Opiniões Número: Depoimentos ornalornal Novos Lançamentos 228 dede Mês: Outubro Entrevista JJ Ano: 2017 LetrasLetras Literatura Infantil Preço: R$ 5,00

Posse de Arno Wehling O historiador e professor Arno Wehling tomou posse na cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), o novo acadêmico sucedeu o poeta Ferreira Gullar. (Por Maria Cabral – págs. 10 e 11) ornalde 2 JLetras Opinião JL Editorial JL Arnaldo Niskier

O economista Ernane Galvêas, um dos maiores do nosso país, é acervo JL O sucesso do Canal Futura um entusiasta da importância da educação para o desenvolvimento brasileiro. Ele entende que ela é prioritária e por isso mesmo não deve Depois de uma existência fecunda de ser descartada das prioridades governamentais. Em seu gabinete, no mais de 20 anos (estive na cerimônia do seu Rio, reuniu um grupo de especialistas para discutir o que está errado lançamento) pode-se afirmar o sucesso do na condução de todo esse processo. Não foram poucos os exemplos de Canal Futura pelo fato de ser conhecido de descaminhos notórios, como as questões de bolsas e cotas. Galvêas e 46% da nossa população, cumprindo o papel de uma verdadeira Escola sem Paredes. Sua seus amigos discutiram alternativas, uma das quais poderia ser o ensino programação é tão rica que ela foi licenciada para a veiculação em superior pago. É claro que não se chegou a nenhuma conclusão objeti- emissoras da Europa, África, Estados Unidos, Ásia e América do Sul, com va, mas o simples fato de discutir o assunto já é algo saudável. Falou-se ações de mobilização comunitária. Tem uma preocupação dominante também na necessidade de acelerar a reforma do ensino médio, como com a formação social dos jovens, trabalhando nas áreas do empreen- deseja o ministro Mendonça Filho (no que todos estavam de acordo), dedorismo, lideranças e produção audiovisual, dando apoio a projetos além de aperfeiçoar os cursos de formação de professores em todos os em escolas e espaços comunitários, além de produção de peças que podem ser veiculadas no próprio canal. níveis. Esse é um assunto rigorosamente prioritário. Não se vai avançar O Canal Futura, da Fundação , é um projeto de na melhoria da educação brasileira sem ter os professores devidamente comunicação único no mundo. Criado em 10 de setembro de 1997, preparados. Mas, para que tudo isso possa acontecer, é essencial que caracterizou-se por quatro grandes objetivos nos seus saberes e fazeres: haja recursos financeiros. Estamos longe disso, como se verifica pelo formação educacional da população, espírito comunitário, pluralismo ostensivo descumprimento do programa de metas do Plano Nacional de e ética. A programação, levada ao ar no canal 87, disponível para 60 Educação. Das 20 propostas, somente duas delas tiveram algum anda- milhões de brasileiros, cobre todo o território brasileiro e ainda tem o reforço de uma rede de televisões universitárias, que enseja programas mento, o que é muito pouco. locais. O editor. Segundo o seu gerente geral, João Alegria, o Canal Futura dedica o período matutino ao público infantil; por volta das 12h, coloca no ar programas informativos e de serviços; no início do período vespertino, volta ao público infantil, depois cedendo espaço a programas educati- vos, informativos e culturais, que se alternam por todo o período notur- no. Dessa forma se explica o seu sucesso, devendo ser assinalado que, pelo debate em torno da democracia, demonstra de que forma pode a TV pública brasileira trabalhar pela formação crítica do indivíduo. Alegria chama nossa atenção para a inteligente expansão da rica diversidade cultural do Brasil, atendendo a crianças, jovens e trabalha- dores, inclusive com os recursos de uma oportuna dramaturgia. Assim se cumpre também o objetivo de servir à cidadania, com a ajuda tam- bém de produtores independentes, fiéis aos parâmetros enunciados no manifesto do I Fórum Nacional de TVs Públicas. Existe uma preocupação central com os cuidados relativos à lín- gua portuguesa. Foi o objetivo do “Afinando a Língua”, apresentado pelo músico e escritor Tony Belloto, que faz um paralelo bem construído sobre literatura e música, além de esclarecer dúvidas de gramática da língua portuguesa de forma didática. Assim foram divulgadas obras de autores com a importância de José de Alencar (o pai do romance bra- O presidente do PEN Clube do Brasil, Cláudio Aguiar, discursa na solenidade de posse do sócio sileiro), Lima Barreto e Mário de Andrade, ilustradas com imagens de titular Bernardo Cabral, ao lado de Arno Wehling e de Fábio Coutinho. versões cinematográficas dos autores citados, a que se pode acrescentar entrevistas com cantores como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque. É uma forma inteligente de valorizar o nosso idioma. JL Expediente Diretor responsável: Arnaldo Niskier Editora-adjunta: Beth Almeida Colaboradora: Manoela Ferrari “Penso que chega um momento na vida da gente Secretária executiva: Andréia N. Ghelman em que o único dever é lutar ferozmente para introduzir Redação: R. Visconde de Pirajá N0 142, sala 1206 – 120 andar — Tel.: (21) 2523.2064 Ipanema – Rio de Janeiro – CEP: 22.410-002 – e-mail: [email protected] no topo de cada dia, o máximo da eternidade...” Distribuidores: Distribuidora Dirigida - RJ (21) 2232.5048 Correspondentes: António Valdemar (Lisboa). João Guimarães Rosa Programação Visual: CLS Programação Visual Ltda. Fotolitos e impressão: Folha Dirigida – Rua do Riachuelo, N0 114 Versão digital: www.folhadirigida.com.br/edicoes-digitais/jornal-de-letras O Jornal de Letras é uma publicação mensal do Instituto Antares de Cultura / Edições Consultor. ornalde JLetras 3 tora efetiva. Em fins de 1930, publicou o romance O Quinze, que teve inesperada e funda repercussão no Rio de em São Paulo. Com vinte anos apenas, projetava-se na vida literária do país, agitando a bandeira Pioneirismo de do romance de fundo social, profundamente realista na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria e a seca. Cronista emérita, conquistou vários prêmios e publicou mais de Rachel duas mil crônicas, cuja seleta propiciou a edição dos seguintes livros: A donzela e a moura torta; 100 Crônicas escolhidas; O brasileiro perplexo e Por Maria Cabral O caçador de tatu. Foi membro do Conselho Federal de Cultura, desde a sua funda- O JORNAL DE LETRAS não pode deixar de homenagear o pioneirismo ção, em 1967, até sua extinção, em 1989. Participou da 21ª Sessão da da acadêmica , que, há 40 anos, foi eleita para a ABL. Assembleia Geral da ONU, em 1966, onde serviu como delegada do Em 4 de agosto de 1977, a autora de O Quinze foi eleita a primeira mulher Brasil, trabalhando especialmente na Comissão dos Direitos do Homem. a ocupar uma vaga na Academia. Foi a quinta ocupante da cadeira 5, na sucessão de Candido Motta Filho e recebida pelo acadêmico Adonias Foto: Acervo ABL Filho, em 4 de novembro de 1977. O conjunto de escritores e pensadores já tinha 80 anos de existên- cia, mas nunca antes uma mulher havia colocado o famoso fardão. À época, a cearense contou com o incentivo de Austregésilo de Athayde, presidente da ABL de 1959 até 1993. Rachel ocupou a posição 5 da cadei- ra 5 até morrer, em novembro de 2003. O passo dado com a eleição de Rachel possibilitou que outras mulheres entrassem no espaço. Em 1980, a romancista Dinah Silveira de Queiroz foi eleita para a cadeira 7. Atualmente, a Academia tem o maior número de mulheres em uma mesma geração: Cleonice Berardinelli, Rosiska Darcy de Oliveira, , Nélida Piñon e , que já ocupou a presidência da casa. “Havia uma crença de que a Academia tinha sido feita só para acadêmicos, só para candidatos do sexo masculino. Era uma época de um machismo desenfreado. Rachel rompeu essa fronteira”, aponta o acadêmico Arnaldo Niskier, ocupante da cadeira 18, que foi recebido na ABL pela cearense. Rachel estreou em 1927, com o pseudônimo de Rita de Queiroz, publicando trabalho no jornal O Ceará, de que se tornou afinal reda-

O segundo desafio se refere ao domínio das novas tecnologias do mundo digital. Até pouco tempo, o maior impacto da automação se dava na indústria pela substituição dos trabalhadores por robôs nas O trabalho dos idosos tarefas repetitivas. Hoje, as tecnologias dominam todos os setores e afetam as pessoas e a própria sobrevivência das empresas. Nesse novo Por José Pastore* mundo, os idosos estão sendo demandados a fazer o que não apren- deram na juventude. Não há outra saída: vida mais longa requer não Os países que aumentaram a idade de aposentadoria vêm enfren- apenas mais dinheiro, mas também flexibilidade para dominar novos tando o grave desafio de garantir trabalho para os idosos. Esse será conceitos e novas maneiras de trabalhar. também o caso do Brasil se a reforma da Previdência Social fixar a ida- As tecnologias modernas vêm sendo simplificadas para facili- de mínima em 65 anos. No texto aprovado na Comissão Especial, a tar a aprendizagem dos mais velhos. Reportagem recente da Revista idade subirá ainda mais no futuro. Isso significa a necessidade de cria- Economist mostrou que 25% dos motoristas de Uber nos Estados ção de milhões de empregos para acomodar número crescente de ido- Unidos têm mais de 55 anos e a população dá preferência a eles. Para sos no mercado de trabalho, pois a vida média das pessoas continuará dirigir veículos, eles tiveram de aprender a lidar com aplicativos do aumentando de forma acelerada. mundo digital. O mesmo ocorre em várias outras atividades. Na Suécia, Segundo estimativas dos demógrafos, a criança que nasce nos dias na Holanda, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na França, na Alemanha, de hoje nos países avançados tem 50% de chance de viver além dos 105 na Espanha, na Itália e na Grécia crescem a cada dia os cursos de treina- anos. Cinquenta por cento dos jovens que têm 30 anos chegarão aos 100 mento em tablets para idosos. anos. É a força da longevidade. O grupo que mais cresce nos dias atuais A aprendizagem tem sido surpreendente. Com isso, eles vão é o que tem mais de 85 anos de idade (Lynda Gratton e Andrew Scott, The se capacitando para trabalhar no mundo tecnológico. Ao dominar o 100 year life, Londres: Bloosbury Publisher, 2016). mundo digital, os idosos têm mais chance de trabalhar nessas ativida- A pergunta que os demógrafos colocam é dura, mas real: o que des (The Economist, The new old, the economics of longevity, 8/7/2017). acontecerá com as pessoas se a sua poupança acabar antes da sua O Brasil deu importantes passos no campo das novas formas de morte? É claro que nenhum sistema previdenciário terá capacidade de contratação com a aprovação da Lei 13.467/2017, que instituiu a refor- manter esses idosos aposentados, sem trabalhar. Eles terão de trabalhar. ma trabalhista – trabalho intermitente, tempo parcial, teletrabalho, E o que vão fazer? O primeiro desafio é garantir empregos para essas autônomo, terceirizado etc. Falta agora avançar no campo da simplifi- pessoas. O segundo é dar a elas habilidades para trabalhar com as tec- cação das tecnologias e do treinamento dos idosos. Isso será essencial nologias do trabalho moderno. para se enfrentar os desafios da longevidade, para equilibrar as finanças Para enfrentar o primeiro desafio, os países avançados criaram públicas e para garantir condições ao crescimento econômico e à gera- há muito tempo formas de trabalhar, como é o caso do trabalho inter- ção de empregos – para jovens e para idosos. mitente, tempo parcial, terceirizado, autônomo, teletrabalho e outros. Como é impossível acomodar todos os idosos em trabalhos em tempo *José Pastore é professor, membro do Conselho de emprego e Relações do integral, eles trabalham nas formas acima indicadas. Dessa maneira, Trabalho da Fecomércio-SP e da Academia Paulista de Letras. evita-se uma avalanche de idosos desempregados ou aposentados. ornalde 4 JLetras

