nos também a questionar quem seriam estes homens aceites na mais exclusiva esfera privada dos reis. Se é certo que grande parte dos validos e ministros deste período foram já muito estudados, como o conde de Castelo Melhor ou, e até o melhor exemplo, o marquês de Pombal, a verdade é que a grande maioria dos homens que influenciaram práticas e políticas durante o Antigo Regime continuam a ser de conhecimento exclusivo de todos quantos se debruçam sobre este período específico da história de Portugal, com nomes que não ficaram gravados na memória colectiva de um povo, mas que foram sobejamente conhecidos e reconhecidos pelos seus contemporâneos. Nesta cena específica, para além dos já referidos rei e marquês de Arronches, o qual se supõe estar acompanhado do seu filho D. Pedro Henrique de Bragança que viria mais tarde a ser o 1.° duque de Lafões, o rei faz-se acompanhar do 1.° marquês de Angeja e do 2.° marquês de Alegrete, para além de um clérigo, o Padre Chevalier, preceptor da criança e confessor da família real.

Não será assim de estranhar que tenhamos querido começar esta dissertação com esta imagem que é tão rara como, no que respeita ao estudo dos Puritanos, provocadora, uma vez que as Casas de Lafões/ Arronches, Angeja e Alegrete se encontravam no restrito grupo da aristocracia reputado por puritano, aumentando assim o interesse, como referido, de os encontrarmos também no restrito grupo que privava com o rei, um facto que longe de representar uma coincidência, vem confirmar o interesse do estudo deste grupo enquanto detentor de influência junto do rei e, através dele, das principais estruturas do aparelho governativo do reino.

Mas como tantas outras histórias de que se compõe a História, também a realidade dos Puritanos portugueses, adjectivo que importa introduzir para que a confusão com os seus homónimos ingleses seja evitada, não foi pública o suficiente para ficar perpetuada nos anais da história, contribuindo mais para o seu estudo a sua extinção do que a sua criação.

Assim, em 5 de Outubro de 1768 o rei D. José, através do seu valido Sebastião José de Carvalho e Melo, então conde de Oeiras, faz aprovar um Alvará que pela sua natureza se revestiu de um carácter secretíssimo, não passando «a Tribunal algum, nem á Chancellaria», antes ficando «occulto nos lugares mais recônditos dos Archivos do Conselho de Estado, e da Secretaria de Estado, dos quaes não sahirá, nem se comunicará

Pág. 2 Introdução a pessoa alguma, que não seja das que nelle se achão declaradas»3, cujo objectivo era pôr fim à pretensão puritana de algumas famílias da nobreza portuguesa materializada num esquema de reprodução social exclusivo e sectário que, na opinião do monarca, criava no seio da sua nobreza «sedições, e discordias»4, algo que, enquanto «Protector da mesma Nobreza»5, não considerava ser aceitável.

Este Alvará, em conjunto com o Parecer do Conselho de Estado e com a Consulta da Mesa do Desembargo do Paço que o precederam, datados, respectivamente, de 3 de Outubro e de 23 de Setembro de 1768, constitui uma fonte ímpar sobre a história deste grupo da aristocracia portuguesa, que terá sido instituído pela alteração dos estatutos da Confraria (da nobreza) dos Escravos do Santíssimo Sacramento da Freguesia de Santa Engrácia em 20 de Dezembro de 1663. Esta fora criada para expiar o desacato ao Santíssimo Sacramento ocorrido na Igreja da mesma freguesia, em 19 de Maio de 1630, o primeiro de vários registados em Lisboa no século XVII e que se mostraram capazes de confirmar o crescendo do sentimento anti-judaico experimentado pela sociedade portuguesa do Antigo Regime6.

Os Puritanos ficaram conhecidos pelo facto de apenas realizarem casamentos entre si, com vista à manutenção da pureza de sangue da sua linhagem, tendo esta lei josefina como principal objectivo acabar com a distinção - na primeira nobreza da Corte portuguesa - que esta prática promovia, forçando os herdeiros das casas ditas puritanas a realizar casamentos fora do grupo, mantendo inalterado o principio regalista de que seria o rei «a unica fonte de Nobreza da qual sómente podem emanar as honras, as graduações, e as qualificações para os seus Vassalos»7.

Apesar de a historiografia mais recente já referir, com alguma frequência, a existência deste grupo8, a verdade é que não existe qualquer estudo sistemático do mesmo que possa servir de ponto de partida para todos os que, no futuro, desejem aprofundar este tema, tanto segundo uma perspectiva de relações clientelares capazes de produzir impactos ao nível das políticas seguidas pelo governo central, como segundo uma

3 António Delgado da Delgado (org.), Supplemento á Collecção de Legislação Portugueza (Anno de 1763 a 1790). Lisboa: Typ. de Luiz Correa da Cunha, 1844, p. 184. 4 Ibidem, p. 181. 5 Ibidem, p. 183. 6 Avaliado, entre outros, pelas numerosas obras de cariz anti-judaico publicadas em Portugal nesse tempo, cf. Jorge Martins, O Senhor Roubado. A Inquisição e a Questão Judaica. Lisboa: Europress, 2002, pp. 33­ 34. 7 Ibidem, p. 189. 8 Vejam-se os exemplos descritos no Estado da Arte da presente dissertação.

Pág. 3 Os Puritanos perspectiva de análise das estruturas sociais do Antigo Regime que assentam, em grande parte, no pressuposto da afirmação de uma aristocracia sólida e cristalizada9 , que a identificação do grupo dos Puritanos pode vir questionar, sugerindo antes a existência de uma aristocracia dividida, muito susceptível a rumores capazes de produzir, no seu seio, distinções não oficiais, mas fracturantes.

A presente dissertação tem como obj ectivo a produção de uma base historiográfica sobre o grupo dos Puritanos católicos em Portugal, capaz de explicar o enquadramento da sua origem na sociedade do Antigo Regime, identificar os seus membros e a sua forma de reprodução social e, por fim, o seu declínio, tanto enquanto grupo social como ao nível do seu discurso. O período de análise sobre o qual incidirá esta dissertação está compreendido entre o ano de criação da Confraria (de Nobreza) dos Escravos do Santíssimo Sacramento da Freguesia de Santa Engrácia, 1630, e o ano de 1800, último ano do século XVIII.

Abordagem metodológica

Pode-se assim representar o mundo social em forma de um espaço (a várias dimensões) contruído na base de princípios de diferenciação ou de distribuição constituídos pelo conjunto das propriedades que actuam no universo social considerado, quer dizer, apropriadas a conferir, ao detentor delas, força ou poder neste universo.10

Propomos, então, a divisão da presente dissertação em três partes: uma primeira dedicada ao estudo do nascimento na sociedade portuguesa de uma consciência e discurso puritanos capazes de criar uma identidade materializada num grupo social; uma segunda contendo uma proposta de identificação desse grupo, centrando-se nos critérios de

9 Termo utilizado por Nuno Gonçalo Monteiro para justificar, no período em análise, a manutenção do número de casas titulares na ordem da meia centena, in Elites e Poder: entre o Antigo Regime e o Liberalismo. Lisboa: ICS - Imprensa de Ciências Sociais, 2012, pp. 86. 10 Pierre Bourdieu, O Poder Simbólico. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 136.

Pág. 4 Introdução pertença que encontramos nas fontes coevas, bem como nos casamentos que o mesmo realiza e na forma como estes confirmam, ou não, a existência de um ideal puritano; e, finalmente, uma terceira parte que incidirá sobre estudo de uma das mais reputadas casas puritanas, os Mourarias - a Casa dos marqueses de Alegrete, condes de Vilar Maior -, por forma a tentar comprovar, para uma casa aristocrática portuguesa específica, o reflexo de uma realidade puritana no discurso dos seus membros e, se possível, no seu acesso aos mais elevados cargos e ofício de governo do reino.

São recorrentes as referências à complexidade e multidimensionalidade das perspectivas de análise na construção de uma abordagem historiográfica capaz de reproduzir, com exactidão, outros tempos e culturas. No caso particular do estudo dos Puritanos, a complexidade advém directamente da sua origem estar intimamente relacionada com a intersecção de várias dimensões da realidade social do Antigo Regime, algumas destas amplamente estudadas. De facto, não se poderá falar de um único e exclusivo processo de construção de um grupo social, antes de uma multiplicidade de processos, não directamente relacionados, capazes de criar, dentro do grupo em construção, uma consciência promotora de distinções e hierarquias internas, paralelas às próprias ordenações régias, e, muitas vezes, mais eficazes na atribuição de capital simbólico e social aos seus principais agentes, Na análise destes processo, adoptaremos como orientação a proposta teórica apresentada por Bourdieu11.

Na primeira parte da dissertação tentaremos perceber o momento, ou momentos, em que esta consciência puritana começou a revelar-se capaz de produzir efeitos ao nível da alteração das classificações sociais não oficiais, sabendo que tal resultou, principalmente, de três processos distintos: a curialização da nobreza; o Édito de Expulsão e o consequente baptismo de milhares de judeus com vista ao pontual cumprimento do mesmo; e a generalização dos estatutos de limpeza de nobreza e de sangue nas principais instituições e corporações do Antigo Regime, enquanto consequência dos dois pontos anteriores. Assumimos, então, que o processo de curialização - ou domesticação - da nobreza acabou por promover no seu seio uma necessidade de produção de critérios de distinção capazes de salvaguardar a sua autonomia face a um poder régio que alargava o seu campo de acção, assumindo-se o rei

11 Ibidem, nomeadamente pp. 135-161.

Pág. 5 Os Puritanos já não como um primus inter pares, mas antes como um senhor dos senhores12. Assumimos igualmente que o clima de desconfiança vivido na sociedade portuguesa, assente em rumores, provocado por um processo ineficaz de conversão dos judeus baptizados, acabou por possibilitar a introdução de um critério eficaz de distinção entre as antigas linhagens (fidalguia), que ganham um novo fôlego depois da Restauração, e a nobreza titular nascida dos serviços prestados no primeiro grande momento dos Descobrimentos Portugueses, permitindo-nos questionar se uma consciência puritana13 não poderia também ser considerada uma consciência identitária portuguesa, por oposição a uma estrangeira, como é sugerido por, entre outros, Alexandre de Gusmão14.

A segunda parte da dissertação centrar-se-á, então, na tentativa de identificação deste grupo, tendo como ponto de partida a única fonte que tenta sistematizar a origem e fundamento do puritanismo dos principais protagonistas da Corte portuguesa de finais do século XVII15, testando-a e percebendo a sua aderência à realidade que pretende relatar, confrontando-a, nomeadamente, com outras fontes coevas. Deste modo, procurar-se-á identificar um ou mais critérios para a definição e avaliação do nível de adesão ao puritanismo de uma determinada casa aristocrática. Além dos titulares, incluiremos os detentores dos ofícios maiores (ou mores) da Casa Real, tantas vezes excluídos das análises do grupo da aristocracia não obstante a clara assunção do ofício maior palatino como um título nobiliárquico de uma casa, juntos comummente designados Primeira Nobreza de Corte16. Definido o grupo sobre o qual incidirá a análise, procederemos ao estudo dos casamentos que realizaram, testando se o facto pelo qual se tornaram conhecidos, o de apenas casarem dentro do grupo, pode ser considerado verdadeiro. Por fim, tentaremos concluir sobre a existência ou não de uma consciência puritana neste

12 José Adelino Maltez, «O Estado e as Instituições». In João José Alves Dias (coord.), «Do Renascimento à Crise Dinástica», vol. V da Nova História de Portugal (dir. Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques). Lisboa: Editorial Presença, 1998, p. 386. 13 Termo também sugerido por Nuno Gonçalo Monteiro, in O Crepúsculo dos Grandes: A casa e o património da aristocracia em Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2003, p. 141. 14 In Collecção..., «Juízo, e calculo em geral sobre a Genealogia dos que erão tidos por Puritanos; pelo qual fica destruida a errada opinião, que elles concebião da absoluta desinfectação de parentesco dos seus ascendentes com os Judeos», pp. 81-85. 15 Referimo-nos ao Relatório do Monsieur de Torcy, de 1684. Joaquim Veríssimo Serrão, Uma Relação do reino de Portugal em 1684. : [s.n.], 1960. 16 Tanto pela transmissão, como pela dignidade que conferia. Refira-se, a título de exemplo, o esforço encetado pelo duque de Cadaval D. Nuno para que o seu filho, D. Jaime, fosse nomeado estribeiro-mor e a forma como este ofício palatino foi incorporado na própria designação do duque novo que passou, nomeadamente, a assinar duque estribeiro-mor.

Pág. 6 Introdução grupo da aristocracia portuguesa, identificando tanto as suas características, como as suas inconsistências e incoerências.

Por fim, na terceira parte da dissertação, analisaremos a casa dos marqueses de Alegrete, condes de Vilar Maior, também conhecidos como os Mourarias, com um especial enfoque na sua influência durante o período em análise, nomeadamente através da identificação dos principais cargos e ofícios que os seus membros ocupavam, tentando identificar a existência de um discurso puritano e o seu reflexo na realidade desta Casa aristocrática portuguesa. A escolha desta Casa, como exemplo, deve-se, por um lado, ao peso que a Mouraria assume na definição simbólica do grupo dos Puritanos11, e por outro, devido às conclusões a que chegou Nuno Monteiro relativamente às casas mais procuradas pela aristocracia portuguesa para casamento dos seus filhos, no qual a casa dos marqueses de Alegrete ocupa uma posição cimeira dentro do que designou o pólo puritano18.

Importa ainda, por fim, referir um conceito ao qual faremos inúmeras e recorrentes menções ao longo desta dissertação: o conceito de Casa, sempre escrita com letra maiúscula para que seja entendida na sua dimensão nobiliárquica, ou seja, enquanto habitat de uma família19, identificável «pela posse de certos bens vinculados, de uma comenda, de um senhorio, de um ofício palatino e/ ou de um título nobiliárquico»20, que surge, no Antigo Regime, «como uma entidade institucional e simbolicamente consagrada, cuja reprodução repousava em mecanismos de autoridade e em noções de dever»21, conceito essencial na tentativa de perscrutar um ideal subjacente a uma dimensão puritana das políticas de reprodução social das Casas aristocráticas portuguesas.

17 No já citado compêndio legislativo referente aos Puritanos, o único nome referido como estando por detrás da formação do grupo é o do jesuíta Nuno da Cunha que «governava a casa da Mouraria [...] e tinha ao mesmo tempo na Corte, e no Santo Ofício a influencia que lhe dava seu irmão o Inquizidor Manoel da Cunha, Bispo, Capellão Mór, e Arcebispo Eleito de Lisboa», sendo ainda irmão de D. Mariana de Mendonça, casada com o primeiro conde de Vilar Maior, e «um dos padres que mais autorizaram por êsse tempo a Companhia de Jesus em Portugal». Assim, parece-nos razoável assumir o peso que a Mouraria assume na própria definição simbólica do grupo, uma casa incluída no dote de D. Mariana de Mendonça aquando do seu casamento, que passou a ser a residência dos marqueses de Alegrete, motivo pelo qual passaram a ser conhecidos como os “Mourarias”, in António Delgado da Silva (org.), Supplemento..., p. 188. 18 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 141. 19 Norbert Elias, A Sociedade de Corte. Lisboa: Editorial Estampa, 1995, pp. 19-40. 20 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 86. 21 Ibidem, p. 99.

Pág. 7 Os Puritanos

Fontes

Meu irmão do meu coração. Principio a escrever-vos de mão alhea porque vos assim mo mandaes para poderdes entender o que vos digo, e eu tambem reconheço que a minha letra se vai pondo tão ma como me da a entender a fraqueza que sinto no braço22

A realidade dos Puritanos, por estar intimamente relacionada com um aspecto mais privado das políticas de reprodução social das Casas aristocráticas portuguesas, apesar de, como veremos, se encontrar enformado por uma adesão a um ideal puritano indiscutivelmente presente na sociedade portuguesa, ainda que não praticado de uma forma tão radical, escapa à maior parte da documentação oficial do período ao qual se refere. Aliás, uma das grandes dificuldades encontradas prende-se, justamente, com a datação do início da utilização do termo Puritanos para descrever este grupo da aristocracia portuguesa, sendo, no entanto, claro o facto de este termo não poder ser considerado de índole oficial23 uma vez que não o encontramos definido, por exemplo, no Vocabulario Portuguez e Latino., de 1720, do Pe. Raphael Bluteau24 O texto do

Alvará2 5 reflecte a opinião de D. Luís da Cunha que atribui a utilização do termo aos próprios, confessando não saber «como familias tão catholicas, quais são as de que quero falar tomassem o nome que o usurpador de Inglaterra, digo Oliver Cromwel deo de puritanos aos que seguirão a sua infame seita»26. De qualquer forma, as fontes mais

22 BNP, Arquivo Tarouca, 163, Carta de 11 de Setembro de 1730 do 2.° marquês de Alegrete, Fernando Teles da Silva, ao seu irmão João Gomes da Silva, 4.° conde de Tarouca por casamento. 23 O próprio compêndio de legislação relativo ao tema refere que «impuzerão o nome de Puritanismo», in António Delgado da Silva (org.), Supplemento., p. 187. 24 A referência a «Puritânio», no entanto, existe como sendo «o nome de certos Calviniitas de Inglaterra, os quaes pretendem que a doutrina que profeiiaõ he a verdadeyra, & pura doutrina. Os Puritânos saõ inimigos mortaes dos Catholicos», in Raphael Bluteau, Vocabulario portuguez e latino, áulico, anatomico, comico, critico, chimico, dogmatico, dialetico,., & Autorizado com exemplos dos melhores excriptores portuguezes, e latinos; e offerecido a elrey de Portugal D. João V. Lisboa: Na Officina de Pascoal da Sylva, 1720, p. 834. 25 António Delgado da Silva (org.), Supplemento., pp. 182 e 187. 26 D. Luís da Cunha, Instruções Inéditas de D. Luís da Cunha e Marco António de Azevedo Coutinho (prefácio de António Baião). Coimbra: Imprensa da Universidade, 1930, p. 198.

Pág. 8 Introdução antigas27 que referem a existência de um grupo denominado Puritanos, na sociedade portuguesa, datam do início do século XVIII, nomeadamente pela mão de D. Luís da Cunha (1662-1749), Alexandre de Gusmão (1695-1753) e de Frei João de S. José de Queiroz (1711-1764), seguindo a cronologia do seu nascimento28.

No entanto, a mais completa fonte documental que nos apresenta este grupo, ainda apenas enquanto «maisons que n’ont point de desfauts et qui’ls appellent limpas»29, é Uma Relação do reino de Portugal em 1684, cuja autoria foi inicialmente atribuída ao conde de La Vauguyon, sendo posteriormente proposto, por Joaquim Veríssimo Serrão, Jean-Baptiste Colbert (1665-1746), marquês de Torcy - de apenas 20 anos e sobrinho do seu homónimo e promotor da doutrina mercantilista - como seu verdadeiro autor. A este documento dedicaremos um ponto da presente Dissertação (Parte 2 - Ponto 2), cumprindo-nos salientar apenas a inexistência de uma referência ao nome Puritanos, que julgamos ser posterior.

Este facto é também confirmado pelos relatos de estrangeiros que passaram por Portugal, que assumem uma importância preponderante na prossecução do objectivo desta dissertação dado que possibilitam perceber a imagem que o ideal, aqui também materializado num ideário, puritano, deixou nestes homens e mulheres habituados a outros credos e culturas30.

27 E também de referência, como encontramos menção em Diogo Ramada Curto, «As Práticas de Escrita». In Francisco Bethencourt e Kirti Chaudhuri (dir.), História da Expansão Portuguesa, Volume 3, O Brasil na Balança do Império (1697-1808). Lisboa: Circulo de Leitores, 1998, p. 458. 28 Referimo-nos às seguintes fontes: D. Luís da Cunha, Instruções Inéditas.; Alexandre de Gusmão, Collecção.; e Camilo Castelo Branco (introdução e notas), Memorias de Fr. João de S. Joseph Queiroz. Porto: Typographia da Livraria Nacional, 1868. 29 SERRÃO, Joaquim Veríssimo (ed.) - Uma Relação., p. 78. 30 Baseámo-nos nos relatos dos estrangeiros publicados, tanto ao género de livros de viagens, como epistolar, bem como em alguns trabalhos sobre a estadia de estrangeiros em Portugal, dos quais salientamos as seguintes obras: Arthur William Costigan, Retratos de Portugal. Sociedade e Costumes (tradução, prefácio e notas pode Augusto Reis Machado). Lisboa: Caleidoscópio, 2007; Marquis de Bombelles, Journal d'un Ambassadeur de France au Portugal, 1786-1788 (edition etablie, anotee et precedee d’une introduction par Roger Kann). Paris: Presses Universitaires de France, 1979; Carla Sofia Veríssimo da Costa, O património português visto pelos viajantes estrangeiros na 2.a metade do século XVIII. Lisboa: [s.n.], 2004. Dissertação de Mestrado; Castelo Branco Chaves (Apresentação, Tradução e notas) - Portugal nos séculos XVII & XVIII. Quatro Testemunhos. Lisboa: Lisóptima, 1989; Idem (Tradução, prefácio e notas), O Portugal de D. João V visto por três forasteiros, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1983; Charles Dumouriez, O Reino de Portugal em 1766. Lisboa: Caleidoscópio, 2007; Giuseppe Baretti, Cartas de Portugal (traduzidas, prefaciadas e anotadas por Maria Eugénia de Montalvão Freitas Ponce de Leão). Coimbra: Imprensa de Coimbra, 1970; Thomas Cox e Cox Macro, Relação do Reino de Portugal (1701). Lisboa: Biblioteca Nacional, 2007; Giuseppe Gorani, Portugal. A Corte e o País nos anos de 1765 a 1767 (tradução, prefácio e notas de Castelo-Branco Chaves). Lisboa: Lisóptima Edições, 1989; Jacome Ratton, Recordações de Jacome Ratton sobre ocorrências do seu tempo em Portugal de Maio de 1747 a Setembro de 1810. Lisboa: Fenda Edições, 2007; James Murphy, Viagens em Portugal (tradução, prefácio e notas de Castelo Branco Chaves). Lisboa: Livros Horizonte, 1988; Johan Brelin, De passagem pelo Brasil e

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Em relação à análise dos relatos e correspondência de estrangeiros - duas fontes essenciais para uma mais cuidada análise de como eram vistos os portugueses, as suas tradições e os seus costumes - são necessários cuidados acrescidos. Lembra-nos Castelo Branco Chaves a importância que deverá ser dada, nesses relatos, aos motivos da sua estada em Portugal enquanto forma de perceber a aderência do relatado à realidade, sujeitando-os «a análise e a crítica», assumindo que muito do contido nesses relatos poderia ser «propositadamente mentido»31. Já a correspondência enviada por estrangeiros, de Portugal, que enquanto fonte histórica, e como refere Monteiro, «fornece considerações apreciáveis»32, não devemos esquecer que levanta sempre inúmeras dúvidas próprias do género epistolar em que se insere, sendo a questão mais discutida se o destinatário seria assumido como o seu leitor último, ou se a escrita se dirigiria a um público mais vasto, condicionando as referências a um carácter mais íntimo - e da esfera do privado - da carta que as tenções e constrangimentos criados pela vivência de uma Corte marcada por um constante escrutínio público de todas as acções veio promover33.

Esta será também a realidade das fontes biográficas e epistolares escritas por portugueses. Numa das cartas enviadas ao seu marido, o morgado de Mateus que se encontrava no Brasil, D. Leonor de Portugal refere que «me parece que se não venho, isto digo só a Dom Luís (rasgue esta logo), se não efectuava o casamento»34, o que nos evidencia uma importante característica deste tipo de fontes: até que ponto não estaremos na presença de uma forma de construção de memória história, reconhecendo apenas a história que os seus autores quiseram perpetuar, rasgando assim dos anais da História os factos tal como os verdadeiramente observavam?

Portugal em 1756por Johan Brelin (tradução do original sueco por Carlos Pericão de Almeida e introdução e comentário de Nils Hedberg). Lisboa: «Casa Portuguesa», 1955; Heinrich Friedrich Link, Notas de uma viagem a Portugal e através de França e Espanha (tradução, introdução e notas de Fernando Clara). Lisboa: Biblioteca Nacional, 2005; Pietro Francesco Viganego - Ao serviço secreto da França na Corte de D. João V (introdução, tradução e notas de Fernando de Morais do Rosário e prefácio de Joaquim Veríssimo Serrão). Lisboa: Lisóptima Edições - Biblioteca Nacional, 1994; William Beckford - Diário de William Beckford em Portugal e Espanha (introdução e notas de Boyd Alexander e tradução e prefácio de João Gaspar Simões). Lisboa: Biblioteca Nacional, 1983; Edgar Prestage - «Memórias sôbre Portugal no reinado de D. Pedro II». In Separata do Arquivo Histórico de Portugal, Lisboa, 1935. 31 Castelo Branco Chaves, Os livros de viagens em Portugal no Século XVIII e a sua projecção europeia. Lisboa: Biblioteca Breve - Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1987, p. 13. 32 Nuno Gonçalo Monteiro, Meu pai e senhor muito do meu coração. Lisboa: ICS-Quetzal Editores, 2000, p. 11. 33 Pedro Cardim, «A Casa Real e os órgãos centrais de governo no Portugal da segunda metade de Siescentos». In Tempo: Rio de Janeiro, n. 13, [s.n.], p. 160. 34 Heloísa Liberalli Bellotto (transcrição, introdução e notas) - Nem o Tempo nem a Distância. Correspondência entre o 4.°Morgado de Mateus e sua mulher, D. Leonor de Portugal (1757-1798). Lisboa: Alêtheia Editores, 2007, p. 293.

Pág. 10 Introdução

Para a presente dissertação, as fontes com maior peso na reconstrução de uma mentalidade que nem sempre se configura intuitiva aos nossos olhos, foram as correspondências manuscritas do marquês de Alegrete35 e do conde de Tarouca36 que se encontram no Arquivo Tarouca, na Biblioteca Nacional, e as publicadas do cavaleiro de Oliveira37, bem como as Memórias Históricas de Tristão da Cunha e Ataíde, 1. ° Conde de Povolide, esta já uma fonte de referência para quem pretende estudar os reinados de D. Pedro II e D. João V38.

Uma das maiores limitações que sentimos relativamente às fontes manuscritas foi a qualidade da caligrafia. Nos 23 volumes de correspondência do marquês de Alegrete para o seu irmão, o conde de Tarouca, relativos ao período de 1710-1733, foram muitos os momentos em que nos deparámos com folhas inundadas de palavras imperceptíveis. Se o desabafo do marquês ao irmão, de 11 de Setembro de 1730, citado em epígrafe, permite uma documentação factual desta dificuldade, a riqueza dos temas tratados e das opiniões defendidas alimentam a frustração das limitações que sentimos na sua análise.

Por fim, cumpre-nos ainda referir o compêndio de legislação josefino/ pombalino de 1768. Também lhe dedicaremos um ponto nesta dissertação (Parte 2, Ponto 2), relevando apenas aqui a referência à origem das três versões que encontrámos disponíveis. A primeira, e que seguimos neste trabalho, é o Supplemento á Collecção de Legislação Portugueza (Anno de 1763 a 1790), de António Delgado da Silva39, enquadrando este, desde logo, o carácter secretíssimo de que foi revestido, não podendo, por isso, ser encontrado no corpo principal da mesma Collecção4 0 . As outras duas versões, cópias manuscritas, poderão ser encontradas tanto na Biblioteca Nacional de Portugal41, como no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, no arquivo dos condes de Linhares42. A primeira, julgamos tratar-se de uma cópia da segunda, dado que é um acervo documental,

35 BNP, Arquivo Tarouca, 163, 23 volumes. 36 BNP, Arquivo Tarouca, 270. 37 Consultámos Cavaleiro de Oliveira, Cartas Familiares, Historicas, Politicas, e Criticas. Discursos Serios e Jocosos, Tomos I e II. Lisboa: Typographia de Silva, 1855; e, Cartas inéditas (1739-1741). Coimbra: publicadas por A. Gonçalves Rodrigues, 1942. 38 Tristão da Cunha de Ataíde, 1 ° Conde de Povolide, Portugal, Lisboa e a Corte nos Reinados de D. Pedro II e D. João V. Memórias Históricas de Tristão da Cunha de Ataíde, 1. ° Conde de Povolide (introdução de António Vasconcelos de Saldanha e Carmen M. Radulet). Lisboa: Chaves Ferreira - Publicações, S.A., 1990 39 António Delgado da Silva (org.) - Supplemento. 40 António Delgado da Silva (org.) - Collecção da Legislação Portugueza desde a última Compilação das Ordenações. Lisboa: Typografia Maigrense, 1828. 41 BNP, COD. 6937, fols. 1-15. 42 ANTT, Condes de Linhares, mç. 5, docs. 1-4.

Pág. 11 Os Puritanos com o nome Puritanismo (incluindo também a legislação de 1773 que consagra o fim da distinção entre cristãos-velhos e cristãos-novos), cujos 10 documentos correspondem aos dez primeiros documentos que encontramos no arquivo dos Condes de Linhares, este representando um compêndio de leis bem mais extenso43.

Estado da Arte

A tarefa das ciências humanas é explicar o social complexificando-o e não simplificando-o através de abstracções, enriquecendo-o de significações actualizadas pelo labirinto indefinido das relações. E preciso distinguir e classificar, sem dúvida; mas a taxinomia tende antes de mais para a reunião e o melhor ponto de vista é sempre aquele que permite confrontar o maior número de fenómenos.44

No que diz respeito ao Estado da Arte, à excepção de Nuno Gonçalo Monteiro45 que dedica um capítulo do seu estudo aprofundado sobre a aristocracia portuguesa do Antigo Regime ao «episódio puritano», centrando-se na evidência de ser o grupo mais procurado para a realização de casamentos dentro da primeiro nobreza de Portugal, as demais referências ao grupo, em estudos e trabalhos recentes, assentam precisamente nesta obra, das quais Cluny46, Figueirôa-Rego47, Urbano48, Bonifácio49 e Pedreira e Costa50, são bons exemplos. Releva esclarecer que em nenhuma destas obras encontramos uma problematização da questão puritana na aristocracia portuguesa, antes o seu mero

43 Também será apenas neste compêndio que encontraremos todos os Termos em execução do Alvará de Lei, encontrando nos outros dois apenas o do conde de Vilar Maior e a referência à existência de mais quatro. 44 Jacques Revel, A invenção da sociedade. Lisboa: DIFEL - Difusão Editorial, 1990, p. 27. 45 Nuno Gonçalo Monteiro - O Crepúsculo., pp. 129-141. 46 Isabel Cluny, O Conde de Tarouca e a Diplomacia na Epoca Moderna. Lisboa: Livros Horizonte, 2006. 47 João de Figueirôa-Rêgo, «A honta alheia por um fio». Os estatutos de limpeza de sangue nos espaços de expressão ibérica (sécs. XVI-XVIII). [Lisboa]: Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2011. 48 Pedro Urbano, A Casa de Palmela. Lisboa: Livros Horizonte, 2008. 49 Maria de Fátima Bonifácio, Memórias do Duque de Palmela. [Lisboa]: Publicações Dom Quixote, 2011. 50 Jorge Pedreira e Fernando Dores Costa, D. João VI. [s.l.]: Temas & Debates, 2009.

Pág. 12 Introdução reconhecimento e/ ou o teste da mesma enquanto resposta e motivo de determinados fenómenos sociais, esses sim em problematização.

É difícil precisar cronologicamente a data a partir da qual a realidade dos Puritanos passou a fazer parte da historiografia portuguesa, sabendo que até ao citado trabalho de Nuno Gonçalo Monteiro eram apenas apontados como um grupo da aristocracia portuguesa que casava exclusivamente entre si - sempre com referência aos textos que encontramos em D. Luís Cunha, Alexandre de Gusmão ou Frei João de S. José de Queiroz - do qual faziam parte as Casas dos «marqueses de Alegrete, de Valença, de Angej a e outras», mas sem precisar um critério capaz de reproduzir uma realidade comum que fosse para além do orgulho no seu sangue51. O melhor exemplo, e não sabemos até se não terá sido a primeira referência historiográfica aos Puritanos no século XX, é Lúcio de Azevedo52, que revela conhecer, inclusivamente, a realidade da legislação josefina/ pombalina a este respeito, sabendo-se que a mesma, como referimos anteriormente, já se encontrava publicada desde meados do século XIX.

Apesar de já em 1926, Ayres de Sá53 evidenciar o conhecimento tanto do grupo dos Puritanos como, mais interessante ainda, do relatório do marquês de Torcy - num texto inundado de premissas xenófobas que, acreditamos, em muito terão contribuído para o facto de ter sido pouco divulgado posteriormente - parece-nos ser mais razoável assumir que é com Joaquim Veríssimo Serrão e a publicação do mesmo relatório, em 1960, que a realidade dos Puritanos e dos seus critérios de reprodução social, se torna acessível a todos os que desejassem estudá-los, o que, até ao citado estudo de Monteiro, não aconteceu54.

Finalmente, e dada a complexidade inerente à realidade dos Puritanos, que intersecta distintas vertentes historiográficas como a questão dos Judeus em Portugal55,

51 Esta é a descrição que encontramos em Jaime Cortesão, in Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, Parte I, Tomo I (1695-1735). Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, Instituto Rio-Branco, [s.n.], p. 81, reproduzida ipsis verbis em Vitorino Magalhães Godinho, Estrutura da Antiga Sociedade Portuguesa. Lisboa: Arcádia, 1980, pp. 214-215. 52 J. Lúcio de Azevedo, História dos Cristãos-Novos Portugueses. Lisboa: Clássica Editora, 1989. Interessante é, no entanto, o facto de o grupo de os Puritanos não vir referido noutras obras suas, nomeadamente in O Marquês de Pombal e a sua Epoca. Lisboa: Alfarrábio, 2009. 53 Ayres de Sá, «Dois livros contra o vôo das águias», in Anais das Bibliotecas e Arquivos, vol. VII, n. 25­ 28, 1926, pp. 56-76. 54 Importa referir que, já em 1940, o Pe. Carlos da Silva Tarouca fazia referência ao trabalho de Ayres de Sá, in «História da Raça. História da Família», in Separata da Revista «Brotéria», Lisboa, Vol. XXX, Fascículos 1 e 2, 1940. 55 A título de exemplo: Emílio Manuel da Silva Corrêa, Judaísmo e Judeus na Legislação Portuguesa. Da Medievalidade à Contemporaneidade. Lisboa: [s.n.], 2012. Dissertação de Mestrado; Giuseppe Marcocci

Pág. 13 Os Puritanos os Estatutos de limpeza de sangue e nobreza56, o modus vivendi e operandi da aristocracia portuguesa, bem como a sua relação - e a da sociedade que a enforma - com o rei57, e ainda todos os estudos desenvolvidos sobre a dinâmica das casas aristocráticas portuguesas, nomeadamente pelo Pe. Carlos da Silva Tarouca58 relativos à Casa dos marqueses de Alegrete (os Mourarias), muitos foram os outros estudos historiográficos59 que consultámos para a concretização desta dissertação. Estranhamos, no entanto, a quase ausência da realidade puritana dos inúmeros estudos e biografias sobre o marquês de Pombal, sobretudo pelo carácter ideológico de que se revestiu a legislação puritana, que se nos apresenta como um reflexo claro do que pensava e defendia Pombal60. e José Pedro Paiva, História da Inquisição Portuguesa (1536-1821). Lisboa: A Esfera dos Livros, 2013; Jorge Martins, O Senhor Roubado. A Inquisição e a Questão Judaica. Lisboa: Europress, 2002; Idem, Portugal e os Judeus, Vol. I. Lisboa: Nova Vega, 2010; Maria Idalina Resina Rodrigues, «Literatura e Anti- Semitismo. Séculos XVI e XVII». In Separata da Revista Brotéria. Lisboa: [s.n.], 1979. 56 Cujos trabalhos mais relevantes serão os de João de Figueirôa-Rêgo, «A honta alheia...»; Fernanda Olival, As Ordens Militares e o Estado Moderno: honra, mercê e venalidade em Portugal (1641-1789). Lisboa: Estar, 2001; e Ana Isabel López-Salazar, Fernanda Olival e João de Figueirôa-Rêgo (coord.) - Honra e Sociedade no mundo ibérico e ultramarino: Inquisição e Ordens Militares - séculos XVI-XIX. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2013. 57 Para além do já referido e citado trabalho de Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., referimos ainda, do mesmo autor, Elites epoder., e D. José. Na sombra de Pombal. [Lisboa]: Temas e Debates, 2008, não esquecendo Mafalda Soares da Cunha, A Casa de Bragança (1560-1640). Práticas senhoriais e redes clientelares. Lisboa: Editorial Estampa, 2000, e Carlos da Silva Lopes, «Ensaio sobre a Nobreza Portugueza», In Separata da «Nação Portuguesa», Série V (1929), Lisboa, bem como as principais biografias publicadas dos reis de Portugal que tão bem desenvolvem a temática da sua relação com a aristocracia, nomeadamente: Luís Adão da Fonseca, D. João II. [Lisboa]: Temas e Debates, 2011; João Paulo Oliveira e Costa, D. Manuel I (1469-1521). Um Príncipe do Renascimento. [Lisboa]: Temas e Debates, 2011; Ana Isabel Buescu, D. João III (1502-1557). Lisboa: Temas e Debates, 2008; António de Oliveira, D. Filipe III (1605-1665). [Lisboa]: Temas & Debates, 2008; Leonor Freire Costa e Mafalda Soares da Cunha, D. João IV. Lisboa: Temas e Debates, 2008; Maria Paula Marçal Lourenço, D. Pedro II. O Pacífico (1648-1706). [Lisboa]: Temas e Debates, 2009; Paulo Drumond Braga, D. Pedro II - Uma Biografia. Lisboa: Tribuna da História, 2006; Angela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso VI: [Lisboa]: Temas e Debates, 2008; Maria Beatriz Nizza da Silva, D. João V. [Lisboa]: Temas e Debates, 2009; Mário Domingues, D. João V, o homem e a sua época. Lisboa: Prefácio, 2005; e Luís de Oliveira, D. Maria I. [Lisboa]: Temas e Debates, 2010. 58 Carlos da Silva Tarouca: «História da R aç a .» ; - «A colecção Aguilar no Arquivo Tarouca. Cartas inéditas de D. João II, D. Manuel, D. João III, Vasco da Gama, Tristão da Cunha». In Separata da Revista «Brotéria», Vol. XXXIV, Fasc. 3 (1942), Lisboa; «Conselhos dum Ministro de D. Pedro II para seu filho, Reitor da Universidade de Coimbra». In Separata da Revista «Brotéria», Vol. XXXVI, Fasc. 5 (1943), Lisboa; «Os «Livros Genealógicos» de Diogo Gomes de Figueiredo. General da Artilharia, +1684». In Separata da Revista «Brotéria», Vol. XLII, Fasc. 6 (1946), Lisboa; «A «Magna Charta» da história de Tarouca (séculos XV-XVII)». In Separata da Revista «Brotéria», Vol. XLVI, Fasc. 6 (1948), Lisboa; e «O Alferes-mor da Restauração». In Separata da Revista «Brotéria», Vol. XXXI, Fasc. VI. Lisboa: [s.e.], 1940 59 Para além dos que referiremos ao longo do trabalho, cumpre-nos evidenciar as quatro obras de referência relativas à História de Portugal consultadas: João José Alves Dias (coord.), «Do Renascimento à...»; António Manuel Hespanha (coord.), «O Antigo Regime (1620-1807)», Vol. 4 da História de Portugal (dir. de José Mattoso). [Lisboa]: Editorial Estampa, 1998; Nuno Gonçalo Monteiro (coord.), «A Idade Moderna», Vol. 3 da História da Vida Privada em Portugal (dir. de José Mattoso). [Lisboa]: Temas e Debates, 2011; e Rui Ramos (coord.), Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro, História de Portugal. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2012. 60 Para além da já referida obra de J. Lúcio de Azevedo, analisámos Augustina Bessa-Luís, Sebastião José. Lisboa: Guimarães Editores, 2003; Mário Domingues, Marquês de Pombal - o Homem e a Sua Epoca. Lisboa: Prefácio, 2002; António Leite, «A Ideologia Pombalina». In Separata da Revista Brotéria, Vol.

Pág. 14 Introdução

Assim, julgamos poder concluir que o Estado da Arte relativo aos Puritanos assenta, sobretudo, no capítulo que Nuno Monteiro dedica ao tema, salientando que, apesar de não o desenvolver aprofundadamente, apresenta a maior parte das fontes a que fizemos referência anteriormente, intuindo, a partir delas, aquela que seria a realidade do grupo. Não será, então, de estranhar, que a presente dissertação acabe, necessariamente, por estabelecer uma ponte com o trabalho desenvolvido por Monteiro, até porque surgem, desde logo, como perguntas naturais da sua leitura: quem eram, qual a sua origem e como se relacionavam os Puritanos com as demais Casas aristocráticas?

Torna-se, então, essencial a introdução da presente dissertação enquanto continuação do trabalho desenvolvido por Monteiro, tentando explorar o «carácter relativamente difuso»61 dos discurso e práticas puritanas, através do seu enquadramento na sociedade coeva que, ainda que os criticasse, não deixou de reproduzir, ou tentar reproduzir, os seus comportamentos, definindo-os, em muitas circunstâncias, como modelo paradigmático.

114, Fasc. 5-6 (1982), Lisboa; António Lopes, Enigma Pombal. Lisboa: Roma Editora, 2002; Rui Manuel de Figueiredo Marques, A Legislação Pombalina. Alguns aspectos fundamentais. [Lisboa]: Almedina, 2006; Kenneth Maxwell, O Marquês de Pombal. Lisboa: Editorial Presença, 2004; e Joaquim Veríssimo Serrão, O Marquês de Pombal. O Homem, o Diplomata e o Estadista. Lisboa: [s.n.], 1987, apenas encontrando referências directas a este grupo no trabalho de Maxwell. 61 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 141.

Pág. 15

Pa r t e 1 - Co m p o s i ç ã o d o Lu g a r

- § -

1. O Rei: o epicentro do poder

Conde, a vida dos reis está nas mãos de Deus, e não no poder dos homens, e contra o que Ele dispõe importa pouco o que os homens ordenam.62

Na definição de uma metodologia que permitisse identificar, numa primeira fase, e estudar, numa segunda, as cortes do Antigo Regime, poucos terão sido tão pertinazes como Norbert Elias, na sua obra Sociedade de Corte. Captando a complexidade da Corte através das múltiplas dimensões em que pode ser estruturada, assenta primeiramente o seu estudo na identificação de um espaço63, onde revela uma harmonia com o afirmado, no século XIII, por Afonso X, no seu célebre Las Siete Partidas, que define a Corte como «el lugar donde está el rey y sus vasallos y sus oficiales con él»64 Assim, a Corte é o espaço, habitat, de todos os que rodeiam o rei, que ao longo do Antigo Regime se vai afirmando como o seu centro, sendo que a estes que o rodeiam, também com referência à obra de Afonso X, «é oferecida a oportunidade e a honra de guardar o monarca»65.

No caso português, e para o período em apreço, a Corte deverá ser entendida como um espaço em construção e que foi assumindo, ao longo do período, diferentes configurações, não podendo ser esquecida a dimensão «polissémica» do termo, «apresentando uma semântica algo imprecisa, sobretudo no que diz respeito aos limites do universo social e institucional a que se reportava»66. De uma forma mais recorrente

62 D. Afonso VI, após ter sido afastado do trono, a D. Francisco de Sousa, cit. in Angela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso VI, . , p. 287. 63 Norbert Elias, A Sociedade., p. 19-40. 64 Las Siete Partidas del Rey Alfonso el Sabio, cotejadas con varios codices antiguos por la Real Academia de la Historia. Madrid: Imprensa Real, 1807, II, t.° 9, lei 27. 65 Jorge Osório «Erasmo, cortesia e piedade». In Espiritualidade e Corte em Portugal: Séculos X V Ia XVIII (Anexo V da Revista da Faculdade de Letras). Porto: Instituto de Cultura Portuguesa, 1993, p. 9. 66 Pedro Cardim, «A Casa Real e os órgãos centrais de governo no Portugal da segunda metade de seiscentos». In Tempo, Rio de Janeiro, n.° 13, p. 17.

Pág. 17 Os Puritanos deste o reinado de D. Manuel67, mas oficialmente desde o de seu filho, o rei D. João III, a Corte é Lisboa e Lisboa é a Corte68, o que pode ser confirmado não apenas pelo facto de o presidente da Câmara do Senado de Lisboa ser considerado um ofício do “governo do reino” de nomeação régia mas, sobretudo, pelo facto de a maior parte da nobreza viver na cidade, num movimento que não pode ser perfeitamente datado, mas ainda assim anterior à Restauração (1640)69, mas que desde então levou a que Lisboa devesse ser entendida também enquanto sinónimo de Corte.

Assim a Corte poderá ser entendida como um espaço social, caracterizada por um conjunto de forças em interacção, capazes de produzir relações geradoras de consensos e conflitos, enquadradas numa realidade que, não as domando totalmente, as foi domesticando, numa concepção corporativa da sociedade que tinha à cabeça o rei, que já não era, como na época medieval, um primus inter pares, mas sim um senhor dos senhores70, epicentro de todas as relações de Corte, mas ainda do seu espaço e das suas emoções. É por mimetismo que a Corte se revela através do seu rei, o que, para um período tão extenso de análise, deverá alertar para as alterações naturais que um novo rei introduz numa dinâmica de Corte. Já no princípio do reinado de D. João III, ainda no século XVI, dizia o pai de Luís da Silveira a seu filho, depois de informado da sua missão diplomática a Madrid, «tolo aonde vas»71, num claro entendimento que a estima e consideração do rei se promoviam exclusivamente na Corte. Mais ainda, e resultante do trabalho desenvolvido por Senos, podemos acrescentar que a própria organização do espaço cortesão durante o Antigo Regime observou estes mesmos princípios, tornando o acesso à pessoa real o bem simbólico mais ambicionado numa Corte - e aquele que

67 De acordo com Joana Almeida Troni, «foi também neste reinado [D. Manuel I] que se determinou que a Corte ficava sedeada em Lisboa, passando a cidade a estar associada à «caput regni» e começando a ser visível na documentação coeva de século XVI esta ligação entre Lisboa e Corte.». In A Casa Real Portuguesa ao Tempo de D. Pedro II (1668-1706). Lisboa: [s.n.], 2012. Tese de Doutoramento em História Moderna, p. 47. 68 Ana Isabel Buescu, D. João I I I ., p. 20. Já Luís de Camões escreve sobre Lisboa que “Cabeça sou, & throno soberano do bellicoso Reyno Lusitano”, Os Lusíadas, [...], Cant. 3.°, 8.a, 26, frase que foi aproveitada, aquando das festas do casamento do rei D. Afonso VI, para ser exibida num arco triunfal levantado na cidade de Lisboa a 29 de Agosto de 1666, fazendo referência à mesma cidade, cf. Angela Xavier, Pedro Cardim e Fernando Bouza Alvarez, Festas que se fizeram pelo casamento do rei D. Afonso VI. Lisboa: Quetzal Editores, 1996, p. 101. 69 Joana Almeida Troni refere que «Em 1640, Lisboa voltou a ser Corte», In A Casa R e a l., p. 15. Mafalda Soares da Cunha e Nuno Gonçalo Monteiro referem ainda que «no final da Guerra da Restauração, por volta de 1670, todos os titulares e a esmagadora maioria dos senhores de terras e demais primeira nobreza residiam em Lisboa», cf. «As Grandes Casas». In Nuno Gonçalo Monteiro (coord.), A Id a d e., p. 207. 70 José Adelino Maltez, «O Estado e a s.» , p. 386. 71 Anedotas Portuguesas e memórias biográficas da corte quinhentista (introdução de Christopher C. Lund). Coimbra: Livraria Almedina, 1980, p. 72.

Pág. 18 Parte 1 - Composição do Lugar melhor define uma posição hierárquica efectiva72 -, criando um conjunto de espaços, as antecâmaras, que separavam o rei do grosso dos cortesãos e que permitiam que o mesmo encetasse uma política de distinção simbólica na Corte, através do acesso que concedia, ou não, a esses mesmos espaços, observando-se uma realidade comparável com o exemplo francês73, num processo que culminará, inevitavelmente, na criação de um espaço privado74, ou seja, um espaço que se pretendia ausente de quaisquer considerações de ordem política ou social.

Assim, e mais do que de uma não distinção entre um espaço público e um espaço privado da pessoa régia, podemos falar de espaços de acesso exclusivo que definem hierarquias e estimas pessoais do monarca, sem no entanto podermos esquecer que os mesmos continuavam a ser espaços onde as questões de governo do reino eram tratados a um nível indiscutivelmente exclusivo, mas que obrigavam a um entendimento público de qualquer concepção de espaço privado, tal como o concebemos hoje em dia75. Também para Madureira, e não apenas para a realidade do palácio real, a nova arquitectura palaciana segue um modelo de «círculos concêntricos de privacidade»76, definindo diferentes graduações de intimidade com o monarca, ou senhor da casa, «certamente ligada a uma maior variedade de divisões e especializações funcionais»77, mas também com um carácter eminentemente social78.

Nos seus consensos e conflitos, a Corte reage ao príncipe, no que poderá ser entendido como uma reacção mimética à pessoa do rei, cujos constrangimentos causados por um constante escrutínio público das suas acções vai promovendo, no acesso à sua pessoa, um exclusivismo capaz de alterar, como vimos, a própria organização do espaço

72 Nuno Senor, O Paço da Ribeira. Lisboa: Editorial Notícias, 2002, p. 120. 73 Leia-se, para o exemplo francês, Norbert Elias, A Sociedade..., pp. 25-26. 74 Pedro Cardim, «A corte régia e o alargamento da esfera privada». In Nuno Gonçalo Monteiro (coord.), A Id a d e., pp. 160-161. 75 Nuno Senos, O P a ço ., p. 120. 76 Nuno Luís Madureira, Cidade: Espaço e quotidiano (Lisboa 1740-1830). Lisboa: Livros Horizonte, 1992, p. 119. 11 Ibidem, p. 116. 78 João Rosado de Villa-Lobos e Vasconcelos, em O perfeito pedagogo na arte de educar a mocidade, de 1782, refere ainda que «quem tiver mais [do que uma casa (sala) para receber visitas], deve lembra-se, que quanto mais interior for a casa, de todas as que podem receber visitas, tanto melhor será recebe-la no interior; guardando tambem a este respeito a proporção do caracter das Pessoas; e mostrando por tudo isto a distincção que faz do seu merecimento», cit. in Ibidem, p. 119. Esta realidade também não passou despercebida aos estrangeiros que visitavam a corte, nomeadamente Charles Fréderic Merveilleux, que descreve, com graça, o «penoso trajecto» do secretário de Estado entre o seu gabinete e os aposentos do rei, confirmando que «Poucas são as pessoas que frequentam os aposentos particulares do rei; só os nobres de alta estirpe ali podem ter acesso, e, mesmo esses, muito raramente», in Castelo Branco Chaves, O Portugal de D. João V ., pp. 145-146 e 219.

Pág. 19 Os Puritanos físico (habitat, para utilizarmos a expressão de Elias) em que se insere. Não obstante a observação de dois critérios, a moral e o poder, enquanto os grandes geradores dos consensos e conflitos referidos acima, o Antigo Regime demonstra ser um período onde os elementos de continuidade são mais frequentes do que os de ruptura e onde, principalmente, o conflito é entendido como a reacção a elementos de ruptura e não como potenciador dos mesmos.

No centro desta discussão está a pessoa do rei e a sua capacidade de influenciar o ambiente de Corte, tornando-se necessário aprofundar a relação da Corte com o rei, nomeadamente através do seu enquadramento numa discussão mais abrangente que engloba temas como a concepção corporativa da sociedade, o regalismo e o absolutismo providencialista7 9 . Estes deverão ser entendidos enquanto consequência de um «pacto histórico» entre o príncipe e os seus vassalos, configurador de direitos e deveres para ambas as partes. E é precisamente neste enquadramento jurídico, moral e teológico que, não obstante a liberalidade régia permitir definir muitas das características do ambiente cortesão, o rei continua a precisar negociar muitas das suas decisões e procurar consensos e apoios na sua Corte, que não menos vezes lhe causam inúmeros constrangimentos80, o que entendemos dever potenciar uma nova apreciação sobre o conceito de absolutismo régio e não, simplisticamente, a negação de que tenha existido, partindo da redutora formulação de um conceito abstracto sobre o termo.

Finalmente, e para um correcto entendimento sobre a realidade cortesã do Antigo

Regime, torna-se imperativo introduzir os conceitos de teias de relações8 1 de Elias ou a interpretação sobre o conceito de redes de Cunha. Enquanto o primeiro defende o estudo de uma sociedade a partir da identificação da rede de relações ou de funções que os indivíduos desempenham, ou seja, no conjunto de laços invisíveis que estabelecem entre si e que criam situações de interdependência, de tensão, de auto-regulação ou de poder82, que se concretizava numa consciência da natureza do conjunto de relações que as Casas aristocráticas estabeleciam entre si com vista à confirmação do seu «estado» e à manutenção e aumento do seu prestígio e influência83, que virão mais tarde a aumentar

79 Angela Barreto Xavier e António Manuel Hespanha, «A Representação da Sociedade e do Poder». In António Manuel Hespanha, «O A ntigo.», pp. 113-140. 80 Pedro Cardim, «A Casa R e a l.» , pp. 26-27. 81 Norbert Elias, A Sociedade., p. 28. 82 Daniel Barreto [et al.], A contribuição de Norbert Elias para uma contemporânea teoria de redes sociais. Recife: XII Simpósio Internacional Processo Civilizador, Civilização e Contemporaneidade, 2009, p. 4. 83 Norbert Elias, A Sociedade., p.28.

Pág. 20 Parte 1 - Composição do Lugar os constrangimentos na forma afectiva como estas relações se concretizam, promovendo o desencadeamento de um processo de diferenciação do espaço privado e do espaço público84; a segunda, e para o exemplo português, defende o conceito de relações de índole clientelar85, materializadas em redes que se interceptavam, «emergindo indivíduos, grupos de indivíduos ou de parentelas que actuavam como pontes de comunicação» que eram «mediadores de relações que permitiam ultrapassar - ou tão-só criar fluxos de comunicação que encurtavam - as distâncias geográficas e sociais».86

Em ambos os casos, podemos concluir que este processo, denominado curialização ou aristocratização da nobreza, esteve também ligado à instrumentalização das relações sociais para outros fins que não os da mera sociabilização, com impactos ao nível do aumento das possibilidades de acesso a pessoas e grupos de uma sociedade, caracterizado pela diminuição das distâncias sociais entre indivíduos, motivo pelo qual, para o presente estudo, resolvemo-nos pela inclusão no grupo da primeira nobreza de Corte, para além dos titulares, dos detentores dos principais ofícios da Casa Real, denominados maiores ou mores, que não poucas vezes se confundem, ou coincidem, com os próprios titulares.

Também releva lembrar que esta realidade não foi estanque nem transversal ao longo do período de análise e que oscilou entre períodos em que a Corte tentou moldar o seu centro e de uma maior fragilidade da coroa, como foram os tempos iniciais do reinado de D. João IV e de D. Pedro II e, claro, a deposição de dois reis, Filipe IV de Espanha e D. Afonso VI, e entre períodos de clara afirmação do poder real face à sua Corte a partir do final do reinado de D. Pedro II e nos reinados de D. João V e D. José, altura em que se poderá falar de um poder central efectivo, independentemente do nome que se lhe dê.

É esta realidade cortesã que vai moldar e influenciar o comportamento dos cortesãos, numa pluralidade de entendimentos sobre os modus operandi e vivendi em Corte87, tendo sempre presente que, tanto nos momentos de maior poder e influência, como nos de maior susceptibilidade, o rei foi sempre entendido e reconhecido como o

84 Pedro Cardim, «A corte ré g ia . », pp. 160-161. 85 Conceito que desenvolvemos no ponto seguinte. 86 Mafalda Soares da Cunha, A Casa de Bragança., p. 43. 87 Concretizados em discursos que não são sempre coerentes entre si, o que não devemos considerar uma característica particular do período em análise, mas que neste período ganha particular relevância porque se assiste a uma ausência de um enquadramento jurídico/ legal definidor de um modelo vigente, resultando este modelo de um confronto doutrinário promovido pelos principais pensadores da época que, na sua maioria, eram também eles cortesãos

Pág. 21 Os Puritanos epicentro do poder político em torno do qual se desenvolveram todos os acontecimentos e, posteriormente, todas as apreciações sobre as concepções de sociedade observadas no Antigo Regime.

2. Os cortesãos: os títulos e os ofícios maiores da Casa Real

Antes quero morrer estimado no campo do que viver malvisto na corte8

Segundo a proposta de Cardim, ao redor deste epicentro de poder, concretizado na pessoa do rei, «nascia uma espécie de comunidade de crença, e a coesão dessa comunidade dependia de um conjunto de sentimentos de fidelidade e de esperança, sentimentos esses dotados de um inegável potencial político, pois eram capazes de gerar confiança e criar consenso, eram capazes de organizar e de disciplinar, sem que tal implicasse o recurso à coacção e a meios violentos para manter a ordem.»89

A afirmação da nobreza - e de um modo muito concreto, e após a fixação do rei e da sua Corte em Lisboa, dos cortesãos - enquanto o grupo social mais capaz de assumir os principais cargos e ofícios relacionados com o governo dos reinos foi sobretudo um fenómeno europeu com a sua origem nas concepções clássicas de formas de governo desenvolvidas, entre outros, por Aristóteles, Platão e Heródoto, que assentavam na proposta de atribuição do poder ou do Estado (“Kratos”) aos melhores (“Aristos”), considerados os mais aptos a desenvolver essa função.90

Salientamos o facto de esta concepção de forma de governo aristocrático poder ser entendida na sua forma pura, tal como se verificava em algumas repúblicas italianas, ou num modelo mais híbrido, em que se questiona o poder efectivo, ou simbólico, do grupo, nomeadamente por oposição ao poder efectivo do rei, devidamente enquadrado

88 Cavaleiro de Oliveira, Cartas inéditas (1739-1741). Coimbra: Publicadas por A. Gonçalves Rodrigues, 1942, p. 146. 89 Pedro Cardim, O poder dos afectos. Ordem amorosa e dinâmica política no Portugal do Antigo Regime. Lisboa: [s.n], 2000. Tese de Doutoramento, p. 16 90 Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura, vol. 3, Lisboa/ São Paulo: Editorial Verbo, 1998. Entrada: Aristocracia.

Pág. 22 Parte 1 - Composição do Lugar numa outra forma de governo, que dele depende ou no qual se apoia, o que deu origem a expressões como “nobreza aristocratizada” ou “aristocracia de corte”.

Conforme refere Nuno Monteiro, nos finais do Antigo Regime, e para a realidade portuguesa, quando se fala de nobreza ou fidalguia, enquanto grupo, designam-se exclusivamente os titulares, esclarecendo que «a nobreza, em geral, não constituía um grupo corporativo com uma identidade forte, como a que eventualmente poderá ter constituído a fidalguia no início do período moderno, pois foi sendo decisivamente enfraquecida por um duplo processo de mutação: alargamento das fronteiras na base e contracção do topo com a constituição da elite dos Grandes, através dos títulos e distinções da monarquia»91. Ainda assim importa referir que o exclusivismo deste grupo foi sendo desenhado durante o período em análise e que a titulação nobiliárquica, bem como a distinção que alguns ofícios palatinos (entendidos numa óptica quasi vincular92) conferiram a algumas famílias não titulares da 1 a nobreza de Corte, foram um factor de distinção entre os demais membros da pequena e média nobreza, reduzindo o grupo a meia centena de casas titulares e a mais uma dezena de casas de 1.a nobreza de Corte93, fenómeno denominado cristalização.

Ao nível das semelhanças com outros países europeus, a realidade aristocrática portuguesa encontra muitas afinidades, na construção e características das elites, com a sociedade espanhola, nomeadamente no facto de a avaliação sobre a nobreza de uma Casa ou pessoa assentar em questões de limpeza de sangue, uma característica relativa à qual a união dinástica e a forte adesão comum ao catolicismo não são alheios, questão que abordaremos em maior detalhe no ponto seguinte. Comum a ambas, e ainda curiosamente à sociedade inglesa94, era a existência de um ideário de nobreza capaz de, por um lado,

91 Nuno Gonçalo Monteiro Monteiro, Elites epoder., p. 33. 92 Apesar de não se poder falar de rotinização do carisma para explicar este fenómeno, tal como definido por Weber, é inegável que existiu, no período de análise, uma “rotinização de Casas”, sendo que uma parte considerável dos ofícios maiores da Casa Real acabaram por torna-se “senhorios simbólicos” de algumas casas aristocráticas, in Max Weber, Economia e Sociedade, vol. 2. São Paulo: Editora UnB e Imprensa Oficial, 2004, pp. 323-408. 93 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e Poder..., pp. 86-89. 94 Baseámo-nos nos estudos de Laslett, Thompson, Cannadine e Neal, sobre a existência, ou não, de classes na sociedade inglesa do Antigo Regime, dadas as inúmeras referências aos principais critérios de distinção social observados neste período. Os estudos são: David Canadine «The Eighteenth Century: Class Without Class Struggle». In Class in Britain. New Heaven e Londres: Yale University Press, 1998, pp. 24-56; Peter Laslett, «A One-Class Society». In R. S. Neale (ed.), History and Class. Essencial Readings in Theory and Interpretation. Oxford: Blackwell, 1983, pp. 196-221; R.S. Neale, «Class and Class Consciousness in Early Nineteenth Century England: Three Classes or Five?». In History and Class. Essencial Readings in Theory and Interpretation. Oxford, Blackwell, 1983, pp. 143-164; E. P. Thompson, «Eighteenth-Century English Society: Class Struggle without Class?». In Social History, Vol. 3, No. 2 (1978), pp. 133-165.

Pág. 23 Os Puritanos provocar uma divisão estrutural da sociedade em dois, os nobres e os plebeus95, e, por outro, ser por vezes pouco clara na fronteira entre estas duas realidades, observando-se nos dois países, e não obstante a cristalização do topo da hierarquia social, uma mobilidade social que se acredita hoje ser muito superior ao que em tempos se julgou, numa sociedade ainda assim profundamente marcada por um «very sharply delineated system o f status which drew firm distinctions between persons and made some superior, most inferior. There were various gradations, all authoritatively established and generally recognized»96, lembrando que muitas destas graduações eram apenas reconhecidas dentro do grupo social ao qual respeitavam.

Voltando à problemática do aparecimento em Portugal de uma «primeira nobreza de corte»97, enformada pelo processo de curialização da nobreza, podemos afirmar que foi no período brigantino que se assistiu ao aparecimento deste grupo, não obstante ser este o culminar de um processo que já se vinha a observar desde os finais da dinastia dos Avis, mas que com a ausência do rei, de Portugal, no período dos Habsburgos, acabou por não possibilitar a criação de um espaço, a «Casa do Rei» ou «Corte», onde a nobreza se reunisse em torno do seu monarca. Assim, e com a dinastia brigantina, o rei volta a residir em Portugal, sendo que mantém a sua residência em Lisboa, possibilitando a existência de um espaço onde se concentram todos aqueles que desejam, de certa forma, exercer alguma influência no governo do reino, ou no próprio rei, ou beneficiar da liberalidade régia98, tornando o exílio da Corte a maior desonra para um nobre.

Neste processo, que resultou na criação de uma elite cortesã, ou de uma nobreza aristocratizada, cujo acesso privilegiado ao rei lhe permitiu, como refere Rudé, «exercer uma desproporcionada influência sobre a vida dos seus próximos, quer na condição de governantes, magistrados ou grandes proprietários, monopolizando os altos cargos do Exército, da Igreja e do Estado, quer simplesmente pelo seu modo de viver ou estar na

95 Em estrito paralelo com a sociedade inglesa da Gentry e dos gentlemen e dos plebs e nobodies. 96 Peter Laslett, «A One-Class.», p. 196. 97 Expressão que, de acordo com Mafalda Soares da Cunha e Nuno Gonçalo Monteiro, ganhou «ampla difusão» após a Restauração para designar «a principal elite da nova dinastia dos Braganças, parte dela recrutada nos restauradores, outra mais antiga ou com diversas proveniências», in «As grandes casas» . , p. 207. 98 Se é verdade que tal seria já uma característica natural de uma corte, sabemos, de acordo com Pedro Cardim, que «em meados de quinhentos boa parte da nobreza portugueza continuava a manter as suas residências espalhadas pelo reino, não encarando a morada do rei de Portugal como um lugar aonde tinham necessariamente de acorrer», in «A corte ré g ia . », p. 324.

Pág. 24 Parte 1 - Composição do Lugar vida»99, a aristocracia surge, conforme vimos, como uma ordem (ou “classe”) social que repartia, em alguns casos, o poder com a monarquia, criando por vezes «situações de equilíbrio instável entre ambas as forças»100.

Outro dos fenómenos importantes no aparecimento deste grupo, e já referido anteriormente, é o da sua cristalização ao longo do período de análise, sendo que para um período de mais de 150 anos, o número de casas titulares se manteve praticamente inalterado. Este fenómeno estaria intrinsecamente ligado à consolidação do poder dos Braganças, não existindo, no entanto, qualquer referência a uma política arquitectada e posta em prática pelos reis brigantinos. Ainda que não houvesse um “número mágico” nas cabeças que suportaram a coroa, este fenómeno, de consistência transversal a todos os reis entre D. Afonso VI e D. José, e de enorme disparidade face à realidade europeia e ao reinado imediatamente seguinte, o da rainha D. Maria I, levanta-nos algumas questões quanto à hipótese de mera coincidência, sobretudo porque nos parece salvaguardar tanto a liberalidade régia de ser considerada exagerada101, como condicionar uma posição forte conjunta da aristocracia contra o rei102. Adicionalmente, o facto de a cristalização ocorrer, não por casas aristocráticas criadas, mas por variação de casas ao longo do período, leva- nos a questionar se a criação de novas casas não estaria, de alguma forma, condicionada à extinção de outras. A título de exemplo, refira-se o período entre 1701 e 1730, onde o número total de casas titulares não registou qualquer variação face ao período anterior, tendo, no entanto, sido criadas cinco novas casas e extintas outras cinco103.

É precisamente sobre o restrito grupo da aristocracia portuguesa que nos debruçaremos ao longo deste trabalho, tendo optado por incluir não apenas a nobreza titular mas ainda os detentores dos ofícios maiores do palácio real que entendemos, como

99 George Rudé, A Europa no Século XVIII. A Aristocracia e o Desafio Burguês. Lisboa: Gradiva, 1988, p. 111. 100 Ibidem. Ideia também desenvolvida, para o exemplo português, em Nuno Gonçalo Monteiro, «Poder Senhorial, Estatuto Nobiliárquico e Aristocracia». In António Manuel Hespanha (coord.), «O Antigo R eg im e» ., p. 301. 101 Facto referido, nomeadamente, por um “comentador” político no tempo de D. Pedro II que referia que «Hoje ninguém se contenta com que o escudeiro se faça fidalgo, e o fidalgo ordinário melhorar-se à primeira nobreza, mas sim que todos querem ser príncipes contra a vontade de Deus, que não lhes deu esse nascimento, e contra as leis do reino, que não permitem que os homens cresçam com tanta desproporção. Deve Vossa Alteza atalhar essas demasias como a maior ruína das repúblicas, fazendo estar cada um dentro dos limites da sua esfera». ANTT, S. Vicente, Ms. 12, fols. 652-653, Junta sobre a obtenção de meios extraordinários, Lisboa, 8/I/1683, cit. in Rafael Valladares, A Independência de Portugal. Guerra e Restauração 1640-1680. [Liaboa]: A Esfera dos Livros, 2006, p. 102 O que não deverá ser, de todo, desvalorizado num século em que se assistiu, em Portugal, a duas deposições de reis por parte da aristocracia portuguesa. 103 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e Poder..., pp. 144-146.

Pág. 25 Os Puritanos referido anteriormente, representar também eles o princípio de título nobiliárquico associado - não obstante o facto de, muitos deles, pertencerem já a casas aristocráticas - a um senhorio exclusivamente simbólico, materializado no que melhor define uma das funções maiores da nobreza durante o Antigo Regime: o serviço ao rei.

Mas não seria esta a única característica identificadora do ethos aristocrático, para utilizarmos o conceito de Monteiro que o “identifica [como sendo] um «sistema de disposições incorporadas» legado por anteriores gerações, mas constantemente potenciado e redefinido no contexto das práticas sociais para as quais se orienta”104, ou seja, o modus operandi e o modus vivendi de um grupo social que, em muito, o orienta e o define em termos de modelos de relacionamento e comportamento, devendo ainda ser referidos a Casa, a liberalidade régia e o endividamento enquanto os pontos fundamentais de análise da aristocracia portuguesa105, sendo a transversalidade deste modelo comum a todos os que pertenciam a este grupo porque, conforme refere Elias, estamos «na presença de um sistema social de ordens e valores a cujas exigências ninguém pode fugir, sob pena de renunciar ao convívio com os seus semelhantes, de deixar de pertencer ao grupo enquanto tal.»106

Importa ainda referir que o ethos da aristocracia de Corte do Antigo Regime era também fortemente marcado pelo seu acesso a determinados direitos relativamente exclusivos (privilégios), que operavam na sociedade como factores de distinção susceptíveis de produzir desigualdades e de criar estruturas e hierarquias sociais, o que, segundo Monteiro, estabeleciam a consagração de uma «taxonomia institucionalizada, legitimada pela tradição» que «constituía o quadro de estruturação dos grupos sociais»107. Berger acrescenta que os privilégios, bem como o poder e o prestígio, existem não apenas enquanto factor de distinção susceptível de estratificação e hierarquização, mas ainda como as principais recompensas da posição social108.

Assim não é demais relembrar que o acesso a determinados privilégios definia uma correspondente posição social, e que esta se concretizava na obtenção de um status, aqui entendido conforme a proposta de Mousnier, ou seja, «pelas diferenças de estima social, de dignidade, de posição, de honra, de prestígio, verificadas entre os indivíduos e

104 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e P oder., p. 84. 105 Leia-se Ibidem, pp. 83-103. 106 Norbert Elias, A Sociedade., p. 42. 107 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 23. 108 Peter L. Berger, Perspectivas Sociológicas. Petrópolis: Editora Vozes, 2001, p.91.

Pág. 26 Parte 1 - Composição do Lugar entre os grupos sociais (famílias, corpos, colégios, comunidades), e pelo seu reconhecimento mútuo dessas diferenças numa dada sociedade», revelando-se em todas as mais variadas formas de interacção social que condicionavam os comportamentos dos homens «da aurora ao pôr do Sol, do nascimento à morte»109, sendo a manutenção desse mesmo status, ou o seu engrandecimento, uma das mais visíveis características do ethos aristocrático do Antigo Regime.

É neste enquadramento que os quatro pontos fundamentais acima referidos se desenvolvem e se tornam características fundamentais e transversais a todos os membros deste grupo, uma aristocracia que se reconhece enquanto uma «sociedade de “casas”»110, representando estas não apenas uma família, mas um património definido também por uma linhagem, uma disciplina, um senhorio, uma entourage de criados, comumente designados simplesmente por família, e, claro, um edifício, contribuindo todos eles para a definição e entendimento sobre o status que a Casa detinha por comparação com outras.

