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BA_0044-17E_Anuncio Revista 210x280.indd 1 04/08/2017 10:49:43 ALMANAQUE Grupo RBS completa 60 anos

este ano, comemoram-se os 60 anos do Gru- dio Gaúcha, Rádio Atlântida, 102.3 FM, Rádio Farroupilha, po RBS, fundado em 31 de agosto de 1957, CBN Porto Alegre) e três jornais (Zero Hora, Diário Gaú- data em que o radialista Maurício Sirotsky cho, Pioneiro). Sobrinho passa a ser um dos sócios da Rádio A empresa também opera a e.Bricks Digital, formada Gaúcha,N de Porto Alegre.Em novembro de 1959, o grupo por empresas da área de tecnologia por meio das quais consegue a concessão para instalar a TV Gaúcha, que en- atua nas áreas de mídia digital e tecnologia, mobile e e- tra no ar em 1962. Já em 1970, assume o diário Zero Hora. -commerce segmentado. Além disso, possui a Engage Hoje, o Grupo RBS é o maior conglomerado de comu- Eventos, a RBS Publicações (editora), uma gráfica, a Via- nicação do Sul do Brasil. Mesmo se desfazendo das ativi- log (empresa de logística), a Fundação Maurício Sirotsky dades no estado de Santa Catarina, em 2015, a RBS ainda Sobrinho, a Appus (tecnologia de big data com foco em possui como suas subsidiárias 12 emissoras de TV aberta produtos de RH) e a HypermindR (análise do comporta- afiliadas à Rede Globo (RBS TV), 15 emissoras de rádio (Rá- mento do consumidor).

PARK ROW

Sam Fuller (1911-1997) teve três carreiras. Como jornalista, ele progrediu de copy boy para repórter criminal. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi sargento de infan- taria. Finalmente, tornou-se um escritor-diretor de filmes, muitos deles clássicos cult. Seu filme Park Row (A Dama de Preto, na versão brasileira) é uma lição sobre o jor- nalismo americano e a liberdade de imprensa. A história, inspirada em fatos reais, se passa na década de 1880, em Park Row, a rua de Nova York que concentrava as sedes dos jornais. O personagem central é um jornalista (Gene Evans) que está fundando seu próprio jornal, The Globe, e promovendo uma campanha pública para pagar a instala- ção da Estátua da Liberdade, sofrendo oposição violenta de um veículo concorrente. Darryl Zanuck, chefe da 20th Century Fox, ofereceu-se para produzir a obra como um blockbuster Technicolor com vários astros. Fuller insistiu em um filme em preto e branco, sem nomes famosos, custeou sozinho o orçamento de US$ 200.000 e gravou tudo em 10 dias. O resultado é uma obra vigorosa, fotografada por Jack Russell, cujo trabalho inclui Macbeth, de Orson Welles, e Psicose, de Alfred Hitchcock.

“Um bom jornal, “A diferença entre litera- “Se pudesse decidir se devemos ter eu suponho, é tura e jornalismo é que um governo sem jornais ou jornais uma nação falando jornalismo é ilegível, e sem governo, eu não vacilaria um consigo mesma.” literatura não é lida.” instante em preferir o último.” Dito Arthur Miller (1915 - 2005) Oscar Wilde (1854 - 1900) Thomas Jefferson (1743 - 1826) REVISTA PRESS180 3 SUMÁRIO

Sumário

03 Almanaque

06 MIX

07 Aquário

08 MIX

10 Entrevista: Tibério Vargas

16 Opinião: Mario Rocha

18 Capa: A nova (e incerta) cara do Jornalismo

24 Opinião: Roberto Jardim

Diretor-Geral RUA SALDANHA MARINHO, 82 JULIO RIBEIRO PORTO ALEGRE - RS Diretora-Executiva CEP 90160-240 26 Grandes Nomes: Joel Silveira NELCI GUADAGNIN FONE/FAX (51) 3231 8181

Textos: www.revistapress.com.br MARCELO BELEDELI [email protected] Diagramação/ Arte Final ESPARTA PROPAGANDA Comercialização 30 Galeria: A imprensa vai à Guerra PORTO ALEGRE: (51) 3231 8181 Imagens: e (51) 99971 5805 com Fotografias da entrevista: NELCI GUADAGNIN Jefferson Bernardes/Agência Preview PRESS e ADVERTISING SÃO PUBLICAÇÕES MENSAIS DA Assinaturas ATHOS EDITORA, COM CIRCULAÇÃO NACIONAL, SOBRE OS [email protected] MERCADOS DE COMUNICAÇÃO E IMPRENSA BRASILEIROS. OS ARTIGOS ASSINADOS E OPINIÕES EMITIDAS POR FONTES Impressão NÃO REPRESENTAM, NECESSARIAMENTE, O PENSAMENTO COMUNICAÇÃO IMPRESSA DA REVISTA.

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QUAL É O NOME DO SEU FUTURO? O meu é Rio Grande do Sul. MIX

Idioma russo para cobrir a Copa do Mundo

Repórteres, colunistas, narradores e outros profissionais de Comunicação que trabalharão na Copa do Mundo 2018, na Rússia, poderão realizar um curso do idioma russo pela agência CI Intercâmbio e Viagem. As aulas, que terão carga de 20 horas semanais e duração mínima de duas semanas, acontecerão na escola Liden & Denz, com unidades em Moscou, São Petersburgo e Riga. Em Porto Alegre, a CI está localizada na rua Padre Chagas, 72, e na avenida Pereira Passos, 1125. A agência também tem unidades em Caxias do Sul, Erechim, Passo Fundo e Pelotas. Mais informações podem ser obtidas no site www.ci.com.br.

Pagamento por notícias 0n-line ainda é baixo

Em todo o mundo, apenas 13% dos mais de 70 mil entrevistados para o relatório Digital News Report 2017, afirmaram que pagaram por notícias on-line em 2016. A pesquisa, lançada pelo Reuters Institute, consultou leitores de 36 pa- íses dos cinco continentes. No Brasil, Facebook perde força e os dados mostram que, apesar de as Whatsapp ganha importância assinaturas de veículos digitais terem Ainda segundo o Digital News Report, embora as mídias sociais ain- crescido, apenas 22% dos brasileiros da sejam extremamente populares no Brasil, seu uso como fonte de pagam para ler notícias online. O notícias perdeu impulso no ano passado. Quase oito em cada 10 bra- número é o mesmo de 2015. O relatório sileiros utilizaram o Facebook para qualquer propósito em 2016, mas ressalva que os resultados brasileiros o uso de paywalls pelos principais jornais pode estar reduzindo o com- foram obtidos a partir de amostras da partilhamento de notícias nas redes sociais. A pesquisa apontou que 57% dos entrevistados no Brasil usaram o Facebook como fonte de população urbana do país. Por esse notícias, uma queda de 12 pontos percentuais em relação a 2015. Já motivo, tendem a representar a parcela o WhatsApp atingiu novos níveis de popularidade: 46% o classificaram mais rica e conectada dos habitantes. como fonte de informação, um aumento de 7% ante o ano anterior.

