“EU QUERO VER QUANDO ZUMBI CHEGAR” Negritude, Política E Relações Raciais Na Obra De Jorge Ben (1963-1976)

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“EU QUERO VER QUANDO ZUMBI CHEGAR” Negritude, Política E Relações Raciais Na Obra De Jorge Ben (1963-1976) UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS ÁREA DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA ALEXANDRE REIS “EU QUERO VER QUANDO ZUMBI CHEGAR” Negritude, política e relações raciais na obra de Jorge Ben (1963-1976). Niterói Junho de 2014 Ficha catalográfica BCG: S237 Santos, Alexandre Reis dos. “Eu quero ver quando Zumbi chegar”: negritude, política e relações raciais na obra de Jorge Ben (1963-1976) / Alexandre Reis dos Santos. – Niterói : UFF. Programa de Pós-Graduação em História, 2014. 165f. : il., color. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal Fluminense, 2014. Orientadora: Prof.a Dr.a Martha Campos Abreu. 1. Relações raciais 2. Música Popular Brasileira 3. Negro 4. Benjor, Jorge, 1942 I. Abreu, Martha Campos (Or.) II. Título CDD 305.896081 2 Para Luara, aquela que é a minha Teresa, a minha Zula, a minha Xica da Silva e todas as outras musas negras em uma só. 3 Agradecimentos Este trabalho foi escrito pelas minhas duas mãos, mas é como se tivesse sido por uns dez pares. Muitas e muitas pessoas participaram direta ou indiretamente, pois sempre pedi e felizmente contei com a ajuda de muita gente. Já no rascunho do projeto contei com a gentileza e a disponibilidade de Luísa Lamarão, que leu meu manuscrito e deu uma situada nas minhas ideias. Gustavo Alonso também foi de uma generosidade tamanha lendo e criticando meus papers e indicando caminhos. Além do mais sua dissertação foi uma importante referência para o meu trabalho. Amanda Palomo também contribuiu bastante, me cedendo suas cópias de documentos da Censura. Quem também me inspirou foi Paulo César Araújo, que foi meu professor no ensino médio. No início do meu trabalho, PC solicitamente me recebeu pra um bate papo onde fez sugestões valiosas. Além de tudo Paulo César é um modelo pra mim. Quando eu “crescer” quero ser como ele. Mais do que fundamental foi a minha orientadora, Martha Abreu. Com sua gentileza, sensibilidade, ternura e habilidade, Martha me pegou pela mão e me conduziu pelos caminhos dessa pesquisa. Mais do que formar simplesmente pesquisadores e professores, Martha forma seres humanos melhores. Essenciais foram as contribuições do Eric Brasil. Meu colega de graduação, de Pós e de grupo de pesquisa. Já no primeiro dia na Universidade e na caminhada para o Terminal conversamos por horas. Ali nasceu uma amizade que pretendo levar para o resto da vida. Mais do que amigo, Eric é praticamente um irmão – e se o astral superior permitir futuro compadre – e foi um arguto leitor crítico deste trabalho, uma vez que tem um grande conhecimento e um grande apreço pela obra do Jorge. Agradeço também a Yaci, a outra metade do Eric, pela amizade, carinho e bons momentos em almoços e viagens que nós, mais a Luara, compartilhamos. Ao longo da graduação tive grandes companheiros e amigos que sempre me ajudaram sendo excelentes parceiros nos trabalhos, Cantareiras, grupos de estudos, folias e afins: Renato Silva, Isabel Mazini, Matheus Serva, Juliana Magalhães, João Alípio, Viviane Alcântara, Ana Crispin, André Filgueiras, Daniel Tomazine, Nathalia Fernandes e muitos outros. 4 No mestrado, dividi angústias, aflições e alegrias inerentes à pesquisa com Juliana do Carmo, Giovana Antonaci e Maria Isabela Mendonça. Também tive a oportunidade de trocar ideias com Bárbara Araújo e muitos outros colegas que fizeram sugestões ao meu trabalho. Tive também a felicidade de encontrar na pós-graduação grandes parceiros (agora amigos e companheiros de grupo de pesquisa): Lívia Monteiro, Carolina Martins e León Araújo. A já citada Luísa Lamarão fez parte da minha banca de qualificação. E Luísa teve um cuidado e um carinho inigualáveis com meu trabalho, propiciando uma arguição muito atenta e detalhista. Além disso, me franqueou acesso ao seu acervo pessoal de LP’s. Minha outra arguidora de qualificação, Giovana Xavier, foi igualmente valiosa. Giovana leu meus escritos com sensibilidade, fez críticas valiosas e me cedeu bibliografias importantes. Agradeço aos professores (as) Hebe Mattos, Denise Rollemberg, Marcos Alvito e Marcelo Bittencourt pelas aulas instigantes e críticas e sugestões à pesquisa. Agradeço a CAPES por financiar parcialmente esta pesquisa. À Selma do Fã-Clube do Jorge de São Paulo por ter tido a generosidade de me enviar cópias de seu acervo pessoal. Agradeço aos funcionários da Pós: Rayane, Rafael, Inês e Silvana pela solicitude e auxílio. À minha mãe, a meus irmãos Anne e Mário, pelo amor carinho, estímulo e parceria. Por fim agradeço aquela que é quase coautora desta dissertação. Quase no final da graduação fui abençoado pelos Pretos Velhos, pois foi em um Treze de Maio (que é um dia tão bonito) no Quilombo São José que começou a minha história com a Luara. A Preta é uma grande companheira, amiga e parceira de trabalho. Luara sempre me estimulou, leu em primeira mão todos os meus escritos, sugeriu mudanças e corrigiu meu texto diversas vezes. A ela sou muito grato pelo seu amor e por me deixar fazer parte de sua vida. Acima de tudo, Luara me faz querer ser um ser humano melhor. 