É precisamente na preservação, manutenção e aumento - ou, conforme referido nas Ordenações Filipinas, «conservação e memória» e «accrescentamento»111 - deste vasto património humano, cultural, económico e simbólico, que o endividamento aparece como uma realidade comum à maioria das casas aristocráticas, uma vez que era o status e não as receitas que definia os gastos de uma casa nobiliárquica no Antigo Regime, encontrando-se todas elas condicionadas por um conjunto de «despesas impostas pela luta pelo estatuto social e pelo prestígio»112. Mesmo após o terramoto de 1755, com tudo o que exigiria em termos financeiros às Casas aristocráticas portuguesas, nomeadamente na reconstrução dos seus palácios, foi suficiente para alterar esta circunstância, referindo Brelin aquando da sua estada em Lisboa que «não obstante os prejuízos incontáveis que os portugueses sofreram com o referido terramoto, nem por isso puseram de parte a sua aristocrática maneira de ser, já tão enraizada, antes pelo contrário vivem presentemente mais na opulência do que antes e por isso arriscam-se a ser depressa conduzidos à maior pobreza»113, o que, conhecendo hoje a situação financeira destas Casas, seria mais uma inevitabilidade do que um presságio.

Esta realidade, aliada a um discurso coevo assente na premissa de que uma

109 Roland Mousnier, As Hierarquias Sociais. Lisboa: Publicações Europa-América, 1974, pp. 12-13. 110 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e P oder., p.89. 111 De acordo com as Ordenações Filipinas, liv. IV, t.C., n.° 5, cit. in Ibidem, p. 93. 112 Norbert Elias, A Sociedade., p. 42. 113 Johan Brelin, De passagem pelo., p. 116.

Pág. 27 Os Puritanos nobreza grande engrandecia o rei e nas «insistentes recomendações [na literatura setecentista] para que os reis sejam liberais e generosos»114, ao qual se juntaria também, inevitavelmente, o argumento de que o abandono dos seus senhorios tinha ocorrido no âmbito do contrato que, desde tempos imemoriais, obrigava a nobreza a prestar consilium et auxilium ao Príncipe, levou a que esta situação crónica de endividamento tivesse sido, inicialmente, mitigada pela liberalidade régia, concretizada no monopólio e consequente concentração da maioria das doações régias neste restrito grupo, todas elas enquanto forma de remuneração115 dos serviços prestados à coroa através da assunção dos principais cargos de governo e conselho. Como observado por um estrangeiro não identificado que esteve em Lisboa em 1730, «os grandes de Portugal dividem-se em três ordens: a primeira, dos duques, a segunda, dos marqueses, e a terceira, dos condes. Nelas o Rei escolhe as pessoas que hão-de ocupar os principais cargos da corte, da guerra e dos governos ultramarinos.»116

Se no ponto anterior tínhamos questionado o poder efectivo de uma coroa que se afirma com o apoio de uma nobreza forte e influente, capaz, inclusivamente, de promover a deposição e coroação de reis, percebemos que essa mesma coroa começou, posteriormente, a afirmar-se através da dependência que estas grandes Casas aristocráticas começaram a ter da liberalidade régia, que em muito as foi limitando na sua capacidade de influenciar e condicionar efectivamente o poder do rei. Mas se é verdade que o rei e a coroa - aqui entendidos também enquanto “proto-Estado” - começaram a assumir um papel mais relevante na construção de um, como referiria Bourdieu, «monopólio da violência simbólica legitima»117, podemos questionar-nos se não existiram, dentro deste grupo, mecanismos que lhes permitissem definir hierarquias e posições relativas de status assentes em critérios independentes dos benefícios e doações da coroa, e até da vontade do próprio rei, assunto sobre o qual nos debruçaremos no ponto seguinte.

114 Pedro Cardim, «A Casa R e a l.» , p. 53. 115 Importa salientar que a liberalidade régia se concretizaria, na linguagem da época, não numa remuneração atribuída às casas aristocráticas, mas em doações que visavam premiar um bom serviço e não remunerá-lo, uma vez que a remuneração, através de um salário, de um serviço prestado colidiria com o ethos aristocrático, cf. Ibidem, p. 48. 116 C astelo Branco Chaves, O Portugal de D. João V ., p. 51. 117 Pierre Bourdieu, O P oder., p. 149.

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3. Os puritanismos: o sangue e as nobrezas

Fez-me sorrir ver nas estantes de Mafra tantos livros in-folio, in-quarto e in-oitavo, de genealogia. Oh quantos lá existem! Estes livros são, talvez, o alimento principal da bazófia insuportável dos

portugueses. 118

Os conceitos de puritanismo que pretendemos tratar neste ponto nem sempre receberam esta designação, apesar de terem estado, deste sempre, intrinsecamente ligados ao conceito de pureza, de origem remota e indiscutivelmente revestida de um cariz religioso. Eram precisamente os puros de coração1 1 9 aqueles que seriam os eleitos para o Paraíso, representando esta pureza, de alguma maneira, uma forma mais verdadeira e genuína de viver que, do cristianismo ao hinduísmo e do ocidente ao oriente, acabou por marcar sociedades e discursos, com inegável impacto nas suas estruturas e hierarquias. Figueirôa-Rêgo vem lembrar-nos, precisamente, que dificilmente poderemos defender que as questões de limpeza ou pureza são, ou foram, uma problemática específica do período em análise, estando presentes nas sociedades antigas e intimamente ligadas à prática da religião desde, pelo menos, o tempo de Abraão, comum às tradições judaica, cristã e islâmica120, não obstante o facto de terem, durante o mesmo período de análise, assumido contornos distintos no que aos regulamentos internos de grupos sociais diz respeito.

Assim, quer falemos de puritanismos relacionados com o sangue ou com a nobreza, convém evidenciar que ambos estão intrinsecamente relacionados entre si sendo por vezes desafiante a sua distinção121: ambos se transmitem de geração em geração e são legitimados pela manutenção de um estado de pureza, que é o mesmo que dizer isentos

118 Giuseppe Baretti, Cartas de Portugal., p. 194. 119 Referência bíblica que encontramos, por exemplo, no Sermão da Montanha, em Mt 5, 8. Bíblia Sagrada. Lisboa: Difusora Bíblica (Missionários Capuchinhos), 1991. 120 João de Figueirôa-Rêgo, «A Honra A lheia.», pp. 29-31. 121 Ideia também defendida por João Cordeiro Pereira, «A Estrutura Social e o seu Devir». In João José Alves Dias, «Portugal do Renascimento à Crise Dinástica», Vol. 4 da Nova História de Portugal (dir. de Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques). Lisboa: Editorial Presença, 1998.

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de qualquer mácula1 2 2 . Verdade é que, não obstante os inúmeros tratados sobre pureza, tanto de sangue como de linhagem, qualquer tentativa de uma abordagem linear e cabal - ou até científica - desta realidade, sairá naturalmente frustrada, porque até a simples assunção de que qualquer nobre seria, necessariamente, de puro-sangue (ou cristão-velho, para utilizarmos a linguagem coeva) vem ser posta em causa no auge da adesão ao puritanismo, tema central do presente estudo. Não obstante a constatação desta realidade ao mesmo tempo complexa e desafiante, avançamos com as duas definições que mais se encontram na literatura coeva sobre os mesmos puritanismos. Assim, a pureza de sangue foi recorrentemente descrita utilizando uma fórmula comum similar a «sem raça de mouro, judeu ou gente novamente convertida à nossa Santa Fé, e sem fama em contrário»123 e a de nobreza, essencialmente baseada no princípio de que um nobre é aquele que não tem qualquer ofício mecânico, assente no reconhecimento de que se viveria à lei da nobreza, com bestas e criados, textos amplamente reproduzidos em nobiliários e genealogias, mas apenas capazes de garantir o enquadramento na franja muito duvidosa que separava os nobres do povo: para o desvanecimento desta circunstância por vezes cinzenta, apenas uma ascendência de nobres cristãos-velhos conhecidos que confirmasse inequivocamente uma origem pura e antiga da linhagem.

Ao debruçarmo-nos sobre os puritanismos presentes na sociedade portuguesa do Antigo Regime importa perceber que não falamos de uma realidade exclusivamente portuguesa: outras sociedades, ao longo do tempo, recriaram estruturas sociais com base em critérios de distinção de sangue e nobreza ainda que nenhuma apresente as mesmas características do modelo português, motivo pelo qual, neste ponto e no seguinte, nos empenharemos em tentar perceber a forma como estes fenómenos conseguiram reproduzir em Portugal uma realidade única e, mais ainda, se esta realidade era percebida e entendida pelos contemporâneos como parte da sua identidade, tanto como resultado de uma consciência colectiva, como por oposição a outras realidades estrangeiras.

Propomos como ponto de partida para um melhor entendimento do enquadramento histórico destes puritanismos dois fenómenos observados na sociedade portuguesa: o primeiro relacionado com as sucessivas tentativas de consolidação do poder

122 E por isso limpo, motivo pelo qual encontramos, indistintamente, a utilização dos termos limpeza e pureza significando, na maior parte das vezes, o mesmo. 123 Reproduzimos o texto constante do regimento do Tribunal do Santo Ofício, de 1640, o primeiro a conter uma menção a questões de pureza de sangue, cit. in Bruno Feitler, «Hierarquias e mobilidade na carreira inquisitorial portuguesa: critérios de promoção». In Ana Isabel López-Salazar [et al.], Honra e Sociedade., p. 115.

Pág. 30 Parte 1 - Composição do Lugar do rei, materializado, entre outros, na discricionariedade do rei em nobilitar, essencial à legitimação da nobreza enquanto critério de distinção social; o segundo, a crescente animosidade em relação a “nações estrangeiras”, abarcando este conceito de estrangeiros pessoas não apenas de diferentes realidades geográficas, mas também, e sobretudo, de diferentes credos, nomeadamente os judeus.

É com a subida de D. João I ao poder que se começa a observar um movimento tendo como objectivo a consolidação do poder da coroa enquanto garante da estabilidade da nova dinastia, trazendo consigo uma «nova nobreza» ávida de confirmação por parte do novo centro do poder124, um fenómeno que podemos considerar, ainda assim, comum a todas as crises dinásticas. Se parece ser consensual entre historiadores que, neste período, a liberalidade régia se caracterizava pela «lógica de uma simbiose que garantia à nobreza o seu engrandecimento e à realeza a sua segurança»125 - não sem os seus sobressaltos, como a batalha de Alfarrobeira126 no reinado de D. Afonso V - é durante o reinado de D. João II, contudo, que se observa uma alteração do paradigma da relação entre a coroa e as grandes casas senhoriais, tendo sido este o último rei a matar alguém com a as suas próprias mãos, sorte de que padeceu, em 1484, o duque de Viseu, D. Diogo, tendo no ano anterior o duque de Bragança, D. Fernando II, sido também preso e degolado em Évora127, cimentando-se a superioridade da coroa sobre os, outrora, seus pares.

No reinado de D. Manuel I, e graças ao grande empreendimento dos descobrimentos que consagrou o rei como senhor inquestionável do território ultramarino, observa-se a promoção de «uma política centralizadora», sustentada nos rendimentos que dele advinham128, sendo esta realidade exponencialmente alavancada, mais simbólica do que monetariamente, claro, com a incorporação pelo seu filho, o rei D. João III, em 1551, das ordens religiosas militares e do seu vasto património, continental e ultramarino, na coroa129. Não será, então, difícil perceber que grande parte deste património foi investido na criação de uma rede de dependências que foram domesticando a nobreza, no exacto sentido em que a foram tornando “da casa” do rei, perdendo a sua autonomia senhorial, característica fundamental da nobreza feudal que povoou toda a

124 Rui Ramos [et al.], História d e ., pp. 135-151. 125 Ibidem, p. 160. 126 Batalha ocorrida em Portugal, em 1449, entre o exército do rei D. Afonso V e do seu tio, D. Pedro, duque de Coimbra, após este ter impedido o duque de Bragança de atravessar as suas terras. 127 Rui Ramos [et al.] - História d e., pp. 201-203. 128 João Paulo Oliveira e Costa, D. M a n u elI. , p. 193. 129 Fernanda Olival, As Ordens Militares., p. 4 e Ana Isabel Buescu, D. João I I I ., p. 236.

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época medieval. Por outro lado, o crescimento do aparelho do Estado e a necessidade de os príncipes em se rodearem de pessoas da sua confiança começou a talhar uma nova forma de ordenação social que contrapunha a ordem social estabelecida - que seriam sempre os mesmos a ocupar os mesmos lugares - à rede de lealdades pessoais do rei que promovia, necessariamente, o enobrecimento daqueles em quem confiava mas que não detinham ainda a qualidade para ocuparem os mais altos lugares de governo, aos quais Rudé chama burocratas130 mas que em Portugal foram conhecidos, sem que os termos fossem institucionalizados, por ministros ou validos131.

É esta imagem de uma linhagem real que continuamente, ao longo do século XVI, se empenha em garantir a sua supremacia face à nobreza do reino, que nos permite, posteriormente, perceber que os séculos XVII e XVIII, não obstante todos os constrangimentos de ordem política aos quais estiveram expostos os monarcas, foram marcados por uma indiscutível centralização do poder político na pessoa do rei e que, mesmo em momentos marcadamente aristocráticos, a legitimidade da acção de governo da aristocracia foi sempre garantida pela pessoa real.

Importa também salientar que este processo de centralização do poder real assentou muito mais numa política de dádiva, para usarmos a definição de Mauss132, do que no recurso recorrente ao confronto e ao conflito e foi, curiosamente, esta opção política que mais danos causou na antiga nobreza medieval portuguesa, uma vez que resultou no aparecimento de uma nobreza de serviço - a par com a discricionariedade do rei em nobilitar - levando a que, no seio da nobreza, se criassem mecanismos de distinção que tentaram, e na maior parte conseguiram, estigmatizar linhagens recém-criadas, apesar de fortemente patrocinadas pela coroa.

Partindo do pensamento tardo-medieval já referido relativo a uma concepção corporativa de sociedade onde todos os seus membros encontravam a sua função (o seu lugar) através de uma ancestral necessidade de ordenação, o conceito de nobreza começa, então, por ser entendido como esta comunhão com uma realidade divina, a nobreza teológica, resultado de um processo de imitação da vida de Cristo e dos Santos, evoluindo,

130 George Rudé, A Europa n o ., pp. 160-161. 131 Pedro Cardim, «A Casa R e a l.» , p. 43. 132 Relembramos que, para Marcel Mauss, «a dádiva não retribuída torna ainda inferior aquele que a aceitou, sobretudo quando é recebida sem espírito de retorno», sendo que «as sociedades progrediram na medida em que elas próprias, os seus subgrupos e, enfim, os seus indivíduos, souberam estabilizar as suas relações, dar, receber e, enfim, restituir». In Ensaio sobre a dádiva, Lisboa, Edições 70, 1988, p. 185 e p. 204.

Pág. 32 Parte 1 - Composição do Lugar no entanto, e de acordo com Oliveira133, para outros dois tipos de nobreza, a natural e a civil, ambas resultado de uma “conquista” (ou recompensa de um esforço) e, a primeira, assente numa linhagem.

Apesar do entendimento ideológico e, digamo-lo também, romântico, de nobreza assentar sobre as qualidades e boas maneiras dos homens, o seu entendimento conceptual na sociedade do Antigo Regime reflectia-se sobretudo, como já referido acima, na identificação com um determinado estilo de vida ou, no caso particular de instituições como as Universidades, a magistratura, o Tribunal do Santo Ofício ou as Ordens Militares Religiosas, na confirmação, por provança, de que não se descendia de pessoa «mecânica», também designado por limpeza de ofícios, obstáculo ainda assim ultrapassável caso não se verificasse, podendo o rei intervir, como muitas vezes interveio, garantindo a dispensa de provanças de limpeza mecânica desde que cessassem todos os ofícios mecânicos tanto do habilitado como dos seus familiares134. Foi precisamente esta manifestação da liberalidade régia na nobilitação que gerou na Corte portuguesa, entre a nobreza dos ofícios e a de linhagem, discórdias e invejas, e que potenciou inúmeros conflitos dentro de um grupo social cada vez mais heterogéneo, heterogeneidade essa que, pensamos, a antiga nobreza portuguesa nunca demonstrou vontade de acolher, criando antes entraves à sua integração.

Mas como refere Olival no seu grande estudo sobre os ingressos na Ordens Militares Religiosas que julgamos poder ser, na sua essência, transponível para os demais ingressos em instituições como o Tribunal do Santo Ofício, as Universidades, as Misericórdias e grande parte das Confrarias, «as exigências [do ingresso] eram grandes para todos os que eram alvo de inquérito: pureza de sangue, o que implicava não descender de judeus, cristãos-novos e mouros; limpeza de ofícios, isto é não ter ofício manual; nobreza, ou por outras palavras, ter um estilo de vida reputado como tal; não ser herege, nem ter cometido crimes de lesa-majestade; não provir de gentios ou de mulatos»135, sendo que aquele que maior influência teve na sociedade portuguesa do Antigo Regime e que motivou muitos a sujeitarem-se ao processo de provanças como

133 Luiz da Silva Pereira de Oliveira, Privilegios da Nobreza, e Fidalguia de Portugal. Lisboa: Officina de João Rodrigues Neves, 1806, pp. 1-14. 134 Fernanda Olival, As ordens Militares., p. 56, para o caso das Ordens Militares Religiosas. 135 Ibidem, p. 164.

Pág. 33 Os Puritanos forma de atestar, antes de mais a sua qualidade136, foi a questão da limpeza de sangue157.

Parece existir, na historiografia recente, um entendimento comum quanto ao facto de a origem da limpeza de sangue enquanto questão estruturante da sociedade portuguesa do Antigo Regime ter a sua origem no Édito de expulsão dos judeus de D. Manuel I, de 1496, no âmbito das negociações de casamento do rei português com a infanta D. Isabel de Espanha, filha dos reis católicos. Aliás, parece ser consensual a ideia de uma «coexistência pacífica ao longo do período medieval das comunidades judaicas em Portugal, que mantiveram a sua identidade e autonomia»138, cenário que se terá deteriorado após o Édito e, sobretudo, pelo baptismo forçado dos judeus que foram impedidos de sair de Portugal, não obstante, como sabemos, este ter sido seguido por uma paz precária, sendo estes neófitos cristãos isentados de quaisquer inquirições sobre a sua fé por um período de vinte anos. É possível que o criptojudaísmo, ao invés de um efectivo processo de conversão, que esta acção indiscutivelmente promoveu fosse, desde início, o objectivo do rei, saindo assim duplamente beneficiado: por um lado possibilitava o seu casamento com aquela que, à data do casamento, era já a herdeira do trono espanhol; e por outro a manutenção dos judeus em Portugal, agora entendidos como cristãos, com tudo o que isso relevava para a coroa e reinos no que à importância desta comunidade, para a economia portuguesa, dizia respeito. A realidade, no entanto, foi bastante diferente e marcou indelevelmente a história de Portugal, com repercussões também ao nível da estrutura da sociedade portuguesa.

Não será difícil compreender que o criptojudaísmo existiu e perpetuou-se na sociedade portuguesa, até porque não existiu nenhum investimento verdadeiro na conversão de todos estes judeus baptizados, podendo identificar-se que se este foi, de facto, acontecendo ao longo do tempo, ter-se-á devido ao eventual acesso que estes novos cristãos possam ter tido a casamentos com famílias cristãs-velhas139. No entanto, na

136 Rui Ramos [et. al], História d e ., p. 240. 137 Esta de contornos diferentes da limpeza mecânica, no que à acção do rei diz respeito, porque de acordo com Fernanda Olival, «depois de 1681, não há na Chancelaria da Ordem de Cristo uma só carta de hábito que assinale a dispensa de sangue, nem de modo explícito, nem camuflado». In As ordens m ilitares., p. 289. 138 Rui Ramos [et. al.], História d e ., p. 236. Ideia também presente em Jorge Martins, Portugal e o s ., p. 11 e Emílio Manuel da Silva Corrêa, Judaísmo e Judeus na Legislação Portuguesa. Da Medievalidade à Contemporaneidade. Lisboa: [s.n.], 2012. Dissertação de Mestrado, p. 13. 139 É interessante a análise de María Antonia Bel Bravo que, não obstante a sua opinião, deixa, desde logo, antever um problema mais complexo, quando escreve: «Así pues, los cristianos «viejos» con sus exigencias de limpieza, y los cristianos «nuevos» con su afán de conservar las tradiciones judaicas, como veremos, hicieron todo lo posible por permanecer como dos grupos netamente separados, pero el matrimonio entre ellos logró lo que ninguno de los dos grupos quería: la integración. Algunos tratadistas hablarán de

Pág. 34 Parte 1 - Composição do Lugar memória colectiva ficou bem vincada uma imagem de uma conversão forçada e, por isso, não verdadeira, permitindo-nos enquadrar a referência à fama ou reputação em todos os estatutos de limpeza de sangue que vão povoar os acessos às principais instituições do Portugal Moderno, tornando claro o entendimento de que os termos cristãos-novos, homens de nação, gentes da nação hebraica, entre tantos outros, queriam dizer única e exclusivamente judeus140.

Verdade é o facto de, entre os finais do século XVI e os princípios do século XVII, os estatutos de limpeza de sangue terem assumido uma relevância face aos de mecânica, contrariando o que se verificava no passado uma vez que parte da elite aristocrática descendia, por bastardias reais, de judias, temendo sobretudo a ascensão de classes como a dos letrados que podiam comprometer o seu acesso quase exclusivo aos ofícios maiores do reino141, sendo disso exemplo a instituição dos estatutos de limpeza de sangue, por exemplo, em 1577, na Misericórdia de Lisboa, em 1602 nas habilitações para a magistratura142 e, finalmente, no Regimento da Inquisição de 1640, relativamente aos ministros inquisitoriais143.

Directamente relacionado com o extremar das posições em relação aos cristãos- novos parece ainda ter estado a política dos Habsburgos que permitiu que o seu peso aumentasse na sociedade portuguesa, tendo os cristãos-novos tentado, inclusivamente, negociar um “perdão geral” com a Coroa entre 1602 e 1604144, tendo em 1627 conseguido obter importantes regalias da Coroa, ainda que sob certas limitações145. Apesar de a Restauração dever ser devidamente enquadrada pela «grave crise económica que sofria Portugal, o crescente mal-estar social e as sucessivas derrotas militares nos territórios do ultramar», bem como por uma realidade política dual caracterizada pela ausência do rei da Corte de Lisboa, a verdade é que se generalizou a ideia que «o reino estava infectado

«contaminación», pero a mi juicio sería más acertado hablar de integración. El matrimonio se concibe así como la variable más sociológica de la población, puesto que entran en juego decisiones e intereses particulares, determinadas estrategias culturales, sociales, patrimoniales, de parentesco, etc. encaminadas, sobre todo, a la estabilidad y seguridad social.». In «Matrimonio versus ‘Estatutos de Limpieza de Sangre’ en la Espana Moderna». In Hispania Sacra, LXI, 123 (2009), pp. 106. 140 Juan Ignacio Pulido, Judeus e Inquisição no tempo dos Filipes. Lisboa: Campo da Comunicação, 2007, p. 23. 141 João de Figueirôa-Rêgo, A honra alheia., p. 47. 142 Rui Ramos [et. al.], História d e., p. 240. 143 Bruno Feitler, «Hierarquias e mobilidade na carreira inquisitorial portuguesa: critérios de promoção». In Ana Isabel López-Salazar [et al.], Honra e Sociedade., p. 115. 144 Rui Ramos [et. al.], História d e., pp. 288-289. 145 António de Oliveira, Movimentos Sociais e Poder em Portugal no Século XVII. Coimbra: Instituto de História Económica e Social da Faculdade de Letras de Coimbra, 2002, p. 329.

Pág. 35 Os Puritanos de judaizantes»146, e que a questão anti-judaica terá também contribuído para o desenrolar da revolta contra os Habsburgos, facto ao qual acontecimentos como os motins dos estudantes da Universidade de Coimbra e o desacato de Santa Engrácia (1630)147 não foram indiferentes, mas ainda assim correlacionados entre si, porque conforme defende Oliveira: «as épocas de crise económica amplificam a violência contra o judeu ou criptojudeu»148.

Indiscutível é o facto destes puritanismos terem marcado profundamente a realidade portuguesa dos séculos XVII e XVIII e de, como tão bem sintetizado por Marcocci e Paiva, «ser tido por nobre, ter sangue limpo, ascender socialmente e alcançar um estatuto honrado, eram objectivos partilhados pela generalidade dos indivíduos, a que se chegava, por norma, após um percurso que se podia prolongar por mais do que uma geração, que previa inquirições na genealogia familiar e, por vezes, a inspecção cruzada de habilitações recebidas por diferentes instituições»149, aliado ao facto de que «ortodoxia que o Santo Ofício tutelava já não visava somente um estado de plena e sincera adesão aos preceitos da fé e respeito pela disciplina da Igreja, mas também um ideal de perfeição social, o qual era partilhado pela maioria dos portugueses, por convicção ou mera conveniência»150, algo transversal à sociedade portuguesa, e inegavelmente ligado a um sentimento, consciente ou inconsciente, de identidade e de sentido de pertença a uma cultura, tema que abordaremos no ponto seguinte.

4. A classe provável dos Puritanos

Quando eles assim casam, elas são as que casam

151 pior.151

146 Giuseppe Marcocci e José Pedro Paiva, História da Inquisição., p. 159. 147 A 4 de Março de 1630 os cristãos-novos são expulsos da Universidade de Coimbra, tendo-se iniciado nesse dia e prologando-se durante uma semana um motim de estudantes. Relativamente ao Desacato de Santa Engrácia, leia-se o ponto 3 do capítulo II. 148 António de Oliveira, Movimentos Sociais., p. 320. 149 Giuseppe Marcocci e José Pedro Paiva, História da Inquisição., p. 245. 150 Idem, p. 243. 151 D. Pedro de Sousa, 1.° conde do Prado, sobre os fidalgos que aceitavam, por dinheiro, casar com mulheres baixas, In Ditos portugueses dignos de memória. História íntima do século XVI anotada e comentada por José H. Saraiva. Póvoa do Varzim: Publicações Europa-América, [s.n.], p. 293.

Pág. 36 Parte 1 - Composição do Lugar

É neste lugar, a Corte, entendido enquanto o espaço de interacção entre o rei e os seus cortesãos, caracterizado pela existência de puritanismos de sangue e de nobreza, nos quais a primeira nobreza de corte, títulos e ofícios maiores, assume um papel de maior relevância, que assentaremos a nossa análise sobre um grupo específico. De acordo com a proposta de Bourdieu que defende que um determinado grupo, ou classe, pode ser estudado como tal mesmo que não seja um «grupo mobilizado para a luta» - introduzindo o conceito de classe provável, ou seja, um «conjunto de agentes que oporá menos obstáculos objectivos às acções de mobilização do que qualquer outro conjunto de agentes»152 - propomos a razoabilidade de estudar um conjunto de indivíduos que mantém uma prática social comum como um grupo, não obstante a possibilidade de inexistência de um vínculo formal entre eles.153

Aliás, esta análise é sobretudo possível porque a realidade do Antigo Regime se encontra enformada por um conjunto de juízos de valor sociais assentes, muitas vezes, «em critérios mal definidos, mais ou menos vagos, frequentemente implícitos, e de que os indivíduos têm consciência limitada»154, que fundamentam, como diria também Mousnier, as diversas escalas de estratificação social, das quais, na sua perspectiva, a mais importante será «a do estatuto social, que se define pelas diferenças de estima social, de dignidade, de posição, de honra, de prestígio [ . ] e pelo reconhecimento mútuo dessas diferenças numa dada sociedade»155.

A característica fundamental do grupo dos Puritanos, cujo estudo propomos enquanto classe provável, prende-se com os esforços encetados nas suas políticas de reprodução social com vista à preservação da pureza do sangue das suas Casa e linhagem. Convém esclarecer que a novidade é introduzida pela impossibilidade biológica de alteração de estado, inviabilizando qualquer mobilidade social, o que contraria o que encontramos, por exemplo, em outras sociedades do Antigo Regime em que «são necessárias, em média, três gerações para se mudar de ordem ou, por vezes, para mudar de «estado» [e onde] a mobilidade social é limitada e controlada pela sociedade.»156

152 Pierre Bourdieu, O P oder., p. 137. 153 Devemos, no entanto, lembrar que muitas vezes o conceito de grupo é «tão ambíguo como indispensável», dado que, como tão bem refere Peter Burke, é possível observar em todas as sociedades relações que «incluem o sentido de solidariedade no seio de um determinado grupo, o seu sentido da diferença em relação (e possível conflito com) aos outros grupos e o sentido da hierarquia, da posição relativamente aos outros». Peter Burke, Sociologia e História. Porto: Edições Afrontamento, 1990, p. 56. 154 Roland Mousnier As hierarquias., p. 7. 155 Ibidem, pp. 12-15. 156 Ibidem, p. 20.

Pág. 37 Os Puritanos

Talvez por isso seja mais intuitiva a identificação de um grupo como o dos Puritanos com o de uma sociedade de castas onde «a pureza religiosa provém da pureza do sangue [e] o pertencer a uma casta é uma questão de raça»157, apesar de não podermos ir muito além da identificação uma vez que «o sistema de castas não é um mecanismo»158 e como sabemos os Puritanos foram acusados pelo marquês de Pombal de que «não só se arrogarão pureza para si, mas tambem espiatorio para outros, de sorte que todos os que casavão nellas [Casas puritanas], ficavão tambem Puritanos, sem macula alguma, se os defeitos que antes lhe attribuirão, erão de natureza, que permitisse esconderem-se na escuridade dos princípios donde se derivavão, havendo destas expiações conhecidos exemplos»159. Assim, e não seremos os primeiros a propô-lo, mais do que um sistema de castas, podemos falar de um grupo cuja reprodução social se encontra orientada por um princípio de casta160, mais constante no discurso do que na prática e que continua a ser muito influenciada por uma matriz vincadamente aristocrática e muito condicionada pela sua filial relação com o príncipe.

E se é verdade que um grupo destes dificilmente poderia ter “vingado” na sociedade portuguesa do Antigo Regime sem o patrocínio real, nomeadamente durante o reinado de D. Pedro II, considerado «um dos mais brilhantes da historia da aristocracia portugueza, e talvez o do apogeu da sua influencia na vida nacional»161 - onde nos parece poder verificar-se um aumento da influência do partido puritano na Corte dos reis de Portugal - é para o reinado de D. João V que inúmeras referências passam a associar este movimento a um sentido mais estrito do puritanismo, sendo também no século XVIII onde encontramos inúmeras referências feitas por estrangeiros que passam pela Corte portuguesa e que referem a existência deste grupo.

Com base nos principais relatos destes estrangeiros162, é a experiência da fé, pelos portugueses, a característica mais comummente referida, acentuando, no entanto, que esta religiosidade é superficial, fanática, supersticiosa, escrupulosa e violenta, sendo Gorani o mais pertinaz ao identificar a contradição existente entre «os esforços empregados para

157 Ibidem, p. 23. 158 Ibidem, p. 25. 159 António Delgado da Silva (org.), Supplemento., p. 189. 160 Conceito proposto pelo orientador da presente Dissertação, o Prof. Jorge Pedreira. 161 Zacharias d ’Aça, Um D. João de Castro de Capa e Espada. Estudo histórico sobre a aristocracia e a sociedade portugueza no seculo XVIII. Lisboa: Imprensa de Libanio da Silva, 1900, pp. 22-23. 162 Baseámo-nos nos relatos dos estrangeiros publicados, tanto ao género de livros de viagens, como epistolar, bem como em alguns trabalhos sobre a estadia de estrangeiros em Portugal, devidamente identificados no ponto relativo às Fontes, na Introdução desta dissertação.

Pág. 38 Parte 1 - Composição do Lugar converter maometanos, judeus e heréticos à religião católica romana»163 e a observância dos efeitos que os estatutos de limpeza de sangue causavam na sociedade portuguesa, nomeadamente quanto à violência do Auto de Fé, que, em Portugal, adquiria um estatuto de festa visto «constituir para os portugueses um verdadeiro divertimento»164. A par desta constatação está o facto de os portugueses serem anti-estrangeiros, porque «tudo o que é estrangeiro lhes desagrada e indigna»165 e um «português considera qualquer estrangeiro um herege»166, não obstante Lisboa estar cheia «de uma tal variedade de caras singulares, que fazem o viajante duvidar se Lisboa fica na Europa» sendo «lícito prever que, daqui a poucos séculos, não existirá uma gota de sangue português puro, porque terá sido todo corrompido pelos judeus e negros, apesar do seu muito santo tribunal da Sagrada Inquisição»167, levando a que lord Tyrawley comentasse, com tanto de graça como de perspicácia, que os portugueses «se dividiam em Judeus e em Sebastianistas. Metade, disse ele, espera a vinda do Messias e a restante a chegada de D. Sebastião.»168 Baretti, no entanto, não se fica por aqui, acrescentando que «são poucas as famílias portuguesas que se mantêm europeias puras e, com o andar do tempo, abastardar-se-ão todas»169, promovendo, necessariamente, a discussão se a pureza, no discurso coevo, não estaria também relacionada com um embrionário sentido de nacionalidade.

Ana Cristina Silva e António Manuel Hespanha, quando abordam a questão da existência de uma identidade portuguesa no Antigo Regime, referem «que os Portugueses não eram apenas isso; que eram também (e sobretudo) católicos, que eram (muito menos) europeus, que eram hispânicos; que eram, depois, minhotos ou beirões; vassalos do rei ou de um senhor; eclesiásticos, nobres ou plebeus; homens ou mulheres. E que, sendo tudo isto, sem deixarem de ser portugueses, eram portugueses de uma maneira muito menos nítida e unidimensional do que o que hoje supomos, à luz dos paradigmas de distinção nacional (agora, em português) estabelecidos desde o século passado»170. Omitiram, nesta definição, que os portugueses eram brancos, o que, desde sempre e não se observando, originou suspeitas de mesclas com outras “raças”, como então se chamavam, e que, não obstante os eventuais regionalismos (sotaques) que existissem,

163 Giuseppe Gorani, Portugal. A Corte e o . , p. 107. 164 Charles Fréderic de Merveilleux in Castelo Branco Chaves, O Portugal d e ., p. 168. 165 Ibidem, p. 149. 166 Heinrich Friedrich Link, Notas de um a., p. 135. 167 Giuseppe Baretti, Cartas de Portugal., p. 158. 168 Cit. in James Murphy, Viagens e m ., p. 190. 169 Giuseppe Baretti, Cartas de Portugal., p. 119. 170 In «A Identidade Portuguesa». In António Manuel Hespanha, «O A ntigo. », p. 19.

Pág. 39 Os Puritanos partilhavam uma língua comum, capaz de distinguir efectivamente um português de um estrangeiro, tanto pela fala, como, por exemplo, pelo nome próprio utilizado. Percebemos então que, para o período de análise, a identidade portuguesa resultava da intersecção de um conjunto de características, algumas exclusivas, como a língua e o nome próprio, outras não, como a religião ou a cor de pele. É certo, e comprovamo-lo pelos relatos dos estrangeiros que referimos acima, que estas características foram suficientes para definir uma identidade portuguesa susceptível de análise por comparação/ oposição com outras, não apenas europeias, mas existe da parte de historiadores e sociólogos um cuidado na abordagem “interna” deste conceito, ou seja, enquanto identidade que nasce de uma consciência colectiva, geográfica e socialmente transversal, e por isso, nacional.

Ainda assim, sabemos que a questão da identidade foi sendo forjada tanto «pelas alterações políticas» como pelos «conflitos com os castelhanos»171, salientando Sobral que a realidade portuguesa apresenta ainda «uma forte homogeneidade e expulsou ou integrou - com violência - há muitos séculos etnias minoritárias, como os mouros e os judeus»172. Assim, permitimo-nos questionar se correntes como o lusitanismo e o sebastianismo - enquanto óptica mística, profética e mitológica das origem e destino do povo português como povo eleito -, aos quais poderíamos acrescentar os puritanismos tratados no ponto anterior, não foram, para a aristocracia portuguesa, a concretização de uma necessidade de identificação com um sentimento puramente português, através da criação de mecanismos de garantia da pureza das sociedade e “raça” portuguesas, com impactos visíveis tanto na imagem que deixavam nos estrangeiros que visitavam Portugal, como na definição das políticas e estruturas endógenas.

Principiámos o presente ponto com uma frase atribuída ao 1.° conde do Prado, D. Pedro de Sousa, onde este deixa transparecer que, não obstante ser a maior obrigação de um chefe de uma família fidalga o engrandecimento da sua Casa, este não deverá ser obtido à custa do empobrecimento da qualidade sua linhagem173, o que somado ao crescente sentimento anti-judaico e a «uma política, com alguns resultados, destinada a promover os casamentos mistos entre fidalgos portugueses e castelhanos e, ainda, a

171 José Manuel Sobral, «A formação das nações e o nacionalismo: os paradigmas explicativos e o caso português». In Análise Social, vol. XXXVII (165) (2003), pp. 1108-1109. 172 Idem, «Nações e Nacionalismo. Algumas teorias recentes sobre a sua génese e persistência na Europa (Ocidental) e o caso português». In Inforgeo, 11 (1996), p. 31. 173 Um paradigma que se perdeu, de alguma forma, com as conquistas ultramarinas, como defende Ivone Correia Alves, Gamas e Condes da Vidigueira: percursos e genealogias. Lisboa: Edições Colibri, 2001, p. 159.

Pág. 40 Parte 1 - Composição do Lugar deslocação de muitos fidalgos portugueses para Madrid»174 nos tempos dos Habsburgos, não será difícil enquadrar a realidade portuguesa que sai da Restauração, principalmente em relação à sua nobreza, como extremamente sequiosa de um paradigma capaz de marcar uma identidade indiscutivelmente portuguesa e inegavelmente pura e de se afirmar face à muita nobreza portuguesa que se aliou, neste tempo, aos castelhanos, tendo inclusivamente muitos deles permanecido em Madrid. Também interessantes são as conclusões de Monteiro quando analisa o grupo dos Puritanos e conclui que, longe de serem a maior e mais graduada nobreza do reino, é sobretudo composta por Casas aristocráticas recém tituladas que se conseguem destacar ao apoiarem D. João IV175.

Terminamos salientando que, longe de querermos defender a existência ou não de um sentido de nacionalidade portuguesa durante este período, a questão da identidade foi sendo advogada recorrentemente pelos Puritanos numa tentativa de legitimação assente na preservação da pureza dos “verdadeiros e imaculados” portugueses, não obstante o cuidado em manter esta questão a um nível quase exclusivo da reprodução social das suas Casas, numa tentativa de não constituir nunca, directamente, uma afronta ao poder real que lhes custaria, como mais tarde confirmamos pela leitura do Alvará Puritano, uma parte considerável do seu património, parecendo-nos inegável que a questão puritana, até pelas imagens que deixou nos estrangeiros que passaram por Portugal, estará intimamente relacionada com um entendimento de identidade capaz de justificar posições hierárquicas privilegiadas no acesso aos principais benefícios resultantes da liberalidade régia.

174 Rui Ramos [et al.], História d e ., pp. 287-288. 175 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 133.

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Pa r t e 2 - Os Pu r it a n o s

- § -

1. O Alvará Puritano

A sua prosa não podia considerar-se um modelo de elegância; pelo contrário, era um tanto pastosa e pesada, mas continha ideias; boas ou más, erróneas ou certas, vinha prenhe de ideias, coisa rara num tempo em que os escritores e os poetas se compraziam em discursos difusos e em versos ocos, vazios de sinceridade e alheios a qualquer ideal elevado}16

Foi Monteiro o primeiro a propor que os Puritanos fossem estudados a partir do já referido Alvará de 1768177 - que marca o princípio da sua extinção enquanto tal - proposta que seguimos no presente trabalho, não apenas por coerência historiográfica, mas, sobretudo, porque acreditamos ser este a melhor justificação para a quase total ausência de documentação sobre este grupo, bem como sobre a importância que lhe era reconhecida na sociedade portuguesa do Antigo Regime, capaz de promover um enquadramento legal contra a sua própria existência. Adicionalmente, não deixamos de reconhecer a ironia subjacente ao facto de os documentos que tiveram como objectivo apagar da história os Puritanos serem precisamente os mesmos propostos para principiarem a imortalização da sua realidade nos anais da história portuguesa, definitivamente não enquanto paradigma, mas inquestionavelmente enquanto facto.

No presente ponto debruçar-nos-emos, portanto, sobre o compêndio de legislação pombalina produzido em 1768 com o objectivo específico de tratar o tema dos Puritanos, tentando enformar o desenvolvimento desta segunda parte da dissertação a partir das

176 Mário Domingues, sobre o marquês de Pombal, in Marquês de Pombal., p. 33. 177 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 133.

Pág. 43 Os Puritanos principais ideias e conclusões aí defendidas. Este compêndio inclui não apenas o Alvará de 5 de Outubro de 1768 (“Alvará”), mas também o Parecer do Conselho de Estado (“Parecer ”) e a Consulta da Mesa do Desembargo do Paço que o precedeu (“ Consulta”), datados, respectivamente, de 3 de Outubro e de 23 de Setembro de 1768, e ainda o Termo que fez o conde de Vilar Maior (“ Termo” em execução do Alvará, datado de 11 de

Outubro do mesmo ano178.

Não será de mais lembrar a complexidade política inerente ao período em análise: se é verdade que para o Antigo Regime é o príncipe que assume o epicentro de todas as relações de poder, enquanto cabeça de uma concepção corporativa da sociedade179, o reinado de D. José poderá ser descrito por um centro bicéfalo, onde as fronteiras entre a vontade do rei e a pena do marquês de Pombal são, na maioria das vezes, ténues e imperceptíveis180. Importante para o entendimento da legislação josefina/ pombalina está o facto, sustentado por Pombal, «que a majestade não consistia somente na pessoa do rei, mas também nas suas leis»181, que importa ter presente de uma forma especial neste estudo uma vez que, por um lado, nos permite intuir o empenho do ministro de D. José em reflectir o seu ideário político através das suas leis e por outro, apercebermo-nos da mudança que se está a operar na sociedade portuguesa, nomeadamente na substituição do paradigma corporativo pelo regalismo, que se começa a operar no consulado pombalino182.

Talvez um dos aspectos mais desafiantes numa análise ao compêndio de legislação pombalina relativo aos Puritanos seja o seu enquadramento temporal na acção política do ministro de D. José. É certo que os dois vectores maiores desta mesma acção política podem ser encontrados como fundamento do próprio Alvará, tanto a “domesticação” da Nobreza - intimamente ligada à secularização do poder político -, como, paralelamente, a tentativa de eliminar da sociedade portuguesa quaisquer distinções entre cristãos meramente baseadas na duração temporal da sua conversão. Mas se relativamente ao primeiro, o grande apogeu do controle da nobreza ocorre com o Processo dos Távoras em finais da década de 50 do século XVIII (permanecendo muitos

178 Cf. Anexo 2. Doravante utilizaremos as referências a itálico, seguidas do número da página a que respeitam, com base na versão de António Delgado da Silva (org.) - Supplemento. 179 Angela Barreto Xavier e António Manuel Hespanha - «A Representação d a . , pp. 114-116. 180 Nuno Gonçalo Monteiro, D. J o s é ., pp. 9-12. 181 Rui Manuel de Figueiredo Marcos, A Legislação., p. 100. 182 Angela Barreto Xavier e António Manuel Hespanha, «A Representação d a . pp. 124-125. António Leite defende também a ideia de «regalismo exacerbado», in António Leite, A Ideologia., p. 3.

Pág. 44 Parte 2 - Os Puritanos aristocratas presos até à morte de D. José), já o segundo só é efectivado em 1773 com a legislação contendo o fim da distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos. Em 1768, e não obstante encontrarmos em algumas colectâneas de legislação a assunção de que este

Alvará se enquadraria no segundo vector acima referido183, não encontramos vestígios de uma motivação maior de Pombal, ou do rei, existindo apenas uma correlação temporal com a publicação da Dedução Chronológica e Analítica (1767) e a criação da Real Mesa Censória e a abolição dos róis de fintas, as listas relacionadas com o pagamento de impostos dos cristãos-novos, em Abril e Maio de 1768184, respectivamente, ou com o casamento não consumado do conde da Redinha, filho segundo de Pombal, com D. Isabel Juliana de Sousa Coutinho, em Abril de 1768. Maxwell avança ainda com a hipótese da legislação pombalina contra os Puritanos se enquadrar no âmbito «de um processo de enobrecimento dos colaboradores de Pombal, recrutados entre mercadores e homens de negócios que participavam nas empresas com apoios estaduais»185, o que dificilmente poderia ser considerada uma questão de ingresso na aristocracia de Corte.

Voltando ao compêndio de legislação relativa aos Puritanos, este encontra-se sustentado nos estatutos da Confraria dos Escravos do Santíssimo Sacramento da Freguesia de Santa Engrácia que, como já referimos, tinha sido criada para expiar o desacato ao Santíssimo Sacramento ocorrido na Igreja da mesma freguesia, em 19 de

Maio de 1630, sendo composta pela «primeira, e mais graduada Nobreza»186. De acordo com o texto do Alvará, estes estatutos teriam sido alterados, em 1663, passando a incorporar, no seu capítulo 5.°, que «A Eleição [de novos membros] se fará nomeando cada hum dos doze, huma pessoa para irmão, declarando debaixo de juramento, que tem recebido, que não se lhe falou na dita pessoa para a propor, e que a tem por Christão

Velho sem nunca se entender o contrario»187, entendido este como sendo «sem fama ou

183 Nomeadamente, e como já referido, a colectânea em BNP, COD. 6937. 184 Jorge Martins, Portugal e o s ., p. 213. 185 Para Kenneth Maxwell, tal poderia ser demonstrado pelo facto de um desses homens de negócio da praça de Lisboa, Joaquim Inácio da Cruz, ter recebido, em 1768, «o título de Sobral e as propriedades a ele vinculadas», o que julgamos tratar-se de um equívoco uma vez que Joaquim Inácio da Cruz só terá adquirido terras na Vila de Sobral de Monte Agraço em 1770, datando a instituição deste morgado de 19 de Dezembro de 1776185. Adicionalmente, já desde 1763 que o seu irmão, José Francisco da Cruz, seria Cavaleiro Fidalgo da Casa Real185, ao qual se seguirá Joaquim Inácio em 5 de Janeiro de 1769, esta data já temporalmente correlacionável com a do Alvará185, sendo que à data, releva acrescentar, j á exercia os cargos de Tesoureiro-mor do Erário Régio, Provedor da Junta do Comércio e Conselheiro da Fazenda Real. Kenneth Maxwell, O Marquês d e ., p. 170 e Mário Eurico Lisboa, O Solar do Morgado da Alagoa. Os irmãos Cruz e os significados de um património construído (segunda metade do século XVIII). Lisboa: Edições Colibri, 2009, pp. 95-101. 186 Consulta, p. 188. 187 Alvará, p. 182.

Pág. 45 Os Puritanos rumor em contrario verdadeira ou falsa», parecendo este acrescento resultar da interpretação, resultante da tradição, da fórmula e não da sua redacção188. Este facto parece confirmado também pela visão de Baretti que em 1760 escrevia que «a incessante diligência da Inquisição em detectar judeus, fá-los redobrar as artes de se encobrirem e (o que completa a desgraça) multiplica a superstição e fomenta a hipocrisia»189. Tentaremos perceber a importância desta Confraria na sociedade portuguesa do Antigo Regime no ponto 3.° da presente parte, cumprindo apenas referir os Estatutos enquanto enquadramento e mote sobre o qual se desenvolve toda esta legislação contra o puritanismo, uma linha de desenvolvimento de um raciocínio que nem sempre resulta clara, confirmando-se aqui, mais uma vez, a vitória do pragmatismo sobre a coerência do discurso na acção de Pombal.

Ainda assim, e parecendo confirmar uma coerência cronológica na acção de Pombal, no texto da Consulta, identifica-se, sobretudo, uma linha de continuidade com o texto da Dedução Chronológica e Analítica - publicado um ano antes por José Seabra da Silva190 (cuja autoria é comummente aceite, pelo menos em parte, como sendo de Pombal) - que defendia a existência de um «Sinédrio Jesuítico» que teria estado por detrás de todas as grandes alterações políticas e sociais ocorridas em Portugal desde a entrada da Companhia de Jesus no país, ainda no século XVI, tais como a união dinástica, a Restauração e o afastamento do rei D. Afonso VI do poder, apenas para referirmos algumas. Certo é que no compêndio pombalino dos Puritanos apenas um nome é referido: o do jesuíta Nuno da Cunha191.

A proposta de apresentação de um jesuíta como um homem de Corte não é inédita192. A sua presença constante nas principais cortes da Idade Moderna - na Europa

188 Consulta, p. 188. Nuno Gonçalo Monteiro refere ainda que esta fórmula se encontraria reproduzida transversalmente na sociedade portuguesa, e que, a ser verdade, talvez o puritanismo exagerado se encontra mais na forma da sua efectivação pelos responsáveis pela eleição do que, outra vez, da sua redacção. In Crepúsculo., p. 141. 189 Giuseppe Baretti, Cartas de Portugal., p. 160. 190 José Seabra da Silva, Deducção Chronologica, e Analytica. Parte Primeira, na qual se manifestão pela successiva serie de cada hum dos Reynados da Morarquia Portugueza, que decorrêrão desde o Governo do Senhor Rey D. João III. até o presente, os horrorosos estragos, que a Companhia denominada de Jesus fez em Portugal, e todos seus Dominios, por hum Plano, e Systema por ella inalteravelmente seguido desde que entrou neste Reyno, até que foi delle proscripta, e expulsa pela justa, sabia, e providente Ley de 3. de Setembro de 1759, 3 Volumes. Lisboa: Na Officina de Miguel Manescal da Costa, 1767-1768. 191 Consulta, p. 188. Na verdade são referidos mais três nomes, a saber: Mariana de Mendonça, Fernão Teles da Silva e D. Manuel da Cunha, todos estes, no entanto, pela relação que tinham com o Pe. Nuno da Cunha (respectivamente, irmã, cunhado e irmão). 192 Leia-se, por exemplo, Jonathan Wright, Os jesuítas: missões, mitos e histórias. Lisboa: Quetzal, 2005, p. 16; Dauril Alden, The Making o f an Enterprise. The Society o f Jesus in Portugal, its Empire, and Beyond 1540-1750. Stanford: Stanford University Press, 1996, p. 229; ou Georg Schurhammer, Francisco Javier:

Pág. 46 Parte 2 - Os Puritanos e fora dela - cedo instituiu o “saber estar” em Corteo parte integrante da formação de um jesuíta, não obstante o facto, tão frequentemente observado, desse “saber estar” fazer já parte da educação de muitos deles à data de entrada na Companhia. Um cunho marcadamente aristocrático - que ganhou também uma dimensão aristocratizante - que figuras como Inácio de Loyola, Francisco Xavier, Francisco de Borja e Luís de Gonzaga, só para referirmos alguns, vieram perpetuar.

É precisamente esta característica dual de muitos dos jesuítas (nobres e religiosos) que leva a que se considere sempre as duas hipóteses na análise da influência que a Companhia de Jesus teve no governo do reino durante este período, sendo certo que, independentemente de resultar de uma acção individual de alguns padres ou de uma política concertada da ordem religiosa, sempre foi associada ao todo, mesmo comprovando-se que, em determinados momentos, este não foi coeso. Salientamos ainda que muitos dos ofícios que alguns padres jesuítas foram assumindo junto da Casa Real resultavam de estimas pessoais dos monarcas e não tanto de opções políticas favoráveis à Companhia de Jesus, uma realidade à qual o Pe. Nuno da Cunha não foi alheio quando afastado da Corte pela rainha regente D. Catarina de Gusmão, sendo substituído por outro jesuíta com quem estava em conflito193, não obstante ser amplamente referido no texto da Dedução, nomeadamente como o homem «cujas forças, e maquinações ficão bem manifestas nos dous Reynados próximos precedentes [D. João IV e D. Afonso VI]; e que neste [D. Pedro II], de que estou tratando, fez os estragos, que logo se verão com tanto sentimento, como horror»194.

Talvez por este motivo resulte pouco clara ou forçada a ideia defendida acima sobre a existência de um Sinédrio Jesuítico, não obstante a influência inegável que a Companhia teve no período em análise, transversal a toda a sociedade, e que vem bem descrita pelo francês Teófilo Daupineaut quando refere, para o reinado de D. Pedro II, que «C ’est donc sur troispersonnes que repose le gourvernement du Portugal, le Roy, le Duc de Cadaval, et le Marquis d ’Allegrette; sans parler ici des Jésuites»195. Mas terá sido, sem dúvida, a publicação dessa obra de referência no discurso anti-jesuítico da época que levou à inclusão do nome do Padre jesuíta Nuno da Cunha no Alvará, quanto mais su viday su tiempo, trad. Félix de Areitio Ariznabarreta... [et al.]. Bilbao: Mensajero, 1992, Vol. II, p. 201, para o exemplo de Francisco Xavier. 193 Francisco Rodrigues (S.J.), História da Companhia de Jesus na Assistência de Portugal, 4 Tomos. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1931-1944, pp. 509-510. 194 José Seabra da Silva, D edução., Divisão X, §. 395, p. 225. 195 Edgar Prestage, «Memórias sobre. », p. 18.

Pág. 47 Os Puritanos não fosse pela quantidade da sua correspondência e publicações que aparece enquanto fundamento da teoria defendida por Pombal na mesma obra e, mais ainda, pela ligação do Pe. Nuno da Cunha à Mouraria, um bastião do puritanismo1 9 6 , tanto por ser a casa onde terá nascido e onde cresceu, como enquanto cunhado que foi do primeiro conde de Vilar Maior.

Mas o texto da Consulta consagra ainda outros ideais pombalinos que vão além da mera oposição à acção da Companhia de Jesus em Portugal e no mundo, como o da sujeição do príncipe à sua nobreza ou a promoção de uma nobreza enfraquecida incapaz de cumprir a sua função de engrandecimento do “Estado” e do seu príncipe. Um ponto também relevante no texto da Consulta é a assunção da prática do puritanismo - «ordenada a semiar sizanias na mesma Nobreza, para levantar no meio della sedições, e discórdias, e para denegri-la com injurias tão atrozes, e offensivas da paz publica de Minha Corte, como da Magestade da Minha Corôa, da Authoridade do [sic] Meus Tribunaes, e das causas por elles julgadas, cuja inviolavel observancia constitue hum dos mais solidos fundamentos do socego dos Povos»197 - enquanto crime de lesa-majestade. Se o texto da Consulta generaliza a acusação sobre a prática deste crime por todos os que envolve na prática do puritanismo - jesuítas e Puritanos -, o Parecer, enquanto documento de consulta do Conselho de Estado (que, acreditamos, ainda no tempo de Pombal, seria mais permeável e sensível à questão dos Puritanos), não hesita em isentar os actuais que «tem seguido o mesmo puritanismo com sinceridade, e boa fé por huma geral preocupação, que achárão estabelecida», sugerindo que o crime cometido pelos seus antepassados fosse remetido a um «profundo silêncio» e que a benignidade do rei se manifestasse na manutenção, pelos actuais, das suas Casas, sujeita ao cumprimento do estabelecido no Alvará. Já o Alvará opta por não elaborar a questão da manutenção da prática do crime de lesa-majestade pelos actuais Puritanos (mantendo inalterável, no entanto, todo o discurso anti-jesuítico), insistindo, sobretudo, na ideia sobre a prevalência da vontade do príncipe sobre a sua nobreza e o quanto a prática do puritanismo atenta contra a mesma, ordenando que se cumpram seis acções relativamente a esta questão, entre elas: a obrigação de todos os Puritanos em idade de casar que o fizessem, no espaço de quatro meses, fora do grupo, perdendo as suas Casas, caso não cumprissem esta decisão, todos os bens da Coroa e Ordens de que dispunham; a elaboração de novos

196 Ideia que defenderemos adiante, mas que poderá ser confirmada por ser uma das Casas mais procuradas para casamentos por outras, de acordo com Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., pp. 132-133. 197 Alvará, pp. 181-182.

Pág. 48 Parte 2 - Os Puritanos

Estatutos da Confraria sem quaisquer laivos de puritanismo e, por fim; a manutenção do secretismo do Alvará que deveria ser seguido da publicação de outro, público, onde se impedisse a publicação de quaisquer textos resultantes dos processos de habilitações às Ordens Militares Religiosas ou ao Santo Ofício que pudessem por em causa o julgamento quanto à nobreza ou limpeza de sangue de qualquer pessoa198.

2. O Relatório do Monsieur de Torcy

Les fidalgues portugais sont persudés qu’il n ’y a point au monde de meilleur noblesse que la leur. On ne leur parle dès leur infance que de la grandeur de leurs maisons.199

Ainda hoje se encontra na Biblioteca Nacional de França, no Départment des manuscripts, Recueil de copies de memóires diplomatiques, em francês, com a cota 7120, um documento intitulado «Estat du royaume de Portugal faict à la fin de l ’année 1684» (fol. 41). O conhecimento deste documento por parte dos historiadores portugueses data, pelo menos, de 1827, com a publicação, pelo segundo visconde de Santarém, de um resumo dos documentos com referência a Portugal presentes, entre outros, na actual Biblioteca Nacional de França200. Um século depois, em 1926, Ayres de Sá publica um artigo de cariz eminentemente rácico, num suplemento aos Anais das Bibliotecas e Arquivos, sobre uma pretensão alemã relativa à aquisição de Angola e Moçambique a Portugal, com uma referência à obra alemã Die Deutschen Kolomien, de 1913 mas que teria sido reeditada por essa altura, onde se dizia dos portugueses, e da sua capacidade de gestão dos territórios coloniais, que «a sua mistura com os indígenas africanos agravou os sinais de degenerescencia que tem justificado a denominação de negros-brancos dada

198 Através da análise do compêndio de legislação presente em António Delgado da Silva (org.), Collecção d a . , não conseguimos identificar a execução desta decisão resultante do Alvará que, sem dúvida, ajudaria a uma mais clara associação deste compêndio de leis no fim da distinção entre cristãos-velhos e cristãos novos. 199 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.) - Uma R elação., p. 78. 200 Noticia dos Manuscriptos Pertencentes ao Direito Publico Externo Diplomatico de Portugal e á Historia e Literatura do Mesmo Paiz que Existem na Bibliotheca Real de Paris e Outras da Mesma Capital, e nos Archivos de França, examinados, e coligidos pelo Segundo Visconde de Santarém, Lisboa, Typographia da Academia Real das Sciencias, 1827, pp. 60-64.

Pág. 49 Os Puritanos aos portugueses em África»201. Este é, então, o mote para que, em nota de rodapé, introduza a parte deste documento relativa ao f. 87 - Families des fidalgues de Portugal - 1684 (apresentando-a em forma de resumo), onde discorre sobre os reparos das principais linhagens portuguesas, acrescentando que a mesma teria sido «conhecida, mas não publicada» pelo visconde de Santarém com vista à protecção da sua própria ascendência202, concluindo «que, desde o século XVII, os títulos de barão a duque, em Portugal, são um indício de judaismo e moirismo que desaparecerá, com esses títulos, se, um dia, se levantar a questão semita».203

Quanto à autoria do referido documento, o visconde de Santarém refere-se ao autor por «este Ministro», não concretizando quem seria ou se acreditava, como Ayres de Sá, que era parte integrante do documento que, em termos de fólio, o precedia, ou seja, as Memoires de Mr. le Comte de la Vaugoion sur ce qui s ’est passé pendant son ambassade en Espagne en 1683 et 16832 0 4 , atribuindo por isso a sua autoria ao conde de la Vauguyon205, não obstante o documento que se seguia ser da autoria de M. de Guénegaud206, podendo, desde logo, ter sido levantada a dúvida sobre a sua autoria, o que veio a acontecer posteriormente.

Também importa salientar a crítica que, em 1940, o padre Carlos da Silva Tarouca faz ao texto de Ayres de Sá, centrando-se no resumo deste e por análise do texto original presente na Biblioteca Nacional de França207. Finalmente, só em 1960 o texto original do «Estat du royaume de Portugal faict à la fin de l ’année 1684» é integralmente publicado,

201 Ayres de Sá, «Dois liv ro s.» , pp. 56-76. 202 Indiscutível é o facto de, sobre o documento, o visconde de Santarém apenas referir que «São mui notáveis as opiniões politicas deste Ministro a nosso respeito, e o interesse, que parecia tomar, em que perdessemos a independencia, que conquistámos na glorioza guerra da Acclamação, triunfando constantemente de Castella [ . ] Foi, sem duvida, em consequencia da errada opinião, que aquelle Ministro fazia da Nação Portugueza, que elle ordenou o referido esboço Statistico-Politico, e talvez de accordo com o Ministerio Hespanhol, para dispôr a França, no cazo de nova invazão de Castella em Portugal.», in Noticia dos Manuscriptos Pertencentes., p. 60. 203 Ayres de Sá, «Dois livros.», p. 61. Salienta-se que, para o presente trabalho, o interesse deste texto se centra exclusivamente no conhecimento que, desde o visconde de Santarém, se tem sobre o texto do «Estat du royaume de Portugal faict à la fin de l ’année 1684» que ora analisamos, não representando o seu conteúdo nada mais do que uma argumentação sobre questões rácicas, que voltavam a estar em voga no tempo a que o texto se reporta. 204 BNF, Département des manuscrits, cota 7120, f. 1. Recueil de copies de mémoires diplomatiques, em francês. 205 Que de acordo com Ayres de Sá, seria Antoine de Quélen de Stuer de Caussade, conde depois duque de la Vauguyon (1703-1772), se bem este, como vemos, apenas nasceu em 1703 o que torna impossível ter escrito um texto sobre a corte portuguesa em 1 6 84. Assim, acreditamos tratar-se de André de Béthoulat, conde de la Vauguyon e embaixador de França no período compreendido entre 1630 e 1693. 206 Mémoires sur le mariage de llnfante de Portugal, par M. de Guénegaud. BNF, Département des manuscrits, cota 7120, f. 113. Recueil de copies de mémoires diplomatiques, em francês. 207 Carlos da Silva Tarouca, «História da R aça.».

Pág. 50 Parte 2 - Os Puritanos pela mão de Joaquim Veríssimo Serrão, altura a partir da qual podemos assumir que o seu conteúdo passa a estar à disposição dos historiadores portugueses e entra, definitivamente, para as fontes de historiografia portuguesa relativas ao reinado de D. Pedro II.

É precisamente Serrão quem vem questionar a autoria do texto, concluindo que a mesma deveria ser atribuída ao marquês de Torcy, Jean-Baptiste Colbert, aquando da sua passagem por Portugal, em 1684, enquanto enviado extraordinário do rei Luís XIV de França, para assistir nos eventuais problemas diplomáticos que a rejeição da infanta D. Isabel pelo duque de Sabóia poderiam ter causado às relações entre os dois países208. Certo é que, até ao grande estudo de Monteiro, amplamente referido neste trabalho, parece não ter existido um interesse por parte dos historiadores portugueses em testar a hipótese sugerida por este documento, ou seja, a da existência de uma característica fracturante no seio da aristocracia portuguesa, capaz de influenciar relações e alianças, com claros impactos ao nível da reprodução social das Casas aristocráticas.

Não é, no entanto, inédito o interesse dos estrangeiros que passavam por Portugal pela estrutura da sociedade portuguesa, devendo ser esclarecido que se à maior parte dos relatos de estrangeiros que hoje em dia conhecemos interessavam sobretudo os usos e costumes dos portugueses - podendo discriminar, ou não, o caso particular dos Grandes da Corte - para os diplomatas, o peso e a influência da aristocracia junto do rei e da Corte (bem como as suas características mais distintivas) eram frequentemente observados nos relatos que enviavam para os seus países de origem, levando, inclusivamente, à preocupação de D. Luís da Cunha quando afirmava que quando chegava um estrangeiro à Corte, «cada [Casa] (...) informa do bom da sua família, e do máo das outras: e assim sabem, o que chamamos os podres de todas»209.

A parte do Relatório relativa às famílias fidalgas de Portugal encontra-se dividida, também ela, em duas partes: uma primeira, que se centra num dos critérios de definição de grandeza que influencia directamente a reprodução social do grupo, a limpeza das Casas; e uma segunda parte em que divide a nobreza portuguesa em vinte e uma linhagens

208 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma R elação., pp. 1-18. 209 D. Luís da Cunha, Instruções Inéditas., p. 94. Salientamos que se tal afirmação nos ajuda a enquadrar as fontes para a elaboração do Relatório, nada podemos concluir quanto ao facto de se ter baseado apenas numa fonte ou, pelo contrário, ter cruzado fontes distintas que lhe permitissem elaborar um critério capaz, nomeadamente, de ser critico em relação a muitas das informações que ia recolhendo na corte portuguesa.

Pág. 51 Os Puritanos

(identificadas pelo apelido) e, para cada, refere quem são os seus descendentes por varonia e que reparos ou mesaliances2 1 0 podem ser atribuídos às mesmas.

De acordo com Torcy, podia imputar-se à nobreza portuguesa as mesmas preocupações que se imputavam à mulher de César, que mais do que sê-lo, era importante parecê-lo, motivo pelo qual os portugueses faziam uso indistinto dos apelidos dos seus antepassados, tentando com isso ocultar qualquer defeito que outro apelido pudesse trazer à sua Casa. Acrescenta ainda que estes defeitos tanto poderiam provir de mesaliances - apesar de salvaguardar que, quando muito antigas, teriam menos influência - como de sangue judeu ou mouro «qui ne s ’effacent jamais» e estes sim geradores de reparos nas linhagens das principais famílias portuguesas.

Ao todo, Torcy elenca treze reparos que são identificáveis nas principais linhagens portuguesas: Aragão, Azambuja, Bocanegra, Brandão, Caiada, Granada, Zuzarte, Lucena, Lafetá, Pinheiro, Talaveira, Torres e Zurriga, nomes pelos quais, acreditamos, seriam reconhecidos no período que ora estudamos. Adicionalmente, identifica ainda, na descrição das principais famílias de Portugal, o de Bobadilha, sem esquecer a menção ao reparo genérico de judeu. Deixaremos a proposta de identificação do grupo para o ponto quatro deste capítulo, centrando-nos agora nestes reparos, tentando estabelecer pontes entre o Alvará, os Estatutos da Confraria dos Escravos de Santa Engrácia e as fontes utilizadas neste Relatório, incluindo a tentativa de identificação de algum sentido crítico por parte do seu autor.

A primeira ponte deverá ser estabelecida com a única parte do texto dos Estatutos da Confraria dos Puritanos que conhecemos que, no fundo, acaba por ser um reflexo do quanto os puritanismos influenciavam transversalmente o dia-a-dia da sociedade do Antigo Regime: «a fama, ou rumor em contrario, verdadeira ou falsa». Esta condição poderá ser enquadrada no facto de, ainda que o rumor fosse entendido por esclarecidamente falso, continuava por explicar o que lhe tinha dado origem, podendo entender-se que onde há fumo, há fogo, e este motivador de um acção capaz de manchar toda uma descendência, o que, em ambos os casos, seria considerado um atentado à sua

210 Assumiremos sempre a apresentação deste termo em francês, reconhecendo que o sentido que Torcy lhe dava vai para além da sua tradução literal, “más alianças”, centrando-se sobretudo num conceito amplamente tratado pela genealogia: os casamentos desiguais, que estavam relacionados com a realização de um casamento abaixo da condição social de um dos nubentes.

Pág. 52 Parte 2 - Os Puritanos nobreza, adquirindo assim o mesmo valor, tornando a verdade, ou a percepção dela, um elemento de análise meramente circunstancial.

Outra ressalva que pode ser feita ao texto de Torcy, ainda que mais subtil, prende- se não tanto com os reparos em si, mas com a origem da linhagem, o que não deverá ser considerado como um pormenor, uma vez que muitos destes rumores escondiam também invejas e maledicências que sempre foram utilizadas pela nobreza enquanto formas de auto-regulação e defesa do grupo, concretizadas, nomeadamente, na sua participação activa tanto na Mesa de Consciência e Ordens como no Tribunal do Santo Ofício. Assim, e no que respeita às linhagens que perpetuaram estes reparos, podemos concluir que duas delas, Aragão e Granada, descendiam de reis, cinco, Bobadilha, Bocanegra, Pinheiro, Talaveira e Zuniga, de linhagens nobres, e as restantes sete, Azambuja, Brandão, Caiada, Juzarte, Lucena, Lafetá e Torres, de mercadores ou heróis dos descobrimentos, em ambos os casos de homens reconhecidamente enobrecidos.

Recorrente era também a associação de famílias oriundas de Espanha com o judaísmo, como fica claro no texto do Relatório, quer quando refere «tous les Espanholes qui viennent en Portugal sont ordinairement Juifs»211, a respeito do reparo Bocanegra, ou a respeito do reparo Bobadilha «comme le nom de Bobadilla est un desfault en Espagne, l ’alliance des Saldanhe est regardée en Portugal comme un desfault»212.

Parecem-nos, assim, saltar à vista duas primeiras conclusões sobre o relatório: a primeira de que, confirmando o entendimento de Monteiro213, Torcy estaria de facto muito bem informado sobre esta particularidade da nobreza portuguesa (o suficiente, pelo menos, para a considerar digna de ser transmitida à Corte francesa); e a segunda, resultante da primeira, de que o marquês de Pombal tinha razão quando referia que «fazendo-se crer aos Estrangeiros, que vivem nesta Corte, que em Portugal só ha pureza de sangue naquellas poucas Casas, ficão persuadidos, que a mesma Nobreza, se compõe só daquelle pequeno numero de Familias Christãas velhas, e que todas as outras são maculadas com sangue Hebreo»214, não deixando, por isso, de ser curioso o facto de uma

211 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma R elação., p. 79. 212 Ibidem, p. 101. Não será de excluir a possibilidade desta posição anti-espanhola ser ainda um resquício do período imediatamente anterior à Restauração que, entre outros, «conferiu um tom xenófobo a vários dos livros que foram então publicados». Pedro Cardim, «Estatuto territorial e debate político em Portugal e no mundo ibérico (séculos XVI-XVII). In Artur Teodoro de Matos, João Paulo Oliveira e Costa e Roberto Carneiro (coord.), História. Portugal e Espanha. Amores e desamores, Vol. 1. [Lisboa]: Círculo de Leitores, 2015, p. 395. 213 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 135. 214 Alvará, p. 182.

Pág. 53 Os Puritanos importante parte da história deste grupo da aristocracia portuguesa ter sido perpetuada nos anais da história justamente através dos relatos destes estrangeiros.

3. A dignidade real

Que! Algum barbadão? Diga o padre que sou rei; o mais não importa. A dignidade real é a pia baptismal dospeccados originaes.215

Escreve-nos Bourdieu que «o poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo [...] só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário»216. Este foi, também, o poder detido pelos reis durante o período que abordamos. Poderíamos discutir a efectividade deste poder e facilmente concluiríamos que esta não foi constante e, como já referido, resultou, no caso português, da oscilação entre períodos aristocráticos e absolutistas, onde nem um nem outro termo alguma vez chegaram a produzir os efeitos que muitos tentaram, em vão, defender. A ideia central que pretendemos defender neste ponto é a da importância do rei na sociedade do Antigo Regime enquanto, sobretudo, legitimador, formal e informal, directa e indirectamente, de todo e qualquer «sistema simbólico»217 que possa ser identificado, o que, para este trabalho se prende sobretudo com a importância de garantir a manutenção de um rei puritano no topo da hierarquia social.