JL Breves JL Humor por Manoela Ferrari [email protected] por Jonas Rabinovitch [email protected]

O ROMANCE A cidade de Ulisses, 20 finalistas do Prêmio São Paulo de Teolinda Gersão, foi lança- de Literatura, que oferece, no ESTÁ CADA VEZ MAIS DIFÍCIL AGRADAR O PÚBLICO do no Brasil pela Editora Oficina total, R$ 400 mil aos vencedores. Raquel, com a presença da reno- D 10 A 14 DE mada escritora lusa, em intensa E novembro, rea- a programação. liza-se a 19 Mostra Sesc Cariri de Culturas, na Região Sul do NOVO ESPAÇO para a arte, em Estado do Ceará, com apresen- Ipanema, surge com a inaugu- tações de espetáculos de teatro, ração da Galeria MBlois, com a dança, exposições, shows, rodas curadoria da escritora e artista literárias, performances poéticas plástica Marlene Montezi Blois. e mostras de cinema e vídeo.

PARA TROCAR experiências COM O SELO da Editora Paralelo, sobre políticas públicas e conhe- Titi Muller e Clara Averbuck cer melhor a Educação Superior escrevem sobre o feminismo: fora do Brasil, uma equipe de Como me tornei feminista é o 40 pessoas ligadas à Associação título. de Mantedenoras de Ensino F -SE EM Superior (ABMES) viajou à IXOU 65 milhões o inves- Rússia, onde visitou as 12 princi- timento em cultura da Petrobrás pais universidades do país. este ano. O mais dispendioso pro- jeto é o da Petrobrás Sinfônica, EM OS NOVOS PERIGOS QUE com 11,5 milhões até dezembro. RONDAM NOSSOS FILHOS (Ed. Rocco, F 86 OS 2017), a educadora Tânia Zagury ORAM textos selecio- orienta os pais sobre o uso sau- nados por Ana Arruda Callado, dável das novas tecnologias. viúva do autor, para a Ed. Autêntica lançar, em 288 pági- pela Fundação Dorina a 3 mil AUTOR DE 8 LIVROS, o jornalista A OBRA COMPLETA DE MANUEL DA nas, crônicas de Antônio Callado, entidades no país, abordando especializado em música Zuza NÓBREGA (Editora PUC e Edições célebre autor de Quarup. peculiaridades de nossas cinco Homem de Mello, aos 84 anos, Loyola) foi organizada por Paulo regiões. Em destaque: folclore e lança Copacabana (Editora 34). POLÍCIA FEDERAL, A LEI É PARA Roberto Pereira em comemora- culinária. O personagem principal é o can- TODOS ção ao 5o centenário de nasci- , filme produzido por tor Dick Farney, responsável pelo RODRIGO FONSECA mento do autor (1517-2017). Tomislav Brazic, não utilizou confir- sucesso internacional da compo- dinheiro público, tendo orça- ma, para novembro, através da sição com o título da obra, morto REBELDES TÊM ASAS , assinado por mento de 15 milhões e distri- Estação Brasil, selo da Sextante, a em 1987. Sérgio Pugliese e Rony Meisler, buição da Downtown. Marcelo biografia do comediante Renato dono da Reserva, narra os 10 Serrado vive o juiz Sérgio Moro. Aragão, líder dos Trapalhões. AUTORA DA SÉRIE Harry Potter, J. anos da marca no mercado de K. Rowling, considerada, finan- O PRÊMIO G DE roupas. Paraná de Literatura ANHADOR duas medalhas ceiramente, a mais bem-sucedi- vai selecionar livros inéditos em olímpicas em barcos a vela, da do mundo, com 450 milhões JÁ NAS LIVRARIAS , Ele, três categorias: Romance, Contos Lars Grael teve sua autobiogra- de livros vendidos em 79 países, Shakespeare, visto por nós, advo- e Poesia. Cada vencedor receberá fia adquirida pela Fralha para lançou Vidas muito boas: as van- gados (Edições de Janeiro, 2017), R$ 30 mil e terá a obra publicada ser transformada em filme, com tagens do fracasso e a importân- de Joaquim Falcão. com tiragem de mil exemplares. orçamento projetado em cerca cia da imaginação. No Brasil, sai O resultado será divulgado na de 2,5 milhões de reais. A S DA com o selo da Editora Rocco. AGA Família Klabin-Lafer primeira quinzena de dezembro. é contada em livro organizado A ACADÊMICA Ana Maria DAS 794 EDITORAS do Brasil, NO LIVRO por Ronaldo Costa Couto, lança- O sabiá e eu (Ed. Machado cedeu os direitos da apenas 294 trabalham com do pela Chermont Editora. Memorial, 2017), do escritor série de livros Mico Maneco à livros digitais. Significa dizer que capixaba Maciel de Aguiar, o Zola Filmes, que pertence ao COM UM RECITAL de poesia, menos de 40% delas atuam na autor lembra a fama de eterno casal Cláudia Abreu (atriz) e José área. Viviane Mosé apresentou os mal-humorado de seu conterrâ- Henrique Fonseca (diretor). novos livros: Frio e Calor, lan- neo Rubem Braga, célebre cro- ATRAVÉS DA MESMA editora fran- F DA ORDEM DE çados pela Usina Pensamento, nista nascido em Cachoeiro de OI 931,6 milhões cesa, responsável pelo lançamen- 2017. Itapemirim. de reais a receita obtida pelas to de Marcel Proust no século editoras nacionais, com a venda OS 50 ANOS DE passado, a tradicional Gallimard lançamento NO SISTEMA penitenciário do de livros no primeiro semes- de O meu pé de laranja Lima, lança Presos no Paraíso, do jor- Rio, existem cerca de 40 mil tre do ano. Em comparação nalista Carlos Marcel. de José Mauro de Vasconcelos, livros nos 54 presídios estaduais com o mesmo período de 2016, serão, no início do ano que à disposição dos internos. Todos registrou-se um crescimento UMA SELEÇÃO de obras da 32ª vem, comemorados pela Editora eles foram doados. Funciona no de 6,59%. Em volume de obras Bienal de São Paulo está em expo- Melhoramentos, com uma edi- setor a remissão da pena através negociadas, o setor cresceu cerca sição no Museu de Arte Moderna ção especialíssima da obra, que da leitura, valendo quatro dias de 5,47%. de Bogotá, na Colômbia. teve 150 edições e um total de 2 para cada obra lida, computan- milhões de exemplares vendidos. do-se apenas uma dela por mês. CABERÁ A Othon Bastos desem- O livro foi traduzido em 15 idio- Primeiro a adotar a medida de penhar o papel de Tancredo mas, com sucesso idêntico na TV estímulo à leitura, o Paraná faz Neves no filme O Paciente, de e no cinema. uso da mesma há 5 anos. Sérgio Rezende. A produção é baseada no livro de igual nome, ESSA MENINA , de Tina Correia, 63 MIL EXEMPLARES da coleção escrito por Luis Mir. editado pela Alfaguara, é um dos “Regionais” estão sendo doados ornalde JLetras 5

Mau agouro “A moça vive fazendo planos para o futuro.” Tem tudo para não conseguir o que quer. Não há necessidade de dizer ou escrever Na ponta “planos para o futuro”. Ninguém faz “planos para o passado” – redundância desnecessá- Língua ria. Frase correta: “A moça vive fazendo planos.” da Péssima assistência Por Arnaldo Niskier – Ilustrações de Zé Roberto “O médico assistiu ao doente, mas não houve melhora no estado clínico do paciente.” Na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, milhares de pessoas aprovei- Foi tudo uma questão de assistência. O verbo assistir no sentido de cuidar de taram para adquirir novos exemplares e ampliar o conhecimento. A literatura infantoju- alguém é transitivo direto, isto é, não admite complemento com proposição, logo o cor- venil está crescendo a cada ano, temos muitos jovens escritores e youtubers ajudando reto é: – o doente – objeto direto desta frase. a diminuir a idade dos leitores e aumentando o gosto pela leitura. Isso mostra que a Período correto: “O médico assistiu o doente, mas não houve melhora no estado tecnologia, aliada aos livros eletrônicos, não deixou que o livro físico, de papel, perca sua clínico do paciente.” magia e seu espaço no cotidiano da nova geração. Cavalgada sem sucesso Profissional relapso “O cavaleiro arriou o seu cavalo para montar, mas acabou caindo.” “Apesar das constantes advertências do dono da fábrica, o gerente tergiverça nos Que pena! Precisou que abaixassem o cavalo para conseguir montar? assuntos mais sérios.” Observe : arriar – descer, baixar / arrear – colocar o arreio. Não pode dar certo um funcionário que “tergiverça”. Este verbo não deve ser Período correto: escrito com “ç” e sim com s: tergiversar, que significa, em sentido figurado, ser evasivo, “O cavaleiro arreou o seu cavalo para montar, mas acabou caindo.” torcer a realidade dos fatos. Frase correta: “Apesar das constantes advertências do dono da fábrica, o gerente tergiversa nos assuntos mais sérios.” Bem guardado “Vou por o livro na estante que foi feita por mim.” Elogio infeliz Não vai ficar bem guardado. Permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é O colega, querendo agradar o estilo de se vestir de sua verbo. Por é preposição. Período correto: “Vou pôr o livro na estante que foi feita por companheira de trabalho, disse que ela tem um jeito hodier- mim.” no de ser. A moça pareceu ofendida, pensando que hodierno era Livro duradouro algum nome feio, até mesmo um palavrão. Coitado! Ele quis falar “A capa do livro do Joel é superresistente.” difícil, hodierno é sinônimo de moderno, atual, relativo aos dias Não vai durar tanto tempo assim! de hoje. Procure ser hodierno, mas não exagere! Quando o prefixo terminar em consoante, usa-se o hífen, se o segundo elemento começar com a mesma consoante. Diretor exigente Frase correta: “A capa do livro do Joel é super-resistente.” “O diretor da escola de ensino médio vive elocubrando meios e modos de incen- tivar seus alunos a terem bom comportamento.” Chegando atrasado Assim, não atingirá seus objetivos. O verbo “elocubrar” não consta do Vocabulário “Os alunos vieram de Belém em dois vôos, que atrasaram muito.” Ortográfico de Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras. Prefira o verbo elu- Que pena! Não se usa mais o acento circunflexo nas palavras terminadas em êem cubrar, que é sinônimo de lucubrar, que significa meditar, trabalhar durante a noite. e ôos. Período correto: “O diretor da escola de ensino médio vive elucubrando meios e Período correto: “Os alunos vieram de Belém em dois voos, que atrasaram muito.” modos de incentivar seus alunos a terem bom comportamento.” ornalde 6 JLetras

