A República No Brasil: Trajetórias De Vida Entre a Democracia E a Ditadura

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A República No Brasil: Trajetórias De Vida Entre a Democracia E a Ditadura Universidade Federal Fluminense REITOR Antonio Claudio Lucas da Nóbrega VICE-REITOR Fabio Barboza Passos Eduff – Editora da Universidade Federal Fluminense CONSELHO EDITORIAL Renato Franco [Diretor] Ana Paula Mendes de Miranda Celso José da Costa Gladys Viviana Gelado Johannes Kretschmer Leonardo Marques Luciano Dias Losekann Luiz Mors Cabral Marco Antônio Roxo da Silva Marco Moriconi Marco Otávio Bezerra Ronaldo Gismondi Silvia Patuzzi Vágner Camilo Alves Apoio O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. Brasil. Código de Financiamento 001 | This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Finance Code 001. ______________________ Copyright © 2019 Jorge Ferreira e Karla Carloni É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da editora. Equipe de realização Editor responsável: Renato Franco Coordenação de produção: Márcio Oliveira Revisão e Normalização: Fátima Ferreira da Silva (Librum Soluções Editoriais) Capa, projeto gráfico e diagramação: Librum Soluções Editoriais Fotografía Capa: Manifestação estudantil contra a Ditadura Militar [Brasil, 6 de agosto de 1968] | Fundo do Jornal Correio da Manhã, Domínio público / Acervo Arquivo Nacional Direitos desta edição cedidos à Eduff - Editora da Universidade Federal Fluminense Rua Miguel de Frias, 9, anexo/sobreloja - Icaraí - Niterói - RJ CEP 24220-008 - Brasil Tel.: +55 21 2629-5287 www.eduff.uff.br - [email protected] SUMÁRIO 07 | APRESENTAÇÃO Jorge Ferreira e Karla Carloni PARTE I Da República oligárquica à ditadura do Estado Novo 15 | CAPÍTULO I Oliveira Vianna: notas sobre a história e a memória de um “fundador de discursividades” Ângela de Castro Gomes 43 | CAPÍTULO II Leônidas da Silva: um ídolo negro no Brasil de Getúlio Vargas Leonardo Pereira 79 | CAPÍTULO III Eros Volúsia: a bailarina do Brasil moderno Karla Carloni 121 | CAPÍTULO IV Do fascismo ao conservadorismo católico: a trajetória de Plínio Salgado Leandro Gonçalves PARTE II Da experiência democrática à ditadura militar 164 | CAPÍTULO V Raymundo Souza Dantas: o primeiro embaixador negro da “democracia racial” brasileira Fábio Koifman 208 | CAPÍTULO VI Abdias Nascimento: de assecla integralista a líder pan-africanista Petrônio Domingues 250 | CAPÍTULO VII Apolonio de Carvalho: uma vida, muitas lutas e vários tempos Jorge Ferreira 294 | CAPÍTULO VIII O livro como arma branca: ensaio biográfico de Ênio Silveira Américo Freire 333 | CAPÍTULO IX Marcos Antônio. Trajetória de um guerrilheiro que veio do mar: reflexões sobre as ações armadas no Brasil (1964-1970) Anderson Almeida PARTE III Vivendo a ditadura militar 363 | CAPÍTULO X Expectativa e o sonho: o desenho biográfico de Joaquim Pedro de Andrade durante o regime civil-militar Francisco das Chagas Fernandes Santiago Júnior 401 | CAPÍTULO XI A ditadura não fala: um esboço biográfico de Emílio Garrastazu Médici Janaína Cordeiro 432 | CAPÍTULO XII Duas temporalidades na vida de Inês Etienne Romeu: 1971 e 1981 Isabel Cristina Leite 460 | CAPÍTULO XIII O menino que descobriu o segredo do Brasil: Joel Rufino dos Santos Samantha Viz Quadrat PARTE IV Da ditadura militar aos novos tempos de democracia-liberal 486 | CAPÍTULO XIV A atualidade do pensamento de Lélia Gonzalez Antonia Lana de Alencastre Ceva 509 | CAPÍTULO XV O roqueiro e os monstros: Raul Seixas, esoterismo e ditadura Mario Luís Grangeia 539 | CAPÍTULO XVI Da reserva de São Marcos ao Congresso Nacional: a trajetória política do xavante Mário Juruna (anos 1970 e 1980) Michelle Reis de Macedo 579 | CAPÍTULO XVII Cidadania, Educação em Saúde e Divulgação Científica: a trajetória de Virgínia Schall no contexto da redemocratização brasileira Denise Nacif Pimenta e Juniele Rabêlo de Almeida 605 | AS FOTOGRAFIAS 611 | SOBRE OS AUTORES APRESENTAÇÃO Todos os livros, inclusive os de História, têm também a sua história. Este livro surgiu em 2015 quando a Capes, sob gestão do professor Renato Janine Ribeiro, lançou o edital número 13, Memórias Brasileiras: Biografias. Um dos organizadores do livro, Jorge Ferreira, reuniu um grupo de pro- fessores de várias universidades e submeteu à avaliação da Capes projeto de pesquisa, cujo objetivo era o de levar ao conhecimento do público biografias de brasileiros, homens e mulheres, brancos e negros, das mais variadas profissões e atividades políticas. Biografias têm sido escritas durante décadas por profissionais das áreas do jornalismo, da literatura ou mesmo por pessoas que, sem forma- ção acadêmica, têm o gosto pela escrita. Aventureiros não faltam, como em qualquer área, com biografias, geralmente de pessoas famosas, escri- tas com o estilo sensacionalista. O gênero biográfico tem e mantém seu