6 PRESS180 AQUÁRIO "Nóis" foi preso! Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur Em três anos da Operação grana toda? Precisava roubar? O que isso iria fazer diferença na sua Lava-Jato nós já vimos e ouvi- vida? adipiscing elit, mos de tudo. Nossa capacida- Passado este impacto inicial, me de de espanto, perplexidade sobreveio um enorme abatimento. Como pequeno empresário, eu sei sed do eiusmod e indignação parecia ter se as dores, as dificuldades, as agru- esgotado. Pelo menos até a ras para conseguir faturar alguns milhares de reais e poder pagar as primeira semana de setembro, contas, os funcionários, os impos- quando dois fatos fizeram tos, e, quem sabe, ter algum lucri- JULIO RIBEIRO [email protected] correr rápido o que ainda nos restava de sangue nas veias. e indignou foi a frase repetida por Joesley: "Nóis não vai ser preso!". Ali estava a segurança de um pi- O primeiro foi a descoberta, pela lantra, a certeza de um cafajeste, a Policia Federal, de várias malas e tranquilidade de um ladrão de que caixas repletas de dinheiro, num não seria preso, que as mãos longas apartamento emprestado a Geddel da Justiça não o alcançariam, que a Vieira Lima, a poucas quadras da rede de corrupções que ele coman- sua casa, em Salvador (BA). Confes- dava o protegia, lhe davam salvo- so que aquela imagem causou um -conduto para sua vida nababesca impacto violento sobre mim. Ini- em Nova York. cialmente, a incredulidade. Como Mas, setembro, mês de nossa in- pode alguém guardar esse dinheiro dependência como nação — e para todo, num simples apartamento? nós gaúchos, de revolta — nos vin- Depois se seguiram, curiosida- garia. Geddel seria preso, novamen- de, dúvidas e, por fim, abatimen- nho. E aí, aquelas caixas e malas, te (e desta vez, sem o beneplácito to. Quanto haveria de dinheiro ali, estampadas naquela foto que cor- de nenhum juiz), sob os protestos amontoado displicente e grotesca- reu o mundo, gritavam na minha de sua mãe: "meu filho não é ban- mente? Apostei com um amigo que direção: babaca, babaca! dido, ele é doente!". Joesley e Saud seriam uns R$ 10 milhões, ele dizia O outro acontecimento impactan- (e dias depois, também,Wesley) fo- que passavam de R$ 100 milhões. te de setembro foi a divulgação de ram, igualmente, presos. Diz-se que Depois de 14 horas sendo contado 4 horas de áudios de conversas en- o todo poderoso da JBS chorou na em sete máquinas próprias para tre Joesley Batista e Ricardo Saud. cela com cama de concreto e banho isso, o volume bateu nos R$ 51 mi- Havia de tudo ali. Confissões des- frio, em Brasília. lhões. Uma Mega Sena acumulada. lavadas de corrupção, compra de Não sei se eles vão continuar no Essa mufunfa toda seria devolvida procuradores e ministros do STF, xilindró. Escrevo esta coluna antes aos cofres públicos? Quais cofres? armações para "explodir" o Judici- de saber as suas prisões temporá- Afinal, Geddel vinha ocupando car- ário e o Executivo, sacanagens das rias se transformaram em provi- gos de primeiro escalão há quatro mais diversas e até a oferta de sexo sórias. Mas, já me sinto um tanto governos e acumulava cinco man- para destravar coisas de seus inte- vingado. O "suíno" está de volta ao datos como deputado federal baia- resses, em diversas esferas. Mas, o chiqueiro e "Nóis" foi preso. Obri- no. O que ele pretendia com essa que mais me amassou, vilipendiou gado, setembro!

REVISTA PRESS180 7 MIX

Mudanças na Band 1 A Band RS começou fechou o mês de agosto com novidades no quadro de funcionários. A empresa contratou Alex Bagé, Wianey Carlet, Everton Cunha (Mister Pi) e Fernanda Zaffari. Os três primeiros já estão participando de um programa de debates esportivos na Rádio Band AM/FM, das 12h30 às 14h. Além disso, Alex Bagé COMEÇOU O 18º PRÊMIO PRESS vai comandar os programas de pré e pós jornadas esportivas. Começou, no dia 1º de setembro, o período de indicações do 18º Prêmio PRESS, o Oscar da Imprensa Gaúcha. Já Fernanda Zafffari integra, Qualquer pessoa pode entrar, uma vez por dia, no site www.revistapress.com.br e fazer suas livres indicações desde Londres, o programa para os melhores profissionais de imprensa do ano, em 17 90 minutos, que tem André categorias. Este é o Voto Popular. Já os jornalistas e radialis- tas, devidamente identificados, podem participar, também, Machado no comando. do Voto Profissional, uma única vez em todo o período de indicações, que se estende até 31 de outubro. Os dois nomes mais indicados no Voto Popular e os três mais votados no Voto Profissional formam uma lista quín- Mudanças na Band 2 tupla, que será submetida a um Juri de Convidados, forma- A emissora também já conta do por 60 personalidades convidadas pela revista PRESS. O resultado será conhecido na grande festa de premiação, com novas instalações em Porto marcada para 27 de novembro, no Teatro Dante Barone. Alegre, resultado de uma ampla A campanha do Prêmio deste ano, criada pela agência In- tegrada Comunicação, tem como tema "O Poder da Palavra", reforma no tradicional prédio do numa referência à ferramenta básica e essencial do jorna- lismo. Pela palavra se constrói alianças, se fazem guerras, morro Santo Antônio. Um dos com a palavra é possível emocionar e manifestar ódio às pessoas e é com a palavra que os profissionais de imprensa estúdios de televisão passou a registram momentos e fatos históricos da humanidade. se chamar Estúdio Bira Valdez, O 18º Prêmio Press tem o patrocínio de Sistema FIER- GS, Sistema FECOMERCIO, SICREDI, SINDUSCON, CIEE- numa homenagem ao jornalista, RS, STICC e o apoio de ABAP, SBT, Krim Bureau e Assem- bleia Legislativa. apresentador e diretor da Band RS, falecido em junho de 2005.

8 PRESS180

ENTREVISTA TIBÉRIO VARGAS RAMOS

"Nós, os jornalistas é que sabemos contar as coisas"

Em março, Tibério Vargas Ramos encerrou sua trajetória de 40 anos à frente de disciplinas de Jornalismo e Rela- ções Públicas na Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Atuando desde 1° de março de 1977, o mais antigo docente da faculdade solicitou demissão para se dedicar à literatura e ao conteúdo de seu site homônimo (tiberiovargasramos.com.br). Além dos 40 anos em sala de aula, o jornalista conta com 26 anos de experiência em redações, trabalhando nas edito- rias de polícia da Folha da Tarde, Correio do Povo e Zero hora. Tibério também é autor de dois romances, Acrobacias no Crepúsculo e Sombras Douradas, da novela A Santa Sem Véu e dos Contos do Tempo da Máquina de Escrever. Nesta entrevista para a revista Press, Tibério Vargas Ramos fala sobre suas experiências como repórter policial, a dedicação à literatura, e suas opiniões sobre o ensino de jornalismo e o futuro da atividade.

Você saiu da PUC após 40 anos é a minha respiração, minha vida. editores, com 11, por aí. E fazíamos como professor e agora é um es- Eu gosto muito de ler e gosto muito cobertura 24 horas. critor? de escrever. Como dizia Jorge Luis Eu só quero me dedicar a isso. Borges, prefiro ler do que escrever, Hoje as equipes são bem mais porque leio o que quero e escrevo reduzidas. Esse assunto deixou Quantas páginas escreve por dia? como posso. de ser interessante para o públi- Eu tenho horário. Normalmente, co ou deixou de ser interessante eu procuro ler de manhã e escrever Tem algum autor que gostaria de para a empresa jornalística ou, de noite. Mas é muito relativo. Às escrever parecido? ainda, se tornou tão banal que vezes, eu escrevo muito, e, às vezes Eu tive épocas. Sempre fui muito não é mais notícia? eu apenas acerto um parágrafo. camaleão. Eu gostei muito do Nel- O que eu vejo é que os casos são son Rodrigues. Na crônica policial, apresentados de uma maneira ba- E a sua literatura é autobiográfi- eu procurava escrever como Nel- nal. E não se coloca mais pessoas ca, é uma terapia ou tem preten- son Rodrigues. Eu gosto muito mais na cobertura por medo de processo. sões literárias mesmo? do Vargas Llosa do que do Gabriel Então, a editoria de polícia está mui- Eu sempre gostei de escrever. García Márquez. Eu acho García to mais cerceada na democracia. Tanto é que eu entrei no jornalismo Márquez mais rococó. Gosto muito para escrever. Não entrei no jorna- da elegância do Ítalo Calvino. E eu Quer dizer, é aquela história do lismo para uma missão. Eu queria vou sempre mudando. "suspeito", do "teria feito", futu- escrever e por isso me dediquei ao ro do pretérito do subjuntivo... jornalismo. Eu gostava de escrever, Você esteve 26 anos trabalhando Sim, isso, naquela época, não ti- eu sempre disse que nunca soube em redações, na Folha da Tarde, nha. Essa condicional não se usava. se eu gostava mais de escrever ou no Correio do Povo, na Zero Hora, de editar porque eu sempre gostei especializado na editoria de po- A polícia hoje é demonizada, por muito disso também. Sempre dia- lícia. Quantas pessoas trabalha- boa parte da população, espe- gramei, e adoro diagramar. Então, vam em polícia naquela época? cialmente pelos movimentos de procurei me dedicar a todas as áre- Naquela época, a gente trabalha- esquerda. Como tu vê o papel da as do jornalismo gráfico. Escrever va no mínimo, contando com os polícia na democracia? É vilão,