5 O negro é a soma de todas as cores Gilberto Gil 6 Resumo O presente trabalho busca se aproximar das experiências do músico negro Jorge Duílio de Lima Meneses, cujo nome artístico nos anos 1960 e 1970 era Jorge Ben. Através da análise de sua obra e trajetória pretendo problematizar as relações raciais na sociedade brasileira da época. É possível considerar o estilo deste artista como dentro dos padrões estéticos da MPB. A Música Popular Brasileira enquanto instituição tem sua “gênese” e consolidação nas décadas de 1960 e 1970. Em geral, este gênero tem uma imagem bastante associada à luta contra o regime ditatorial. Entretanto outras demandas políticas daquele momento, como a luta pela igualdade racial e a afirmação de identidade negra positiva e orgulhosa presente nas canções de Jorge Ben, ficaram relegadas a segundo plano na memória da sociedade brasileira sobre o período. Palavras-chave: Negritude – Música Popular Brasileira – Relações Raciais Abstract: This dissertation seeks to approximate the experiences of the black musician Jorge Duilio Lima Menezes, whose stage name in the 1960s and 1970s was Jorge Ben. The main objective of this work is discuss race relations in Brazilian society of the time through the analysis of the artist’s work and career between 1963 and 1976. It is possible to consider that the style of this artist is within the MPB’s aesthetic standards. The Brazilian Popular Music (MPB) as an institution has its "genesis" and consolidation in the 1960s and 1970s. In general, this genre have an image closely associated with the struggle against the dictatorial regime (1964-1985). However, other political demands of that moment, as the struggle for racial equality and the positive and proud affirmation of a Black identity, which is present in Ben’s songs, were relegated to the background in memory of Brazilian society of the period. Key words: Blackness – Brazilian Popular Music – Race Relations 7 Sumário Lista de Imagens: .......................................................................................................................... 9 Introdução: .................................................................................................................................. 11 Capítulo I: “Moro num país tropical abençoado por Deus”: músicos negros, canções ufanistas e as relações com a ditadura........................................................................................................... 22 Protesto Político e MPB.......................................................................................................... 22 Capítulo II - “O meu caso é viver bem/Com todo mundo e com você também”: o texto negro na obra e trajetória de Jorge Ben...................................................................................................... 40 Tem preto velho na bossa nova............................................................................................... 40 É jovem guarda ou é jovem samba? O rock, a juventude de Jorge Ben e as disputas no campo musical brasileiro dos anos 1960. ........................................................................................... 53 “Eu também quero mocotó”: Jorge Ben, Erlon Chaves e os festivais..................................... 60 Capítulo III - “Eu sou esse negro lindo”: o Black Power e o Black is Beautiful na música brasileira...................................................................................................................................... 84 “O poder negro da beleza”. ..................................................................................................... 84 “Salve o Narciso Negro” : as homenagens aos sujeitos negros de destaque e a participação em eventos da militância negra................................................................................................... 103 Capítulo IV- “Ele era da casa real da Etiópia”: a religiosidade afro-brasileira na obra de Jorge Ben e A África como referencial............................................................................................... 114 “Salve o cavaleiro do cavalo imaculado”.............................................................................. 114 O África-Brasil e a África no Brasil: o fluxo de ideias e influências nos dois lados do Atlântico................................................................................................................................ 126 Capítulo V – “Eu Nasci de um ventre livre no século
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