Universidade Federal De Juiz De Fora Made in Bra(S)Zil
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA MADE IN BRA(S)ZIL UM ESTUDO DO JOGO DE FORÇAS NA MÚSICA BRASILEIRA NO TEMPO DO TROPICALISMO por PABLO DE MELO PEIXOTO Dissertação apresentada à banca examinadora como requisito final para obtenção de grau de Mestre em Ciências Sociais. 2006 2 MADE IN BRA(S)ZIL: UM ESTUDO DO JOGO DE FORÇAS NA MÚSICA BRASILEIRA NO TEMPO DO TROPICALISMO Pablo de Melo Peixoto 3 Para todo aquele que nos empresta sua testa construindo coisas pra se cantar. Para tudo aquilo que o malandro pronuncia e que o otário silencia. Para toda festa que se dá ou não se dá. Para aquele que se presta a esta ocupação. Dedico este trabalho ao compositor popular. (Emprestando “tropicalisticamente” os versos de Caetano Veloso) 4 Peixoto, Pablo de Melo “Made in Bra(s)zil - um estudo do jogo de forças na música brasileira no tempo do tropicalismo” Pablo de Melo Peixoto. Juiz de Fora: UFJF/ Programa de pós-graduação em Ciências Sociais, 2007. 207p. Dissertação – Universidade Federal de Juiz de Fora, CCCS. 1. Sociologia da Cultura. 2. Movimentos culturais no Brasil contemporâneo. 3. Memória e práticas culturais. 4. Música Popular 5. Dissertação (Mestr. – UFJF/PROPG). I. “ Made in Bra(s)zil - um estudo do jogo de forças na música brasileira no tempo do tropicalismo.” PEIXOTO, Pablo de Melo. “ Made in Bra(s)zil - um estudo do jogo de forças na música brasileira no tempo do tropicalismo” Orientador: Eduardo Magrone. Rio de Janeiro: UFJF/ICHL/PROPG, 2007. Diss. 5 Resumo O presente trabalho investiga as relações de forças entre os diversos agentes do campo musical brasileiro durante a década de sessenta, analisada a partir de observações históricas e relatos da época, em confluência com as teorias dos campos e do mercado de bens simbólicos de Pierre Bourdieu, trazendo essas teorias para o estudo de música popular no Brasil. Abordam-se as mudanças do habitus no campo da MPB e de que forma essas mudanças, a partir do advento da Bossa Nova, permitiram o surgimento e a ascensão de novos estilos musicais, por vezes contrastantes como a Canção de Protesto, o Iê, iê, iê e, finalmente e principalmente, o Tropicalismo, apontando aspectos como luta pela hegemonia, estratégias de tomada de poder, relações entre dominantes e dominados, dinâmica do campo e capitalização de bens simbólicos. A pesquisa foi desenvolvida através de uma extensa pesquisa bibliográfica em material original e historiográfico, além de grande parte da bibliografia sociológica de Bourdieu. O trabalho busca entender de que forma essas mudanças na teia musical brasileira permitiram o surgimento de um estilo único e mutante como o Tropicalismo, capaz de agregar todos os outros surgidos antes e os posteriores a ele, mantendo praticamente intacta a estrutura de supremacia e acumulação de capital simbólico de seus principais fundadores, Caetano Veloso e Gilberto Gil. A pesquisa procura uma nova abordagem sobre a História da Música Popular Brasileira, sob um ponto de vista alternativo, o que pode se configurar como uma forma para se entender o desenvolvimento da cultura de massas no Brasil. Palavras-chave : Música Popular Brasileira, Tropicalismo, Pierre Bourdieu. 6 Abstract This work aims to investigate the power struggle between the various agents in the Brazilian musical scene in the sixties, analyzing it from historical observations and accounts from the period studied in conjunction with Pierre Bourdieu’s market and field theories on symbolic goods and bringing these theories together to study the Brazilian Popular Music (MPB). The changes in the habitus in the MPB scene, as well as how those changes took place since Bossa Nova entered the music world, made the arrival and ascent of new - and sometimes opposing - musical genres possible, such as the Canção de Protesto (Protest Song), the Iê, Iê, Iê and, finally and especially, Tropicalism, pointing out aspects like struggle for predominance, strategies to take over control, relationships between oppressors and the oppressed, field dynamics, and capitalization of symbolic goods. The research was carried out by means of an extensive bibliographical survey of original and historical material, as well as a great deal of Bourdieu’s sociological work. The intent of this dissertation is to understand how those changes in the Brazilian musical “web” enabled the emergence of a unique and continuously changing style like the Tropicalism, a style capable of absorbing all others, which came before and after it, but keeping the structure of its supremacy and the accumulation of symbolic goods of its main founders - Caetano Veloso and Gilberto Gil - unchanged. The research seeks a new approach to the History of Popular Brazilian Music, in an alternate light, which may become a way of understanding the development of mass culture in Brazil. Keywords : Brazilian Popular Music, Tropicalism, Pierre Bourdieu. 