10 PRESS180 Entrevista: Julio Ribeiro

Fotos: Marcos Nagelstein

11 ENTREVISTA

mocinho ou nenhum dos dois? uma convicção da própria empre- Eu acho que tem coisas que de- sa, da própria imprensa. Ela impe- veriam ser intoleráveis. E a polícia diu uma cobertura isenta, aberta. hoje tem medo de fazer qualquer coisa, porque ela vai responder Por quê? Porque era um comuni- processo, vai ser demonizada. En- cador? tão, quatro ou cinco pessoas tran- Não. O grande problema do caso cam uma rua e a rua fica trancada. Daudt é que existia uma vítima e, supostamente, um autor. E tudo foi É uma crise de autoridade que es- feito para chegar no autor. O traba- tamos vivendo no Brasil? lho da polícia, o trabalho da impren- Eu acho que é. Porque autoridade sa, e na empresa havia essa convic- não tem nada que ver com autori- ção. Foi errado. Porque tinham que tarismo. Porque a gente tinha no partir da vítima para chegar ao cri- mínimo oito repórteres? Fazíamos minoso. A gente até ganhou um prê- cobertura 24 horas, então tinha que mio ARI pela cobertura. ter no mínimo nove para um es- tar de férias, o que dava oito para Mas naquela época os setoristas cobertura de seis horas, mais ou de polícia tinham convicção de menos assim. E nós tínhamos uma que o autor do crime era o depu- frequência da rádio da polícia,que tado Antônio Dexheimer? ouvíamos o tempo todo. Então, a Nós não tínhamos. Tinha quem gente cobria 24 horas e cobrava as era amigo do Daudt. E amigo do coisas. A falta da cobrança da im- Daudt era a direção. prensa cria essa impunidade. A gen- te cobrava muito. Pegava um crime Hoje se fala sobre a necessidade e ficava naquele crime cobrando, do julgador de se declarar impedi- cobrando, se não estava resolvido. do de julgar um caso porque tem se perdeu em algum momento aí? ligações com os acusados, para Naquela época a reportagem po- Vocês buscavam o curioso, o joco- evitar situações como a do minis- licial tinha três vieses. Um viés poli- so, o inusitado... Lembra de casos tro Gilmar Mendes, do Supremo cial, que para nós gerava muita difi- assim naquela época? Os jornais Tribunal, que tem legislado em culdade, porque eles tinham fontes davam sequência às histórias. favor de amigos. O jornalista se e faziam o jogo da corporação. O Quando se pegava um caso, nós sente impedido de noticiar em repórter usava revólver na cintura como repórteres, às vezes nem algum momento porque era um e tal, tinha trejeito de polícia, lin- aguentávamos mais o caso, mas o amigo ou pessoa muito próxima? guajar, e escrevia como um policial. público queria. E o Antoninho (Anto- Eu tive algumas experiências Isso existia. E existia a Folha da Ma- nio Gonzales, editor da Folha da Tar- assim, mas passava para outro re- nhã, que teve um viés de esquerda: de) pedia e aquilo continuava como pórter, por não querer fazer. Me nós contra a polícia. E nós na Folha se fosse um folhetim, uma novela. aconteceu duas vezes. Eu chego na da Tarde tentávamos ficar no meio delegacia e está preso um primo termo. Até porque tínhamos o Anto- Não foi nessa época a história do meu. Então, não vou fazer a maté- ninho. Era em nome do jornalismo. homem das mãos amarradas? ria. Outro faça. Outra vez foi uma A gente acabava usando o jogo, os Não, foi antes. Eu peguei já quan- amiga, e não fiz a matéria, eu sa- artifícios da polícia. Teve um tempo do reabriram o processo. Foi em bia que ela ia ser solta e de noite que eu fiz reportagem com o Juarez 1965, e depois reabriram no início ia estar na Zero Hora. É um troço da Silva. E ele tinha trejeito da polí- dos anos 1970. desagradável. cia. Muitas vezes, ele passava os da- dos para mim para eu levar as cul- O caso do José Antônio Daudt foi Fizemos, recentemente, uma ma- pas. Mas, eu já era queimado com a depois? téria de capa sobre o jornalismo polícia. Muitas vezes, a informação No caso Daudt eu já estava de vol- de antagonismos, o jornalismo vinha dele, porque ele tinha acesso ta à Zero Hora. E o caso Daudt foi engajado. Não acha que a gente à informação.

12 PRESS180 as duas jaquetas na folha, e nem colocamos a explicação. Explicação iria ter no dia seguinte. E o delega- do foi para a rua. Uma vez, pouco tempo depois, o encontrei num res- taurante e fiz que não o vi e ele fez que não me viu.

E você chegou a sentir mais medo dos criminosos ou da polícia? Olha, por incrível que pareça, mesmo na época da Ditadura a im- prensa era respeitada pela Polícia. Não era pelo Exército, mas nós co- bríamos a Polícia. Até o delegado Newton Müller (ex-chefe da Polícia Civil), que era muito meu amigo, fa- lava de nós e dos militares. No fun- do, no fundo, nem a Brigada pres- sionava os jornais, ou era de tirar matéria, ainda mais na Zero Hora.

A corrupção nas polícias era grande assim na década de 1970 e 1980? E permanece no mesmo nível ou aumentou? Eu não posso falar da polícia Já sofreu pressão por parte da po- Foi um caso que rendeu 10 expul- hoje porque estou fora. Mas, o que lícia, velada ou não? Ou por parte sões, ou pelo menos processos. eu vejo é que naquela época tinha, de algum envolvido? claramente, duas facções na polí- Assim, eu nunca tive. Mas já tive Você sofreu ameaças? cia. A que chamavam de a “facção medo. Houve uma grande reporta- Não, eu não sofri ameaças. Mas do pau” e a “facção da corrupção”. gem que, modestamente, fiz. Por é que tu fica com medo, pois sabe Muitos policiais davam corretivo, acaso, teve um policial que me con- que, de certa forma, criou proble- muitas vezes, para que o cara con- tou que tinham matado um preso mas. Naquela época eu andava na fessasse, ou para forçá-lo a parar no xadrez da delegacia de furtos. E noite. A gente fica com medo. Mas de roubar. Isso existia. Agora, exis- eu fui investigar e esse foi um caso medo mesmo foi uma vez que um tia também a da corrupção, muito rumoroso. Fui juntando as peças, rapaz matou um procurador de voltada ao jogo do bicho, prostitui- era verdade, o cara foi levado para Justiça ali perto da Faculdade de ção, tráfico, roubo de carro. Essa foi um tipo de um hospitalzinho que ti- Medicina da UFRGS. Era um caso, criando uma coisa paralela. Esses nha perto de Torres, onde ele mor- a princípio, meio estranho. Ele che- grupos se toleravam e todo mundo reu, e descobriram que era ali que gou na Polícia com uma jaqueta e o sabia exatamente diferenciá-los. matavam os presos. Foi quase como fotógrafo bateu a foto dele. E depois um acidente, era um traficante que ele foi apresentado para nós com Você acha que a reportagem, dava dinheiro para a polícia, e qui- a jaqueta cortada. A versão oficial como um todo, hoje é feita por re- seram que ele aumentasse o valor. foi de que o procurador tinha ata- pórteres preguiçosos? Aquilo que Estavam com uma madeira, quise- cado ele com uma navalha e o ra- deveria facilitar, como internet, ram dar nele nos ombros, e deram paz tinha atirado nele. Mas, a gente Google e tal, acabou prendendo a um golpe na cabeça. Era muito do- achou estranho um procurador de bunda dos repórteres na cadeira? lorido ver isso. E aí eu sofri porque Justiça estar com uma navalha. E só São essas coisas que a própria im- foram expulsos vários policiais da quando foi revelada a foto no jornal prensa sugestiona para que acon- corporação, foi fechando o cerco. nós vimos a jaqueta. Aí publicamos teça. E os repórteres se adaptam.

REVISTA PRESS180 13 ENTREVISTA

Antigamente, às 14h, saia da Caldas Júnior não sei quantas Kombis lota- das, com repórteres das editorias. E a editoria de polícia tinha uma kombi quase só para ela. O repórter na época saia para entrevistar. Por- que uma coisa é entrevistar uma pessoa e ver o gesto e ver as dúvi- das, ao vivo. A outra é, pior ainda, pela internet, por e-mail, telefone. Responde por e-mail e pronto. Isso barateou e o repórter foi ficando mais na redação.