nuvem, que é uma empresa americana de grandíssimo porte, Google, Oracle e outras empresas envolvidas nisso. J Entrevista de Arnaldo Niskier Arnaldo Niskier: E você falando na Amazon me L ocorre a ideia de que uma das coisas que temos procu- rado incentivar, São Paulo ou Rio, através de concursos, Humberto Casagrande maratona etc., é o hábito de leitura, e a Amazon em rela- ção a isso é craque, tem uma dimensão universal, diria. Então acho que com a Amazon será possível incentivar enormemente essa coisa fundamental, que é o hábito de leitura, que o nosso jovem ainda não conquistou devida- mente. Não lhe parece isso? Maior oportunidade Humberto Casagrande: Sem dúvida. Vamos fazer um trabalho desse tipo. A Amazon tem diversas divisões; uma delas é de armazenamento de dados, mas tem a parte de leitura, que é a mais importante. aos jovens Arnaldo Niskier: Queria ajudar você, como Diretor do Rio de Janeiro, a fazer com que aconteça essa valori- zação do hábito de leitura, porque é uma das coisas que ocupa o jovem e ocupa de maneira saudável. É funda- Humberto Casagrande é formado em Engenharia queda no emprego, essa queda na atividade econômica mental fazer isso. de Produção pela Universidade de São Carlos e tem mes- dificultam muito essa expansão. Acho que aquilo que já era Humberto Casagrande: Tem aqui meu compromis- trado em Administração na PUC de São Paulo; portanto, um problema tornou-se um problema ainda maior com a so de trabalharmos juntos nessa direção. altamente qualificado para as funções que exerce na supe- crise econômica. Esperamos que o Brasil volte a crescer Arnaldo Niskier: Não falamos sobre filantropia. Acho rintendência do CIEE, aonde ele trouxe para discussão de porque hoje a agenda do empresário está com questões que a alma do CIEE deve muito ao Luiz Gonzaga Bertelli. seus pares o projeto Kairós. de sobrevivência e não com questões de médio e longo Desde o primeiro momento, o Bertelli foi muito importante Arnaldo Niskier: Humberto Casagrande é supe- prazo, de investimento. Então as oportunidades para os na identificação dos valores com os quais o CIEE trabalhou rintendente do CIEE de São Paulo e tem, portanto, uma jovens estão muito ligadas a essa agenda de crescimento, e até aqui, e a filantropia foi talvez o mais valioso deles. Como posição muito importante no panorama dos Centros de aí é que o empresário vai poder oferecer mais coisas. Para é que você, novo, entrando agora no sistema, vê essa filan- Integração Empresa-Escola do nosso país. O que você se ter uma ideia, hoje deveríamos ter mais de 1 milhão de tropia? Ainda há muito a se conquistar? veio fazer no Rio? aprendizes colocados no Brasil todo, e temos 300 mil mais Humberto Casagrande: O CIEE é uma entidade sem Humberto Casagrande: Viemos ter uma reunião ou menos em todo o Brasil. Só para atender a legislação fins lucrativos que faz essa integração do jovem ao mercado com a Fundação Roberto Marinho, que é nossa parceira no em vigor, deveríamos ter 1 milhão; significa que não está de trabalho, mas tem também uma missão junto à socieda- conteúdo da parte de aprendizado, nos trabalhos escritos. havendo esse atendimento porque a lei não está sendo de de, que é essa questão da filantropia. Estamos ao mesmo Eles preparam todo o conteúdo que levamos aos jovens no certa forma cumprida devidamente. tempo fazendo também uma mudança nesse campo, que Aprendiz Legal, e estamos permanentemente querendo Arnaldo Niskier: Humberto Casagrande, temos seria criar os grandes centros de acolhimento dos jovens e aprimorar esse material. Vêm novidades. Estamos prepa- que falar um pouco sobre o projeto Kairós, que é uma das famílias dentro dessa missão de filantropia. O CIEE é rando os novos módulos, porque temos os módulos de das coisas que você trouxe para dentro do CIEE e tenho a uma entidade, costumo dizer, que tem a alma filantrópica e varejo, bancário, administração, e estamos querendo criar expectativa, esperança de que dê muito certo. Queria que os braços empresariais. Como trabalha como uma empresa, outros módulos novos, ter um pouco mais de agilidade e você explicasse a nosso público o que é o projeto Kairós e com controles, com mentalidade empresarial, consegue levar um serviço cada vez melhor para o jovem que está o que falta para que deslanche de vez. ter uma sustentabilidade financeira, mas tem a função fazendo o Aprendiz Legal conosco. Humberto Casagrande: Esse nome, Kairós, foi de cuidar dos jovens, da educação e da assistência social. Então estamos abrindo em São Paulo um grande centro de Arnaldo Niskier: Podemos dizer, ou poderíamos escolhido entre os funcionários do CIEE de São Paulo atra- acolhimento ao lado do Teatro Municipal, quando vamos dizer, que o CIEE está em todo o Brasil? Tem uma ativi- vés de um concurso que fizemos, e uma das nossas instru- receber lá os jovens, as suas famílias e fazer alfabetização de dade de mais de 50 anos, começou em São Paulo, mas toras do programa Aprendiz sugeriu Kairós, que é o nome adultos, curso de língua portuguesa para refugiados, aten- hoje o CIEE é completamente nacionalizado em termos grego que significa oportuno, no momento certo. Então dimento jurídico para a população carente e oficinas que de geografia? acreditamos que define bem o projeto, que é um projeto vão trabalhar a cidadania, a formação da pessoa. Humberto Casagrande: Felizmente, sim. Temos hoje de modernização tecnológica do CIEE de uma forma geral. em todos os pontos, até nos territórios e em todos os esta- Nosso CIEE desenvolveu-se muito ao longo dos 53 anos Arnaldo Niskier: Tem que evitar, não é Casagrande, dos, e através do CIEE autônomos, como o Rio de Janeiro, de uma forma física, através de unidades e cursos e outras desculpe interrompê-lo, porque me ocorre isso, que o Rio Grande do Sul, Espírito Santo e o CIEE São Paulo, que coisas, mas ficou um pouquinho desfasado do ponto de prefeito João Doria, que é muito competente, tenha que atinge também a região Norte e Nordeste. Então, o CIEE hoje vista de tecnologia e atendimento. O que pretendemos é enfrentar outras áreas de crack como ele tem tido que atende mais de 500 mil jovens na sua totalidade. O Brasil levar o CIEE para o estado da arte na parte de tecnologia. enfrentar de uma maneira até, às vezes, pouco compre- precisa desenvolver mais isso, o que às vezes angustia um Estamos fazendo o que há de melhor com computação na ensível. É melhor que atenda, socioeducacionalmen- pouco. Para você ter uma ideia, hoje, em São Paulo, aten- nuvem e todos os desenvolvimentos e confortos necessá- te falando, os jovens em imóveis doados, emprestados, demos 300 mil jovens; mas existem 3 milhões cadastrados. rios para atender os jovens. enfim, porque isso funciona, isso dá resultado. Queria que você pensasse no Rio de Janeiro, porque o Rio tam- Arnaldo Niskier: Segundo Paulo Pimenta, que é o Arnaldo Niskier: É o que a tecnologia hoje propi- bém tem necessidades muito graves e está disposto a aju- superintendente aqui do Rio de Janeiro, tem uns 200 mil cia. E há recursos para isso? dar. Estamos construindo a nossa sede na Rua Santana, nessas condições. Não podemos atender a todos, nem há Humberto Casagrande: Muito. Temos um inves- uma sede adquirida da antiga Cedae. Até o final do ano, empresas interessadas, infelizmente, nesse tipo de ser- timento já definido de grande monta para o tamanho do teremos ali um Centro Educacional de primeira ordem e viço. Um grande número sim, e um grande número não. CIEE, mas entendemos que isso é uma coisa fundamental. precisamos da parceria com São Paulo. Humberto Casagrande: É um grande número, e O jovem hoje quer fazer tudo pelo celular. Vamos ter no Humberto Casagrande: Será uma satisfação para acho que o CIEE trabalha com o maior problema do Kairós o georreferenciamento: haverá uma tela onde ele nós porque, como disse, o CIEE tem um orçamento pa- mundo, hoje, em minha opinião, que é dar oportunidades clica perto da casa dele e ali vão aparecer todas as opor- ra isso, ou seja, nossa filantropia. Temos um compromisso aos jovens, porque os diversos governos de diferentes mati- tunidades de estágio que existem em volta. Vamos ter a com o Ministério do Desenvolvimento Social de fazer a zes não têm conseguido dar resposta para essa questão, inteligência artificial, que vai poder propiciar uma atitude filantropia, cumprindo o nosso dever legal de fazer isso. que é criar oportunidade para os jovens. Esse é um proble- mais assertiva da empresa para escolher o estagiário que Acho que o trabalho que fazemos com os jovens propicia ma europeu, americano, asiático e brasileiro. Universal, e ela quer efetivamente. várias consequências: a questão do combate ao trabalho nós, no CIEE, temos essa missão de procurar minorar esse Arnaldo Niskier: E o projeto Kairós é para o Brasil infantil, a prevenção de drogas, a questão do emprego. problema na medida do possível. todo ou só para São Paulo? Então essa atividade que o CIEE tem, vocês aqui no Rio e Humberto Casagrande: No primeiro momento, Arnaldo Niskier: Vou contar uma coisa que acho nós em São Paulo, é muito meritória porque ela consegue estamos trabalhando com São Paulo e Rio. O Rio tem um que você já conhece, mas não custa recordar. Paulo ao mesmo tempo trabalhar várias questões sociais que são CIEE com uma mentalidade bastante avançada e já tem Delgado, que é nosso diretor em Brasília, disse que o importantíssimas para o nosso país. ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, gosta- essa parceria firmada com São Paulo. Então, São Paulo e Arnaldo Niskier: E você tem visto isso desde o ria de vir ao Rio conversar com um grupo de pessoas, eu Rio já estão garantidos nesse avanço dessa modernidade, primeiro momento em que chegou ao sistema quando estaria incluído, porque ele quer se envolver de uma certa e estamos oferecendo aos demais CIEEs, que poderão o Ministério do Desenvolvimento Social reconheceu o maneira no atendimento dos jovens aqui no Rio, onde há vir a aderir num futuro próximo caso seja de interesse trabalho do Rio de Janeiro, dando-lhe um certificado do um problema de violência brutal, e seria através do tra- deles. Mas São Paulo e Rio já estão embarcados nisso, já CEBAS. O Rio de Janeiro, junto com Pernambuco, foram balho, da oferta de empregos. Estou aguardando que isso estamos com 25% do projeto já rodado e a nossa expecta- os primeiros a receber o certificado pela qualificação dos aconteça e, evidentemente, colocando-me à disposição tiva, e mais do que expectativa, nosso projeto é para que trabalhos de assistência social realizados. para ajudar no que for possível. Mas isso é um problema o tenhamos finalizado em dezembro de 2018. Estamos Humberto Casagrande: Sem dúvida. Não é fácil que, no Rio, é agudo, mas no Brasil todo está acontecen- trabalhando com uma empresa que está desenvolvendo conseguir o CEBAS. O Rio de Janeiro está de parabéns por- do. Não lhe parece que isso faz parte dessa crise nacional todo o software de que o CIEE precisa, uma empresa de que, hoje, o Ministério está muito criterioso. Parabéns pelo pelo emprego, que é uma brutalidade? Campinas, de brasileiros. Mas temos empresas como a trabalho do Rio. Conto com sua parceria com São Paulo Humberto Casagrande: Sem dúvida. Essa é uma Amazon, que vai deixar todos os dados armazenados nos porque acho que são essas coisas que vão conseguir que das consequências nefastas que essa crise nos traz. Essa servidores deles, que a gente chama de computação na façamos um Brasil melhor. ornalde JLetras 7

