AS ILUSÕES ARMADAS a Ditadura Envergonhada

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AS ILUSÕES ARMADAS a Ditadura Envergonhada AS ILUSÕES ARMADAS A Ditadura Envergonhada http://groups.google.com/group/digitalsource ELIO GASPARI A Ditadura Envergonhada 4ª reimpressão Copyright © 2002 by Elio Gaspari PROJETO GRÁFICO E CAPA Raul Loureiro FOTOS DA CAPA Capa: Cinelândia, Rio de Janeiro, 1° de abril de 1964 (Agência JB) Lombada: Tanque do 1º Rec Mec no portão do Palácio Laranjeiras na manhã de 1° de abril de 1964 (Agência O Globo) Quarta capa: Teatro Municipal, Rio de Janeiro, 1968 (Agência JB) EDIÇÃO DE TEXTO Márcia Copola PESQUISA ICONOGRÁFICA Companhia da Memória Coordenação: Vladimir Sacchetta Pesquisa: Ricardo Braule Pereira Apoio: Dedoc — Departamento de Documentação da Editora Abril Reproduções fotográficas: J. S. Rangel ASSISTÊNCIA EDITORIAL Rosangela de Souza Mainente Cristina Yamazaki Miguel Said Vieira Danilo Nicolaidis Clarice Cohn Adriana Alves Loche Luiz Alberto Couceiro Claudia Agnelli ÍNDICE REMISSIVO Silvia Penteado REVISÃO Beatriz de Freitas Moreira Maysa Monção Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Gaspari, Elio A ditadura envergonhada / Elio Gaspari. — São Paulo: Companhia das Letras, 2002. Bibliografia. ISBN 85-359-0277-5 1. Brasil — História — 1964-1967 2. Ditadura — Brasil I. Título. 02-4218 CDD-981.08 Índice para catálogo sistemático: 1. Brasil: Regime militar: 1964-1967: História 981.08 2004 Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA SCHWARCZ LTDA. Rua Bandeira Paulista 702 cj. 32 04532-002 — São Paulo — SP Telefone (11) 3707-3500 Fax (11) 3707-3501 www.companhiadasletras.com.br Para Clara SUMÁRIO Abreviaturas e siglas Explicação Introdução PARTE I A queda O Exército dormiu janguista O Exército acordou revolucionário PARTE II A violência O mito do fragor da hora Nasce O SNI Pelas barbas de Fidel A roda de Aquarius PARTE III A construção A esquerda se arma A direita se arma Costa e Silva: chega o barítono Y el cielo se encuentra nublado A provocação da anarquia A missa negra O fogo do foco urbano O Exército aprende a torturar APÊNDICE Breve nomenclatura militar Cronologia Fontes e bibliografia citadas ABREVIATURAS E SIGLAS Abreviaturas utilizadas AA Arquivo do Autor APGCS/HF Arquivo Privado de Golbery do Couto e Silva/Heitor Ferreira APHACB Arquivo Privado de Humberto de Alencar Castelo Branco BJFK Biblioteca John F. Kennedy BLBJ Biblioteca Lyndon B. Johnson DEEUA Departamento de Estado dos Estados Unidos da América Siglas gerais ABI Associação Brasileira de Imprensa ALN Ação Libertadora Nacional AP Ação Popular Arena Aliança Renovadora Nacional CCC Comando de Caça aos Comunistas CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CNI Confederação Nacional da Indústria Colina Comando de Libertação Nacional CPC Centro Popular de Cultura CPDOC Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas FAL fuzil automático leve FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo FMI Fundo Monetário Internacional GMT Greenwich Mean Time IPÊS Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais MAM Museu de Arte Moderna MASP Museu de Arte de São Paulo MCR Movimento Comunista Revolucionário MDB Movimento Democrático Brasileiro MNR Movimento Nacionalista Revolucionário Molipo Movimento de Libertação Popular MR-8 Movimento Revolucionário 8 de Outubro MRM Movimento Revolucionário Marxista MRT Movimento Revolucionário Tiradentes OCML-PO Organização de Combate Marxista-Leninista — Política Operária OLAS Organização Latino-Americana de Solidariedade PC do B Partido Comunista do Brasil PCB Partido Comunista Brasileiro PCBR Partido Comunista Brasileiro Revolucionário PCUS Partido Comunista da União Soviética PIB Produto Interno Bruto PNB produto nacional bruto Polop Organização Revolucionária Marxista — Política Operária PORT Partido Operário Revolucionário Trotskista PRT Partido Revolucionário dos Trabalhadores PSD Partido Social Democrático PTB Partido Trabalhista Brasileiro PUC Pontifícia Universidade Católica REDE Resistência Nacional Democrática Popular UDN União Democrática Nacional UNE União Nacional de Estudantes VAR Vanguarda Armada Revolucionária VPR Vanguarda Popular Revolucionária Siglas governamentais AI Ato Institucional CGI Comissão Geral de Investigações CIA Central Intelligence Agency (EUA) CSN Conselho de Segurança Nacional DEIC Departamento Estadual de Investigações Criminais DOPS Delegacia de Ordem Política e Social FBI Federal Bureau of Investigation (EUA) FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FNFI Faculdade Nacional de Filosofia INPS Instituto Nacional de Previdência Social SFICI Serviço Federal de Informações e Contra-Informação SISNI Sistema Nacional de Informações SNI Serviço Nacional de Informações STM Superior Tribunal Militar Sudene Superintendência do Desenvolvimento Econômico do Nordeste UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro USP Universidade de São Paulo Siglas militares AMAN Academia Militar das Agulhas Negras BC Batalhão de Caçadores BCC Batalhão de Carros de Combate Cenimar Centro de Informações da Marinha CIE Centro de Informações do Exército CISA Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica CODI Centro