Torcy, ao descrever o defeito de Granada, refere que «Muley Abul Hazen vingtiesme Roy de Grenade eut deux fils bastards [...]. Ceux qui son descendants, outre la tache de Maometisme [do seu pai], ont encore celle de Judaísme [da sua mãe]. Cette dernière est la plus considerable»218. No entanto, abaixo do Termo, encontramos uma nota219 referindo que igualmente o teriam feito, entre outros, Fernando de Miranda, que

215 Resposta de D. João V a D. António Caetano de Sousa, reagindo aos “embaraços” deste. Camilo Castelo Branco (introdução e notas), M em orias., p. 156. 216 Pierre Bourdieu, O P o d er. , p. 11. 217 Ibidem, p.7. 218 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma R elação., p. 79. 219 Salientamos o facto de na nota à versão do Termo presente no Supplemento á Collecção d e ., apenas vir referido que «Identicos Termos assignárão em os dias seguintes o Ex.mo Marquez de Valença, e de

Pág. 54 Parte 2 - Os Puritanos supomos ser Fernando de Miranda Henriques, 2.° conde de Sandomil, casado com Violante Josefa de Melo, descendente de uma família a quem Torcy imputava o reparo Granada, mas que não era, por esse via, impedido de ser identificado como puritano, o que parece indicar uma desconsideração deste reparo enquanto tal, permitindo-nos questionar se tal não se poderia dever à sua origem real, ideia que defenderemos no 220 próximo ponto220.

Também em relação à Casa Real Portuguesa, conforme a reacção de D. João V ao Pe. D. António Caetano de Sousa em epígrafe, existia um rumor que punha em causa a intemporalidade da sua limpeza de sangue. Na sua obra História Genealógica da Casa Real Portuguesa o Pe. D. António seguiu, na íntegra, as recomendações do rei esclarecendo que «os filhos illegitimos dos Reys qualificam a nobreza de sua mãy na Real ascendencia do pay»221, acrescentando «naõ duvidará ninguem, que quando a mãy do Senhor D. Affonso necessitasse de nobreza, poder tinha seu pay, e seu filho, para lhe conferirem a mais superior origem»222, continuando, no entanto, a sentir necessidade223 de confirmar quem seria, afinal, este Barbadão que veio a ser ascendente de reis, o que fez com recurso a inúmeros nobiliários, concluindo que «concordaõ os Genealogicos ser homem honrado, de bom, e civil nascimento»224. A verdade é que o Barbadão povoou, durante séculos, o espírito de todos os que desejavam, de alguma forma, criticar a Casa de Bragança, berço também das mais importantes casas aristocráticas portuguesas, como a dos duques do Cadaval ou a dos marqueses de Valença. Avô materno do primeiro duque de Bragança, que era filho natural do rei D. João I e de D. Inês Pires, ficou este homem para a história como embaraço de uma ascendência que se queria imaculada, apesar de não se encontrarem referências claras ao motivo do mesmo, apenas a sombra de uma cristã-novice não provada, não desmentida. Torcy, por exemplo, conclui que «il estoit cordonnier de Veiros dans la province d’Alentéje»225, não sabendo se pretendia apenas

Angeja, e outros Fidalgos», p. 191. Já na versão manuscrita que se encontra na BNP, o texto refere que «Seguem-se outros Termos que assignarão o Ill.mo e Ex.mo D. Joze Miguel João de Portugal Marquez de Vallença em Ex.am do Alvará de Ley de cinco do corrente mês de Outubro. E o Ill.mo e Ex.mo D. Pedro de Noronha Marquez de Angeja, e do Monteiro Mor do Reyno Francisco de Mello, e de Fernando de Miranda», BNP, COD. 6937, fol. 15. Já na Torre do Tombo encontrámos todos os Termos referidos no documento da BNP, in ANTT, Condes de Linhares, mç. 5, doc. 4. 220 Ideia idêntica não pode ser defendida, tout cours, para o reparo de Aragão dado que não existia nenhuma Casa apenas com este reparo. 221 D. António Caetano de Sousa, História Genealógica., Tomo II, Livro III, p. 26. 222 Ibidem. 223 Confirmado pelo facto de dedicar 10 páginas ao assunto, Ibidem, pp. 26-36. 224 Ibidem, p. 27. 225 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma R elação., p. 98.

Pág. 55 Os Puritanos referir, como o fez para tantos outros, uma basse naissance ou se, e dada a «participação fundamental nas actividades artesanais» dos judeus na sociedade portuguesa do século XV226, nomeadamente como sapateiros, pretendeu subentender o que dificilmente muitos correriam o risco de deixar por escrito: que o rei português descendia de um judeu.

Reconhecido é o esforço encetado por linhagistas e genealogistas no sentido de preservar o sangue real limpo de qualquer mácula, fenómeno reproduzido pela nobreza que inundava os livros de linhagens, os processos do Santo Ofício e as habilitações aos hábitos das Ordens Religiosas Militares de termos como gente limpa, limpo de sangue, limpo de toda a nação infecta2 2 7 ... Deste tipo de comentários não escapavam os reis, ou melhor, as mães dos bastardos reais, não fosse dar-se o caso de se ter de recorrer, como no passado, como bem lembrava ao marquês de Marialva o marquês de Saint Romain, a um destes neófitos para perpetuar a continuidade da Casa Real228, motivo pelo qual a sua legitimação esteve muitas vezes condicionada à pureza do sangue de suas mães.

Uma das ideias que defenderemos ao longo deste trabalho e que resulta mais de uma sensibilidade do que de constatações inegáveis assentes em factos concretos, é a de que a relação da sociedade do Antigo Regime, em particular da nobreza, com os puritanismos atrás identificados, de sangue e de nobreza, existia enquanto alimento de um mecanismo de defesa e legitimação229 de uma posição (hierarquia) num espaço social que se queria estanque e imutável. Esta ideia permite-nos perceber, por um lado, o facto de a adesão ao sentimento puritano não ter sido constante ao longo de todo o período, existindo uma clara correlação temporal entre os períodos de maior pressão dos cristãos- novos em Roma para obtenção de um perdão geral do Papa e a existência de desacatos ao Santíssimo Sacramento, e a observação de posições mais conservadoras na Mesa de Consciência e Ordens ou no Tribunal do Santo Ofício230; e por outro, na pressão exercida sobre o rei - nomeadamente através de estruturas como as mesmas Mesa de Consciência e Ordens e Tribunal do Santo Ofício, mas também, podemos supô-lo, de confrarias como a dos Escravos de Santa Engrácia - na manutenção de um status quo social que, com a

226 Jorge Martins, Portugal e o s ., p. 131. 227 Maria Beatriz Niza da Silva, D. João V ., pp. 58-60. 228 Paulo Drumond Braga, D. Pedro I I . , p. 85. 229 Para o caso português, António de Oliveira, Movimentos., pp. 326. Já em René Rémond, Introdução à História do Nosso Tempo. Do Antigo Regime aos Nossos Dias. Lisboa: Gradiva, 2009, p. 49, encontramos a generalização desta ideia para todo o período do Antigo Regime, impossibilitando, por exemplo, a ascensão social da Burguesia. 230 Cf., por exemplo, António de Oliveira, Movimentos., pp. 320-340.

Pág. 56 Parte 2 - Os Puritanos ascensão de cristãos-novos e de judeus, se via ameaçado, defendendo um contrato antigo estabelecido entre o rei e os seus pares, obrigando-o à preservação da sua nobreza231.

No caso concreto da primeira nobreza de Corte parecem-nos existir dois vectores maiores de análise na identificação da consolidação destes mecanismos de defesa e legitimação de uma posição social. Um primeiro respeita ao próprio processo de curialização que resulta na migração da principal nobreza do reino para Lisboa, abdicando assim de parte da sua autonomia financeira e social, realidade que subsistia somente por contraposição à concentração da maior parte dos bens da Coroa e Ordens neste reduzido grupo de Casas, tornando indiscutível o facto de, à data do Alvará, nenhuma destas estar em condições de arriscar perder uma parte substancial do seu património. Este, aliás, poderá ter sido o motivo pelo qual todas as Casas puritanas compareceram na secretaria de Estado, cumprindo o estabelecido no Alvará tão cabalmente como lhes era exigido. Um segundo relacionado directamente com a forma como se materializariam as questões puritanas no seio do restrito grupo da aristocracia e do papel que terá tido a Confraria dos Escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia na ordenação social, com impactos políticos e económicos, de cada uma destas Casas no perímetro de preferências, tanto do rei como do restante universo da primeira nobreza de Corte.

É precisamente na origem da criação desta confraria que todos estes elementos se conjugam e ajudam a recriar uma realidade que, aos nossos olhos, nem sempre se revela coerente e intuitiva. Em Oliveira encontramos a proposta de enquadramento do Desacato de Santa Engrácia de 1630 num período extremamente favorável aos cristãos-novos232, sendo que, não obstante datar-se de meados do século XVI a existência de uma maior preocupação com questões de limpeza de sangue233, é a partir deste acontecimento que se começa a perceber, na sociedade portuguesa, um maior empenho na identificação da adesão ao ideal puritano como promotor da defesa contra os inimigos internos e externos,

231 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e P oder., pp. 83-86. É precisamente em relação a este segundo ponto que o aparecimento da figura do primeiro-ministro no Antigo Regime deverá também ser analisada, não excluindo a hipótese do facto que lhe dá origem poder ir muito além da mera existência de um rei fraco e permeável, mas poder ser também entendido como um mecanismo do poder real para se ir libertando de um conjunto de constrangimentos que limitavam a sua acção, algo apenas possível fazendo-se representar por interposta pessoa. 232 António de Oliveira, Movimentos., p. 329 ou Paulo Varela Gomes, Arquitectura, religião epolítica em Portugal no século XVII: a planta centralizada. Porto: FAUP-Faculdade de Arquitectura, 2001, p. 237 e 273. 233 Fernando Dores Costa e Nuno Gonçalo Monteiro, 2.° Duque de Lafões - Uma Vida Singular no Século das luzes. Lisboa: Edições Inapa, 2006, pp. 13-14.

Pág. 57 Os Puritanos através «de uma devoção ao Santíssimo Sacramento caracterizada como orgulhosamente portuguesa, aristocrática e militar»234.

Quando, quarenta e um anos mais tarde, em 10 de Maio, Lisboa acorda assolada por mais um desacato ao Santíssimo Sacramento, desta vez ocorrido na Igreja de Odivelas, o discurso anti-judaico já se tinha radicalizado, o que pode ser comprovado pela obra de Roque Monteiro Paim que, ainda antes de descoberto o culpado, escrevia a Perfídia Judaica onde defendia os motivos da presunção de culpa dos cristãos-novos em qualquer desacato, «em rezaõ do sangue infecto que os gera, è da creaçaõ, è doutrina de seus antepassados, è ascendentes, que sempre amaõ, è nunca esquecem»235.

É, então, no seio desta aristocracia, votada a ofícios e cargos, na Corte e no estrangeiro, que se observa o crescimento de um sentimento puritano, que publicamente se concretizaria também no papel desempenhado no desagravo destas ofensas ao Santíssimo Sacramento, o que cumpria religiosamente, em São Vicente de Fora ou em Odivelas, todos os anos pela altura da celebração da data dos desacatos.

Voltando ao desacato de Santa Engrácia, foi na noite de 15 para 16 de Janeiro de 1630 que alguém roubou da Igreja de Santa Engrácia, após arrombar a porta, «um cofre de tartaruga, guarnecido de prata, em que estavam vinte e sete formas consagradas e uma hóstia e, de outro vaso, doze formas e mais uma hóstia»236, fazendo acordar Lisboa sobressaltada, e enquanto «uns gemiam, muitos gritavam e choravam, outros lamentavam, mas todos pediam vingança contra o autor ou autores do sacrílego crime»237. E a vingança chegava logo: no imediato em forma de desagravo «por meio de procissões, jejuns, missas [...] e havia luto oficial»238, mas também era frequente a constituição de confrarias ou a promoção da construção de conventos: a primeira para perpetuar a lembrança do sacrílego crime e, não poucas vezes, para ficar encarregue da realização da segunda. A constituição da Confraria dos Escravos do Santíssimo Sacramento foi, então, uma das formas de desagravo encontradas, tendo o seu compromisso (ou estatutos) sido assinado a 19 de Maio de 1630. Refere Lamas que o presidente era o rei, sendo que em

234 Paulo Varela Gomes, Arquitectura., p. 234. 235 Roque Monteiro Paim, Perfid[ia] judaica, Christus vindex munus prin[cipis], Ecclesia Lusitan[iae] ab apostatis liberata : Discurso juridico, èpolitico. Madrid, [s.n.], 1671, p. 2. 236 Jorge Martins, O Senhor Roubado., p.38. 237 Artur Lamas, O Desacato na Igreja de Santa Engrácia e as Insígnias dos Escravos do Santíssimo Sacramento. Lisboa: Imprensa Nacional, 1905, p. 5. 238 Ibidem, p. 9.

Pág. 58 Parte 2 - Os Puritanos

Povolide encontramos uma referência relativa ao facto de as pessoas reais só passarem a encabeçar a Confraria após a Restauração, já com D. João IV239.

Lamas refere ainda que era composta por «cem fidalgos que se obrigavam, debaixo de juramento, a não consentir que para ella entrasse quem tivesse raça, ou sequer fama, de christão-novo»240, uma fórmula que não conseguimos provar ter estado presente desde a sua origem, sendo Monteiro quem esclarece que «a restrição da admissibilidade aos cristãos-novos consta da generalidade dos compromissos das confrarias e irmandades, não se revestindo de qualquer especificidade», não sendo posta de parte a possibilidade de, posteriormente, ter existido um estreitamento sobre um entendimento mais puritano capaz, como vimos, de criar conflitos internos no seio da primeira nobreza de Corte241, sabendo que para a realidade de 1730 já era reconhecido na sociedade que o limite da transmissão de qualquer reparo seria «até que se perca a memória»242. O número de fidalgos - títolos e não títolos243 - pelo contrário, parece-nos ter sido mantido, só sendo possível entrar na Confraria por morte de um irmão, e por proposta de um outro, facto testemunhado pelo mesmo conde de Povolide quando escreve que «Este ano me fez meu Tio o Conde de Pontével irmão de S. Engracia e desde então até ao ano que escrevo, isto

é o de 1724, tenho sempre pago tudo.»244

A importância desta Confraria percebemo-la também em Povolide que refere várias vezes as cerimónias de desagravo que continuaram a ser realizadas ao longo, pelo menos, do período em análise. Diz-nos ainda que, desde o Desacato, «todos os anos se celebrou e celebra ua festa em desagravo do Santíssimo, com grande solinidade, e assiste toda à Irmandade, de que doze são da mesma mesa cada ano»245, sendo que, após a Restauração, a mesma Irmandade terá passado a ser encimada pelas pessoas reaes, o que lhe conferiu, como pretendemos defender neste ponto, uma dignidade que poderá suportar a tese da sua relevância para o universo estudado. Existe apenas uma lista de confrades de Santa Engrácia disponível246, ainda que incompleta, para os anos de 1630 a 1737, da qual foi possível extrair 476 nomes, que permitirão, a quem o deseje, tentar reproduzir a

239 Tristão da Cunha e Ataíde, 1.° Conde de Povolide, Memorias..., p. 354. 240 Artur Lamas, O D esacato., p. 10. 241 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo..., p. 141. 242 Castelo Branco Chaves, O Portugal de D. João V ., p. 57. 243 Tristão da Cunha e Ataíde, 1.° Conde de Povolide, M em orias., p. 316. 244 Ibidem, p. 44. 245 Ibidem, p. 354. 246 BNP, COD. 170. Memória para a História das Irmandades e Confrarias da cidade de Lisboa. Apresentamos a lista de nomes apresentados nesta Memória no Anexo 5 desta dissertação.

Pág. 59 Os Puritanos realidade da Confraria num dado tempo, demonstrando, no entanto e com facilidade, que a realidade da aristocracia se mostra insuficiente para explicar a realidade da mesma, uma vez que do total analisado, os membros da família real, os títulos, os eclesiásticos (cardeais, arcebispos, bispos, capelães-mor e clérigos) e os ofícios maiores da Casa Real apenas explicam 209 (43,9%) do total referido acima. Para além disso, encontramos nomes como o de António Cavide, Bartolomeu de Sousa Mexia, Diogo de Mendonça Corte-Real, Francisco de Lucena247 e até Rui Fernandes de Almada248, que poderíamos designar por burocratas intimamente ligados ao aparelho de estado, ajudando a perceber a heterogeneidade de que se foi revestindo esta Confraria e o quanto estava também ligada à realidade do Paço. É Monteiro que vem referir uma possível «monopolização puritana da dita confraria»249, que poderá ser entendida pelo monopólio também dos seus cargos mais elevados, o que esta relação não discrimina. No entanto, através dos conhecimentos das esmolas realizadas pelo visconde de Vila Nova da Cerveira para a construção da nova Igreja disponíveis na Torre do Tombo, conseguimos, para 18 anos (período entre 1690 e 1716), identificar quem seriam os Tesoureiros e Escrivães da Confraria250, propondo então uma análise que nos permita validar a existência de um núcleo puritano ao comando da mesma251.

Ao todo analisámos a relação de 20 confrades, num total de 33 registos, tentando perceber se, de acordo com o relatório de Torcy, seriam Puritanos, ou se, não sendo, se podia estabelecer uma qualquer relação de parentesco entre eles252. Dos vinte confrades, apenas 8 (20%) seriam Puritanos: os marqueses de Angeja e Alegrete, os condes de S. Vicente e Tarouca, o visconde de Vila Nova de Cerveira, o Capitão da Guarda Alemã, D. Filipe de Sousa e o seu irmão, D. João de Sousa, Prior de Guimarães, e Aires de Sousa e Castro. No entanto, quando analisadas as relações de parentesco em primeiro grau entre eles, verificamos que este número aumenta para 15 (75%), ficando apenas de fora os marqueses de Minas e de Fronteira, os condes de Assumar e Ribeira Grande e Luís de

247 António Cavide (?) foi Escrivão da Puridade de D. João IV; Bartolomeu de Sousa Mexia (1650-1720), secretário de Estado de D. João V, Diogo de Mendonça Corte-Real (1658-1736), secretário das mercês de D. Pedro II, secretário de Estado de D. João V e diplomata; e Francisco de Lucena (c. 1578 - 1643), secretário de Estado de Filipe IV e D. João IV. 248 Que supomos ser descendente do seu homónimo, Rui Fernandes de Almada, de quem descendiam todas as Casas com o reparo de Caiada. 249 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo..., p. 141. 250 ANTT, Viscondes de Vila Nova de Cerveira (Administração da Casa 1392-1842), Cx. 21, n.os 69-71, 73-85. 251 Análise que desenvolvemos, em maior detalhe, no Anexo 5 da presente dissertação. 252 Tanto por casamento em Casas puritanas como por relação de parentesco em primeiro grau com famílias puritanas.

Pág. 60 Parte 2 - Os Puritanos

Saldanha da Gama. Conclusão idêntica observamos se analisarmos o número de vezes que um determinado cargo é ocupado (uma vez um dado indivíduo poder ocupar, em anos distintos, um cargo). No total identificamos 33 ocupações conhecidas de cargos, das quais 16 (42%) por Puritanos e 24 (73%) com relações de parentesco, permitindo-nos induzir, apesar de a amostra ser reduzida, a existência de uma influência puritana na constituição da mesa da Confraria de Escravos de Santa Engrácia, o que só poderíamos generalizar se tivéssemos uma relação de confrades sistemática para um dado período específico.

Adicionalmente, sendo difícil propor uma hierarquia no que aos reparos identificados para cada uma das Casas representadas por estes homens diz respeito, podemos registar que, por exemplo, tanto os marqueses de Fronteira e Minas e o conde de Assumar teriam os mesmos reparos, de Aragão, Bocanegra e Pinheiro, e ambos se encontravam na mesma situação de “excluídos” de relações de parentesco com famílias puritanas, apenas sendo possível visualizar na árvore genealógica proposta o marquês de Minas pelo casamento de um neto seu com uma filha do conde dos Arcos, genro do filho herdeiro do conde de S. Vicente.

Longe de conseguirmos provar uma influência exclusivamente puritana à cabeça da Confraria dos Escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, até porque, como refere Jacquinet «ao longo dos tempos, por ela passaram membros de casas tão sonantes como as do Louriçal, Cadaval, Távora, Vila Nova de Cerveira, Angeja, Lumiares, Barbacena e tantas outras»253, estando estas longe de reflectir uma realidade exclusivamente puritana, inegável parecem ser as relações de parentesco entre os seus maiores responsáveis, facto que poderá ser também explicado pela já estudada endogamia no seio da primeira nobreza de Corte254. O que parece ser indiscutível é que, para o período estudado, a cabeça silenciosa e por vezes até ausente de acções concretas de toda esta sociedade (corpo) era o rei (e a sua dignidade), cuja acção legitimadora operava como condição sine qua non a um sentido de pertença sobre o qual assentariam, posteriormente, estruturas e hierarquias, muitas vezes apenas confirmada pelas excepções que encontramos cada vez que tentamos demonstrar um qualquer movimento de índole estritamente aristocrático.

253 Maria Luísa de Castro Vasconcelos Gonçalves Jacquinet, Em desagravo do Santíssimo Sacramento: o “Conventinho Novo ”. Devoção, memória e património religioso. Lisboa: [s.n.], 2008. Dissertação de Mestrado, p. 29. 254 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 129.

Pág. 61 Os Puritanos

4. Proposta de identificação de um grupo

O que entendo é que a maior parte das casas de Hespanha está como as de Portugal, onde entra Maria Pinheira ou Julianes (outros dizem Gilianes ou mestre Gabriel, ou Duarte Brandão) ou casamentos de Hespanha, como da casa de Moscoso e outras. E, quando se não verifica judaismo, ha bastante com que humilhar os que prezam de fazer com as allianças

grandes roda [...].255

Fomos, ao longo deste trabalho, fazendo inúmeras referências a Casas e homens da aristocracia portuguesa sobre os quais se supõe terem sido reputados como Puritanos, propondo-nos, neste ponto, a uma análise mais minuciosa dos membros deste grupo, com todas as ressalvas que deverão ser inicialmente feitas. A primeira prende-se necessariamente com o facto de o puritanismo, tal como nos é apresentado, não ser imutável, ou seja, uma Casa podia perder o seu estatuto puritano ao adquirir um reparo por casamento, não sendo ainda claro se os reparos poderiam, eles mesmos, ser hierarquizados e se, conforme sugerido no Alvará, existiria a possibilidade de as Casas puritanas «purificarem, porque as ditas familias associadas não só se arrogarão pureza para si, mas tambem espiatorio para outros, de sorte que todos os que casavão nellas, ficavão tambem Puritanos, sem macula alguma, se os defeitos que antes lhe attribuirão, erão de natureza, que permitisse esconderem-se na escuridade dos princípios donde se derivavão, havendo destas expiações conhecidos exemplos.»256 Este facto leva-nos a ter de precisar a geração exacta de uma determinada Casa aristocrática para testarmos a sua condição de puritana, porque muitas foram perdendo o seu estatuto ao longo do tempo e a outras, não obstante os reparos, encontramo-las associadas aos Puritanos, tornando desafiante uma apreciação geral sobre uma determinada Casa ao longo do período em análise. Acresce a este o facto de a realidade das Casas aristocráticas em Portugal não ser estanque. Apesar da já citada cristalização da aristocracia, ao longo do período de análise assistiu-se à extinção, incorporação e criação de Casas aristocráticas, o que numa análise

255 Camilo Castelo Branco (introdução e notas), Memorias. , p. 66. 256 Consulta, p. 189.

Pág. 62 Parte 2 - Os Puritanos temporalmente transversal obriga, novamente, à eleição de critérios que garantam a coerência temporal do estudo, questionando, por exemplo, qual a relevância de estudar a Casa dos condes da Feira, puritana, quando os dois únicos titulares no período estudado, o 7.° e o 8.° condes, irmãos, não asseguraram descendência varonil, perdendo a Casa o título, deixando de existir um lastro para as suas políticas de reprodução social.

Uma segunda, directamente relacionada com esta, diz respeito à relação entre as fontes. É indiscutível que, para o estudo dos Puritanos, nenhuma outra propõe, de uma forma clara e criteriosa, um método para validar a pureza das Casas da primeira nobreza de Corte como o Relatório de Torcy. No entanto, e como já referimos acima, muitas são as outras fontes que indicam como puritanas, Casas às quais Torcy atribui alguns reparos, tornando difícil perceber se a excepção se devia ao caso particular da Casa, e portanto específico e excepcional, ou do reparo, beneficiando, por aí, todas as demais com o mesmo reparo. Por outro lado, existem também Casas que, à falta de melhor informação, poderiam ser consideradas puritanas, mas que a sua exclusão dos casamentos dentro desse grupo nos alerta para outra das limitações deste estudo: até nos Puritanos, a limpeza de sangue não seria o único critério de eleição presente na reprodução social de uma Casa e, consoante o período e a situação de cada uma, poderá nem ter sido o mais relevante, motivo que confirma outra das ideias subjacentes a este trabalho, ou seja, a de que os Puritanos seriam, sobretudo, aristocratas e partilhavam com restante a aristocracia portuguesa a maior parte dos seus critérios de eleição.

No seu Relatório (1684), Torcy identifica 43 linhagens, mantendo-se fiel ao princípio da varonia segundo o qual apresenta 127 pessoas (que para a análise correspondem, por aproximação, a Casas257), sendo que, para muitas, não refere se tinham ou não reparos. Deste universo, 50 (39,4%) seriam puritanas, número que poderá estar sobrestimado dado que considerámos, por simplismo, a não referência a reparos como a sua não existência. Dos reparos elencados, aquele que aparece como mais frequente na nobreza portuguesa é o de Pinheiro (conforme citação inicial) com 28 (22%) observações, seguido do de Aragão (13%), do reparo genérico de judeu (9%) e o de Granada (8%). Já nos menos observados temos o de Torres com apenas uma observação relativa ao 2.°

257 Esta consideração é, no entanto, simplista, dado que algumas das referências de Torcy são relativas a religiosos o que nos remete imediatamente para uma definição forçada de existência de uma Casa nesta circunstância particular.

Pág. 63 Os Puritanos conde da Ponte, Garcia de Melo e Torres258, e com apenas duas observações o de Juzarte (António de Saldanha e o 3.° conde da Ericeira), Lucena (João Furtado de Mendonça e o 3.° conde de Unhão) e Lafetá (D. João de Castro e Manuel de Sousa). Outro dado é o de que, no universo das pessoas a quem eram apontados reparos, estas apresentam em média 1,4 reparos, número que, dada a política de casamentos endogâmica observada na aristocracia portuguesa, nos leva a questionar se a questão puritana não poderá também ser analisada a um nível mais lato, podendo falar-se também da existência de uma consciência puritana, independente da circunstância ao nível de limpeza de sangue da Casa.

Numa segunda análise à mesma lista, e para o universo que pretendemos estudar neste trabalho, excluímos todas as pessoas que não eram titulares nem detinham qualquer ofício maior da Casa Real, considerando apenas, a título excepcional, aquelas pessoas que mais tarde viriam a ser encartadas (como os condes das Galveias, de Povolide, do Rio Grande e de Valadares), ou cuja descendência directa viria a ser também titulada, como é o caso de Luís Cesar e Menezes, pai do 1.° conde de Sabugosa, de D. Diogo de Faro e Sousa, neto do 1.° conde do Vimieiro e pai do 2.° conde e de Fernando de Miranda Henriques, avô do 1.° conde de Sandomil. Ao todo reduzimos para metade o número de Casas analisadas, 68, sendo que destas, 54 de titulares, 7 de ofícios maiores não titulares e as restantes 7, que descrevemos acima, de futuras Casas titulares, possibilitando-nos confirmar que estamos, de facto, a olhar para todo o universo de análise definido, uma vez que encontramos as (aproximadamente) 60 Casas que configurariam o universo da aristocracia portuguesa (número estável para os 150 anos que intermedeiam os reinados de D. João IV e D. Maria I) confirmando a proposta de Monteiro quando introduz a sua cristalização, no Antigo Regime, como um fenómeno eminentemente português259.

Assim, e para a primeira nobreza de corte, os reparos identificados por Torcy mais frequentes são o de Pinheiro (29%), seguido do de Aragão (18%), do de Bocanegra (13%) e dos de Granada e ascendência genérica de judeu (ambos 9%). Por outro lado, os reparos que teriam menos influência neste grupo seriam os de Bobadilha e Lafetá (sem observações) e os de Juzarte, Lucena e Torres (com uma observação apenas). Esta

258 Torcy não refere o conde da Ponte como tendo o reparo Torres, mas como descreve o reparo e seria indiscutível que o conde da Ponte provinha dessa linhagem, consideramo-lo, porque caso contrário Torcy teria descrito um reparo que não se aplicaria a nenhuma casa nobre portuguesa. Entendimento diferente teve Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 136. 259 Idem, Elites e P oder., p. 144-146.

Pág. 64 Parte 2 - Os Puritanos realidade permite-nos introduzir uma das questões que julgamos ser basilar no que respeita aos impactos produzidos, pela existência de puritanismos, na sociedade de corte do Antigo Regime: se por um lado promoviam a exclusão de algumas Casas do universo de reprodução social de outras, um dos temas centrais do presente trabalho, por outro, e para as Casas em ascensão, a incidência de alguns destes reparos poderia ser uma forma de aproximação e identificação com as Casas que os tinham, ou seja e a título de exemplo, permitimo-nos questionar se uma Casa nobre com o reparo de Pinheiro, sendo conceptualmente excluída de uma pertença ao grupo dos Puritanos, não veria facilitado o seu acesso à reprodução social de outras Casas mais preeminentes pela existência de uma ascendência comum conhecida, ainda que com mancha.

Para a realidade portuguesa de 1684, data do Relatório, apresentamos de seguida uma proposta de constituição do grupo dos Puritanos que resulta de três níveis de análise distintos: um primeiro que agrega todas as Casas puritanas identificadas por Torcy cuja ausência de reparos foi também confirmada por nós; um segundo que elenca as Casas identificadas por Torcy que desconsiderámos enquanto puritanas neste trabalho, ou porque foram irrelevantes ao nível de identificação de políticas de reprodução social260 ou porque, ao contrário de Torcy, identificámos reparos por si desconhecidos ou desconsiderados; e, finalmente, um terceiro nível relativo ou às Casas que em 1684 não seriam titulares (mas que o serão mais tarde, motivo pelo qual acreditamos deverem ser incluídas neste estudo), ou a eventuais reparos identificados por Torcy que não conseguimos confirmar. Adicionalmente, e com o objectivo de facilitar a identificação temporal das Casas, optámos por nomear cada uma pelo nome do seu título de maior graduação no período ao qual fazemos referência, quer já existisse ou não, ordenando por ordem de importância relativa do seu título maior e, dentro de cada classe, por ordem alfabética.

Assim, o grupo de Puritanos, em 1684, seria constituído pelas seguintes Casas, num total de 28:

1.° Nível Cadaval Lafões Alegrete Angeja Penalva Ponte de Lima Valença Alvor Arcos Óbidos Redondo Sandomil Valadares Fonte Arcada C. G. Alemã Armeiro-mor

260 Como a Casa dos condes da Feira já referida acima ou dos condes de Serém, com apenas um titular no período de análise.

Pág. 65 Os Puritanos

2.° Nível Linhares Caparica261 Feira Ficalho Pontével S. Vicente262 Serém Soure

3.° Nível263 Asseca Galveias Mesquitela V. N. Souto

Partindo desta realidade observada em 1684, e com base nos critérios de identificação de reparos nas linhagens das Casas elegidos por Torcy, propusemo-nos estudar a evolução do grupo de Puritanos para o período estudado, extrapolando, primeiro, quais as Casas puritanas em 163 0264, e, depois, quais dessas Casas se teriam mantido no grupo até à data do Alvará. Para tornar este estudo possível e viável, elegeram- se 70 casas da primeira nobreza de corte que podem considerar-se um exemplo da aristocracia portuguesa no período estudado, desconsiderando muitas outras casas que, podendo ser importantes para perceber a aristocracia num momento específico dos 170 anos sobre os quais assenta esta análise, têm uma relevância negligenciável no nosso estudo. Reconhecemos que esta análise poderá ser considerada limitada, mas não conseguiríamos estudar um grupo, como o dos Puritanos, enquanto pertença de outro, a primeira nobreza de corte, durante um dado período, se a base não fosse constante para a maioria do período. Por outro lado, o estudo dos Puritanos assenta sobretudo na análise dos seus critérios de reprodução social, pelo que se revela essencial garantir que as casas analisadas asseguram uma continuidade ao longo do período de análise.

Assim, o grupo de Casas inicialmente puritanas, seriam as seguintes:

Aveiro Cadaval Lafões Abrantes 1265 Alegrete Alorna Alvito Angeja Penalva Ponte de Lima Távora Valença Almada Alvor Arcos Aveiras Bobadela Caparica

261 Tanto as Casas dos condes da Caparica e dos condes de Ficalho ainda não existiam em 1684, mas Torcy refere que D. José de Menezes, ascendente comum a ambas e casado com uma filha do marquês de Arronches, não teria reparo, o que não validamos, uma vez que D. José de Menezes era bisneto de D. Madalena de Lancastre, neta de Madalena de Granada, tendo esse reparo por essa sua avó comum. 262 A referência de Torcy ao conde de S. Vicente enquanto puritano centra-se exclusivamente na pessoa de Miguel Carlos de Távora, conde por casamento, irmão do conde de Alvor e por isso puritano, uma vez que a ascendência da Casa de S. Vicente teria o reparo de Bocanegra. 263 Não vem referida por Torcy a linhagem da Casa dos Condes de Asseca, na qual não identificámos qualquer reparo, mas cuja ascendência varonil não se cruzava com a dos grandes e estava muito ligada a Espanha, motivo pelo qual acreditamos ter sido desconsiderada. Também excluídas da análise de Torcy estão as Casas de Mesquitela e Vila Nova do Souto d’El Rei. 264 Importa referir que apenas dez anos depois do início do período de análise assiste-se em Portugal à Restauração onde a realidade da primeira nobreza de corte sofre uma alteração significativa, com a ascensão de muitas Casas à grandeza e a manutenção de tantas outras em Espanha, sendo excluídas da nobreza portuguesa. Por este facto, uniformizamos este grupo, centrando-nos nas Casas que se mantiveram em Portugal, assumindo os títulos de que, posteriormente, vieram a ser encartadas. 265 Ramo da Casa dos marqueses de Fontes, condes de Penaguião.

Pág. 66 Parte 2 - Os Puritanos

Cunha Ficalho Galveias S. Lourenço Óbidos Povolide Redondo Rib. Grande Sabugosa Sandomil Santiago Sarzedas 1 Sarzedas 2 Valadares Vila Flor Asseca Fonte Arcada Mesquitela V. N. Souto C. G. Alemã Armeiro-mor

Uma primeira apreciação deste grupo permite-nos concluir que representa, no seio da primeira nobreza de corte, uma realidade heterogénea: por um lado, e para 1630, apenas 17 destas 40 Casas seriam já titulares; por outro, Casas como as dos viscondes de Asseca, Mesquitela e Vila Nova do Souto d’El Rei nem sequer são referidas por Torcy, permitindo-nos concluir que a sua inclusão no grupo que definimos acima dever-se-á ao mesmo motivo pelo qual acabaram por ser excluídas de casamentos dentro do exclusivo grupo da aristocracia portuguesa, ou seja, a inexistência de relações de parentesco com as restantes Casas, muitas vezes só possíveis pela existência de uma ascendência comum.

À data do Alvará este grupo seria já muito mais reduzido, sendo composto apenas por onze Casas, a saber:

Cadaval266 Lafões Alegrete Angeja Penalva267 Ponte de Lima Valença Óbidos Sandomil268 C. G. Alemã Armeiro-mor

Seria, então, de esperar que fossem estas as Casas a comparecer na Secretaria de Estado para, no âmbito do definido no Alvará, assinarem um Termo em como tinham tomado conhecimento no que nele se estabelecia. No entanto, apenas terão sido chamados a assinar o mesmo, o conde de Vila Maior (Alegrete e Penalva), o marquês de Valença, o marquês de Angeja, o Monteiro-mor do Reino e Fernando de Miranda (Sandomil). À excepção do Monteiro-mor, todos os restantes vêm referidos acima, tendo sido excluídos da convocatória os duques de Cadaval e de Lafões, o marquês de Ponte de Lima, o conde de Óbidos, D. Manuel de Sousa e o representante da Casa dos Armeiro-mor. Destes, a Casa do duque de Cadaval, após o seu casamento com uma filha do conde de S. Vicente, já não teria uma descendência puritana, dado o reparo de Bocanegra presente nesta Casa. O duque de Lafões estava há muito exilado da corte por oposição ao marquês de Pombal,

266 Em 1768 era duque de Cadaval D. Nuno Caetano Álvares Pereira de Melo, que tinha casado com Leonor da Cunha, filha do 5.° conde de S. Vicente, com o reparo Bocanegra, deixando a sua descendência de poder ser considerada puritana, de acordo com o critério de Torcy. 267 A filha H. do 1.° marquês de Penalva, que tinha morrido em 1758, tinha casado em 1748 com o seu primo, o conde de Vilar Maior, pelo que ambos os títulos deverão ser considerados como, a partir de 1758, representando apenas uma Casa. 268 Em 1768 era conde de Sandomil Francisco Xavier de Miranda Henriques, puritano, casado com Violante Maria Josefa de Melo, neta paterna do 2.° marquês de Alegrete, mas com o reparo Granada pela mãe.

Pág. 67 Os Puritanos estando, igualmente por oposição ao marquês, D. Manuel de Sousa (Capitão da Guarda Alemã) e o conde de Óbidos presos por suspeita de envolvimento na tentativa de regicídio que culminou no Processo e Tragédia dos Távoras. Já o marquês de Ponte de Lima, ainda apenas 13.° visconde de Vila Nova de Cerveira, cujo pai morreu também na prisão para onde tinha sido enviado a mando do marquês de Pombal, poderá não ter comparecido por este mesmo motivo ou porque o seu filho era, à data, menor269.

Por fim, e no que respeita ao Armeiro-mor, mantemos o já referido em cima, ou seja, que muito provavelmente nem um ofício maior na corte, nem a limpeza de sangue por desconhecimento de reparos, serão, por si só, suficientes para garantir a pertença a este grupo, pelo que, muito provavelmente, a sua inclusão não seja correcta. Por outro lado, a presença da Casa do Monteiro-mor, que era filho do 4.° conde de Tarouca, na nota de rodapé do Termo, leva-nos a precisar de aprofundar mais a questão já referida, e também presente no Alvará, de se uma mancha podia ser limpa por uma política de casamentos puritana, dado que esta Casa deteria, à data, o reparo de Azambuja.

Assim, e numa primeira fase270, tentámos definir o conceito de política de casamentos puritana2 7 1 e ver se conseguíamos identificá-la nas 70 Casas eleitas e para o período de análise. Partindo, outra vez, do Relatório, e para a realidade posterior a 1684272, analisámos que Casas teriam mantido intacto o seu estatuto em questões de pureza de sangue, ou seja, quais as políticas de casamento que não tinham adicionado qualquer novo reparo às Casas analisadas273. As Casas não puritanas nas quais se identifica uma política puritana de casamentos são as seguintes:

C. Melhor274 Marialva Tancos Távora Atouguia Sarzedas 1275

269 D. Tomás Xavier de Lima, filho do 1.° marquês de Ponte de Lima, nasceu em 1754, tendo apenas 14 anos em 1768. Casa apenas após a morte de D. José, em 1777, com 23 anos, em claro incumprimento do Alvará, com uma filha do conde de Óbidos. Também desconhecemos o acesso aos bens da Coroa e Ordens que esta Casa ainda teria, não sendo de descartar que, com a prisão do 12.° visconde, o mesmo acesso lhes ter sido negado, motivo pelo qual não teriam qualquer interesse em comparecer na Secretaria de Estado para assinar o Termo. 270 Sugerímos a consulta do Anexo 3 para uma visão mais “gráfica” desta análise. 271 Por política de casamentos puritana, e no que a este ponto diz respeito, considerámos apenas os casamentos daqueles que vieram a ser chefes de Casa. 272 Considerando todo o período de análise remanescente, até ao último chefe de Casa vivo antes de 1800. 273 Como as conclusões de Torcy nem sempre são idênticas às nossas, no que aos reparos das Casas diz respeito, optámos por considerar que estas teriam todos os reparos possíveis em 1684, os seus e os nossos, apenas adicionando novos que fossem sendo, entretanto, incorporados por casamento. 274 A partir do 3.° conde de Castelo Melhor, Luís de Vasconcelos e Sousa, com a manutenção dos reparos de Caiada e Granada durante o período de análise. 275 Linha varonil da Casa dos condes de Sarzedas que se extingue com a 4.a condessa, casada com um filho do 1 ° conde de Alvor, cujo neto casa, posteriormente, com a nova herdeira da Casa, mantendo inalterada a nova varonia da Casa dos condes de Sarzedas.

Pág. 68 Parte 2 - Os Puritanos

S. Vicente

Uma curiosidade desta análise é encontrarmos um trio de casas que podemos designar do universo Távora: a dos marqueses de Távora, a dos condes de Atouguia e a dos condes de S. Vicente. Todas elas garantiram, durante o período de análise, a manutenção exclusiva do reparo de Bocanegra, não acrescendo mais nenhum através das suas políticas de casamentos. Também a Casa dos Condes de Sarzedas (até à 4.a condessa), manteve este princípio na sua política de reprodução social. A Casa dos marqueses de Marialva mantém também apenas um reparo, o de Zuniga. A Casa dos marqueses de Tancos, fruto de uma política de casamentos consecutivos na Casa dos condes da Ribeira Grande, apenas aceita o reparo desta, de Pinheiro e, finalmente, na Casa dos marqueses de Castelo Melhor, que desde o 3.° conde de Castelo Melhor não se regista nenhum casamento com famílias não puritanas.

Também releva salientar que o facto de o presente estudo assentar sobre uma análise sistémica de gerações, partido do último titular/ detentor do ofício vivo antes de 1800, até ao seu ascendente directo que estaria vivo em 1630, pela linhagem do título ou do ofício, implica uma limitação que, neste caso, enviesa os resultados para a Casa dos Monteiros-mores. Em 1768 o detentor do ofício seria Francisco José de Melo, que morre em 1789, passando o ofício para o seu primo co-irmão D. Francisco José da Cunha de Mendonça e Menezes, com perda de varonia e aquisição de mais um reparo, desta vez o de Granada, passando este a ser considerado nesta análise276.

Mas seria o puritanismo um critério tal como Torcy o define, ou um modelo de reprodução social? Podemos falar de hierarquia de reparos ou, de facto, um casamento dentro do grupo ajudaria a limpar um reparo e a tornar uma Casa apta a ser considerada puritana? Teriam Casas como a dos marqueses de Távora ou de Marialva alguma palavra a dizer sobre a verdade do seu reparo, levando a que este fosse desvalorizado como tal, permitindo assim o seu acesso ao exclusivo grupo dos Puritanos?

Por forma a melhor perceber estas hipóteses, resolvemos testar a retirada de alguns dos reparos da realidade das Casas, criando um conceito em linha com o realizado anteriormente, ou seja, o de Casa puritana em sentido lato. Os reparos que elegemos foram os de Aragão e Granada, os reparos reais, e os de Azambuja (Monteiro-mor),

276 Curiosamente, o reparo de Granada é adquirido pela mesma linha das Casas dos condes de Caparica e Ficalho, Casas onde Torcy não o identifica.

Pág. 69 Os Puritanos

Bocanegra (Távora) e Zuniga (Marialva). Ao todo testámos os cinco cenários base e as 26 combinações possíveis da desconsideração destes reparos (começando apenas por um e depois consecutivamente até ao cenário em que os retiramos a todos), tendo chegado aos seguintes resultados:

Aveiro Cadaval Abrantes 1277 Marialva Távora Alvor Atouguia Caparica Ficalho S. Vicente Sabugosa Sandomil Sarzedas 1 Valadares Monteiro-mor

Dos 31 cenários, apenas sete devolveram resultados, não acrescentando os demais qualquer nova Casa ao grupo. Apesar de estarmos apenas num cenário hipotético, a verdade é que os resultados parecem devolver, de facto, aquele que seria o topo da hierarquia da aristocracia em Portugal, já incorporando, nomeadamente, o universo Távora, com as Casas de Távora, Alvor, Atouguia e S. Vicente, o universo Santa Cruz, com as Casas de Aveiro e Sabugosa, as Casas reputadas por Puritanos em Torcy às quais encontrámos reparos, Caparica, Ficalho e Sandomil, a Casa dos marqueses de Marialva e também as Casas onde observamos quase um exclusivo de casamentos Puritanos, Valadares e Monteiros-mores.

Será difícil confirmar se um universo puritano existiria por oposição a estas grandes Casas aristocráticas de Portugal, como a dos marqueses de Távora e de Marialva, ou se, pelo contrário, foi obrigado a viver com elas e aceitar a sua integração no seu modelo de reprodução social278. Inegável é que, no seu conjunto, em sentido estrito e lato, não temos quaisquer dúvidas de estar diante das mais influentes Casas da primeira nobreza de corte em Portugal, que encontraremos nos principais cargos de governo e ao lado dos reis enquanto membros do seu conselho. Como exemplo, quando o 1.° duque de Cadaval tem de eleger as Casas com quem se vai associar pelos casamentos dos seus filhos, não é de estranhar que esta eleição recaia, precisamente, nas Casas de Abrantes, Alegrete, Távora, Alvor e, obviamente, na Casa Real.

Outra curiosidade, fora do âmbito do presente trabalho, mas decorrente dele, é o percurso realizado por outras Casas que inicialmente detinham poucos ou nenhuns reparos e que terminam o período de análise com uma realidade completamente diferente. Para estas, como já referimos acima, e na impossibilidade de acederem ao grupo dos

277 Da linha dos marqueses de Fontes, condes de Penaguião. 278 Apresentamos, no Anexo 4 à presente dissertação, algumas Notas relativas a estes reparos que desconsiderámos.

Pág. 70 Parte 2 - Os Puritanos

Puritanos, podemos questionar se processo de aquisição de novos reparos funcionaria como a possibilidade de uma maior identificação com os seus pares279, ou se, pelo contrário, configuraria um processo de dérogeance social, um fenómeno ainda assim pouco observado na sociedade portuguesa do Antigo Regime.

Propomos, então, como conclusão da nossa tentativa de identificação de um grupo esta realidade dual dos Puritanos, percebendo que, muito provavelmente, o grupo seria entendido no seu sentido estrito, que, ao longo do tempo, e face a eventuais provas ou até circunstâncias da corte que forçavam novas alianças, se viu obrigado a um entendimento mais lato do puritanismo, interessando demonstrar o impacto destes dois níveis de puritanismo numa apreciação global das políticas de reprodução social destas Casas aristocráticas, o que faremos no ponto seguinte.

5. O Modelo de reprodução social

Existem famílias cuja maior prosápia é a da pureza do seu sangue ou seja, a de nunca ter havido nelas cruzamentos com sangue moiro ou judeu. Disso se glorificam, e tanto que não querem aliança com família que não tenha igual prosápia, e é esta a razão por que os portugueses se casam com parentes, embora as dispensas de Roma lhe custem os olhos da cara. Outras há, por tal forma obstinadas na manutenção da pureza da sua casta, que preferem extinguir-se a aliar-se com gente menos ilustre que a

Do capítulo anterior percebemos que a realidade do grupo dos Puritanos não deverá ser considerada estática, podendo uma análise mais restrita prejudicar a qualidade da informação que dela se tira, correndo-se ainda o risco de devolver resultados

279 Referimos os exemplos das Casas de Fronteira, Niza (pelos condes de Unhão), Bobadela, Lumiares, S. Miguel, Penafiel, Pombeiro e Sande. 280 Castelo Branco Chaves, O Portugal d e ., pp. 63-64.

Pág. 71 Os Puritanos enviesados e que não encontram qualquer reflexo na realidade que pretendem estudar. Assim, e no que a políticas de reprodução social diz respeito, entendemos dividir a análise no estudo de dois grupos seguindo os princípios enumerados anteriormente, ou seja, a consideração de um grupo de Puritanos em sentido estrito - os que à data da publicação do Alvará se manteriam Puritanos - mas também a análise de um grupo de Puritanos em sentido lato, Casas que à data do Alvará já não poderiam, de acordo com o conceito de puritanismo “biológico”281, ser consideradas puritanas, mas que ainda assim continuavam a casar dentro do grupo e, algumas delas, a ser consideradas puritanas, como nos apercebemos pelos relatos da época, bem como Casas que, não podendo ser consideradas puritanas pelos reparos que tinham, demonstraram uma endogamia nos casamentos dentro de um reduzido grupo de reparos. Fora do âmbito deste capítulo ficará a análise da evolução do grupo dos Puritanos desde a data da criação da Confraria dos Escravos de Santa Engrácia, tentando perceber em que momento do tempo poderão ter algumas dessas Casas deixado de ser consideradas puritanas, tema que não desenvolveremos, mas em relação ao qual, pontualmente, comentaremos a propósito de alguns exemplos concretos282.

Para estes dois grupos dividimos a nossa análise em dois momentos temporais distintos: um primeiro, desde o primeiro casamento de um filho do chefe da Casa realizado após 1630 até à publicação do Alvará (1768), permitindo com isso perceber como foram escolhidas as alianças matrimoniais dos filhos destas Casas aristocráticas antes do Alvará; e um segundo desde a publicação do Alvará até ao último casamento realizado por um filho da Casa até ao final do século XVIII, permitindo-nos aferir os impactos reais, ao nível da reprodução social, do mesmo. Acresce a este o facto de termos ainda dividido os casamentos puritanos de cada Casa em simplesmente puritanos (ou puritanos em sentido estrito) se da análise que fizemos ao cônjuge não tivermos encontrado qualquer reparo, e em casamentos puritanos em sentido lato, se da mesma análise tivesse resultado um dos reparos que anteriormente incluímos numa definição

281 Usaremos este termo para designar o puritanismo entendido enquanto linhagem isenta de qualquer reparo. Releva, no entanto, referir que para Jean-Louis Flandrin, «A raça, na medida em que era marcada pelo patronímico, não constituía portanto uma realidade biológica, mas sim jurídica». In Famílias. Parentesco, casa e sexualidade na sociedade antiga. Lisboa: Editorial Estampa, 1991, p. 22. 282 Referimo-nos às Casas dos marqueses de Abrantes (ramo Figueiró/ Vila Nova de Portimão), de Alorna e do Alvito, dos condes de Almada, dos Arcos, de Aveiras, da Bobadela, da Cunha, das Galveias, de S. Lourenço, de Povolide, do Redondo, da Ribeira Grande, de Santiago de Beduído, de Sarzedas (ramo T ávora) e de Vila Flor, dos viscondes de Asseca, da Fonte Arcada e de Mesquitela e de Vila Nova do Souto d’El Rei e dos Armeiros-mores.

Pág. 72 Parte 2 - Os Puritanos mais lata do conceito de puritanismo, a saber: Aragão, Azambuja, Bocanegra, Granada e Zuniga283.

Quanto ao grupo dos Puritanos em sentido estrito, a análise recaiu nas seguintes Casas aristocráticas284:

Lafões Alegrete Angeja Penalva Ponte de Lima Valença Óbidos C. G. Alemã

Ao todo analisámos 129 casamentos, a maior parte deles - 101 - realizados antes do Alvará, de acordo com a tabela seguinte:

Antes do Alvará Depois do Alvará Puritanos Puritanos Puritanos Puritanos Puritanos (sentido estrito) (sentido estrito) (sentido lato) (sentido estrito) (sentido lato) Lafões 6 / 9 8 / 9 0 / 1 1 / 1 Alegrete 17 / 23 20 / 23 1 / 8 2 / 8 Angeja 4 / 15 8 / 15 0 / 5 2 / 5 Penalva285 11 / 13 12 / 13 n/a n/a Ponte de Lima 10 / 14 10 / 14 2 / 6 3 / 6 Valença 5 / 5 5 / 5 2 / 3 2 / 3 Óbidos 8 / 15 12 / 15 2 / 3 2 / 3 C. G. Alemã 4 / 7 5 / 7 1 / 2 1 / 2 Total 65 / 101 80 / 101 8 / 28 13 / 28 % 64,4% 79,2% 28,6% 46,4%

No global, a maioria, 64,4%, foram registados, de facto, com Casas às quais não identificámos qualquer reparo, aumentando este número para 79,2% se entendido o conceito puritano num sentido lato. As Casas que registam mais casamentos, Alegrete, Penalva e Ponte de Lima, são também aquelas onde a percentagem de casamentos puritanos é maior, acima dos 70%, sendo que a única Casa com casamentos

283 Também relativamente a este ponto, importa referir que muitas das Casas em relação às quais não encontramos quaisquer reparos, também não nos foi possível encontrar uma ligação óbvia das mesmas à aristocracia portuguesa, tendo assumido que a mesma existia, o que representa uma simplificação do conceito de puritano que temos vindo a utilizar neste trabalho, ou seja, de que seriam membros da aristocracia portuguesa sem quaisquer reparos de sangue. 284 Optámos pela exclusão das Casas dos duques de Cadaval e dos condes de Sandomil por ambos os titulares, em 1768, terem j á casado fora do universo puritano e a Casa dos Armeiros-mores por entendermos que as suas alianças matrimoniais não se cruzaram com a dos Puritanos. 285 Com o casamento do 6.° conde de Vilar Maior com a herdeira da casa dos marqueses de Penalva, condes de T arouca, os casamentos passam a ser considerados na Casa de Alegrete/ Vilar Maior.

Pág. 73 Os Puritanos exclusivamente puritanos é a dos marqueses de Valença, que, no entanto, só realiza 5 casamentos neste período (o que compara, por exemplo, com 23 casamentos da Casa dos marqueses de Alegrete, dos quais 17 no grupo puritano estrito). No extremo oposto temos a Casa dos marqueses de Angeja com apenas 26,7% de casamentos puritanos e 53,3% de casamentos puritanos em sentido lato, o que parece confirmar a possibilidade de distinção entre Casa puritana, aquela à qual não são imputados quaisquer reparos, e Casa com um modelo de reprodução puritano, enquanto uma Casa que realiza, ou se esforça por realizar, a grande maioria dos seus casamentos dentro de um universo de Casas sem reparos. Ainda assim, em comum e não obstante as demais políticas de reprodução social seguidas, estas Casas têm o facto de terem casado os seus herdeiros dentro do grupo de Casas sem quaisquer reparos, o que pode demonstrar uma valorização da preservação do capital simbólico puritano da Casa, optando por outros critérios nos seus demais casamentos.

Também em relação às excepções, considerando os casamentos em Casas puritanas em sentido lato, destacam-se a Casa dos Monteiros-mores que casa quatro vezes neste grupo, a dos marqueses de Marialva, três, e a dos condes de Valadares, com dois casamentos. Quanto às Casas não puritanas, nenhuma parece evidenciar-se, sendo as que apresentam maior número de casamentos, dois, são as dos marqueses de Cascais, Niza, Minas e dos condes de Vale de Reis.

Outras duas tendências que observamos neste grupo de Casas, e que poderão ajudar a enquadrar a relação do puritanismo com as demais preocupações aristocráticas da época, são: por um lado, o facto de que sempre que casam fora do grupo de Casas sem reparos, casam com herdeiros, existindo apenas a excepção do segundo casamento do 3.° marquês de Angeja com uma filha do 3.° marquês de Marialva; por outro lado, a questão dos secundogénitos também nos parece merecer uma análise mais detalhada. Se é verdade que a utilização dos casamentos para equilibrar as finanças de uma Casa foi algo raro na aristocracia portuguesa do Antigo Regime286, também é verdade que, neste ponto, os secundogénitos poderiam ter saído beneficiados com esta prática uma vez que, estando excluídos das disposições testamentárias da sua Casa, aumentariam por aí o incentivo, por forma a garantir a sustentabilidade das Casas que criariam287. No entanto, não é esta

286 Piedade Braga Santos, Teresa Rodrigues e Margarida Sá Nogueira, Lisboa Setecentista Vista por Estrangeiros. Lisboa: Livros Horizonte, 1996, p. 37; e Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo.., pp.77-81. 287 Sobre o importante papel destinado aos secundogénitos, leia-se Miguel Jasmins Rodrigues, Nobreza e poderes: da Baixa Idade Média ao Império. Cascais: Patrimonia Historica, 2000, pp. 82-83.

Pág. 74 Parte 2 - Os Puritanos a realidade que observamos. Dos catorze casamentos de secundogénitos que observamos dentro deste grupo, todos os que não são em Casas puritanas são com herdeiras, sendo que as Casas de Penalva, Ponte de Lima, Valença e Óbidos casam secundogénitos com não herdeiras. A confirmar a conclusão chegada por Monteiro quanto à preeminência da Casa dos marqueses de Alegrete no que à sua reprodução social diz respeito288, temos o facto de não apenas ser a que regista mais casamentos de secundogénitos, quatro, como a única que casa todos com herdeiras, duas de Casas puritanas, Penalva/ Tarouca e Ponte de Lima/ Vila Nova de Cerveira, uma de uma Casa puritana em sentido lato, Casa dos Senhores de Vila Verde de Ficalho (cujo trineto é feito conde de Ficalho) e, por fim, uma com a herdeira da Casa dos marqueses de Niza, uma Casa não puritana. Se para esta última, por não haver descendência, não podemos aferir da efectividade de uma prática de limpeza de sangue por parte dos Puritanos, não podemos contestar a importância do contributo da Casa dos marqueses de Alegrete na própria definição de puritanismo português ao ir-se tornando, também, a linhagem varonil comum de outras Casas aristocráticas portuguesas, ajudando ainda a enquadrar a opção tomada neste estudo de inclusão do conceito de Casas puritanas em sentido lato na qual incluímos a Casa dos condes de Ficalho que, ao casar na Mouraria, passa a ter mesma varonia das principais Casas puritanas como a dos marqueses de Ponte de Lima ou de Penalva.

Não será de estranhar que esta realidade sofre uma alteração substancial após a publicação do Alvará e até ao final do século. Não apenas o número de casamentos puritanos se reduz para 28,6%, como mesmo entendidos em sentido lato não alcançam os 50%, mesmo considerando que com a morte de D. José, Pombal é definitivamente afastado do poder e deixa de ter qualquer influência na reprodução social das Casas aristocráticas portuguesas. Se é verdade que, para a posteridade e enquanto confirmação do puritanismo que se observava na aristocracia portuguesa, ficaram os casamentos cruzados entre as Casas de Ponte de Lima e Óbidos289 logo após a morte de D. José, a realidade da reprodução social deste grupo de Casas aristocráticas encontra-se já muito diferente, identificando-se uma maior abertura a casar fora daquelas que foram, durante mais de 100 anos, as Casas mais procuradas por esta elite aristocrática portuguesa290.

288 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., pp. 132-133. 289 Referimo-nos aos casamentos do 14.° visconde de Vila Nova de Cerveira com D. Maria José Mascarenhas, filha do 3.° conde de Óbidos, e do casamento do filho deste, o futuro 4.° conde de Óbidos, com D. José Maria Mascarenhas, com D. Helena Xavier de Lima, filha do primeiro. 290 Alguns bons exemplos disso são os casamentos nas Casas dos marqueses de Niza e de Tancos, e dos condes de Castelo Melhor, da Ribeira Grande e do Redondo.

Pág. 75 Os Puritanos

Em relação ao grupo das Casas puritanas entendidas em sentido lato, a análise recaiu nas seguintes:

Aveiro Cadaval Abrantes 1 Marialva Távora Alvor Atouguia Caparica Ficalho S. Vicente Sabugosa Sandomil Sarzedas 1 Valadares Monteiro-mor

Ao todo analisámos 252 casamentos, a maior parte deles - 220 - realizados antes do Alvará:

Antes do Alvará Depois do Alvará Puritanos Puritanos Puritanos Puritanos Puritanos (sentido estrito) (sentido estrito) (sentido lato) (sentido estrito) (sentido lato) Aveiro 5 / 13 10 / 13 0 / 0 0 / 0 Cadaval 10 / 15 15 / 15 1 / 3 3 / 3 Abrantes 1 5 / 17 14 / 17 0 / 0 0 / 0 Marialva 4 / 14 7 / 14 2 / 6 2 / 6 Távora 10 / 19 19 / 19 0 / 0 0 / 0 Alvor 2 / 15 9 / 15 0 / 0 0 / 0 Atouguia 8 / 15 11 / 15 0 / 0 0 / 0 Caparica 9 / 21 14 / 21 0 / 2 0 / 2 Ficalho 9 / 14 12 / 14 1 / 2 1 / 2 S. Vicente 6 / 15 10 / 15 0 / 4 0 / 4 Sabugosa 6 / 13 10 / 13 0 / 8 0 / 8 Sandomil 7 / 8 8 / 8 0 / 1 1 / 1 Sarzedas 1 9 / 18 14 / 18 n/a n/a Valadares 6 / 10 9 / 10 0 / 3 2 / 3 Monteiro-mor 13 / 13 13 / 13 1 / 3 1 / 3 Total 109 / 220 175 / 220 5 / 32 10 /32 % 49,5% 79,5% 15,6% 31,3%

Em relação a estas Casas aristocráticas, e para o período anterior ao Alvará, a realidade dos casamentos celebrados com o grupo de Puritanos em sentido estrito é substancialmente diferente do referido acima, registando-se apenas 49,5% observações dos 220 casamentos analisados. Se entendido o conceito de puritanismo em sentido lato, estas Casas apresentam um número relativo de casamentos dentro do universo lato dos Puritanos em linha com o que observámos acima (79,5%). Ainda assim, e para algumas Casas, os resultados não deixam de ser elucidativos em relação à prática de endogamia

Pág. 76 Parte 2 - Os Puritanos puritana, como são disso exemplo a Casa dos Monteiros-mores que casa exclusivamente dentro do grupo dos Puritanos em sentido estrito. Já as Casas dos duques de Cadaval, dos marqueses de Távora e dos condes de Sandomil, realizam todos os seus casamentos no universo puritano em sentido lato, sendo que, conforme já referimos, a primeira apenas foi desconsiderada do primeiro grupo que apresentámos neste ponto por o 4.° duque ter casado com uma filha do 5.° conde de S. Vicente, o que encontra uma explicação pelo facto desta ser sobrinha do conhecido e influente cardeal da Cunha291.

No entanto, e no que a excepções diz respeito, as considerações são diferentes das referidas para a realidade dos Puritanos em sentido estrito. Não só nos apercebemos dos inúmeros casamentos fora da realidade dos títulos e dos ofícios maiores, 13, como a Casa dos marqueses de Távora assume um lugar de destaque registando 10 casamentos dentro do grupo dos Puritanos em sentido estrito, para o qual muito contribui, indiscutivelmente, a sua influência na Corte, comprovado pelos casamentos do 5.° conde de S. João da Pesqueira e do 2.° conde de Alvor na Casa dos duques de Cadaval, mas também pelo facto de as Casas que podemos designar do universo Távora fazerem parte, também, deste grupo lato de Puritanos, como a Casa dos condes de Atouguia, Alvor, S. Vicente e de Sarzedas, que são precisamente aquelas que manteriam um estatuto puritano ao longo deste período se o reparo de Bocanegra fosse desconsiderado. Para além das Casas do universo Távora, como Atouguia, com 6 casamentos e S. Vicente e Sarzedas com 4, temos também a Casa dos marqueses de Abrantes com 5 casamentos dentro deste grupo e a dos condes dos Arcos com 4. Esta última parece merecer-nos uma análise mais profunda dado que, de acordo com Monteiro, terá sido uma das Casas mais escolhidas para a realização de casamentos da aristocracia portuguesa292 e, como já referimos atrás, seria uma das Casas puritanas em 1630. E assim parece ser, de facto, quando observamos que a descendência do 3.° conde dos Arcos casou dentro do mais restrito grupo dos Puritanos, sendo este um ascendente comum das Casas dos marqueses de Alegrete, Penalva e Ponte de Lima, bem como dos marqueses de Távora, e ainda da dos condes de Atouguia e Sandomil. O puritanismo, em sentido estrito, é perdido com o casamento do 4.° conde com uma filha do 1.° marquês de Távora, sendo que a sua descendência apenas

291 João Cosme de Távora (1715-1783), depois da Cunha, ficou conhecido como cardeal da Cunha. Era filho do 4.° conde de S. Vicente e primo dos Távoras, apelido que deixou de usar após o Processo com o mesmo nome. Foi bispo de Leiria e elevado a cardeal em 1770. Em 1777, após a morte de D. José, e não obstante ter sido um dos homens mais próximos de Pombal, terá dito a Pombal: Vossa Senhoria não tem mais nada a fazer neste lugar. 292 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo..., pp. 132-133.

Pág. 77 Os Puritanos pontualmente e fora da 1.a nobreza de Corte consegue realizar casamentos puritanos, representando uma alteração radical no seu modelo de reprodução social.

No que respeita às excepções fora da concepção puritana, estrita ou lata, nenhuma Casa parece evidenciar-se, sendo que o maior número de observações se deve à realidade das outras Casas - não titulares e sem ofícios maiores - o que nos deverá relembrar que, apesar de estarmos muito próximo do que se considerava a 1.a nobreza de corte, haverá sempre a possibilidade de algumas Casas influentes poderem ter sido postas de parte com o critério utilizado no presente trabalho293. Ainda assim, fazemos referência às Casas dos condes de Redondo e de Soure, com 3 casamentos, e a dos marqueses de Fronteira e dos condes da Ribeira Grande, de Sarzedas, de Unhão e do Vimieiro, com 2 casamentos.

Para o período posterior ao Alvará, mantemos as mesmas conclusões a que chegámos em relação às Casas puritanas - 16% de casamentos puritanos e 31% de casamentos puritanos em sentido lato -, tendo em consideração que quatro destas Casas aristocráticas tinham sido extintas em 1759 no âmbito do Processo dos Távoras (Aveiro, Távora, Alvor, e Atouguia), que desconsiderámos uma Casa deste grupo por se ter extinguido no ramo Menezes (Abrantes 1) e que outras quatro Casas não apresentam qualquer casamento nesse período (Caparica, S. Vicente, Sabugosa e Sarzedas).

Assim, e para a realidade analisada antes do Alvará, um resumo possível poderá ser apresentado de acordo com a seguinte tabela:

Puritanos Puritanos (lato) Casas N.° % N.° % Puritanas 65 64,4 109 49,5 Estrito 34 33,7 19 8,6 Casa Real 1 1,0 3 1,4 Nobreza estrangeira 11 10,9 9 4,1 Outras Casas titulares294 11 10,9 29 13,2 Outras 8 7,9 49 22,3 Puritanas lato 15 14,9 66 30,0 Titulares e Ofícios maiores 13 12,9 53 24,1 Outras 2 2,0 13 5,9 Outras Casas 21 20,8 45 20,5 Titulares e Ofícios maiores 18 17,8 38 17,3 Outras 3 3 7 3,2 Total 101 100,0 220 100,0

293 Podemos, a título de exemplo, referir alguns secundogénitos dos Grandes que conseguiram “vingar” na Corte, apesar de não terem sido titulados, bem como as famílias de homens muito influentes na corte, como Gaspar de Faria Severim e Roque Monteiro Paim, cuja descendência casou no universo dos Grandes. 294 Casas aristocráticas que foram, pelos motivos enunciados anteriormente, desconsideradas desta análise.

Pág. 78 Parte 2 - Os Puritanos

Apesar de, como verificámos anteriormente, a maioria dos casamentos realizados por ambos os grupos analisados ter seguido uma reprodução puritana, esta revela-se incapaz, ainda assim, de explicar toda a realidade no que à reprodução social destas Casas, neste período, diz respeito. Um facto indiscutivelmente interessante é o peso que as outras Casas, não titulares e não detentoras de ofícios maiores, assumem nesta análise estatística. A metodologia de análise, através do estudo exaustivo das genealogias de cada Casa, permitindo perceber se “entroncavam” em qualquer ramo ao qual se imputasse um reparo, levou a que: por um lado, conseguíssemos ser muito criteriosos em relação à forma como avaliámos este grupo, permitindo a sua divisão também em Puritanos (sentido lato e estrito) e não Puritanos; por outro, e apesar de ser a minoria, muitas foram as vezes em que não nos foi possível confirmar todos os ramos e, por isso, algumas conclusões poderão ser redutoras. Ainda assim, 13% dos casamentos do grupo dos Puritanos e, mais expressivo, 31% dos casamentos do grupo dos Puritanos em sentido lato, faz-se fora da nobreza titular e detentora dos principais ofícios da Casa Real. Também interessante é o facto desta realidade ser mais expressiva para o grupo dos Puritanos em sentido lato que, dos 109 casamentos que celebram com Puritanos, aqui entendidos como Casas sem reparos, 45% são com Casas não titulares, o que nos permite questionar a afirmação de Monteiro que refere que «os matrimónios com outras nobrezas portuguesas correspondiam a “casar abaixo”»295, reabrindo a discussão sobre o entendimento de Torcy sobre mesaliances e o quanto, a verdade, não nos poderá falar exactamente do contrário, ou seja, que estes casamentos deverão ser considerados enquanto garantes de um dado status de uma Casa aristocrática.

6. As inconsistências e incoerências

Se algum estrangeiro chega a Lisboa, e se introduz com a nobreza, cada qual o informa do bom da sua família, e do máo das outras; e assim sabem, o que chamamos os podres de todas, seja com razão ou sem ella [ .] .296

295 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., pp. 131. 296 D. Luís da Cunha, Instruções Inéditas., p. 94.

Pág. 79 Os Puritanos

Já referimos anteriormente que acreditamos que o puritanismo observado na reprodução social de algumas Casas aristocráticas portuguesas deverá ser analisado enquanto seguindo um modelo de reprodução social sob um princípio de casta2 9 7 e não enquanto consequência de um sistema de castas. Talvez por isso a primeira incoerência a identificar deverá ser a nossa no que aos pressupostos deste trabalho diz respeito.

Como já referido, na proposta e análise do grupo dos Puritanos, tanto em sentido estrito como em sentido lato, baseámo-nos numa abordagem estritamente biológica de puritanismo, assente em estudos genealógicos que acreditamos terem sofrido alterações ao longo do tempo, não apenas circunscrito ao período de análise, mas até à actualidade, principalmente quando a inexactidão das fontes esteve directamente relacionada com a vontade directa dos visados nas mesmas genealogias.

Outra questão, mais interessante, prende-se justamente com o próprio entendimento sobre o puritanismo que os contemporâneos teriam, supondo que o mesmo, em Casas distintas, poderia conter entendimentos diversos, como supomos pelo relato do 1.° conde de Povolide que, nas suas memórias pessoais, refere, no ajuste do seu casamento com uma filha dos 2.os condes de S. Vicente - estes ainda Puritanos - ter falado «com genealógicos amigos e verdadeiros»298, não obstante a sua Casa ter o reparo de Granada pelo lado da sua mãe, descendente de Madalena de Granada, sabendo ainda que era também confrade de Santa Engrácia, como já vimos anteriormente.