JL Livros e Autores por Manoela Ferrari [email protected]

do Conselho de Administração do Grupo Um século de magia Ser Educacional e Presidente da ABMES – Associação Brasileira das Mantenedoras do Sempre apontando para o futuro, o Grupo Kinoplex com- Ensino Superior. pletou 100 anos,celebrando sua tradição, com o lança- mento do livro Um século de Magia – Origens de um empreendedor à frente do seu tempo (Geo-Gráfica Editora, Calor 2017). Organizado pelo historiador Levi Jucá, com bela enca- dernação e fotos de acervo, a obra apresenta, ao longo de Calor é o título de um dos dois livros (o outro intitula-se Frio) lan- 105 páginas coloridas, uma história que começa em 1917, çados pela escritora Viviane Mosé, pela Editora Usina Pensamento com o visionário Luiz Severiano Ribeiro, fundador do Grupo (2017), inaugurando a série chamada “Das Paixões”. O objetivo da Severiano Ribeiro (atual Kinoplex). Trata-se da maior rede de cinemas 100% brasi- escritora é “inserir o discurso dos afetos ou sobre os afetos no discurso fundamental leira, atualmente. Há 100 anos levando “a magia e emoção do cinema” a todo o país, sobre o humano, a vida, a sociedade, sempre em nome de uma razão mais ampla, de possui mais de 260 salas, em 19 cidades brasileiras, equipadas com o máximo de uma alma mais ampla, capaz de lidar melhor com as contradições”. Dividido em cinco tecnologia e conforto. São mais de 55 mil poltronas e cerca de 1.000 funcionários. Na seções, Calor traz na epígrafe um poema de João Cabral de Melo Neto, que prenuncia introdução, Jucá apresenta o que encontraremos no livro: “Pelo movimento do passar a leitura do conteúdo que está por vir: “Falo somente o que falo:/Com as mesmas das páginas, o leitor ‘assistirá’ a cenas inéditas aonde antes era sala escura. Nela, a luz vinte palavras/Girando ao redor do sol/Que as limpas do que não é faca:// De toda de um projetor difundirá um passado que se mostra sempre revelador, como extraído uma crosta viscosa,/Resto de janta abaianada/Que fica na lâmina e cega/ Seu gosto das velhas latas de filme que, descobertas, tratadas e sequenciadas, proporcionam da cicatriz clara.” Os poemas de Viviane Mosé tratam “Do Poema”, “Do Amor”, “Do uma surpreendente exibição!” O prefácio é assinado pelo acadêmico Arnaldo Niskier, Mundo”, “Da dor” e “Da vida”. Na orelha da obra, o acadêmico Antonio Carlos Secchin que destaca o padrão de qualidade do Grupo e a competência do traquejo adminis- afirma que a escritora desenvolve um imaginário acolhedor: “Seu sol não é o que trativo, que seguiu modernizando: “O comando do Grupo se faz dentro dos modernos queima, resseca e, sim, o que ajuda a germinar.” Viviane Mosé, capixaba, é psicóloga procedimentos de governança corporativa, para dar a apropriada cobertura ao cres- e psicanalista, formada pela Universidade Federal do Espírito Santo, onde também se cente interesse do público em ir ao cinema.” tornou Especialista em elaboração e implementação de políticas públicas. É mestre e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Autora do livro Stela do Patrocínio – Reino dos bichos e dos Muito longe do fim animais é o meu nome, indicado ao prêmio Jabuti de 2002 na categoria psicologia e educação, publicou, em 2005, sua tese de doutorado, Nietzsche e a grande política Em Muito Longe do Fim – Reflexões sobre a Crise na Política da linguagem. Redigiu e apresentou o quadro Ser ou não ser, do Fantástico, no qual Brasileira (Ed. Gryphus, 2017), Cariê Lindenberg reflete sobre a abordava temas de filosofia em uma linguagem mais cotidiana. É também autora dos segunda metade do governo de Dilma Rousseff e o início de Michel livros Escritos, Toda palavra, Pensamento chão, Desato e Frio. Temer no poder. A coletânea de artigos escritos pelo autor foi publi- cada no jornal A Gazeta, entre 2015 e 2017. Na introdução, Cariê explica “por que escreve”: “Exatamente para me conservar ligado Poemas da meia-noite e não deixar a chama apagar, muito menos tombar, que faço hoje com mediana frequência o que eventualmente já fiz no passado: escrever artigos e No livro Poemas da meia-noite (e do meio-dia), da Editora Moinhos crônicas, ora por diletantismo ou quando estimulado por contrariedades com assun- (Belo Horizonte, 2017), William Soares dos Santos oferece ao leitor uma tos públicos supostamente mal resolvidos.” Organizada por Vanuza Braga, a obra verdadeira viagem pelo universo lírico do autor. Com 208 páginas, a traz ilustrações do chargista Amarildo Lima. Dividida em três partes, no início, os obra é divida em sete partes, cada uma das quais anunciada por uma artigos comentam a derrocada econômica da ex-presidente Dilma, apresentada por gravura e um título: “Dança das esfera”, “Meia-noite”, “Alvorada”, “Meio- Lula como uma “grande gerente”. Na parte final, os artigos abordam um período mais dia (ou Manhãs sem sol…)”, “Três poesias do desvio”, “Tecer palavras” longo, desde a tomada do poder por Getúlio Vargas, em 1930, caminhando por várias e “Ecos íntimo”. Nas partes iniciais, a viagem aborda os mistérios do crises do Governo Federal, dos 1930 até a época petista, oferecendo ao leitor verdadei- cosmo, atravessando os enigmas de sua formação. Na última parte – “Ecos íntimos” – o ras “lições de história”, fazendo lembrar de episódios de tropeços da vida política do autor homenageia os pares e dialoga com a poesia de cerca de quarenta poetas cujos Brasil. No prefácio, o ex-governador do Espírito Santo, Arthur Carlos Gerhardt Santos, nomes, dispostos em ordem alfabética, vão de Adélia Prado, Antonio Carlos Secchin, elogia: “Carlos Fernando nos dá um roteiro de como progredimos na deterioração da Baudelaire, passando por Carlos Nejar, Cecília Meireles, Geraldo Carneiro e William política que deveria ser republicana, de forma didática. Faz isso assumindo o papel de Wordsworth, para citar apenas alguns. Na orelha, o acadêmico Antonio Cícero elogia: “O historiador-cronista que, com leveza de narrativa, nos deleita e nos ensina.” Bacharel livro oferece ao leitor uma extraordinária viagem pelo insólito tempo-espaço descortinado em direito pela PUC-RJ, Carlos Fernando Monteiro Lindenberg Filho trabalhou por pelo poeta.” William Soares dos Santos (1972) é carioca, professor da UFRJ, tradutor, escri- 38 anos na administração do jornal A Gazeta, em Vitória. Atualmente, é presidente tor e membro titular do PEN Clube do Brasil. Dentre seus trabalhos literários, se destacam do Conselho de Administração da Rede Gazeta, constituída por quatro emissoras de o livro de poemas Rarefeito (2015), o livro de contos Um amor (2016) e o livro de poesias televisão, dois jornais, várias rádios e, ainda, a Gazeta Online. É autor de vários livros, Poemas da meia-noite (e do meio-dia), editado pela Editora Moinhos. entre eles, Eu e a sorte (2002), O galinha & elas (2003), GLS Entenda as entendidas (2005), Pingos e respingos (2005), Bis + cinco (2009) e Memórias Cariocas (2017). LiberAmicorum