público. A vida das pessoas desperta curiosidade. Nas livrarias e bancas de jornal são inúmeras as publicações que proporcionam ao leitor conhecer a vida dos outros. Lí- deres políticos, militares e religiosos, artistas e desportistas e, até mesmo, criminosos encontram o seu público. Algo que a biografia oferece, por exemplo, são modelos exemplares de comportamento – para o bem ou para o mal. Não é casual, nesse aspecto, a quantidade de biografias sobre Adolf Hitler e Winston Churchill nas estantes das livrarias. Um, o mal abso- luto; o outro, a resistência ao mal absoluto. E os historiadores? Como é sabido, desde muito tempo eles se afastaram do gênero biográfico. Na avaliação de Benito Schmidt (2003) contribuiu para o abandono e, mesmo, para a rejeição ao trabalho bio- gráfico as influências das ideologias do progresso, como o positivismo e A República no Brasil | APRESENTAÇÃO 7 o marxismo, para as quais as mudanças históricas ocorriam devido a “leis” imutáveis e, portanto, por forças impessoais. Desse modo, os indivíduos teriam ínfima capacidade de atuar na realidade que viviam. Nós acrescen- taríamos também o estruturalismo e a concepção braudeliana de refletir sobre a história. A biografia, assim, era interpretada como trabalho menor diante das forças inelutáveis e inexoráveis da economia, das coerções so- ciais, das estruturas e das “prisões de longa duração”, para usar expressão de Fernand Braudel. Há de considerar, contudo, que os historiadores tinham seus motivos. Desde o século XIX a biografia era o domínio do que havia de mais tradi- cional na sua oficina: descritiva, factual, circunscrita ao âmbito do Estado e dedicada ao elogio dos grandes homens construtores da nacionalidade, como reis, militares, políticos, diplomatas, entre outros. Homens, há de ressaltar, porque a história tradicional não considerava a possibilidade de existirem “grandes mulheres”. E, complementando, tais homens eram brancos. A novidade veio nos anos 1980, mais precisamente em sua segunda metade, quando historiadores europeus reconhecidos internacionalmente publicaram biografias, a exemplo de George Duby (1987), Carlo Ginzburg (1987), Jacques Le Goff (1999) e Christopher Hill (1988). Uma mudança, sem dúvida, na prática historiográfica. É verdade que a biografia de Oliver Cromwell, escrita por Christopher Hill é de 1970. Mas foi em meados dos anos 1980 que as biografias entraram na oficina do historiador, compreen- didas naquele momento como gênero legítimo e, mesmo, necessárias para conhecer a história das sociedades do passado e do tempo presente. Muito contribuiu para a retomada do gênero biográfico o interesse re- novado pela História Política, pela História Cultural e pelos avanços da metodologia em História Oral. Por esse motivo é que, entre os historiadores, os anos 1980 ficaram conhecidos como a época do “retorno à biografia”. Passados tantos anos, a historiadora Vavy Pacheco Borges (2006, p. 207-208) considera que não houve propriamente um “retorno”. As biografias tradicionais, descritivas e factuais continuaram sendo produzidas. Os historiadores é que abandona- ram o gênero biográfico, desconfiados, com razão, do modelo dominante que exaltava os “grandes homens”. Os historiadores retomaram a biogra- fia, mas não à moda tradicional – factual e dedicada aos grandes homens. Retornaram de outra maneira. Jorge Ferreira e Karla Carloni | APRESENTAÇÃO 8 Ao se dedicarem ao trabalho biográfico, os historiadores, no dizer de Benito Schimidt (2003, p. 65), consideraram as críticas realizadas an- teriormente ao gênero tradicional. Por exemplo, ao escreverem biografias mantiveram o horizonte da “história como problema” – uma das indicações dos pioneiros dos Annales que fincou raízes na historiografia contempo- rânea, permitindo superar a biografia tradicional, cronológica, meramente narrativa. Também superaram a maneira elitista de estudar o passado porque não se tratava de escrever tão-somente sobre os “grandes ho- mens”, mas também a história de vida de operários, escravos, ex-escravos, entre outros, revelando conflitos e transgressões a sistemas normativos impostos a eles. Outra questão importante na prática da biografia é não procurar um personagem que seja “representativo” da sociedade que viveu. Schmidt, neste caso, pergunta se existe, realmente, um “homem médio” e que represente toda a sociedade. Para ele, a “[...] biografia pode servir para introduzir o elemento conflitual na explicação histórica, para ilustrar, matizar, complexificar, relativizar ou mesmo negar as análises generalizantes que excluem as diferenças em nome da regularidade e das continuidades”. Por fim, ele considera que o historiador dispõe de métodos eficazes para evitar que a biografia possa recair em uma “ilusão”, assim como aponta Pierre Bourdieu (SCHIMIDT,
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