A este nível, também o exemplo dos Távoras nos parece paradigmático. Desde que perdem o estatuto puritano, com o casamento do 1.° marquês com uma filha do 1.° conde de Sarzedas, com o reparo Bocanegra, apenas realizam casamentos puritanos ou noutras Casas com o mesmo reparo, sendo que identificamos esta política também, como já referimos atrás, num conjunto de Casas que considerámos como sendo do universo Távora, como Alvor, Atouguia e S. Vicente, que se mantém também durante todo o período com apenas este reparo. É verdade que estas Casas nunca vêm referidas como puritanas, no entanto, no referido estudo de Monteiro, são Casas que figuram nos lugares cimeiros das mais procuradas e que praticam, ainda assim, uma política muito fechada nos seus casamentos. Se é verdade que o reparo Bocanegra foi dos mais conhecidos e com maior incidência na aristocracia portuguesa, também o é que «com o evoluir do

297 Conceito sugerido por Jorge Pedreira, orientador desta Dissertação. 298 Cit. in António Vasconcelos da Gama, «Introdução: Memórias Históricas de Tristão da Cunha de Ataíde, 1.° Conde de Povolide». In Tristão da Cunha de Ataíde, 1.° Conde de Povolide, Portugal..., p. 25.

Pág. 80 Parte 2 - Os Puritanos tempo, o modo e o espírito dos Távoras haviam assumido certas feições e características que suscitaram a atenção de contemporâneos e vindouros»299, levando a que, por um lado, pudesse existir um incentivo puritano em desvalorizar esta linhagem, tema que continuaremos no ponto seguinte, e por outro que este reparo se tornasse “atractivo” para outras Casas pelo mero simbolismo da associação à Casa dos marqueses de Távora300.

Assim, parece-nos legítimo assumir que, mais do que uma questão estritamente biológica, como num sistema de castas, os puritanismos de sangue foram, fundamentalmente, um fenómeno social orientado por um princípio de casta, mas não limitado pelo mesmo, ajudando a um melhor entendimento do referido no Alvará relativamente à possibilidade de se limpar uma linhagem através da celebração de um casamento dentro do grupo. Outra das questões que nos parece importante analisar é o próprio entendimento de verdade e o quão difícil poderá revelar-se, nos nossos dias e com a informação de que dispomos, a imagem que se teria de uma determinada Casa e a forma como essa imagem seria transversal para o resto da aristocracia portuguesa, como nos apercebemos pelas referências do marquês de Bombelles ao assunto, já depois da morte de D. José, referindo que «Les maisons d ’Obidos et de Castelo Melhor sont rangées dans la classe des families nommées puritaines»301, o que é uma surpresa porque a Casa dos marqueses de Castelo Melhor teria os reparos de Caiada e Granada, sendo que não acrescentaram mais nenhum reparo durante o período, tornando razoável, pelo menos, a assunção que, seguindo uma política de casamentos puritana, se pudesse ganhar esse estatuto ao olhos de, neste caso, um estrangeiro.

Não será assim de espantar a abertura do presente trabalho a uma realidade mais lata do conceito de puritanismo enquanto modelo de reprodução social não exclusivamente assente na sua vertente biológica, mas também, e tal como refere Monteiro, com critérios que «só eram percebidos por dentro, ou por quem dominava certos segredos e os saberes que os apoiavam»302, podendo até promover ideias difusas, como a do já citado marquês

299 João Bernardo Galvão-Telles e Lourenço Correia de Matos, «que os do nome de Tavora que de nos descenderem nam haja de ser esquecido»: a sucessão dos condes de São Vicente no morgado dos Távoras. Lisboa: LMT- Consultores em História e Património, 2012, p. 6. 300 Sugerimos esta possibilidade referindo-nos, claro, a Casas a quem a entrada no grupo dos Puritanos estaria vedada, quer por existência de reparos, quer por linhagens menos ilustres, salientando que o reparo não era uma marca de cristã-novice. 301 Marquis de Bombelles, Journal..., p. 136. 302 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo, p. 131.

Pág. 81 Os Puritanos de Bombelles, para quem o puritanismo se observava nas Casas «qui portent le rigorisme beaucoup plus loin que celles des autres nobles portugais»303.

Certo é que muitos tentaram condicionar o futuro da sua linhagem a uma realidade puritana, o que fez D. Filipe de Sousa, da Casa dos Capitães da Guarda Alemã, quando, em 1666, impôs em testamento que a sucessão na ilustre casa do Calhariz ficasse vedada a «pessoa alguma que tenha raça de nação infecta, mouro, judeu ou mourisco, nem pessoa que seja casada com quem tenha alguma das ditas raças, e se depois da sucessão casar com tal pessoa, por isso mesmo perca o dito morgado»304, e ainda António Teles da Silva305 que, instituindo morgado e as condições do mesmo no seu testamento, esclarece que: «aquele ou aquela que asi o não comprir, desde logo a hei por não nomeada, e nomeo a pessoa que successiuamente da descendencia dos ditos meus irmaos lhe pertencer (...). E o mesmo será cazando alguns dos sucessores do ditto morgado, macho ou femea, com pessoa de Nação Hebrea, ou de outra alguma ceita, ou raça»306, reproduzindo a fórmula, já enunciada atrás que povoou os estatutos das principais instituições do Antigo Regime, como as universidades, as confrarias, as Ordens Religiosas Militares, o Tribunal do Santo Ofício e a Casa Real. No entanto, e conforme constatámos pela leitura de alguns testamentos da Casa puritana dos marqueses de Ponte de Lima, a mesma fórmula não terá sido transposta para estes307, confirmando, por um lado, que se para algumas Casas a prossecução de um modelo puritano na sua política de reprodução social foi promovida por disposições testamentárias impostas que criaram constrangimentos na transmissão dos seus morgados308, permitindo também perceber porque é que algumas Casas se preocuparam mais com a questão puritana ao nível quase exclusivo dos herdeiros, outras há que, não obstante serem reconhecidas como puritanas na sua reprodução social, acabaram por não materializar esse modelo em quaisquer restrições testamentárias à transmissão dos seus bens, confirmando assim que o próprio entendimento de modelo

303 Marquis de Bombelles, Journal..., p. 253. 304 ANTT, Casa Palmela, liv. 2, fols. 6 e 6v. 305 Irmão do 1 ° conde de Vilar Maior que beneficiou da sua fortuna, por morrer sem deixar descendência. 306 Virgínia Rau, «Fortunas ultramarinas e a nobreza portuguesa no século XVII». In Separata da Revista Portuguesa de História, Tomo VIII. Coimbra: Instituto de estudos Históricos Doutor António de Vasconcelos/ FL-UC, 1961, p. 25. 307 Analisámos os testamentos do visconde D. Tomás Teles da Silva, irmão do 3.° marquês de Alegrete, ANTT, Viscondes de Vila Nova de Cerveira, Cx. 32, n.° 45 (1758) e das viscondessas D. Maria Ana Teresa de Hohenlohe e D. Joana de Vasconcelos, ANTT, Viscondes de Vila Nova de Cerveira, Cx. 32, n.° 12 (1720) e Cx. 22, n.° 7 (1653), respectivamente. 308 Interessante será a leitura, por exemplo, da instituição do morgado dos Távoras onde se condicionava também a transmissão do mesmo, não a questões puritanas de sangue, mas de linhagem, conforme citado em João Bernardo Galvão-Telles e Lourenço Correia de Matos, «que os do n o m e ., pp. 13-14.

Pág. 82 Parte 2 - Os Puritanos puritano - bem como sobre os instrumentos utilizados na manutenção de um estatuto puritano - variava de Casa para Casa.

Mas, no discurso público puritano poucos terão sido tão incisivos como o já citado neste trabalho, Roque Monteiro Paim na sua Perfídia Judaica...309, um discurso que deverá ser enquadrado numa realidade de ascensão social feita à conta tanto de serviços prestados à Coroa como ao Tribunal do Santo Ofício que, apenas em três gerações, permitiram que esta família concentrasse um património elevado310 terminando com a ascensão à grandeza da filha herdeira de Roque Monteiro Paim que casa com aquele que vem a ser o 1.° conde de Alva. Conforme referem Xavier e Cardim, o acesso ao poder «pelos fidalgos aclamadores só foi possível pela constituição de uma rede de cumplicidades com extensões à magistratura e à alta administração»311, concretizando que, entre estes, se encontrava Pedro Fernandes Monteiro, pai do referido Roque Monteiro Paim e homem de confiança de D. João IV. Não obstante os rumores que existiam à época de que a mãe de Pedro Fernandes Monteiro seria cristã-nova e dos problemas que Martim Monteiro Paim, seu filho, enfrentou na Inquisição312, a influência de Pedro Fernandes Monteiro na corte foi suficiente para garantir a manutenção do status da sua família, com os seus filhos Roque Monteiro Paim a ascender ao Conselho Privado do regente D. Pedro II e António Monteiro Paim a assumir funções de relevo no próprio Tribunal do Santo Ofício, chegando a Deputado do Conselho Geral em 1700. Se é verdade, e a história desta família parece comprová-lo, que «a Inquisição era, nesta fase, importante estância de tutela da «pureza» dos indivíduos, famílias e sociedade»313, tal não foi, no entanto, suficiente para garantir um modelo de reprodução social puritano, tal como esperaríamos da descendência do autor da Perfídia Judaica, porque na sua ascensão social, mais importante do que a pureza seria a grandeza da Casa com quem se aliava, confirmando que este modelo de reprodução social, para todo o período de análise e para a maior parte da população analisada, foi mais pragmático do que ideológico. Assim, não só a «a Inquizição não era Guardanapo a que as Gentes se fossem alimpar»314, como nunca o foi de facto para os Puritanos, porque os instrumentos de confirmação de pureza

309 Roque Monteiro Paim, Prefid[ia] Judaica, Christus VindexMunus Prin[cipis], Ecclesia Lusitan[iae]. Madrid: [s.n.], 1671. 310 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 270. 311 Angela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso V I ., p. 330. 312 Giuseppe Marcocci e José Pedro Paiva, História da Inquisição., pp. 191-192. 313 Ibidem, p. 192. 314 Alvará, p.182.

Pág. 83 Os Puritanos de sangue, para estes, foram muito além de uma familiatura do Santo Ofício ou de um hábito das Ordens Religiosas Militares.

Outro caso curioso é o do processo de habilitação de José do Couto Pestana ao hábito da Ordem de Cristo, entre 1718 e 1721. Como tantos outros, a identificação do defeito de mecânica na sua avó paterna que «Escolhia trigo por Sellario para os Padres da Companhia» foi suficiente para que o mesmo fosse indeferido. No entanto, terá o mesmo esclarecido a Mesa da Consciência que a sua avó paterna era também avó materna do 2.° marquês de Valença e que este teria sido aprovado sem qualquer dispensa. Analisado o caso, veio-se a demonstrar que, afinal, a avó comum colhia, de facto, trigo para os jesuítas, algo que fazia, esclareceu-se, por caridade e não por salário315. O marquês a que nos referimos, D. Francisco de Paula de Portugal e Castro, era filho natural do 7.° conde de Vimioso316, cuja mulher morreu sem descendência, e de Antónia de Bulhões, «mulher nobre» de acordo com o Pe. D. António Caetano de Sousa ou «de baixa condição» se atendermos a Torcy317, com quem nunca se casou e cujo filho terá sido legitimado à hora da morte, possibilitando a continuidade da Casa. Curioso será também o facto de tal origem não ter comprometido o estatuto puritano que esta Casa detinha, assente num exclusivismo dos casamentos celebrados, como já referimos anteriormente, tendo D. Francisco de Paula ido casar à Mouraria, sendo posteriormente feito marquês por D. João V. Para Torcy esta condição qualificaria seguramente a Casa dos marqueses de Valença enquanto detentora de mesaliances, mas a história desta Casa aristocrática não se reduz a este acontecimento e sabemos que tanto a família do seu bisavô paterno, D. Luís de Portugal, 4.° conde de Vimioso, como da sua bisavó paterna, D. Joana de Castro e Mendonça, tinham uma forte relação com o Tribunal do Santo Ofício, sendo muitos os que ocuparam o lugar de deputado do Conselho Geral da mesma instituição318, o que, conforme vimos atrás, reforçava a imagem de pureza associada à Casa que D. Francisco, não obstante os constrangimentos que poderiam ter causado a circunstância do seu nascimento, soube capitalizar, promovendo assim a imagem puritana que a sua Casa teria.

315 Fernanda Olival, As Ordens Militares., p. 378. 316 D. Miguel de Portugal (1631-1687). Foi 7.° conde de Vimioso e casou com Maria Margarida de Castro e Albuquerque, de quem não houve descendência. 317 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.) - Uma R elação., p. 99. 318 Referimo-nos ao seu pai, o já referido 7.° conde do Vimioso, a D. João de Portugal e Castro, bispo de Viseu, a D. Miguel de Castro e ao seu tio-avô, também D. Miguel de Castro, in Ana Isabel López-Salazar, «Familia y parentesco en la Inquisición portuguesa: el caso del Consejo General (1569-1821)». In [et al.], Honra e Sociedade., p. 152.

Pág. 84 Parte 2 - Os Puritanos

Mas talvez por ser um dos aristocratas portugueses do século XVIII com maior número de cartas e diários estudados e publicados, é em D. João de Almeida Portugal, 2.° marquês de Alorna, que encontramos uma grande incoerência de discurso, neste caso, anti-puritano. Sabemos que esta Casa não seria puritana e que o próprio marquês terá escrito, sobre o que considerava um excesso de procura matrimonial na Casa dos condes de Óbidos, que «Não estava athe agora esta casa nos termos de ser tão procurada como outras, por conta de hua quimera m.to ridicula, que não significa nada, e consestia, n’isso a preocupação de m.ta gente»319, não obstante o facto de, na sua juventude, ter escrito a seu pai, após os seus estudos em Paris, que «as companhias que aqui cultivo são a de Tomás Lima [14.° visconde de Vila Nova], o [6.°] Conde de S. Lourenço, Manuel Teles [da Silva, 6.° conde de Vilar Maior] e os filhos do Barão [do Alvito, D. Vasco José Lobo, futuro 11.° barão, e D. Fernando José Lobo, 2.° marquês do Alvito por morte, sem descendência, do irmão] em que sempre falamos nestas matérias porque todos são muito aplicados». Também durante a sua prisão escreveu a sua mulher informando que «O rapaz da caza de Obidos, he o que faz o nosso mayor apetite»320, permitindo-nos questionar que tal não seria mais despeito do que convicção por sentir a sua Casa desconsiderada para enlaces matrimoniais pelo grupo de poucas Casas que pareciam merecer o seu respeito intelectual, até porque será o mesmo marquês de Alorna mais tarde, e já após a morte de D. José, a defender a manutenção de um exclusivismo no grupo da nobreza, porque apenas «a Nobreza antiga, isto é, a que vem desde o Senhor Rei D. Afonso V, ou mais de trás» detém «um valor, para assim dizer, intrínseco neste Reino, e predem-no se ele deixa de conservar a sua independência»321, num claro apelo à manutenção de um exclusivismo aristocrático não assente num ideal puritano, antes entendido segundo uma lógica de antiguidade da nobreza.

Ainda assim convém enquadrar estas posições numa realidade que o terá marcado profundamente pelas dificuldades que sentiu para casar como queria os seus filhos, à imagem do que teria acontecido consigo, pois escreve-lhe sua mãe a propósito do planeamento do seu casamento, em 1745, referindo que o seu pai, «a não ser com esta [D. Madalena de Lancastre], nem com as Távoras, nem com as Óbidos, nem com as

319 José Cassiano Neves, Miscelânea Curiosa. Lisboa: [s.n.], 1983, pp. 112-113. 320 Ibidem, p. 116. 321 Marquês de Alorna, Marquês de Alorna - Memórias Políticas (Apresentação de José Norton). Lisboa: Tribuna, 2008, p. 109.

Pág. 85 Os Puritanos

Moirarias, porque as não há»322, não aceitaria o casamento com outras Casas. Parece-nos que a expressão «não há» deverá ser entendida como não há disponíveis, uma vez que a mesma, noutra carta, concluía que os parentes da jovem Tarouca «não haviam de querer arriscar a sua puritanice»323 com tal casamento, sendo que na continuação ainda considerava como casamentos possíveis «as Óbido [e] as Mouraria»324, acabando, como sabemos, o jovem conde de Assumar a casar na Casa dos marqueses de Távora.

Não pretendemos neste ponto evidenciar as incoerências e inconsistências do modelo de reprodução social puritano como uma característica exclusiva e identificadora dos grupo e período em análise, antes demonstrar, através de alguns exemplos, que o entendimento sobre o puritanismo não foi, como temos vindo a perceber ao longo deste trabalho, estanque e imutável, dependendo muitas vezes de percepções sobre a realidade que variaram não apenas de Casa para Casa aristocrática, mas também, acreditamos, ao longo do tempo.

7. O Processo dos Távoras ou o engano puritano

Andava a fidalguia da nossa côrte por então tão dividida de interesses, tão retalhada de facções, e tão agitada pela ambição de logares, de preeminencias, e de poderio, que ao principe, n ’este caso, seria muito mais dificil o ignorar do que o saber, ainda que não

perguntasse.325

É por vezes difícil o entendimento do sucedido em Lisboa no ano de 1759 com a morte, em praça pública, dos marqueses de Távora e dos seus dois filhos, o marquês novo Luís Bernardo e o seu irmão José Maria, do duque de Aveiro e do conde de Atouguia, bem como das consequências, para a aristocracia portuguesa, deste acontecimento.

322 Carta da marquesa de Alorna ao seu filho de 14 de Setembro de 1745 - ANTT, Casas de Fronteira e Alorna, n.° 122, referida em nota de rodapé em Nuno Gonçalo Monteiro, Meu pai e..., p. 62 323 Cit. in Laura de Mello e Souza, «Fragmentos da vida nobre em Portugal». In Walnice Nogueira Galvão e Nádia Batella Gotlib (organização), Prezado senhor, prezada senhora: estudos sobre cartas. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p.84. 324 Ibidem, pp. 84-85. 325 Zacharias d’Aça, Um D. J o ã o ., p. 8.

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Noventa anos antes, a mesma aristocracia, advogando que «tinha sido pela sua «graça» que os Bragança se tinham tornado reis de Portugal»326, tinha patrocinado a conjura que depôs o rei D. Afonso VI, anulando assim a influência que o conde de Castelo Melhor, “um dos seus”, tinha junto do rei enquanto seu valido. Agora, pelo contrário, abstinha-se de se defender, pecando pela reacção tardia para a qual terá indiscutivelmente contribuído a rapidez do Processo e o crime de lesa-majestade que lhe deu origem. É certo que Monteiro vem questionar até que ponto a condenação dos Távoras não seria mais do interesse do próprio rei do que do marquês de Pombal327, o que não nos parece ser particularmente relevante neste ponto porque ambos defendiam o poder real em competição com a aristocracia, tendo ambos beneficiado largamente deste acontecimento.

A tomar por certa a afirmação do jovem conde de Assumar sobre a família de sua mulher, em que este dizia «que basta o simples nome de Tavora para se fazerem formidáveis em matéria de reputação e de valor»328, podemos perceber que esta família estava longe de ser das mais queridas e aceites na Corte portuguesa mas, ainda assim, convém relembrar que a sociedade que patrocinava a altivez dos Távoras, e que era em grande medida também definida por ela, era a mesma sociedade que começou a colapsar após o Processo que vitimou e encarcerou mais de oito chefes de Casas aristocráticas e ainda aquela onde o puritanismo encontrava o seu lugar enquanto mecanismo de construção e manutenção de elites, motivo pelo qual propomos a ideia de que a não reacção da aristocracia se terá devido, também, a um engano.

Ainda assim, e mesmo que se tratasse de uma vendeta pessoal do rei, o motivo pelo qual se mantiveram nas prisões da Junqueira, sem qualquer acusação formal nem acesso a julgamento, o conde de Óbidos, o conde da Ribeira Grande, o visconde de Vila Nova de Cerveira e, no meio do rol de nomes da lista inicial de presos directamente relacionados com a família Távora (incluindo o conde de Atouguia e o marquês de Alorna), D. Manuel de Sousa (Calhariz), ao qual se juntaram mais tarde os seus filhos, mantém-se desconhecido329.

326 Ângela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso V I ., pp. 134-135. 327 Nuno Gonçalo Monteiro, D. J o s é ., pp.135-166. 328 Idem (Selecção, Introdução e Notas), Meu Pai e . , p. 125. 329 O Processo dos Távoras (escrito sobre a direcção de A. Pedro Gil). Lisboa: Amigos do Livro, [s.n.], p. 31, e Luiz T. de Sampayo, Em volta do processo dos Távoras. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1929, p. 12-13 e 27-28.

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Este facto assume uma maior curiosidade porque, conforme já referimos atrás, os puritanos que se encontravam presos ficaram imediatamente excluídos do alcance do Alvará porque, tomando por certo o testemunho de D. Luís da Cunha sobre o facto de a mulher de D. Manuel de Sousa, a princesa Maria Ana de Holstein, viver «na ultima indigencia, sem ter que comer nem quem a sirva»330, leva-nos a pressupor que o acesso que todas estas Casas teriam ao seu património estaria muito limitado, senão completamente interdito, pelo menos no que respeitava aos bens da Coroa e Ordens331, não obstante as tentativas de Pombal em interferir com a reprodução social destas Casas. Como nos relata o marquês de Alorna acerca da Casa dos condes de Óbidos e dos receios sobre os impactos na sua: «se a ordem q’aquela caza recebeu, para não cuidar em matrimonio ainda agora, tem algum fim que não podemos saber, que venha a tirar a Condeça d’Obidos e a seu filho, a liberdade de fazerem n’essa materia o que quizerem, será coiza rara, que a nossa corte não tem praticado com ninguem, e poderá cauzarnos damno, pello empate a q’ nos vemos obrigados»332.

No entanto, a atenção da aristocracia já a teria captado Pombal anos antes do início da sua carreira política, quando conheceu a viúva D. Teresa de Noronha Almada, neta do 3.° conde dos Arcos, e com ela fugiu para se casarem em segredo, tendo inclusive sido perseguidos pelos seus primos, o 5.° conde dos Arcos e o 4.° marquês de Minas, para que se desfizesse o enlace, o que não aconteceu333. O casal remeteu-se ao exílio em Soure, onde permaneceu alguns anos, até que Sebastião José é chamado para servir o rei em Londres. D. Teresa permanece em Portugal, morrendo em 1739, supõe-se, sem nunca se ter reconciliado com a sua família. Bessa-Luís refere a pena que esta morte terá causado a Sebastião José, ignorando se seria tão grande como a vergonha que passou na corte pelo casamento e posterior reclusão em Soure até porque, de acordo com a mesma, «temia tudo o que o podia embaraçar e despromover»334, o que não sendo o motivo da sua animosidade para com os aristocratas portugueses, seguramente não terá promovido uma melhor relação com os mesmos.

330 Luiz T. de Sampayo, Em volta d o ., p. 37. 331 Também confirmado por Monteiro, que refere que «em 1777, eram dadas como vagas 242 comendas (pouco menos de metade do total), nelas se incluindo não apenas as das Casas extintas, mas ainda todas ou a maior parte das que antes eram administradas por Casas como a dos duques de Lafões, dos marqueses de Alorna e Valença, dos condes de Óbidos/ Sabugal, de São Lourenço, de São Miguel, e de Vila Nova, entre muitas outras.». Rui Ramos [et al.], História d e ., p. 426. 332 Cit. in José Cassiano Neves, Miscelânea., p. 130. 333 Augustina Bessa-Luís, Sebastião José., p. 23. 334 Ibidem, p. 9.

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Certo é que, em 1768, já o caminho trilhado por Pombal ia longo, não apenas no controlo da aristocracia, mas também no das principais instituições que à data persistiam enquanto garantes de uma sociedade que se queria, como temos comprovado, pura. A sua influência nas Ordens Religiosas Militares começou a sentir-se logo em 1755 com a instituição da dispensa régia à verificação da mecânica335, sob a forma de lei, a todos os que investissem em 10 ou mais acções da Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão. Posteriormente reproduziu esta mesma fórmula aquando da criação das Companhia da Agricultura e da Vinhas do Alto Douro e Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba336, e desde sempre relacionado com a prossecução do seu objectivo de criação de uma elite comercial337 capaz de manter a influência portuguesa no mapa das relações comerciais à escala mundial338, através da tentativa de privilegiar o seu acesso ao exclusivo grupo da nobreza339, mas que, mais do que isso, foi permitindo que o poder e a discricionariedade do rei imperassem sobre quaisquer outros critérios de definição e legitimação das elites (como as provanças), independentemente a sua origem.

Paralelamente, desde 1760 que Paulo de Carvalho, seu irmão, era cabeça do Conselho Geral da Inquisição e o seu genro, o conde de São Paio, Gentil-homem da câmara do infante D. Pedro, cuja primeira nomeação ocorre logo em 1759, confirmada novamente em 1768340, dois annus horribilis para a aristocracia portuguesa. Também se assiste, em 1768, à nomeação de Henrique José de Carvalho e Melo, filho de Pombal, para Gentil-homem da Câmara do infante D. Pedro341, não podendo ser descartada a hipótese da existência de uma movimentação da aristocracia em torno de D. Pedro, o que aconteceria, precisamente, cem anos decorridos sobre a deposição de D. Afonso VI e a da subida ao trono do seu irmão D. Pedro, fortemente patrocinadas pela aristocracia.

Assim, parece confirmar-se que, em 1768, a aristocracia já estaria, de facto, controlada por Pombal, e que o Alvará surgiria no âmbito exclusivo do fim da distinção

335 Instituição da Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão (6 de Junho de 1755), art.° 39.°, in António Delgado da Silva (org.), Collecção da..., p. 387. 336 A Companhia da Agricultura e da Vinhas do Alto Douro em 1756 e a Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba em 1759. 337 Ou de uma Burguesia, cf. nos é sugerido em Teresa Bernardino, Sociedade e atitudes mentais em Portugal (1777-1810). Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1986, p. 40. 338 Nuno Luís Madureira, Mercado e Privilégios: A Indústria Portuguesa entre 1750 e 1834. Lisboa: Editorial Estampa, 1997, pp. 83-93; e Kenneth Maxwell, O M arquês., pp. 79-80. 339 Fernanda Olival, As Ordens Militares. , pp. 202-204. 340 Celestino José Fernandes da Silva, António José de São Payo, 1.° Conde de São Payo (1720-1803): Donatário, Guerreiro e Homem de Corte. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2003. Dissertação de Mestrado, pp. 169-170. 341 Paulo Drumond Braga, D. Pedro I I I . , p.119.

Pág. 89 Os Puritanos entre cristãos-novos e cristãos-velhos que se vai materializar cinco anos depois, em 1773342. Acresce a este facto que a 2 de Maio do mesmo ano de 1768 já outra acção tinha sido tomada por Pombal no âmbito de garantir um poder real enquanto «única fonte da qual sómente he que podem emanar as honras, as graduações, e as qualificações Civis»343 com o fim dos Róis de Fintas344 e da sua divulgação pública, impedindo assim que as famílias de cristãos-novos que tivessem pago este imposto pudessem ser pesquisáveis por terceiros. Mas se tal era verdade, por que razão sentiu Pombal a necessidade de voltar a nomear o seu genro, o 1.° conde de São Paio, e nomear o seu filho como Gentis-Homens da Câmara do infante D. Pedro, à data do Alvará? É possível supor que, não obstante os muitos aristocratas que se encontravam presos e o controlo efectivo que Pombal j á detinha sobre a nobreza de corte - nomeadamente na aristocracia, pelo apoio e confissões de lealdade que foi recebendo de homens como o marquês de Tancos345 - continuaria a sentir-se ameaçado ou de alguma forma posto em causa pelos demais membros da aristocracia portuguesa que continuavam fora do seu alcance?

A resposta a estas perguntas julgamos poder encontra-las no famoso casamento não consumado do filho segundo de Pombal, José Francisco de Carvalho e Daun, futuro conde da Redinha e 3.° marquês de Pombal por morte sem descendência de seu irmão, com Isabel Juliana Monteiro Paim de Sousa Coutinho346, bisneta paterna dos 10.os condes de Redondo e do já referido Roque Monteiro Paim. O casamento ter-se-á realizado a 11 de Abril de 1768, contra a vontade expressa da noiva, porque numa carta de sua tia D. Leonor de Portugal347 ao marido no Brasil, esta dizia «Eu vim a Lisboa por baixo de água com grande trabalho (...). E me parece que se não venho, isto digo só a Dom Luís (rasgue esta logo), se não efectuava este casamento»348. Se a obstinação da noiva, aliada à ingenuidade e imbecilismo do noivo349, possibilitaram que a não consumação do

342 Kenneth Maxwell, O Marquês. , p. 170. 343 Alvará, p. 183. 344 Os róis de fintas eram listas que confirmavam o pagamento do imposto devido pelos cristãos-novos. 345 Luiz T. de Sampayo, Em volta d o ., p. 34. 346 Aparece referenciada com inúmeros nomes como D. Isabel Juliana Bazeliza José de Sousa, in Pedro Urbano, A Casa Palm ela., p. 14, ou com os apelidos invertidos - Sousa Coutinho Monteiro Paim - in Maria de Fátima Bonifácio, Memórias d o ., p.54 (nota de rodapé). 347 D. Leonor de Portugal (1722-1806) era irmã de D. Vicente de Sousa Coutinho, pai de Isabel Juliana, e de Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho, governador de Angola e pai do futuro conde de Linhares. Casou com o morgado de Mateus, nomeado capitão-general e governador da Capitania de São Paulo, no Brasil. 348 Heloísa Liberalli Bellotto (transcrição, introdução e notas), Nem o Tem po., p. 293. 349 O 1.° duque de Palmela refere que: «O marquês de Pombal havia sido infeliz nos seus filhos; e ( . ) [José Francisco], sobre todos, era quase notoriamente imbecil, e foi conhecido por tal até ao termo da sua vida. ( . ) Pode portanto dizer-se, que ( . ) José Francisco de Daun foi o inconsciente cúmplice mais útil de minha mãe.» in Maria de Fátima Bonifácio, Memórias d o ., 2011, pp. 63-64. Já Maria Amália Vaz de Carvalho escreve que: «Nos primeiros tempos [de casamento] a propria ignorancia infantil do noivo - que só pena

Pág. 90 Parte 2 - Os Puritanos casamento permanecesse no íntimo do casal, será difícil conceber que este desconhecimento se tivesse mantido durante os seis meses que intermedeiam este casamento e a publicação do Alvará350.

Assim, tomando por certa a descrição de Carvalho de que «a côrte interessava-se, como é de prever, n’esta lucta extravagante, original, em que o terrivel ministro apparecia pela primeira vez mais ridiculo do que ameaçador»351, permitindo-nos, pelo menos, equacionar a existência de uma motivação pessoal de Pombal na promoção da legislação contra os Puritanos. Certo é que a imagem que nos é transmitida pelo nome carinhoso com que Pombal a tratava - Bichinho-de-Conta -, ainda que seja utilizado por alguns para referir alguma simpatia pela sua nora352, não encontram qualquer fundamento no seu esforço de a manter presa num convento após o início do processo de nulidade do casamento e onde permaneceu até à morte de D. José353.

É certo que o núcleo puritano que ainda se mantinha na corte portuguesa se encontrava já muito descaracterizado, mas a julgar pela obsessão de Pombal na associação do grupo dos puritanos à Confraria dos Escravos de Santa Engrácia, assumindo que com todas as mortes e prisões que decorreram desde 1759 muitos seriam os lugares vagos na mesma e supondo que Pombal nunca nela teria sido admitido354 - lembrando ainda a causa, e não indignação, pois era tão infeliz como ella - a auxiliou n ’este proposito difficil. // Nem aos paes o pobre pequeno ousou revelar o mysterio humilhante do seu simulado matrimonio.», in Vida do Duque de Palmela D. Pedro de Sousa Holstein, Volume I. Lisboa: Imprensa Nacional, 1898, p. 19. Por fim, Andrée Mansuy-Diniz Silva, acerca de D. Isabel Juliana, diz: «Cependant, l’union célébrée le 11 avril 1768 ne fut jamais consommée: en dépit de toutes les pressions quotidiennement exercées sur elle, Isabel Juliana s’y refusa avec une obstination que rien ni personne ne put ébranler [.]» , transcrevendo posteriormente uma carta de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, primo de D. Isabel Juliana e futuro conde de Linhares, a seu pai, D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho, governador de Angola, onde este diz que a discórdia entre os noivos «só se deveu à mesma natureza humana, que uniforme sempre em todos os seculos, jamais pode consentir que uma alma grande e nobre e cheia de talentos, s’unisse e obedessece à outra fraca, estupida, ignorante, e para a qual não podia olhar semm o maior desprezo.» in Portrait d ’un homme d ’Etat: D. Rodrigo de Souza Coutinho (1755-1812). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003, p. 49 e 326, respectivamente. 350 T anto mais que a recusa da noiva em casar era j á sobej amente conhecida porque j á um ano antes, a 8 de Fevereiro de 1676, escrevia a mesma D. Leonor a seu marido dizendo: «a menina esteve com intento de ser freira, eu ignorava isso ( . ) . Isto deu infinita aflição a minha Mãe, e como víamos que poderia ser tentação e não devoção, e que lá este casamento muito nos servia e que não podia ter acerto melhor tentação, digo que lhe dissessem não cassasse ainda ou coisa semelhante», o que fizeram, reagendando-o para após o aniversário do noivo, mas que só aconteceu, como dissemos acima, um ano depois, in Heloísa Liberalli Bellotto (transcrição, introdução e notas), Nem o Tem po., p. 261. 351 Maria Amália Vaz de Carvalho, Vida d o ., p. 19 352 Augustina Bessa-Luís, Sebastião. , p. 245. 353 Maria de Fátima Bonifácio, Memórias d o ., pp. 64-65. 354 De acordo com Mário Domingues, «numa célebre Carta que a Portugal se escreveu e um grande de Espanha, recentemente impressa, um panfleto datado de 25 de Fevereiro 1756» dizia-se que o pai de Pombal «tinha publicado, sob nome suposto, um livro de genealogias, para nele instituir a sua ascendência fidalga, motivo por que a nobreza de Sebastião José era mais do que duvidosa.», in Marquês d e ., p. 161. Também Augustina refere «que Sebastião José era judeu dos quatro costados e, além disso, tendo por tio-

Pág. 91 Os Puritanos importância que as comemorações do Desacato de Santa Engrácia sempre tiveram para a nobreza portuguesa - será também legítimo questionar se a sua revolta, mais do que contra o puritanismo aristocrático que dificilmente poderá ser advogado enquanto promotor de divisões na aristocracia portuguesa entre cristãos-velhos e cristãos novos (até porque um nobre, ainda mais titular ou detentor de um ofício maior da Casal Real, jamais poderia ser um cristão-novo de acordo com os estatutos tanto das Ordens Religiosas Militares como do Tribunal do Santo Ofício), não seria, sobretudo, relativa à exclusão que o próprio sentiria de, enquanto nobre, titular, grande e detentor do mais influente cargo palatino, continuar a ser excluído de um grupo que se ocupava a «injuriar a maior parte da Nobreza desta Corte, e Provincias deste Reino»355, parte da nobreza essa que, muito provavelmente, seria precisamente aquela que o apoiava, para além, claro está, da sua recém-adquirida grandeza.

8. Alguns contributos

Estas noticias me fizeram cá uma bulha muito grande, porque segundo o sistema daqueles senhores, certamente tão injurioso a toda a nobreza não podia esperar que se quisessem vir misturar com as nossas impuridades, o que te posso segurar é, que se eles guardavam sistema para si, a respeito de se não misturarem conosco, também eu para mim o tinha determinado para meu filho em observar o mesmo

sistema a respeito deles356

avô um certo «abade negro», de sengue preto ou mestiço [ . ] era coisa que corria ma voz do povo». Augustina Bessa-Luís, Sebastião., p. 131. 355 Alvará, p. 189. 356 Carta do marquês do Lavradio a Paulo de Carvalho, de 1 de Maio de 1769, já depois do casamento dos seus filhos nas Casas puritanas em cumprimento do Alvará de 1768, de acordo com Fabiano Vilaça Santos, in A. Sérgio et al. (dir.), Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, v.3. Lisboa, Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, s.n., p. 169-70), cit. in «Mediações entre a fidalguia portuguesa e o Marquês de Pombal: o exemplo da Casa de Lavradio». In Revista Brasileira de História. v. 24, n.° 48 (2004) São Paulo, pp. 301-329.

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Se a frase em epígrafe confirma, indiscutivelmente, a existência de uma fractura na aristocracia portuguesa capaz de influenciar profundamente a forma como as Casas aristocráticas se relacionaram entre si ao longo do Antigo Regime (avaliada pelas políticas de reprodução social que seguiram), tal não poderá ser entendido como a prevalência de dois modelos paradigmáticos de reprodução social: os Puritanos terão garantido a preeminência do seu modelo face ao que, de acordo com o sugerido pelo marquês do Lavradio, poderia ser entendido como um modelo anti-puritano. De facto, tal como observámos anteriormente para o caso do marquês de Alorna, também Lavradio referirá alguns anos após o Alvará, à condessa de S. Vicente, sua cunhada, que «do Tarouca357 ainda que pouco mais conhecia que a sua figura, contudo devia-me tanta fé a exemplar educação que naquela casa se dá aos filhos dela que sempre esperei dele o que agora com tanto gosto todos me dizem (...)», confirmando-se assim o reconhecimento de que as famílias aristocráticas aceitariam o critério puritano enquanto definidor de status na já muito socialmente elevada aristocracia portuguesa. Mas se a prática de um modelo puritano na política de reprodução social das Casas foi, de facto, fracturante no seio da aristocracia portuguesa, não poderemos deixar de referir o texto do Parecer onde se refere que os Puritanos «não tendo culpas pessoaes daquella natureza, tem seguido o mesmo Puritanismo com sinceridade, e boa fé por huma geral preocupação, que achárão estabelecida», confirmando a ideia de que, não obstante os fundamentos para a adesão a este modelo, os mesmos foram ao longo do período de análise perdendo qualquer carácter religioso, se é que este alguma vez existiu. Aliás, encontramos em Bourdieu uma possível explicação que vem confirmar a ideia do Parecer, ou seja, que «o mundo social está assim povoado de instituições que ninguém concebeu nem quis, cujos «responsáveis» aparentes não só não sabem dizer - nem mesmo mais tarde graças à ilusão retrospectiva, como se «inventou a fórmula», - como também se surpreendem que elas possam existir como existem, tão bem adaptadas a fins nunca formulados expressamente pelos seus fundadores.»358 Pertinaz é a questão da existência de uma consciência puritana, levantada desde logo por Monteiro, concluindo que esta poderia ser fundamentada por testemunhos da época, envoltos, no entanto, num «carácter relativamente difuso»359. Até mais do que a

357 Lembramos que o «Tarouca» a que se referia era o seu genro, Fernando Teles da Silva, futuro 3.° marquês de Penalva, com quem a sua filha tinha casado, em 1769, no âmbito da execução do Alvará. 358 Pierre Bourdieu, O po d er., pp. 90-91. 359 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 141.

Pág. 93 Os Puritanos sua relação com a limpeza de sangue, o tema mais difícil de perscrutar e promotor de um discurso incontornavelmente difuso é a constante relação que identificámos entre puritanismo e anti-estrangeirismo. Cortesão não hesita em classificar os puritanos como racistas e casticistas3 6 0 , apesar de julgarmos exageradas as associações que estabelece, nomeadamente, entre a Lei dos Tratamentos de D. João V, de 1739, e a vontade do rei em levantar «entre as classes divisões estanques [ . ] para as transformar em castas»361, ou então ao concluir que teria sido a prática do puritanismo a votar à vida celibatária os filhos e filhas segundos das Casas aristocráticas, o que sabemos hoje ser uma prática generalizada da aristocracia e não apenas dos Puritanos. Aliás, e dada a procura matrimonial de que foram alvo, não nos espantaria que a realidade das famílias puritanas fosse precisamente a inversa. Curioso é, no entanto, o discurso de D. Luís da Cunha que, se por um lado critica «certas famílias [que] se dizem puritanas para se não aliarem com outras», por outro alerta para o facto de que «se não deverião consentir os cazamentos fora do Reino, pois não vemos que algum francez, espanhol ou alemão vá buscar mulher em Portugal, antes cuidão que nos fazem muita honrra em nos darem suas filhas»362, confirmando que um entendimento casticista do puritanismo aristocrático seria, de facto, difuso e até contraditório. De qualquer forma, o marquês de Alorna escreverá, a respeito da existência de um defeyto nas Casas de Óbidos, de Alegrete e Angeja, que o mesmo teria a sua origem porque «hum dos Condes de Portalegre, cazou com hua filha de Garcia d’Almeida, filho bastardo do segundo Conde de Abrantes, o qual foi tido em hua mulher Castelhana...»363, confirmando que, não poucas vezes, a origem estrangeira da ascendência, principalmente espanhola, era a confirmação da existência de um reparo. Neste ponto, a questão espanhola não poderá ser diminuída uma vez que se assiste a inúmeros casamentos com a nobreza estrangeira entre o grupo dos Puritanos (Cadaval, Lafões, Tarouca, Ponte de Lima, Óbidos, Sousas, Aveiro, Caparica) que, inclusive, e para o caso dos Sousas, capitães da Guarda Alemã, lhes mantiveram a pureza364, grande parte destes ao tempo de D. Luís da Cunha, ajudando a enquadrar a sua opinião.

360 Jaime Cortesão, Alexandre d e., p. 81. 361 Ibidem, p. 80. 362 D. Luís da Cunha, Instruções Inéditas., p. 198. 363 José Cassiano Neves, Miscelânea,. pp. 112-113. 364 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 139.

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Também convém relembrar que, não existindo “legalmente” judeus em Portugal desde o Édito de Expulsão de D. Manuel I, um judeu não baptizado seria, por conseguinte, estrangeiro, tal como refere Azevedo quando escreve sobre «a nódoa, se podia ser, que o estrangeiro lançava sobre a nacionalidade em massa»365, sendo este, recorrentemente, o argumento das fontes na atribuição de reparos ou nódoa às ascendências das famílias não puritanas.

No entanto, o modelo puritano estaria condenado, como referiu a lei pombalina, porque «vendo se por este modo até a mesma Nobreza daquelle partido chamado Puritano em termos de acabar-se, porque coajuntando-se os seus Matrimonios a tão poucas Casas, como he manifesto, com huma sujeição de Liberdade dos Matrimonios incompativel com as Leis da Igreja, e do Reino, he preciso que venhão a perder, por huma parte com a falta de Esposas, que necessariamente hade haver em hum tão reduzido numero de Familias, pela outra parte com as custosas despezas das Dispensas Matrimoniaes nos primeiros Gráos dos seus reciprocos, e mutuos parentescos»366.

É à luz desta realidade que o modelo de reprodução social puritano deverá ser também entendido, percebendo que as suas incoerências e inconsistências, que é o mesmo que dizer uma abordagem menos ideológica ou sectária367 de puritanismo, se devem também aos constrangimentos para uma descendência, tal como evidenciados acima, ou seja, a falta de noivos, o que reduziria a oferta matrimonial possível, e os elevados custos com dispensas que em muito prejudicariam, como de facto prejudicaram368, os patrimónios das suas Casas.

Não deixará, no entanto, de ser considerado relevante que a execução do Alvará foi muito para além do mero cumprimento do disposto no mesmo, revestindo-se estes casamentos de um carácter eminentemente político, continuando por explicar o porquê de o filho de Fernando de Miranda Henriques, Luís, solteiro e com 41 anos à data do Alvará, não ter casado no âmbito do mesmo, casando dez anos mais tarde, e já depois da morte de D. José, com uma filha do 5.° conde de Valadares, neta do 2.° marquês de Angeja. Quanto às Casas escolhidas para que se cumprisse pontualmente o disposto no

365 J. Lúcio de Azevedo, História dos., p. 341. 366 Consulta, p. 182 367 Não obstante o recurso ao termo seita para definir a prática do puritanismo que encontramos tanto na Consulta, fol. 88, como na correspondência do 2.° marquês de Lavradio, cit. in Fabiano Vilaça Santos, «M ediações.», pp. 316. 368 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 111.

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Alvará, a escolha recaiu sobre as Casas dos marqueses de Tancos e do Lavradio. Ao primeiro podemos entendê-lo como remuneração pelo apoio que sempre consagrou a Pombal, nomeadamente durante o Processo dos Távoras369, casando a filha herdeira dos terceiros marqueses com o filho herdeiro do 3.° marquês de Valença. Já em relação ao marquês do Lavradio, a questão parece-nos ligeiramente diferente. Em Agosto de 1767 o marquês de Lavradio é nomeado governador do Brasil370, após ter sido sugerido pelo rei

D. José para aio do seu neto homónimo, o que seria do desagrado do marquês371. Em Setembro de 68, Lavradio escrevia a Pombal referindo o seu desejo de voltar a Lisboa para que pudesse cuidar da sua casa e da sua tão numerosa família372. Certo é que Pombal não autorizou o seu regresso, mas interveio na reprodução social desta Casa, fazendo casar duas filhas de Lavradio com os filhos herdeiros do marquês de Alegrete e de Valença. Em 1771, Lavradio escreverá à condessa de S. Vicente, sua cunhada, referindo que «como já não subsistia o que me embaraçava a procurar alianças naquela família que eu nisso sinto não tinha dúvida contanto que nada se fizesse sem primeiro aprovação particular do Marquês do Pombal, porque além do muito que lhe sou obrigado»373. Em ambos os casos acima observamos que, longe de se tratar de uma humilhação, os casamentos não puritanos promovidos pela intervenção de Pombal vão ao encontro do modelo endogâmico praticado pela aristocracia portuguesa, garantindo que todos estes se celebram entre Casas marquesais. Esta era também a fórmula de D. Luís da Cunha, que apoiava o crescimento da nobreza, criticando duramente «o mal, que estava tão arreigado na má inclinação, que nos era natural e na soberba, com que nos queríamos distinguir huns dos outros, não havendo algum, que não tenha tal ou qual parte do que achava aos mais»374. Não será, então, de estranhar que o cumprimento do Alvará se fizesse “com dignidade”375 - fazendo com que, mais tarde, o mesmo Pombal se revolte com certas acusações da marquesa de Lavradio, referindo «que pertence à calumnia com que me pretendem malquistar com a senhora Marqueza do Lavradio: nada do que diz relação a

369 Luiz T. de Sampayo, Em volta d o ., p. 34. 370 D. José d’Almeida, 6.° marquês de Lavradio, Vice-Reinado de D. Luizd'Almeida Portugal, 2. °Marquez de Lavradio, 3. ° Vice-Rei do Brasil (Prefácio de Pedro Calmon). S. Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre: Companhia Editora Nacional, 1942, p. 17. 371 Ibidem, p.5. 372 Ibidem, p. 17. 373Marquês do Lavradio (2.°) - Cartas do Rio de Janeiro - 1769-1776. Rio de Janeiro: Secretaria de Estado de Educação e Cultura. Departamento de Cultura, 1978, p. 81. 374 D. Luís da Cunha, Instruções Inéditas., p. 94. 375 Ainda assim convém recordar que o texto do Parecer remete para a «Benigníssima Clemencia» do rei, p. 86.

Pág. 96 Parte 2 - Os Puritanos este negocio se me faz novo: porque há muitos annos sabia o que agora ouvi: e muito mais ainda em matérias de muito mais graves consequências»376, uma referência que contradiz o agradecimento do marquês referido anteriormente, mas que é sintomático na sociedade portuguesa após o afastamento de Pombal. Apesar de ser um tema pouco tratado e conhecido, é de se supor que a relação da aristocracia, que permanecia na Corte, com Pombal, podendo não ser um exemplo de cumplicidade, seria, pelo menos, cordial, recusando-se assim uma ideia de constante conflito e opressão. O próprio marquês de Lavradio escreverá ao seu genro, o conde de Vila Verde, em 1777, pedindo-lhe que «ao senhor Marquês dará você um grande recado meu que eu não escrevo agora a Sua Ex.a, porque sei quanto lhe custa o obrigá-lo a responder, que basta que S. Ex.a conheça o meu profundo respeito, e a verdadeira amizade que sempre lhe protesto», sendo este uma prova de que o conde de Vila Verde, filho do marquês de Angeja, se “cruzaria” na Corte com Pombal. Por fim, a desvalorização da linhagem em prol da Casa377, a par do premeio das famílias nobres que arriscaram a sua vida na Restauração, permitiu que estas assumissem o topo da hierarquia social, o que de outra forma não aconteceria num tão curto espaço de tempo. Como tão bem notou Monteiro - sugerindo que «o estudo do fenómeno puritano ajuda-nos a compreender melhor este aparente paradoxo»378 - o topo da hierarquia social deixou de ser constituído pelas Casas elevadas há mais tempo à grandeza, o que deverá ser sempre enformado por uma realidade onde «crescera a ostentação dos puritanos no exclusivismo, ao mesmo passo que entre os agravados borbulhava a tendência para a reacção.»379

376 Celestino José Fernandes da Silva, António José de, p. 139. 377 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 86. 378 Ibidem, p. 133. 379 J. Lúcio de Azevedo, História dos., p. 342.

Pág. 97

Pa r t e 3 - Uma fam ília p u r i t a n a : o s Mo u r a r i a s

- § -

1. A Casa “imaginada” dos Mourarias

[...] porem lembraivos querido Irmão, de quantos outros somos empenhados na Vossa Conservação, e lembraivos com_piedade especial de que este pobre tio velho já não poderá aturar mais sustos e tormentos se os vir padecidos na Mouraria! ah Mouraria Adorada! Emquanto nella vos não abraço e sirvo, pondome de todo aparte ás Vossas Ordens, para obedecervos [...] 380

Mais do que Cunhas, Teles, Silvas e Menezes, Vilares Maiores, Alegretes, Taroucas e Penalvas, mais tarde também Britos, Limas, Melos e Gamas, Vilas Novas de Cerveira, Pontes de Lima, Vidigueiras e Nizas, todos os nascidos e criados nas casas sitas à Mouraria, foram, sobretudo, Mourarias (ou Moirarias). A presente parte desta dissertação pretenderá demonstrar a incidência de uma consciência puritana nesta Casa aristocrática portuguesa, não devendo, no entanto, desmerecer-se outras considerações que a levavam ao topo da hierarquia no que à reprodução social dizia respeito381. A Mouraria sempre foi, mais do que um palácio, uma Casa ou um habitat, uma escola capaz de formar consciências e impor tendências no exclusivo grupo da primeira nobreza de corte.

Refere Silva Miguel desconhecer a extensão do fenómeno de «identificação e denominação dos titulares, feita por outros dos seus congéneres, pelo bairro onde se situava o seu palácio»382, sendo os Mourarias, no entanto, o único exemplo que aponta.

380 BNP, Arquivo Tarouca., 270, Cartas do Conde de Tarouca para sua família e parentes. Carta do conde de Tarouca ao seu sobrinho Nuno da Silva, de 25 de Agosto de 1734. 381 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo, pp. 132-133. 382 Pedro Silva Miguel, Descobrir a dimensão palaciana de Lisboa na primeira metade do século XVIII. Titulares, a corte, vivências e sociabilidades, Vol. 1. Lisboa: [s.d.], 2012. Dissertação de Mestrado, p.55.

Pág. 99 Os Puritanos

De facto, e pelo que nos foi possível observar em todas as fontes analisadas para o presente trabalho, esta identificação parece-nos única, uma vez que, por regra, as Casas da primeira nobreza de corte eram conhecidas pelos senhorios dos seus títulos (Cadavais, Angejas, Marialvas, Távoras, ...), ou pelos seus ofícios palatinos (copeiros-mores, monteiros-mores, ...), ou até pelo nome de um dos seus senhorios (Calharizes, Mateus, . ) . Certo é o facto de cada uma destas denominações estar associada a uma característica identificadora da Casa, comum a todos os seus membros, mas que ainda assim nenhuma outra conseguiu reproduzir tão eficazmente como a Casa dos marqueses de Alegrete. Isto mesmo comprovamos pela carta do Cavaleiro de Oliveira a Nuno Teles da Silva, que «esperando toda a fortuna da honra de conhecer a casa de Alegrete, encontrei toda a disgraça na acçam de entrar na de Tarouca, e sendo tudo Mouraria obriga me a desordem dos fados a que me queixe dos mesmos objectos que respeito, e que venero [ . ] » 383.

Importa relembrar que o conceito de Casa tem a sua origem associada, inquestionavelmente, à noção de lar, ou seja, uma construção onde vive uma família e onde convivem todos aqueles que, ou lá trabalham, ou, de um modo mais privado, com ela se relacionam384, numa simbiose entre linhagem e património. Como tão bem refere Monteiro, para o período do Antigo Regime, a «sociedade aristocrática portuguesa era, em primeiro lugar, uma sociedade de “casas”»385 - materializada também num conjunto de regras às quais estavam obrigados todos os seus membros (disciplina), cujos objectivos principais seriam assegurar descendência que perpetuasse a Casa e favorecer o acrescentamento do seu património. Neste sentido, era à Casa, ou mais concretamente ao seu chefe, ou cabeça para usarmos a expressão do conde de Tarouca, que cabia decidir, entre outros, o destino dos seus filhos, tanto no que respeita a políticas de reprodução social, como em relação à sua educação.

Sendo o tema do presente trabalho o estudo dos Puritanos, saltará à vista o facto de a família que melhor personifica uma adesão ao ideal puritano ser aquela que é conhecida por Mourarias. Este facto não deixou de ser notado na altura, chegando, inclusivamente, a ser utilizado por membros da família enquanto forma de distinção e, não poucas vezes, de escárnio, salientando, quando acusados de uma ascendência não mais pura do que a demais aristocracia portuguesa, que «o ser mouros só lhes convinha

383 Cavaleiro de Oliveira, Cartas inéditas., p. 239. 384 Norbert Elias desenvolveu estas diferentes realidades do conceito Casa dividindo-o em quatro dimensões: casa-edifício, casa-linhagem, casa-grande e casa-corte, in A Sociedade d e ., pp. 31-38. 385 Nuno Gonçalo Monteiro, Elites e poder... , p. 89.

Pág. 100 Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

por terem o seu palacio na Mouraria»386. Revelar-se-á difícil documentar o início desta identificação e o motivo pelo qual se desenvolveu de uma forma tão diferente, e sob muitos aspectos tão mais carismática, do que a restante nobreza portuguesa, mas apresentaremos neste capítulo aquela que consideramos ser uma proposta possível de resposta.

Esta poderá ser encontrada em Madureira e nos seus trabalhos desenvolvidos sobre a Lisboa setecentista, onde refere, a respeito dos palácios situados “às portas” de Lisboa, em S. Sebastião da Pedreira, que o seu «relativo isolamento exprime o ostracismo aristocrático e a manutenção do modo de vida tradicional da nobreza, sob os horizontes da grande cidade», conseguindo manter uma casa senhorial reveladora do seu estatuto sem abdicar de «estarem próximos do centro cosmopolita, com o que isso significa de participação nas áreas de decisão política e económica, e nos indispensáveis contactos sociais e culturais». Esta era, sem dúvida, uma posição privilegiada da primeira nobreza de corte, uma vez que, de acordo com o mesmo estudo, os homens de negócio estariam excluídos desta alternativa uma vez que «A azáfama da bolsa, da alfândega e da zona ribeirinha, desaconselha veleidades aristocráticas», exceptuado, claro, e para o século

XVIII, homens como os Cruzes, os Bandeiras e os Quintelas.387

É certo que Madureira diz não existir, para o caso de Lisboa, «uma correspondência linear entre anéis concêntricos definidos a partir de um centro e funções económicas»388, à qual podíamos acrescentar também funções sociais, mas Lisboa é a Corte, e esta relação é intrínseca à própria dinâmica social da cidade pelo que a identificação com um bairro teria como consequência a identificação com um espaço específico dentro da corte: os Mourarias não tinham uma casa senhorial na corte, mas eram identificados com a Mouraria, que, pouco a pouco, se foi tornando para esta Casa o seu senhorio simbólico em Lisboa, ou seja, na Corte.

É sobre este senhorio simbólico que se edifica um “corpo” composto por todos aqueles que lá tinham nascido e sido educados, que se desenvolve tendo por base uma forte rede de fidelidades que obrigava os Mourarias à cabeça da Casa, conforme nos é sugerido pela já citada correspondência do conde de Tarouca com a sua família, após a morte do seu irmão. Apesar da natureza da identidade nobre do Antigo Regime nos levar

386 Camilo Castelo Branco (introdução e notas), M em orias., p. 66. 387 Nuno Luís Madureira, C idade., p. 90. Refere-se aos mais conceituados comerciantes da praça lisboeta de meados do século XVIII. 388 Ibidem, pp. 101-102.

Pág. 101 Os Puritanos a assumir que a cabeça do corpo da Mouraria recairia sobre o chefe da Casa dos marqueses de Alegrete, esse não seria, contudo, um entendimento consensual entre os membros do mesmo corpo, identificando-se uma separação entre a chefia da Casa “real”, que recairia sobre o herdeiro, e a da Casa que designámos “imaginada”, assente numa lógica de antiguidade e carisma389, confirmando que «em redor desse líder carismático nascia uma espécie de comunidade de crença, e a coesão dessa comunidade dependia de um conjunto de sentimentos de fidelidade e de esperança, sentimentos esses dotados de um inegável potencial político, pois eram capazes de gerar confiança e criar consenso, eram capazes de organizar e de disciplinar, sem que tal implicasse o recurso à coacção e a meios violentos para manter a ordem.»390

À data da morte de Fernando Teles da Silva, 2.° marquês de Alegrete, em 1731, o seu filho D. Tomás Teles da Silva, 12.° visconde de Vila Nova de Cerveira por casamento, escreve ao tio, o conde de Tarouca, a sugerir que este passasse a ser «cabeça da familia Mouraria», respondendo-lhe o tio: «meu Senhor e meu seguro amigo, eu não posso ser cabeça de hum corpo, a quem profeço venerallo, e obedecerlhe; aspiro somente a ser fino [sic], e quinto Irmão de quatro honradissimos homens391, os quais verão emquanto a vida me durar a pureza do meu agradecimento a aquelle perfeyto Varão, que me encheo sempre dos mais ternos, e mais cordeaes afagos»392. Na impossibilidade de comprovarmos esta adesão a um sentido mais ideológico da experiência de pertença a uma Casa, por parte de todos os membros da família Mouraria, tentaremos, nos próximos pontos desta parte do trabalho, descobrir se existia, ou não, um modelo que possamos considerar transversal a todos eles no que respeita às imagens deixadas junto dos seus contemporâneos.

Terminamos este ponto com uma referência à Casa “real” da Mouraria, um palácio aumentado em finais do século XVII - no apogeu da influência política da Casa dos marqueses de Alegrete - permitindo adicionar ao palácio antigo, o “Quarto Velho”, um “Quarto Novo” mais digno da posição que ocupava na corte, ficando os dois ligados por «um passadiço sobre o arco que substituíra em 1674 as velhas portas de S. Vicente. Esse

389 Seguimos a definição de carisma proposta em Max Weber, Economia e . , pp. 323-408. 390 Pedro Cardim, O poder d o s ., p. 16. Apesar de Cardim associar esta ideia à relação com o príncipe, extrapolamo-la também para a realidade das Casas aristocráticas enquanto senhorios que, mesmo no Antigo Regime, nunca deixaram de ser. 391 Referia-se, julgamos, aos quatro filhos varões do seu irmão, o 2.° marquês de Alegrete: Manuel Teles da Silva, 4.° conde de Vilar Maior; D. Tomás Teles da Silva, 12.° visconde de Vila Nova de Cerveira por casamento; Nuno da Silva Teles, eclesiástico; e António Teles da Silva, 2.° senhor de Vila Verde de Ficalho por casamento. 392 BNP, Arquivo Tarouca, 270, Cartas do Conde de Tarouca para sua família e parentes. Carta do conde de Tarouca ao seu sobrinho Nuno da Silva, de 25 de Agosto de 1734.

Pág. 102 Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias passadiço acabava por ser para a família um testemunho do seu crescimento, e unia o seu passado ao presente.»393 Ao estudar este palácio lisboeta, Silva Miguel contesta o entendimento de que o novo palácio teria apenas contado com um andar acima do piso térreo, avançando com a possibilidade deste ter ainda mais um andar (três ao todo), descrevendo ainda todas as aquisições de casas vizinhas realizadas «para as Cazas serem demolidas e a Rua ficar mais larga e o Pallacio dezafugado»394 Podemos enquadrar assim o senhorio simbólico acima referido também numa sumptuosa construção digna de um Grande de Portugal. Mas como Grande de Portugal que era, a construção não se realizou sem dificuldades financeiras, tendo a sua finalização dependido da ajuda do seu primo, D. Frei Luís da Silva, arcebispo de Évora395, que, em alvará de 31 de Julho de 1698, escreverá que «Vendo nós que estava parada a obra das cazas do Marquez de Alegrete, Manuel Tellez da Silua nosso primo, citas na Mouraria de Lisboa, e que elle a não podia adiantar polas grandes obrigações, com que se achava, e desejando nos muito ver acabada a ditta obra, nos deliberamos a tomalla por nossa conta, e assim mandamos continuar com ella a nossa custa, mandando dar o dinheiro necessario para ella por mão de Manoel Leal ourives do ouro, morador em Lixboa, segundo constará do seu livro, com o qual se foy continuando the o prezente a ditta obra, e se vay continuando»396. Parece confirmar-se assim que, muito provavelmente, a disciplina familiar dos Teles da Silva e o entendimento da sua Casa enquanto um corpo, ao qual todos os seus membros estavam obrigados, seria anterior à sua mudança para a Mouraria.

393 Pedro Silva Miguel, Descobrir., Vol. II, Anexos, p. 13. Veja-se o Anexo 6 para uma melhor imagem da proposta de Silva Miguel relativamente ao que teria sido o palácio da Mouraria. 394 C.f. escritura de 24 de Maio de 1678, cit. in Ibidem, p.9. 395 Luís da Silva Teles (1626-1703), arcebispo, filho natural de Francisco da Silva (clérigo, deputado da Inquisição de Lisboa) e de Margarida de Noronha. Era primo co-irmão do 1 ° marquês de Alegrete uma vez que os pais eram irmãos. Apesar de ter ajudado amplamente o seu sobrinho na construção do palácio da Mouraria, «abundam ecos do seu modo de vida simples e humilde, da sua preocupação em não fazer gastos excessivos consigo, com os seus familiares e fâmulos, para assim poder ter meios para auxiliar os mais pobres. Alimentava-se frugalmente, por norma só fazia uma refeição diária à mesa, vestia-se com suma modéstia, chegando a usar vários anos a mesma murça, aparelhava os seus aposentos com magro e humilde mobiliário.» José Pedro Paiva, D. Frei Luís da Silva e a gestão dos bens de uma mitra. O caso da diocese de Lamego (1677-85). Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2001, Vol. II, p. 249. 396 Cit. in Carlos da Silva Tarouca, Conselhos d u m ., p. 4.

Pág. 103 Os Puritanos

2. A Mouraria dos Cunhas

O litígio terminou efectivamente nesse ano, como era da vontade do rei, e os bens ficaram, por última e definitiva decisão, na posse do colégio; nem outra resolução se podia esperar do prelado elvense [D. Manuel da Cunha], tão afeiçoado à Ordem ignaciana, e irmão do P. Nuno da Cunha, um dos Padres que mais autorizaram por êsse tempo a Companhia de

Jesus em Portugal. 3 9 7

A única coisa que sabemos quanto à relação dos Cunhas com o palácio da Mouraria, o “Quarto Velho”, é que este seria propriedade de Simão da Cunha398, pai de Mariana de Mendonça casada antes de 1641 com o 1.° conde de Vilar Maior, sendo parte do dote de casamento desta, altura em que passa a incorporar o património da Casa de Alegrete/ Vilar Maior, ainda que, em 1643, continuasse a ser morada de D. Manuel da Cunha, bispo de Elvas e irmão da referida Mariana de Mendonça.

Simão da Cunha pertencia a um ramo secundogénito da antiga família dos Cunhas - descendente, entre outros, de Tristão da Cunha, imortalizado pela sua embaixada a Roma no reinado de D. Manuel I - origem de Casas como a dos condes da Cunha, de Pontével e de Povolide, e de homens como D. Rodrigo da Cunha, arcebispo de Lisboa, D. Luís da Cunha ou D. Nuno da Cunha e Ataíde, o conhecido e influente cardeal da Cunha, sendo que, para o período em análise, ficarão também conotados com o grupo de famílias que terão beneficiado do apoio que, de imediato, prestaram à causa restauracionista3 9 9 , tendo ainda estado associados ao ofício maior de Trinchante da Casa Real400.

397 Francisco Rodrigues (S.J.), História da Companhia., p. 18. 398 De acordo com Silva Miguel, este foi «aforado em 4 de Janeiro de 1501 a Aires de Almada» e, «Por sucessivas heranças a vendas [ . ] veio à posse de Simão da Cunha, pai de Mariana de Mendonça», in Descobrir... (Anexos), p. 6. 399 Maria Paula Marçal Lourenço, D. Pedro II... , p. 21. 400 Apesar de existir o registo do mesmo ofício também ter sido exercido por Tomé de Sousa e por Diogo de Brito Coutinho e pelos seus genro e neto, Manuel e José de Vasconcelos e Sousa, respectivamente.

Pág. 104 Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

Não temos forma de comprovar há quantas gerações estaria a Mouraria na posse destes Cunhas, nem se Simão da Cunha e a sua família alguma vez terão lá vivido, supondo apenas que o poderão ter feito porque, como referimos acima, D. Manuel da

Cunha tinha os seus aposentos neste palácio, o que poderá ter acontecido posteriormente. Apesar de provirem de ramos secundogénitos da grande e ilustre família dos Cunhas, o ramo que ora retratamos esteve sempre ligado ao serviço da Casa Real, sendo Rui Gomes da Cunha, pai de Simão da Cunha, Copeiro-mor dos reis D. João III e D. Sebastião, e Simão da Cunha o Trinchante do rei Filipe II. Este casou com Luísa de Almeida, filha de Simão Ferreira Palha que foi secretário de Estado na Índia, o suficiente para que Torcy identificasse nesta família «quelque mésalliances.»401, e deste casamento houve nove filhos: D. Pedro da Cunha, que «foi Sr. Da Caza de seu Pay», herdando a Comenda de

Morufe da Ordem de Cristo, bem como o ofício de Trinchante a Casa Real402; Mariana de Mendonça que casou, como vimos, com o 1.° conde de Vilar Maior; D. Manuel da Cunha e Nuno da Cunha de quem falaremos de seguida; Tristão da Cunha, que morreu na Índia; Catarina da Cunha e Isabel da Cunha, ambas freiras, a primeira na Anunciada e a segunda na Madre de Deus; outro Pedro da Cunha, capucho; e, por fim, Joana da Cunha que terá morrido menina.

Cumpre ainda salientar que, no que aos Cunhas e os seus diferentes ramos diz respeito, pelo facto de uns usarem o título de representação de Dom e outros não e dos nomes como Pedro, Nuno, Tristão e Simão se repetirem com frequência, não é raro encontrarmos inúmeras confusões entre membros da família, da qual a mais frequente, ainda assim, é a entre o Pe Nuno da Cunha (c. 1594 - c. 1668), da Companhia, filho de Simão da Cunha; D. Nuno da Cunha e Ataíde (1664-1750), o famoso cardeal da Cunha; e ainda o Pe. Nuno da Cunha (1705-1774), também da Companhia de Jesus, filho do 1.° conde de Povolide.

Curiosa, no entanto, é a menção da Mouraria na Consulta, não ligada directamente aos Alegretes, mas aos Cunhas. Diz-se na Consulta que o «padre Nuno da Cunha governava a casa da Mouraria, tão despoticamente como consta de Documentos Originaes que existem entre os seus papeis, por ser irmão de Dona Mariana de Mendonça,

401 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma R elação., p. 90. 402 Este ofício, no entanto, permanecerá apenas mais uma geração neste ramo da família uma vez que o filho de Pedro da Cunha, Simão, vendê-lo-á a D. António Alvares da Cunha, 17.° senhor da Tábua e pai do embaixador D. Luís da Cunha, cf. Isabel Cluny, D. Luís da Cunha e a ideia de diplomacia em Portugal. Lisboa: Livros Horizonte, 1999, p. 22.

Pág. 105 Os Puritanos mãe do primeiro conde de Villar-Maior, Fernão Telles da Silva, e tinha ao mesmo tempo na Corte, e no Santo Officio a influencia que lhe dava seu irmão o Inquizidor Manoel da Cunha, Bispo, Capellão Mór, e Arcebispo Eleito de Lisboa»403. O engano da Consulta na identificação do 1.° conde de Vilar Maior enquanto filho de Mariana de Mendonça, com quem era, no entanto, casado, poderá ser enquadrado no desabafo de Pombal ao conde de São Paio, seu genro, quando refere que «eu nunca me apliquei a genealogias. He profissão a que sempre tive grande aborrecimento, porque poucas vezes sucedeu fazer bem, e mais ordinário he fazer muito mal»404, sendo que a identificação da Mouraria com o Padre Nuno da Cunha é explícita.

Certo é que, tanto através do Padre Nuno da Cunha, como do seu irmão, o bispo D. Manuel da Cunha, esta família gozou de muita influência durante os reinados de D.

João IV a D. Pedro II. Já nos referimos à proximidade temporal do Alvará com a Dedução Chronologica e Analítica e entendemos que parte da aversão de Pombal ao Pe. Nuno da Cunha terá vindo daí. De acordo com o texto da mesma, a Companhia de Jesus teria sido responsável por todos os atentados ao poder real desde a sua fundação - e aqui não nos enganemos, entendido na óptica de Pombal, ou seja, segundo uma perspectiva regalista - , esclarecendo que «não ha Jesuitas Portuguezes, e Jesuitas Hespanhoes; porque huns, e outros são na realidade os mesmos Jesuitas, que não conhecem outro Soberano, que não seja o seu Geral; outra Nação, que não seja a sua própria Sociedade; porque pela Profissão, que a ella os une, ficão logo desnaturalizados da Patria, dos Pays, e dos Parentes (,..)»405, e defendendo que os mesmos operariam num Synedrio entendido como um “contra-poder” que foi minando quaisquer tentativas de afirmação do poder do príncipe, chegando até à deposição de reis, sendo que na de Afonso VI, concluirá, foram «guiados pelo dito Nuno da Cunha, Chefe então do Synedrio dos ditos Regulares; como fica mostrado, e como constou especificamente, pelo que toca á direcção do Congresso das referidas Cortes.»406

É tão indiscutível a importância que o Pe. Nuno da Cunha teve na Restauração, como questionável se tanto ele como a Companhia terão estado por detrás dos principais acontecimentos da sociedade portuguesa do Antigo Regime. O que sabemos - e talvez

403 Consulta, p. 188. 404 Carta do 1.° marquês de Pombal ao seu genro António José de Sampaio e Melo, cit. in Celestino José Fernandes da Silva, António José d e ., p. 17. 405 José Seabra da Silva, D edução., Primeira Parte, Divisão IX, p. 191. 406 Ibidem, Divisão XI, pp. 337-338.