Ministério Público do Trabalho LiberAmicorum, coordenado pelo ex-presidente da Academia Campinense de Letras, Agostinho Toffoli Tavolaro, é uma obra Nesta 2ª edição da obra Ministério Público do Trabalho (Grupo em homenagem ao decano da ACL, Rubem Costa. Editado pela GEN/Atlas, 2017), atualizada e ampliada,o autor José Janguiê Pontes Editores, Liber Amicorum (Livro dos Amigos, em latim) reúne Bezerra Diniz examina, ao longo de 603 páginas, a atuação judicial depoimentos de 46 escritores, poetas, historiadores, membros da e extrajudicial do Ministério Público do Trabalho do Brasil na defe- Academia Brasileira de Letras (ABL), da Academia Paulista de Letras sa de direitos e interesses difusos, coletivos e individuais homo- (APL), da Academia Campinense de Letras (ACL), entre tantas outras gêneos na seara trabalhista. Muito bem dividida em três partes, a entidades dedicadas à cultura no Brasil. Escritor, poeta, jornalista, obra tem o objetivo de ajudar aqueles que buscam conhecer com professor, Rubem Costa desempenhou inúmeras funções ao longo de seus 98 anos de profundidade a instituição do Ministério Público do Brasil e, em especial, o Ministério atividade cultural ininterrupta. Foi professor, diretor escolar e diretor regional de Ensino Público do Trabalho, além de apresentar os institutos jurídicos da Ação Civil Pública, do Estado de São Paulo. Jornalista profissional, desde 1939, talvez o mais antigo ainda da Ação Anulatória e da Ação de Cumprimento, sempre levando em consideração em atividade no Brasil, cronista, poeta, escritor, advogado e historiador, autor dos livros o previsto no novo Código de Processo Civil, promulgado em 2015. No prefácio, o Cantigas do Anoitecer (1996), Colheita do Tempo (1998), Amor, Caminhos e Descaminhos ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Carlos Mário da Silva Velloso, (2002), 3 Contos de Réis e outras Histórias (2003) e Bicentenário de Campinas – a Saga professor emérito da PUC/MG e da UnB elogia: “O livro que ora é tirado a lume é de que a Cidade Amou – 1739-1939 (2013), foi presidente da ACL (2001-2006), é acadêmico extrema atualidade, porque versa temas de grande valor, temas que estão em desen- honorário da Academia Paulista de Educação, fundador da Academia de Ciências, Letras volvimento e, por isso, precisam ser explorados, cada vez mais, em termos científicos. e Artes da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo e membro Pois é exatamente assim que Janguiê cuidou desses temas. O livro, por isso mesmo, Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas. Entre os depoimentos, a par- há de ser lido e anotado e não poderá deixar de compor a biblioteca dos juristas ticipação de José Renato Nalini, secretário de Educação do Estado de São Paulo, do poeta brasileiros.” Doutor em Direito pela UFPE, graduado em Letras pela UNICAP, pós- Paulo Bomfim, da Academia Paulista de Letras, Arnaldo Niskier, da Academia Brasileira graduado em Direito do Trabalho pela UNICAP, pós-graduado em Direito Coletivo de Letras; do jornalista Marcelo Pereira, ex-editor executivo do Correio Popular e do pela OIT (Turim, Itália), entre outros títulos, Janguiê Diniz é fundador e presidente jurista Ives Gandra Martins. O livro, de 238 páginas, traz ainda um rico acervo fotográfico. ornalde 8 JLetras tar a todos eles, tomando parte dessa quadra feliz das nossas vidas, ao lado da amada família. Eles também lamentam não ter convivido com o vovô, que se faz presente na vida de todos eles, através dos seus livros, Lembrando o dia 16 das suas fotos e lembranças da grande figura humana que ele foi. Mauro Mota gostava das brincadeiras hipotéticas, muito suas: adivinhar o pen- samento entre os amigos: Laurênio Lima, Nilo Pereira, Marcos Vilaça, no calendário Pelópidas Soares, Waldemar Lopes, entre outros. Com amigos, fazia as caminhadas à praia, aos sábados, trazendo-os, depois à nossa casa, Por Marly Mota* para uma bacalhoada. O prato dele, sem cebolas. Gostava de dizer que nossas brigas eram por conta das cebolas que ele detestava. Eu insistia Na sala, na mira afetiva, a cômoda de jacarandá que pertence- pondo-as na comida. Gostava de redes. Armadores foram colocados ra a Tereza Alexandrina Cabral de Melo da Mota e Albuquerque, avó nos terraços e quartos de dormir. Escrevera em artigo, que Oliveira carinhosa que Mauro Mota, soube, com reverência, guardar no Soneto Lima incluiu a rede nordestina, numa conferência que fez em Paris, na muito Passadista da Ponte da Madalena: (...) Que lembranças ficou para Sorbonne, mesmo ano do nascimento do poeta recifense Mauro Mota, mim do sobrado da Madalena? (Vai passando o Rio atrás) / Na frente o em 16 de agosto de 1911, e no calendário de agosto de 2017. jasmineiro, no oitão, carregado, /o pé de fruta-pão de sombras cordiais. / na cumeeira Luiz de Camões instalado./ O avô de fraque, a avó entre *Marly Mota é membro da Academia Pernambucana de Letras e jacarandás da sala,/ na varanda, ou querendo, ao seu lado / o neto de colaboradora do JORNAL DE LETRAS. qualquer peraltice capaz/ (...) Mauro, apesar das peraltices, morava na casa dos avós onde nas- Marly Mota com seu filho Sérgio Mota. ceu, estudou no Colégio Padre Félix e Salesiano, quando encontrou Álvaro Lins, ambos grandes amigos. Ao longo da vida, mantiveram uma correspondência constante. O gaveteiro da cômoda, espaço de invisí- veis presenças, entre alguns livros raros, encontro: Paris, cidade do pen- samento livre, com oferecimento a Mauro e a mim. Um dos mais belos ensaios sobre Paris escrito pelo insigne jornalista Anibal Fernandes, quando diretor do Diário de Pernambuco. Passado um bom tempo, Mauro Mota, perspicaz, nos surpreende, com a velha cômoda da sua amada avó Teresa Alexandrina da Motta e Albuquerque, presenteando à bisneta, também Teresa Alexandrina Maura da Motta e Albuquerque, nossa caçula. Impossível esquecer nossa convivência. Foram 34 anos que o Mauro Mota. tempo não apaga. É bom lembrar o quanto Mauro Mota se encantaria com os nossos nove netos e três bisnetinhos, teria tantas estórias a con-

George Orwell, com o seu 1984. A ditadura de 1984 imaginada por Orwell era certamente mais terrível do que a do Admirável Mundo Novo. Enquanto no primeiro predominava a ordem pela força e pela tirania, Educação para o futuro no Admirável Mundo Novo, a ordem era obtida de maneira mais suave. Certamente a surpresa de Huxley seria hoje muito maior. Por Terezinha Saraiva* Depois do bebê de proveta, a inseminação do óvulo fecundado. A clonagem. O coração humano fora do peito, há anos, vem sendo recor- O homem não tem condições de deter a força inexorável que o tado, recuperando-o, enquanto o paciente vive artificialmente ligado a impele para o futuro, é certo; mas pode modificar as condições de vida um aparelho. Órgãos vitais são transplantados, aumentando a expecta- existentes neste estranho vagão. Pode modificar o relacionamento dos tiva de vida. passageiros. Pode estabelecer regras que conduzam a um viver tran- Muitos anos depois do homem ter ido à Lua continuamos a pers- quilo, a um relacionamento correto, a um entendimento melhor, a um crutar outros planetas, em viagens espaciais, sondando o infinito. progresso mais humano. Deve criar condições para que sobretudo os Acompanhamos a existência não de um, apenas, mas de vários jovens passageiros vivam e convivam melhor. Fords a dirigirem tiranicamente diversos países, o que é mais uma prova Para isto, é preciso que ele vá além das intenções, partindo para a eloquente de que, há tempos, estamos vivendo no Admirável Mundo ação. Que encontre o caminho certo, que utilize o instrumento adequa- Novo idealizado por Huxley. E de um mundo novo que, a cada dia, tor- do. Este instrumento é a educação. na-se mais complexo em consequência da maior revolução que até hoje Uma educação alicerçada em conceitos modernos e em perspecti- a humanidade vem passando provocada pela aceleração da ciência e da vas do futuro. Uma educação que não esqueça o passado, mas não viva tecnologia. dele. Uma educação que conviva com o presente e faça dele o grande E o que está acontecendo com a educação que, no Brasil, oferece- trampolim para o futuro, preparando as crianças e os jovens para as mos às nossas crianças e jovens? Ainda não os está preparando para o transformações que vêm modificando o como pensar, o como observar, presente, muito menos para o futuro. o como se relacionar, o como conviver, as novas relações no mundo do É preciso que, com urgência e eficiência, preparemos nossos trabalho. jovens para que entendam e para que tenham condições de saber con- Esta educação não é tarefa apenas da escola. viver com as transformações cada vez mais céleres, adaptando-se a elas Queimando etapas, o homem a cada dia desmoraliza a Futurologia. ou as superando. Quando Aldous Huxley, com sua visão de futuro, escreveu, em 1931, o Infelizmente, essa conscientização ainda não existe ou não tem Admirável Mundo Novo – um pesadelo de ordem em excesso, como ele passado das boas intenções. mais tarde afirmaria, certamente não poderia imaginar que, em menos de 50 anos, a humanidade já estivesse convivendo com muitos daqueles pesadelos, miniaturados uns, ampliados outros, além dos que escapa- * Terezinha Saraiva é educadora. ram à sua previsão e imaginação. É claro que a liberdade preocupava Huxley, como preocupou L Livre para todos os públicos

Diretoria 2017: Presidente: Domício Proença Filho Secretária-Geral: Nélida PiñonSecretária-Geral: 1ª Secretária: Ana Maria Machado 2º Secretário: Merval Pereira Tesoureiro: Marco Lucchesi Conferencista: Marcelo Backes Marcelo Conferencista: Sandroni Cicero Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação Mann Thomas de obra na morte, a para não arte, a para doença A LITERATURA MEDICINA E Conferências de Ciclo | 17h30min toca ErnestoNazareth Maria TeresaMadeira NAZARETHIANDO NAABL ABL na MPB | 12h30min 4 deoutubro 3 deoutubro Aluísio Azevedo Aluísio maridos para Lição 25 e 18 Dias: quartas-feiras | 18h - 13h30min Leituras dramatizadas Teatro R.MagalhãesJr. Pílulas cênicas − A Medicina no teatro no Medicina A − cênicas Pílulas LITERATURA MEDICINA E Conferências de Ciclo | 17h30min Taliberti Viviane e (violoncelo) Pinto Oliveira de Matias Geraets Theodora Trio OP. Arquiduque 97, Beethoven van Ludwig Câmara de Música | 12h30min Conferencista: Gabriel Oliven Gabriel Conferencista: Sandroni Cicero Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação Scliar Moacyr de trajetória na palavras das encontro O − Território emoção da LITERATURA MEDICINA E Conferências de Ciclo | 17h30min Dalcolmo Margareth Conferencista: Sandroni Cicero Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação acadêmico lirismo ao peste da literatura: na tísica A LITERATURA MEDICINA E Conferências de Ciclo | 17h30min TaniaBrandão Conferencista: Sandroni Cicero Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação 10 deoutubro 5 deoutubro 24 deoutubro 17 deoutubro (violino) (piano) , Conferencista: Acad. Cicero Sandroni Cicero Acad. Conferencista: Sandroni Cicero Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação ficção à psicanálise da alienista”: “O LITERATURA MEDICINA E Conferências de Ciclo | 17h30min 31 deoutubro e Renato Janine Ribeiro Ribeiro Janine Renato e Conferencistas Mendes Candido Acad. Coordenador: Filho Proença Domício Acad. Geral: Coordenação POLÍTICA REPRESENTAÇÃO RADICALIZAÇÃO E brasis BRASIL, Seminário | 17h30min 26 deoutubro [email protected] 3974-2526 (21) Agendamento: sextas e quartas Segundas, | 14h 30 e 27 23, 20, 16, 9, 6, 4, 2, Dias: sextas e quartas Segundas, | 15h15min Visitas guiadas Petit Trianon Histórias imortais JosédeAlencar Sala : Jairo Nicolau Nicolau Jairo : ornalde 10 JLetras PossePosse dede ArnoArno WehlingWehling