Mas isso também não diminuiu a importância da imprensa e a ca- pacidade de atrair o público em si? Isso não está um pouco na gê- nese da crise que os veículos de comunicação enfrentam? Não é uma regra. Eu não gosto da Folha de S. Paulo porque eu não gosto do texto da Folha. Quase não leio, mas leio o Estadão. E gosto do Estadão. Então, tu vês uma matéria no Estadão assinada por três repór- teres. Eles têm um correspondente ção graciosa. Por exemplo, o título fenômeno. Já nas revistas, as com em Paris, que foi meu aluno, escre- é corpo 36 no máximo. Ele é um maior tiragem do País não são Veja vendo diariamente. Isso sai caro. jornal que não grita. É uma concep- e Isto É, são as de fofoca de televisão. ção de jornal. E aquilo é o The New Os jornais, especialmente, mais York Times. Em meio a onda das fake news, do que o rádio, a televisão e a re- será que a gente tem capacidade vista, passam por uma crise, pois Mas aí é que tá: antigamente, por de saber o que não é verdade e hoje não podem mais dar o fatu- exemplo, o Papa só morreu quan- valorizar o que é verdade? al. Amanhã de manhã, o fato já do saiu no Correio do Povo. Como Hoje, tu acreditas em alguns é velho, a internet já deu. A ma- os jornais perderam essa credibi- sites. Isso é um desiderato do Jor- téria mais elaborada, analítica, lidade? nalismo, que vem junto da educa- com mais informação, não seria o Restringiu. Naquela época, por ção e tal, que tem que ser feito. A caminho para o jornal? exemplo, o Breno Caldas tinha um concepção do Diário Gaúcho, por Mas, é tudo isso num espaço mais orgulho de ter um dos cinco maiores exemplo, foi errada desde o início. reduzido. Aquela matéria que nós jornais do país. Hoje, o país tem dois Ah, tem que fazer um jornal que as fazíamos em cinco laudas, essa não jornais: o Estadão e a Folha. Há 20 pessoas que não leem consigam ler. tem mais como fazer. Aquela ma- anos, quando veio a internet, dizia- Esse é o primeiro ponto, é preciso téria de cinco laudas tu vai ter que -se que ia acabar com o jornalismo. se aproximar das pessoas, mas, ao fazer em 40 linhas. Depois, não, vai continuar só o jor- se aproximar delas, tem que fazê- nalismo de qualidade. E hoje o fenô- -las crescer. É o caso da educação. Todo mundo cita o exemplo do meno que se tem é o do jornalismo Então, eu sempre sacaneio eles The New York Times como jornal de qualidade, esse do Estadão e da porque, na verdade, a receita de que se reinventou, mas ele conti- Folha. E tem um jornalismo popular, peixe na Semana Santa começava nua desse mesmo jeitão. que não estava previsto no Brasil, assim: lave as mãos. Isso é de uma São pequenas mudanças que ele pois é não sensacionalista, um jorna- crueldade monstra. É preconceitu- vem fazendo, mas é uma diagrama- lismo que presta serviço. Isso é um oso, um absurdo.

14 PRESS180 O jornalismo tem futuro? Ou virá a ler uma matéria da Bravo! e via, Mas o conteúdo não era mais den- outra coisa parecida com o jorna- "essa é feita por jornalista", "essa so do que hoje? lismo? não é feita por jornalista", porque O que eu sempre observei é que Eu acredito que o jornalismo tem nós sabemos contar as coisas. em todas as aulas um grupinho me futuro. Alguém tem que fazer a me- procurava para ter mais informa- diação entre a emissão e o receptor. Você percebeu alguma mudança ção. Um grupinho, dois, três, qua- Esse é um ponto. Alguém tem que no perfil dos alunos no entendi- tro. Sempre foi assim. E, agora, eu dizer se aquilo pode ser verdade mento do que é o jornalismo, no vejo também o pessoal sentado, no ou não, contextualizar, fazer uma interesse pela atividade e na dis- bar, no saguão, lendo livros, e não leitura daquilo e isso vale para o posição em se qualificar para ela? são livros obrigatórios. A maioria jornalismo e para as relações públi- Desde que eu fiz a faculdade até não lê, mas tem quem lê. Em todas cas. As redes sociais obrigaram as agora, que eu deixei de lecionar, as as turmas saem futuros profissio- empresas a responderem imediata- aulas sempre foram assim: tem um nais diferenciados. Gente acostu- mente. Isso é um mercado. Eu sem- grupo de destaque e um outro grupo mada a ler, que leu a vida toda. pre dei aula também para relações que não quer nada com nada. Sem- públicas. Eu estava fazendo uma pre foi assim. Claro que na minha Uma coisa que percebo é que hoje, revista e com o desenvolvimento época tudo era mais direcionado por exemplo, um publisher há 25 a gente fazia uma versão eletrôni- para o jornal impresso, depois co- anos, como eu, jamais vai dar aula ca e uma impressa. Uma das me- meçou a crescer muito o rádio, hoje em universidade porque não é lhores cadeiras, porque fazia duas é a televisão (que antes era pouco), mestre, nem doutor. Essa reserva mídias em uma mesma aula. Nem mas tem grupos que queriam fazer de mercado que se criou na aca- o Jornalismo tinha. Eu gostava mui- jornalismo e muitos abandonaram demia me parece que afastou um to. E a gente tinha uma dificuldade o jornalismo, pelo mercado e pelos pouco a academia da realidade do de fazer os alunos escreverem. Eles baixos salários. Tem uma ex-aluna dia a dia. Hoje tem gente que tem diziam que isso era coisa de jorna- minha que é talentosíssima, ela é como profissão estudar. Se - for lista, quem tem que escrever é jor- uma microempresária hoje, não mou em jornalismo, já entra no nalista. E isso mudou. Foi mudando tem como trabalhar em jornal. mestrado, no doutorado e depois pelas mídias sociais. Eles começa- vai dar aula, sem nunca ter entra- ram a pegar estágio para atender do em uma redação. mídias sociais, em que tinham que Esse relato é uma realidade ab- escrever. Então, mudou a preocu- surda e que não tinha antigamente. pação em aprender a escrever. Eu Quem se destacava no mercado a fa- sou muito fissurado no jornalismo, Uma coisa é culdade fazia questão de levar para dou uma dimensão imensa para entrevistar uma dar aula. Esses que se formam, que ele, mas eu acho que só nós sabe- fazem toda uma carreira acadêmi- mos contar as coisas de uma manei- pessoa e ver ca, procuram escrever, na maioria ra atraente e rápida. Aí, entra tudo o gesto e ver das vezes - vão ficar bravos comigo o que a gente discutiu: o texto tem as dúvidas, ao - de uma maneira ininteligível. E é que ter 20, 30 ou 40 linhas? E tu vai vivo. A outra é, tudo uma colagem. As teses são to- tentar escrever da maneira mais pior ainda, pela das colagens. Não têm nada original. atraente possível. O lead não é algo internet, por E a primeira coisa que eles fazem antigo para sacanear. É para abrir e-mail, telefone. quando vão dar aula é fazer a crítica a matéria com o mais importante, Responde por da mídia: a mídia não presta, mídia para prender o leitor na primeira e-mail e pronto. isso, mídia aquilo. Vão lá defender frase. Depois, para manter o leitor, Isso barateou essa comunicação comunitária. E eu é preciso outra coisa. Por exemplo, e o repórter foi gozava, eu brincava, eu quero escre- hoje, os cadernos de cultura dos jor- ver para milhões de pessoas, porque nais de Porto Alegre não são feitos ficando mais aí tem um troço político e tal, não, por jornalistas, e os textos são can- na redação. é uma atividade macropolítica a da sativos, enfadonhos. O jornalista é imprensa, mas não é uma atividade quem sabe fazer. Tinha a revista política, um partido político ideoló- Bravo!, que terminou. Eu começava gico. É muito mais que isso.