Pág. 106 Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias mais por aqui percebamos a obsessão de Pombal - é que o Pe. Nuno da Cunha foi, em toda a sua essência, um curialista, defendendo «a supremacia do papado sobre os poderes temporais, e a mediação do pontífice na outorga dos poderes dos príncipes»407, o que, na deposição de D. Afonso VI, e não obstante acreditar que «era contra a sua religião votar em coisas políticas» e que «sempre se devia recorrer a Sua Santidade», enquanto um dos letrados escolhidos para decidir se se poderia ou não coroar D. Pedro II em vida de seu irmão, apoiou a facção que defendia a manutenção do estatuto de príncipe regente, facção essa na qual contou com o apoio do seu sobrinho, o conde de Vilar Maior, e do seu primo, Tristão da Cunha408.

A Mouraria, vê-la-emos enquanto Casa reconhecida destes Cunhas, sendo, no entanto, raras quaisquer menções por este nome, fazendo supor que esta associação terá sido posterior, já sob a chancela dos Alegretes. De qualquer forma, escrevia o embaixador D. Francisco de Sousa Coutinho409 sobre D. Manuel da Cunha, «que em sua casa tinha grande auditório [...] até os homens de negócio, que é o que mais me espantou»410, levando a crer que tanto os condes de Vilar Maior como os seus filhos muito terão usufruído também desta realidade. Também a 15 de Junho de 1643 se assinava «à porta da Mouraria, nos aposentos de D. Manuel da Cunha, bispo de Elvas e capelão-mor»411 o contrato que punha fim à contenda entre o bispado de Elvas, agora com um novo bispo, e a Companhia de Jesus, sobre a instalação de um novo colégio naquela cidade. Do lado da Companhia, sem grande surpresa, assinaria o contrato o Pe. Nuno da Cunha, irmão do recém-nomeado bispo, em representação do provincial Pe. António Mascarenhas.

Outra característica dos Cunhas está relacionada com a sua vocação para as letras, porque, para além dos padres Nuno e Manuel, também o seu irmão Pedro «foy muito perito nas lingoas Latina, Franceza, e Italiana, e naõ menos versado na Historia Sagrada, e profana.»412 Já Arriaga questionava se não teria sido o 1.° marquês de Alegrete, sobrinho neto destes irmãos Cunha, «o iniciador da importante livraria, cujos impressos ainda

407 Ângela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso V I ., p. 264. 408 Tristão da Cunha e Ataíde, 1.° Conde de Povolide, M em orias., pp. 96-97. 409 Referência biográfica. 410 Cit. in Leonor Freire Costa e Mafalda Soares da Cunha, D. João I V ., p. 266. 411 Francisco Rodrigues (S.J.), História da Companhia., p. 18. 412 Diogo Barbosa de Machado, Bibliotheca Lusitana. Historia, Critica, e Cronologica. Na qual se Compreende a Noticia dos Authores Portuguezes, e das Obras, que compuzeraõ desde o tempo da promulgação da Ley da Graça até o tempo presente, Tomo III. Lisboa: Na Officina de Ignacio Rodrigues, 1752, p. 574.

Pág. 107 Os Puritanos existem no antigo e arruinado palacio dos marquezes de Alegrete, á Mouraria»413, mas podemos questionar se a mesma não seria anterior, datando precisamente desta altura.

Assim, parece inegável que a Mouraria, enquanto senhorio simbólico, foi sendo construída ainda no tempo destes Cunhas, cuja influência na sociedade portuguesa do Antigo Regime ficou como herança de uma família que a soube capitalizar e perpetuar através da associação com esta casa, às portas da Mouraria.

3. A Mouraria dos Alegretes

( . ) do Tarouca ainda que pouco mais conhecia que a sua figura, contudo devia-me tanta fé a exemplar educação que naquela casa se dá aos filhos dela que sempre esperei dele o que agora com tanto gosto todos me dizem (...) 414

Se nos apercebemos de que a Mouraria enquanto senhorio simbólico foi sendo construída no tempo dos Cunhas, foram indiscutivelmente os Alegretes - Teles da Silva - que lhe conferiram uma posição privilegiada no espaço social, ou seja, e seguindo a proposta de Bourdieu, pela posição relativa que esta Casa conseguiu adquirir em relação às demais Casas da aristocracia portuguesa, posição essa entendida nas dimensões económica, cultural, social e simbólica415. Importa salientar que a manutenção deste estatuto, ou prestígio, durante todo o período de análise só foi possível devido a uma forte cultura familiar assente na disciplina, lembrando que «o respeito pelas hierarquias no seio da família, inculcado pela prática desde a infância, era garante do respeito pelas hierarquias sociais “naturais e inevitáveis”»416, e também, porque não, pelas práticas sociais, entendidas como “naturais e inevitáveis”, como um puritanismo capaz de sustentar e justificar uma consciência puritana. Assim, neste ponto, propomo-nos

413 José de Arriaga, Catalogo dos Manuscriptos da Antiga Livraria dos Marquezes de Alegrete, dos Condes de Tarouca e dos Marquezes de Penalva e pertencente à sua actual representante a Condessa de Tarouca. Lisboa: Imprensa de João Romano Torres, 1898, p. v. 414 D. Luís de Almeida Portugal, 2.° marquês de Lavradio, sobre o genro, Fernando Teles da Silva, 3.° marquês de Penalva, in Marquês do Lavradio (2.°), Cartas do R io ., p. 55. 415 Pierre Bourdieu, O P oder., p. 137. 416 Jean-Louis Flandrin, Fam ílias., p. 62.

Pág. 108 Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias localizar a posição relativa da Casa dos marqueses de Alegrete no espaço social da aristocracia portuguesa, tentando abordar a política seguida por esta Casa enquanto forma de construção e perpetuação de uma elite ou, por outras palavras, enquanto justificação da posição que ocupavam enquanto parte do «conjunto mais favorecido»417 de Casas no que à procura por outras, nas suas políticas de reprodução social, diz respeito.

Em relação ao capital económico da Casa dos marqueses de Alegrete, não deixa de ser curioso que o mesmo teve a sua origem numa fortuna ultramarina, não obstante todos os constrangimentos que este tipo de enriquecimento, rápido e pouco nobilitante, sempre causou à antiga nobreza portuguesa. Fernão Teles de Menezes, que veio a ser o primeiro conde de Vilar Maior e o primeiro Teles da Silva a viver na Mouraria418, era um filho segundo de Luís da Silva419 e de sua mulher Mariana de Lencastre e ganhou protagonismo enquanto alferes-mor da Restauração420. Excluído do testamento de seu pai que beneficiou exclusivamente, sob a forma de morgado, o seu irmão João Gomes da Silva, é pela morte sem descendência de seu irmão, António Teles da Silva, que a avultada fortuna deste, avaliada em mais de 52 contos de reis, vai parar à Mouraria421.

António Teles da Silva, irmão mais novo de João Gomes da Silva e de Fernão Teles de Menezes, acumulou uma fortuna considerável enquanto governador do Brasil, entre 1642 e 1647, seguindo uma prática dos secundogénitos das Casas dos Grandes que não votavam a sua vida ao Clero ou não eram beneficiados por um casamento com uma herdeira, concretizada nos «vastos horizontes de possibilidades, em que o serviço del-rei permitia, indirectamente e sem derrogar «fidalguia», amealhar na «mercancia» ou no «prestamismo» o suficiente para se igualarem financeiramente aos seus «maiores» no

«regresso ao território metropolitano»422. Foi precisamente no seu regresso ao território metropolitano que o barco em que seguia António Teles da Silva naufragou, tendo este, em testamento, designado o seu irmão Fernão Teles de Menezes como seu herdeiro universal, não apenas da sua fazenda, mas também dos seus serviços, referindo que

417 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 133. 418 Até então, e desde o seu nascimento, terá vivido à rua da Oliveira, na freguesia da Trindade, numas casas compradas, em 1589, pelo seu avô, João Gomes da Silva, cf. Carlos da Silva Tarouca, «O Alferes-m or.», p. 12. 419 De acordo com Virgína Rau, em nota de rodapé, «Alcaide-mor e comendador de Seia, governador da Relação do Porto, Vedor da Fazenda, e do Conselho de Estado, serviu por algum tempo de mordomo-mor», in «Fortunas. », p. 5. 420 Leia-se Carlos da Silva Tarouca, «O A lferes-m or.», onde apresenta um estudo sobre a família de Fernão Teles de Menezes. 421 Virgínia Rau, «Fortunas.», p. 11. 422 Ibidem, p. 5.

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«pesso a Sua Mag.de que a merce que me tinha feito de Conde de Villar Major, com o mais que de sua grandeza espero a faça a meu irmão o Senhor Fernam Telles para que iunto com o morgado que lhe deixo aia memoria de vassalos que com tanto amor o seruião.»423 Ainda assim, é importante referir que a atribuição do título de conde de Vilar Maior, em 1653, a Fernão Teles de Menezes, não se reduziu ao elencar de serviços do seu irmão, mas também pelo que «obrou na aclamação, sendo um dos primeiros fidalgos que mais se arriscaram aquele dia na sala dos Tudescos em companhia de António Teles da Silva, seu irmão»424.

Conforme verificámos anteriormente, esta fortuna não terá sido suficiente, no entanto, para permitir que a Mouraria estivesse isenta de problemas financeiros apenas 50 anos depois, tendo o marquês de Alegrete necessitado da ajuda do seu primo, Frei D. Luís da Silva, para concluir as obras de acrescentamento do seu palácio, confirmando o problema crónico que o endividamento representava para a aristocracia portuguesa, motivo pelo qual «a segunda metade do reinado de D. João V foi assinalada por indícios crescentes de dificuldades financeiras das grandes casas aristocráticas»425, ainda que se tenha observado que a sua ascensão na preferência dos reis tenha sido acompanhada pelo aumento de comendas das Ordens Religiosas Militares.426

No que respeita ao capital cultural desta família, tanto relativamente à educação que conferia aos membros da sua casa, como testemunhámos pelo comentário inicial deste ponto do marquês do Lavradio sobre o conde de Tarouca, como à sua erudição, pela opinião do também erudito marquês de Alorna, que encontrava na Mouraria homens «muito aplicados»427, vamo-nos apercebendo de que esta Casa foi cultivando, ao longo do tempo, um gosto pela cultura do seu tempo, interesse esse que era reconhecido pelos seus pares, referindo ainda Silva Tarouca o «índice deslumbrante» de títulos presentes na biblioteca dos marqueses de Alegrete, com «edições de clássicos latinos, portugueses, espanhóis e italianos»428.

423 Testamento de António Teles da Silva, de 19 de Julho de 1650, transcrito in Ibidem, p. 26. 424 Texto constante da atribuição do título de conde de Vilar Maior a Fernão Teles de Menezes, cit. in Leonor Freire Costa e Mafalda Soares da Cunha, D. João I V ., p. 40. 425 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 372. 426 A título de exemplo, se o 1.° conde de Vilar Maior detinha apena a Comenda de Albufeira, da Ordem de Avis, o seu filho, 1.° marquês de Alegrete, acrescentou a Casa com as comendas de S. João de Moura, também da Ordem de Avis, e de S. João de Alegrete, Lagares e Soure, da Ordem de Cristo. 427 Nuno Gonçalo Monteiro, Meu pai e. , p. 65. 428 Carlos da Silva Tarouca, Conselhos d u m ., p. 5.

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Este poderá também ser o motivo pelo qual não encontramos nenhum Teles da Silva a exercer cargos ultramarinos, à excepção, claro, do já referido António Teles da Silva, antes recorrentemente ligados ao serviço ao rei no Paço, nomeadamente enquanto membros do Conselho de Estado, ou em representações diplomáticas, como os 1.° e 2.° marqueses de Alegrete, o conde de Tarouca, ou ainda Tomás Teles da Silva, 12.° visconde de Vila Nova de Cerveira por casamento. Certo é que este capital cultural sempre foi uma característica dos Mourarias, o que confirmamos em Manuel Teles da Silva, 1.° marquês de Alegrete, «chronista insigne do Senhor Rey D. Joam o 2. na língua latina, muito pura e elegante»429 e um dos fundadores da Academia dos Generosos (1647-1716) e da Academia das Conferências Discretas e Eruditas (1696-1705), tendo ainda participado na elaboração dos Estatutos da Academia Real da História Portuguesa (1720-1760), academias por onde passou também o seu filho Fernando Teles da Silva, 2.° marquês de Alegrete430.

Mas é na corte que os Alegretes se impõem no consilium et auxilium ao príncipe, tanto a um nível mais privado, enquanto seus gentis-homens da câmara, como no Conselho de Estado, com uma grande influência nos reinados de D. Pedro II e D. João V. São inúmeros os historiadores que referem Manuel Teles da Silva, 1.° marquês de Alegrete, como um dos principais validos de D. Pedro II - a par do duque de Cadaval, D. Nuno Álvares Pereira de Melo431 -, «considerado por um contemporaneo, talvez Teofilo Daupineaut, numas curiosas memórias sobre Portugal no reinado de D. Pedro II, como o único estadista dêsse tempo.»432 Esta influência ter-se-á mantido durante o reinado de D. João V, tendo o 2.° marquês sido recomendado por D. Pedro II a seu filho, em 1706, enquanto uma das pessoas «muyto capazes e convenientes» para o «assistirem no Despacho»433, deixando-se ao início, segundo alguns, «influenciar e conduzir pelos seus»434 conselhos, perpetuando-se esta relação durante toda a vida do 2.° marquês, que sempre assistiu o rei como seu gentil-homem da câmara.

429 Fernando Portugal e Alfredo de Matos, Lisboa em 1758. Memórias Paroquiais de Lisboa. Lisboa: [s.n.], 1974, p. 135. 430 Maria Paula Marçal Lourenço, D. Pedro II..., pp. 327-328. 431 Nomeadamente os seus biógrafos Paulo Drumond Braga, D. Pedro II., p. 139 e Maria Paula Marçal Lourenço, D . Pedro II... , p. 208. 432 Eduardo Brazão, O Conde de Tarouca em Londres (1709-1710). Lisboa: Imprensa Lucas & C.a, 1935, p. 11. 433 Cit. in Paulo Drumond Braga, D. Pedro I I . , p. 148. 434 João Ameal, D. João Ve a sua época. Lisboa: Of. Gráf. Da C.M.L., 1952, p. 10.

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Esta foi a realidade partilhada por todos os membros da Casa até, imaginamos, à subida de Pombal ao poder, concretizada por uma presença constante no Conselho de Estado, actuando enquanto Vedores da Fazenda, Regedores da Casa da Suplicação e das Justiças, Presidentes da Câmara de Lisboa e, no que a ofícios maiores da Casa Real diz respeito, como vimos, enquanto gentis-homens da câmara de D. Pedro II, D. João V e D. José, gozando assim, todos eles, de uma grande proximidade com o rei, revelada também na confiança depositada nos membros desta família através da sua designação, entre outros, enquanto embaixadores extraordinários de Portugal nas negociações dos casamentos de D. Pedro II com Maria Sofia de Neuburg, filha do Eleitor Palatino Filipe Guilherme, que valeu à Casa a elevação a marquesado, e de D. João V com D. Maria Ana de Áustria, filha do imperador Leopoldo I.

Mas as disposições testamentárias de António Teles da Silva, que referimos acima, exigiam ainda que «o ditto morgado não passe a outra familia nem appellido que não seia Sylua» e que aquela pessoa que casar com «com pessoa de Nação Hebrea, ou de outra alguma ceita, ou raça», «a hei por não nomeada, e nomeo a pessoa que successiuamente de descendencia dos dittos meus irmãos lhe pertencer»435. Apercebemo- nos, assim, de que a questão da limpeza de sangue nesta Casa, aqui entendida enquanto capital simbólico, assumiu contornos que ultrapassavam a mera adesão a um ideal puritano, mas obrigada à manutenção, geração após geração, das disposições testamentárias para manutenção dos morgados definidas pelos seus maiores436. Não sabemos até que ponto estas disposições limitaram efectivamente a transferência dos bens herdados, mas acreditamos que poderão ter sido referidos enquanto justificativo das políticas de reprodução social seguidas, com elevado impacto no carisma das Casas aristocráticas portuguesas, o que estudaremos no ponto seguinte para o exemplo da Mouraria. O que sabemos é a relação que esta Casa manteve com o Tribunal do Santo

435 Testamento de António Teles da Silva, de 19 de Julho de 1650, transcrito em RAU, Virgínia - «Fortunas.», p. 25. 436 É importante, no entanto, não descartar a hipótese de simples disciplina em relação a disposições testamentárias dos seus maiores, quer tivessem ou não impacto na transmissão do morgado, dado que, ao nível do apelido, sempre mantiveram o uso do apelido Teles, advindo esta obrigação de uma disposição testamentária de uma trisavó do 1 ° conde de Vilar Maior, Maria de Vilhena, que instituiu morgado em 1483, «desejamdo eu mujto, que seu nome [do seu marido, Fernão Teles de Menezes, 4.° senhor de Unhão] para sempre em mjm e em aquelles, que delle e mym descemderam, nom aja de ser esquecido [ . ] [e] que sempre aquelle ou aquella que for menistrador do dito moorgaado e bems delle possuir, se “chame d’allcunha Tellez”», in Carlos da Silva Tarouca, «O A lferes-m or.», pp. 9-10. Sabemos que o morgado foi herdado, por varonia, pela Casa dos condes de Unhão, que sempre mantiveram o uso do apelido Teles de Menezes, mas não deixamos de apontar que, mesmo este ramo secundogénito da descendência de Maria de Vilhena, não deixou de fazer uso do mesmo apelido, não obstante ser esta família de varonia Silva.

Pág. 112 Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias

Ofício durante este período, nomeadamente no envolvimento do 1.° marquês de Alegrete no impedimento dos acusados pelo Tribunal saberem quem eram as testemunhas dos processos em que estavam envolvidos. Apesar de Cluny referir, em relação ao 1.° marquês de Alegrete, que «ao que parece a decisão de provar a limpeza de sangue, esteve relacionada com a herança deixada pelo fundador do morgado, António Telles», a verdade é que desde João Gomes da Silva, avô deste, até pelo menos ao 4.° marquês, todos os chefes da Casa foram familiares do Santo Ofício437, ou seja, “institucionalmente” considerados - ou publicamente reconhecidos - puros.

Concluímos com aquela que nos parece ser a confirmação da ideia de Bourdieu, ou seja, que o capital simbólico existe enquanto resultado de um processo de capitalização da importância relativa de um agente nas diversas dimensões do espaço social. Na aristocracia portuguesa, o capital simbólico associado a um modelo puritano mostrou-se capaz de definir uma prática exclusiva de um grupo de Casas que acumularam este prestígio ou status enquanto definidor de um estatuto potenciador, ele próprio, de prestígio ou status, noutras Casas, e tudo isto sem que possamos afirmar contundentemente que resultou de um paradigma que estas Casas tenham tentado impor à sociedade coeva. No entanto, parece-nos ter criado, indiscutivelmente, uma «consciência puritana» nas mesmas, pelo menos entendida numa dimensão mais privada, ou seja, enquanto princípio orientador das suas políticas de reprodução social.

Bourdieu diz-nos que «o mundo social está assim povoado de instituições que ninguém concebeu nem quis, cujos «responsáveis» aparentes não só não sabem dizer - nem mesmo mais tarde graças à ilusão retrospectiva, como se «inventou a fórmula», - como também se surpreendem que elas possam existir como existem, tão bem adaptadas a fins nunca formulados expressamente pelos seus fundadores»438, ideia importante e que nos parece ser confirmada pelo texto do Parecer quando refere, para o caso dos puritanos, que «os Descendentes dos sobreditos Reos de Lesa Magestade não tendo culpas pessoaes daquella natureza, tem seguido o mesmo Puritanismo com sinceridade, e boa fé por huma geral preocupação, que achárão estabelecida»439, mas ainda assim estruturante no entendimento que hoje temos da Mouraria.

437 Isabel Cluny, O Conde d e . , pp. 93-94. 438 Pierre Bourdieu, O P oder., pp. 90-91. 439 Parecer, p. 186.

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4. A reprodução social dos Mourarias

Em que se cazem dous Primos com Irmãoz que descendem de Voz, há huma igualdade, e tem eles ambos naquella qualidade de Vossos descendentes tal merecimento, que nunca vos será necessario em semelhantes occaziões avizar, e esperar resposta, nem haverá conçelho humano que se voz der com sinceridade, que não seja effectivamente mais elogio, ainda do que Conçelho. 440

Em 19 de Julho de 1710, Fernando Teles da Silva, 2.° marquês de Alegrete, escrevia ao seu irmão João Gomes da Silva, 4.° conde de Tarouca por casamento e embaixador extraordinário em Utreque, informando que «João Soares descobriu no testamento de António Teles uma cláusula em que manda que nos bens do morgado que instituiu se façam benfeitorias e que tudo o que se fizer fique vinculado ao mesmo morgado. Tenho comunicado este ponto com os principais Letrados e a todos parece que tenho justiça em pretender por ele (...)»441. A referência a uma análise ao testamento de António Teles vem confirmar que as regras de instituição dos morgados estavam presentes nas dinâmicas das Casas aristocráticas do Antigo Regime em Portugal e que eram conhecidas, levando-nos a supor que, ainda que não fossem entendidas enquanto impositoras de uma política puritana numa determinada Casa, poderão ter sido assumidas pelos chefes das Casas enquanto o motivo pelo qual prosseguiram com uma política puritana de reprodução social.

A importância da Mouraria enquanto promotora de uma consciência puritana na sociedade portuguesa pode ser observada pelo facto de registar mais casamentos puritanos (para além de ser também das Casas que regista um maior número de casamentos), sendo assim aquela que mais frequentemente aparece associada aos casamentos de Casas puritanas. Um bom exemplo disto é o facto de, se analisadas as

440 BNP, Arquivo Tarouca, 270 - Carta de João Gomes da Silva, 4.° conde de Tarouca por casamento, para o marquês de Angeja, datada de 22 de Abril de 1730, sobre o casamento da sua neta com o conde de Vale de Reis. 441 BNP, Arquivo Tarouca, 163 - 1.° Volume (1710).

Pág. 114 Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias ascendências de todos os que tiveram de assinar o Termo, à excepção de Fernando de Miranda, que como já referimos julgamos ser Fernando de Miranda Henriques, 2.° conde de Sandomil, todos os restantes vão buscar à Mouraria um antepassado comum: Manuel Teles da Silva, 1.° marquês de Alegrete. Até mesmo o 2.° conde de Sandomil, apesar de não descender de Manuel Teles da Silva, era casado com Violante Josefa de Melo, esta também descendente do 1.° marquês de Alegrete442.

Se anteriormente subscrevemos a existência de uma consciência puritana enquanto inevitabilidade do seguimento de uma política de casamentos puritanos, importa referir que esta não terá existido enquanto critério de desconsideração recorrente das demais Casas aristocráticas. Na correspondência pessoal do 2.° marquês de Alegrete para o seu irmão, o conde de Tarouca443, apercebemo-nos que a forma como são comentadas as inúmeras alianças matrimoniais relatadas têm o seu enfoque mais em questões de ordem económica - heranças de morgados e ofícios (o que julgamos ser uma preocupação generalizável a toda a aristocracia) -, do que em questões de ordem puritana, salientando que apenas identificamos estas últimas nas cartas do conde de Tarouca e no que respeita aos casamentos da sua própria Casa.

Tal aconteceu na negociação do casamento de sua filha Luísa Josefa, ao recusar a proposta de seu irmão de, não tendo por garantido o casamento com o filho o conde de Vila Verde (futuro 1.° marquês de Angeja), manter o conde da Ribeira Grande “em espera”, respondendo-lhe Tarouca «como heide eu depois de enjeitar tantos genros tomar um que tão provavelmente hade dar a ocasião a sotaques e isto não são apreensões mal [ . ] bem sabe o que me disse Luís Vieira e qual hé um sesudo que por gosto casa a filha mais velha com acerto diplomático.»444 Desconhecemos a que «sotaques» capazes de gerar «acertos diplomáticos» se referia Tarouca, sendo no entanto claro que o problema se colocava também por ser o casamento com a filha mais velha que, em caso de falta de sucessão varonil e dispensa da Lei Mental, seria a herdeira da Casa. Também à sua irmã, Catarina de Menezes, escreverá, comentando o seu casamento na Casa dos capitães da guarda alemã, «parece-me que as Memórias dos antecessores na sua caza devem ser muy

442 Não deixa também de ser curioso que o único antepassado comum de todas estas famílias é D. Tomás de Noronha, 3.° conde dos Arcos, Casa puritana no início do nosso período de análise, mas que, pura e simplesmente, não seguiu uma política puritana de casamentos. 443 Referimo-nos à correspondência constante em BNP, Arquivo Tarouca, 163, 23 Vols. contendo as cartas do marquês do Alegrete (assinadas e muitas autografadas) para seu irmão o conde de T arouca. Nalgumas encontram-se logos períodos de cifras. Abrange os anos de 1709-1732. 444 Cit. in Isabel Cluny, O Conde d e ., pp.185-188.

Pág. 115 Os Puritanos obrigadas a V. Ex.a no esclarecido sangue que lhes ajuntou com esta Nora, além de conservarlhes a pureza»445. Já numa carta ao marquês de Angeja, sobre o casamento de uma neta de ambos, D. Joana Francisca de Noronha, com o conde de Vale de Reis, também neto do marquês de Angeja, sugeria, como vimos no início deste ponto, que a «igualdade» dos cônjuges era conferida por uma ascendência comum. Por aqui podemos confirmar que o nível de conhecimento de Pombal sobre a realidade do puritanismo era grande, porque, apesar do conde de Vale de Reis não ser puritano, ao ter casado na Casa dos marqueses de Angeja, o seu filho adquiria esta «qualidade», confirmando que «as ditas familias associadas não só se arrogarão pureza para si, mas tambem espiatorio para outros, de sorte que todos os que casavão nellas, ficavão tambem Puritanos»446.

Mas a crítica devotada a este modelo de reprodução social não assentava apenas no facto de este se concretizar num modelo sectário, mas também porque «Vendo se por este modo até a mesma Nobreza daquelle partido chamado Puritano em termos de acabar- se, porque coajuntando-se os seus Matrimonios a tão poucas Casas, como he manifesto, com huma sujeição de Liberdade dos Matrimonios incompativel com as Leis da Igreja, e do Reino»447. Já para Tarouca, em carta à sua já referida filha na altura já marquesa de Angeja, «Huma das cousas que estimei m.to nesta Vida, foy que cazarse Pedro com Neta de meu Irmão de quem Vos fostes tão valida»448, referindo-se ao casamento do seu neto e herdeiro da Casa dos marqueses de Angeja com Maria de Lorena, filha do 3.° marquês de Alegrete, demonstrava um entendimento oposto.

Sendo desde sempre identificados com uma política de reprodução social puritana, enquanto uma das «famílias cuja maior prosápia é a da pureza do seu sangue [...] e tanto que não querem aliança com família que não tenha igual prosápia, e é esta a razão por que os portugueses se casam com parentes, embora as dispensas de Roma lhes custem os olhos da cara»449, facto confirmado tanto pelo Alvará, que chama a atenção para «as custosas despezas das Dispensas Matrimoniaes nos primeiros Gráos dos seus reciprocos, e mutuos Parentescos»450, como pela própria descendência da Mouraria (cujos casamentos apresentamos de seguida), questionamos se a prática do puritanismo

445 BNP, Arquivo Tarouca, 270. Também cit. in Ibidem, p. 188. 446 Alvará, p. 189. 447 Alvará, p. 182. 448 BNP, Arquivo Tarouca, 270. 449 Castelo Branco Chaves, O Portugal de D. João V ., p. 63-64. 450 Alvará, fol. 182

Pág. 116 Parte 3 - Uma família puritana: os Mourarias não terá sido um dos motivos para, não obstante a herança de António Teles da Silva, a Casa se encontrar em dificuldades financeiras ainda no final do século XVII.

Exemplo da prática puritana de casamentos na Mouraria

Também através do discurso de Tarouca, acreditamos que um estudo mais aprofundado de Casas puritanas, no que às suas políticas de reprodução social diz respeito, não obstante a imagem que deixaram nos seus contemporâneos, poderá revelar que a questão puritana se colocaria nestas de uma forma bem menos ideológica e clara do que hoje julgamos, até porque a mesma nunca existiu enquanto seita, ou modelo sectário, uma vez que se mostrou capaz de aceitar e incorporar excepções.

Para terminar, e tendo referido anteriormente que após o Alvará os laivos de puritanismo já são muito exíguos na sociedade portuguesa, tal não quer dizer que não observemos alguns casamentos que revivem um passado de sucessivas alianças matrimoniais na já descaracterizada Mouraria, como são o casamento do 4.° marquês de Valença com uma filha do 6.° conde de Vilar Maior451, ou de um neto deste com uma filha do 4.° marquês de Angeja, ambos netos, graças à execução do Alvará, do 2.° conde do Lavradio.

451 Apesar do filho herdeiro do 3.° marquês de Valença ter casado, no âmbito do Alvará, com a herdeira da Casa dos marqueses de Tancos, a sua morte sem sucessão, ainda em vida de D. José, leva a que o seu irmão se case, em 1778, com uma Mouraria, garantindo a manutenção do estatuto puritano da Casa.

Pág. 117

Co n c l u s õ e s e De s a f i o s

- § -

Todo o sangue he quasi de uma côr, e se algum se acha mais claro, que outro, a saude o faz, e não a nobreza.452

Pombal não estava enganado. Uma sociedade composta exclusivamente por «Fidalgo[s] e Christão[s] velho[s] de tempo immemorial sem fama, ou rumor, em contrario verdadeira ou falsa»453, não era reflexo de uma sociedade cristã, porque não acolhia um dos pilares fundamentais do cristianismo: a conversão!

Este facto não passou despercebido aos inúmeros estrangeiros que estiveram em Portugal, nomeadamente Gorani, que não deixa de comentar que «em Portugal, assim como em Espanha, existia então um absurdíssimo preconceito, aliás em absoluta contradição com todos os esforços empregados para converter maometanos, judeus e heréticos à religião católica romana. Olhavam-se os prosélitos e os seus descendentes com tão grande horror que equivalia a estas pessoas viverem à margem da sociedade. Eram precisas quatro gerações na profissão da nova religião para levar uma família da mancha desonrosa de ter outrora professado a religião de Moisés, de Maomé, de Lutero ou de Calvino.»454

Mas enganava-se nas contas. No seio da mais alta e conceituada nobreza, o puritanismo - materializado na política de reprodução social das suas Casas - impedia toda e qualquer possibilidade de limpeza, associando um conjunto de famílias a reparos, manchas, nódoas e notas que os impediam de se associar, em casamentos, com outras.

É difícil datar com precisão o início desta prática mais radical subjacente a uma cultura de limpeza de sangue presente e instituída na sociedade portuguesa desde o século XVI. O que sabemos, é que a mesma nobreza que a praticava não era a que tinha sido

452 Alexandre de Gusmão, Collecção de vários. , pp. VI-VII. 453 Consulta, p. 187. 454 Giuseppe Gorani, Portugal. A Corte e o . , p. 107.

Pág. 119 Os Puritanos titulada há mais tempo, nem a que detinha os títulos mais graduados. Assim, o aparecimento dos Puritanos aparece no seio de uma nova aristocracia, amplamente beneficiada pela Restauração, que patrocinou. Puritanas seriam assim, as Casas dos duques de Cadaval e de Lafões, dos marqueses de Alegrete, Angeja, Penalva, Ponte de Lima e Valença, dos condes de Óbidos e dos capitães da Guarda Alemã (também conhecidos por Sousas do Calhariz). Mas a realidade que este grupo configurava na sociedade portuguesa apresentou-se mais complexa e, sabemo-lo, não foram apenas estas a ser conotadas com o puritanismo, nem a questão puritana nos parece poder reduzir-se exclusivamente à identificação de quem seriam os Puritanos.

No desenvolvimento deste estudo deparámo-nos com um conjunto de Casas aristocráticas que, apesar de terem reparos, foram aceites e incorporadas por este grupo, cujos membros, conforme explícito no texto da Consulta, «não só se arrogarão pureza para si, mas tambem espiatorio para outros, de sorte que todos os que casavão nellas, ficavão tambem Puritanos, sem macula alguma, se os defeitos que antes lhe attribuirão, erão de natureza, que permitisse esconderem-se na escuridade dos princípios donde se derivavão, havendo destas expiações conhecidos exemplos»455. Este facto levou-nos a introduzir o conceito de Casa puritana em sentido estrito - para todas as famílias que não apresentavam qualquer reparo conhecido - e em sentido lato - para todas as demais famílias nas quais identificámos uma prática puritana na reprodução social das suas Casas.

A conclusão à qual chegámos foi a de que, não apenas as Casas puritanas em sentido estrito não seriam suficientes para explicar a realidade dos Puritanos, como a própria prática de um modelo de reprodução social puritano, entendido em sentido estrito ou lato, não seria um exclusivo dos Puritanos. Assim, podemos indiscutivelmente referir o puritanismo enquanto um sistema estruturado e estruturante4 5 6 , seguindo a proposta de Bourdieu, que é o mesmo que dizer, enquanto modelo transversal a toda a aristocracia, quer a Puritanos, que o praticavam, quer a não Puritanos, que se sentiam excluídos desse grupo ao qual, ainda assim, desejavam aliar-se. Comprova-se então que, quer falemos de famílias puritanas, quer não457, a prática de uma política de reprodução social

455 Consulta, p. 189. 456 Pierre Bourdier, O P oder., pp. 6-7. 457 No grupo não puritano, os melhores exemplos são os do universo Távora: Casas de Távora, Alvor, Atouguia e S. Vicente; o universo Santa Cruz: Casas de Aveiro e Sabugosa; e a Casa dos marqueses de Marialva.

Pág. 120 Conclusões e Desafios exclusivista, até no seio da aristocracia, foi considerada durante este período como uma prática de elites e, por isso, promotora de uma consciência puritana.

Esta condição do puritanismo ajuda-nos a percebê-lo não como um fenómeno religioso, mas sobretudo como um fenómeno social. E se a sua origem aparece intrinsecamente ligada à criação de uma confraria de nobres para espiar o desacato de Santa Engrácia, de 1630, a sua realidade não parece poder ser explicada pela evolução da mesma, ao contrário do que defende a legislação josefina/ pombalina contra os Puritanos e de acordo com o que conclui Monteiro, ou seja, que «a acusação feita à Confraria dos Escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia, sem dúvida a mais importante nos rituais da corte, não parece, de acordo com os testemunhos conhecidos, revestir-se de qualquer fundamento»458.

É enquanto fenómeno social que a existência de um grupo como os Puritanos se torna de mais difícil compreensão, não apenas aos nossos olhos, mas, sobretudo, aos olhos dos seus contemporâneos. Mas se a prática do puritanismo, aos olhos dos Puritanos, configurava uma forma de manter a mais alta nobreza pura de qualquer mácula de sangue não genuinamente português - o que muitas vezes se confunde com esclarecidamente não judeu e não espanhol -, não poderemos dizer que os seus maiores críticos quisessem uma realidade diferente, defendendo D. Luís da Cunha que «se não deverião consentir os cazamentos fora do Reino» porque «se algum estado necessita de que nelle se multiplique a nobreza he o de Portugal»459.

Também no discurso do 4.° conde de Tarouca, João Gomes da Silva, identificamos uma interpretação da prática puritana relacionada, não directamente com a inexistência de reparos, mas sobretudo com a existência de uma ascendência comum. É verdade que, ao contrário das demais famílias puritanas, os Mourarias conseguiram incorporar, de uma forma exemplar, Casas não puritanas no seu universo de reprodução social, sendo que nada conseguimos concluir quanto ao facto de o puritanismo nesta Casa, e nas suas Casas de relação, se ter revestido de um carácter mais familiar, ou até consanguíneo, do que nas demais.

A par deste fenómeno encontra-se a questão relativa à coerência e consistência do discurso puritano e se seria transversal a todos os Puritanos. Aliás, o facto que

458 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 141. 459 D. Luís da Cunha, Escritos Inéditos., p. 198.

Pág. 121 Os Puritanos defendemos enquanto fundamento para a existência de uma consciência puritana é exactamente o mesmo que advogamos para podermos estudar os Puritanos enquanto grupo, ou seja, a existência de uma prática comum ao nível da reprodução social. Fora do âmbito deste trabalho ficou a possibilidade de se testar, em diferentes momentos, a possibilidade de os Puritanos se terem mobilizado, enquanto tal, na prossecução de algum objectivo comum - também proposto por Monteiro quando refere que «não é impossível que esta polarização tenha tido alguma tradução na política»460 - o que acreditamos poder ser feito a partir da base historiográfica para o estudo do grupo que ora apresentamos.

Ainda assim, talvez seja, outra vez ao contrário do que é sugerido no Alvará, a própria natureza não “política” dos Puritanos o principal motivo pelo qual o cumprimento do Alvará terá sido suficiente para acabar com a sua prática de reprodução social. Apesar dos «casamentos cruzados» entre as Casas de Óbidos e Ponte de Lima aquando da morte de D. José, e de conseguirmos identificar uma tentativa de manutenção de uma política de casamentos puritana ao nível, pelos menos, dos primogénitos nestas Casas, a realidade era já bem diferente, podendo considerar-se que o Alvará foi bem sucedido, deixando esta prática de, tanto quanto sabemos, causar quaisquer constrangimentos no seio da aristocracia portuguesa, um grupo que também se preparava para uma grande mudança no decurso do reinado de D. Maria I.

Terminamos com um sentido do dever cumprido, acreditando que esta dissertação contribuirá, enquanto base historiográfica, para quem, como nós, se deixe interessar por este tema. O tema transversalmente complexo que reveste a realidade dos Puritanos possibilitará que a nossa proposta de identificação do grupo, bem como o poder e influência que enquanto grupo detiveram no período de análise, seja testada a outros níveis e, sobretudo, para reinados e períodos mais específicos, ajudando-nos a perceber melhor o que motivava os Puritanos na prossecução de uma política de reprodução social que aos nossos olhos, e aos dos seus contemporâneos, parece fruto de uma pura obstinação, mas que ainda assim não só não os diminuiu, como ainda conseguiu capitalizar a importância que detiveram ao longo de cinco reinados461.

Adicionalmente, e não obstante termo-nos centrado sobretudo na expressão do puritanismo na aristocracia portuguesa, não devemos excluir a possibilidade de uma adesão igualmente radical noutros grupos da sociedade portuguesa, o que configuraria,

460 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo., p. 141. 461 Lembramos, a título de exemplo, Jorge Pedreira e Fernando Dores Costa, D. João VI..., p.92.

Pág. 122 Conclusões e Desafios indiscutivelmente, um tema interessante de ser estudado, até porque permitiria testar se um modelo de reprodução social elitista, ou de alguma forma promotor e capaz de suportar uma elite, seria aceite por modelo paradigmático pelos demais grupos da sociedade e, por isso, reproduzido (ou reinventado) com o objectivo de promover e definir, ele próprio, posições sociais hierárquicas superiores noutros grupos sociais.

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Pág. 138 An e x o s

- § -

ANEXO 1: D. João V bebendo chocolate (miniatura a óleo sobre marfim) [p. 1]

ANEXO 2: Compêndio de Legislação sobre os Puritanos [p. 3]

ANEXO 3: Retrato puritano da Aristocracia Portuguesa [p. 19]

ANEXO 4: Notas sobres os reparos “perdoados” ou “esclarecidos” [p. 95]

ANEXO 5: Alguns contributos para o estudo da Confraria dos Escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia [p. 107]

ANEXO 6: A casa “real” da Mouraria: o contributo de Pedro Silva Miguel [p. 131]

Pág. 139

A N E X O 1 : D. João V bebendo chocolate | miniatura a óleo sobre marfim

Alessandro Castriotto, 1720 | Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

Proposta de identificação das personagens:

1. Infante D. Miguel (1699-1724), filho natural de D. Pedro II; 2. Fernando Teles da Silva (1662-1731), 2.° marquês de Alegrete; 3. D. António Pedro de Noronha (1661-1731), 1.° marquês de Angeja; 4. O pintor; 5. D. João V (1689-1750); 6. D. Pedro Henrique de Bragança (1718-1761), filho do infante D. Miguel e futuro duque de Lafões; 7. Pe. Pedro Chevalier, perceptor da criança e confessor da família real.

Fonte: FERREIRA, Paulo - Decifrar a Arte em Portugal, Barroco. [Lisboa]: Círculo de Leitores, 2014, pp. 132-133.

Pág. 1

ANEXO 2: Compêndio de Legislação sobre os Puritanos

Termo que faz o Ill.mo e Ex.mo D. José Miguel João de Portugal, Marquez de Valença em execução do Alvara de Ley de sinco do corrente mez de Outubro462

Alvará de 5 de Outubro de 1768463

(“Alvará dos Puritanos”)

[181] Eu ELRei Faço saber aos que este Alvará de Lei virem, que tendo chegado á Minha Real Presença pela primeira vez o Compromisso, que em 20 de Dezembro de 1663 se formou para Governo da Confraria da Nobreza, que antes se tinha levantado, para a expiação do Desacato, que na noite de quinze, para dezasseis de Janeiro do anno de 1630, se havia commetido no Sacrario da Freguezia de Santa Engrácia: Havendo mandado

462 ANTT, Condes de Linhares, mç. 5, doc. 4. 463 Apresenta-se a versão constante no Supplemento á Collecção de Legislação Portugueza do Desembargador António Delgado da Silva. Pelo mesmo. Anno de 1763 a 1790, Lisboa, Na Typ. de Luiz Correa da Cunha, 1844, pp. 181-185, por comparação com o presente na BNP, COD. 6937, fols. 1-15.

Pág. 3 Anexo 2

Consultar na Meza do Desembargo do Paço, com assistencia dos Procuradores Regios o sobredito Compromisso: E fazendo ver, e ponderar muito seriamente no Conselho d’Estado, o que sobre elle se Me consultou, foi uniformemente assentado por todos os votos da sobredita Meza, e Conselho, que o referido Compromisso em lugar de conter em si as pias regras com que a mesma Nobreza se devia unir nos exercicios de devoção, que erão proprios de hum fim tão Santo, como o que havia feito o objecto da dita Confraria, continha em si muito pelo contrario a base de huma associação ordenada a semiar sizanias na mesma Nobreza, para levantar no meio della sedições, e discórdias, e para denegri-la com injurias tão atrozes, e offensivas da paz publica de Minha Corte, como da Magestade da Minha Corôa464, da Authoridade do [sic] Meus Tribunaes, e das causas465 por elles julgadas, cuja inviolavel observancia constitue hum dos mais solidos fundamentos do [182] socego dos Povos: E que assim se manifestava, logo que o referido Compromisso se combinava com a historia do tempo em que foi machinado, vendo-se que foi feito em uma conjunctura, na qual a feroz sociedade Jesuitica por huma parte se tinha arrojado o despotico arbitrio de todas as disposições do Governo da Corte, e da Cidade, e pela outra parte procurava concitar nella seduções, e perturbações da tranquilidade publica: Vendo- se que assim para estes máos fins fora buscar (para illudir466 os Gremios dos Artifices de Lisboa) os estratagemas da Liga de França, da mesma sorte para dividir, e perturbar a armonia do Estado da Nobreza copiou ao vivo o outro infame Original de Puritanismo que em Inglaterra se tinha levantado desde o anno de 1565 até ao de 1569, pretendendo os inventores, e os sequazes delle persuadir aos Inglezes, que eram mais puros na Religião do que todos os outros dos seus compatriotas; vendo-se que os referidos Jesuitas com o mesmo intento inventárão, e copiarão tambem nesta Corte o outro Puritanismo de sangue a que lhe derão por difinição - Fidalgo e Christão velho de tempo imemorial, sem fama, ou rumor em contrario, verdadeira ou falsa. - Vendo se que isto foi na substancia o mesmo que identicamente se escreveo no Capitulo 5.° do referido Compromisso pelas fromaes palavras. E que a tem, isto he a pessoa, que houver de ser recebida na Confraria, por Christão velho sem nunca se entender o contrario: Vendo se que assim ficou suspeito e infamado todo o Estado da Nobreza, desde aquelle tempo, suppondo nella Hebreos o mesmo Compromisso, publicando-o assim os sequazes delle, e da difinição que fez a sua base, levantando, e sustentando os dois differentes partidos de Puritanos, e de Infectos,

464 No documento da BNP não aparece esta expressão: «como a Magestade da Minha Corôa», p. 2. 465 No documento da BNP aparece «couzas», p. 2. 466 No documento da BNP acresce «como iludio», p. 3.

Pág. 4 Compêndio de legislação sobre os Puritanos que durárão desde então até agora, tratando dele os Genealogicos nos seus necessariamente mal informados, e temerarios livros, praticando-se com desenvoltura o mesmo nas convenções, e nos ajustes de casamentos, chegando a estabelecer se, por máxima commum, que a Inquizição não era Guardanapo a que as Gentes se fossem alimpar, e sustentando-se aquella sediciosa barbaridade com a afrontosa supposição de inhabilidade, e exclusiva de tantas Casas da primeira Grandeza deste Reino, como forão as que se virão privadas de entrarem no Serviço das Inquizições, e de darem filhas para as outras Casas, não só da mesma Classe, mas ainda de outras de menos graduação, sem reparar em que isto he o mesmo que ainda estão praticando os Hebreos, os quaes não casão fora da Tribu de sua Geração: Vendo se por este modo até a mesma Nobreza daquelle partido chamado Puritano em termos de acabar-se, porque coajuntando-se os seus Matrimonios a tão poucas Casas, como he manifesto, com huma sujeição de Liberdade dos Matrimonios incompativel com as Leis da Igreja, e do Reino, he preciso que venhão a perder, por huma parte com a falta de Esposas, que necessariamente hade haver em hum tão reduzido numero de Familias, pela outra parte com as custosas despezas das Dispensas Matrimoniaes nos primeiros Gráos dos seus reciprocos, e mutuos parentescos: E vendo-se em fim, que todo o corpo da dita Nobreza se acha assim atrozmente injuriado no conceito Universal da Europa, porque fazendo-se crer aos Estrangeiros, que vivem nesta Corte, que em Portugal só ha pureza de sangue naquellas poucas Casas, ficão persuadidos, que a mesma Nobreza, se compõe só daquelle pequeno numero de Familias Christãas velhas, e que todas as outras são maculadas com sangue Hebreo. Representando-se-Me na sobredita Consulta, e Assento do Conselho de [183] Estado; em consequecia de tudo o referido, que aos sobreditos inconvenientes accrescia, para fazer indispensavel, a mais prompta e efficaz providencia applicada sem mais perda de tempo: Primeiramente que em nenhum Reino ou Estado Catholico e Civil se permittio até agora huma Associação, União, ou Conventiculo de certas Familias, ou Pessoas particulares, que pela sua própria Authoridade, se atrevão a separar-se do Commum dos seus Compatriotas, ainda quando claramente não conste, que he para lhes fazer injurias tão atrozes como as que este partido Puritano tem por tantos annos accumulado, não só contra o outro partido por elle, e pelos seus Sequazes pertendido Infecto, mas tambem geralmente a todo o Corpo da mesma Nobreza de que são membros: Em segundo lugar, que sendo Eu o Protector da mesma Nobreza, e da sua honra [muito mais precisa do que a vida] não devo permitir, que na Minha corte se lhe faça a offensa de se lhe pòrem, e darem pelo arbitrio particular, e temerario dos sobreditos Puritanos as referidas

Pág. 5 Anexo 2 inhabilidades, e exclusivas, sendo contrarias a todas as Leis Divinas, e humanas. Em terceiro lugar, que sendo Eu tambem a única fonte da qual sómente he que podem emanar as honras, as graduações, e as qualificações Civis para os Meus Vassallos, não poderia permitir, depois de informado, sem lesão da Magestade da Minha Corôa, que entre os mesmos Vassallos houvessem alguns que se atrevessem a qualificar, e graduar, pelo seu proprio arbitrio, nem os que lho são iguaes na Classe de Graduação467, nem ainda quaiquer dos outros nella inferior na graduação, usurpando assim temerariamente a Suprema juriadicção da mesma Coroa, á qual são intransmissivelmente inherentes a distribuição e regulação das Classes, e das honras dos Meus ditos Vassallos, e a protecção do que entre elles se achão opprimidos: Concluindo finalmente a sobredita Consulta, e Assento sobre ella tomada: Que fazendo se in dispensável que Eu arrancasse, sem mais perda de tempo pelas suas raizes hum mal de tão preniciosas consequencias, não podia haver para este fim outros meios, que não fossem os que vão abaixo declarados. E conformando-Me com os pareceres da Consulta da mesma Meza do Desembargo do Paço, e do mesmo Conselho d’Estado, Sou servido Ordenar o seguinte.

1.° Mando que todos os que são, e forem cabeças das Familias ate agora chamadas Puritanas, logo que tiverem filhos em idade para poderem Casar, sejão chamados á Secretaria de Estado: Que nella se lhes declare no Meu Real Nome, que Eu reprovo e condemno todos os Casamentos ajustados, ou que se houverem de ajustar dentro do Grémio dos mesmos chamados Puritanos.

2.° Item Mando, que todos os que são, e forem Cabeças de Familias chamadas Puritanas que dentro do termo de quatro mezes premptorios, contínuos, e improrogaveis, hajão de ajustar a casar os referidos seus filhos em qualquer das outras Familias, que elles até agora excluirão, como não Puritanas desterrando-se para isto, como sou servido desterrar, debaixo das penas ao diante declaradas, o outro horroroso absurdo, com que no mesmo sedicioso espirito de Puritanismo se andavão excogitando (ainda entre os que o não seguião) defeitos inventados, e quimericos para se injuriarem huns aos outros, inhabilitando-se reciprocamente para os Matrimonios aquellas Familias, a que se tinhão imputado estes, ou aquelles defeitos diversos dos que se atribuião aos que necessitavão de Casarem seus filhos, e dizendo estes que não querião manchar a sua casa com outras notas, além das que já tinhão [184]. E isto como se estivesse no arbitrio dos Genealogicos,

467 No documento da BNP vem «Classe da Grandeza».

Pág. 6 Compêndio de legislação sobre os Puritanos ou dos outros particulares detractores anullarem as Sentenças de habilitações dos Tribunaes do Santo Officio da Inquizição, e das Ordens Militares, ou sentirem mal delles, sem levantarem huma sedição criminosa, e punivel por todas as Leis Divinas e humanas; como se fossem necessario ser mais puro no sangue do que os Ministros dos Tribunaes da Fé, e das Ordens Militares; e como se esta pertendida pureza podesse ter outros effeitos que não fossem os das perturbações, e das discórdias que tem causado no Corpo da Nobreza.

3.° Item. Determino, que não casando os sobreditos Puritanos os seus filhos dentro dos quatro mezes acima declarados, depois de haverem sido para isso intimados, fiquem pelo mesmo lapso de tempo irremissível, e effectivamente privados de todos os Fóros, Dignidades, Honras, e Bens da Corôa, e Ordens, que tiverem, para delles mais não gozarem de modo algum, qualquer que elle seja, revertendo todas as referidas Honras, e Bens a incorporar-se na Minha Coroa, não obstante quaisquer Doações, que dellas e delles tenhão os transgressores desta Lei, porque desde agora para então Hei por cassadas, e abullidas e nullas, como se nunca houvessem existido: Primeiro a de haver algumas vidas, se os sobreditos Transgressores della houvessem falecido sem deixarem descendentes. Segundo o de requererem com Certidões no termo preciso de trinta dias, continua e sucessivamente contados desde o dia da privação dos sobreditos Transgressores, os seus Descendentes que lhe succederião por Direito, se elles mortos fossem, mostrando que tem cumprido as disposições desta Lei no referido Termo, porque neste cazo lhes serão restituídas as mesmas honras, e Bens, posto que já se achem incorporadas no Meu Fisco, e Camara Real.

4.° Item. Àttendendo a que seria muito indecoroso fazer authenticamente publica a injuria que á Minha Coroa, ou Corpo da Nobreza, e a toda a Nação se seguiria de constar na Europa, que por tanto tempo se tolerárão neste Reino attentados e absurdos tão estranhos na Sociedade Civil, e na União Christãa, como os referidos, Mandei que tudo o acima determinado se reduzisse a este Alvará secretissimo, o qual não descerá a Tribunal algum, nem á Chancellaria, mas antes pelo contrario ficara occulto nos lugares mais reconditos dos Archivos do Conselho de Estado, e da Secretaria de Estado, dos quaes não sahirá; nem se comunicará a pessoa alguma, que não seja das que nelle se achão declaradas.

5.° Item. Mando que para a boa e decente execução de todo o que tenho deste ordenado, sejão os sobreditos Cabeças de Familias Puritanas opportunamente chamados

Pág. 7 Anexo 2 a Secretaria d’Estado dos Negocios do Reino, e que nella lhes seja lido o presente Alvará, desde a primeira até à última palavra, de sorte, que bem fiquem comprehendendo o conteúdo nelle. E que sobre esta especifica, e segnificante intimação sejão obrigados assignarem no mesmo acto termos, pelos quaes se dêem por notificados, se obriguem a cumprir tudo o que fica acima ordenado, e promettão inviolavel segredo das intimações que se lhes fizerem, e tudo isto debaixo das mesmas penas acima declaradas468.

6.° Item. Mando que para mais efficazmente obviar tambem aos temerarios absurdos, com que até agora se attentou criminosa, e sediciosamente [185] contra as Sentenças dos Tribunaes da Mesa da Consciencia e Ordens, e do Santo Officio da Inquizição, attrevendo-se os Authores dos Livros Genealogicos, e os Interlocutores de conversações malevolas a escreverem, e falarem mal da pureza de sangue das Familias julgadas competentemente por limpas nos referidos Tribunaes, seja logo expedido outro Alvará em termos decentes para se publicar, aos fins de se conhecer dos referidos Livros Genealogicos, e dos que delles fazem reprovados usos para se cohibir a maledicencia dos que por praticas infamão ignorante e barbaramente as sobreditas familias, com o pretexto dos mesmos Livros, e de rumores vagos, e populares ordinariamente suscitados pelas paixões daquelles que os inventão para os espalharem.

Este se cumprirá inteiramente como nelle se contém, sem duvida, ou embargo algum. Valerá como Lei publicada na Chancellaria, posto que por ella não hade passar. E Mando quês as Intimações passoaes acima ordenadas tenhão força de publicação, de citação, e de bastante Audiencia das Partes para todos os effeitos de facto, e de Direito: Que as matérias pertencentes á referida execução tenhão a natureza dos negocios de Estado, e sejão expedidas na forma, que o Direito determina para tão importante negócio, pelos Ministros privativos, que Eu fôr servido nomear nos casos occurrentes: E que este tenha sempre, e em todo o tempo a mesma força e vigor, posto que o seu effeito haja de durar mais de hum, e muitos annos, e não haja sido publicado na Chancellaria, não obstante as Ordenações, que o contrario determinão, e quaesquer outras Leis, e Disposições de Direito Pátrio, e Civil, e opiniões de Doutores, que da mesma sorte sejão em contrario, porque todas, e todos, Hei por expressas em forma especifica para as derrogar (como derrogo) para este effeito sómente, de Meu Motu Proprio, certa Sciencia, Poder Real, Pleno, e Supremo, e nomeadamente o sobredito Compromisso; ordenando

468 No documento da BNP lê-se «estabelecidas».

Pág. 8 Compêndio de legislação sobre os Puritanos que logo se lavre outro, que seja digno de huma Confraria, cujo objecto he tão devoto, e pio, e da qual Eu sou Perpetuo Juiz, e Protector. Escripta no Palacio de Nossa Senhora da Ajuda a 5 de Outubro de 1768 - Rei - Conde de Oeiras.

- § -

Parecer do Conselho d’Estado que precedeo este Alvará de 3 de Outubro de 1768469

[185] Na Real Presença de Sua Magestade se virão, e ponderárão em Conselho de Estado assim o Compromisso da Confraria do Santissimo Sacramento da Freguezia de Santa

Engrácia datado de 20 de Dezembro de 1663, como a secretissima Consulta, que com o assunto delle subio da Meza do Desembargo do Paço na data de 23 de Setembro proximo preterido: E foi por todos os votos uniformemente assentado que se louvasse á sobredita Mesa o judicioso zello, e o completo acerto, com que aconselhou o dito Senhor em hum Negocio de tanta delicadeza, de tanta importancia, e de tanta urgencia: Que se lavrasse logo Alvará por ella indicado, que a este se lhe desse a sua devida execução, sem mais perda de tempo debaixo das penas declaradas da referida Consulta, pelo que pertence á parte respectiva á total extinção, e abolição do Puritanismo, e a se obrigarem os Cabeças das Casas, que na Inquisição, e na Misericórdia desta cidade o ficárão sustentando, e se prevallecerão delle para as ruinas da honra, e da fazenda dos Vassalos de Sua Magestade [186]: Estas Instituições pias da mesma Misericórdia que forão manifestas constrangendo-os a casarem logo que tiverem idade os seus filhos nas outras casas, por elles até agora excluídas, e injuriadas como infectas; que porem pelo que toca a outra parte da mesma Consulta que diz respeito á sujeição com que os Chefes, e Corifeos do mesmo Puritanismo submetterão a Soberana e temporal da Côroa destes Reinos á Jurisdicção Ecclesiastica do Ordinário de Lisboa, para com a cooperação delle darem á sua infame Associação as maiores forças, com que depois fizerão e ficárão fazendo no Real Throno, e nas referidas Inquizição, e Misericórdia da mesma Cidade de Lisboa os

469 Apresenta-se a versão constante no Supplemento á Collecção de Legislação Portugueza do Desembargador António Delgado da Silva. Pelo mesmo. Anno de 1763 a 1790, Lisboa, Na Typ. de Luiz Correa da Cunha, 1844, pp. 185-186.

Pág. 9 Anexo 2 estragos, que as Histórias referem, e os viventes virão ainda com igual horror: Se assentou que este delicado ponto se conservasse por ora em profundo silencio, não só porque os factos das referidas associação, e sujeição da Auctoridade Regia com hum tão abominavel fim, manifesto pelo dito Compromisso, e os igualmente abominaveis effeitos, que delles se seguirão, e ficarão seguindo até aos tempos visinhos contém atrocíssimos crimes de Lesa Magestade de primeira cabeça, os quaes se não extinguirão com a morte, segundo o Direito, mas tambem porque nesta certeza seriam de hum preneciosissimo exemplo, que tratando-se do sobredito Alvará destes execrandos crimes, deixasse de condemnar as memorias dos que os commetterão, e dos que os seguirão, impondo-se-lhes as penas que as Leis determinão. E porque havendo-se inclinado a Benigníssima Clemencia do Mesmo Senhor a conservar as casas daquelles que entre os Descendentes dos sobreditos Reos de Lesa Magestade não tendo culpas pessoaes daquella natureza, tem seguido o mesmo Puritanismo com sinceridade, e boa fé por huma geral preocupação, que achárão estabelecida, não pode haver para o fim desta Clementíssima Indulgencia outro meio, que não seja o do referido profundo silêncio, quanto a esta parte. E sendo Sua Megestade servido conformar-se com a referida Consulta e modificações, votos sobre ella dados no presente Conselho d’Estado, mandou que de todo o sobredito se lavrasse o presente Assento, e que immediatamente se procedesse á execução do nelle conteúdo. Palacio de Nossa Senhora da Ajuda em Conselho de tres de Outubro de mil setecentos sessenta e oito - F. Cardeal Patriarca - Dom João Arcebispo Regedor - Marquez d’Alvito - Conde de Oeiras - Dom Luiz da Cunha - Francisco Xavier de Mendonça Furtado.

- § -

Consulta que precedeo o Conselho d’Estado de 23 de Setembro de 1768470

[186] Senhor - O Conde de Oeiras, Ministro e Secretario d’Estado participou a esta Mesa a Ordem de Vossa Magestade, para que nella com assistencia dos dois Procuradores Regios, se visse o Compromisso que até agora estava occulto na Irmandade do Santissimo

470 Apresenta-se a versão constante no Supplemento á Collecção de Legislação Portugueza do Desembargador António Delgado da Silva. Pelo mesmo. Anno de 1763 a 1790, Lisboa, Na Typ. de Luiz Correa da Cunha, 1844, pp. 186-192.

Pág. 10 Compêndio de legislação sobre os Puritanos

Sacramento de Santa Engracia, de que Vossa Magestade he Perpetuo Juiz, e Protector, e que sobre ella se lhe consultasse no mais delicado segredo, que he tão proprio de hum Tribunal desde a sua origem do intimo Conselho de Vossa Magestade.

Não se pode, Senhor, nem comprehender toda a abominavel malicia que se envolveo no dito Compromisso, sem o socorro da Historia do seculo, em que elle foi machinado, nem ver-se sem horror, que se tomasse [187] hum tão sagrado pretexto para se arruinar a Monarchia, a Nobreza, a honra, e a Fama; e como a Mesa deve propòr a Vossa Magestade os meios que lhe parecer proporcionados para arrancar de uma vez as raizes de hum tão grande mal, não pode dispensar-se de pòr diante dos olhos com o subsidio da Historia o systema, e espírito machiavelico do referido Compromisso.

Depois que os Jesuitas impedirão neste Reino toda a introducção de Livros Estrangeiros, e até das novas publicas da Europa, para a sua malignidade poder arruinar- nos com toda a segurança, sem que conhecêssemos o mal que elles nos fazião, passarão a copiar em distruição deste Reino, tudo o que os mais temerarios, e impios Facinorosos tinhão praticado nas outras Monarchias do nosso Continente. Já se vio na primeira parte da Dedução Chronologica, e Analitica, que desde a feliz Acclamação do Senhor Rei Dom João 4.°, até ao tragico fim do Reinado do Senhor Dom Affonso 6.°, copiarão os ditos Jesuitas nesta Corte e Reino identicamente os mesmos originaes do Fanatismo da Liga de França, e das Hipocrisias do Imbusteiro Campanella, fazendo o papel deste impostor ao vivo o Padre António Vieira, e as figuras do partido da dita Liga, as Irmandades de todos os Gremios do Povo de Lisboa. Faltava-lhes fazer a mesma união fanatica do Estado da Nobreza, e para isto forao copiar da mesma sorte ao vivo o outro original da Seita dos Puritanos que se tinha alevantado em Inglaterra, segundo alguns Authores no anno de 1565, e segundo outros no de 1569, que persuadião que erão mais puros na Religião do que todos os outros; que debaixo deste pretexto da maior pureza levantárão os maiores tumultos em Inglaterra; e que ultimamente armárão a temeridade de Cromwel até ao ponto de arruinar a Monarchia daquelles Reinos, e de cortar no anno de 1649 a cabeça ao seu Rei Carlos 1.° em hum Cadafalso, como he publico em todas as Historias, e especialmente na do Puritanismo de Inglaterra, escripto por Amecio Gari; e outros muitos, assim como o Puritanismo de Portugal armou contra o Senhor Rei Dom Affonso 6.° a Seita, que lhe roubou a Coroa, a Liberdade, e a Esposa.

A experiencia tinha mostrado aos Jesuitas que nada lhe ministrava tantas forças como a maliciosa invenção das Associações, e uniões que tinhão estabelecido, debaixo

Pág. 11 Anexo 2 da sua direcção em tantas Confrarias dos Grémios da Plebe de Lisboa, e da ordem dos Ministros da Toga. Guiados pois pelo mesmo espírito de união viciosa quando projectárão a ruína do Senhor Rei Dom Affonso 6.° e da honra dos Vassalos deste Reino, com huma infamia que durará nas Memorias funestas de Portugal até ao fim dos séculos, foi hum dos seus principaes estratagemas, o com que machinárão no meio das Classes da Nobreza aquelle horroroso monstro, ao qual impuzerão o nome de Puritanismo. Monstro que com a mesma denominação, acabava em Inglaterra de cortar a cabeça a ElRei Carlos 1.°, e derão por distinção (que ainda hoje dura com o referido nome) Fidalgo e Christão velho de tempo immemorial sem fama, ou rumor, em contrario verdadeira ou falsa. Definição que abortou a abominavel máxima, que a bondade do Cardeal da Cunha achou, e seguio no cargo de inquizidor Geral, por haverem antecedentemente feito passar em provérbio os machinadores da referida Seita - Que a Inquizição não era guardanapo a que as gentes se fossem alimpar, máxima cujo maligno espirito manifesta que ella se ordenou a fazer a mesma Inquizição hum monopolio dos ditos Puritanos, excluindo della os outros Fidalgos [188] em que não concorressem aquellas esquisitas e inventadas circumstancias de serem - Christãos velhos sem fama ou rumor em contrario veradeira ou falsa. Proseguindo pois os ditos Jesuitas o referido plano malicioso de formarem huma união na Nobreza por elles dirigida, e valendo-se para este effeito da authoridade com que o seu padre Nuno da Cunha governava a casa da Mouraria, tão despoticamente como consta de Documentos Originaes que existem entre os seus papeis, por ser irmão de Dona Mariana de Mendonça, mãe do primeiro Conde de Villar-Maior, Fernão Telles da Silva, e tinha ao mesmo tempo na Corte, e no Santo Officio a influencia que lhe dava seu irmão o Inquizidor Manoel da Cunha, Bispo, Capellão Mór, e Arcebispo Eleito de Lisboa, tomando este, e os mais Padres da sua feroz Sociedade, o sagrado pretexto da expiação do sacrilegio, que na noite de 15 para 16 de Janeiro de 1630 se havia commetido na Igreja de Santa Engrácia, publicárão trinta e três annos depois no de 1663 o Compromisso que desde então até agora se ficou observando com dois absurdos tão manifestos, e dois extratagemas tão extraordinários, e nocivos, como são os seguintes: O primeiro delles, foi o de estabelecerem o referido Puritanismo por Lei do Capitulo 5.° nestas formaes palavras. “A Eleição se fará nomeando cada hum dos doze, huma pessoa para irmão, declarando debaixo de juramento, que tem recebido, que não se lhe falou na dita pessoa para a propor, e que a tem por Christão Velho sem nunca se entender o contrario.” Palavras tão cheias de diabolica malícia, tão incompativeis com huma Confraria composta da primeira, e mais graduada Nobreza, com o Senhor Rei Dom Affonso seu Protector á testa, e tão injuriosas

Pág. 12 Compêndio de legislação sobre os Puritanos ao corpo de huma tal Nobreza, em quanto supponhão judeos nella, como coherentes, e conformes, com o maligno espírito das outras palavras da difinição do tal Puritanismo acima copiadas que dizem sem fama ou rumor em contrario verdadeira ou falsa. E com o mesmo projecto de Associação dos ditos chamados Puritanos, excluindo todas as outras famílias desta Confraria de Nobreza, assim com as tinhão procurado excluir da Inquizição, como com effeito consegurão com injuria de tantas casas de primeira grandeza deste Reino.

O segundo dos ditos estratagemas, foi o de estabelecerem pelo termo escripto no verso da carta de confirmação, e protecção do dito Monarcha que se iria pedir confirmação ao Prelado, como foi com effeito pedida à Relação Ecclesiatica desta Corte, a qual lhe defirio da maneira seguinte. - Accordão em Relação &c. que antes de outro Despacho fação os supplicantes termo de sujeição ao Prelado, para se poder deferir - Lisboa 20 de Março de 1604 - Diniz - Almeida - Paço - Barreto. Accordão que da mesma sorte foi tão incompativel com uma Irmandade de Leigos, composta da primeira, e mais gradoada Nobreza do Reino, e com a precedente confirmação, e Protecção Real do dito Rei Dom Affonso, que era dos chamados supplicantes, expressos no referido Accordão como demonstrativo de que esta sujeição, em que pelo referido Compromisso pozerão o dito Senhor, e todo o corpo da sua Nobreza, subordinando-o á dita Relação Ecclesiatica, foi o mesmo de que habilita-lo para a outra infame e abominavel causa da dissolução de Matrimónio, cuja Sentença com horror de toda a Europa se proferio, poucos annos depois de 1667.

Desde o tempo do dito Compromisso, he pois constante e notório a toda esta Corte, que pelo meio daquelle maligno estratagema chamado [189] Puritanismo se forão as familias, por elle assignadas, apropriando o arbitrio dos Matrimonios das outras familias mais distinctas, e mais numerosas da mesma Corte. Ellegendo humas como Puritanas, reprovando outras como infactas, e fazendo assim a poderosa união, que forão ampliando com os casamentos de algumas daquellas mesmas famílias chamadas infectas, para as trazerem á sua associação, debaixo do pretexto de as purificarem, porque as ditas familias associadas não só se arrogarão pureza para si, mas tambem espiatorio para outros, de sorte que todos os que casavão nellas, ficavão tambem Puritanos, sem macula alguma, se os defeitos que antes lhe attribuirão, erão de natureza, que permitisse esconderem-se na escuridade dos princípios donde se derivavão, havendo destas expiações conhecidos exemplos.

Pág. 13 Anexo 2

Assim arruinarão os ditos Puritanos o Throno desta Monarchia, assim levantárão sobre as ruinas delle a façanhosa Aristocracia, que durou todo o Reinado do Senhor Rei Dom João 5.° com os estragos dos cabedaes, das forças, e da reputação desta Corôa, e dos Vassallos della que ainda se estão fazendo presentes aos olhos dos que hoje vivemos. Este he o monstro, que ainda se está nutrindo, e sustentando-se nas preocupações dos descendentes dos authores daquelle fatal estratagema, animados e illudidos pelo que ouvirão aos seus maiores, e pelo que lerão, e lêem nos escriptos que elles lhe deixarão em abominavel Patrimonio. Este he o monstro que parece que de necessidade se deve debilitar até o distruir inteiramente, sem delle ficarem os menores vestígios, e sem perda de tempo por muitas razões claras.

A primeira porque em nenhum Estado Soberano que vive debaixo de hum Governo Supremo, se permittio até agora huma Associação, união ou conventiculo de certas pessoas particulares, como he o que constitue esta Seita chamada Puritanismo, e que na realidade constitue, além do referido huma sedição punível pelas Leis de todas as Nações Civilisadas, ainda quando não consta do mal com que as referidas pessoas se separão pela sua authoridade própria do commum dos seus compatriotas.

A segunda razão he porque as referidas disposições de Direito se fazem muito mais urgentemente indispensáveis, quando consta que a tal sedição, não só for ordenada, e dirigida a dois males tão grandes, com os que já tem feito, e está ainda fazendo entre nós: Isto he por uma parte conspirar contra a Coroa, e contra o publico socego com tumultos, como já succedeo tão desgraçadamente: E por outra parte injuriar a maior parte da Nobreza desta Corte, e Provincias deste Reino, pondo nella huma inhabilidade, e dando-lhe huma exclusiva tão offensiva da honra, como contraria a todas as Leis Divinas, e Humanas, como ainda agora se está praticando com publicidade escandalosa, que está desafiando a Real Providencia.

A terceira razão he, porque sendo Vossa Magestade a única fonte de Nobreza da qual sómente podem emanar as honras, as graduações, e as qualificações para os seus Vassalos, não pode haver maior temeridade, nem barbaridade mais clara, e manifesta do que pode haver entre os mesmos Vassallos alguns tão arrogantes que se atrevão a ser elles árbitros da graduação, e da Nobreza dos que lhes são iguaes na classe da mesma Nobreza, e ainda na linha de Vassallos, com huma notoria usurpação da Dignidade Regia, e Jurisdição Suprema, ás quaes he inherente a distribuição das honras, e das classes para as regular, e ordenar, como bem lhe parecer.