Por Maria Cabral

Em solenidade no Salão Nobre do Petit Trianon, o historiador e professor Arno Wehling tomou posse na cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), o novo acadêmico foi eleito no dia 9 de março deste ano, na sucessão do acadêmico e poeta Ferreira Gullar, falecido no dia 4 de dezembro de 2016. Além de Gullar, já ocuparam a cadeira 37 os imortais Silva Ramos, Alcântara Machado, o ex-presidente da República Getúlio Vargas, Assis Chateaubriand, João Cabral de Melo Neto e Ivan Junqueira. Em nome da ABL, o acadêmico, embaixador e historiador Alberto da Costa e Silva fez o discurso de recepção, destacando que, desde cedo, Arno Wehling já tomara interesse pela historiografia: “Não fora assim e o seu primeiro livro, publicado aos 27 anos, não se chamaria Os níveis da objetividade histórica. Nos que se seguiram – como A invenção da histó- ria: estudos sobre o historicismo – e em incontáveis trabalhos impressos em revistas especializadas e obras coletivas, e em conferências, pales- tras e comunicações em simpósios, respiram a segurança e o entusias- mo do estudioso que se tornou íntimo das teorias que movimentam as ciências humanas e outros saberes.” Antes, Arno Wehling discursou na tribuna: “Ingresso na Academia Brasileira de Letras com uma convicção, a de seu significado intelectual, simbólico e ético como grande instituição brasileira. Vejo a Academia como uma grande irmandade espiritual no tempo e sei que dela partici- par implica estabelecer vínculos múltiplos, antes de tudo com ela pró- pria e o que encarna em matéria de liberdade, diversidade, humanismo e compromisso com o Brasil. Os 120 anos da Academia coincidem com a aceleração da história e com esta peculiar historicidade que não se explica pelas ilusões cien- tificistas do século XIX, com sua busca ingênua das leis históricas, mas pelo esforço por uma compreensão mais profunda dos atos humanos, do funcionamento das instituições e dos processos sociais.” O novo acadêmico O acadêmico e professor Arnaldo Niskier (segundo a tradição, o decano presente) entregou a espada; o acadêmico e historiador José Natural da cidade do Rio de Janeiro, onde nasceu em 1947, Arno Murilo de Carvalho fez a aposição do colar; e o acadêmico e jornalista Wehling formou-se em História pela Faculdade Nacional de Filosofia Cícero Sandroni entregou o diploma. O presidente da ABL, acadêmico e da Universidade do Brasil (atual UFRJ) e em Direito pela Universidade professor Domício Proença Filho, destacou: “Com Arno Wehling, chega Santa Úrsula, sendo doutor em História e livre docente de História à Academia um historiador de altos saberes, um pensador da cultura, Ibérica pela USP e realizando pós-doutoramento na Universidade do um cultor do direito. Sua presença amplia o contingente dos notáveis Porto. da inteligência brasileira que, ao lado dos escritores, integram, como Desenvolveu toda a sua atividade profissional como professor e estabeleceu a sabedoria dos fundadores, a Casa de ”. pesquisador na universidade, tornando-se professor titular por concur- so de títulos, provas e defesa de tese na UFRJ (Teoria e Metodologia da História) e na Unirio (História do Direito e das Instituições). Foi profes- sor visitante das Universidades Portucalense e de Lisboa e pesquisador do CNPq. Na administração universitária, foi chefe de departamento e deca- no da Unirio e diretor, decano e reitor da UGF. Participou da fundação ou atuou em vários programas de pós-graduação em História, Filosofia e Direito na UFRJ, Unirio e UGF. Atualmente, é professor de História do Direito do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Veiga de Almeida. Sua atividade intelectual como historiador e ensaísta desenvolve-se preferencialmente nos campos da epistemologia das ciências humanas/história, da história das ideias políticas e jurídicas e da história do direito/instituições. Suas pesquisas concentram-se sobretudo no período colonial brasileiro, em especial do século 18 às primeiras décadas do século 19 e nos fundamentos teóricos da produ- ção historiográfica brasileira. ornalde JLetras 11 Wehling é presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e membro de institutos históricos estaduais, acade- mias ibero-americanas de História (Argentina, Uruguai, Paraguai, Colômbia, Venezuela, Portugal e Espanha) e da Academia das Ciências de Lisboa. Atuou e atua como parecerista de entidades de fomento (CNPq, Capes, Fundação Araucária, Fapesp, Faperj, Conicet), além de ser membro de conselhos editoriais do país e do exterior e conselheiro do Conselho Técnico da CNC e do IPHAN. É autor de cerca de duzentos trabalhos nas suas áreas, entre artigos em periódicos especializados, verbetes em obras de referência, capítulos de livros, comunicações em anais e livros. Destes, tratam de questões teóricas e historiografia Os níveis da objetividade histórica (1974), A invenção da história – estudos sobre o historicismo (1994 e 2001), Estado, história e memória – Varnhagen e a construção do estado nacional (1999) e De for- migas, aranhas e abelhas – reflexões sobre o IHGB (2010 e 2017). Sobre estruturas de poder, em especial relacionadas ao direito e à justiça e às ideias políticas, Administração portuguesa no Brasil, 1777-1808 (1986), Pensamento político e elaboração constitucio- nal (1994) e Direito e Justiça no Brasil Colonial – o Tribunal da O novo acadêmico discursa na tribuna do Salão Nobre do Petit Trianon. Relação do Rio de Janeiro (2004), este em colaboração com Maria José Wehling. Publicou ainda dois livros de síntese, também com Maria José Wehling, Formação do Brasil colonial (1994; 5ª. edição 2012) e Documentos Históricos Brasileiros (2000).

Acima: O presidente da ABL, Domício Proença Filho, entre os acadêmicos Alberto Costa e Silva, Nélida Piñon, Ana Maria Machado, Merval Pereira e Marco Lucchesi. Ao lado: Arno Wehling entre os acadêmicos Evanildo Bechara, Geraldo Holanda Cavalcanti e .

O acadêmico Arno Wehling celebra a posse na ABL cercado por familiares. ornalde 12 JLetras Um novo herói: Auggie J Literatura Infantil Pullman, o menino extraordi- L Por Anna Maria de Oliveira Rennhack nário, sucesso na Intrínseca! Visite a nossa página na internet: annarennhack.wix.com/amor LembrançasLembranças boas,boas, Ao mestre, com cari- criançascrianças ee professoresprofessores nho! Auggie Pullman e seu capace- Outubro, mês das crianças e dos te de astronauta posando para Mestre em educação, pedagoga, editora de livros infantis e didáticos — e-mail: [email protected] professores. Uma ligação biunívoca, fotos com os leitores. inseparável e dependente, que deve ser entremeada pela competência e pelo afeto. Um pouco da nossa participação na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, que aconteceu de 31 de agosto a 10 de setembro no Para as crianças: Riocentro. A grande alegria dos encontros, o colorido e a criatividade dos estandes, as trocas e muita aprendizagem. ABC dos abraços – Sérgio Capparelli, ilus- trações de Cris Eich (Global) – Bia cria uma Heróis de sempre: gramática pessoal para entender o mundo. Um Asterix e Obelix, Mafalda e Harry Potter e seus amigos ABC sem pé nem cabeça, em que o grande pode ser pequeno e o tombo, uma razão a mais para se levantar... Viva a poesia na escola!!!!

Ulisses sabe esco- lher – Fábio Monteiro, ilustrações de Denise Gonçalves e Catarina Costa (abacatte) – Todos davam palpites nas escolhas de Ulisses, mas ele foi descobrindo por si próprio, descobrindo o mundo entre escolhas e brincadeiras e, assim, aprendeu a ser feliz!

Asterix e Obelix no estande do Grupo Mafalda, a filósofa mirim argentina, Record. enfeitando a Martins Fontes. Use a imagina- ção (mas cuidado com O QUE você DESEJA) – Nicola O’Byrne, tradu- O lindo e pre- ção de Gilda de Aquino (Brinque-Book) – Um miado estande da Rocco repre- lobo esperto que usa a imaginação e tenta enga- sentava o mundo nar o coelho... Tenta. Até que o coelho aprende fantástico de Harry a usar o poder da imaginação e... o enganado é Potter. o lobo!

Duas obras recém-lançadas servem de referência, presente ideal para os professores- -leitores:

Uma nova outra história – Literatura Infantil Brasileira (PUCPRESS – FTD) – Marisa Dois momentos de Lajolo, Regina Zilberman, com prefácio de encontros especiais: Roger Chartier – Um instigante percurso por livros impressos e digitais dos últimos 30 anos, discutindo rumos e práticas destas importantes produções literárias. Duas especialistas consa- gradas da literatura infantil e juvenil.

Caro Professor – Beatriz Grellet, gerente executiva da Ana Maria Machado (Global) – A autora apre- Abrelivros e Maria Lúcia Kerr Cavalcante, da senta conversas variadas sobre educação, falan- Editora do Brasil, ladeiam Anna Rennhack. do diretamente ao professor. Foca em expe- Alexandre Gomes de Castro, atual presidente riências de leitura, educação literária, a escolha da Associação de Escritores e Ilustradores de de bons livros, a importância de um professor Literatura Infantil e Juvenil – AEILIJ, Anna comprometido. Rennhack e Simone Monteiro, da Secretaria Municipal de Educação da Cidade do Rio de Janeiro. ornalde JLetras 13

JL Biblioteca Básica Brasileira BBBO Jornal de Letras apresenta mais três autores cujas obras não podem faltar numa Biblioteca Básica Brasileira. acervo JL acervo JL acervo JL Antônio Celso Vieira Levi Carneiro