REVISTA PRESS180 15 Lorem ipsum dolor OPINIÃO O Jornalismo Fênix sit amet, consectetur Puxa vida, está difícil, mas ção para a dramática redução no volume de anúncios classificados muito difícil meeeesmoooo, e destacados. Mostram que as ta- adipiscing elit, enfrentar semblantes irônicos belas de preços do cm/col são, cada de alguns coleguinhas quando vez mais, apenas referências na ne- afianço que a prática da nossa gociação da inserção publicitária. sed do eiusmod Identificam cortes na entrega do- atividade vai bem, obrigado, miciliar em “pontas de rede” onde e manda lembranças. É que é caro chegar. Alertam contra a não parecem dispostos a terçar migração de cadernos segmentados para as edições dos fins de semana. MÁRIO ROCHA armas usando argumentos e [email protected] Documentam a redução dos postos preferem estocadas fisionô- de trabalho nas redações e o acha- micas. Esgrima bem jogada, tamento salarial. é sempre bom lembrar, surge Sim, os incêndios estão se proli- lação para identificação e produção quando alguém com habilidade ferando e há labaredas nos atuais, das pautas legítimas e necessárias; brasas nos mais recentes, cinzas de desapego ao lucro fácil prove- prévia a desenvolve mediante nos mais antigos. O que talvez não niente de conteúdos que dizem ou técnica apurada no treinamen- estejam enxergando é que nem to- omitem o que foi acertado em acor- to diário. Fim da metáfora. dos os empreendimentos jornalís- dos espúrios. ticos “tradicionais” sucumbirão às São textos para onde há conflu- Prefiro mil vezes a companhia chamas. ência da ética, competência, cria- de jovens estudantes em cujas Muitos estão reinventando o pró- tividade, domínio das ferramentas prio modelo de negócio. Diversifi- que novas e “velhas” plataformas carinhas a afirmação otimista cam o conteúdo na cesta que agora possibilitam, estilo atrativo e corre- gera olhares que unem um contém ovos de galinha, de pata, ção gramatical que preserve a últi- pouco de perplexidade com de avestruz, de marreca piadei- ma flor do Lácio. A audiência seleta muito de esperança. Quero que ra... Basta ter pena... O problema é os está descobrindo. O que o leitor achar quem possua competência espera de um texto para ser feliz? acreditem quando garanto que para chocar. Outros empreende- Que apresente um pouco de saber, estamos vivendo um momento dores estão obcecados em encher bastante sabedoria e muito sabor. fantasticamente desafiador, um novas cestas até mesmo com algum momento de esboroamento das dodô extinto e mais aquilo que só com muito boa vontade ou mio- certezas, de experimentação que pia poderíamos classificar de ovos produz descobertas – inclusive jornalísticos. O problema é achar a de que estamos bem sujei- quem tenha estômago para chocar. O Jornalismo Fênix já está renas- tos a errar, aqui e ali, embora cendo das próprias cinzas. Colecio- na melhor das intenções. no incontáveis exemplos de novas formas de contar histórias relevan- Desesperançados encolhidos e tes para as pessoas; de valorização arautos do apocalipse apontam extrema da reportagem investiga- para as quedas das tiragens dos tiva precisa a ponto de desafiar re- Mario Rocha é jornalista jornais impressos. Chamam a aten- taliações; de parcerias com a popu- e professor da Fabico

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MATÉRIA DE CAPA A nova ( e incerta ) cara do j o r n a l i s m o

18 squeça a imagem que a ficção e até mesmos mo- mentos históricos construíram sobre o jornalista. Esqueça o furo de reportagem. Esqueça as fontes misteriosas e cheias de segredos a revelar. A figura do investigador, que vai atrás da notícia quase que de forma heroica, escancara segredos de estado e mudaE os rumos da sociedade é tão icônica quanto antiquada. A realidade da profissão, para a maioria dos jornalistas, está longe de contemplar tanta ação, se aproxima mais do drama. E ele reside nas incertezas quanto ao próprio futuro. De acordo com dados do Inep, mais de 326 mil pessoas se matri- cularam no curso de jornalismo, entre 2009 e 2015. No mesmo pe- ríodo, 53,5 mil concluíram a graduação. Esses números contrastam com os dados do mercado de trabalho. Na última década, o maior nível de vínculos trabalhistas formais no jornalismo foi alcança-

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do em 2013, com 67.305 postos, se- ética e a informação de qualidade No entanto, durante a formação, gundo dados da Relação Anual de definham um pouco mais. Ao final, emergem novos olhares sobre o Informações Sociais (RAIS). não é só ele quem sai perdendo. A papel que o jornalista desempenha Em 2015, as vagas formais regre- profissão tende a sofrer ainda mais na sociedade. Para Sean Aquere Ha- diram para 62.577. Em apenas dois com a desvalorização, a informa- gen, coordenador da comissão de anos, mais de 4,7 mil contratos fo- ção repassada à sociedade fica um graduação em jornalismo da Facul- ram encerrados, número equiva- pouco mais comprometida e aquele dade de Biblioteconomia e Comuni- lente ao total de jornalistas empre- jornalista icônico vai se dissipando cação da Universidade Federal do gados em Minas Gerais, o terceiro cada vez mais do imaginário e da Rio Grande do Sul (Fabico/Ufrgs), os O “quinto poder” aparece como maior mercado empregador na vida das pessoas. “alunos esperam poder trabalhar área, no ano de 2015. plenamente aplicando os conheci- alternativa à mídia tradicional A constatação evidencia uma mentos que construíram em sala contradição. Se, hoje, há mais meios Imaginário versus de aula”, uma perspectiva que é a de distribuição da informação, pro- realidade mais constante entre os graduan- piciados, sobretudo, pela revolução dos. “Isso não muda, é objetivo de digital, como justificar a redução de O diretor do Sindicato dos Jorna- todo formando. Mas entender a re- postos de trabalho? Não existe uma listas do Rio Grande do Sul (Sind- alidade em que estão inseridos, vi- única e definitiva resposta para jors), Milton Simas Júnior, avalia venciar as contingências de merca- esse questionamento. Mas ela, sem dúvida, passa pela adaptação da grande mídia aos novos modelos de negócios. São formatos que ainda não estão claramente definidos, fato que di- ficulta a tomada de decisões sobre investimentos, no caso das empre- sas, e que leva profissionais, dos mais jovens aos mais experientes, a se depararem com escolhas difí- ceis. Por exemplo, investir no ta- lento para a reportagem ou optar por uma vaga no serviço público? Mídia tradicional ou o universo di- gital? Comunicação corporativa ou de massa? Carreira acadêmica? Jor- nalismo alternativo? Independen- te? De dados? Blogue? Entre fazer o que se gosta, cor- rendo o risco de obter uma baixa remuneração ou de ser dispensado em um dos tantos “passaralhos”, e buscar estabilidade profissional e financeira, o jornalista, inevitavel- mente, fica em cima do muro. O que os grandes veículos de comu- do, traz certa apreensão e angústia.” mundo ideal, em qualquer profis- nicação exercem uma forte influ- Nem sempre o recém-formado en- são, seria aliar as duas demandas. ência sobre os vestibulandos. “O contra oportunidade para exercer a No caso do jornalista o desafio que a gente vê na televisão traz atividade, sinaliza Fábio Henrique é ainda mais acentuado. Muitos essa falsa ilusão de sucesso e boa Pereira, doutor em Comunicação. profissionais valorizam e se guiam remuneração, mas esses profis- “A inserção profissional varia mui- pela função social do jornalismo. sionais nos quais os estudantes se to de acordo com o local: há cidades E quando um destes vocacionados espelham são minoria na nossa ca- em que o mercado, apesar de difícil, jornalistas abandona a profissão, a tegoria”, salienta ele. ainda é dinâmico, como Brasília,

20 PRESS180 quando o profissional que se colo- cou no mercado vê uma dificuldade de progresso na carreira, sobretudo “A inserção profissional varia em relação aos planos que esses jor- muito de acordo com o local: há nalistas têm para a vida familiar.” O mercado mais restrito é fruto cidades em que o mercado, apesar de um ajuste do setor em busca de de difícil, ainda é dinâmico, como adequação a uma nova realidade Brasília, São Paulo, imposta por meios de transmissão e as grandes capitais, mas nas da informação mais ágeis e com cidades médias e pequenas, com menores custos de produção. As um ou dois veículos de mídia, empresas têm reduzido suas es- truturas (grandiosas no caso dos tem turmas inteiras que saem da jornais impressos e dos meios ele- faculdade sem conseguir entrar trônicos, como rádio e TV) para se no mercado de trabalho.” manterem competitivas frente aos negócios que proliferam no mundo virtual. O grande desafio é que os cortes ocorrem sem que, até o mo- mento, essa operação mais enxuta resulte em ganhos financeiros. “A verdade é que ainda não se apren- deu a ganhar dinheiro com a inter- net”, avalia Simas. Há mais de cinco anos, os maio- res grupos de comunicação do país vêm promovendo demissões em sé- rie, conforme demonstra o levanta- mento “A conta do passaralho”, re- alizado pela agência Volt Data Lab, especializada em apuração de da- dos. De 2012 a julho de 2017, só en- tre jornalistas que atuam nos prin- cipais veículos de comunicação do país a conta já se aproxima de 2 mil profissionais. Em 2017, com pouco mais de um semestre, grandes gru- pos (como Folha, Estado, Infoglobo, entre outros de grande visibilidade) já demitiram mais do que em todo o ano passado. Esse é um quadro que eleva a pressão sobre os que estão empre- São Paulo, Rio de Janeiro e as gran- deparam, em algum momento da gados, para que preservem seus des capitais, mas nas cidades médias carreira, com obstáculos difíceis de postos – sujeitando-se a baixas re- e pequenas, com um ou dois veículos serem superados. Pereira revela que munerações ou a contratos com de mídia, tem turmas inteiras que boa parte dos jornalistas desiste da menos garantias –, e também sobre saem da faculdade sem conseguir profissão no momento da inserção os que estão desempregados, que se entrar no mercado de trabalho.” profissional, ainda nos primeiros vêm sem opção e acabam aceitando Tanto os formandos que não con- anos de formados. “Outro momen- as condições impostas. “O que nós seguem colocação quanto os pro- to que percebi de abandono da car- propomos é desenvolver o senso fissionais que atuam na área se reira é na faixa entre 30 e 32 anos, crítico dos alunos para que estejam