Pág. 14 Compêndio de legislação sobre os Puritanos

[190] A quarta razão he porque reduzindo-se os taes Puritanos a hum piqueno numero, que quasi se conta pelos dedos, sendo tão numerosos os que elles publicão maculados, segue-se que os Estrangeiros, que vêem isto na Corte, ficão persuadidos de que a Nobreza se compõe de hum pequeno numero de Christãos Velhos, e que todos os outros são judeos, accrescendo que os taes Puritanos se não esquecem de assim o divulgarem com a propria jactancia.

Estas além de outras, são as razões que occorrem á Mesa para consultar a Vossa Magestade a urgentíssima necessidade, que ha de inteiramente destruir este monstro sem perda de tempo. Não deixou de lembrar á dita Meza para este fim, a providencia da Lei de 23 de Novembro de 1616, em quanto comunicou perda de perdimento dos bens da Côroa aos Donatários, que casarem sem expressa licença de Vossa Magestade, e a de inhabilidade para nelles succederem aquelles, que não sendo donatarios esperassem se­ lo: parecendo, que seria bastante providencia negar Vossa Magestade as licenças aos dos grémios, e união dos Puritanos na occasião em que qualquer delles possa pedi-la para casar dentro do gremio. Porém lembrou ao mesmo tempo tempo, que esta providencia nas presentes circumstancias não só seria inefficaz, mas poderia ser mais prejudicial, que a dissimulação: Por quanto mostra a experiencia, que todas as vezes, que a males urgentes de uniões, e sedições da natureza do Puritanismo, se senão applicão remedios promptos, e efficazes, converte-se em maior mal o remedio paliativo, ou a providencia prolongada, porque anima os espiritos inquietos, enchendo-os de vanglorias, e esperanças vãas de futuros contingentes, que muitas vezes se vereficão lastimosamente para ressuscitarem as sedições com maior furor, e para maior damno da Republica.

Entende pois a Meza que o único remedio prompto e efficaz para extinguir o monstro do Puritanismo, sómente pode consistir em Vossa Magestade ser servido Mandar declarar aos cabeças das familias Puritanas, que ou estiverem por casar, ou tiverem filhos para casar, que tem determinado não approvar os seus casamentos dentro do gremio do Puritanismo, e que justamente tem determinado, que com effeito casem logo dentro do preciso termo de tres ou quatro mezes, aquelles que estiverem em idade de casar, e que não casando dentro do termo preciso, serão privados das honras, e dignidades, que tiverem, e serão por esse mesmo effeito privados dos bens de Coroa e Ordens, remedio único para efficazmente, extinguir o Puritanismo, e castigo proporcionado aos que com injuria da maior parte da Nobreza, e com offensa da Real Authoridade pertenderem sustentar huma união tão disforme.

Pág. 15 Anexo 2

Não he Vossa Magestade ir impedir por este meio, nem ainda coarctar a liberdade dos Matrimonios, antes he heito ampliar a dita liberdade dos Matrimonios, que os Puritanos limitavão dentro do seu gremio, com tanta injuria da Nobreza, e com fins tão reprovados, sem que ao mesmo tempo constranja a cada hum delles com certa, e determinada pessoa, que he o que elles verdadeiramente practicavão e praticão. E porque não parece conveniente fazer authenticamente a injuria da Corôa, da Nobreza, e da Nação, que tem tolerado por tanto tempo este monstro, entende a mesma Meza, que Vossa Magestade explicará com maior decencia, e dignidade as suas Reaes Ordens, sendo servido Mandar declarar o sobredito por um Alvará secretissimo, que não desça ao Tribunal, nem á Chancellaria, Mandando-o reservar, ou na Secretaria [191], ou no seu Conselho d’Estado. A forma da execução do referido Alvará, pode ser, encarregando Vossa Magestade a hum dos Ministros Secretario d’Estado, que em particular intime áquelle, ou áquelles Puritanos, que estiverem nos termos de casar, obrigando-os a assignar Termo pelo qual se dêem por notificados, e se obriguem a cumpri-lo como Vossa Magestade Ordena.

Não pode persuadir-se a Meza que depois de intimadas as Reaes Ordens de Vossa Magestade, haj a Puritano que se atreva a transgredi-las, não obedecendo no termo prefixo, que elle deve ser assignado, porém quando tal suceda contra toda a esperança, pode praticar-se a execução, ou por hum Decreto, em que Vossa Magestade por justos, e particulares motivos, que lhe forem presentes, o declare incurso nas sobreditas penas, ou pelo Juízo da Inconfidencia, remettendo-se-lhe da Secretaria d’Estado por hum Aviso o Termo nella feito, e assignado para por elle proceder.

Finalmente parece á Meza, que Vossa Magestade deve ser servido abolir o incompetente e sedicioso Compromisso da sobredita Irmandade, e mandar-lhes dar outro novo para o seu governo. Lisboa 23 de Setembro de 1768. - Veiga - Castro - Pacheco - Fonseca - Cordeiro.

- § -

Pág. 16 Compêndio de legislação sobre os Puritanos

Termo que faz o Illustrissimo e Excellentissimo Manoel Telles da Silva, Conde de Villar Maior, em execução do Alvará de Lei de 5 do corrente mez de Outubro

[em nota de rodapé vem escrito: Identicos Termos assignárão em os dias seguintes o Ex.mo Marquez de Valença, e de Angeja, e outros Fidalgos471]

[191] Aos onze dias do mez de Outubro do anno de mil setecentos sessenta e oito, compareceo nesta Secretaria d’Estado dos Negocios do Reino, o Ill.mo e Ex.mo Manoel Telles da Silva, Conde de Villar Maior, vindo a ella chamado por Ordem de ElRei Nosso Senhor, em execução do seu Alvará de Lei, datado do Palacio de Nossa Senhora da Ajuda aos 5 deste dito mez, que está correndo, e sendo-lhe lido da primeira até á ultima palavra em presença do Illustrissimo e Excellentissimo Conde de Oeiras, Ministro e Secretario d’Estado, por mim Official da mesma Secretaria abaixo assignado, o sobredito Alvará, em voz clara, e intelligivel: E sendo-lhe perguntado se havia distincta, e especificamente comprehendido as disposições, Termos, e Comminações estabelecidas pela Lei do mesmo Alvará, ou se o queria ler para ficar plenamente instruido no conteudo nelle: Respondeo que tudo havia entendido no seu verdadeiro, e literal sentido; e que sendo obrigado, como fiel e leal, e obediente Vassallo de Sua Magestade a respeitar, e executar religiosamente, como justas e santas todas as Leis do dito Senhor, observaria esta prompta, e exactamente, pelo que nella pertence á sua pessoa, casa, e familia. Em fé e certeza do que assignou este Termo, com o mesmo Ministro e Secretario d’Estado, no mesmo dia, mez, e anno acima escripto. - Conde de Oeiras - Conde de Villar Maior - E eu João [192] Gomes d’Araujo, que sirvo de Official Maior da Sacretaria d’Estado o escrevi, e assignei - João Gomes de Araújo.

Na Collec. do Conselheiro Trigoso.

- § -

471 No documento da BNP, a seguir ao Termo, vem o seguinte texto: «Seguem-se outros Termos que assignarão o Ill.mo e Ex.mo D. Joze Miguel João de Portugal Marquez de Vallença em Ex.am do Alvará de Ley de cinco do corrente mês de Outubro. E o Ill.mo e Ex.mo D. Pedro de Noronha Marquez de Angeja, e do Monteiro Mor do Reyno Francisco de Mello, e de Fernando de Miranda». Estes Termos poderão ser encontrados no ANTT, Condes de Linhares, mç. 5, doc. 4.

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ANEXO 3: Retrato puritano da Aristocracia Portuguesa

Tentámos, ao longo desta dissertação, recriar a sociedade na qual vivia a aristocracia portuguesa do Antigo Regime, como forma de melhor perceber o enquadramento do grupo dos Puritanos, sendo Nuno Monteiro peremptório a concluir sobre o «carácter relativamente difuso»472 dos testemunhos sobre a sua existência, que são, ainda assim, contundentes no que à importância atribuída a estas Casas aristocráticas diz respeito.

Mas como se viam e eram vistos os membros destas Casas? Como se definiriam as suas estratégias de reprodução social concretizadas em subgrupos onde a probabilidade de estabelecimentos de alianças era maior? Terá a prática endogâmica de casamentos pela qual a aristocracia portuguesa ficou conhecida sido ainda mais exclusiva, criando «sedições, e discórdias»473, como nos é sugerido pelo Alvará?

Para que pudéssemos estudar o fenómeno e impactos do puritanismo na aristocracia portuguesa, começamos por ter de definir o grupo base que iríamos estudar. Resolvemo-nos por estudar o grupo dos Grandes (que, no Antigo Regime, fazia referência aos duques, marqueses, condes e o visconde de Vila Nova de Cerveira), ao qual juntámos os demais títulos (viscondes e barões) e ainda, por considerarmos terem sido entendidos numa óptica quasi vincular, também os ofícios maiores da Casa Real474. No entanto, uma das questões que desde logo surge na definição de um grupo que se pretende estudar durante um período de 170 anos, adicionando o facto do que se pretende analisar ser a sua política de reprodução social, é a de que Casas analisar. Para tal foi necessário garantir que as Casas eleitas foram capazes de promover uma política de reprodução social (logo, tiveram descendência), tendo-se também desconsiderado todas as Casas criadas após, ou imediatamente antes, do Alvará475.

472 Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo..., p. 141. 473 Alvará, p. 181. 474 Para um melhor entendimento da importância dos ofícios maiores da Casa Real, leia-se Pedro Cardim, O poder dos afectos. Ordem amorosa e dinâmica política no Portugal do Antigo Regime. Lisboa: [s.n], 2000. Dissertação de Doutoramento, pp. 477-521. 475 A título de exemplo, desconsideraram-se as Casas dos duques de Aveiro (ramo da Casa que ficou em Espanha após a Restauração), o ramo da Casa dos marqueses de Gouveia, condes de Portalegre que se extingue, as Casas dos condes de Figueiró, Pontével e Viana, apenas com um titular e as Casas dos condes da Azambuja, Mesquitela (antigo), Redinha, dos viscondes de Anadia, Bahia, Lourinhã e dos barões de Alverca e Mossâmedes, porque a sua data de criação é imediatamente anterior, ou posterior, ao Alvará.

Pág. 19 Anexo 3

Também em relação aos ofícios maiores da Casa Real, consideraram-se apenas aqueles que foram considerados “ofícios de Casas”, que excluem, naturalmente, os reservados a eclesiásticos, como o capelão-mor, o esmoler-mor e o sumilher da cortina, mas ainda os ofícios de Mordomo-mor e Estribeiro-mor, e o de Camareiro-mor, que foi, ao longo do tempo de análise, dando lugar aos camaristas - gentis-homens da câmara - que assistiam a somana. Sem uso, ou relevância, no período em análise estariam os ofícios de Caçador-mor e Guarda-mor.

Assim definimos o grupo como sendo composto por um total de 68 Casas aristocráticas (sendo que duas delas, Abrantes e Sarzedas, consideradas em dois ramos distintos476). Nestas, e partindo do último chefe de Casa vivo antes de 1800, analisámos até seis gerações (como objectivo de chegar ao titular vivo em 1630) da sua ascendência, tentando identificar, de acordo com a informação fornecida no já muito referido Relatório do marquês de Torcy, quais seriam os reparos da sua linhagem. Para tal, recorremos aos índices disponíveis no sítio Geneall.net que julgamos fidedigno (porque não só identifica as fontes da informação, como o nosso objecto de análise são as Casas titulares estudadas pelo Pe. D. António Caetano de Sousa, trabalho que se encontra reflectido no referido sítio) e, sobretudo, facilitou uma tarefa que, de outra forma, se revelaria muito mais difícil.

Importa salientar que a atribuição de um dado reparo a uma Casa aristocrática não quererá dizer que essa Casa o tenha mantido durante todo o período, mas que chegou ao final do período com esse reparo. Este simplismo assumiu-se, não apenas porque seria praticamente impossível fazê-lo de outra forma, mas também porque a questão puritana se coloca, sobretudo, pela existência do Alvará de 1768, permitindo-nos perceber a realidade dos reparos das Casas aristocráticas por essa data. Por outro lado, o objecto de estudo do presente trabalho é o grupo dos Puritanos, pelo que a manutenção do estado de uma Casa aristocrática sem reparos ao longo do período de análise é, por si só, uma forma de confirmar a sua adesão a um ideal puritano.

Na Tabela 1, apresentamos os resultados a que chegámos. Assim, e para a aristocracia portuguesa, tal como a definimos, os reparos mais observados eram o de Pinheiro (41/70), Bocanegra (36/70), Granada (34/70) e Aragão (24/70). Os menos observados eram o de Lafetá (1/70) e os de Brandão, Juzarte e Torres (4/70). Também podemos acrescentar que, em média, as Casas aristocráticas portuguesas apresentavam,

476 Na Casa dos marqueses de Abrantes considerámos os ramos dos condes de Penaguião e dos condes de Vila Nova de Portimão, e na Casa de Sarzedas, nas varonias Silveira e Távora.

Pág. 20 Retrato puritano no final do Antigo Regime, 3 reparos (que comparam com os 1,4 à data do Relatório de Torcy, ou seja, 1684) sendo a realidade sem reparos conhecidos composta por apenas 9 Casas.

Posteriormente, atribuímos a cada reparo uma cor e elaborámos, para cada Casa, uma árvore de costados, partindo, como referimos, do último chefe da Casa vivo anterior a 1800 e, no caso das Casas extintas a essa data, do último chefe da Casa. Na tabela 2 apresentamos o resumo das árvores de costados que apresentamos a seguir, chamando a atenção para o facto da 1.a geração dizer sempre respeito ao titular mais recente.

Não sabemos se este retrato corresponderá à forma como as Casas aristocráticas portuguesas se viam umas às outras, mas a verdade é que parece permitir-nos identificar, claramente, as Casas aristocráticas que investiram em políticas de reprodução social puritanas, mesmo tendo já elas próprias reparos.

Foi, precisamente, este o motivo que nos levou a propor a análise do grupo também em sentido lato uma vez que em Casas que mantiveram, durante todo o período, o mesmo reparo, e assumindo por verdade a prática endogâmica de casamentos da aristocracia portuguesa, a coincidência ou a casuística parecem ser justificações fracas para tal, numa realidade onde a prática do puritanismo foi, como vimos, associada a honra e prestígio.

Pág. 21 Anexo 3

Tabela 1 - A incidência dos reparos nas Casas aristocráticas portuguesas (à data do último titular vivo, antes de 1800)

Casa Brandão Caiada G ranada Lafetá Pinheiro T alaveira T orres B obadilla Total de Reparos A ragão Azambuja I Juzarte 1 Zuniga 1 Aveiro/ Gouveia/ Santa Cruz x x 2 Cadaval/ Ferreira/ Tentúgal x 1 Lafôes/ Arronches/ Miranda 0 Abrantes/ Fontes/ Penaguião x x 2 Abrantes/ V.N. Portimão/ Penaguião x x x x x x 6 Alegrete/ Vilar Maior 0 Alorna/ Castelo Novo/ Assumar x x x x 4 Alvito/ Oriola/ Alvito/ Alvito x x x 3 Angeja/ Vila Verde Cascais/ M onsanto/ Coudeis-móres x x x 3 Castelo Melhor/ Calheta/ Castelo Melhor/ Repost. x x Fronteira/ Torre/ Coculim x x x x x 5 Lavradio/ Avintes x x x x 4 Loulé/ Vale de Reis x x x Louriçal/ Ericeira x x x x x 5 Marialva/ Cantanhede x 1 Minas/ Prado x x x x x 5 Niza/ Vidigueira x x x x 4 Niza/ Vidigueira/ Unhão x x x x x x x 7 Penalva/ Tarouca 0 Pombal/ Oeiras x x 2 Ponte de Lima/ Vila Nova de Cerveira 0 Tancos/ Atalaia x x 2 Távora/ S. João da Pesqueira x 1 Valença/ Aguiar/ Vimioso Almada/ Mestres-s alas x x x 3 Alva x x Alvor x 1 Arcos x x x x x x x x 8 Atouguia x 1 Aveiras x x x 3 Bobadela x x x x x x x 7 Caparica x 1 Co culim x x x x 4 Cunha x x x 3 Ega x x x x 4 Ficalho x 1 Galveias x 1 Lousã x x x 3 Lumiares/ Ilha do Príncipe x x x x x x S. Lourenço/ Sabugosa x x x 3 S. Miguel x x x x x x x x 8 Óbidos/ Sabugal/ Palma Penafiel x x x x x x x 7 Pombeiro x x x x x x x x x Sande/ Ponte x x x x x x x x 8 Povolide x x x x x 5 Redondo x x x 3 Resende/ Almirantes x x x x x 5 Ribeira Grande/ Vila Franca x x São Paio x x x x x x x 7 Sabugosa x x Sandomil x 1 Santiado de Beduído x x x 3 Sarzedas 1 x 1 Sarzedas 2 x x x 3 Soure x x x x 4 Valadares x x S. Vicente x 1 Vila Flor/ Copeiros-móres x x x x 4 Vimieiro x x x x x 5 Asseca x x x x x x Barbacena x x x x x x Fonte da Arcada x x x x 4 Mesquitela/ Ilha Grande de Joanes x x x x x x x 7 Vila Nova de Souto d'El Rei x x x x 4 Capitães da Guarda Alemã 0 Armeiros-móres 0 Monteiros-móres x x 2 Porteiros-móres x x x x x x x 7

Pág. 22 Retrato puritano Tabela 2 - Análise dos reparos das Casas aristocráticas portuguesas477

Gerações consideradas Reparos: Casa: 1.a 2." 3.a 4." 5." 6." Aveiro/ Gouveia/ Santa Cruz s.r. s.r. Aragão Cadaval/ Ferreira/ Tentúgal s.r. s.r. s.r. s.r. n.c. Azambuja Lafões/ Arronches/ Miranda s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. Bocanegra Abrantes/ Fontes/ Penaguião s.r. Brandão Abrantes/ V.N. Portimão/ Penaguião » ••• • • • • • • • • •• Caiada Alegrete/ Vilar Maior s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. Granada Alorna/ Castelo Novo/ Assumar • • • • • • s.r. n.c. n.c. Juzarte Alvito/ Oriola/ A lvito/ Alvito » • • • » • • s.r. Lucena Angeja/ Vila Verde s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. n.c. Lafetá Cascais/ Monsanto/ Coudeis-mores •••• •• n.c. n.c. Pinheiro Castelo Melhor/ Calheta/ Castelo Melhor/ Re •• •••• • s.r. Talaveira Fronteira/ Torre/ Coculim » • • • • • • • • • • • •• Torres Lavradio/ Avintes » • • • •• •• •• om Zuniga Loulé/ Vale de Reis M* •• •• •• •• Judeu Louriçal/ Ericeira ••••••• •• •• ••• Bobadilla Marialva/ Cantanhede ••••• ft Minas/ Prado • •• • • • • • • • • Niza/ Vidigueira • • • •••• Niza/ Vidigueira/ Unhão • • • • • • • •mo Penalva/ Tarouca s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. Pombal/ Oeiras MM»• »• •• Ponte de Lima/ Vila N ova de Cerveira s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. Tancos/ Atalaia •••• •• •• ••M Távora/ S. João da Pesqueira s.r. s.r. Valença/ A guiar/ Vimioso s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. Almada/ Mestres-salas M * * é • s.r. n.c. Alva * n.c. n.c. n.c. n.c. n.c. Alvor s.r. s.r. s.r. n.c. Arcos M ••• M • • • s.r. s.r. Atouguia Aveiras •*•• s.r. s.r. Bobadela M • • • • • n.c. n.c. Caparica s.r. s.r. Coculim » • • • • • • • • • M Cunha »•»• s.r. s.r. s.r. Eg a »••• ** *M Ficalho ••••• s.r. Galveias ••• s.r. s.r. n.c. Lousã • • • • • • Lumiares/ Ilha do Príncipe • • • • • • • • • S. Lourenço/ Sabugosa/ Alferes-mores ••••• s.r. S. Miguel M • • Obidos/ Sabugal/ Palma s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. Penafiel • • • •> i t • ••M•• Pombeiro •• •••• Sande/ Ponte » • 1 MM* ••••••••• n.c. Povolide • • s.r. s.r. Redondo •••• s.r. s.r. Resende/ Almirantes • • • • • • • • •• ••• Ribeira Grande/ Vila Franca ••••• s.r. São Paio ••»••• •• ••• • • • ••• ••• Sabugosa/ Alferes-mores •• • • s.r. s.r. Sandomil s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. Santiado de Beduído • • M •• s.r. s.r. Sarzedas 1 s.r. n.c. Sarzedas 2 » • • • » • s.r. Soure • i • • » s.r. Valadares • s.r. S. Vicente Vila Flor/ Copeiros-mores » • • * •» s.r. s.r. Vimieiro • • • • • s.r. A sseca s.r. s.r. s.r. n.c. Barbacena • • • • • • • • • • Fonte Arcada • • s.r. s.r. s.r. s.r. Mesquitela/ Ilha Grande de Joanes ••»••• s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. Vila N ova de Souto d'El Rei • •• • • s.r. s.r. s.r. s.r. Capitães da Guarda Alemã s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. Armeiros-mores s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. s.r. Monteiros-mores Porteiros-mores »••• • n.c. n.c. - Geração não considerada s.r. - Sem reparos

477 A primeira geração analisada respeita ao último titular chefe da Casa vivo antes de 1800, representando a 2.a geração a do seu pai, e daí em diante, excepção feita quanto este herda a Casa de um ramo feminino, tendo-se, nesse caso, optado por seguir a linhagem da Casa em detrimento da varonil.

Pág. 23 Anexo 3 Casa dos duques de Aveiro/ marqueses de Gouveia/ condes de Santa Cruz ••

D. João Mascarenhas D. Martinho Mascarenhas, 4.° C. Santa Cruz D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz D. João Mascarenhas, 5.° C. Santa Cruz Manrique de Silva, 1.° M. Gouveia Juliana de Lancastre • D. Maria de Lancastre D. Martinho Mascarenhas, 3.° M. Gouveia O Teresa de Moscoso Osório D. José Mascarenhas da Silva de Lancastre, 8.° D. Aveiro •• António Luis de Tavora, 2.° C. Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora D. Arcângela Maria de Portugal António Luis de Tavora, 2.° M. D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. D. Maria Inácia de Menezes D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes Inácia Rosa de Tavora Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches D. Leonor de Mendoça Leonor Teresa Rosa de Sousa D. António Mascarenhas

D. Mariana de Castro Isabel de Castro D. Martinho Mascarenhas, 6.° M. Gouveia •• Luis Álvares de Tavora, 1.° C. Távora António Luis de Tavora, 2.° C. Marta de Vilhena Francisco de Tavora, 1.° C. Alvor D. Miguel de Noronha, 4.° C. D. Arcângela Maria de Portugal D. Inácia de Menezes e Vasconcelos Bernardo António Filipe Neri de Tavora, 2.° C. António Luis de Tavora, 2.° C. Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora D. Arcângela Maria de Portugal Inês Catarina de Tavora D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. D. Maria Inácia de Menezes D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes Leonor Tomásia de Tavora e Lorena D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval Joana Pimentel D. Joana de Lorena Margarida de Lorena Pág. 24 Retrato puritano Casa dos duques de Cadaval/ marqueses de Ferreira/ condes de Tentúgal

D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval Joana Pimentel D. Jaime Álvares Pereira de Melo, 3.° D. Cadaval

Margarida de Lorena D. Nuno Caetano Álvares Pereira de Melo, 4.° D. Henriqueta de Lorena D. Miguel Caetano Álvares Pereira de Melo, ° D. Cadaval Miguel Carlos de Tavora Manuel Carlos de Tavora, 4.° C. Maria Caetana da Cunha, 2.a C. S. Vicente Miguel Carlos da Cunha Silveira e Tavora, 5.° C. D. Marcos de Noronha, 4.° C. D. Isabel de Noronha Maria Josefa de Tavora Leonor da Cunha • D. Luis Peregrino de Ataíde, 8.° C. D. Jerónimo de Ataíde, 9.° C. to D. Margarida de Vilhena D. Rosa Leonarda de Ataíde António Luis de Tavora, 2.° M. Mariana Teresa de Tavora Leonor Teresa Rosa de Sousa

Pág. 25 Anexo 3 Casa dos duques de Lafões/ marqueses de Arronches/ condes de Miranda do Corvo P

Rei D. Pedro II D. Miguel de Bragança Ana Armanda de Vergé D. João Carlos de Bragança, 2.° D. Lafões Príncipe Carlos José de Ligne Luísa Casimira de Sousa, 6.a C. Miranda Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches D. Leonor de Mendoça Diogo Lopes de Sousa, 4.° C. Miranda D. António Mascarenhas

D. Mariana de Castro Isabel de Castro Mariana Francisca de Sousa Tavares, 2.a M. Arronches D. Francisco Mascarenhas D. João Mascarenhas D. Margarida de Vilhena D. Margarida de Vilhena D. Francisco de Castelo- Branco, 2.° C. D. Beatriz de Menezes, 3.a C. D. Luisa Coutinho

Pág. 26 Retrato puritano Casa dos marqueses de Abrantes e de Fontes/ condes de Penaguião ••

D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval Joana Pimentel D. Rodrigo de Melo Margarida de Lorena D. Maria Margarida de Lorena, 4.a M. Abrantes D. Francisco de Sá de Menezes, 2.° C. Penaguião D. João Rodrigues de Sá e Menezes, 3.° C. Penaguião • ' D. Joana de Castro D. Francisco de Sá e Menezes, 1.° M. Fontes D. Luis de Ataíde, 5.° C. Luisa Maria de Faro D. Filipa de Vilhena D. Rodrigo Anes de Sá Almeida e Menezes, 1.° M. Abrantes • • D. Lourenço de Lancastre D. Rodrigo de Lancastre • Inês de Noronha D. Joana Luisa de Lancastre João da Silva Telo de Menezes, 1.° C. Aveiras Inês Teresa de Noronha Maria de Castro D. Ana Maria Catarina Henriqueta de Lorena, 3.a M. Abrantes • • D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval Joana Pimentel D. Isabel Luísa Vicência de Lorena Henriqueta de Lorena

Pág. 27 Anexo 3 Casa dos marqueses de Abrantes/ condes de Figueiró e Vila Nova de Portimão • • • • •

António Luis de Tavora, 2.° C. Francisco de Tavora, 1.° C. Alvor D. Arcângela Maria de Portugal Bernardo António Filipe Neri de Tavora, 2.° C. Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora Inês Catarina de Tavora D. Maria Inácia de Menezes Manuel Rafael de Tavora D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval Joana Pimentel D. Joana de Lorena Margarida de Lorena D. José Maria de Lancastre e Tavora, 6.° D. Pedro de Lancastre, C. Vila Nova 2.° C. Figueiró • • • D. Luis de Lancastre, 4.° • • C. Vila Nova mom D. Madalena Lancastre D. Pedro de Lancastre, • • 5.° C. Vila Nova ••• D. Estevão de Menezes Madalena de Noronha D. Helena de Noronha D. Isabel de Lancastre e Menezes •••• D. Francisco de Sá e Menezes, 1.° M. Fontes D. Rodrigo Anes de Sá Almeida e Menezes, 1.° M. Abrantes • • D. Joana de Lancastre D. Maria Sofia de Lancastre • • D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval D. Isabel Luísa Vicência de Lorena D. Maria Angélica de Lorena D. Pedro de Lancastre da Silveira de Castelo- D. Rodrigo de Lancastre Branco Sá e Menezes, D. João de Lancastre 5.° M. Abrantes Inês Teresa de Noronha •••••• D. Pedro Baltazar de Almeida de Lancastre •• D. Pedro de Almeida D. Maria Teresa Antónia • de Portugal Luísa Antónia de Portugal D. José de Lancastre Saldanha •••• Luis de Saldanha Aires de Saldanha de • Menezes e Sousa Violantes de Mendonça Inês Josefa de Tavora • •• Juan de Saldanha de Sousa Luisa Inês de Tavora • • omm Inês Antónia de Tavora D. Maria da Conceição de Lancastre ••••• D. Henrique Henriques D. Jorge Henriques Maria Luísa de Menezes

D. António Henriques •• D. António de Almeida, 2.° C. Avintes D. Madalena de Bourbon •• •• D. Maria Antónia de Bourbon D. Leonor Henriques de Faria Pereira •• Josefa Francisca Pág. 28 Retrato puritano Casa dos marqueses de Alegrete/ condes de Vilar Maior P Fernão Teles de Menezes, 1.° C. Vilar Maior Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Mariana de Mendonça Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete D. Nuno Mascarenhas Costa D. Luisa Coutinho D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete D. Marcos de Noronha D. Tomás de Noronha, 3.° C. D. Maria Henriques D. Helena de Noronha D. Luis de Lima Brito e Nogueira, 1.° C. D. Madalena de Brito e Bourbon Vitória de Cardaillac Fernão Teles da Silva, 4.° M. Alegrete D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval Joana Pimentel D. Eugénia Rosa de Lorena Margarida de Lorena Manuel Teles da Silva, 6.° C. Vilar Maior Fernão Teles de Menezes, 1.° C. Vilar Maior Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Mariana de Mendonça João Gomes da Silva D. Nuno Mascarenhas Costa D. Luisa Coutinho D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal Maria Josefa de Menezes D. Duarte Luis de Menezes, 3.° C. Tarouca

D. Estevão de Menezes D. Luisa de Castro D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca

D. Marcos de Noronha D. Tomás de Noronha, 3.° C. D. Maria Henriques D. Helena de Noronha D. Luis de Lima Brito e Nogueira, 1.° C. D. Madalena de Brito e Bourbon Vitória de Cardaillac

Pág. 29 Anexo 3 Casa dos marqueses de Alorna e Castelo Novo/ condes de Assumar • • •

D. Pedro de Almeida, 1.° C. Assumar D. João de Almeida, 2.° C. Assum ar D. Fernando Mascarenhas, 1.° C. Torre D. Margarida André de •• Noronha '• • D. Maria de Noronha D. Pedro José de Almeida, 1.° M. Alorna • • D. Fernando Mascarenhas, 1.° C. Torre D. João Mascarenhas, •• 1.° M. Fronteira • • D. Maria de Noronha D. Isabel de Castro • • • D. Francisco de Sá de Menezes, 2.° C. Penaguião D. Madalena de Castro D. Joana de Castro D. João de Almeida Portugal, 2.° M. Alorna • • • D. Pedro de Lancastre, 2.° C. Figueiró D. Luis de Lancastre, 4.( • • C. Vila Nova ••• D. Madalena Lancastre

D. Maria Josefa da • • Nazaré de Lancastre ••• D. Estevão de Menezes Madalena de Noronha

D. Helena de Noronha

Pág. 30 Retrato puritano Casa dos marqueses, condes e barões do Alvito/ condes de Oriola •••

D. João Lobo, 6.° B. Alvito D. Luis Lobo, 1.° C. O riola D. M adalena de Lancastre D. V a sco Lobo, 2. ° C. Oriola D. Francisco da Gama, 4.° C. Vidigueira D. Eufrásia Maria de • Tavora Leonor Coutinho D. José António Francisco Lobo da Silveira, 1.° M. Alvito ••• Rui Fernandes de Alm ada Cristovão de Almada Madalena de Lancastre Inês Margarida José de Lancastre ••• D. Luís de Alm ada D. Filipa Maria de Melo D. Luísa de M enezes D. Fernando José Lobo da Silreira Quaresma, 2.° M. Alvito ••• D. Vasco Mascarenhas, 1.° C. Ó bidos D. Fernando M artins Mascarenhas, 2.° C. Ó bidos D. João M ascarenhas D. Joana Francisca de Vilhena D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz

D. Teresa de A ssis Mascarenhas D. N uno M ascarenhas C osta D. João M ascarenhas Castelo-Branco da Costa, 2.° C. Palm a D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal D. Beatriz Mascarenhas Castelo-Branco da Costa, 4 .a C. Sabugal, 3.a C. Palm a D. Francisco Mascarenhas D. Joana de C astro D. Margarida de Vilhena D. José António Plácido Lobo da Silreira Quaresma, 3.° M. Alvito • • D. Diogo de M enezes D. José de Menezes de Tavora Maria de Oliveira D. Diogo M enezes de • Tavora Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. A rronches Brites Francisca de M endoça D. M ariana de Castro D. José de Menezes da Silveira de Castro e Tavora Maria Barbara Josefa Breyner D. Maria Bárbara de M enezes Luísa Gonzaga

Pág. 31 Anexo 3 Casa dos marqueses de Angeja/ condes de Vila Verde P

D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja D. Maria de Menezes D. António de Noronha, 2.° M. Angeja Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches Isabel Maria Antónia de Mendonça D. Mariana de Castro D. Pedro José de Noronha Camões, 3.° M. Angeja Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete João Gomes da Silva D. Luisa Coutinho Luisa Josefa de Menezes D. Estevão de Menezes D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca

D. Helena de Noronha D. José Xavier de Noronha Camões Albuquerque Sousa Moniz, 4.° M. Angeja Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete D. Luisa Coutinho Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete D. Tomás de Noronha, 3.° C. D. Helena de Noronha D. Madalena de Brito e Bourbon Maria de Lorena D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval Joana Pimentel D. Eugénia Rosa de Lorena Margarida de Lorena

Pág. 32 Retrato puritano Casa dos marqueses de Cascais/ condes de Monsanto/ Coudeis-mores

D. Álvaro Pires de Castro, 1.° M. Cascais D. Luís Álvares de • Castro, 2.° M. Cascais D. Bárbara Estefânia de Lara D. Manuel José de • Castro Noronha de Sousa Ataíde, 3.° M. Cascais • • D. António Luis de Menezes, 1.° M. Marialva D. Maria Joana Coutinho • D. Catarina Coutinho D. Luís José Leonardo de Castro Noronha Ataíde e Sousa, 4.° M. Cascais • • D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja D. Maria de Menezes D. Luisa de Noronha Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches Isabel Maria Antónia de Mendonça D. Mariana de Castro

Pág. 33 Anexo 3 Casa dos marqueses de Castelo Melhor/ condes da Calheta e Castelo Melhor/ Reposteiros-mores ••

Luis de Sousa Ribeiro de Vasconcelos João Rodrigues de Vasconcelos e Sousa, 2.° C. Castelo Melhor • Maria de Moura e Tavora Luis de Vasconcelos e Sousa, 3.° C. Castelo Melhor Simão Gonçalves da Camara, 3.° C. Calheta Mariana de Lancastre Vasconcelos e Camara Margarida de Menezes Vasconcelos Afonso de Vasconcelos e Sousa Cunha Camara Faro e Veiga, 5.° C. Calheta Bernardim de Távora e Sousa, R.P. Guiom ar de Tavora Sousa Faro e Veiga D. Estevão de Faro, 2.° C. Faro D. Leonor Mascarenhas D. Guiom ar de Castro José de Vasconcelos e Sousa Caminha Camara Faro e Veiga, 1.° M. Castelo Melhor Emília de Rohan António José de Vasconcelos e Sousa Camara Caminha Faro e Veiga, 2.° M. Castelo M elhor D. António de Noronha, 1.° C. V ila Verde D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja D. Maria de Menezes D. António de Noronha, 2.° M. Angeja Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches D. Leonor de Mendoça Isabel Maria Antónia de Mendonça D. António Mascarenhas D. Mariana de Castro Isabel de Castro D. Maria Rosa Quitéria de Noronha Fernão Teles de Menezes, 1.° C. Vilar Maior Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Mariana de Mendonça João Gomes da Silva

D. Nuno Mascarenhas Costa D. Luisa Coutinho D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal Luisa Josefa de Menezes D. Duarte Luis de Menezes, 3.° C. Tarouca

D. Estevão de Menezes D. Luisa de Castro D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca D. Tomás de Noronha, 3.° C. D. Helena de Noronha D. Madalena de Brito e Bourbon Pág. 34 Retrato puritano Casa dos marqueses de Fronteira/ condes da Torre e Coculim • • • •

D. Fernando M asca re nh as, 1.° C. Torre D. João Mascarenhas, 1.° M. Fronteira D. M aria d e Noronha D. Fernando Mascarenhas, 2.° M. Fronteira D. F ra ncisco d e S á de M en eze s, 2.° C. Penaguião D. M adalen a d e C astro D. Joana d e C astro D. João Mascarenhas, • 3.° M. Fronteira D. Luis de A taíd e, 5 .° C. A tou gu ia D. Jerónim o de A taíde, 6.° C. A tou gu ia D. Filipa d e V ilhe na D. Joana Leonor d e Toledo e Menezes D. Fernando de M en eze s D. Leonor M aria de M enezes D. Joana d e Toledo d a C am ara D. José Luis Mascarenhas, 5.° M. Fronteira D. F ra ncisco Luis de Lancastre D. P e d ro d e Lancastre, 2.° C. Figueiró Filipa de Mendonça D. Luis de Lancastre, 4.° C. V ila Nova ••• D. Luis da Silveira, 3.° C. •• D. M adalen a de Lancastre • • D. M aria de V ilhe na D. Helena Josefe N azaré de Lancastre D. D uarte Luis de Menezes, 3.° C. Tarouca D. Estevão de Menezes D. Luisa d e C astro M adalen a T eresa d e Noronha D. Tom ás d e Noronha, 3.° C. D. Helena d e Noronha D. M adalen a d e Brito e Bourbon D. João José Luis Mascarenhas Barreto, 6.° M. Fronteira João Rodrigues de Vasconcelos e Sousa, 2.° C. Luis de Vasconcelos e So usa , 3 .° C. •• Mariana de Lancastre Vasconcelos e Camara Afonso de Vasconcelos e Sousa Cunha Camara Faro e V eiga, 5 .° C. •• Bernardim de Tavora e S o usa G u io m ar d e Tavora S o u sa Faro e V e iga D. Leonor M asca re nh as José de Vasconcelos e Sousa Caminha Camara Faro e V eiga, 1.° M. •• Emilie Sophronie Pelagie d e Rohan Mariana Josefa de Vasconcelos e Sousa •• D. A n tó n io d e Noronha, 1.° C. V ila Ve rd e D. P edro A n tó n io de Noronha, 1.° M. Angeja D. M aria d e M en eze s D. A n tó n io d e Noronha, 2.° M. Angeja H enrique d e S ousa Tavares da Silva, 1.° M. A rronches Isabel M aria A n tó n ia de M endonça D. M ariana d e C astro D. M aria R osa Q uitéria d e Noronha Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete João G o m e s d a Silva D. Luisa C outinho Luisa Josefa de M en eze s D. Estevão d e M en eze s D. Joana R osa de Menezes, 4.a C. Tarouca D. Helena d e Noronha

Pág. 35 Anexo 3 Casa dos marqueses de Lavradio/ condes de Avintes • • • •

D. Luís de Almeida, 1.° C. Avintes D. António de Almeida, •• 2.° C. Avintes •• D. Isabel de Castro D. Luís de Almeida Portugal, 3.° C. Avintes D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Maria Antónia de Bourbon D. Madalena de Brito e Bourbon D. António de Almeida Soares Portugal, 1.° M. Lavradio D. Diogo de Lima Brito e Nogueira, 7.° V. D. João Fernandes de Lima Vasconcelos de Brito e Nogueira, 10.° V.

D. Joana de Vasconcelos D. Joana Josefa Antónia de Lima D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Vitória de Bourbon D. Madalena de Brito e Bourbon D. Luís de Almeida Soares Portugal, 2.° M. Lavradio •• • D. Martinho Mascarenhas, 4.° C. Santa Cruz D. João Mascarenhas, 5.° C. Santa Cruz Juliana de Lancastre D. Martinho Mascarenhas, 3.° M. Gouveia Teresa de Moscoso Osório D. Francisca das Chagas Mascarenhas Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora António Luis de Tavora, 2.° M. de Tavora D. Maria Inácia de Menezes Inácia Rosa de Tavora Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Leonor Teresa Rosa de Sousa D. Mariana de Castro D. António Máximo de Almeida Portugal, 3.° M. ••O» António Luis de Tavora, 2.° C. Miguel Carlos de Tavora D. Arcângela Maria de Portugal Manuel Carlos de Tavora, 4.° C. S. Vicente

João Nunes da Cunha, 1.° C. S. Vicente Maria Caetana da Cunha, 2.a C. S. Vicente V

D. Isabel de Bourbon Miguel Carlos da Cunha Silveira e Tavora, 5.° C. S. Vicente D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Marcos de Noronha, 4.° C. D. Madalena de Brito e Bourbon D. Isabel de Noronha Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora Maria Josefa de Tavora D. Maria Inácia de Menezes Maria Ana Teresa Rita da Cunha D. Jerónimo de Ataíde, 6.° C. D. Luis Peregrino de Ataíde, 8.° C. D. Leonor Maria de Menezes D. Jerónimo de Ataíde, 9.° C. D. João Mascarenhas D. Margarida de Vilhena D. Beatriz de Menezes, 3.a C. D. Rosa Leonarda de Ataíde Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora António Luis de Tavora, 2.° M. D. Maria Inácia de Menezes Mariana Teresa de Tavora Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches Leonor Teresa Rosa de Sousa D. Mariana de Castro Pág. 36 Retrato puritano Casa dos marqueses de Loulé/ condes de Vale de Reis •••

Nuno de Mendoça, 2.° C. Vale de Reis Lourenço de Mendoça e Moura, 3.° C. Vale de Reis Luisa de Castro e Moura Nuno Manuel de Mendoça, 4.° C. Vale de

Manuel de Sousa da Silva e Menezes Maria Madalena de • Mendonça Joana Francisca de Mendonça Lourenço Filipe Nery de Mendoça e Moura, 5.° C. Vale de Reis D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja D. Maria de Menezes D. Leonor de Maria Antónia de Noronha Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches Isabel Mana Antónia de Mendonça D. Mariana de Castro Nuno José de Mendoça e Moura, 6.° C. Vale de Reis D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja D. Maria de Menezes D. António de Noronha, 2.° M. Angeja Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches Isabel Maria Antónia de Mendonça D. Mariana de Castro D. Joana Francisca de Noronha Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete João Gomes da Silva D. Luisa Coutinho Luisa Josefa d Menezes D. Estevão de Menezes D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca

D. Helena de Noronha Agostinho Domingos José de Mendoça Rolim de Moura Baireto, 1.° M. Loulé D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja D. Maria de Menezes D. Diogo de Noronha Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches Isabel Maria Antónia de Mendonça D. Mariana de Castro D. Pedro José de Alcântara de Menezes Noronha Coutinho, 4.° M. Marialva D. António Luis de Menezes, 1.° M. Marialva D. Pedro António de • Menezes, 2.° M. Marialva D. Catarina Coutinho D. Joaquina Maria Madalena da Conceição de Menezes, 3.a M. Marialva D. Rodrigo de Menezes D. Catarina Coutinho D. Guiomar de Menezes D. Ana José Mónica de • Menezes e Noronha D. Vasco Mascarenhas, 1.° C. Óbidos D. Fernando Martins Mascarenhas, 2.° C. Óbidos D. Joana Francisca de Vilhena D. Manuel Mascarenhas, 3.° C.Óbidos D. João Mascarenhas Castelo-Branco da Costa, 2.° C. Palma D. Beatriz Mascarenhas Castelo-Branco da Costa, 4.a C. Sabugal, 3.a C. Palma D. Joana de Castro D. Eugénia de Assis Mascarenhas Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete D. Helena de Noronha Helena Josefa de Lorena D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval D. Eugénia Rosa de Lorena Margarida de Lorena

Pág. 37 Anexo 3 Casa dos marqueses de Louriçal/ condes da Ericeira ••••

D. Henrique de Menezes D. Luis de Menezes D. Margarida de Lima D. Francisco Xaver de • Menezes, 4.° C. Ericeira D. Fernando de Menezes, 2.° C. Ericeira D. Joana Josefa de •• Menezes, 3.a C. Ericeira Leonor Filipa de Noronha D. Luis Carlos Inácio •• Xaver de Menezes, 1.° M. Louriçal D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. D. Luis da Silveira, 2.° C. D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes D. Joana Madalena de Noronha João Gomes da Silva Mariana da Silva e Lancastre D. Joana de Tavora D. Henrique de Menezes e Toledo, 3.° M. Louriçal Rodrigo da Camara, 3.° C. D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. D. Maria Coutinho D. José Rodrigo da Camara, 2.° C. Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Mécia de Mendoça D. Leonor de Mendoça D. Ana Xavier de Rohan Constança Emília, princesa de Rohan- Soubise D. Luis Eusébio Maria de Menezes Silveira, 4. M. Louriçal ONN Manuel da Cunha Tristão António da Cunha Francisca Joana de Albuquerque Manuel Inácio da Cunha e Menezes Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora Leonor Tomásia de Tavora D. Maria Inácia de Menezes D. José Félix da Cunha e Menezes D. Diogo de Menezes D. José de Menezes de Tavora Maria de Oliveira D. Teresa Josefa de Menezes Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Brites Francisca de Mendoça D. Mariana de Castro D. Maria da Glória da Cunha e Menezes D. Luis de Menezes D. Francisco Xavier de Menezes, 4.° C. Ericeira D. Joana Josefa de Menezes, 3.a C. Ericeira D. Luis Carlos Inácio Xavier de Menezes, 1.° M. Louriçal D. Luis da Silveira, 2.° C. D. Joana Madalena de Noronha Mariana da Silva e Lancastre D. Constança Xavier de Menezes D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. D. José Rodrigo da • Camara, 2.° C. Mécia de Mendoça D. Ana Xavier de Rohan Constança Emília, princesa de Rohan- Soubise Pág. 38 Retrato puritano Casa dos marqueses de Marialva/ condes da Cantanhede

D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde D. Pe dro A n tó n io de Noronha, 1.° M. Angeja D. M a ria d e M en e ze s D. Diogo de N oronha Diogo Lopes de Sousa, 2 .° C. M ira nd a Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. A rron che s D. Leon or de M en do ça Isabel Maria Antónia de M en do nça D. A n tó n io M asca re n h a s

D. M arian a de C astro Isabel de Castro D. Pe dro J o s é de Alcântara de Menezes Noronha Coutinho, 4.° M. Marialva D. P e dro de M en eze s, 2 .° C. C an tan he de D. A n tó n io Lu is de Menezes, 1.° M. M arialva D. C o n sta n ça de G u sm ã o D. Pe dro A n tó n io de Menezes, 2.° M. M arialva D. M anuel C ou tinh o D. C ata rin a C o u tinh o D. M a ria d e Faro D. Joa qu ina M aria Madalena da Conceição de M e n e ze s, 3.a M . M arialva • D. P e dro de M en eze s, 2 .° C. C an tan he de D. Rodrigo de Menezes • D. C o n sta n ça de G u sm ã o D. C ata rin a C o u tinh o D. A n tó n io Luis de Menezes, 1.° M. M arialva D. Guiomar de Menezes • D. C ata rin a C ou tinh o D. Diogo José Vito de Menezes Noronha Coutinho, 5.° M. D. F e rn ã o M a rtin s Mascarenhas D. V a s c o M a sca re n h a s, 1.° C. D. M a ria d e L a nca stre D. F erna nd o M artins Mascarenhas, 2.° C. D. Joã o M asca re n h a s D. Joa n a F ra n c is c a de V ilh e n a D. Be atriz M a sca re nh as, 3.a C. D. M anuel M asca re nh as, 3.° C. D. N uno M asca re n h a s C osta D. Joã o M asca re n h a s Castelo-Branco da Costa, 2.° C. Palma D. Be atriz de M e n eze s, 3.a C. D. Be atriz M asca re n h a s Castelo-Branco da Costa, 3.a C. Palma e 4.a C. Sabugal D. F ra n c is c o Mascarenhas D. Joa n a de C astro D. M arga rid a de V ilh e n a D. E u g é n ia de A s s is Mascarenhas Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete D. L u isa C ou tinh o Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete D. T om ás de N oronha, 3.° C. D. H ele na d e N oronha D. M a d alen a d e B rito e Bourbon Helena Josefa de Lorena D. F ra n c is c o de M elo, 3.° M. Ferreira D. N uno Á lva re s Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval Joana Pimentel D. E u g é n ia R o s a de Lorena Margarida de Lorena

Pág. 39 Anexo 3 Casa dos marqueses de Minas/ condes do Prado •••••

D. M a rc o s de N oronha D. Tomás de Noronha, 3 .° C. D. M a ria H en riq ue s D. Marcos de Noronha, 4 .° C. D. Luis de Lima Brito e N ogue ira , 1.° C. D. Madalena de Brito e B ourbon Victoire de Cardaillac D. A fo n s o de N oronha António Luis de Tavora, 2 .° C. Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora D. Arcângela Maria de P ortugal Maria Josefa de Tavora D. R o d rig o Lobo da Silveira, 1.° C. D. M a ria In á c ia de M e n e ze s D. M a ria A n tó n ia de Vasconcelos e Menezes D. Lourenço José das Brotas de Lancastre e N oronha D. Rodrigo de Lancastre D. Lo ure nço de La n ca stre Inês Teresa de Noronha D. Rodrigo de Lancastre •• D. A n tó n io Luis de Menezes, 1.° M. M arialva D. Isabel d e M en e ze s • D. C a ta rin a C o u tinh o D. G u io m a r M aria Francisca de Lancastre •• D. Rodrigo de Menezes D. Rodrigo de Menezes D. C o n s ta n ç a de G u sm ã o D. Vicência de Menezes

D. A n tó n io Luis de Menezes, 1.° M. M arialva D. Guiomar de Menezes • D. C a ta rin a C o u tinh o D. João F ra n c is c o Benedito de Sousa e Lancastre, 7.° M. Minas D. A n tó n io Luis de Sousa, 2.° M. Minas D. João de Sousa, 3.° M . M in a s D. Maria Madalena de N oronha D. António Caetano Luis •• de Sousa, 4.° M. Minas

Francisca Madalena de N eufville D. Joã o de S o u s a D. Tomás de Noronha, 3 .° C. D. Marcos de Noronha, 4 .° C. D. Madalena de Brito e Bourbon D. L u isa d e N oronha Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora Maria Josefa de Tavora D. M a ria In ácia de M en e ze s D. M a ria F ra n c is c a Antónia da Piedade de Sousa, 5.a M. Minas Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete D. H e le n a d e N oronha Fernão Teles da Silva, 4.° M. Alegrete D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval D. E u g é n ia R o s a de Lorena Margarida de Lorena Joana de Menezes Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete João Gomes da Silva D. L u isa C o u tinh o Maria Josefa de M e n e ze s D. Estevão de Menezes D. Joa na R o s a de Menezes, 4.a C. Tarouca

D. H e le n a d e N oronha Pág. 40 Retrato puritano Casa dos marqueses de Niza/ condes da Vidigueira ••••

Fernão Teles de Menezes, 1.° C. Vilar M aior Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Mariana de Mendonça Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete D. Nuno Mascarenhas C osta D. Luisa Coutinho D. Beatriz de Menezes, 3. a C. Sabugal Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete D. Marcos de Noronha D. Tomás de Noronha, 3.° C. D. M aria Henriques D. Helena de Noronha D. Luis de Lima Brito e Nogueira, 1.° C. D. Madalena de Brito e Bourbon Vitória de Cardaillac Nuno da Silva Teles

D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. C a d a ^ l Joana Pimentel D. Eugénia Rosa de Lorena Margarida de Lorena D. V a sco José da Gam a, 5.° M. Niza D. Francisco da Gama, 4.° C. Vidigueira D. Vasco Luis da Gama, 1.° M. Niza Leonor Coutinho D. Francisco Luís Baltazar da Gama, 2.° M. Niza Simão Gonçal^s da Camara, 3.° C. Inês de Noronha • Margarida de Menezes Vasconcelos D. Vasco José Luís da Gam a, 3.° M. Niza D. Fernão Martins Mascarenhas D. Vasco Mascarenhas, 1.° C. Ó bidos D. Maria de Lancastre D. Brites de Vilhena D. João Mascarenhas D. Joana Francisca de Vilhena D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz

D. Maria Josefa da Gam a, 4.a M. Niza D. Álvaro Pires de Castro, 1.° M. Cascais D. Luís Álvares de •• Castro, 2.° M. Cascais •• D. Bárbara Estefânia de Lara D. Bárbara Isabel de Lara D. António Luis de Menezes, 1.° M. Marialva D. Maria Joana Coutinho • D. Catarina Coutinho

Pág. 41 Anexo 3 Casa dos marqueses de Niza/ condes da Vidigueira e Unhão • • • • • •

Rodrigo Teles de Menezes, 2.° C. Unhão Fernão Teles de ••• Menezes e Castro, 3.° C. Unhão D. Joana Luisa de Lancastre Rodrigo Xaver Teles de Menezes Castro e Silveira, 4.° C. Unhão D. Martinho Mascarenhas, 4.° C. Santa Cruz D. Maria de Lancastre Juliana de Lancastre João Xaver Fernão Teles de Menezes, 5.° C. Unhão António Luis de Tavora, 2.° C. Miguel Carlos de Tavora D. Arcângela Maria de Portugal Vitória de Távora João Nunes da Cunha, 1.° C. Maria Caetana da Cunha, 2.a C. S. Vicente

D. Isabel de Bourbon D. Rodrigo Xaver Teles de Castro da Gama, 6.° M. Niza D. Vasco Luis da Gama, 1.° M. Niza D. Francisco Luís Baltazar da Gama, 2.° M. Niza Inês de Noronha D. Vasco José Luís d Gama, 3.° M. Niza D. Vasco Mascarenhas, 1.° C. D. Brites de Vilhena D. Joana Francisca de Vilhena D. Maria Josefa da Gama, 4.a M. Niza D. Álvaro Pires de Castro, 1.° M. Cascais D. Luís Álvares de Castro, 2.° M. Cascais •O D. Bárbara Estefânia de Lara D. Bárbara Isabel de Lara D. António Luis de Menezes, 1.° M. Marialva D. Maria Joana Coutinho • D. Catarina Coutinho D. Eugénia Maria Teles de Castro da Gama, 7.a M. Niza • ••••• Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete D. Luisa Coutinho D. Tomás Teles da Silva D. Tomás de Noronha, 3.° C. D. Helena de Noronha D. Madalena de Brito e Bourbon D. Tomás Xavier de Lima Nogueira Teles da Silva, 1.° M. D. João Fernandes de Lima Vasconcelos de Brito e Nogueira, 10.° V.

D. Tomás de Lima Vasconcelos e Menezes de Brito Nogueira, 11.° V. D. Vitória de Bourbon D. Maria Xavier de Lima e Hohenlohe, 12.a V. Maria A na Teresa de Hohenloe D. Maria Ana Josefa Xaver de Lima Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete D. Helena de Noronha Fernão Teles da Silva, 4.° M. Alegrete D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval D. Eugénia Rosa de Lorena Margarida de Lorena Eugénia Maria Josefa de Bragança Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete João Gomes da Silva D. Luisa Coutinho Maria Josefa de Menezes D. Estevão de Menezes D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca

D. Helena de Noronha Pág. 42 Retrato puritano Casa dos marqueses de Penalva/ condes de Tarouca

Fernão Teles de Menezes, 1.° C. Vilar Maior Manuel Teles da Silva, 1 .° M. A legrete Mariana de Mendonça Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete D. N uno M ascarenhas C osta D. Luisa C outinho D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete D. M arcos de Noronha D. Tomás de Noronha, 3.° C. D. Maria Henriques D. Helena de Noronha D. Luis de Lima Brito e Nogueira, 1 .° C. D. Madalena de Brito e Bourbon Vitória de Cardaillac Manuel Teles da Silva, 6.° C. Vilar Maior D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1 .° D. Cadaval Joana Pimentel D. E ugénia Rosa de Lorena Margarida de Lorena Fernando Teles da Silva, 3.° M. Penalva Fernão Teles de Menezes, 1.° C. Vilar Maior Manuel Teles da Silva, 1 .° M. A legrete Mariana de Mendonça João Gomes da Silva D. N uno M ascarenhas Costa D. Luisa C outinho D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal Estevão de Menezes, 1° M. Penalva D. Duarte Luis de Menezes, 3.° C. Tarouca D. Estevão de Menezes D. Luisa de Castro D. Joana Rosa de M enezes, 4.a C. Tarouca

D. Tomás de Noronha, 3.° C. D. Helena de Noronha D. Madalena de Brito e Bourbon Eugénia de Menezes da Silva, 2.a M. Penalva Manuel Teles da Silva, 1.° M. A legrete Fernando Teles da Silva, 2.° M. A legrete D. Luisa Coutinho Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete D. Tomás de Noronha, 3.° C. D. Helena de Noronha D. Madalena de Brito e Bourbon Margarida Ana Armanda de Lorena D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval Joana Pimentel D. Eugénia Rosa de Lorena Margarida de Lorena

Pág. 43 Anexo 3 Casa dos marqueses de Pombal/ condes de Oeiras ••

Sebastião de Carvalho Sebastião de Carvalho • Maria de Braga e Figueiredo Sebastião de Carvalho e Melo Gaspar Leitão Coelho Luisa de Melo Joana de Mesquita Manuel de Carvalho e • Ataíde Gaspar da Costa Gonçalo da Costa Coutinho Leonor de Vilhena Leonor Maria de Ataíde D. João de Ataíde D. Isabel de Ataíde Catarina de Sá e Sousa Sebastião José de Carvalho e Melo, 1.° M. Pombal António José de Almada e Melo João de Almada e Melo Úrsula de Vasconcelos Teresa Luisa de Mendonça e Melo Francisco de Mendonça Furtado Maior Luisa de Mendonça D. Maria de Melo Henrique José de Carvalho e Melo, 2.° M. Pombal •• Leonor Ernestina de Daun

Pág. 44 Retrato puritano Casa dos marqueses de Ponte de Lima/ viscondes de Vila Nova de Cerveira P

Fernão Teles de Menezes, 1.° C. Vilar Maior Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Mariana de Mendonça Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete D. Nuno Mascarenhas Costa D. Luisa Coutinho D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal D. Tomás Teles da Silva D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Helena de Noronha D. Madalena de Brito e Bourbon D. Tomás Xavier de Lima Nogueira Teles da Silva, 1.° M. Ponte de Lima

D. Lourenço de Lima Brito Nogueira, 6.° V. Vila Nova de Cerveira D. Diogo de Lima Brito e Nogueira, 7.° V. Vila Nova de Cerveira Luísa de Tavora D. João Fernandes de Lima Vasconcelos de Brito e Nogueira, 10.° V. Vila Nova de Cerveira D. João Luis de Vasconcelos e Menezes D. Joana de Vasconcelos Maria Cabral de Noronha D. Tomás de Lima Vasconcelos e Menezes de Brito Nogueira, 11.° V. Vila Nova de Cerveira

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Vitória de Bourbon D. Madalena de Brito e Bourbon D. Maria Xavier de Lima e Hohenlohe, 12.a V. Vila Nova de Cerveira Maria Ana Teresa de Hohenlohe

Pág. 45 Anexo 3 Casa dos marqueses de Tancos/ condes da Atalaia ••

D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 2.° C. Vila Franca D. Rodrigo da Camara, 3.° C. Vila Franca Leonor Enriquez de Villena D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande • D. Francisco da Gama, 4.° C. Vidigueira D. Maria Coutinho • Leonor Coutinho D. José Rodrigo da Camara, 2.° C. Ribeira Grande Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Mécia de Mendoça D. Leonor de Mendoça D. Duarte Rodrigo da Camara Constança Emília, Princesa de Rohan- Soubise D. Domingas Manoel de Noronha, 3.a M. Tancos •• D. Pedro Manoel, 2.° C. Atalaia D. Álvaro Manoel •• •• D. Maria de Ataíde D. Luis Manoel de • Tavora, 4.° C. Atalaia •• Álvaro Pires de Tavora Inês de Lima e Tavora D. Maria de Lima D. João Manuel de Noronha, 1.° M. Tancos •• D. Rodrigo da Camara, 3.° C. Vila Franca D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande • D. Maria Coutinho D. Francisca Leonor de • Mendonça Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Mécia de Mendoça D. Leonor de Mendoça D. Constança Manoel, 2.a M. Tancos •• D. Rodrigo da Camara, 3.° C. Vila Franca D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande • D. Maria Coutinho D. José Rodrigo da Camara, 2.° C. Ribeira Grande • Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Mécia de Mendoça D. Leonor de Mendoça D. Mécia de Rohan Constança Emília, Princesa de Rohan- Soubise

Pág. 46 Retrato puritano Casa dos marqueses de Távora/ condes da S. João da Pesqueira

Luis Álvares de Tavora, 1.° C. São João da Pesqueira António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira Marta de Vilhena Francisco de Tavora, 1 ° C. Alvor D. Miguel de Noronha, 4.° C. Linhares D. Arcângela Maria de Portugal D. Inácia de Menezes e Vasconcelos Bernardo António Filipe Neri de Tavora, 2.° C. de Alvor António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora D. Arcângela Maria de Portugal Inês Catarina de Tavora ' D. Rodrigo Lobo da S il^ ira , 1.° C. Sarzedas D. Maria Inácia de Menezes D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes Francisco de Assis de Tavora, 3.° C. Alvor D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. C a d a ^ l Joana Pimentel D. Joana de Lorena Margarida de Lorena Luis Bernardo de Tavora, 4.° M. Tavora António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora D. Arcângela Maria de Portugal António Luis de Tavora, 2.° M. de Tavora D. Rodrigo Lobo da S il^ ira , 1.° C. Sarzedas D. Maria Inácia de Menezes D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes Luis Bernardo Álvares de Tavora, 5.° C. S. João da Pesqueira Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches D. Leonor de Mendoça Leonor Teresa Rosa de Sousa D. António Mascarenhas

D. Mariana de Castro Isabel de Castro Leonor Tomásia de Lorena e Tavora, 3.a M. D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. C a d a ^ l Joana Pimentel D. A n a de Lorena Margarida de Lorena

Pág. 47 Anexo 3 Casa dos marqueses de Valença/ condes de Vimioso P

D. Luis de Portugal, 4.° C. Vim ioso D. Afonso de Portugal, 1.° M. Aguiar D. Joana de Castro Mendonça D. Miguel de Portugal, 7.° C. Vim ioso D. Cristovão de Moura, 1.° M. Castelo Rodrigo D. Maria de Mendonça Margarida Côrte-Real D. Francisco de Paula de Portugal e Castro, 2.° M. Valença Agostinho Pestana Antónia de Bulhões Antónia Ferreira D. José Miguel João de Portugal e Castro, 3.° M. Valença Fernão Teles de Menezes, 1.° C. Vilar Maior Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Mariana de Mendonça Francisca Rosa de Menezes Coutinho D. Nuno Mascarenhas Costa D. Luisa Coutinho D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal D. Afonso Miguel de Portugal e Castro, 4.° M. Valença Fernão Teles de Menezes, 1.° C. Vilar Maior Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Mariana de Mendonça Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete D. Nuno Mascarenhas Costa D. Luisa Coutinho D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete D. Marcos de Noronha D. Tomás de Noronha, 3.° C. D. Maria Henriques D. Helena de Noronha D. Luis de Lima Brito e Nogueira, 1.° C. D. Madalena de Brito e Bourbon Vitória de Cardaillac Luisa de Lorena D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval Joana Pimentel D. Eugénia Rosa de Lorena Margarida de Lorena Pág. 48 Retrato puritano Casa dos condes de Almada/ Mestres-salas da Casa Real

D. Luis de Almada D. Lourenço de Almada, 1.° Mestre-sala D. Luisa de Menezes D. Luis José de Almada, • 2.° Mestre-sala D. João de Almeida D. Catarina Henriques D. Violante Henriques D. Antão de Almada, 4.° M.S. D. João de Almeida D. Luis de Almeida D. Violante Henriques D. Violante de Portugal Dinis de Melo e Castro, 1.° C. Galveias Maria Josefa de Melo • Côrte-Real Ângela Maria da Silveira D. Lourenço José Boaventura de Almada, 1.° C. Almada • • • D. Luis de Almada D. Lourenço de Almada, 1.° Mestre-sala D. Luisa de Menezes D. Luis José de Almada, • 2.° Mestre-sala D. João de Almeida D. Catarina Henriques D. Violante Henriques D. Lourenço de Almada, 3.° Mestre-sala Manuel da Cunha Tristão António da Cunha Francisca Joana de Albuquerque Francisca Josefa de Tavora Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora Leonor Tomásia de Tavora D. Maria Inácia de Menezes D. Violante Josefa de • Almada Henriques António de Mendonça Furtado Tristão de Mendoça e Albuquerque Filipa de Tavora Lourenço (ou Luis) de Mendonça Furtado e Albuquerque • D. Lourenço de Almada, 1.° Mestre-sala D. Violante de Almada • Henriques D. Catarina Henriques Maria da Penha de França de Mendonça D. Inês Joana de Vilhena

Pág. 49 Anexo 3 Casa dos condes de Alva

Fernão de Sousa Tomé de Sousa D. Maria de Castro D. Fernão de Sousa de Castelo-Branco, 10.° C. Redondo D. João de Castelo- Branco D. Francisca de Menezes D. Cecília de Menezes Coutinho D. Rodrigo de Sousa Coutinho Castelo-Branco e Menezes D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. Sarzedas D. Luisa Simoa de • Portugal D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes D. Vicente Roque de Sousa Coutinho de Menezes Monteiro Paim Martim Fernandes Monteiro Pedro Fernandes Monteiro Isabel Vaz Roque Monteiro Paim Roque Álvares Constança Paim Leonor Rodrigues Paim Maria Antónia de São Boaventura Menezes Monteiro Paim irmã da m ulher do 1.° C. Pantaleão de Sá e Melo Alva, D. João de Ataíde e Sousa, s.g. Lourenço de Melo da Silva de Mesquita Joana de Lima Joana Francisca de Menezes Miguel Brandão da Silva Bernarda Micaela da Silva Isabel de Madureira D. Luís de Sousa Coutinho, 3.° C. Alva Luisa Isabel de Canilliac

Pág. 50 Retrato puritano Casa dos condes de Alvor

Luis Álvares de Tavora, 1.° C. São João da Pesqueira António Luis de Tavora 2.° C. São João da Pesqueira Marta de Vilhena Francisco de Tavora, 1 ° C. Alvor D. Miguel de Noronha, 4.° C. Linhares D. Arcângela Maria de Portugal D. Inácia de Menezes e Vasconcelos Bernardo António Filipe Neri de Tavora, 2.° C. de Alvor António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora D. Arcângela Maria de Portugal Inês Catarina de Tavora D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. Sarzedas D. Maria Inácia de Menezes D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes Francisco de A ssis de Tavora, 3.° C. Alvor D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval Joana Pimentel D. Joana de Lorena Margarida de Lorena

Pág. 51 Anexo 3 Casa dos condes dos Arcos • • • • •

D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja D. Maria de Menezes D. Diogo de Noronha Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches Isabel Mana Antónia de Mendonça D. Mariana de Castro D. Pedro José de Alcântara de Menezes Noronha Coutinho, 4.° M. Marialva D. António Luis de Menezes, 1.° M. Marialva D. Pedro António de • Menezes, 2.° M. Marialva D. Catarina Coutinho D. Joaquina Maria Madalena da Conceição de Menezes, 3.a M. Marialva D. Rodrigo de Menezes D. Catarina Coutinho D. Guiomar de Menezes D. Manuel José de Noronha e Menezes D. Vasco Mascarenhas, 1.° C. D. Fernando Martins Mascarenhas, 2.° C. D. Joana Francisca de Vilhena D. Manuel Mascarenhas, 3.° C. D. João Mascarenhas Castelo-Branco da Costa, 2.° C. Palma D. Beatriz Mascarenhas Castelo-Branco da Costa, 3.a C. Palma e 4.a C. Sabugal D. Joana de Castro D. Eugénia de Assis Mascarenhas Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete D. Helena de Noronha Helena Josefa de Lorena

D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval D. Eugénia Rosa de Lorena Margarida de Lorena D. Marcos de Noronha e Brito, 8.° C. Arcos — • • • • • D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Marcos de Noronha, 4.° C. Arcos D. Madalena de Brito e Bourbon D. Tomás de Noronha, 5.° C. Arcos Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora Maria Josefa de Tavora D. Maria Inácia de Menezes D. Marcos José de Noronha e Brito, 6.° C. Arcos D. Pedro de Almeida, 1.° C. Assumar D. João de Almeida, 2.° C. Assumar • • D. Margarida André de Noronha D. Madalena Bruna de Castro • • D. João Mascarenhas, 1.° M. Fronteira D. Isabel de Castro • • •C« D. Madalena de Castro D. Juliana Xaver de Lancastre, 7.a C. Arcos Francisco Nuno Álvares Botelho, 1.° C. S. Miguel Álvaro José Botelho de Tavora, 2.° C. S. Miguel Cecília de Tavora Tomás José Botelho de Tavora, 3.° C. São Miguel D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Antónia Luisa de Bourbon D. Madalena de Brito e Bourbon Maria Xavier de Lancastre Rodrigo Teles de Menezes, 2.° C. Unhão Fernão Teles de Menezes e Castro, 3.° C. Unhão D. Joana Luisa de Lancastre Juliana Xavier de Lancastre D. Martinho Mascarenhas, 4.° C. Santa C r^ D. Maria de Lancastre Juliana de Lancastre Pág. 52 Retrato puritano Casa dos condes de Atouguia

D. Luis de Ataíde, 5.° C. Atouguia D. Jerónimo de Ataíde, 6.° C. Atouguia D. Filipa de Vilhena D. Luis Peregrino de Ataíde, 8.° C. Atouguia • ~ D. Fernando de Menezes D. Leonor Maria de Menezes D. Joana de Toledo da Camara D. Jerónimo de Ataíde, 9.° C. Atouguia D. Francisco Mascarenhas D. João Mascarenhas D. Margarida de Vilhena D. Margarida de Vilhena D. Francisco de Castelo- Branco, 2.° C. Sabugal D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal D. Luisa Coutinho D. Luis Pedro Peregrino de Carvalho e Menezes de Ataíde, 10.° C. Atouguia António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora D. Arcângela Maria de Portugal António Luis de Tavora, 2.° M. de Tavora D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. Sarzedas D. Maria Inácia de Menezes D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes

Mariana Teresa de Tavora Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. D. Leonor de Mendoça Leonor Teresa Rosa de Sousa D. António Mascarenhas

D. Mariana de Castro

Isabel de Castro D. Jerónimo de Carvalho e Menezes de Ataíde, 11.° C. Atouguia • D. Vasco Mascarenhas, 1.° C. Óbidos D. Fernando Martins Mascarenhas, 2.° C. Óbidos D. João Mascarenhas D. Joana Francisca de Vilhena D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz D. Clara de Assis Mascarenhas D. João Mascarenhas D. Nuno Mascarenhas D. Maria da Costa D. João Mascarenhas Castelo-Branco da Costa, 2.° C. Palma D. Francisco de Castelo- Branco, 2.° C. Sabugal D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal D. Luisa Coutinho D. Beatriz Mascarenhas Castelo-Branco da Costa, 4.a C. Sabugal D. Nuno Mascarenhas D. Francisco Mascarenhas Isabel de Castro D. Joana de Castro D. João Mascarenhas D. Margarida de Vilhena D. Maria da Costa