Austregésilo Terceiro ocupante da Levi Fernandes Carneiro, cadeira 38, eleito em 20 de julho jurista e ensaísta, nasceu em Antônio Austregésilo de 1933, na sucessão de Santos Niterói, RJ, em 8 de agosto de Rodrigues Lima, médico, profes- Dumont e recebido pelo acadê- 1882, e faleceu no Rio de Janeiro, sor e ensaísta, nasceu no Recife, mico Aloísio de Castro em 5 de RJ, em 5 de setembro de 1971. PE, em 21 de abril de 1876, e fale- maio de 1934. Recebeu o aca- Bacharel em Ciências Jurídicas e ceu no Rio de Janeiro, RJ, em 23 dêmico Vítor Viana. Celso Vieira Sociais pela Faculdade de Direito de dezembro de 1960. Educou-se (Celso Vieira de Matos Melo do Rio de Janeiro. Foi secretá- no Colégio das Artes, no Recife. Pereira) nasceu na cidade do rio da delegação brasileira à Mudou-se para o Rio de Janeiro para cursar a Faculdade de Recife, PE, em 12 de janeiro de 1878, e faleceu no Rio de Conferência Internacional de Jurisconsultos, em 1912; fun- Medicina. Formou-se em 1899, defendendo a tese Estudo Janeiro, RJ, em 19 de dezembro de 1954. Era filho de Rafael dador e primeiro presidente da Ordem dos Advogados clínico do delírio. Foi o início da sua bibliografia sobre Francisco Pereira e de Marcionila Vieira de Melo Pereira. do Brasil (1932); consultor-geral da República, de 1930 a doenças mentais. Em 1902, tornou-se médico da Santa Fez seus primeiros estudos no Ginásio Pais Leme, no Pará, 1932. Como representante das classes liberais, participou Casa de Misericórdia. Integrou a equipe do professor onde iniciou, também, o curso de Direito, que concluiu no da Constituinte de 1934, mas perdeu o mandato em 1937. Juliano Moreira, que assumira a Diretoria de Assistência Rio de Janeiro. Biógrafo, ensaísta e historiador, exerceu na Foi membro da Comissão Permanente de Codificação aos Alienados. Em 1909, foi designado, pela Congregação capital do país os cargos públicos de auxiliar do chefe de do Direito Internacional Público; delegado do Brasil à da Faculdade de Medicina, para professor substituto de polícia no Rio de Janeiro; diretor do gabinete do ministro VIII Conferência Pan-americana de Lima em 1938 e à Clínica Médica, Patologia Interna e Clínica Propedêutica. da Justiça e secretário do Tribunal de Apelação. Foi um Conferência Interamericana para a Manutenção da Paz e Em 1912, foi designado professor da recém-fundada cáte- dos fundadores da Academia Pernambucana de Letras. da Segurança do Continente em Quitandinha (1947) e dra de Neurologia na Universidade do Brasil. Lançou no Ocupou a cadeira nº 38, da Academia Brasileira de Letras, outros congressos internacionais; consultor jurídico do Brasil as bases de uma especialidade nova e criando a na vaga decorrente do falecimento de Santos-Dumont, Ministério das Relações Exteriores; membro da Comissão primeira escola de Neurologia. Fundador dos Arquivos que, aliás, não chegara a tomar posse. Teve a recebê-lo, a de Codificação do Direito Internacional Público; membro Brasileiros de Medicina e dos Arquivos Brasileiros de 5 de maio de 1934, o professor Aloísio de Castro. Presidiu brasileiro da Corte Permanente de Arbitragem de Haia; Neurologia e de Psiquiatria, representou o Brasil em vários a Academia Brasileira no ano de 1940. Celso Vieira foi juiz da Corte Internacional de Justiça em Haia, de 1951 a congressos internacionais de Neurologia. Membro da sucedido na Academia Brasileira de Letras pelo médico e 1954. Foi responsável pela Revista Brasileira de 1941 a 1944 Academia Nacional de Medicina e da Sociedade Brasileira professor Maurício de Medeiros. e foi presidente da Academia Brasileira de Letras em 1941. de Neurologia; membro correspondente da Academia das O Livro de um advogado (1943) retrata sua atuação como Ciências de Lisboa; membro correspondente da Academia fundador e 1º Presidente da Ordem dos Advogados do de Medicina de Paris e da Academia de Medicina de Nova Brasil e do Instituto dos Advogados Brasileiros. Foi membro York; membro honorário de todas as associações médicas correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, mem- do Brasil e da América do Sul; professor Honorário da bro benemérito do Instituto dos Advogados Brasileiros, da Faculdade de Medicina de Pernambuco; e professor eméri- Associação Brasileira de Educação; do Instituto Histórico to da Universidade do Brasil. e Geográfico Brasileiro; da Sociedade Brasileira de Direito Internacional. ornalde 14 JLetras caracterização das calçadas da cidade, a artista também lamenta nunca ter recebido qualquer direito pela exploração comercial de sua criação, já que é comum encontrar diversos produtos ostentando a marca, como chinelos, bonés, bolsas, capas de caderno entre outros objetos, facil- mente encontrados nas lojas da capital. Atuando como artista plástica há alguns anos, a desenhista, que é habitual frequentadora de galerias do Brasil e exterior, já apresentou suas peças em várias exposições, e foi agraciada com diversos prêmios, entre eles a Medalha de Ouro no 9º Salão da Associação dos Artistas Plásticos de Santo Amaro; Prêmio Aquisição, “500 Anos de Brasil”, Por Zé Roberto ABACH – Academia Brasileira de Arte Cultura e História; 3º lugar no [email protected] Salão Oficial de Artes Plásticas da Cidade de São Paulo, entre outros. A artista plástica mantém seu perfil no Facebook, no endereço Mirthes mirthes.bernardes, por onde se corresponde com fãs e admiradores.

Bernardes Árvore Azul, uma das obras da artista. Quem reside ou este- ve na cidade de São Paulo já caminhou por uma das mais significativas marcas que a localidade possui. As calçadas paulistanas, marcadas por ladrilhos alvinegros, divididos em pequenos quadrados que formam a síntese do mapa do Estado de São Paulo, tornaram-se um dos mais famosos registros urbanos da História. Mesmo criado sem maiores pretensões, o desenho ganhou fama e faz companhia aos habi- tantes locais desde a reali- zação de um concurso, em 1965, na gestão do prefeito José Vicente Faria Lima, quando a arte, criada pela Mirthes Bernardes e sua consagrada marca. desenhista e artista plásti- ca Mirthes Bernardes, foi escolhida para padronizar as calçadas da capital. Nascida no interior de São Paulo, no município de Barretos, no dia 10 de agosto de 1934, Mirthes Bernardes mudou-se, ainda na infância, para a capital de São Paulo, cidade onde reside até os dias atuais. A arte surgiu para Mirthes entre os anos de 1964 a 1968, quando estudou escul- Obra em esmalte sobre cobre. tura com Tadakio Sakai, em Embu das Artes. Além disso, foi apresentada à arte da esmaltação em cobre por seus irmãos e o artista plástico Cid Freitas, seu sobrinho; que organizaram algumas exposições. No início dos anos 1960, foi trabalhar na prefeitura de São Paulo, atuando em diversas atividades, entre elas, no Departamento de Urbanismo, quando atuou como desenhista de arquitetura. Ao se for- mar em Serviço Social pela PUC – Pontifícia Católica de São Paulo, em 1968, foi trabalhar no município de Ilha Solteira, próximo a Araçatuba, permanecendo na localidade por dois anos e meio. Depois, foi para a Secretaria de Estado da Cultura, quando coordenou projetos de artes para internos da Febem – Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor, e em presídios estaduais. Dentre outras ações culturais e populares, atuou no projeto “Canto da Terra” e em festivais de música sertaneja. Esteve também na Secretaria do Bem-Estar Social, chefiando ações de educa- ção para adultos. Mirthes encerrou sua passagem pela prefeitura de São Paulo, na Guarda Civil Metropolitana, treinando guardinhas mirins, no final dos anos 1980, quando se aposentou. Graças a um artigo da Folha de S. Paulo, assinado por Felipe Souza, em 2015, denunciando o descaso da prefeitura com o “piso paulista”, que vem sumindo das ruas de São Paulo por total falta de manutenção e restauro adequado, o nome de Mirthes Bernardes voltou a circular no meio cultural, dando voz à artista que há anos busca um pouco mais do que o simples reconhecimento. Além da tristeza em testemunhar a des- ornalde JLetras 15 Desdizer de Secchin

Fotos: Guilherme Gonçalves Os acadêmicos Antônio Torres e Antonio Carlos Secchin.

O acadêmico Geraldo Carneiro participou da leitura de poemas do novo livro de Antonio Carlos Secchin.

Há 15 anos sem publicar um livro de poemas inéditos, desde a edi- ção do premiado Todos os ventos, em 2002, o acadêmico, ensaísta e poeta Antonio Carlos Secchin lançou seu novo livro de poemas. Desdizer, edi- tado pela Topbooks, foi lançado em concorrida noite de autógrafos, que contou com a leitura de poemas pelo autor e por Adriano Espínola, Ana Paula Pedro, Antonio Cícero, Geraldo Carneiro, Paulo Sabino e Sergio Fonta. Com projeto e ilustração da capa do artista plástico Waltercio Caldas, a bela edição, de 211 páginas, reúne a poesia inédita de Secchin, responsável pelo título, e, ainda, a produção anterior do autor, desde a década de 1970, revista, em forma definitiva. No poema de abertura (“Na antessala”), o autor avisa: “O desavi- sado leitor/ não espere muito de mim./ O máximo que mal consigo,/ é chegar a Antonio Secchin.” Reiterando o compromisso com a clareza e a comunicabilidade do texto, os 31 novos poemas apresentam intensa variedade de temas e procedimentos técnicos. Na seção inicial, ape- sar da tendência à regularidade métrica, o verso livre é exercitado. Em A leitura de poemas por Ana Paula Pedro, com Adriano Spindola, os acadêmicos Geraldo “Autorretrato”, na página 39, lê-se: “Um poeta nunca sabe/onde sua voz Carneiro e Antônio Cicero. termina,/se é dele de fato a voz/que no seu nome se assina. Nem sabe se a vida alheia/é seu pasto de rapina,/ou se o outro é que lhe invade,/ numa voragem assassina./ Nenhum poeta conhece/esse motor que maquina/a explosão da coisa escrita/contra a crosta da rotina.” Em depoimento no final do livro, Secchin formula uma definição do ofício do poeta: “Um operário da linguagem, um experimentador de formas, cuja eficácia é posta à prova a cada verso ou estrofe que acaba de erguer. O alvo de sua palavra é instável e flutuante: abarca, a rigor, todos os meandros da experiência humana, em suas calmarias e convul- sões, em sua sede inesgotável do ínfimo e do absoluto, na inestancável demanda de novos sentidos. Eis a sina do escritor: acertar não no que vê, mas no que intui”. Sobre o autor Antonio Carlos Secchin nasceu no Rio de Janeiro, em 1952. Doutor em Letras e professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, desde 2004 ocupa a cadeira 19 da Academia Brasileira de Letras. Poeta e ensaísta, Secchin publicou, entre outras obras, João Cabral: a poesia do menos (1985), Poesia e desordem (1996), Todos os ventos (poemas reunidos, 2002, ganhador dos Prêmios da ABL, da Biblioteca Nacional e do Pen Clube), Escritos sobre poesia & alguma ficção (2003), 50 poemas escolhidos pelo autor (2006), Memórias de um leitor de poesia (2010), Eus & outras (antologia poética, 2013). A UFRJ publicou, em 2013, o livro Secchin: uma Vida em Letras, com cerca de 90 artigos, ensaios e depoimentos sobre sua atuação nos O poeta encantou a plateia, na concorrida noite do lançamento de Desdizer. campos da poesia, do ensaio, da ficção, do magistério e da bibliofilia. ornalde 16 JLetras