de Operações de Defesa Interna DI Divisão de Infantaria DOI Destacamento de Operações Internas EME Estado-Maior do Exército EMFA Estado-Maior das Forças Armadas ESAO Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais ESCEME Escola de Comando e Estado-Maior do Exército ESNI Escola Nacional de Informações FAB Força Aérea Brasileira FEB Força Expedicionária Brasileira ID Infantaria Divisionária IPM Inquérito Policial-Militar Para-Sar Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento da Força Aérea Brasileira PE Polícia do Exército PM Polícia Militar QG quartel-general RecMec (Regimento de) Reconhecimento Mecanizado RI Regimento de Infantaria 1 1 Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source com a intenção de facilitar o acesso ao conhecimento a quem não pode pagar e também proporcionar aos Deficientes Visuais a oportunidade de conhecerem novas obras. Se quiser outros títulos nos procure http://groups.google.com/group/Viciados_em_Livros, será um prazer recebê-lo em nosso grupo. EXPLICAÇÃO Em agosto de 1984 terminara o prazo de uma bolsa que recebi do Wilson Center for International Scholars. Durante três meses tive uma sala naquele castelinho vermelho da esplanada de Washington, com a biblioteca do Congresso à disposição e os quadros da National Gallery à distância de uma caminhada. Minha idéia tinha sido usar paz e tempo para concluir um ensaio, coisa de cem páginas, intitulado “Geisel e Golbery, o Sacerdote e o Feiticeiro”. O propósito era simples: tratava-se de explicar por que os generais Ernesto Geisel (o Sacerdote) e Golbery do Couto e Silva (o Feiticeiro), tendo ajudado a construir a ditadura entre 1964 e 1967, desmontaram-na entre 1974 e 1979. Já havia escrito umas trinta páginas quando percebi que sua única utilidade era a de me mostrar que, ou eu trabalhava muito mais, ou era melhor esquecer o assunto. Pelo ritual do Wilson Center, sempre que um bolsista deixa o castelinho, vai ao seu diretor para despedir-se. Encabulado, entrei na sala do professor James Billington, autor de Icon and axe (O ícone e o machado), um clássico sobre a cultura russa, e de Fire in the minds of men (Fogo na cabeça dos homens), um inédito esforço de compreensão dos revolucionários que fizeram história entre os séculos XVIII e XX. Disse-lhe que não terminara ensaio algum e chegara à conclusão de que talvez devesse escrever um livro. Ao enunciado do fracasso, os olhos de Billington brilharam: “Você não sabe como fico feliz. Para isso que existe o Wilson Center. Para fazer com que uma pessoa saia de suas ocupações rotineiras e descubra que deve escrever um livro”. Nos dezoito anos seguintes essa observação de Billington serviu para conter as ansiedades, minhas e alheias, diante de um livro que, para gosto do autor, não terminava. (Em 1984 eu achava que escreveria umas trezentas páginas.) De volta ao Brasil, comecei a recolher material e a aprofundar algumas entrevistas. Falava com Geisel, Golbery e Heitor Ferreira, secretário de ambos. Em diversas ocasiões perguntei a Golbery se ele tinha um arquivo, e ele sempre negou. Um dia, em 1985, a sorte levou mofo à garagem do sítio de Golbery, nos arredores de Brasília. Lá estavam guardadas algo como 25 caixas de arquivo morto, cheias de papéis. Ele e Heitor resolveram confiar-me sua custódia temporária. Era verdade que Golbery não tinha arquivo, mas também era verdade que passara a Heitor milhares de documentos, bilhetes e até rabiscos. Heitor, por sua vez, sempre tinha uma daquelas caixas de baixo de sua mesa, no palácio do Planalto, e nela ia atirando papéis. As sim, numa pilha onde está uma lista de diplomatas que deveriam ser cassados em 1964, está também uma folha de bloco com os tópicos do que deve ter sido uma conversa telefônica entre João Goulart e o presidente do Senado, Auro Moura Andrade, às 10h05 do dia 5 de setembro de 1961, no fragor da crise provocada pela renúncia de Jânio Quadros. Intocadas, essas caixas foram-me entregues. Formam um acervo de 5 mil documentos cuja denominação correta deve ser Arquivo Privado de Golbery do Couto e Silva e Heitor Ferreira (APGCS/HF), visto que nele se misturaram documentos de um e de outro. Durante o governo de Geisel, Heitor organizou o arquivo do presidente. Em 1981, remeteu- lhe todos os papéis. Em 1998, atendendo a um desejo do pai, Amália Lucy Geisel doou-os ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea (CPDOC), da Fundação Getulio Vargas, onde somam atualmente 4 mil documentos textuais. Este livro não existiria sem a decisão de Golbery de entregar- me seu arquivo e sem a paciente colaboração de Ernesto Geisel. Convivi com ambos. Com Golbery, de 1969 até sua morte, em São Paulo, em setembro de 87. Sua ajuda prolongou-se até as horas anteriores à cirurgia de câncer de pulmão depois da qual não retornaria à sua casa de Brasília. No quarto do hospital Sírio Libanês contou-me mais uma vez a queda do ministro do Exército, Sylvio Frota, em outubro de 1977. Quando lhe perguntei se era verdade que alguns coronéis apareceram no quartel-general em roupa de campanha, respondeu: “É, parece que houve um pessoal que se fantasiou”. Lastimava não ler o livro para o qual contribuíra.
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