Pág. 53 Anexo 3 Casa dos condes de Aveiras ••

D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 2.° C. Vila Franca D. Rodrigo da Camara, 3.° C. Vila Franca Leonor Enriquez de Villena D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande • D. Francisco da Gama, 4.° C. Vidigueira D. Maria Coutinho • Leonor Coutinho D. José Rodrigo da Camara, 2.° C. Ribeira Grande • Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Mécia de Mendonça D. Leonor de Mendoça D. Duarte Rodrigo da Camara Constança Emília, princesa de Rohan- Soubise D. Francisco da Silva Telo e Menezes, 6.° C. Aveiras • • » João da Silva Telo de Menezes, 1.° C. Aveiras Luis da Silva Telo de Menezes, 2.° C. Aveiras Maria de Castro João da Silva Telo de Menezes, 3.° C. Aveiras D. Álvaro Pires de Castro, 1.° M. Cascais D. Joana Inês de • Portugal •• D. Maria de Portugal Luis da Silva Telo e Menezes, 4.° C. Aveiras •• D. João da Costa, 1.° C. de Soure D. Juliana de Noronha

D. Francisca de Noronha Inês Joaquina da Silva, 5.a C. Aveiras • • Francisco de Tavora, 1 ° C. Alvor Maria Inácia de Tavora Inês Catarina de Tavora

Pág. 54 Retrato puritano Casa dos condes da Bobadela • • • • • •

Bernardim Freire de Andrade Manuel Freire de Andrade Luisa de Faria Bernardim Freire de Andrade Joana de Brito José António Freire de Andrade, 2.° C. Bobadela to Henrique Pereira de Berredo Ambrósio Pereira de Berredo D. Maria de Menezes Joana Vicência de Menezes Dinis de Melo e Castro, 1.° C. Galveias Maria Lobo da Silveira Ângela Maria da Silveira Gomes Freire de Andrade, 3.° C. Bobadela —t • • D. Luís de Almeida, 1.° C. Avintes D. António de Almeida, 2.° C. Avintes •• D. Isabel de Castro D. João de Almeida •to D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Maria Antónia de Bourbon D. Madalena de Brito e Bourbon D. Fernando de Almeida e Silva Henrique Jacques Silva Fernando Jaques da Silva Isabel Moniz Pereira Joana Cecília de Noronha •• António Lobo de Saldanha Sebastiana de Noronha Lobo •• Joana Maria de Alcáçova D. Antónia Xavier de Lencastre de Almeida e Bourbon '•••< • Pedro Sanches de Farinha Rodrigo Sanches Farinha e Baena Luisa Baena Isabel Teresa de Lancastre Baena Sanches de Farinha João Rodrigues de Vasconcelos e Sousa, 2.° C. Castelo Melhor Manuel de Vasconcelos e Sousa Mariana de Lancastre Vasconcelos e Camara Mariana Josefa Benta de Lancastre Diogo de Brito Coutinho Isabel de Sousa Coutinho Ana de Sousa de Lima

Pág. 55 Anexo 3 Casa dos condes de Caparica

D. João de Menezes D. Diogo de Menezes Madalena de Tavora D. José de Menezes de Tavora Luis Francisco de Oliveira e Miranda Maria de Oliveira Luisa de Tavora D. Diogo Menezes de Tavora Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches D. Leonor de Mendoça Brites Francisca de Mendoça D. António Mascarenhas

D. Mariana de Castro Isabel de Castro D. José de Menezes da Silveira de Castro e Tavora Maria Bárbara Josefa Breyner D. Francisco Xavier de Menezes da Silveira e Castro, 1.° C. Caparica • Luísa Gonzaga de Rappach

Pág. 56 Retrato puritano Casa dos condes de Coculim

D. Fernando Mascarenhas, 1.° C. Torre D. João Mascarenhas, •• 1.° M. Fronteira • • D. Maria de Noronha D. Francisco Mascarenhas, 1.° C. Coculim • • D. Francisco de Sá de Menezes, 2.° C. Penaguião D. Madalena de Castro D. Joana de Castro D. Filipe Mascarenhas, • 2.° C. Coculim • • D. Vasco Luis da Gama, 1.° M. Niza D. Francisco Luís Baltazar da Gama, 2.° M. Niza Inês de Noronha D. Maria Josefa de Noronha • • D. Fernando Mascarenhas, 1.° C. Torre D. Helena da Silveira e •• Noronha • • D. Maria de Noronha D. Francisco Mascarenhas, 3.° C. Coculim • • D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. Sarzedas D. Luis da Silveira, 2. C. Sarzedas D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes D. Catarina Úrsula de Lancastre João Gomes da Silva

Mariana da Silva e Lancastre D. Joana de Tavora

D. Joaquim Mascarenhas, 4.° C. • • D. Pedro de Lancastre, 2.° C. Figueiró D. Luis de Lancastre, 4.° • • C. Vila Nova ••• D. Madalena Lancastre

D. Teresa Madalena de • • Lancastre ••• D. Estevão de Menezes Madalena de Noronha

D. Helena de Noronha

Pág. 57 Anexo 3 Casa dos condes da Cunha/ Trinchantes da Casa Real •••

D. Aires da Cunha D. Pedro da Cunha Maior Afonso D. Lourenço da Cunha Rui Pereira da Silva Maria da Silva Isabel da Silva D. António Álvares da Cunha, Trinchante Luís Carneiro Fradique Carneiro D. Leonor de Aragão Isabel de Aragão • Francisco Pais Melícia Pais Isabel Ferreira D. Pedro Álvares da Cunha, Trinchante D. Cristovão Manoel de Vilhena D. Francisco Manoel de Vilhena Francisca de Castro D. Cristovão Manoel de Vilhena Manuel de Abreu Pessanha Beatriz da Silva de Menezes D. Filipa da Silva D. Maria Manoel de Vilhena Gaspar Gil Severim Joana de Faria Juliana de Faria D. José Vasques Álvares da Cunha, 2.° C. Cunha ••• D. António de Menezes Sotom aior D. António de Menezes D. Cecília de Mendonça D. António de Menezes Gonçalo Gomes da Silva Mariana da Silva Francisca da Silva D. Maria Teresa de Vilhena Henrique Jaques de Magalhães Pedro Jaques de Magalhães, 1.° V. Fonte Arcada Violante de Vilhena Antónia Madalena de Vilhena António Correia Baharem Maria Vicência de Vilhena Antónia Henriques

Pág. 58 Retrato puritano Casa dos condes da Ega • • • •

António de Saldanha Aires de Saldanha de Albuquerque D. Joana da Silva João de Saldanha de Albuquerque ••• Luis de Saldanha Isabel da Silva •• Maria da Silva Aires de Saldanha Albuquerque e Castro ••• D. Álvaro Coutinho D. Pedro Coutinho Joana da Silva D. Catarina de Noronha António de Matos de Noronha Mariana de Noronha Catarina da Silva Manuel de Saldanha de Albuquerque e Castro, 1.° C. Ega ••• D. João Mascarenhas D. Martinho Mascarenhas, 4.° C. Santa Cruz D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz D. João Mascarenhas, 5.° C. Santa Cruz Manrique de Silva, 1.° M. Gouveia Juliana de Lancastre • D. Maria de Lancastre D. Maria Leonor de Lancastre e Moscoso Teresa de Moscoso Osório Aires José Maria de Saldanha de Albuquerque Coutinho Matos e Noronha, 2.° C. Ega D. Luis de Almada D. Lourenço de Almada, 1.° Mestre-sala D. Luisa de Menezes D. Luis José de Almada, • 2.° Mestre-sala D. João de Almeida D. Catarina Henriques D. Violante Henriques D. Ana Ludovina de Almada Portugal D. João de Almeida D. Luis de Almeida, o Manteigas D. Violante Henriques D. Violante de Portugal Dinis de Melo e Castro, Maria Josefa de Melo Côrte-Real Ângela Maria da Silveira

Pág. 59 Anexo 3 Casa dos condes de Ficalho

Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete D. Luisa Coutinho António Teles da Silva D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Helena de Noronha D. Madalena de Brito e Bourbon Francisco José de Melo Pedro de Melo Francisco de Melo Teresa Maria de Mendonça Teresa Josefa Tavora de Melo D. Diogo de Menezes D. Inês Tomásia de Tavora Maria de Oliveira António José de Mello Breyner e Meneses D. Diogo de Menezes D. José de Menezes de Tavora Maria de Oliveira D. Diogo Menezes de • Tavora Henrique de Sousa Tavares da S il^ , 1.° M. Arronches Brites Francisca de Mendoça D. Mariana de Castro D. Isabel Josefa de Breyner e Menezes, 1.a C. Ficalho Maria Bárbara Josefá Breyner Francisco José de Mello Breyner Teles da Silva, 2.° C. Ficalho Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Fernando Teles da S il^ , 2.° M. Alegrete D. Luisa Coutinho D. Tomás Teles da Silva D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Helena de Noronha D. Madalena de Brito e Bourbon D. Tomás Xaver de Lima Nogueira Teles da Silva, 1.° M. Ponte de Lima D. João Fernandes de Lima Vasconcelos de Brito e Nogueira, 10.° V. Vila N o ^ de Cernira D. Tomás de Lima Vasconcelos e Menezes de Brito Nogueira, 11.° V. Vila Nova de Cerveira

D. Vitória de Bourbon D. Maria Xaver de Lima e Hohenlohe, 12.a V. Vila Nova de Cerveira Maria Ana Teresa de Hohenlohe D. Maria Margarida Josefa Xaver de Lima Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete D. Helena de Noronha Fernão Teles da Silva, 4.° M. Alegrete D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval D. Eugénia Rosa de Lorena Margarida de Lorena Eugénia Maria Josefa de Bragança Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete João Gomes da Silva D. Luisa Coutinho Maria Josefa de Menez es D. Estevão de Menezes D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca D. Helena de Noronha Pág. 60 Retrato puritano Casa dos condes das Galveias

D. João de Almeida D. Luis de Almeida, o Manteigas D. Violante Henriques D. João Teotónio de Almeida Portugal Dinis de Melo e Castro, 1.° C. Galveias Maria Josefa de Melo • Côrte-Real Ângela Maria da Silveira D. António José de Almeida Beja e Noronha D. António Luis de Beja e Noronha D. Teresa Antónia de Melo Castro e Beja Egas Coelho da Cunha Isabel Coelho e Castro Vicência da Silva D. João de Almeida de Melo e Castro, 5.° C. Galveias Dinis de Melo e Castro, 1.° C. Galveias André de Melo e Castro, 4.° C. Galveias Ângela Maria da Silveira Francisco de Melo e Castro, o Encamisado N Violante Joaquina de Melo e Castro Manuel da Silva Pereira Maria Joaquina Xavier da Silva Micaela Antónia da Silva

Pág. 61 Anexo 3 Casa dos condes da Lousã •••

D. Lourenço de Lancastre D. Rodrigo de Lancastre • Inês de Noronha D. João de Lancastre João da Silva Telo de Menezes, 1.° C. Aveiras Inês Teresa de Noronha Maria de Castro D. Rodrigo de Lancastre • • D. Pedro de Almeida D. Maria Teresa Antónia •• de Portugal •• Miguel de Quadros e Tavora Luisa Antónia de Portugal Catarina de Portugal D. João de Lancastre, 1.° C. Lousã Manuel Correia de Lacerda Francisco Correia de Lacerda D. Francisca de Aragão João Correia de Lacerda • António Gonçalves da Camara Isabel Maria de Castro Maria de Castro Isabel Francisca Xavier de Castro Diogo Carneiro Fontoura Luisa Catarina Fontoura Catarina de Fontoura D. Luis António de Lancastre Basto Baharem, 2.° C. Lousã Luis Gomes de Basto António de Basto Pereira

Bernardina de Torres de Luis António de Basto Baharem Jerónimo Correia Baharem António Correia Baharem

D. Maria de Alcáçova Carneiro Paula Maria de Alcáçovas Baharem Miguel de Vasconcelos Maria de Brito Catarina Lobo Mariana Joaquina de Basto Baharem D. João de Almeida D. Luis de Almeida, o Manteigas D. Violante Henriques D. João Teotónio de Almeida Portugal Dinis de Melo e Castro, 1.° C. Galveias Maria Josefa de Melo Côrte-Real Ângela Maria da Silveira D. Violante Josefa de Portugal D. António Luis de Beja e Noronha D. Teresa Antónia de Melo Castro e Beja Isabel Coelho e Castro

Pág. 62 Retrato puritano Casa dos condes de Lumiares e Ilha do Príncipe ••••••

João Rodrigues de Vasconcelos e Sousa, 2.° C. Castelo Melhor Luis de V asconcelos e Sousa, 3.° C. Castelo Melhor Mariana de Lancastre Vasconcelos e Camara Bernardo de Tavora de Vasconcelos e Sousa Bernardim de Távora e Sousa, R.P. G uiom ar de Tavora Sousa Faro e Veiga D. Leonor Mascarenhas Luis José de Portugal da Gama e Vasconcelos D. Paulo da Gama D. Luis de Portugal D. Maria de Portugal D. Maria Madalena de Portugal D. Diogo de Alm eida D. Inês da Silva D. Luisa Maria da Silva José Francisco Portugal da Gama e Vasconcelos D. Rodrigo da Camara, 3.° C. Vila Franca D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande • D. Maria Coutinho D. José Rodrigo da Camara, 2.° C. Ribeira Grande Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Mécia de Mendoça D. Leonor de Mendoça D. Inácia Agostinha Xavier de Rohan Constança Emília, Princesa de Rohan- Soubise H. Maria do Resgate Carneiro Portugal da G am a V asconcelos Sousa Faro, 3.a C. Lumiares Luis Carneiro de Sousa, 1.° C. Ilha do Príncipe Francisco Carneiro de Sousa, 2.° C. Ilha do Príncipe D. Mariana de Faro e Sousa António Carneiro de •• Sousa, 3.° C. Ilha do Príncipe D. Francisco de Sousa, 1.° M. Minas D. E u fá s ia Filipa de Lima D. E u fá s ia Filipa de Noronha Carlos Carneiro de ••• S ousa e Faro, 5.° C. Ilha do Principe, 1.° C. Lumiares • ••• D. Miguel Luis de Menezes, 1.° C. Valadares D. Carlos de Noronha, 2.° C. Valadares D. Madalena Maria de Lancastre e Abranches D. Madalena de Lancastre Luis da Cunha A taíde Maria Teresa de Lancastre D. Guiomar de Lancastre H. Madalena Gertrudes Carneiro de Sousa e Faro, 2.a C. Lumiares A ntónio de Melo e Castro Manuel de Melo e Castro

Caetano de Melo e Castro Francisca Madalena de Castro A n a V icência de Noronha Luis Carneiro de Sousa, 1.° C. Ilha do Príncipe Francisco Carneiro de Sousa, 2.° C. Ilha do Príncipe D. Mariana de Faro e Sousa Mariana de Faro •• D. Francisco de Sousa, 1.° M. Minas D. E u fá s ia Filipa de Lima D. E u fá s ia Filipa de •••Noronha

Pág. 63 Anexo 3 Casa dos condes de S. Lourenço e Sabugosa/ Alferes-mores •••

D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja D. Maria de Menezes D. António de Noronha, 2.° M. Angeja Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches D. Leonor de Mendoça Isabel Maria Antónia de Mendonça D. António Mascarenhas

D. Mariana de Castro Isabel de Castro D. João José Ausberto de Noronha Fernão Teles de Menezes, 1.° C. Vilar Maior Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Mariana de Mendonça João Gomes da Silva D. Nuno Mascarenhas Costa D. Luisa Coutinho D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal Luisa Josefa de Menezes D. Duarte Luis de Menezes, 3.° C. Tarouca D. Estevão de Menezes D. Luisa de Castro D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Helena de Noronha D. Madalena de Brito e Bourbon D. António Maria de Melo da Silva César de Menezes, 7.° C. S. Lourenço António de Melo Martim Afonso de Melo Margarida da Silva Luis de Melo da Silva, 3.° C. S. Lourenço Pedro da Silva, 1.° C. São Lourenço Madalena da Silva, 2.a C. São Lourenço Luisa da Silva Pereira Rodrigo de Melo da Silva, 5.° C. S. Lourenço Bernardim de Távora e Sousa, R.P. Filipa de Faro D. Estevão de Faro, 2.° C. Faro D. Leonor Mascarenhas D. Guiomar de Castro Ana de Melo da Silva César de Menezes, 6.a S. Lourenço Vasco Fernandes César de Menezes, Alféres-mor Luis César de Menezes, O Alféres-mor D. Maria Madalena de Lancastre Vasco Fernandes César, 1.° C. Sabugosa D. Rodrigo de Lancastre D. Mariana de Lancastre Inês Teresa de Noronha H. Mariana Rosa de Lancastre, 3. a C. Sabugosa D. Martinho Mascarenhas, 4.° C. Santa Cruz D. João Mascarenhas, 5.° C. Santa Cruz Juliana de Lancastre D. Juliana Francisca de Lancastre Teresa de Moscoso Osório Pág. 64 Retrato puritano Casa dos condes de S. Miguel • • • • • • •

Francisco Nuno Álvares Botelho, 1.° S. Miguel Álvaro José Botelho de Tavora, 2.° S. Miguel C ecília d e T avora Tomás José Botelho de Tavora, 3.° S. Miguel D. T om ás de N oronha, 3.° C. A rc o s D. A n tó n ia L u isa de Bourbon D. M a d alen a d e B rito e Bourbon Álvaro José Xavier Botelho, 4.° C. S. Miguel •••••• Rodrigo Teles de Menezes, 2.° C. Unhão Fernão Teles de ••• Menezes e Castro, 3.° C. U nhão D. Joa na Luisa de La nca stre Juliana Xavier de L a nca stre D. M artinh o M a sca re n h a s, 4 .° C. S a n ta Cruz D. Maria de Lancastre Juliana de Lancastre Fernando Xavier Botelho de Tavora, 5.° C. S. M iguel •• •••• D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. L u isa do P ila r de N oronha D. P e dro de A lm e id a , 1.° C. A s s u m a r D. João d e A lm e id a , 2.° • • D. M arga rid a A n d ré de N oronha D. Madalena Bruna de •O# C astro D. João M a sca re n h a s, 1.° M. Fronteira D. Isabel de C astro ••• #€)# D. M a d alen a d e C a stro Álvaro Jorge Botelho de Sousa e Menezes Noronha Correia de Lacerda, 6 .° C. S. M iguel Francisco Correia de Lacerda Manuel Correia de Lacerda Isabel Maria de Castro Luís Francisco Correia de Lacerda Luís Gomes Coronel de Sá e Menezes Luísa Maria Antónia de Portugal Coronel de Sá e

D. M a ria d e Portugal Manuel Joaquim Correia •• de Lacerda Francisco Correia de Lacerda João Correia de Lacerda •• Isabel Maria de Castro Isabel Francisca Xavier Diogo Carneiro Fontoura Luísa Catarina Fontoura Catarina de Fontoura Ana Isabel de Portugal Correia de Lacerda Coronel de Sá e M en eze s Rodrigo (ou Rui) de Sousa da Silva A lco forad o Francisco de Sousa da Helena da Silva de S e ab ra Rui (ou Rodrigo) de Sousa da Silva A lco forad o Manuel de Sousa de A lm e id a Antónia Gabriela de A lm e id a Violante Engrácia de Sá Bernarda Gabriela de Vilhena e Sousa Miguel Brandão da Silva Jerónimo Brandão da Isabel de Madureira Isabel Francisca Lobera e S ilva Pedro Marinho de Lobera

Patronilha de Andrade e Benita de Andrade S o to m a yo r

Pág. 65 Anexo 3 Casa dos condes de Óbidos, Palma e Sabugal

D. Vasco Mascarenhas, 1.° C. Óbidos D. Fernando Martins Mascarenhas, 2.° C. Óbidos D. João Mascarenhas D. Joana Francisca de Vilhena D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz D. Manuel Mascarenhas, 3.° C.Óbidos

D. Nuno Mascarenhas Costa D. João Mascarenhas Castelo-Branco da Costa, 2.° C. Palma D. Francisco de Castelo- Branco, 2.° C. Sabugal D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal D. Luisa Coutinho D. Beatriz Mascarenhas Castelo-Branco da Costa, 4.a C. Sabugal, 3.a C. Palm a D. Francisco Mascarenhas D. Joana de Castro D. Margarida de Vilhena D. José Maria de Assis Mascarenhas, 4.° C. Óbidos Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete D. Luisa Coutinho Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Helena de Noronha D. Madalena de Brito e Bourbon Fernão Teles da Silva, 4.° M. Alegrete D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval Joana Pimentel D. Eugénia Rosa de Margarida de Lorena Helena Josefa de M enezes Fernão Teles de Menezes, 1.° C. Vilar Maior Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Mariana de Mendonça João Gomes da Silva D. Nuno Mascarenhas Costa D. Luisa Coutinho D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal Maria Josefa de M enezes D. Duarte Luis de Menezes, 3.° C. Tarouca D. Estevão de Menezes D. Luisa de Castro D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. H e le na d e N o ro nh a D. Madalena de Brito e Bourbon Pág. 66 Retrato puritano Casa dos condes de Penafiel/ Correios-mores • • • • •

João Gomes da Mata Coronel, Correio-mór Luís Gomes da Mata, Correio-mór Filipa Barbosa Duarte de Sousa Coutinho da Mata Lopo de Sousa Coutinho

Violante de Castro D. Joana de Castro Luis Vitório de Sousa Coutinho da Mata, Correio-mór Isabella Caffaro José António da Mata de Sousa Coutinho, Correio- mór •• • Ambrósio de Aguiar Coutinho António Luis Coutinho da Camara, Almotacé-mór

Filipa de Menezes João Gonçalves da Camara Coutinho, Almotacé-mór Luis da Silva Telo de Menezes, 2.° C. Aveiras Constança de Portugal •• D. Joana Inês de Portugal Joana Catarina de Menezes D. Luis de Almada D. Lourenço de Almada, 1.° Mestre-sala D. Luisa de Menezes D. Luisa de Menezes D. João de Almeida D. Catarina Henriques D. Violante Henriques Manuel José de Mata de Sousa Coutinho, 1.° C. Penafiel •••••• D. Francisco Gonçalves da Câmara D. Luis Gonçalves da Câmara D. Filipa Coutinho D. Gastão José da Câmara Coutinho Diogo de Saldanha de Sande Isabel de Noronha D. Catarina Pereira D. Luis José da Camara Coutinho • •• D. Pedro de Almeida, 1.° C. Assumar D. Maria Benta de Noronha • • D. Fernando Mascarenhas, 1.° C. Torre D. Margarida André de Noronha D. Maria de Noronha D. Catarina da Camara • Nuno de Mendoça, 2.° C. Vale de Reis Lourenço de Mendoça e • Moura, 3.° C. Vale de Reis • Luisa de Castro e Moura

Nuno Manuel de Mendoça, 4.° C. Vale de Reis Manuel de Sousa da Silva e Menezes Maria Madalena de Mendonça Joana Francisca de Mendonça Isabel Maria de Mendoça e Moura D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja D. Maria de Menezes D. Leonor de Maria Antónia de Noronha Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches Isabel Maria Antónia de M e n d o n ç a D. Mariana de Castro

Pág. 67 Anexo 3 Casa dos condes de Pombeiro • • • • • • • •

D. António de Castelo- Branco da Cunha D. Pedro de Castelo- Branco da Cunha, 1.° C. Pombeiro

D. António de Castelo- Branco e Cunha, 2.° C. Pombeiro Luísa Ponce de Leão D. Luis de Castelo- Branco e Cunha, 4.° C. Pombeiro Martim Alonso de Melo Luis de Melo da Silva, 3.° C. S. Lourenço M adalena da Silva, 2.a C. São Lourenço Leonor Maria de Faro Bernardim de Távora e Sousa, R.P.

D. Leonor Mascarenhas D. A ntónio Joaquim Castelo-Branco Correia e Cunha, 5.° C. Pombeiro ••O D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Bernardo de Noronha D. M adalena de Brito e Bourbon D. Francisco José de Alm ada Cristovão de Almada Maria Antónia de Alm ada D. Filipa Maria de Melo D. Pelágia Teresa Agostinho de Almada Luis de V asconcelos e Sousa, 3.° C. Castelo M elhor Afonso de Vasconcelos e Sousa Cunha Camara Faro e V eiga, 5.° C. Calheta Guiom ar de Tavora Sousa Faro e Veiga Guiomar Francisca de Vasconcelos e Sousa Emília de Rohan D. Maria Rita de Castelo Branco Correia da Cunha, 6.a C. Pombeiro Rodrigo Teles de Menezes, 2.° C. Unhão Fernão Teles de ••• Menezes e Castro, 3.° C. Unhão D. Joana Luisa de Lancastre Rodrigo Xavier Teles de Menezes Castro e Silveira, 4.° C. Unhão D. Martinho M ascarenhas, 4.° C. Santa Cruz D. Maria de Lancastre Juliana de Lancastre João Xavier Fernão Teles de M enezes, 5.° C. Unhão A ntónio Luis de Tavora, 2.° C. Miguel Carlos de Tavora D. Arcângela Maria de Portugal V itória de Távora João Nunes da Cunha, 1.° C Maria Caetana da Cunha, 2.a C. S. V icente

D. Isabel de Bourbon D. A n a V itória Xavier Teles D. Vasco Luis da Gama, 1.° M. Niza D. Francisco Luís Baltazar da Gama, 2.° M. Niza Inês de Noronha D. V a sco José Luís da G ama, 3.° M. Niza D. Vasco Mascarenhas, 1.° C. D. Brites de Vilhena D. Joana Francisca de Vilhena D. Maria Josefa da Gama, 4.a M. Niza D. Álvaro Pires de Castro, 1.° M. Cascais D. Luís Álvares de Castro, 2.° M. Cascais D. Bárbara Estefânia de Lara D. Bárbara Isabel de Lara D. A ntónio Luis de Menezes, 1.° M. Marialva D. Maria Joana Coutinho • D. Catarina Coutinho Pág. 68 Retrato puritano Casa dos condes da Ponte/ [marquês de Sande] • • • • • • •

João de Saldanha da G am a Luis de S aldanha da ••• Gam a ••• Margarida de Vilhena João de Saldanha da Gam a •mm Francisco de Melo e Torres, 1.° M. Sande Madalena Cazemira de Mendonça de M ello e Torres Leonor de Mendonça Manuel de Saldanha da Gam a ••••• Vasco Fernandes César de Menezes, Alféres-mor

Luis César de Menezes, Alf.M. D. Maria Madalena de Lancastre Joana Bernarda de Noronha e Lancastre •• D. Lourenço de Lancastre D. Rodrigo de Lancastre Inês de Noronha D. Mariana de Lancastre João da Silva Telo de Menezes, 1.° C. Aveiras Inês Teresa de Noronha Maria de Castro João de Saldanha da Gama Melo Torres Guedes Brito, 6.° C. •€>•••••• Ambrósio de Aguiar Coutinho António Luis Coutinho da Camara, Almotacé-mór

Filipa de Menezes João Gonçalves da Camara Coutinho, Almotacé-mór Luis da Silva Telo de Menezes, 2.° C. Aveiras Constança de Portugal •• D. Joana Inês de Portugal Lourenço Gonçalves da Camara Coutinho, Alm .M . • I D. Luis de Almada D. Lourenço de Almada, 1.° Mestre-sala D. Luisa de Menezes D. Luisa de Menezes D. João de Almeida D. Catarina Henriques D. Violante Henriques Francisca Joana Josefa da Cam ara ••• D. Luis de Almada D. Lourenço de Almada, 1.° Mestre-sala D. Luisa de Menezes D. Luis José de Almada, • 2.° Mestre-sala D. João de Almeida D. Catarina Henriques D. Violante Henriques D. Leonor Josefa d Tavora • • Manuel da Cunha

Tristão António da Cunha Francisca Joana de Albuquerque Francisca Josefa de Tavora Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora Leonor Tomásia de D. Maria Inácia de M enezes

Pág. 69 Anexo 3 Casa dos condes de Povolide ••••

Tristão da Cunha e Ataíde Luis da Cunha Ataíde Antónia de Vasconcelos Tristão da Cunha Ataíde, 1.° C. Povolide D. Álvaro Coutinho da Camara D. Guiomar de Lancastre D. Maria de Lancastre Luis Vasques da Cunha Ataíde, 2.° C. Povolide A n tó nio Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira Miguel Carlos de Tavora D. Arcângela Maria de Portugal Arcângela Maria de Vilhena João Nunes da Cunha, 1.° C. São V icente Maria Caetana da Cunha, 2 a C. S. V icente D. Isabel de Bourbon José da Cunha Grã Ataíde e Melo, 3.° C. Povolide D. M iguel Luis de M enezes, 1.° C. Valadares D. Carlos de Noronha, 2.° C. Valadares D. Madalena Maria de Lancastre e Abranches D. Miguel Luis de M enezes, 3.° C. Valadares Luis da Cunha A taíde Maria Teresa de Lancastre D. Guiom ar de Lancastre D. Helena de Castelo Branco Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete D. Luisa Coutinho Maria de Castelo-Branco D. Tom ás de Noronha, 3.° C. A rcos D. Helena de Noronha D. Madalena de Brito e Bourbon Luis José da Cunha Grã Ataíde e Melo, 4.° C. Povolide D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande D. José Rodrigo da Camara, 2.° C. Ribeira Grande M écia de M endonça D. Duarte R odrigo da Camara Constança Emília, princesa de Rohan- Soubise D. Francisco da Silva Telo e M enezes, 6.° C. Aveiras João da Silva Telo de Menezes, 3.° C. Aveiras Luis da Silva Telo e Menezes, 4.° C. Aveiras D. Juliana de Noronha Inês Joaquina da Silva, 5.a C. Aveiras Francisco de Tavora, 1 ° C. Alvor Maria Inácia de Tavora Inês Catarina de Tavora D. Maria R oberta da Silva Telo de Menezes Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete Manuel Teles da Silva, 3.° M. Alegrete D. Helena de Noronha Nuno da Silva Teles D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval D. Eugénia Rosa de Lorena Margarida de Lorena D. Bárbara Josefa Maria Xavier da Gama D. Francisco Luís Baltazar da Gama, 2.° M. Niza D. V a sco José Luís da G ama, 3.° M. Niza D. Brites de Vilhena D. Maria Josefa da Gama, 4 a M. Niza D. Luís Álvares de Castro, 2.° M. Cascais D. Bárbara Isabel de Lara D. Maria Joana Coutinho

Pág. 70 Retrato puritano Casa dos condes de Redondo • • •

Fernão de Sousa Tomé de Sousa D. Maria de C astro D. Fernão de S ousa de Castelo-Branco Coutinho e Menezes, 10.° C. Redondo D. João de C astelo- B ranco D. Francisca de M enezes D. Cecília de Menezes Coutinho Tomé de Sousa Coutinho Castelo-Branco e Menezes, 11.° C. Redondo •• Luis Lobo da Silveira D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. Sarzedas D. Joana de Lima D. Luisa S im oa de Portugal Miguel de Noronha, 4.° C. Linhares D. Maria A ntónia de Vasconcelos e Menezes D. Inácia de Menezes e Vasconcelos D. Fernando de S ousa Coutinho Castelo-Branco e Menezes, 12.° C. Redondo D. Jerónim o de Ataíde, 6.° C. Atouguia D. Luis Peregrino de Ataíde, 8.° C. Atouguia D. Leonor Maria de M enezes D. Jerónimo de Ataíde, 9.° C. Atouguia D. João M ascarenhas D. Margarida de V ilhena D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. S anta Cruz D. M adalena Inês Vicência de Vilhena Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora António Luis de Tavora, 2.° M. de Tavora D. Maria Inácia de M enezes Mariana Teresa de Tavora Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches Leonor Teresa Rosa de S ousa D. M ariana de Castro D. Tomé Xavier de Sousa Coutinho de Castelo- Branco e Menezes, 13.° • •• D. Diogo de M enezes D. José de Menezes de Tavora Maria de Oliveira D. Diogo M enezes de Tavora Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. A rronches D. Leonor de M endoça Brites Francisca de M endoça D. António Mascarenhas

D. M ariana de Castro Isabel de Castro D. Maria A ntónia da Conceição Breyner de M enezes • Maria Barbara Josefa B reyner

Pág. 71 Anexo 3 Casa dos condes de Resende/ almirantes ••••

D. Simão de Castro D. João de Castro, Almirante • • D. Bernarda de Menezes D. Francisco de Castro, • Almirante •• D. Francisco Luis de Lancastre D. Mariana de Lancastre • • • Filipa de Mendonça D. Luís Inocêncio de Castro, Almirante •• Luis de Melo Cristóvão de Melo

D. Guiomar Coutinho Francisca Josefa de Vilhena Lourenço Pires de Carvalho Mécia de Vilhena • Madalena de Vilhena D. António José de Castro, 1.° C. Resende •••• João Rodrigues de Vasconcelos e Sousa, 2.° C. Castelo Melhor Simão de Vasconcelos e • Sousa Mariana de Lancastre Vasconcelos e Camara Pedro de Vasconcelos e • Sousa João Gomes da Silva Joana de Tavora D. Joana de Tavora Joana Cecília de Lancastre João Rodrigues de Vasconcelos e Sousa, 2.° C. Castelo Melhor Luis de Vasconcelos e • Sousa, 3.° C. Castelo Melhor Mariana de Lancastre Vasconcelos e Camara Mariana de Lancastre • Bernardim de Távora e Sousa, R.P. Guiomar de Tavora Sousa Faro e Veiga D. Leonor Mascarenhas D. José Luis de Castro, 2.° C. Resende • • • • • Miguel Carlos de Tavora Manuel Carlos de Tavora, 4.° C. Maria Caetana da Cunha, 2.a C. S. Vicente

Teresa Xavier da Cunha e Tavora D. Marcos de Noronha, 4.° C. D. Isabel de Noronha Maria Josefa de Tavora

Pág. 72 Retrato puritano Casa dos condes da Ribeira Grande e Vila Franca

D. Rodrigo da Camara, 3.° C. V ila Franca D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande • D. Maria Coutinho D. José Rodrigo da Camara, 2.° C. Ribeira G rande • Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Mécia de Mendoça D. Leonor de Mendoça D. Luis M an ue l da Camara, 3.° C. Ribeira G rande • C o n sta n ça E m ília de Rohan D. G u id o A u g u s to da Camara e Ataíde, 5.° C. Ribeira Grande •• D. Jeró nim o de A taíd e, 6.° C. Atouguia D. Luis Peregrino de Ataíde, 8.° C. Atouguia D. Leonor Maria de M en eze s D. Jerónimo de Ataíde, 9.° C. Atouguia D. João Mascarenhas D. Margarida de Vilhena D. Beatriz de Menezes, 3.a C . S a bu ga l D. Leonor Teresa Maria de Ataíde de Menezes Luis Álvares de Tavora, 1.° M . Tavora António Luis de Tavora, 2.° M . de Tavora D. M a ria In á c ia de M en eze s Mariana Teresa de Tavora Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. A rron che s Leonor Teresa Rosa de S o u sa D. Mariana de Castro D. Luis António José Maria da Camara, 6.° C. Ribeira Grande •• D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande D. José Rodrigo da Camara, 2.° C. Ribeira G rande Mécia de Mendoça D. Luis Manuel da Camara, 3.° C. Ribeira G rande Constança Emília de Rohan D. José da Camara, 4.° C. Ribeira Grande •• D. Luis Peregrino de Ataíde, 8.° C. Atouguia D. Jerónimo de Ataíde, 9.° C . A to u g u ia D. Margarida de Vilhena D. Leonor Teresa Maria de Ataíde de Menezes António Luis de Tavora, 2.° M . de Tavora Mariana Teresa de Tavora Leonor Teresa Rosa de S o u sa D. Joana Tomásia da C am ara António Luis de Tavora, 2.° C. S ã o Joã o da Pe squ eira Francisco de Tavora, 1 ° C . A lvor D. Arcângela Maria de P ortugal Bernardo António Filipe Neri de Tavora, 2.° C. de Alvor Luis Álvares de Tavora, 1.° M . Tavora Inês Catarina de Tavora D. M a ria In á c ia de M en eze s Margarida Francisca de Lorena D. Francisco de Melo, 3.° M . Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval Joana Pimentel D. Joana de Lorena Margarida de Lorena

Pág. 73 Anexo 3 Casa dos condes de São Paio ••••••

Manuel de São Paio Francisco de São Paio Filipa de Castro Manuel António de São • Paio ••• Febo Moniz de Torres e Lusignan Leonor de Torres e ••• Lusignan Filipa Coutinho Francisco José de Sampaio e Castro • • • • Fernão de Saldanha João de Saldanha de Sousa D. Joana de Noronha Joana Antónia de Tavora • Luis Francisco de Oliveira e Miranda Inês Antónia de Tavora Luisa de Tavora Manuel António de São Paio D. Luís de Almeida, 1.° C. A vntes D. António de Almeida, •• 2.° C. A vntes •• D. Isabel de Castro D. Jerónima de Bourbon •• D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Maria Antónia de Bourbon D. Madalena de Brito e Bourbon António de São Paio Melo e Castro Moniz Torres de Lusignan, 1.° C. São Paio ••••••• D. Luís de Almeida, 1.° C. A vntes D. António de Almeida, •• 2.° C. A vntes •• D. Isabel de Castro D. Luís de Almeida Portugal, 3.° C. Avntes •• D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Maria Antónia de Bourbon D. Madalena de Brito e Bourbon D. Vitória Josefa de Bourbon D. Diogo de Lima Brito e Nogueira, 7.° V. D. João Fernandes de Lima Vasconcelos de Brito e Nogueira, 10.° V.

D. Joana de Vasconcelos D. Joana Josefa Antónia de Lima D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Vitória de Bourbon D. Madalena de Brito e Bourbon

Pág. 74 Retrato puritano Casa dos condes de Sabugosa/ Alferes-mores ••

Vasco Fernandes César Luis César de Menezes, Alféres-mor D. Ana de Menezes Vasco Fernandes César de Menezes, Alféres-mor Manuel de Melo, Monteiro-mor Vicência Henriques Guiomar Henriques Luis César de Menezes, Alféres-mor D. João Mascarenhas D. Maria Madalena de Lancastre D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz Vasco Fernandes César, 1.° C. Sabugosa D. Rodrigo de Lancastre D. Mariana de Lancastre Inês Teresa de Noronha H. Mariana Rosa de Lancastre, 3.a C. Sabugosa D. João Mascarenhas D. Martinho Mascarenhas, 4.° C. Santa Cruz D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz

D. João Mascarenhas, 5.° C. Santa Cruz Manrique de Silva, 1.° M. Gouveia Juliana de Lancastre D. Maria de Lancastre D. Juliana Francisca de Lancastre Teresa de Moscoso Osório

Pág. 75 Anexo 3 Casa dos condes de Sandomil

Fernão de Miranda Henriques Simão de Miranda Henriques Maria de Menezes Fernão de Miranda Henriques João Salema Lourença Salema Isabel Barradas Luis de Miranda Henriques Francisco de Melo Pedro de Melo D. Catarina de Castro Helena Manoel de M endonça Tristão de Mendonça Furtado Teresa Maria de M endonça Helena Manoel Fernando Xaver de Miranda Henriques, 2.° C. Sandom il Simão Mascarenhas Pedro Mascarenhas D. Filipa de Mendonça Fernão Mascarenhas Pedro Vaz Côrte-Real Helena Henriques Inês de Noronha Madalena de Bourbon D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. A ntónia Luisa de Bourbon D. M adalena de Brito e Bourbon Luis José Xavier de Miranda Henriques M ascarenhas, 3.° C. Sandom il Fernão Teles de M enezes, 1.° C. V ilar Maior Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Mariana de Mendonça Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete D. Nuno M ascarenhas C osta D. Luisa Coutinho D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal António Teles da Silva D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Helena de Noronha D. M adalena de Brito e Bourbon Violante Maria Josefa de Melo Francisco de Melo Pedro de Melo D. Catarina de Castro Francisco de Melo Tristão de Mendonça Furtado Teresa Maria de M endonça Helena Manoel Teresa Josefa Tavora de M elo D. Diogo de M enezes D. Inês Tom ásia de Tavora Maria de O li^ira

Pág. 76 Retrato puritano Casa dos condes de Santiago de Beduído/ Aposentadores-mores • •

Manuel de Sousa da Silva, 2.° Aposentador- mór Lourenço de Sousa da Silva, 3.° Aposentador- mór Ana de Tavora Aleixo de Sousa da Silva e Menezes, 4.° Aposentador-mór D. Álvaro de Menezes D. Luisa de Menezes D. Violante de Ataíde Lourenço de Sousa Menezes, 1.° C. Santiago Henrique Henriques de Miranda Luís de Miranda Henriques Briolanja Henriques Luisa de Tavora Pedro Guedes Joana de Távora Luisa de Tavora Aleixo de Sousa da Silva e Menezes, 2.° C. Santiago Nuno de Mendoça, 1.° C. Vale de Reis Lourenço de Mendoça • Guiomar da Silva Teles de M enezes Nuno de Mendoça, 2.° C. Vale de Reis D. Francisco Luis de Noronha e Albuquerque D. Maria de Ataíde D. Catarina de Vilhena e Sousa Luisa Maria de Mendoça e Tavora António de Moura Teles Rui de Moura Teles D. Luisa de Noronha Luisa de Castro e Moura

D. Francisco Rolim de Moura D. Luisa de Castro D. Cecília Henriques Nuno Aleixo de Sousa da Silva, 4.° C. Santiago D. Fernando Mascarenhas, 1.° C. Torre D. João Mascarenhas, •• 1.° M. Fronteira D. Maria de Noronha D. Fernando Mascarenhas, 2.° M. Fronteira • • D. Francisco de Sá de Menezes, 2.° C. Penaguião D. Madalena de Castro D. Joana de Castro D. Leonor Maria Josefa • de Menezes D. Luis de Ataíde, 5.° C. Atouguia D. Jerónimo de Ataíde, 6.° C. Atouguia D. Filipa de Vilhena D. Joana Leonor de Toledo e Menezes D. Fernando de Menezes D. Leonor Maria de Menezes D. Joana de Toledo da Camara

Pág. 77 Anexo 3 Casa dos condes de Sarzedas 1 (ramo principal extinto)

D. Luis Lobo da Silveira D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. Sarzedas D. Joana de Lima D. Luis da Silveira, 2.° C. • Sarzedas D. Miguel de Noronha, 4.° C. Linhares D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes D. Inácia de Menezes e Vasconcelos D. Rodrigo da Silveira, 3.° C. Sarzedas Luís da Silva João Gomes da Silva D. Mariana de Lancastre Mariana da Silva e Lancastre D. João de Menezes Joana de Távora Francisca de Tavora D. Teresa Marcelina da Silveira, 4.a C. Sarzedas D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Marcos de Noronha, 4.° C. Arcos D. Madalena de Brito e Bourbon D. Inácia de Noronha Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora Maria Josefa de Tavora D. Maria Inácia de Menezes

Pág. 78 Retrato puritano Casa dos condes de Sarzedas 2 (ramo secundogénito) • •

Luis Álvares de Tavora, 1.° C. São João da Pesqueira António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira Marta de Vilhena Francisco de Tavora, 1 ° C. Alvor D. Miguel de Noronha, 4.° C. Linhares D. Arcângela Maria de Portugal D. Inácia de Menezes e Vasconcelos Bernardo António Filipe Neri de Tavora, 2.° C. de Alvor António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora D. Arcângela Maria de Portugal Inês Catarina de Tavora D. Rodrigo Lobo da Silveira, 1.° C. Sarzedas D. Maria Inácia de Menezes D. Maria Antónia de Vasconcelos e Menezes Nuno Gaspar de Tavora D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval Joana Pimentel D. Jaime Álvares Pereira de Melo, 3.° D. Cadaval

Margarida de Lorena D. Joana de Lorena Henriqueta de Lorena D. Bernardo José Maria da Silveira e Lorena, 5.° C. Sarzedas ••• D. Luis Lobo da Silveira D. Fernando Lobo da Silveira D. Joana de Lima D. Luis Baltazar da • Silveira Francisco de Sá de Menezes Joana Maria de Tavora Leitão Ana de Andrade D. Brás Baltazar da Silveira • • D. Francisco de Sousa, 1.° M. Minas D. Luisa Bernarda de Menezes • • D. Eufrásia Filipa de Noronha D. Maria Inácia da ••• Silveira ••• Aleixo de Sousa da Silva e Menezes, 4.° Aposentador-mór Lourenço de Sousa • Menezes, 1.° C. Santiago • Luisa de Tavora Aleixo de Sousa da Silva e Menezes, 2.° C. Santiago Nuno de Mendoça, 2.° C. Vale de Reis Luisa Maria de Mendoça • e Tavora Luisa de Castro e Moura Joana Inês Vicência de Menezes • • D. João Mascarenhas, 1.° M. Fronteira D. Fernando • • Mascarenhas, 2.° M. Fronteira • • D. Madalena de Castro D. Leonor Maria Josefa • de Menezes • • D. Jerónimo de Ataíde, 6.° C. Atouguia D. J o a n a L e o n o r de • Toledo e Menezes D. Leonor Maria de M e n e z e s

Pág. 79 Anexo 3 Casa dos condes de Soure • • •

D. Gil Eanes da Costa D. João da Costa, 1.° C. Soure D. Francisca de Vasconcelos D. Gil Eanes da Costa, 2.° C. Soure D. Pedro de Noronha e Sousa D. Francisca de Noronha

Juliana de Noronha D. João da Costa, 3.° C. Soure • • João da Silva Telo de Menezes, 1.° C. Aveiras Luis da Silva Telo de Menezes, 2.° C. Aveiras Maria de Castro Maria Lourenço de Portugal D. Álvaro Pires de Castro, 1.° M. Cascais D. Joana Inês de • Portugal D. Maria de Portugal D. Henrique da Costa Carvalho e Sousa, 4.° C. Soure • • • Lourenço Pires de Carvalho Henrique de Carvalho de • Sousa Patalim Madalena de Vilhena Luisa Francisca de Tavora •• Helena de Távora D. José António Francisco da Costa, 6.° C. Soure • • • D. Rodrigo da Camara, 3.° C. Vila Franca D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande • D. Maria Coutinho D. José Rodrigo da Camara, 2.° C. Ribeira Grande • Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Mécia de Mendoça D. Leonor de Mendoça D. Antónia Maria de Rohan Constança Emília de Rohan

Pág. 80 Retrato puritano Casa dos condes de Valadares

D. Miguel Luis de Menezes, 1.° C. Valadares D. Carlos de Noronha, 2.° C. Valadares D. Madalena Maria de Lancastre e Abranches D. Miguel Luis de Menezes, 3.° C. Valadares Luis da Cunha Ataíde Maria Teresa de Lancastre D. Guiomar de Lancastre D. Álvaro de Noronha Castelo Branco, 5.° C. Valadares Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Fernando Teles da Silva, 2.° M. Alegrete D. Luisa Coutinho Maria de Castelo-Branco

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Helena de Noronha D. Madalena de Brito e Bourbon D. José Luis de Menezes Castelo Branco e Abranches, 6.° C. Valadares D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja D. Maria de Menezes D. António de Noronha, 2.° M. Angeja Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches Isabel Maria Antónia de Mendonça D. Mariana de Castro D. Teresa Josefa de Noronha Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete João Gomes da Silva D. Luisa Coutinho Luisa Josefa de Menezes D. Estevão de Menezes D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca D. Helena de Noronha D. Álvaro de Noronha Abranches Castelo Branco, 7.° C. Valadares •• D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja D. Maria de Menezes D. António de Noronha, 2.° M. Angeja Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches Isabel Maria Antónia de Mendonça D. Mariana de Castro D. Pedro José de Noronha Camões, 3.° M. Angeja Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete João Gomes da Silva D. Luisa Coutinho Luisa Josefa de Menezes D. Estevão de Menezes D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca D. Helena de Noronha Luisa Josefa Maria Rita Antónia Fausta de Noronha • D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja D. Maria de Menezes D. Diogo de Noronha Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches Isabel Maria Antónia de Mendonça D. Mariana de Castro D. Francisca Rita de Menezes D. António Luis de Menezes, 1.° M. Marialva D. Pedro António de Menezes, 2.° M. Marialva D. Catarina Coutinho D. Joaquina Maria Madalena da Conceição de Menezes, 3.a M. Marialva D. Rodrigo de Menezes D. Catarina Coutinho D. Guiomar de Menezes

Pág. 81 Anexo 3 Casa dos condes de S. Vicente

António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira Miguel Carlos de Tavora D. Arcângela Maria de Portugal Manuel Carlos de Tavora, 4.° C. São Vicente João Nunes da Cunha, 1.° C. São Vicente Maria Caetana da Cunha, 2.a C. São Vicente D. Isabel de Bourbon Miguel Carlos da Cunha Silveira e Tavora, 5.° C. S. Vicente D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Marcos de Noronha, 4.° C. Arcos D. Madalena de Brito e Bourbon D. Isabel de Noronha Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora Maria Josefa de Tavora D. Maria Inácia de Menezes Manuel Carlos da Cunha • e Tavora, 6.° C. S. Vicente D. Jerónimo de Ataíde, 6.° C. Atouguia D. Luis Peregrino de Ataíde, 8.° C. Atouguia D. Leonor Maria de Menezes D. Jerónimo de Ataíde, 9.° C. Atouguia D. João Mascarenhas D. Margarida de Vilhena D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal D. Rosa Leonarda de Ataíde Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora António Luis de Tavora, 2.° M. de Tavora D. Maria Inácia de Menezes Mariana Teresa de Tavora Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches Leonor Teresa Rosa de Sousa D. Mariana de Castro Miguel Carlos da Cunha da Silveira e Lorena, 7.° C. S. Vicente • D. Francisco de Melo, 3.° M. Ferreira D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.° D. Cadaval Joana Pimentel D. Jaime Álvares Pereira de Melo, 3.° D. Cadaval

Margarida de Lorena D. Luisa Caetana de Lorena Henriqueta de Lorena

Pág. 82 Retrato puritano Casa dos condes de Vila Flor/ Copeiros-mores • • •

M artim de S o usa de Menezes, 3.° Copeiro- m ór Luis de Sousa de Menezes, 4.° Copeiro- m ór Maria de Sousa Coutinho Martim de Sousa de Menezes, 3.° C. de Vila Flor D. S ancho Manoel de Vilhena, 1.° C. Vila Flor D. Maria Ana Manoel de Noronha Ana de Noronha Luis Manoel de Sousa e Menezes, 4.° C. Vila Flor • Salvador Correia Sá Martim Correia de Sá e Benevides Velasco, 1.° V. A sse ca Joana Catarina Ramirez de V elasco Maria Antónia da Silva D. Diogo de Alm eida D. Â ngela de Melo D. Luisa Maria da Silva António Francisco de Paula Manoel de Sousa e Menezes, 5.° C. Vila Flor D. Jorge Henriques D. Henrique Henriques Catarina Brandão D. Jorge Henriques Brás Pereira de Miranda Maria Luisa de Menezes

Juliana (ou Joana) de M enezes D. Antónia Caetana Henriques D. Luís de A lm eida, 1.° C. Avintes D. António de Almeida, 2.° C. A vn te s • • D. Isabel de Castro D. Madalena de Bourbon D. Tom ás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Maria A n tó nia de Bourbon D. Madalena de Brito e Bourbon António de Sousa Manoel de Menezes Severim de Noronha, 6.° C. V ila Flor D. Luis Lobo da Silveira D. Fernando Lobo da Silveira D. Joana de Lima D. Luis B a lta za r da Silveira Francisco de Sá de M enezes Joana Maria de Tavora Leitão Ana de Andrade D. A ntónio Inácio Xaver da Silveira D. Francisco de Sousa, 1.° M. Minas D. Luisa Bernarda de Menezes D. Eufásia Filipa de Noronha D. M aria Tom ásia Xavier ••• da Silveira M artim de S o usa de Menezes, 3.° Copeiro- m ór Luis de Sousa de Menezes, 4.° Copeiro- m ór Maria de Sousa Coutinho Martim de Sousa de Menezes, 3.° C. de Vila Flor • D. S ancho Manoel de Vilhena, 1.° C. Vila Flor D. Maria Ana Manoel de Noronha Ana de Noronha Mariana Joaquina de Mendoça Severim de Noronha • Pedro da Cunha Tristão da Cunha Helena de Mendonça Luísa Maria de M endonça Pedro de Melo Joana Luísa de M endonça Teresa Maria de M endonça

Pág. 83 Anexo 3 Casa dos condes de Vimieiro •••••

D. Francisco de Faro, 1.° C. Vimieiro D. Sancho de Faro •• Mariana de Sousa da Guerra D. Diogo de Faro e • Sousa Isabel de Luna y Carcamo D. Sancho de Faro, 2.° C. Vimieiro • • Gaspar de Faria Severim Francisca Maria de Menezes D. Mariana de Noronha D. Diogo de Faro e Sousa, 3.° C. Vimieiro D. Pedro Manoel, 2.° C. Atalaia D. Álvaro Manoel •• •• D. Maria de Ataíde D. Luis Manoel de • Tavora, 4.° C. Atalaia •• Álvaro Pires de Tavora Inês de Lima e Tavora D. Maria de Lima D. Teresa Josefa de Mendonça •• D. Rodrigo da Camara, 3.° C. Vila Franca D. Manuel Luis Baltazar da Camara, 1.° C. Ribeira Grande • D. Maria Coutinho D. Francisca Leonor de • Mendonça Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Mécia de Mendoça D. Leonor de Mendoça D. João de Faro e Sousa, 5.° C. Vimieiro D. Diogo de Menezes D. José de Menezes de Tavora Maria de Oliveira D. Diogo Menezes de Tavora Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches Brites Francisca de Mendoça D. Mariana de Castro D. Maria Josefa de Menezes Maria Barbara Josefa Breyner

Pág. 84 Retrato puritano Casa dos viscondes de Asseca/ Almotacés-mores

Salvador Correia Sá Martim Correia de Sá e Benevides Velasco, 1.° V. Asseca Joana Catarina Ramirez de Velasco Diogo Correia de Sá e Benevides Velasco, 3.° V. Asseca D. Diogo de Almeida D. Angela de Melo D. Luisa Maria da Silva Luis José Correia de Sá Velasco e Benevides •• Luis César de Menezes, Alféres-mor Vasco Fernandes César de Menezes, Alféres-mor Vicência Henriques Luis César de Menezes, Alféres-mor O D. João Mascarenhas D. Maria Madalena de Lancastre D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz

Inês Isabel Virgínia da Hungria de Lancastre D. Rodrigo de Lancastre D. Mariana de Lancastre Inês Teresa de Noronha Salvador Correia de Sá Benevides Velasco da Camara, 5.° V. Asseca • momm Ambrósio de Aguiar Coutinho António Luis Coutinho da Camara, Almotacé-mór Filipa de Menezes João Gonçalves da Camara Coutinho, Almotacé-mór Luis da Silva Telo de Menezes, 2.° C. Aveiras Constança de Portugal D. Joana Inês de Portugal Lourenço Gonçalves da •• Camara Coutinho, Alm.M. D. Luis de Almada D. Lourenço de Almada, 1.° Mestre-sala D. Luisa de Menezes D. Luisa de Menezes D. João de Almeida D. Catarina Henriques D. Violante Henriques Francisca Joana Josefa da Camara D. Luis de Almada D. Lourenço de Almada, 1.° Mestre-sala D. Luisa de Menezes D. Luis José de Almada, • 2.° Mestre-sala D. João de Almeida D. Catarina Henriques D. Violante Henriques D. Leonor Josefa de Tavora Manuel da Cunha Tristão António da Cunha Francisca Joana de Albuquerque Francisca Josefa de Tavora Luis Álvares de Tavora, 1.° M. Tavora Leonor Tomásia de Tavora D. Maria Inácia de Menezes

Pág. 85 Anexo 3 Casa dos viscondes de Barbacena • • • • •

Jorge Furtado de M endonça Afonso Furtado de C astro do Rio e Mendonça, 1.° V. Barbacena Mariana de Vilhena Jorge Furtado de O Mendonça, 2.° V. Barbacena João Furtado de M endonça Maria Francisca de Tavora Madalena de Tavora Luis Xavier Furtado de Mendonça, 4.° V. Barbacena Ana Luísa Hohenlohe Francisco Vicente Furtado de Castro do Rio de Mendoça, 5.° V. Barbacena Luis Carneiro de Sousa, 1.° C. Ilha do Príncipe Francisco Carneiro de Sousa, 2.° C. Ilha do Príncipe D. Mariana de Faro e S o usa Inês Francisca Xavier de •• N oronha D. Francisco de Sousa, 1.° M. Minas D. Eufrásia Filipa de Lim a #0# D. Eufrásia Filipa de Noronha Luis António Furtado de • • Castro do Rio de Mendonça e Faro, 6.° V. Barbacena Nuno de Mendoça, 2.° C. Vale de Reis Lourenço de Mendoça e Moura, 3.° C. V ale de Reis Luisa de Castro e Moura Nuno Manuel de Mendoça, 4.° C. Vale de Reis Manuel de Sousa da Silva e Menezes Maria Madalena de M endonça Joana Francisca de M endonça Maria Antónia Gertrudes de M endoça D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja D. Maria de Menezes D. Leonor de Maria Antónia de Noronha Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches D. Leonor de Mendoça Isabel Maria Antónia de M endonça D. António Mascarenhas

D. Mariana de Castro Isabel de Castro

Pág. 86 Retrato puritano Casa dos viscondes de Fonte Arcada • • •

Henrique Jaques de Magalhães Pedro Jaques de Magalhães, 1.° V. Fonte Arcada Violante de Vilhena Henrique Jaques de Magalhães Manuel Dias de Andrade

Luisa Freire de Andrade Brites da Silva João Jaques de Magalhães João Lobo Brandão Lourença Henriques Isabel Henriques de Menezes António Jaques de Magalhães, 3.° V. Fonte Arcada D. António de Menezes Sotomaior D. António de Menezes D. Cecília de Mendonça D. António de Menezes Gonçalo Gomes da Silva

Mariana da Silva Francisca da Silva D. Mariana Inácia de Menez es Henrique Jaques de Magalhães Pedro Jaques de Magalhães, 1.° V . Fonte Arcada Violante de Vilhena Antónia Madalena de Vilhena António Correia Baharem Maria Vicência de Vilhena Antónia Henriques João António Jaques de Magalhães, 4.° V. Fonte Arcada D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. José de Noronha D. Pedro de Almeida, 1.° C. Assum ar D. João de Almeida, 2.° C. Assum ar D. Margarida André de Noronha Madalena Bruna de • • Castro D. João Mascarenhas, 1.° M. Fronteira D. Isabel de Castro D. Madalena de Castro D. Antónia Mariana de Noronha • • Manuel Ribeiro Soares Diogo Luis Ribeiro Soares Mariana Francisca da Silva Joaquim Manuel Ribeiro Soares de Castilho António de Eça de Castro Isabel Senhorinha de Castro D. Catarina de Tavora Mariana Isabel das Montanhas Ribeiro Soares de Castilho • • D. Fernando Lobo da Silveira D. Luis Baltazar da Silveira Joana Maria de Tavora Leitão D. Teresa Bárbara de Menezes ••• D. Francisco de Sousa, 1.° M. Minas D. Luisa Bernarda de Menezes D. Eufrásia Filipa de •Noronha •

Pág. 87 Anexo 3 Casa dos viscondes de Mesquitela/ barões da Ilha Grande de Joanes e Mullingar •••••••

Gonçalo de Sousa de M ace do António de Sousa de Macedo, 1.° B. Mullingar Margarida Moreira Luís Gonçalo de Sousa de M ace do , 1 .° B. Ilha Grande de Joanes Marianne Le Mercier António de Sousa de M ace do , 2 .° B. Ilha Grande de Joanes João Furtado de M en do nça Francisco Furtado de M en do nça Madalena de Tavora Mariana de Távora Vasco Pires Falcão Ângela Tavares Maria Themudo Luís de Sousa de M ace do , 1 .° V . M e sq u ite la Manuel Machado de M iranda Gregório Ferreira de Eça Jerónima Ferreira de Eça

Manuel Ferreira de Eça Francisco de Barros de Vasconcelos Margarida Luisa de Vilhena Coutinho e A la rcã o D. Paula de Vilhena de A la rcã o Catarina Margarida de Tavora A n tó n io d e E ç a de C astro Francisca Benta de A lm a d a D. Catarina de Tavora Maria José de Sousa de M ace do , 2.a V. M e sq u ite la Francisco de São Paio Manuel António de São Paio Leonor d e T orres e Lusignan F ra n c is c o J o s é de Sampaio e Castro João de Saldanha de S o usa Joana Antónia de Tavora

Inês Antónia de Tavora Manuel António de São Paio D. Luís de Almeida, 1.° C. A vin tes D. António de Almeida, •• 2.° C. Avintes •• D. Isabel de Castro D. Jerónima de Bourbon • • D. Tomás de Noronha, 3 .° C. A rc o s D. M a ria A n tó n ia de Bourbon D. Madalena de Brito e Bourbon Joana Antónia de São Paio e Lima D. Luís de Almeida, 1.° C. A vin tes D. António de Almeida, •• 2.° C. Avintes •• D. Isabel de Castro D. Luís de Almeida Portugal, 3.° C. Avintes • • D. Tomás de Noronha, 3 .° C. A rc o s D. M a ria A n tó n ia de Bourbon D. Madalena de Brito e Bourbon D. Vitória Josefa de Bourbon •• D. Diogo de Lima Brito e N ogueira, 7 .° V . D. João Fernandes de Lim a V a s c o n c e lo s de Brito e Nogueira, 10.° V.

D. Joana de Vasconcelos D. Joana Josefa Antónia de Lim a D. Tomás de Noronha, 3 .° C. A rc o s D. Vitória de Bourbon D. Madalena de Brito e Bourbon

Pág. 88 Retrato puritano Casa dos viscondes de Vila Nova do Souto d’El Rei

António José de Almada e Melo João de Almada e Melo

Úrsula de Vasconcelos António José de Almada de Melo Francisco de Mendonça Furtado Maior Luisa de Mendonça D. Maria de Melo D. João de Almada de Melo André Velho de Azevedo

Francisco da Cunha da Silva Maria de Sousa Barbosa Maria Josefa de Lima da Cunha Velho Fernão Leite Barbosa Engrácia Catarina Barbosa Vicencia Bárbara Peixoto D. António José de Almada de Melo, 2.° V. V. N. de Souto de El-Rei D. Rodrigo de Lancastre D. João de Lancastre Inês Teresa de Noronha D. Rodrigo de Lancastre D. Pedro de Almeida D. Maria Teresa Antónia de Portugal •• Luisa Antónia de Portugal D. Ana Joaquina de Lancastre e Moscoso Francisco Correia de Lacerda João Correia de Lacerda • Isabel Maria de Castro Isabel Francisca Xavier de Castro Diogo Carneiro Fontoura Luisa Catarina Fontoura Catarina de Fontoura D. João José Francisco de Almada Melo Velho e Lencastre, 3.° V. V. N. de Souto de El-Rei D. Rodrigo de Lancastre D. João de Lancastre Inês Teresa de Noronha D. Rodrigo de Lancastre •O# D. Pedro de Almeida D. Maria Teresa Antónia de Portugal •• Luisa Antónia de Portugal D. António de Lancastre •O# Francisco Correia de Lacerda João Correia de Lacerda • Isabel Maria de Castro Isabel Francisca Xavier de Castro Diogo Carneiro Fontoura Luisa Catarina Fontoura Catarina de Fontoura D. Francisca Felizarda de Lancastre da Fonseca e Camões Luis Lopes de Carvalho Gonçalo Lopes de Carvalho Ana da Silva de Almeida Tadeu Luis António Lopes de Carvalho Gonçalo Peixoto da Silva de Almeida Guiomar Bernarda de Alarcão e Silva Paula Maria Cardoso de Alarcão Guiomar Anacleta de Carvalho Fonseca e Camões •• D. João Manuel de Menezes D. Francisco Furtado de Mendonça •• Francisca Furtado de Mendonça D. Francisca Rosa de Menezes João de Valadares Carneiro Mariana Luisa de Valadares Margarida Machado da Silva Menezes Soutomaior

Pág. 89 Anexo 3 Casa dos Capitães da Guarda Alemã P

D. António de Sousa D. Francisco de Sousa, Cap. Guarda Alemã Leonor de Melo D. Filipe de Sousa, Cap. Guarda Alemã D. João de Almeida D. Helena de Portugal D. Violante Henriques D. Manuel de Sousa, Cap. Guarda Alemã Fernão Teles de Menezes, 1.° C. Vilar Maior Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Mariana de Mendonça Catarina de Menezes D. Nuno Mascarenhas Costa D. Luisa Coutinho D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz D. Alexandre de Sousa Holstein Maria Ana Leopoldina, princesa de Holstein

Pág. 90 Retrato puritano Casa dos Armeiros-mores s.r.

D. Álvaro da Costa, o Queimado D. António da Costa Maria Manoel D. Luís da Costa Luís de Goes Perdigão Madalena de Mendonça Margarida de Eça D. António Estevão da Costa D. Gonçalo da Costa D. Pedro da Costa Mariana Henriques D. Maria de Noronha D. Francisco de Noronha D. Violante de Noronha Maria de Azevedo D. António José da Costa D. Jorge de Melo D. Pedro José de Melo Madalena de Távora D. António José de Melo

D. Álvaro da Costa, o Queimado D. Maria de Mendonça Maria Manoel D. Madalena Luísa de Mendonça Luís de Miranda Henriques Pedro Guedes de Miranda Joana de Távora Joana de Mendonça Pedro Guedes Maria Josefa de Mendonça Luisa de Tavora D. José Francisco da Costa de Sousa e Albuquerque D. António de Melo D. Jorge de Melo Francisca Henriques D. Luís José de Melo Pedro Guedes Madalena de Távora Luisa de Tavora D. Cristóvão de Melo Maria Arnau D. Ana Rosa de Melo Rosa de Almeida

Pág. 91 Anexo 3 Casa dos Monteiros-mores ••

D. Diogo de Menezes D. José de Menezes de Tavora Maria de Oliveira D. Carlos José Bento de Menezes Diogo Lopes de Sousa, 2.° C. Miranda Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches D. Leonor de Mendoça Brites Francisca de Mendoça D. António Mascarenhas

D. Mariana de Castro Isabel de Castro D. Pedro José da Cunha de Mendonça e Menezes Pedro da Cunha Tristão da Cunha Helena de Mendonça Pedro da Cunha de Mendonça Pedro de Melo Joana Luísa de Mendonça Teresa Maria de Mendonça Brites Josefa da Cunha e Menezes D. Diogo de Menezes D. José de Menezes de Tavora Maria de Oliveira D. Luisa Josefa de • Menezes Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches Brites Francisca de Mendoça D. Mariana de Castro D. Francisco José da Cunha de Mendonça e Menezes, Monteiro-mór •• Fernão Teles de Menezes, 1.° C. Vilar Maior Manuel Teles da Silva, 1.° M. Alegrete Mariana de Mendonça João Gomes da Silva D. Nuno Mascarenhas Costa D. Luisa Coutinho D. Beatriz de Menezes, 3.a C. Sabugal Fernão Teles da Silva, Monteiro-mór D. Duarte Luis de Menezes, 3.° C. Tarouca D. Estevão de Menezes D. Luisa de Castro D. Joana Rosa de Menezes, 4.a C. Tarouca

D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Helena de Noronha D. Madalena de Brito e Bourbon Joana Catarina de Melo Francisco de Melo, Monteiro-mór Garcia de Melo, Monteiro-mór Luisa de Mendonça Francisco de Melo, Monteiro-mór D. Francisco Mascarenhas D. Isabel de Castro D. Margarida de Vilhena Maria Josefa de Melo D. António de Noronha, 1.° C. Vila Verde D. Pedro António de Noronha, 1.° M. Angeja D. Maria de Menezes D. Catarina de Noronha Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1.° M. Arronches Isabel Maria Antónia de M e n d o n ç a D. Mariana de Castro

Pág. 92 Retrato puritano Casa dos Porteiros-mores • • • • • •

Luís de Melo, Porteiro- mór Manuel de Melo, Porteiro- mór D. Guiomar Coutinho José de Melo e Sousa, Porteiro-mór Álvaro de Sousa Francisca de Vilhena Leonor de Vilhena Manuel António de Sousa e Melo, Porteiro- mór D. Tomás de Noronha, 3.° C. Arcos D. Bernardo de Noronha D. Madalena de Brito e Bourbon D. Madalena Teresa de Bourbon Rui Fernandes de Almada Cristovão de Almada !• Madalena de Lancastre Maria Antónia de Almada ••• D. Luís de Almada D. Filipa Maria de Melo D. Luísa de Menezes Vitória Xavier de Melo ••••••• Rodrigo Teles de Menezes, 2.° C. Unhão Fernão Teles de ••• Menezes e Castro, 3.° C. Unhão ••• D. Joana Luisa de Lancastre Rodrigo Xavier Teles de Menezes Castro e Silveira, 4.° C. Unhão ••••• D. João Mascarenhas D. Martinho Mascarenhas, 4.° C. Santa Cruz D. Beatriz Mascarenhas, 3.a C. Santa Cruz D. Maria de Lancastre Manrique de Silva, 1.° M. Gouveia Juliana de Lancastre !• D. Maria de Lancastre Maria Teresa Ana Josefa Caetana Teles de Menezes •••••• Luis Álvares de Tavora, 1.° C. São João da Pesqueira António Luis de Tavora, 2.° C. São João da Pesqueira Marta de Vilhena Miguel Carlos de Tavora D. Miguel de Noronha, 4.° C. Linhares D. Arcângela Maria de Portugal D. Inácia de Menezes e Vasconcelos Vitória de Távora João Nunes da Cunha, 1.° C. São Vicente Maria Caetana da Cunha, 2.a C. São Vicente ' D. Isabel de Bourbon

Pág. 93

ANEXO 4: Notas sobres os reparos “perdoados” ou “esclarecidos

Optámos por, no presente anexo, explorar apenas os reparos que não parecem ter impedido, tanto casamentos de algumas Casas dentro do grupo dos Puritanos, como políticas de reprodução social puritanas quando excluído o reparo da Casa. Assim, descreveremos abaixo, sucintamente, a história conhecida dos cinco reparos que considerámos para a introdução do conceito de Puritanos, em sentido lato.

Transversal, no entanto, a todos os reparos, é que os mesmos foram permanecendo na memória colectiva das Casas aristocráticas portuguesas desde a data da sua passagem a Portugal478, sendo transmitidos de geração em geração. É natural que tenham ganho destaque a partir do século XVII, mas seriam já conhecidos e comentados anteriormente, pelo que deverão estar sempre mais associados a um “senso comum” do grupo da aristocracia, do que relacionadas com os famosos tições cujo impacto nestas Casas não conseguimos perceber.

Importa também salientar que Torcy não segue um racional de Casa no elencar dos reparos, uma vez que o que analisa é o chefe da Casa seguindo um critério de linhagem, querendo isto dizer que o que analisa é se este, e apenas este, detém algum reparo, ignorando recorrentemente o facto de a realidade da sua descendência poder já ser diferente por casamentos entretanto contraídos. Isto pode explicar porque é que à data do Relatório os herdeiros de muitas Casas pudessem já ser associados a muitos outros reparos que Torcy, no entanto, desconsidera.