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capacitados a negociar, a entender quais os limites de uma relação abusiva com o empregador e como se posicionar frente a essas ques- tões”, descreve Hagen. Compete também à academia re- forçar valores que devem ser imu- táveis na carreira em meio a onda de transformação pela qual ela pas- sa. “O curso entende a importância das novas mídias, e está investido no debate sobre elas, mas acredita que justamente pelo excesso de in- formação, interesse público, verda- de, objetividade e ética são funda- mentais para garantir a cidadania”, pondera Hagen. Fábio Henrique Milton Simas Pereira Júnior Renovação desconsidera Professor da Universidade Diretor do Sindicato dos Jornalistas bagagem dos mais de Brasília (UnB) do Rio Grande do Sul (Sindjors) experientes mais, buscadas na internet. para dar lugar ao profissionalismo O problema não é ter a internet pragmático”, reflete Zélia. como ferramenta de trabalho, mas Embora cada geração congregue De acordo com a professora apo- quando ela se configura como a qualidades que somadas podem sentada da Universidade de Brasí- única ligação do repórter com o aprimorar a produção jornalística, lia, Zélia Leal Adghirni, o jornalis- “fato”. Essa é a percepção que está as empresas têm frequentemente mo de qualidade no atual cenário presente tanto nas redações quanto optado, na redução de seus quadros, é ainda mais importante do que na sala de aula. “Os alunos chegam pela demissão dos trabalhadores nunca. Pós-doutora pela Université à universidade achando que tudo o com mais tempo de atuação. Essa de Rennes I (França), a professora que acontece está na internet”, ava- movimentação tem o objetivo de tem a atividade jornalística como lia Zélia. Entre os jornalistas senio- reduzir salários, critica o presidente foco de suas pesquisas. res que participaram do levanta- do Sindjors, Milton Simas Júnior. Em um dos estudos mais re- mento, a visão é similar. A opinião A constatação se confirma de centes, Zélia realizou entrevistas de Rosamaria Urbanetto, editora acordo com dados da Relação Anu- em profundidade com jornalistas de núcleos especiais da Globonews, al de Informações Sociais (RAIS). acima dos 50 anos de idade e que dada à professora é um exemplo: Em 2005, a faixa de maior salário atuam em grandes veículos de co- “Jovens buscam tudo na internet, para profissionais do jornalismo municação. O olhar experiente dos não saem às ruas”. era superior a 20 salários-mínimos, que acompanharam nas últimas Na análise da pesquisadora, “uma patamar que concentrava 8% dos décadas um processo cada vez fronteira invisível e intransponível profissionais com vínculos formais. mais célere de adoção de novas separa jovens e veteranos”. Os mais Dez anos depois, em 2015, apenas ferramentas e tecnologias digitais jovens são bem preparados, domi- 2,6% do total recebiam mais de 20 demonstra que, apesar do amplo nam idiomas e ferramentas tecno- salários-mínimos. “O recém-for- campo que se abriu para a atua- lógicas. Os mais velhos, por sua vez, mado é maleável e adapta-se mais ção do jornalista, as práticas que carregam os valores nobres que facilmente as normas político-edi- asseguraram ao profissional da im- consagraram o imaginário icônico toriais assim como a salários mais prensa credibilidade vêm se per- do jornalista. “Os valores ideológi- baixos na escala profissional”, ex- dendo. Informações são, cada vez cos e românticos desapareceram plicita a professora no estudo.

22 PRESS180 no mesmo nível, houve uma redu- pode fazer a diferença nesta pro- ção significativa no número de for- fissão não se deixa influenciar pela Obrigatoriedade do mandos a partir de 2010. desregulamentação do diploma.” diploma em questão Um fato que coaduna com esse Ele reconhece que, no mercado de período e que teve efeito sobre os trabalho, a questão se reflete em Entender uma profissão que sofre graduandos foi o fim da obrigato- salários abaixo da qualificação real com"O a Jornalista precarização e com a recen- riedade do diploma, definida em dos profissionais, jornadas abusivas te, volta e contínua, diferente onda de demissões 2009, quando quase 10 mil estu- de trabalho, insegurança e instabili- exigedepois um de olhar multifocal. Mui- dantes concluíram o curso. No ano dade. “Este é um projeto político e tosexercer se questionam a se o número de seguinte, esse número havia sido econômico que somos frontalmen- formandosfunção, ele não seria incompatível reduzido para 7,1 mil. Desde então, te contrários, e vamos continuar fa- comse o torna tamanho do mercado. Essa é tem se mantido em uma média de zendo toda a pressão social possível umaombudsman visão que se verifica na reali- 7,2 mil formandos por ano. para que seja revertido em nome dade.de si“A mesmo" gente observa uma multi- de um jornalismo livre, inclusivo e plicação dos cursos de jornalismo qualificado”, defende. dos anos 70 até 2010”, ressalta o “Diariamente, recebemos no sin- professor da Universidade de Bra- dicato pessoas pedindo registro sília (UnB) Fábio Henrique Pereira, Entre as décadas de como jornalistas, e não temos nem doutor em Comunicação pela mes- 1970 e 1980 temos um como negar porque não houve uma ma instituição. profissional que vai definição de pré-requisitos a serem Até 1970, o Brasil contava com quase automaticamente atendidos”, relata Simas. O diri- apenas 18 cursos de graduação para o mercado de gente analisa que isso leva para o em jornalismo, esse número foi trabalho”, observa. mercado de trabalho pessoas sem aumentando gradativamente até Esse é um resultado da qualquer comprometimento com a atingir 317, em 2010, conforme le- renovação das empresas profissão e que interferem no con- vantamento para elaboração da jornalísticas no fim texto dos profissionais graduados, pesquisa “perfil profissional do da ditadura militar ainda que as empresas tradicionais jornalismo brasileiro”, coordenada continuem dando preferência pelos pelos pesquisadores Alexandre Ber- diplomados. “A pessoa pega o regis- gamo, Jacques Mick e Samuel Lima, tro como jornalista, monta um site e apoiada pela Federação Nacional “Desde que começou a movi- e passa a copiar e colar matérias dos Jornalistas (Fenaj). mentação, que data de 2001, para publicadas por veículos de comu- Sobre esse dado, Pereira destaca a retirada da obrigatoriedade do nicação que tentam se rentabilizar que por muito tempo a demanda diploma, nós já vislumbrávamos cobrando acesso pelo conteúdo. do mercado absorvia praticamente essa condição”, frisa Milton Simas Esse cara põe de graça na internet todos os recém-formados. “Entre as Júnior, presidente do Sindjors. Para e ainda ganha dinheiro com publi- décadas de 1970 e 1980 temos um ele, esse é um ponto marcante para cidade. E quando você vai questio- profissional que vai quase automa- a precarização das condições de tra- nar, ele diz que está dando crédito ticamente para o mercado de traba- balho dos profissionais. Simas criti- para o autor, como se isso bastas- lho”, observa. Esse é um resultado ca, também, o fato de a questão ter se”, exemplifica. da renovação das empresas jorna- avançado sem uma mobilização am- Apesar do cenário perturbador, lísticas no fim da ditadura militar. pla que barrasse a mudança. “Nós, há o reconhecimento de que novos Na década seguinte, 1990, a quanti- enquanto dirigentes sindicais, está- caminhos podem gerar frutos pro- dade de empregos se mantém com- vamos fazendo a luta para derrubar missores. Jornalistas que estão dan- patível com o número de formando a decisão. Por diversos momentos, do voz às pessoas relegadas na co- graças ao crescimento do setor. buscamos as universidades e os co- bertura tradicional, uso das novas No entanto, o número de gradua- ordenadores dos cursos e quase não ferramentas na geração de dados, dos seguiu em elevação depois dis- houve adesão à causa”, aponta. checagens aprimoradas e negócios so sem que a geração de postos de Na percepção do coordenador do voltados para a geração de conteú- trabalho tenha crescido no mesmo curso na Fabico, Sean Hagen, não do exemplificam o potencial desta patamar. Ainda que o número de houve menor procura pela carrei- geração, que construirá a realidade cursos oferecidos tenha se mantido ra após 2009. “Quem acredita que futura da profissão.