7 Sumário Agradecimentos – p.10 Introdução – p.12 Capítulo I – Panis et Sementes – ou origens do Tropicalismo – p.18 I.1 – Mudanças sócio-históricas no cenário cultural brasileiro – p.18 I.2 – Como chegamos aqui? – p.25 I.3 – Conflito, desafio e estrutura das relações de força no campo – p.28 I.3.1 – Música de Protesto – hora de lutar – p.29 I.3.2 – Iê, iê, iê e Jovem guarda – há um leão solto nas ruas – p.37 I.4 – O ovo da serpente – p.47 I.4.1 – Gilberto Gil – na geléia geral brasileira – p.48 I.4.2 – Caetano Veloso – eu nasci pra ser o superbacana – p.56 I.4.3 – Torquato Neto – um poeta desfolha a bandeira – p.60 I.4.4 – Tom Zé – profissão de ladrão – p.61 I.5 – Música pop e comunicação de massa – p.69 I.5.1 – Rogério Duprat – o maestro da banda tropicalista. – p.76 I.5.2 – Mutantes – um monstrinho de seis patas. – p.83 I.6 – Nasce o Tropicalismo – p.94 I.6.1 – Panis et Circencis – uma análise– p.103 Capítulo II – Panis et Circensis – ou gladiadores do campo musical brasileiro – p.116 II.1 – O Coro dos Descontentes – Público e Festivais da MPB – p.116 II.1.1 – I Festival da Música Popular Brasileira - TV Excelsior – p.121 II.1.2 – II Festival da Música Popular Brasileira - TV Record – p.124 8 II.1.3 – I Festival Internacional da Canção – TV Globo – p.128 II.1.4 – III Festival da Música Popular Brasileira – TV Record – p.129 II.1.5 – II Festival Internacional da Canção – TV Globo – p.144 II.1.6 – IV festival da Música Popular Brasileira – TV Record – p.151 II.2 – Viva Vaia – o público como agente no campo – p.159 II.3 – Indústria fonográfica – p.169 II.3.1 – Álbum Musical – p.175 II.4 – Crítica musical – p.177 II.5 – Governo e censura – p.181 II.6 – AI 5 - Prisão e exílio – p.184 Capítulo III – Panis et Serpentes – ou Tropicalismo toma o poder – p.187 III.1- Pierre Bourdieu e o mercado de bens simbólicos – p.187 III.2 –O Tropicalismo como instrumento de poder – p.189 II.2.1 – O presente perpétuo musical brasileiro – p.193 II.2.2 – A Máfia do Dendê – p.197 Conclusão – p.203 Apêndices – p.206 Bibliografia e fontes – p.2087 Discografia – p.212 Webgrafia – p.215 9 Agradecimentos: . 10 “Por que tudo isso? Porque a gente queria fazer com a Música Popular um gesto de afirmação de força.” (Caetano Veloso) 11 Introdução A cultura brasileira presenciou naquele tempo uma queda de braço histórica. No fim da década de sessenta, a música popular estava dividida, cingida, em pé de guerra, o que Augusto de Campus chegou a chamar várias vezes de Guerra Santa 1. De um lado, havia uma corrente vinda diretamente da sofisticação da Bossa Nova, preocupada com os rumos da temática da música brasileira e enxergando a música como um meio artístico engajado, de alto potencial participativo e que seria capaz, em uma interpretação de fundo marxista, de provocar a conscientização das massas alienadas para a revolução, despertando estas últimas para uma nova reflexão sobre os rumos políticos que o Brasil estava passando nos primeiros momentos da ditadura militar. Em particular, uma linha da Bossa Nova, a assim chamada “música de protesto”, cresceu, então, na preferência de estudantes universitários vindos da classe média que encontraram na música uma forma de expressão e reflexão contra uma ditadura que dava sinais de endurecimento. De outro lado, com grande apelo popular, havia o Iê-iê-iê 2 da Jovem Guarda, descendente direto do entretenimento de massas, fundado pela Rádio Nacional 3 e que pregava uma postura iconoclasta fugidia e 1 Augusto de Campos, em “Um passo à frente de Caetano Veloso e Gilberto Gil” In. Correio da Manhã, 19 de novembro de 1967. 2 Expressão pela qual o rock brasileiro também era pejorativamente conhecida. Esta expressão deriva do aportuguesamento de “Yeah, Yeah, Yeah”, parte do refrão da música “She Loves You”, da banda britânica The Beatles. Para fins práticos, chamaremos de Iê-iê-iê este movimento musical jovem da década de sessenta, inspirado no rock americano e britânico. Não chamaremos de Jovem Guarda para evitar confusões com o programa homônimo comandado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, do qual não participavam muitos, mas não todos os artistas relevantes da época. Segundo Paulo César Araújo em “Roberto Carlos em Detalhes” o nome deveria ser apenas “rock brasileiro” ou no máximo “Uou,ou,ou!” Bordão de Roberto Carlos, presentes em várias de suas canções como “Esqueça” e “Quando”. 3 A Rádio Nacional do Rio de Janeiro, inaugurada em 14 de setembro de 1936, se tornou um marco na história da rádio brasileira. Inicialmente um empresa privada, foi encampada pelo Estado Novo de Getúlio Vargas em 8 de março de 1940, que a transformou na rádio oficial do Brasil.