Também já referimos anteriormente a origem dos reparos, restando-nos apenas acrescentar que a maioria dela assentava em rumores não documentados. A excepção encontramo-la, por exemplo, no reparo de Brandão, ficando imortalizada nos arquivos da Mesa de Consciência e Ordens a dispensa de sangue concedida por D. Afonso V a Duarte Brandão para que este pudesse ostentar o hábito da Ordem de Cristo, sendo esta mancha, também por este motivo, nomeado como «une des plus considerables de Portugal»479. Nunca terá sido, como durante muito tempo se pensou, cavaleiro da ordem da Jarreteira em Inglaterra, mas beneficiou amplamente da protecção do rei inglês, tendo

478 Julgamos ser este uma característica fundamental dos reparos, ou seja, o facto de virem de fora de Portugal e estarem, muitas vezes, relacionadas com alianças com famílias estrangeiras, maioritariamente espanholas. 479 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma Relação do Reino de Portugal em 1684. Coimbra: 1960, p. 80.

Pág. 95 Anexo 4 obtido o título de representação por Sir ao ser nomeado para “guarda do rei”480, uma posição normalmente ocupada por cavaleiros (knrghts). Aos seus pares dirá, com sabedoria, «E eu sou Duarte Brandão, que, por força de armas, ganhei nobreza para mim e meus descendentes, como os de que vós, Senhores, vindes para si e para vós. E quem isto contradisser adiante-se.»481 Se o não fizeram na altura, não terão poupado a sua descendência.

Também curiosos são os casos dos reparos de Caiada e Lafetá. Ambos com rumores fundados em mães desconhecidas associadas a mercadores ricos. Se Isabel Caiada era suspeita de ser judia, em estudos recentes sobre Rui Fernandes de Almada nem se consegue confirmar que tenha sido, de facto, mãe dos seus filhos482. Também o conde João Francisco Lafetá, ou Affaitati, natural de Cremona, poderá ter tido de lidar com uma animosidade face ao seu sucesso enquanto grande mercador483 (apesar de Torcy referir «petit»), acrescido do facto de não ser português. Certo é que a suspeita de cristã- novice sobre a mãe, ou mães, dos seus filhos sempre existiu, sabendo que a família se teve de esforçar por dissipá-la, podendo ser encontrada na Coleccção Pombalina da BNP um documento intitulado «Discurso histórico juridico sobre a pureza de sangue dos Lafetás.»484

Por fim, cumprirá falar no reparo mais observado na aristocracia portuguesa: Pinheiro. É conhecida a importância que esta família teve no século XVI, sendo ascendência comum de dois dos títulos mais influentes da corte de D. João III, os condados do Prado e da Castanheira, ao qual poderemos juntar as carreiras de Tomé de Sousa ou Martim Afonso de Sousa485, podendo ter sido, sem dúvida, este o motivo de invejas e rumores. Braamcamp Freire é, no entanto, contundente quando diz: «agora

480 Cecil Roth, «Sir Edward Brampton, alias Duarte Brandão: Governor of Guernesey, 1482-1485». In Sep. Report and transactions of La Société Guernesiaise, Vol. XVI, pt. II. Guernsey: La Société Guernesiaise, The Guille-Allès Library, 1957, pp. 160-170, p. 165. Tradução literal de Knight o f the Body, também conhecidos por Esquires in Ordinary o f the 's Body ou, simplesmente, Esquires o f the Body. 481 Ditos portugueses dignos de memória. História íntima do século XVI anotada e comentada por José H. Saraiva. Póvoa do Varzim: Publicações Europa-América, s.d., p. 237. 482 Maria do Rosário de Sampaio Themudo Barata, Rui Fernandes de Almada. Diplomata Português do Século XVI. Lisboa: Instituto de Alta Cultura, Centro de Estudos Históricos, 1971, p. 21. 483 Baseámo-nos no estudo de Nunziatella Alessandrini, Os italianos de 1500 a 1680: das hegemonias florentinas às genovesas, Vol I. Lisboa: [s.n.], 2009. Tese de Doutoramento em História Moderna. Esta refere que «a profunda influência do conde Affaitati no mercado português é nitidamente evidenciada por Lope Hurtado, embaixador espanhol em Lisboa, que escreve: “Acá no puden hazer cosa buena sin ele”», p. 139. 484 BNP, Pombalina, Ms. 688, fls. 261-270 e 342-361 485 Alexandra Pelúcia, Martim Afonso de Sousa e a sua linhagem: trajectórias de uma elite no império de D. João III e D. Sebastião. Lisboa: CHAM, 2009, P. 315

Pág. 96 Notas sobre os reparos saber-se se a mulher de Pero Esteves [o pai de Maria Pinheiro] era ou não Judia, isso é averiguação em que não me meto»486. Certo é que seria o reparo observado em quase um quarto dos 127 homens referidos por Torcy, número que ascende a 60% quando só considerados os titulares e os ofícios maiores no final do século XVIII, podendo assim ser apelidado o grande reparo da aristocracia portuguesa. Numa sátira ao conde da Castanheira, dir-se-á:

Mestre João sacerdote, de Barcelos natural, houve de uma moira tal um filho de boa sorte.

Pero Esteves se chamou; honradamente vivia; por amores se casou com uma formosa Judia.

Dêste, pois nada se esconde, nasceu Maria Pinheira, mãe da mãe daquele Conde e sua avó verdadeira. (ou noutra variante, Que é o Conde da Castanheira.) 487

De seguida apresentamos os cinco reparos de acordo com a nossa proposta de entendimento de um grupo Puritano entendido em sentido lato. Na sequência do exercício que realizámos, ao desconsiderarmos reparos ao conjunto das Casas da aristocracia portuguesa, novas Casas surgiriam como Puritanas, apresentando os resultados na tabela abaixo:

Reparos desconsiderados488 Puritanos (sentido lato) Bocanegra • Cadaval/ Ferreira/ Tentúgal • Távora/ S. João da Pesqueira/ Alvor • Atouguia • S. Vicente

486 Anselmo Braamcamp Freire, Brasões da Sala de Sintra, Liv. I. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1922, p. 227. 487 Ibidem, p. 226. 488 Qualquer outra combinação destes cinco reparos, num total de 26 possíveis, não devolveu nenhum resultado.

Pág. 97 Anexo 4

Reparos desconsiderados488 Puritanos (sentido lato) • Sarzedas 1 Granada • Caparica • Ficalho • Sandomil Zuniga • Marialva/ Cantanhede Azambuja e Bocanegra • Aveiro/ Gouveia/ Santa Cruz Azambuja e Granada • Sabugosa • Monteiros-mores Bocanegra e Granada • Abrantes/ Fontes/ Penaguião Granada e Zuniga • Valadares

Assim, a história destes reparos será:

1. ARAGÃO

De acordo com Torcy, «D. Juan d’Arragon, père de Ferdinand le Catholique, eut des bastards d’une jeune nommée la Blanca Coneja. Ceux qui en descendent sont regardés comme /88/ estant de race juive»489.

O reparo passou a Portugal através de Leonor de Milão e Aragão que casou com D. Nuno Manoel, senhor de Salvaterra de Magos e almotacé-mor do rei D. Manuel I, sendo perpetuado pela sua descendência. Esta Leonor de Milão e Aragão era filha bastarda de Afonso de Aragão, 1.° duque de Villahermosa e de Maria Junquers, sendo Afonso de Aragão ele próprio também filho bastardo do rei João II e de Leonor Escobar. É precisamente nesta sucessão de bastardos que se identifica uma confusão de gerações, porque Torcy refere que seria pela mulher de quem o rei João II teve bastardos que o reparo teria chegado a Portugal, o que representa uma interpretação distinta dos genealogistas portugueses.

Ao contrário de outros reparos cujas referências coevas não encontramos além das de Torcy, o de Aragão vem tratado pelo Pe. D. António Caetano de Sousa nas suas Provas da História Genealógica da Casa Real Portugueza, onde se empenha em

489 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma Relaçao..., p. 79.

Pág. 98 Notas sobre os reparos desconstruir os rumores que existiam sobre Leonor de Milão e Aragão, «Donzella nobre Catalãa, que ele estimou muito, e a quem entregou o cuidado dos seus filhos»490 e não uma «mulher ordinaria, e de nascimento escuro, como alguns mal instruidos entenderaõ»491. Este esclarecimento, que se estende por várias páginas com recurso a textos e estudos genealógicos estrangeiros, vem confirmar que este seria um reparo com importância na aristocracia portuguesa e sobre o qual, terá achado o padre D. António, valeria a pena desvanecer quaisquer dúvidas quanto ao facto de não ser verdade.

Em relação a seu marido, D. Afonso mestre de Calatrava, escreve que «era filho delRey D. Joaõ II. de Aragaõ, havido em D. Leonor de Escovar, filha de Affonso Rodrigues, Alcaide môr da terra delRey D. Joaõ de Navarra, em Castella, da Casa de Escovar, de quem procedem ilustres Casas»492, permitindo-nos concluir sobre Torcy se ter, de facto, enganado na sua descrição.

De acordo com Torcy, teriam este reparo as seguintes pessoas:

■ D. José de Lancastre, 3.° conde de Figueiró; ■ D. Luís de Lancastre, 4.° conde de Vila Nova de Portimão; ■ D. António de Almeida, 2.° conde de Avintes; ■ D. Miguel de Almeida, governador da Índia; ■ Francisco Barreto de Menezes; ■ Francisco Nuno Álvares Botelho, 1.° conde de S. Miguel; ■ Francisco Carneiro de Sousa, 2.° conde da Ilha do Príncipe; ■ Bernardim de Távora e Sousa, governador de Angola; ■ Nuno de Mendonça, 2.° conde de Vale de Reis; ■ Lourenço de Mendonça e Moura, 3.° conde de Vale de Reis; ■ D. Rodrigo de Moura Teles, arcebispo de Braga, Primaz de Espanha; ■ D. Fernando Mascarenhas, 2.° marquês de Fronteira, 3.° conde da Torre; ■ D. Francisco Mascarenhas, 1.° conde de Coculim; ■ D. Luís Manuel de Távora, 4.° conde da Atalaia; ■ D. António Luís de Sousa, 2.° marquês de Minas.

490 D. António Caetano de Sousa, Historia Genealogica da Casa Real Portugueza, Livro XII, Primeira Parte pp. 424-425. 491 Ibidem, pp. 428-429. 492 Ibidem, pp. 431.

Pág. 99 Anexo 4

Apenas não nos foi possível confirmar o reparo em Francisco Álvares Botelho, 1.° conde de S. Miguel, que não descenderia de Leonor de Milão e Aragão, salientando-se que, inversamente, não aparece referido como tendo este reparo D. João de Almeida, 2.° conde de Assumar, o que estranhamos dado que o teria por sua mãe, Margarida André de Noronha, filha de D. Fernando Mascarenhas, 1.° conde da Torre.

2. AZAMBUJA

Luciano de Sousa, biógrafo de Diogo d’Azambuja, comenta com tanto de graça como de verdade, que «como frequentemente acontece, os genealogistas depois de reunirem uma enorme massa de nomes e de informações truncadas para reconstruir fidalgamente, até aos ultimos confins da história, a ascendencia de Diogo d’Azambuja, não conseguem acertar-lhe com o nome dos paes nem com a data de nascimento d’elle.»493 Esta realidade poderia ser transposta para todas as suspeitas de cristã-novice pois como já referimos, era o desconhecido, muitas vezes aliado à inveja de carreiras rápidas e bem-sucedidas, o principal motor dos rumores que corporizavam estes reparos.

Torcy refere que Diogo d’Azambuja «eust deux bastardos d’une femme inconnue nommée Leonor Botelha qui soit soupçonée de Judaisme.»494 Sabemos apenas que foi Cavaleiro da Ordem de Avis e que teve uma vida longa, sendo que em 1508, já quase octogenário, é mandado regressar à pátria - das suas inúmeras incursões expansionistas - pelo rei D. Manuel I, sobre o que terá comentado «que o Rei o achara moço para conquistar a cidade e velho para a defender»495. Em Portugal, foi feito membro do conselho do rei e vedor-mor da artilharia, morrendo dez anos depois, com 86 anos.

Nunca casou, tendo filhos de uma mulher, Leonor Botelho, com quem, defendem alguns genealogistas, se terá casado após o fim da obrigação de verificação do celibato por parte de membros da ordem. Desconhece-se, no entanto, a ascendência de Leonor Botelho, inclusivamente se seria ou não cristã-nova, sabendo apenas que posteriormente Monterroyo defendeu que teria casado não com esta Leonor, mas com Leonor Velha,

493 Luciano de Sousa, Diogo d'Azambuja. Lisboa: Imprensa Nacional, 1892, p. 8. 494 SERRÃO, Joaquim Veríssimo (ed.) - Uma Relaçao..., p. 79. 495 Cit. in Luciano de Sousa, D iogo., p. 9.

Pág. 100 Notas sobre os reparos irmã de Fernão Velho, comendador de Almorol496, contradições que muitas vezes são indicadoras de suspeitas de cristã-novice.

Apesar de Sousa apenas identificar duas filhas, Cecília e Catarina, e defender que a primeira teria «sido legitimada, ainda por João II, em 1486» levando em dote, quando casou, o morgado de seu pai, encontramos referência, nos índices do Geneall, a um filho, António, também com descendência. De qualquer forma, podemos concluir, face ao desconhecimento da linhagem de Diogo d’Azambuja, que a sua descendência terá sido amplamente beneficiada pelo estatuto, social e económico, alcançado por este e que, por aí, entrou na ascendência de algumas das principais Casas aristocráticas portuguesas.

De acordo com Torcy, teriam este reparo as seguintes pessoas:

■ D. João Mascarenhas, 5.° conde de Santa Cruz; ■ Garcia de Melo, monteiro-mor; ■ João da Silva, 2.° marquês de Gouveia.

D. Miguel de Noronha, 2.° duque de Linhares, não é referido por Torcy, apesar de ser primo co-irmão do marquês de Gouveia, referindo um duque de Linhares, talvez o 1.°, como não tendo reparos.

3. BOCANEGRA

Este será um dos mais conceituados reparos, reflexo também da importância que as Casas que o tinham foram ganhando ao longo do período de análise pelo seu investimento nas suas políticas de reprodução social: se para uns foi motivo de maledicência, para outros foi a possibilidade de se ligarem, ancestralmente, ao reputado núcleo de famílias que se relacionavam com os Távoras, das quais as Casas dos marqueses de Fontes e de Fronteira e dos condes de S. Miguel, Atouguia, Alvor e Sarzedas497 são bons exemplos.

496 Ibidem, p. 59 497 Relembramos que foi, precisamente, pelo casamento do 1 ° marquês de T ávora com uma filha do 1 ° conde de Sarzedas que este reparo entrou na Casa dos marqueses de Távora.

Pág. 101 Anexo 4

Torcy refere que «Francisco Idasques, appellé Bocca Negra, passa en Portugal avec Caterine, femme du Roy D. João tròisieme. On dit qu’il étoit cuisinier de cette princesse, comme tous les Espagnols qui viennent en Portugal sont ordinairement Juifs on l’acusoit aussi de l’être»498. Podemos comprovar por este texto que os fundamentos que consubstanciavam muitas destas suspeitas de judaísmo na ascendência destas Casas eram fracos e pobres e estavam longe de poderem ser comprovados factualmente. Ao falar da Casa da rainha D. Catarina de Áustria, Buesco escreve que «Quando entrara em Portugal, naturalmente a sua casa era sobretudo composta por castelhanos», lembrando que «o protagonismo de certas famílias que a acompanharam - como os Bocanegra, Velasquez e Aguilar - revelou-se marcado»499, o que mais uma vez parece confirmar a prática do puritanismo enquanto reacção à importância que Casas recém-criadas, de ascendência desconhecida, e também de Casas estrangeiras, principalmente espanholas, foram adquirindo na sociedade de corte portuguesa.

No seu estudo sobre a Casa da rainha D. Catarina, Sousa identifica um «Francisco Velasquez, camareiro, casado com Dona Cecília Boca Negra, também camareira»500 que julgamos terem sido os pais de Maria Bocanegra, casada com D. António de Lima, cuja neta D. Joana de Lima casou com D. Luís Lobo da Silveira e foram pais do 1.° conde de Sarzedas, Casa a partir da qual o reparo se propagou. Importa salientar que Sousa apenas os identifica como pais de «Filipe Boca Negra, pajem»501 e que muitas vezes o pai de Maria Bocanegra vem referido como Juan Velasquez de Aguillar, sendo que o cozinheiro que a rainha D. Catarina trouxe de Espanha no seu séquito se chamava João, o Galego. De qualquer forma, a ser verdade, explicaria a opção pelo apelido da sua filha e o bom casamento que realizou, sabendo-se ainda que existia, no séquito de D. Catarina, uma Maria Boca Negra, moça de câmara, que recebia 2.500 reis e tinha o domínio intermédio da escrita502.

De acordo com Torcy, teriam este reparo as seguintes pessoas:

■ Francisco Nuno Álvares Botelho, 1.° conde de S. Miguel;

498 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.) - Uma Relação..., 79. 499 Ana Isabel Buescu, Catarina de Austria (1507-1578), Infanta de Tordesilhas, Rainha de Portugal. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2007, p. 259. 500 Maria José Azevedo Santos, Assina quem sabe e lê quem pode. Leitura, transcrição e estudo de um rol de moradias da Casa da Rainha D. Catarina de Austria (1526). Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2004, p. 26. 501 Ibidem. 502 Ibidem, p. 123. Para a posterioridade, no entanto, ficou a imagem de que os Távoras descendiam de um cozinheiro Bocanegra.

Pág. 102 Notas sobre os reparos

■ D. Luís Peregrino de Ataíde, 8.° conde de Atouguia; ■ D. Fernando Mascarenhas, 2.° marquês de Fronteira; ■ D. Francisco Mascarenhas, 1.° conde de Coculim; ■ D. João Rodrigo de Sá Menezes, 2.° marquês de Fontes; ■ D. Rodrigo Anes de Sá Almeida e Menezes, 3.° marquês de Fontes; ■ D. Luís da Silveira, 2.° conde de Sarzedas; ■ D. Miguel da Silveira, alcaide da Guarda; ■ António Luís de Távora, 2.° marquês de Távora.

Torcy não refere, no entanto, o 3.° conde da Ericeira, D. Luís de Menezes, que teria este reparo pela mãe, D. Margarida de Lima, o 2.° marquês de Minas, D. António Luís de Sousa, pelo lado da sua mãe, D. Eufrásia Filipa de Noronha, neta de D. Joana de Lima, e a Casa dos condes de S. Vicente - através do seu herdeiro, o 3.° conde -, que adquiriria este reparo pelo casamento do 2.° conde por casamento, Miguel Carlos de Távora, sem reparos, com Maria Caetana da Cunha, herdeira da Casa dos condes de S. Vicente e neta paterna de D. Francisca de Lima.

4. Granada

Tal como a maior parte dos reparos que ora identificamos, também o de Granada foi comentado no seu tempo, sendo este o único a ter a particularidade de juntar não apenas a mancha de judaísmo, mas também de mourismo, apesar de, como refere Torcy, a de judaísmo ser considerada «la plus considerable»503. Já para a corte da rainha D. Catarina, mulher de D. João III, existem relatos de reacções menos positivas à permanência de D. Madalena de Granada, camareira da rainha, e que foi quem trouxe o reparo para Portugal. Buescu relata um conflito que existiu entre esta e D. Maria de Menezes, filha de João Rodrigues de Sá de Menezes, sobre uma questão de precedências no serviço à rainha que acabou com a dispensa de D. Maria de Menezes no seu serviço. A rainha terá comunicado isto ao pai da jovem, lembrando-lhe que «D. Madalena de Granada era filha de rei», que lhe terá respondido «Esses reis senhora, trazemos nós cá

503 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.), Uma Relaçao..., p. 80.

Pág. 103 Anexo 4 pelas nossas estrebarias», sendo que, depois da rainha ripostar, lhe terá ainda respondido «Vossa Alteza fala-me como estrangeira»504.

D. Madalena era filha de Juan de Granada, meio-irmão deBoabdil, o último rei de Granada, que à data da conquista pelos reis católicos foiagraciado com títulos de nobreza e serviu os reis católicos505. D. Madalena vem para Portugal, como dissemos, no séquito da rainha D. Catarina, e casou com D. Luís de Lancastre, 1.° comendador-mor de Avis, filho de D. Jorge, duque de Coimbra e neto, por bastardia, do rei D. João II. Sabemos também que, no exercício da sua função de camareira, recebia 6.750 reis, possuindo também o domínio da escrita506, reflexo da educação fidalga de que terá beneficiado após o acolhimento dos reis católicos.

De acordo com Torcy, teriam este reparo as seguintes pessoas:

■ D. Veríssimo, de Lancastre, arcebispo de Braga e Grande Inquisidor; ■ D. José de Lancastre, 3.° conde de Figueiró; ■ D. Luís de Lancastre, 4.° conde de Vila Nova de Portimão; ■ D. João de Lancastre, governador de Angola e do Brasil; ■ D. Lourenço de Lancastre, vedor do infante; ■ D. Francisco de Castro, 17.° almirante de Portugal; ■ Tristão da Cunha, 1.° conde de Povolide; ■ D. Luís Manuel de Távora, 4.° conde da Atalaia; ■ Fernão Teles de Menezes e Castro, 3.° conde de Unhão; ■ D. Vasco Lobo, 2.° conde de Oriola e 9.° barão do Alvito.

Destes apenas não conseguimos confirmar o reparo no 4.° conde da Atalaia. Também não refere o 3.° conde de Castelo Melhor, Luís de Vasconcelos e Sousa, nem o 2.° marquês de Nisa, D. Francisco Luís Baltazar da Gama, ambos descendentes de D. Madalena de Granada pelo casamento de uma filha desta, D. Maria de Lancastre, com João Gonçalves da Câmara, o 2.° conde da Calheta. Esta confusão poderá ter-se dado porque o terceiro conde também casa com uma D. Maria de Lancastre, com este reparo, de quem, no entanto, não tem descendência.

504 Ana Isabel Buescu, Catarina de Áustria, pp. 222-223. 505 Ibidem, p. 223. 506 Maria José Azevedo Santos, Assina quem sa b e ., p. 121.

Pág. 104 Notas sobre os reparos

5. Zuniga

Ao contrário dos reparos que descrevemos anteriormente, não conseguimos encontrar para este, além das referências de Torcy, qualquer informação que nos ajudasse a enquadrar a existência do mesmo. Diz-nos Torcy que «Inez de Zuniga étoit bastarde du Marquis de Mirabel, et d’anne de Crasto soupçonée d’estre Juive ou mourisque. le Marquis de Marialve a cette tache, parce que son trisajeul épousa cette Inez»507.

Certo é que se no Pe. D. António Caetano de Sousa nada encontramos sequer em relação à bastardia, em Felgueiras Gayo esse facto já vem referido, confirmando este que «D. Inês de Zuniga filha B. de D. Fradique de Zuniga Sotomaior de Alconchel, e de D. Ana de Castro Montanhesa filha de D. João de Castro, e de D. Maria Gonçalves»508.

Para Sousa, no entanto, a história é diferente. Sem qualquer referência à bastardia ou a questões de limpeza de sangue, conclui apenas que era «Anna de Castro, filha de João Serrano, natural de Avila, Mordomo do Bispo de Placencia, e de Maria de Castro, Camareira da Duqueza de Bejar»509, não evidenciando qualquer rumor ou suspeita de cristã-novice.

Inês de Zuniga seria mãe de D. António de Menezes, pai do 2.° conde de Cantanhede e avó de D. António Luís de Menezes, 1.° marquês de Marialva, e também mãe de D. Joana de Menezes, casada com D. João de Azevedo, almirante de Portugal.

Assim, e de acordo com Torcy, teriam este reparo as seguintes pessoas:

■ D. Francisco de Castro, 17.° almirante de Portugal; ■ D. Pedro António de Menezes, 2.° marquês de Marialva; ■ D. José de Menezes, 1.° conde de Viana.

507 Joaquim Veríssimo Serrão (ed.) - Uma Relação..., p. 82. 508 Manuel José da Costa Felgueiras Gayo, Nobiliário de Familias de Portugal. Braga: Oficinas Gráficas da «PAX», 1938, Tomo VI, p.703 509 D. António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portugueza. Lisboa: Na oficina Sylviana, da Academia Real, 1738, p. 160

Pág. 105

ANEXO 5: Alguns contributos para o estudo da Confraria dos Escravos do Santíssimo Sacramento de Santa Engrácia

1. Transcrição da Memória para a História das Irmandades e Confrarias da cidade de Lisboa510

Ano Relação de Confrades

1630 "Nos abaixo assinados juramos aos Santos Evangelhos em que pomos as mãos de servir a Nosso Senhor nesta Confraria intitulada Escravos do Santíssimo Sacramento, e guardaremos o compromisso que para ella se fez inteiramente como nelle se contem e nunca em tempo algum [notaremos] que se extinga nem diminua; antes procuraremos ampliá-lo em serviço de Nosso Senhor e lhe pedimos nos receba por seus Escravos iluminados para o servirmos este anno e os mais que nos nomearem com toda a prefeição em consideração do desacato que os sacrílegos ereges apóstatas fizeram nesta Igreja [...] de 15 para 16 de Janeiro deste anno de seiscentos e trinta, e de como a si o prometemos e juramos assinando este termo que fez nosso Irmão D. António da Silva que serve de Escrivão em Lisboa na Igreja de Santa Engrácia em 19 de Mayo de 1630.

Neste anno o Conde dos Arcos foi eleito Luís da SIlva."

1633 "Em 15 de Janeiro de 1633 foi eleito Pedro da Cunha por morte de Simão de Mello.

510 BNP, COD. 170, fls. 23-32. [Extrato] Livro da Criação dos Irmãos da Confraria intitulada do Santíssimo Sacramento cita na Igreja de Santa Engrácia. Em dia do Espírito Santo que foi a 19 de Mayo de 1630.

Pág. 107 Anexo 5

Ano Relação de Confrades

Em 18 de Janeiro de 1633 foram eleitos o Governador Conde de Castro [Daire], e Manuel da Cunha, Inquisidor, D. António Pereira, Presidente do Desembargo do Paço, e Pedro da Cunha e o Alcaide-mor de Sintra, e Henrique Correia da Silva e o conde D. Diogo da Silva e Jorge de Mello e D. Álvaro da Costa e o conde de Castelo Novo e Fernão de Sousa e António Telles.

Escrivão Manuel da Cunha; Tesoureiro: Fernão de Sousa; Procurador: António Teles; Escravo dos Escravos: D. António da Silva"

1634 "Em 18 de Janeiro de 1634 foram eleitos o Príncipe Nosso Senhor o Inquisidor Geral D. Francisco de Castro, o Conde de Miranda, e Tristão de Mendonça Furtado, e D. Lourenço de CastelloBranco, D. António de Alcáçova, D. Álvaro de Abranches, Martim Correa da Silva, o conde de Castelo Novo D. Fernão Mascarenhas, D. Antão de Almada, Lourenço Pires Carvalho, o conde de Atouguia.

Escrivão: conde de Miranda; Tesoureiro: conde de Atouguia; Procurador: D. Álvaro de Abranches; Escravo dos Escravos: D. António da Silva."

1635 "Em 18 de Janeiro de 1635 foram eleitos a Sr.a Princesa Margarida o conde de Cantanhede, o Barão de Alvito, Tomé de Sousa, D. João de CastelloBranco, Francisco de Mendonça, D. Tomás de Noronha, Luís da Cunha, D. Luís de Almada, Luís da Silva, D. Manuel de Castro.

Escrivão: conde de Cantanhede; Tesoureiro: D. Tomás de Noronha; Procurador das demandas: Francisco de Mendonça Furtado; Superintendente dos foros: D. João de Castelo Branco andador com o título de Escravo dos Escravos do Santíssimo Sacramento na forma do Compromisso D. António da Silva."

1636 "Em 18 de Janeiro de 1636 foram eleitos o arcebispo de Évora, o Arcebispo de Lisboa, António de Mendonça, Comissário da Cruzada, Diogo de Sousa, Deputado do Santo Ofício, D. João Lobo de Faro, Fernão Martins Freire, Senhor de Bobadela, o Marques de Porto Seguro, Tristão da Cunha de Menezes, Ruy Fernandes de Almada, Provedor da Casa da Índia, D. Francsico de Menezes, D. Álvaro de Portugal.

Pág. 108 Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Ano Relação de Confrades

Escrivão: António de Mendonça; Tesoureiro: Diogo de Sousa; Procurador das Demandas: Fernão Martins Freire; Contador e Tesoureiro das Obras: D. António da Silva"

1637 "Em 18 de Janeiro de 1637 foram eleitos D. António Luís de Menezes, D. João de Castelo-Branco, João da Silva Tello, Luís Francisco de Oliveira, Luís de Saldanha, D. Lucas de Portugal, Francisco Moniz, D. Francisco de Faro, D. João de Almeyda, Gaspar de Sousa, Ayres de Saldanha, o conde de Penaguião.

Escrivão: D. João da Silva Tello de Menezes; Tesoureiro: D. António Luís de Menezes; Procurador: D. João de Almeida; e para Andador D. António da Silva."

1638 "Em o anno de 1638 falta o acento dos eleitos, e tem o juramento , no qual assinam João da Silva Tello de Menezes, que era Escrivão, o Marques que entendo ser de Porto Seguro, o conde de Santa Cruz, D. António de Almeyda, o conde de Villa Franca, Francisco Soares, Lourenço da Silva, Ruy Lourenço de Távora, D. Pedro de Almeyda, António de Saldanha, o conde de S. Miguel, João de Saldanha da Gama, o conde de Linhares.

Escrivão: conde de Vila Franca; Tesoureiro: Francisco Soares; Procurador: António de Saldanha"

1639 "No anno de 1639 em 18 de Janeiro se achou serem falecidos dos cento três irmãos e em seu lugar foram eleitos, o Marques de Gouveia, e D. João de Sáa porem não elenca quaes foram os que morreram e se escolheram para servirem nesste anno da primeira Mesa os que se achavam nesta cidade, o conde de S. João, o conde Capitão, D. Gonçalo Coutinho, D. António da Silva, e da segunda para cumprimento dos doze Álvaro Pires de Távora, D. Jeónimo de Ataíde, D. João Mascarenhas, Fernão Cabral, e João Gomes da Silva.

Escrivão: Jerónimo de Ataíde; Tesoureiro: Álvaro Pires Távora; Procurador: D. João Mascarenhas; para correr com as obras D. Fernão Cabral Chanceler-mor"

Pág. 109 Anexo 5

Ano Relação de Confrades

1640 "Em 18 de Janeiro de 1640 se elegeo em lugar do conde de Atouguia que Deus perdoe foi eleito seu filho o conde de Atouguia. Seu filho D. Jerónimo de Ataíde e se elegeram da Mesa mais antiga D. Miguel de Almeyda, o conde de Vila Nova, António Tavares, e o conde de Odemira, Fernão Telles, D. Pedro de Alcáçova, António Luís de Távora, conde de S. João, estes da terceira Mesa de 1632 e da de 1633 D. António Pereira, António Telles, o conde da Castanheira, Jorge de Mello.

Escrivão: D. Miguel de Almeida; Tesoureiro: o conde de Vila Nova; Procurador: António Teles; Escravo dos Escravos: António de Alcáçova."

1641 "Em 18 de Janeiro de 1641 por se acharem falecidos cinco irmãos a saber: o conde de Castelo Novo, D. Lourenço Coutinho, D. Álvaro de Portugal, D. Gonçalo Coutinho, Álvaro Pires de Távora e de se haver de eleger em lugar do Príncipe de Castela ao Príncipe Nosso Senhor e se fez assim e foram eleitos: o Príncipe de Portugal no dito lugar o marquês de Ferreira, D. Pedro de Menezes, D. Luís de Almeyda, o Monteiro-mor e dos velhos serviram o visconde, o conde dos Arcos, Gonçalo Pires Carvalho, D: Álvaro da Costa, Capellão mor, Pedro da Cunha, Pedro da Cunha, Pedro Cunha Vedor.

Escrivão: D. Álvaro da Costa, capellão mor; Tesoureiro: Gonçalo Pires Carvalho; Procurador: D. Luís de Almeyda; Escravo: Jorge de Mello."

1642 "Em 18 de Janeiro de 1642 eram falecidos o Conde de Odemira, o Marquês de Villa Real, Tristão de Mendonça, Lourenço Pires Carvalho - entraram o Conde de Unhão, Estevão da Cunha, Cristóvão de Távora, Francisco de Lucena, o Conde de Vimioso, Sebastião César, o Conde da Torre, Ruy de Moura Telles.

Em 9 de Março de 1642 por morte de Cristóvão de Távora foi eleito o Conde de Valle de Reis.

Em 3 de Agosto do anno em lugar de Dom Lourenço de Castelo-Branco foi eleito Martim Affonso de Lucena.

Pág. 110 Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Ano Relação de Confrades

Nota lateral: Ausentes em Castella D. Francisco de Menezes, Luís da Silva e se [...] os seus lugares reputandos dos ditos e da Princesa Margarida."

1643 Em 1643 eram falecidos o Arcebispo de Lisboa, António Tavares, Dom Álvaro da Costa capelão-mor, conde de Unhão, conde de Basto - E por estarem ausentes e seus bens confiscados o Marques de Castelo Rodrigo, o Marques de Porto Seguro, o Conde de Linhares. Foram eleitos António Telles, D. António de Lencastre, o Barão do Alvito, Luís César, Francisco de Mello, Tristão da Cunha, Pedro Vieira da Silva, Dom João de Castro, e para completar o numero de cento, o Conde de Castelo Melhor, Luís de Mello, o Conde de Redondo.

1644 "Em 18 de 1644 eram falecidos Francisco de Mendonça, Francisco de Lucena, o Arcebispo de Évora D. João Coutinho.

Em de do dito mes e anno se fez hum acento de privarem do lugar a Martim Afonso de Lucena pella infamia em que encorreo por seu Rey e [...] e em seu lugar foi eleito António Cavide.

Em 6 de Novembro de 1644 se fez mesa por ser falecido o Conde de Cantanhede. Em 2 de Dezembro do dito anno era falecido D. Antão de Almada."

1645 Em 18 de Janeiro de 1645 eram falecidos João de Saldanha da Gama, Ayres de Saldanha, D. António Pereira e Lourenço da Silva.

1646 Em 1646 a 18 de Janeiro eram falecidos o Marques de Ferreira, Henrique Correa da Silva, D. Pedro de Alcáçova e Jerónimo de Mello é ausente provido no Bispado de Astorga D. Bernardo de Ataíde.

1647 Em 18 de Janeiro de 1617 eram falecidos o Bispo Conde, Gonçalo Pires Carvalho, e Fernão Cabral. Neste anno de 1647 foi eleito por aclamação o Infante D. Affonso depois Rey.

Pág. 111 Anexo 5

Ano Relação de Confrades

1648 Em 18 de Janeiro de 1648 D. João de Castelo Branco, D. Carlos de Noronha, o Conde dos Arcos, o Conde de Alegrete, o Conde de Penaguião, o Conde de Cantanhede e D. João de Castro. Em 31 de Agosto de 1648 era falecido João Gomes da Silva foi eleito o Conde do Prado.

1649 Em 9 de Novembro de 1649 era falecido o visconde. Em 1649 foi eleito o Infante D. Pedro.

1650 Em 18 de Janeiro de 1650 por impedimentos que houve se juntaram a 27 de Agosto e se achou serem falecidos no anno passado Marques de Aguiar, o Bispo do Brasil, o Conde de Feira, o Bispo do Algarve, o Conde de Serem e Tomé de Sousa.

1651 Em 18 de Janeiro de 1651 eram falecidos Fernão Martins Freire, Tristão da Cunha, Francisco Soares. Escusou-se da Irmandade D. Pedro de Lencastre.

1652 Em 18 de 1652 eram falecidos Conde de Santa Cruz, o Conde João da Silva Tello, o Conde de Unhão, o Monteiro-mor Francisco de Melo, António Teles de Silva, D. Leão de Noronha e D. António da Silva.

1653 Em 18 de Janeiro de 1653 eram falecidos o Marquês de Montalvão, Pedro de Mendonça, o Reposteiro-mor, D. Rodrigo de Mello, o Inquisidor Geral.

1654 Em 1654 faleceu o Príncipe Nosso Senhor e o Conde de S. João

1655 Em 1655 faleceram o Barão de Alvito, o Estribeiro-mor Pedro Guedes e António de Saldanha.

1656 Em 1656 eram falecidos Tristão da Cunha de Ataíde, Domingos Dias Preto, o Conde de Vimioso, Francisco Moniz, o Conde de Redondo.

1657 Em 1657 eram falecidos D. João Lobo de Faro, o Conde Capitão, o Conde de Sarzedas, o Conde de Abrantes e S. Majestade [..]

1658 Em 1658 eram falecidos Pedro da Silva de Faria, D. Francisco de Almeida, Fernando de Castro, Pedro da Cunha, D. Rodrigo de Lencastre D. António de Alcáçova.

1659 Em 18 de Janeiro de 1659 eram falecidos nove irmãos e não os nomeia senão os que elegem - no dito anno faleceo D. João de Lencastre e D. Manuel de Eça.

Pág. 112 Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Ano Relação de Confrades

1660 Em data do anno de 1660 era falecido D. João de Meneses e se houve por morto a D. Fernando Teles de Faro por se passar para Castela - neste anno faleceram D. Álvaro de Abranches e o Conde da Feira, e elegeram os irmãos em 6 de Julho.

1661 Em data do anno de 1661 era falecido D. Luís de Almada e tinham passado para Castela o Duque de Aveiro e em seu lugar foi eleito o duque de Cadaval e D. António de Lencastre.

1662 Em 18 de Janeiro de 1662 eram falecidos D. Nuno de Ataíde, o Conde de Odemira, D. João de Almeyda, Francisco de S. Payo.

1663 Em 18 de Janeiro de 1663 eram falecidos D. Pedro de Meneses, Bispo eleito do Porto, Estevão da Cunha, Bispo eleito de Miranda e Luís da Silva Telles.

1664 Em 18 de Janeiro de 1664 eram falecidos D. Francisco de Noronha, João Rodrigues de Sousa, o Conde de Redondo - em 1664 faleceo o Conde de Soure a 22 de Janeiro.

1665 Em 18 de Janeiro de 1665 eram falecidos D. João de Sousa da Silveira e Pedro Severim de Noronha.

1666 Em 18 de Janeiro de 1666 eram falecidos o Conde de Atouguia, D. Rodrigo da Cunha, Jorge de Mello.

1667 Em 18 de Janeiro de 1667 eram falecidos o Conde de Villa Nova, Martim Fonseca da Silva, Gaspar de Faria Severim, António de Sousa Tavares, Luís César, Pedro César de Meneses. Neste anno faleceo o Marques de Sande em Setembro.

1668 Em 1668 não faltou irmão para a eleição de 18 de Janeiro. Depois faleceo o Conde de Santa Cruz D. João Mascarenhas em Fevereiro, a 16, sahio eleito João da Silva Tello filho do conde de Aveyras e tomou posse a 20 de Setembro.

1669 Em 1669 faleceram Luís de Saldanha, D. Diogo de Meneses e Francisco Correa da Silva - em este anno faleceu o Conde da Castanheira.

1670 Em 18 de Janeiro de 1670 eram falecidos o Conde de S. Vicente vice-rei da India, o Conde Dos Arcos, Manuel de Sousa da Silva, o Bispo de Targa, Luís de Sousa Copeiro-mor. Luís de Sousa foi eleito no lugar do Bispo de Targa e o Conde da Ericeira D. Luís de Meneses.

1671 Em 18 de Janeiro de 1671 era falecido D. Fradique da Câmara. Neste anno foi eleito Miguel Carlos de Távora. Neste anno em Outubro a 16 se fez eleição pela morte do Conde de S. Lourenço.

Pág. 113 Anexo 5

Ano Relação de Confrades

1672 Em 18 de Janeiro de 1672 eram falecidos o Conde de Avintes, o Bispo de Lisboa, Luís de Mello Porteiro-mór. Neste anno faleco João de Saldanha e se fez eleição a 16 de Julho.

1673 Em 18 de Janeiro de 1673 eram falecidos Sebastião César de Meneses, Luís da Cunha de Ataíde, o Conde de Vila Franca D. Rodrigo da Câmara, o Conde de Aveiras Luís da Silva e o Marques de Távora Luís Alvares.

1674 Em 18 de Janeiro de 1674 eram falecidos o Conde da Ribeira, D. Affonso de Faro, Jorge Furtado. Nesta eleição foi [...] o Conde de Soure eleito.

1675 Em 18 de Janeiro de 1675 eram falecidos o Marques de Cascaes, o Marques de Minas, o Visconde de Asseca, Christóvão de Mello, D. Pedro Mascarenhas, Francisco de Faria Almotacé-mor, Luis Freire, Conde de Vila Verde, Fernão Mascarenhas, Francisco Mendonça - em 28 de Novembro do dito ano por morte do Marques de Marialva foi eleito seu filho.

1676 Em 18 de Janeiro de 1676 eram falecidos o Arcebispo de Lisboa D. António de Mendonça, D. Rodrigo de Menezes, o conde de S. Tiago, Antão de Faria, D. João de Castro, o Conde de Pombeiro.

1677 Em 18 de Janeiro de 1677 eram falecidos Pedro Vieira da Silva, Bispo de Leiria, o Conde de Santa Cruz, D. Francisco Rolim, Rui de Moura Teles, Marques de Nisa.

1678 Em 18 de Janeiro de 1678 eram falecidos o Marques de Fontes, o Conde de Vila Flor, D Pedro da Costa. Em 4 de Julho faleceu D. Vasco Mascarenhas, conde de Óbidos, como se vê do acento de 10 do dito mês e anno.

1679 Em 18 de Janeiro de 1679 eram falecidos D. Diogo Sousa, Arcebispo de Évora, Gil Vaz Lobo Freire, Luís de Saldanha de Albuquerque, D. Vasco Mascarenhas, conde de Óbidos, Francisco de Miranda Henriques, Rui Fernandes de Almada e Rui de Figueiredo.

1680 Em 18 de Janeiro de 1680 não era falecido nenhum.

1681 Em 18 de Janeiro de 1681 era falecido Salvador Correia de Sá, e a cinco se lhe elegeo outro no lugar que elle tinha. Depois na eleição de 18 do dito mês se acharam vagos os seguintes, o Conde de Soure, D. João de Sousa Prior do Crato, D. Pedro de Almeyda, Viso Rey da India, Tristão da Cunha Mestre de Campo General de Trás os Montes, Alexandre de Sousa Freire.

1682 Em 18 de Janeiro de 1682 eram falecidos Simão de Vasconcelos e Sousa, Marques de Fronteira, o Conde de Vimioso

Pág. 114 Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Ano Relação de Confrades

1683 Em 18 de Janeiro de 1683 era falecido António de Sousa de Macedo

1684 Em 18 de Janeiro de 1684 era falecido D. Pedro de Almeyda

1685 Em 18 de Janeiro de 1685 eram falecidos Manuel de Magalhães de Meneses, o [Capitão?] da Guarda Martim Afonso de Melo, D. Lucas de Portugal.

1686 Em 18 de Janeiro de 1686 não era falecido nenhum.

1688 Em 18 de Janeiro de 1688 eram falecidos o Conde de S. Miguel, o Conde de Unhão, D. João da Gama e o Conde de Figueiró.

1689 Em 18 de Janeiro de 1689 eram falecidos Francisco Barreto, D. Ignácio Mascarenhas

1690 Em o anno de 1690 falta acento da eleição e está o do juramento feito a 18 de Março do dito anno - em o dito dia ficaram [...] oficiais [...]. 1691 Em o anno de 1691 também falta acento e está o do juramento feito a 3 de Abril do dito anno, e a eleição dos oficiais a 20 do dito mês.

1692 Em o anno de 1692 também falta acento do dia 18 de Janeiro, e tem o juramento e a eleição dos oficiais, e huma declaração a 22 de Setembro em que diz que no anno passado não fizera acento o que para as eleições futuras faria grande confusão. Declara os que foram eleitos e que vagara um lugar e que entrara em um lugar vago o Sr. Infante D. Francisco.

1693 Em 18 de Janeiro de 1693 eram falecidos o Cardeal de Lencastre, o Conde de Val de Reys, D. Miguel da Silveira, Pedro de Melo, D. Diogo Fernandes de Almeida. Neste anno foi eleito o Duque de Cadaval D. Luís

1694 Em 1694 falta de acento tem o pb juramento e de oficiais.

1695 Em o anno de 1695, não fala mais que na eleição e não de que se provesse lugar vago

1696 Em 18 de Janeiro de 1696 eram falecidos Manuel de Melo Prior do Crato e D. Marcos de Noronha

1697 Em 1697 a 18 de Janeiro eram falecidos D. Diogo de Almeyda, o Conde de Pontével e o Conde de Pombeiro. E foi eleito o Sr. Infante D. António.

Pág. 115 Anexo 5

Ano Relação de Confrades

1698 Em 18 de Janeiro de 1698 eram falecidos D. João de Castro Teles, D. Manuel de Sousa, Diogo de Mendonça Furtado. Neste anno foi eleito o Inf. D. Manuel e o Cardeal da Cunha.

1699 Em 18 de Janeiro de 1699 eram falecidos Manuel de Melo de Castro, João de Vasconcelos e Sousa Deão da Sé de Lisboa, Henrique Correa da Silva, D. Diogo de Faro, nesta anno entraram o Marques de Cascaes D. Manuel de Castro o conde de Atalaya D. João Meneses. Neste anno a 20 de Novembro era falecido Ayres de Sousa e Castro.

1700 No anno de 1700 a 18 de Janeiro se não fez acento depois houve quem o declarou e faleceram o conde da Ericeira D. Fernando de Menezes, João de Melo da Silva, o Conde da Feira

1701 Em 18 de Janeiro de 1701 não houve lugares vagos.

1702 Em 18 de Janeiro de 1702 eram falecidos o Cardeal de Sousa, Simão da Cunha.

1703 Em 18 de Janeiro de 1703 eram falecidos António Luís Conde Almotacé-mor, o Conde da Ponte Garcia de Melo

1704 Em 18 de Janeiro de 1704 eram falecidos D. João de Sousa, Nuno da Silva Teles, Bernardim de Távora, Pedro Sanches Farinha, D. Nuno Álvares de Portugal e o Conde de Vila Nova.

1705 Em 18 de Janeiro de 1705 eram falecidos o Conde de Vila Flor, D. Cristóvão Manoel e D. Bernardo de Noronha.

1706 Em 18 de Janeiro de 1706 eram falecidos José de Vasconcelos, Deão de Lisboa, o Conde Barão, o Inquisidor Geral D. Jorge de Lencastre. Neste anno por acento de 28 de Novembro era falecido D. Manoel da Câmara.

1707 Em 18 de Janeiro de 1707 eram falecidos Garcia de Melo Monteiro-mor, o Conde de Sarzedas, D. Luis da Silveira, D. Pedro de Sousa. Nesta eleição por El Rey Nosso Senhor passar a ser Protetor da Irmandade se proveu o seu lugar. Em 5 de Julho do mesmo ano era falecido o conde de Redondo e se proveu o seu lugar no Secretário Diogo de Mendonça Corte-Real. Em 20 de Novembro do dito anno era falecido o Conde de Val de Reys Lourenço de Mendonça e foi provido no seu lugar D. Rodrigo de Melo, filho do duque.

1708 Em 18 de Janeiro de 1708 eram falecidos D. João de Lencastre, o Marques de Nisa, Mendo Foyos Pereira.

1709 Em 1709 não se acha o acento de 18 de Janeiro mas outros de oficiais.

Pág. 116 Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Ano Relação de Confrades 1710 Também não tem acento

1711 Em 18 de Janeiro de 1711 eram falecidos o Conde de Alvor, o Conde da Castanheira, o Arcebispo de Lisboa D. João de Sousa. Em 15 de Abril do dito anno se [ . ] o lugar de D. Francisco de Sousa.

1712 Em 18 de Janeiro de 1712 era falecido o Marquês de Marialva

1713 Em 18 de Janeiro de 1713 eram falecidos Francisco de Melo Monteiro-mor, o Conde de Atouguia, D. Fernando de Almeida

1714 Em 18 de Janeiro de 1714 eram falecidos o marquês de Arronches, o Conde de Viana, D. Rodrigo de Mello, filho do duque, Cristovão de Almada, Manuel Galvão. Neste anno entrou o o Principe Nosso Senhor na Irmandade. Era o Sr. D. Pedro que já era falecido a 14 de Novembro do dito ano em entrou no seu lugar o Sr. D. José.

1715 Em 18 de Janeiro de 1715 eram falecidos o Conde de Valadares D. Miguel Luís de Menezes, D. Felipe de Sousa, João Furtado de Mendonça, Diogo Luís Ribeiro Soares. Nesta mesma foi eleito o Infante D. Miguel filho de El Rey D. Pedro. Em 11 de Julho do dito anno era falecido Luís de Miranda e foi provido o seu lugar

1716 Em 18 de Janeiro de 1716 eram falecidos o Bispo do Algrave, o Arcebispo de Évora, o Conde de Avintes, D. Lourenço de Lencastre. Nesta ocasião foi provido o Sr. D. José filho de El Rey D. Pedro

1717 Em 18 de Janeiro de 1717 eram falecidos D. Francisco da Silveira, Álvaro da Silveira, D. Luís Manoel

1718 Em 18 de Janeiro de 1718 eram falecidos o Bispo de Coimbra D. António de Vasconcelos. Em 6 de Abril do dito ano era falecido o Conde dos Arcos D. Marcos de Noronha

1719 Em 18 de Janeiro de 1719 eram falecidos D. João Rolim de Moura, o Conde de S. Lourenço, Bernardo de Vasconcelos, o Conde Meirinho-Mor

1720 Em 18 de Janeiro de 1720 era falecido Francisco de Melo

1721 Em 18 de Janeiro de 1721 eram falecidos o Conde de Castellomilhor, o Marquês de Cascaes, o Marquês de Távora, Luís César de Meneses, Bartolomeu de Sousa Mexia

Pág. 117 Anexo 5

Ano Relação de Confrades

1722 Em 18 de Janeiro de 1722 eram falecidos Luís de Saldanha da Ganam Marquês de Minas

1723 Falta o asento de dia 18 de Janeiro, e esta o termo do juramento feito a 22 de Março do dito ano.

1724 Em 18 de Janeiro de 1724 eram falecidos o Marquês de Gouveia D. Martinho Mascarenhas, o Conde da Ribeira D. Luís Manuel da Câmara. E já a 17 do dito mês e anno se tinha feito eleição do lugar do Infante D. Miguel por ser falecido

1729 Está em falta e a 11 de Março se fez eleição do lugar de D. Lourenço de Almada por ser falecido

1730 A 18 de Janeiro eram falecidos o marquês de Fronteira D. Fernando Mascarenhas D. João Mascarenhas

1731 Em 18 de Janeiro de 1731 eram falecidos o Conde de Avintes D. Luís de Almeida, o Conde de Sarzedas D. Rodrigo da Silveira, Pedro Sanches Farinha Francisco de Almada

1732 Falta o asento da eleição e tem o termo feito em 26 de Janeiro do anno

1734 Está em falta o acento. Porem a 16 de Janeiro foi provido o lugar de José Pedro da Câmara

2. Relações familiares dos Tesoureiros e Escrivães da Confraria dos Escravos de Santa Engrácia (1690 - 1716)

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

25-11­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: Francisco de Monteiro-mór do Reino. Teria o reparo de 1690 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Melo (n. 1659). Azambuja pelo avô paterno. A avó Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da materna, Luísa de Mendonça, era irmã de Cerveira/ Irmandade dos escravos do Helena de Mendonça, casada com o Administração Santíssimo Sacramento de Santa Trinchante da Casa Real Pedro da Cunha, da Casa 1392- irmão da 1 .a condessa de Vilar Maior. Do

511 Não procedemos à validação das fontes, tendo apenas consultado, online, os descritivos de cada uma delas, que continham as informações que precisávamos para a elaboração desta relação.

Pág. 118 Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

1842/ Caixa 21/ Engrácia, da esmola que deu para lado da mãe descendia da Casa puritana N.° 74512 obras da igreja nova. dos Senhores de Palma (Mascarenhas). Casa duas vezes: a primeira com uma filha do 1.° marquês de Alegrete; e a segunda com uma filha do 1.° marquês de Angeja.

Escrivão: Não refere n.a.

31-05­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: D. Francisco Almirante de Portugal. Teria os reparos de 1691 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila de Castro (n. c. 1650, m. Pinheiro e Zuniga pelo pai e Granada e Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da 1693). Pinheiro pela mãe. Era primo dos condes Cerveira/ Irmandade dos escravos do de Figueiró e de Vila Nova de Portimão e Administração Santíssimo Sacramento de Santa casado com uma filha do porteiro-mór. O da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para filho H. casa na Casa dos condes de 1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. Castelo Melhor, com uma sobrinha do 6.° N.° 79 conde da Calheta, casado com uma filha do 1.° marquês de Angeja.

Escrivão: Luís Saldanha Do Conselho da Guerra. Teria os reparos da Gama (n. c. 1640, m. de Caiada, Torres e Bobadilha. Casa com 1721) uma filha do 1.° marquês de Sande, irmã do 2.° conde da Ponte. Não tem qualquer relação familiar com famílias puritanas.

08-01­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: Aires de Deputado da Junta dos Três Estados. Não 1693 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Sousa de Castro (n. c. teria reparos, apenas identificadas as Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da 1660, m. 1699) mesmas bastardias que o marquês de Cerveira/ Irmandade dos escravos do Arronches. Casa com uma filha de um filho

512 Todas as fontes poderão ser identificadas, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, pela cota: Viscondes de Vila Nova de Cerveira, Cx. e n.° (neste caso, Cx. 21, n.° 74), ou pelo Código de Referência PT/TT/VNC/B/Cx. e n.° (neste caso PT/TT/VNC/B/21074).

Pág. 119 Anexo 5

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

Administração Santíssimo Sacramento de Santa segundo do 2.° conde de Castelo Melhor, da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para com os reparos de Caiada e Granada. De 1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. famílias puritanas, casa na Casa dos condes N.° 73 de Castelo Melhor.

Escrivão: Não refere

30-05­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: Luís Igual ao descrito como Escrivão em 1691 1699 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Saldanha da Gama (n. c. Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da 1640, m. 1721) Cerveira/ Irmandade dos escravos do Escrivão: Aires de Sousa Igual ao descrito como Tesoureiro em 1693 Administração Santíssimo Sacramento de Santa e Castro (n. c. 1660, m. da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para 1699) 1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. N.° 85

10-03­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: Luís Igual ao descrito como Escrivão em 1691. 1700 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Saldanha da Gama (n. c. Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da 1640, m. 1721) Cerveira/ Irmandade dos escravos do Escrivão: conde de 3.° Conde de Aveiras. Teria, pelo lado da Administração Santíssimo Sacramento de Santa Aveiras (3.°), João da mãe, os reparos de Pinheiro e Talaveira, da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para Silva Telo de Menezes sendo neto materno do 1.° marquês de 1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. (n. 1648, m. depois de Cascais. Casa com uma filha do conde de N.° 83 1726) Soure e o seu filho H. casa, em 1700, com uma filha do 1.° conde de Alvor.

02-09­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: marquês de 1.° Marquês de Abrantes, 3.° marquês de 1700 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Fontes (3.°), D. Fontes, 7.° conde de Penaguião e Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Francisco Anes de Sá camareiro-mór. Teria os reparos de

Pág. 120 Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Data Fonte50 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

Cerveira/ Irmandade dos escravos do Almeida e Menezes (n. Bocanegra pela via paterna e de Granada Administração Santíssimo Sacramento de Santa 1676,m. 1733) pela materna. Casa com uma filha do 1.° da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para duque de Cadaval, assim como dois dos 1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. seus filhos. N.° 84 Escrivão: conde de Vila 2.° Conde de Vila Verde, 1.° marquês de Verde (2.°), D. Pedro Angeja. Puritano. Casa com uma filha do António de Noronha (n. 1.° marquês de Arronches. O filho H. casa 1661, m. 1731) com uma filha do 4.° conde de Tarouca.

30-12­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: conde de 3.° Conde de Vilar Maior, 2.° marquês de 1701 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Vilar Maior52 (3.°), Alegrete, gentil-homem da câmara do rei. Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Fernando Teles da Silva Puritano. Casa com uma filha do 3.° conde Cerveira/ Irmandade dos escravos do (n. 1662, m. 1731) dos Arcos e o seu filho H. casa com uma Administração Santíssimo Sacramento de Santa filha do 1.° duque de Cadaval. da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para Escrivão: Miguel Puritano. Casa com a H. da Casa dos 1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. Carlos53 de Távora, 2.° condes de S. Vicente, com o reparo N.° 81 conde de S. Vicente (n. Bocanegra, sendo feito 2.° conde de S. 1641, m. 1726) Vicente, motivo pelo qual a sua descendência deixa de ser puritana.

ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: D. João de 2.° Conde de Assumar. Teria os reparos de Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Almeida54, 2.° conde de Aragão, Bocanegra e Pinheiro pela via

52 Acreditamos ser este o conde de Vilar Maior em 1701, dado que o seu pai, o 1.° marquês de Alegrete (1641-1709), ainda estaria vivo nesta data, motivo pelo qual é referido o título menos graduado da Casa, utilizado pelo seu filho H. 53 Vem apenas referido como “Miguel Carlos”, que assumimos ser Miguel Carlos de Távora, 2.° conde de S. Vicente por casamento, e irmão do 1.° marquês de Távora e do 1.° conde de Alvor. 54 Em 1704 existiam dois “D. João de Almeida” que poderiam ser este Tesoureira: o 2.° conde de Assumar, e o irmão do 3.° conde de Avintes e de D. Tomás de Almeida, 1.° cardeal patriarca de Lisboa. Não é fácil a opção entre um deles porque, por um lado, estranhamos que o 2.° conde de Assumar não se apresente como tal (dado que terá sido

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Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

30-07­ Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Assumar (n. 1663, m. materna. Casou com uma filha do 1.° 1704 Cerveira/ Irmandade dos escravos do 1733) marquês de Fronteira e não tem qualquer Administração Santíssimo Sacramento de Santa relação com famílias puritanas. da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para Escrivão: conde da 2.° Conde da Ribeira Grande. Teria o 1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. Ribeira Grande (2.°), D. reparo de Pinheiro pela sua avó materna. N.° 69 José Rodrigo da Câmara Casou com uma princesa estrangeira e o (n. 1665, m. 1724) seu filho H. casa com uma filha do 9.° conde de Atouguia, com o reparo de Bocanegra, mas ligada à casa dos Távoras, não tendo no entanto qualquer relação de parentesco com famílias puritanas.

12-11­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: D. Filipe de Capitão da Guarda Alemã. Puritano. Casa 1705 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Sousa (Calhariz) (n. com uma filha do 1.° marquês de Alegrete e Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da 1666,m. 1714) o seu filho H. com uma princesa de Cerveira/ Irmandade dos escravos do Holstein-Beck. Administração Santíssimo Sacramento de Santa Escrivão: conde de Puritano. Casa com a filha H. da Casa dos da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para Tarouca (4.°), João condes de Tarouca, pelo que é feito 4.° 1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. Gomes da Silva (n. 1671, conde de Tarouca. É filho do 1.° marquês N.° 70 m. 1738) de Alegrete e irmão do 2.° marquês, já identificado nesta Relação.

30-10­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: conde de 4.° Conde de Vale de Reis. Teria os reparos 1707 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Vale de Reis (4.°516), de Aragão e Pinheiro, o primeiro pelo avô Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Nuno Manuel de paterno e o segundo pelo materno. Casa em encartado do título em 1694, de acordo com os índices do ANTT), e por outro, a idade de apenas 29 anos de D. João de Almeida (Avintes). Por estar em desacordo com os demais, pesa mais a idade como motivo de exclusão, pelo que interpretamos D. João de Almeida como sendo o 2.° conde de Assumar, que aparece como escrivão em 1714. 516 O 3.° conde de Vale de Reis, e pai do 4.° conde, teria morrido quatro dias antes da data deste Conhecimento do pagamento realizado pelo visconde de Vila Nova de Cerveira.

Pág. 122 Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

Cerveira/ Irmandade dos escravos do Mendonça (n. 1670, m. 1700 com uma filha do 1.° marquês de Administração Santíssimo Sacramento de Santa 1732) Angeja, casando o seu filho H. na mesma da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para casa, com uma filha do 2.° marquês. 1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. Escrivão: conde de 3.° Conde de Avintes. Teria os reparos de N.° 78 Avintes (3.°), D. Luís de Aragão e Pinheiro pelo avô paterno, sendo Almeida Portugal (n. neto materno do 3.° conde de Arcos, sendo 1669, m. 1730) sobrinho, por essa via, do 10.° visconde de Vila Nova de Cerveira e do 2.° marquês de Alegrete. Casa com uma sobrinha, filha do 10.° visconde de Vila Nova de Cerveira.

30-12­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: conde da 5.° Conde da Calheta e reposteiro-mór. 1708 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Calheta (5.°), Afonso de Teria os reparos de Caiada pelo avô Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Vasconcelos e Sousa paterno e de Granada pela avó paterna. Cerveira/ Irmandade dos escravos do Cunha Câmara Faro e Casa com uma estrangeira e o seu filho H. Administração Santíssimo Sacramento de Santa Veiga (n. 1664, m. 1734) casa com uma filha do 2.° marquês de da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para Angeja. 1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. Escrivão: visconde de Puritano. Casa com uma estrangeira. Não N.° 78 Vila Nova de Cerveira tendo descendência varonil, a sua filha H. (11.°), D. Tomás de Lima casa com um filho segundo do 2.° marquês Vasconcelos e Menezes de Alegrete. de Brito Nogueira (n. 1674)

06-01­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: conde da Igual ao descrito como Tesoureiro em 1709 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Calheta (5.°), Afonso de 1708. Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Vasconcelos e Sousa

Pág. 123 Anexo 5

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

Cerveira/ Irmandade dos escravos do Cunha Câmara Faro e Administração Santíssimo Sacramento de Santa Veiga (n. 1664, m. 1734) da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para Escrivão: visconde de Igual ao descrito como Escrivão em 1708. 1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. Vila Nova de Cerveira N.° 77 (11.°), D. Tomás de Lima Vasconcelos e Menezes de Brito Nogueira (n. 1674)

30-12­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: marquês de 2.° marquês de Minas. Teria os reparos de 1711 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Minas517 (2.°), D. Aragão, Bocanegra e Pinheiro. O filho H. Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da António Luís de Sousa casa com uma estrangeira e o neto H. casa, Cerveira/ Irmandade dos escravos do (n. 1644, m. 1721) logo em 1712, com uma filha do 4.° conde Administração Santíssimo Sacramento de Santa dos Arcos. da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para Escrivão: marquês de 2.° Marquês de Fronteira. Teria os reparos 1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. Fronteira (2.°), D. de Aragão, Bocanegra e Pinheiro. Casa N.° 75 Fernando Mascarenhas com uma filha do 9.° conde de Atouguia e a (n. 1655, m. 1729) sua família não tem qualquer relação de parentesco com famílias puritanas.

28-11­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: conde de Igual ao descrito como Tesoureiro em 1712 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Vilar Maior (3.°), 1701. Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Fernando Teles da Silva Cerveira/ Irmandade dos escravos do (n. 1662, m. 1731) Administração Santíssimo Sacramento de Santa Escrivão: conde da Igual ao descrito como Escrivão em 1704. da Casa 1392- Ribeira Grande (2.°), D.

517 Vem referido que quem assina o documento não é o marquês de Minas, mas o conde de Vilar Maior.

Pág. 124 Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

1842/ Caixa 21/ Engrácia, da esmola que deu para José Rodrigo da Câmara N.° 76 obras da igreja nova. (n. 1665, m. 1724)

28-05­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: Tesoureiro: Igual ao descrito como Tesoureiro em 1713 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila D. Filipe de Sousa 1705. Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da (Calhariz) (n. 1666, m. Cerveira/ Irmandade dos escravos do 1714) Administração Santíssimo Sacramento de Santa Escrivão: não refere. da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para 1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. N.° 71

05-05­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: D. João de Puritano. Eclesiástico e irmão de D. Filipe 1714 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Sousa, prior de de Sousa (Calhariz). Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Guimarães Cerveira/ Irmandade dos escravos do Escrivão: Tesoureiro: D. Igual ao descrito como Tesoureiro em Administração Santíssimo Sacramento de Santa João de Almeida, 2.° 1704. da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para conde de Assumar (n. 1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. 1663,m. 1733) N.° 71

21-11­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: conde da Igual ao descrito como Tesoureiro em 1716 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Calheta (5.°), Afonso de 1708. Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Vasconcelos e Sousa Cerveira/ Irmandade dos escravos do Cunha Câmara Faro e Administração Santíssimo Sacramento de Santa Veiga (n. 1664, m. 1734) da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para Escrivão: Escrivão: Igual ao descrito como Escrivão em 1708. 1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. visconde de Vila Nova N.° 82 de Cerveira (11.°), D.

Pág. 125 Anexo 5

Data Fonte511 Descrição Cargos/ Pessoas Notas biográficas e relações familiares

Tomás de Lima Vasconcelos e Menezes de Brito Nogueira (n. 1674)

11-12­ ANTT/ Conhecimento do pagamento feito por Tesoureiro: conde da Igual ao descrito como Tesoureiro em 1716 Viscondes de D. Tomás de Lima, Visconde de Vila Calheta (5.°), Afonso de 1708. Vila Nova de Nova de Cerveira, irmão da Vasconcelos e Sousa Cerveira/ Irmandade dos escravos do Cunha Câmara Faro e Administração Santíssimo Sacramento de Santa Veiga (n. 1664, m. 1734) da Casa 1392- Engrácia, da esmola que deu para Escrivão: Escrivão: Igual ao descrito como Escrivão em 1708. 1842/ Caixa 21/ obras da igreja nova. visconde de Vila Nova N.° 80 de Cerveira (11.°), D. Tomás de Lima Vasconcelos e Menezes de Brito Nogueira (n. 1674)

3. Resumo e análise quantitativa das Relações

N.° de vezes Relação N. Puritan Nome Título/ Ofício que ocupa familiar com Reparos 0 o um cargo puritanos

1 Francisco de Melo Monteiro-mór 1 Não Sim Azambuja

Pág. 126 Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

N.° de vezes Relação N. Puritan Nome Título/ Ofício que ocupa familiar com Reparos 0 o um cargo puritanos

2 D. Francisco de Castro Almirante de Portugal 1 Não Sim Granada, Pinheiro e Zuniga

3 Caiada, Torres e Luís de Saldanha da Gama Conselheiro da Guerra 3 Não Não Bobadilha

4 Aires de Sousa de Castro Deputado da Junta 2 Sim Sim Não tem

5 João da Silva Telo de Menezes 3.° Conde de Aveiras 1 Não Sim Pinheiro e Talaveira

6 Francisco de Sá Almeida e Menezes 1.° Marquês de Abrantes 1 Não Sim Bocanegra e Granada

7 D. Pedro António de Noronha 1.° Marquês de Angeja 1 Sim Sim Não tem

8 Fernando Teles da Silva 2.° Marquês de Alegrete 2 Sim Sim Não tem

9 Miguel Carlos de Távora 2.° Conde de S. Vicente 1 Sim Sim Não tem

10 D. Filipe de Sousa Capitão da Guarda Alemã 2 Sim Sim Não tem

11 João Gomes da Silva 4.° Conde de Tarouca 1 Sim Sim Não tem

12 Aragão, Bocanegra e D. João de Almeida 2.° Conde de Assumar 2 Não Não Pinheiro

13 D. José Rodrigo da Câmara 2.° Conde da Ribeira Grande 2 Não Não Pinheiro

14 Nuno Manuel de Mendonça 4.° Conde de Vale de Reis 1 Não Sim Aragão e Pinheiro

15 D. Luís de Almeida Portugal 3.° Conde de Avintes 1 Não Sim Aragão e Pinheiro

Pág. 127 Anexo 5

N.° de vezes Relação N. Puritan Nome Título/ Ofício que ocupa familiar com Reparos 0 o um cargo puritanos

16 Afonso de Vasconcelos e Sousa 5.° Conde da Calheta 4 Não Sim Caiada e Granada

17 D. Tomás de Lima Brito 12.° Visconde de Vila Nova de Nogueira Cerveira 4 Sim Sim Não tem

18 Aragão, Bocanegra e D. António Luís de Sousa 2.° Marquês Minas 1 Não Não Pinheiro

19 Aragão, Bocanegra e D. Fernando Mascarenhas 2.° Marquês de Fronteira 1 Não Não Pinheiro

20 D. João de Sousa Prior de Guimarães 1 Sim Sim Não tem

33

Conclusões: % Valor Total N.° de puritanos 40,00% 8 20

Relações com puritanos 75,00% 15 20

N.° de vezes que um cargo é ocupado por um puritano 42,42% 14 33

N.° de vezes que um cargo é ocupado por alguém com relações com puritanos 72,73% 24 33

Pág. 128 Alguns contributos para o estudo da Confraria (da nobreza) de Santa Engrácia

4. Árvore genealógica com as Relações

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ANEXO 6: A casa “real” da Mouraria: o contributo de Pedro Silva Miguel518

Há muito ainda por estudar sobre o impacto do Terramoto de 1755 na vida palaciana lisboeta, sabendo- se apenas que, dado o nível de endividamento das

Figura 1 - Fachada Sul do palácio da Mouraria («Quarto novo») nos anos 40 do século XX famílias aristocráticas portuguesas, e na impossibilidade de reconstruirem os seus palácios, muitas «passaram a habitar palácios que funcionavam até então como segunda residência e que se situavam nos arredores da cidade»519, das quais os Mourarias serão também exemplo.

Sobre os vestígios do outrora imponente palácio da Mouraria, extrapolou-se que este teria tido mais um andar - através na desproporcionalidade do edifício principal face ao arco que o unia ao «Quarto velho» - tendo sido Pedro Silva Miguel o primeiro a sugerir, através da observação de uma gravura de Lisboa, da autoria do gravador Zuzarte, a existência de, não apenas um, mas dois andares acima do corpo principal do palácio, que terá sobrevivido ao Terramoto.

518 A presente descrição baseia-se no trabalho desenvolvido por Pedro Silva Miguel, Descobrir a dimensão palaciana de Lisboa na primeira metade do século XVIII. Titulares, a Corte, vivências e sociabilidades, Vol. II. Lisboa: [s.n.], 2012. Dissertação de Mestrado em História Moderna, pp. 6-13. As fontes e imagens utilizadas poderão, também, ser encontradas no mesmo estudo. 519 Mafalda Soares da Cunha e Nuno Gonçalo, «As Grandes Casas», In, Nuno Gonçalo Monteiro (coord.), «A Idade Moderna...», p. 209.

Pág. 131 Anexo 6

Por entre as ruas estreitas da Mouraria erguer-se-ia, assim, um imponente palácio, casa de uma reputada família da Corte portuguesa e símbolo de poder e prestígio de uma Casa aristocrática que tão bem o soube capitalizar, aliando-o a um modelo de reprodução social que, apesar de amplamente criticado, foi sendo silenciosamente procurado e seguido pela demais aristocracia portuguesa.

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