REVISTA PRESS180 23 Lorem ipsum dolor OPINIÃO É preciso repensar o Jornalismo sit amet, consectetur adipiscing elit, O Jornalismo é uma fer- Se você chegou até aqui, deve es- ramenta fundamental para a tar se perguntando: o que os dois fa- tos têm em comum? Vejamos. sed do eiusmod sociedade. O problema, na Em 2001,nos dias seguintes àque- atualidade, é que a busca la estranha manchete a redação do por audiênciae,muitas DG se inquietou. Por que um jornal que já tinha uma forte ligação com vezes, a falta de con- seus leitores e contava histórias ROBERTO JARDIM [email protected] corrência têm feito os fantásticasteria de manchete um as- sunto que não era sequer chamada veículos deixarem de lado de capa de nenhum jornal do País? o que de mais essen- pe. A tal zona de conforto. O pilo- cial elestêm a dar: to automático. Saiu dali com um compromisso pelamanutenção da Jornalismo de qualidade. IÁRIO inquietude. Como bons jornalistas, GAÚCHO aquele grupo tinha que ter sangue ANO 2 -D Nº 436 - PORTO ALEGRE, SÁBADO, 8/9/2001, E DOMINGO, 9/9/2001 CIENTISTAS EUROPEUS DIZEM QUE TÊM PROVAS Voltemos alguns anos no calen- R$ nos olhos para o bem do leitor. A combinação está de volta O chamado com a nova 0,50 Planeta estação, depois Vermelho do sucesso nos seria anos 80 dário. 8 de setembro de 2001, um povoado por Dezesseis anos depois, parece pequenos Vida em organismos sábado. O Diário Gaúcho teve como Marte? que outras redações precisam fazer manchete um assunto nada usual PÁG. 5 o mesmo que o DG fez. Ou seja, é

MAIS DE para um jornal popular.“Vida em 1.740 hora dos jornalistaspararem para OFERTAS DE EMPREGOS Marte?”, gritavam as letras em cor- ROGÉRIO SILVEIRA, ESPECIAL/DIÁRIO GAÚCHO A MODA É & pensar na profissão. Principalmen- PRETO NO ESTÁGIOS BRANCO PÁGINA 6 po garrafal na primeira página. PÁG. 36 teo futuro dela. É preciso redesco- Leonardo nasceu na sexta-feira e fará aniversário DUPLA EXECUTADA EM ANDRÉA GRAIZ/DIÁRIO GAÚCHO junto com a mãe Cláudia e o irmão Samuel DISPUTA DE PONTO DE Corta para hoje. 17 de agosto de Mãe e dois filhos nascidos Renato brir onde estão a atenção aos fatos, Dornelles: no dia 7 de setembro!! TRÁFICO EM ESCOLA “Chora, cavaco!” 2017, uma quinta-feira. Programas PÁG. 3 PÁG. 33 a inquietude, o questionamento e, de grande audiência nas rádios e acima de tudo, o sangue nos olhos. tevês deram um espaço para um Torço para que a transformação vídeo do YouTube, produzido no In- desse vídeo do YouTube em notí- terior gaúcho. As imagens mostram Esse incômodo gerou um hábito cia incomode os colegas que estão um filho assustando a mãe com um saudável: seminários anuais para à frente dos veículos. Tomara que o drone. discutir as ferramentas e meios de espaço dado a esse factoide inquie- Curioso. E só. Interesse social? melhor fazer Jornalismo. Uma vez te os profissionais de hoje da mes- Nenhum. Interesse comunitário? por ano, a redação inteira, do boy ma forma que aquela manchete Nada. Zero. ao editor-chefe, parava para discu- inquietou a equipe do DG lá atrás. O que mais surpreende é que a tir. Desses encontros saíram manu- Afinal, é preciso saber o que vale repercussão aconteceu em progra- ais e guias que mostravam a inquie- mais: a audiência que um vídeo mas noticiosos, aqueles de análise tação natural que todo jornalista sem valor comum geram ou a cre- política e econômica como as rádios tem. Ou, melhor, deveria ter. dibilidade que o Jornalismo bem fazem tão bem.Na tevê, a situação Uma das conclusões a que chega- feito pode dar? foipior ainda, já que os telejornais mos naquele primeiro encontro foi são tão curtos que é um desperdício de que os números do sucesso de perder tempo com uma não-notícia. venda haviam acomodado a equi- Roberto Jardim é jornalista

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GRANDES NOMES JOEL SILVEIRA

o dia 15 de agos- to completaram- -se 10 anos do fa- lecimento de um dos nomes mais importantes do jornalismoN brasileiro e premiadíssi- mo autor de mais de 30 livros: Joel Silveira. Um dos principais repórte- res brasileiros, deixou uma ficha ex- tensa em relatos jornalísticos com contornos literários. Segundo ele, o estilo foi moldado por uma necessi- dade. “Senti que precisava roman- cear o texto para me diferenciar do que era escrito na imprensa dos anos 30 e 40”, contava Silveira, que acreditava na eficácia de uma boa pesquisa para a produção de uma reportagem confiável. Nascido em 22 de setembro de 1918, em Lagarto, estado de Sergipe, Silveira desde jovem se considerava militante de esquerda. Por diver-

26 PRESS180 Foi quem lhe deu o apelido de "a víbora" por seu estilo ferino e impactante. Joel Sil- veira recorda: "Nunca tinha visto o Chatô... Aliás, não gostava dele, não concordava com os processos, a ma- neira dele como jornalista. E fiquei lá estatelado. E o Chatô veio: 'Seu Sil- veira, o senhor é um homem terrível! Seu Silveira, o senhor é uma víbora! O senhor vai trabalhar comigo! Des- ça lá e procure o seu Carlos'. Era o Carlos Lacerda (jornalista e político). gências com seu pai, o qual considerava um burguês, mudou-se de Aracaju Aí, fiquei." para o Rio de Janeiro em 1937, a pretexto de estudar Direito. De fato, cursou Sua primeira grande missão para até o segundo ano da faculdade, mas confessa, em suas memórias, ter sido os Diários Associados foi cobrir a um estudante relapso. De fato, estava disposto a trabalhar como jornalista. 2ª Guerra Mundial e, antes de em- Seu primeiro emprego foi no semanário Dom Casmurro, de propriedade de barcar para a Itália como pracinha Brício de Abreu e Álvaro Moreyra. Depois foi repórter e secretário da revista da Força Expedicionária Brasileira, Diretrizes, semanário de propriedade de Samuel Wainer, onde permaneceu Silveira ouviu a célebre frase do pa- até a redação ser fechada pelo DIP, em 1944. Escreveu também para os Diá- trão: “O senhor vai para a guerra, rios Associados, Última Hora, O Estado de S. Paulo, Diário de Notícias, Correio mas não me morra, seu Silveira! Re- da Manhã e Manchete. pórter é para mandar notícia, não é Foi na Diretrizes que Silveira tornou-se uma estrela do jornalismo nacional para morrer. Se o senhor morrer, eu com a reportagem “Eram Assim os Grã-Finos em São Paulo”, publicada em o demito.” 1943, na qual apresentava sua impressão do high-society paulistano em uma Na guerra, com a patente de ca- narrativa irônica e debochada. Sua “língua ferina” rendeu-lhe o apelido de pitão, Joel Silveira aproximou-se víbora, dado por Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, que logo dos pracinhas para conseguir mais contratou o talentoso repórter. notícias. Mais de uma vez chegou A mudança de empresa não foi planejada, mas provocada justamente por ao campo de batalhas. “Certo dia, um texto seu - ao destacar como título uma frase dita por Monteiro Lobato o mais terrível deles, vi a morte de durante uma entrevista - “O governo deve sair do povo como a fumaça sai da um sargento brasileiro, metralhado fogueira” - , Silveira despertou, dessa vez, a ira de Getúlio Vargas, que man- pelos alemães. Só conseguimos res- dou fechar Diretrizes. “Não me sobrou alternativa senão aceitar o chamado gatar seu corpo quatro dias depois.” do Chatô”, comentou ele em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, na qual Como tinha franquia telegráfica pela explicava o sarcasmo de seus textos daquela época como uma tentativa de amizade com os soldados, Silveira escapar da censura imposta pelo Estado Novo. enviou diversos relatos. “Enfrentei os momentos pesados e não fiquei em Roma, como os correspondentes mais velhos, como Ernest Hemin- gway.” Quando retornou ao Brasil,

“Senti que precisava romancear o texto para me diferenciar do que era escrito na imprensa dos anos 30 e 40”

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disse que havia ido à guerra com 27 anos e que, ape- te o governo Castelo Branco, por ser considerado comu- sar de ter ficado onze meses, voltou com 40. “A guerra nista. Já no governo Médici, foi preso mais cinco vezes. amadurece”. Os relatos estão em seu livro O Inverno na Em 2001, indignado com a candidatura de Zélia Gattai Guerra, editado pela Objetiva. à vaga do marido, Jorge Amado, na Academia Brasilei- Dez meses depois, o repórter retornou e foi recrutado ra de Letras, não apenas se lançou candidato como a para outra guerra: Chateaubriand comprou briga com criticou pesadamente. Para ele, Zélia era “uma escrito- o conde Francisco Matarazzo Jr., que pediu de volta o ra medíocre”, feita à custa do marido, e este só vendeu prédio que os Associados ocupavam no Viaduto do Chá. milhões de livros por suas ligações com o Partido Co- O troco veio com a cobertura do casamento da filha do munista. Na disputa, porém, Zélia teve 32 votos contra milionário, Filly, a cargo de Joel Silveira, que narrou 4 de Silveira, em uma das mais rápidas eleições da ABL: tanto o faustoso matrimônio como o enlace de um casal durou apenas 20 minutos. de operários, trabalhadores justamente das indústrias Silveira é considerado hoje um dos expoentes no Bra- Matarazzo. A matéria, com o título A Milésima Segunda sil do “Novo Jornalismo”, movimento que surgiu nos Noite da Avenida Paulista, seria uma das mais consa- Estados Unidos nos anos 60 – com nomes como Truman gradas reportagens do jornalismo brasileiro. Capote, Gay Talese e Norman Mailer – propondo repor- Conheceu, conviveu ou privou da intimidade de pra- tagens de fôlego escritas a partir de pesquisas extensas ticamente todos os presidentes do período democrático e com linguagem que mais se aproximava da literatu- anterior ao golpe militar de 1964. Para conseguir uma ra do que do jornalismo – por isso o movimento é co- entrevista com Getúlio Vargas, nhecido também como quatro meses antes do suicí- “jornalismo literário”. dio, mentiu ao chefe da Casa Embora o gênero tenha se Civil, Lourival Fontes, dizen- consolidado apenas na se- do que queria um emprego. É gunda metade do séc. XX, que o presidente não queria, em muitas reportagens de de maneira alguma, dar en- Joel Silveira escritas na trevistas. Como se tratava de década de 40 já se nota a um pedido de trabalho, o pre- força da linguagem literá- sidente recebeu o repórter, a ria na sua produção. quem disse: “Oi, doutor Silvei- Publicou cerca de 40 li- ra, que prazer.” Ele esclareceu vros. Foi agraciado com o que não era doutor, pois só prêmio Machado de As- estudara até o segundo ano de sis, o mais importante da Direito, mas Getúlio retrucou Academia Brasileira de dizendo: “Não, doutor é quem é douto em alguma coisa Letras, em 1998, pelo conjunto de sua obra. Foi ganha- e o senhor é douto em jornalismo”. No entanto, o presi- dor dos prêmios Líbero Badaró, Prêmio Esso Especial, dente, ao perceber que a intenção do encontro era uma Prêmio Jabuti e o Golfinho de Ouro. entrevista, irritou-se e deu as costas ao repórter. Em 2005, em uma de suas últimas entrevistas antes de Com Jânio Quadros, a aversão inicial transformou-se falecer, falou sobre o orgulho que tinha de sua carreira em admiração e amizade. Silveira conviveu intimamen- profissional. “Eu nunca fiz do Jornalismo escada para te com o presidente, viajaram juntos e, sobretudo, be- subir, para a política, para me vender. Sempre fui um beram juntos. No livro Viagem com o Presidente Eleito, jornalista, ou melhor ainda, um repórter. Nunca traí Silveira conta os dias que passaram num navio, logo de- minha profissão.” pois da eleição. Conta que o presidente às vezes bebia Joel Silveira faleceu em 15 de agosto de 2007, em seu duas garrafas de uísque numa noite. apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro, em de- Com Juscelino, a convivência foi quase fraterna. Di- corrência de um câncer de próstata. Na época, o jorna- vidiram uma namorada, a Osmarina, que fora secretá- lista Geneton Moraes Neto, que fez várias entrevistas ria do então deputado e que um dia Silveira levou em com ele para um documentário, escreveu: “Joel tinha casa, tarde da noite, a pedido de Juscelino. Anos depois, inveja de um personagem de Vitor Hugo que, minutos já presidente, ele perguntou: “Como vai a nossa Osma- antes de ser guilhotinado, dizia, resignado, que estava rina?” “Nossa não, senhor presidente. Minha.”, respon- pronto para a execução,mas ‘gostaria de ver o resto’. deu o jornalista. Ou seja: o personagem gostaria de descrever a própria Após o golpe de 1964, foi preso por duas vezes, duran- morte. Que palavras Joel usaria?”

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wwwwww..aaggeenncciiaapprreevviieeww..ccoomm GALERIA A imprensa vai à Guerra

Em 22 de agosto de 1942, o presidente Getúlio Vargas declarou “estado de beligerância” entre o Brasil e a Alemanha Nazista e a Itália Fascista. Era a entrada oficial do país na Segunda Guerra Mundial. Em edições extra no mesmo dia, os principais jornais informaram ao público em letras garrafais: Guerra!

declaração foi celebrada pela população, verno que controlava todos os meios de comunicação du- indignada pelo afundamento de navios rante o Estado Novo. Através dele, o governo manipulava a brasileiros pelos submarinos alemães. Os opinião pública em favor de seus interesses políticos. ataques foram apenas o empurrão final que A ida dos correspondentes só se deu depois de ameaças levou o Brasil a passar totalmente para os de boicote por parte dos dirigentes dos principais veículos Aliados.A O Brasil já havia se alinhado com os EUA em janei- de comunicação da época: Roberto Marinho e Herbert Mo- ro de 1942, após a Conferência do Rio de Janeiro, quando ses, diretores de O Globo; Assis Chateaubriand e Austregési- decidiu romper relações com o Eixo – formado por Itália, lo de Athayde, dos Diários Associados; Paulo Bittencourt, do Alemanha e Japão. Desde então, o governo Getúlio Vargas Correio da Manhã; e Horácio de Carvalho, do Diário Cario- havia concedido a permissão para que os Aliados usassem ca. Foi uma guerra que durou quase dois meses, mas afinal portos e bases aéreas no Brasil. os seis venceram. Diante do ultimato, endossado pelos di- Após a declaração de guerra, a opinião pública passa a se retores dos jornais (“ou mandamos nossos próprios corres- mobilizar para o envio à Europa de uma força expedicio- pondentes ou não publicamos mais nada do DIP referente nária. Por diversas razões de ordem política e operacional, à FEB. Usaremos apenas o serviço de agências internacio- somente quase dois anos depois, em 2 de julho de 1944, teve nais”), o governo se rendeu. início o transporte rumo ao front do primeiro contingente Após o processo de escolha, embarcaram para à Itália da Força Expedicionária Brasileira (FEB). como correspondentes de guerra: Rubem Braga, do Diário Ao esforço militar, juntou-se também o trabalho da im- Carioca; Rui Brandão, do Correio da Manhã; José Carlos Lei- prensa em registrar as ações das tropas brasileiras. Os cor- te e Joel Silveira; dos Diários Associados; e Egídio Squeff, de respondentes de guerra estavam previstos na organização O Globo. A Agência Nacional, órgão governamental, enviou: da FEB, só que a seleção e a escolha inicial de quem iriam Thassilo Campos Mitke e Horácio Gusmão Sobrinho, como acompanhar as tropas não coube ao Exército e sim ao De- repórteres; Fernando Stamato, Sílvio da Fonseca e Adalber- partamento de Imprensa e Propaganda (DIP) órgão do go- to Cunha como cinegrafistas.

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