JL Novos Lançamentos

Fina carpintaria Contos da Guanabara

Noites Simultâneas (Bagaço) romance de estreia do Em uma viagem por ruas, praças, morros, mares, rios, jornalista Mauricio Melo Junior nos traz escritos enga- praias, mangues e ilhas de um Rio de Janeiro secreto e vetados há mais de vinte anos. O enredo, por sua vez, cheio de mistérios, Nei Lopes traz em Nas águas desta relembra os anos sombrios dos brasileiros nas décadas Baia há muito tempo (Record) os ecos de uma cidade de 1960 e 1970, protagonizados por dois estudantes que quase selvagem, de lugares encantados e palavras em se esbarram em um dia de greve geral, se apaixonam e desuso. O que importa é se deixar levar e embarcar acabam entrando na militância em uma organização nessa nau mágica junto com o autor, que abre cami- clandestina. A trajetória do casal, entre encontros e nho por um Rio de contrastes, mistérios, diversão e desencontros, pessoais e ideológicos, sintetiza o que medo – um Rio largo e profundo como as águas de sua foi a vivência de toda uma geração durante a ditadura baía. “Tudo começou pela constatação enorme de ilhas militar e os anos da abertura política. “Os dois jovens e ilhotas existentes na nossa Baía. No meu trajeto, da fazem parte de uma trama ambientada no Nordeste periferia onde moro até a capital, isso um dia me ocor- brasileiro, cujos fios se tecem numa sequência de ações reu. E a ideia começou a tomar forma numa viagem de de desfecho mais ou menos previsíveis – desmante- barca a Paquetá. Aí, busquei na memória e nos livros lamento de aparelhos, prisões, tortura, exílio – e um as referências: Lima Barreto na Ilha do Governador e exílio aqui mesmo, no caso do moço, o protagonista da estudando em Niterói; o maestro Anacleto de Medeiros história, em sua algo estoica clandestinidade –, se destecem com a imprevisibilida- em Paquetá; o episódio de João Cândido… Mas cravei, mesmo, a seta no alvo quan- de do desenrolar dos acontecimentos”, diz o acadêmico da Academia Brasileira de do li detalhes sobre a Revolta da Armada, no fim do século 19. Aí, resolvi fazer desse Letras Antonio Torres na apresentação, e completa “Maurício Melo Júnior dividiu o evento histórico, a âncora (sem trocadilho) do conjunto de contos que escrevi”, seu romance em capítulos curtos, nos quais cada palavra, cada frase, cada parágrafo analisa o autor a sua obra. Nei Lopes é compositor e intérprete de música popular, se encaixam numa construção de sólida estrutura e fina carpintaria. Enfim, bom escritor e estudioso das culturas africanas. Bacharel em Direito e Ciências Sociais de ler”. O autor nasceu em Catende (PE), mas está radicado em Brasília desde 1980. pela Faculdade Nacional de Direito da antiga Universidade do Brasil, atual UFRJ, tem Além de jornalista e escritor, é também crítico literário e documentarista. publicada em livro vasta obra toda centrada na temática africana.

Amor x Dinheiro Elvis não morreu

Como conseguir um homem rico (Editora Matrix) de Jennifer As crônicas de Elvis – Cadillac cor-de-rosa, vol. 1 (Editora Lobo e Regina Vaz, ensina as mulheres a buscarem um Tinta Negra) de Daniel Frazão é uma biografia romanceada verdadeiro príncipe e conquistarem uma vida promissora que busca mostrar facetas íntimas de Elvis Presley. Aos 18 em todos os sentidos. O inverno remete ao aconchego e anos, Elvis Presley trabalha como motorista de caminhão ao romance. A época é propícia não apenas para os casais e estuda no curso técnico de eletricista. Nas horas vagas, apaixonados, quem deseja encontrar um par, indepen- permanece na varanda de casa com o rádio e o cachorro ao dentemente do estilo do relacionamento, também pode lado, tentando imitar estrelas como Frank Sinatra e Dean aproveitar este clima de paixão. Afinal, em um mundo tão Martin. Mas acaba frustrado: a voz sai aguda, arranhada e moderno, o que vale mesmo é ser feliz. Para ajudar quem diferente de todos eles. Tanto que, quando se vê em frente está solteiro a ter um affair sério, transparente, e quem à gravadora Sun Records, o garoto paralisa. Os joelhos sabe, um “alguém” para aquecer o frio e o coração, foi lança- tremem e a garganta seca. Inseguro, não lembra em nada do o livro Como conseguir um homem rico. Jennifer e Regina o astro que, poucos anos depois, se tornaria o maior ídolo buscaram referências em seus estudos, na avaliação dos pop de todos os tempos. Num texto saboroso, que mistura referências verídicas a casais e em pesquisas, observando que a obra é um grande toques ficcionais, o escritor Daniel Frazão narra o período inicial da carreira de Elvis, trunfo para quem deseja um relacionamento plenamente feliz. Isto porque, ao con- a ascensão, a década de 1950. Estão lá o amor pela mãe – que chama de Satnin por trário do que muitos pensam, não se vive somente de amor quando a situação eco- conta da pele de cetim –, o irmão gêmeo que nasceu morto, a infância de superpro- nômica está desestruturada. “Hoje em dia, uma mulher pode decidir o que for melhor teção, a batalha contra a timidez. A desconfiança do produtor musical Sam Phillips para ela. Você não precisa escolher entre amor e dinheiro. Você pode ter tudo! Resolvi que, por um triz, não descartou de primeira aquele jovem com jeito de caipira, cheio escrever esse livro devido à grande procura de sugar babies com dúvidas de como de espinhas no rosto. E, claro, a angústia com a qual o garoto hesitante enfrentou, na se relacionar e, principalmente, conquistar um homem rico. Se uma mulher pode intimidade, o frenesi crescente em torno de sua figura. Este primeiro volume de As escolher entre o bom e o melhor, por que não escolher o melhor?”, instiga Jennifer. A crônicas de Elvis descreve, afinal, como o mundo muda à medida que o próprio pro- obra traz à tona um assunto que é ainda tabu entre os casais: finanças. Se o tema fosse tagonista se transforma, passando de adolescente tímido e inseguro do interior dos pautado de forma clara, talvez evitasse um expressivo número de divórcios. Estados Unidos a maior astro da música – o primeiro de todos os popstars.

Um grande homem Momentos

O livro Nós somos a mudança que buscamos – Os discur- Ao fim de mais um dia de trabalho regado a tédio e inércia, sos de Barack Obama, organizado por E. J. Dionne Jr e Joy Jorge, alheio a qualquer vizinho, caminha pelos corredores Ann Reid, que a editora BestSeller lança agora no Brasil, do condomínio onde mora para enfim se atirar no sofá ilha- reúne 27 de suas falas, começando em 2002, antes de sua do entre as paredes nuas de seu apartamento e ouvir a habi- primeira eleição ao governo, quando ele fez uma severa tual trilha sonora: as gargalhadas dos Durcan no andar de crítica à guerra no Iraque, ainda como senador. O últi- cima. Fosse ele rabugento, teria todos os motivos para pegar mo texto é o de despedida, lido em Chicago, em janeiro uma vassoura e bater forte no teto da sala. Mas quem em sã de 2017. Com a posse de Donald Trump, os discursos consciência, por mais sensível que seja a ruídos externos, ganham ainda maior significado histórico pelo contraste teria coragem de protestar contra aqueles espalhafatosos com as falas e as medidas que estão sendo colocadas em octogenários franceses? A história desse pacato repórter de prática pelo republicano, totalmente contrárias ao que 30 e poucos anos, cuja rotina é tomada pela exuberância do pregava seu antecessor nos seus oito anos de mandato. casal Marcel e Rachelyne, conduz a narrativa de Gostar de No discurso do Estado da União de 2013, por exemplo, ostras (Editora Rocco), novo romance do escritor, jornalista Obama pregava a necessidade de uma reforma nas leis e tradutor Bernardo Ajzenberg, que, após o aclamado Minha de imigração, não só para tentar barrar a entrada em vida sem banho, volta a conjugar o coletivo e o individual massa, mas para acolher os que já estavam no país, para produzir uma literatura ao mesmo tempo delicada e urgente. Aquela sensação é desde que em condições de trabalho e de se regularizar. Em Washington, Trump uma velha conhecida de Jorge. Sempre que ouve uma das erupções dos Durcan, se dá começa a cumprir suas promessas de campanha e já anunciou que vai acabar com conta do contraste entre a fúria feliz dos vizinhos e a precariedade de seus dias carre- o programa de proteção aos filhos de imigrantes ilegais. “Nossa economia fica mais gados de melancolia. Chegou a fazer os cálculos: descontadas as sete horas diárias de forte quando canalizamos os talentos e as habilidades de imigrantes esforçados e sono (uma de suas raríssimas conquistas ainda intocadas, salvo nas noites em que os cheios de expectativas. E, neste exato momento, líderes das comunidades empre- franceses aprontavam das suas), uma semana tem 119 “horas úteis”. Como cerca de sariais, trabalhistas, jurídicas e religiosas concordam que chegou a hora de aprovar 105 se dividem entre o que chama de “momentos neutros” e “momentos melancóli- uma abrangente reforma da imigração”, discursou o ex-presidente. cos”, sobram, em média, duas horas diárias para os “momentos de bem-estar”. ornalde JLetras 17 Antônio Cícero é eleito

Fotos: Guilherme Gonçalves O poeta, compo- sitor e filósofo Antonio Cícero foi eleito o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). Cícero vai suceder o acadêmico, Definido como um “intelectual completo” pelos futuros colegas, Antônio Cícero venceu a escritor, crítico e pro- eleição para a ABL. fessor , morto em maio deste ano, na cadeira 27. Em terceira can- didatura – a primei- ra, em novembro de 2016 e a segunda, em março deste ano, Cícero recebeu 30 votos de 34 possíveis. O escritor Cláudio Aguiar, pre- sidente do PEN Club do Brasil, recebeu dois votos. Foram registra- das, ainda, duas abs- tenções. Os outros oito concorrentes – Alfredo As acadêmicas Nélida Pinõn e Rosiska Darcy de Oliveira com Fernanda Montenegro. Sirkis, José Itamar Abreu Costa, Eloi Angelos G. D’Aracosia, Adenildo de Lima, Delasnieve Daspet, Felisbelo da Silva, Luís Carlos de Morais Júnior e Helio Begliomini – não receberam nenhum voto. Votaram 34 dos 40 acadêmicos, 22 pre- sentes no Petit Trianon, sede da ABL, no centro do Rio, e 12 por cartas. “Antonio Cícero traz para a Academia Brasileira de Letras a pre- sença e a atuação de um dos poetas mais representativos da literatura brasileira contemporânea”, afirmou o presidente da ABL, Domício Proença Filho. Na primeira tentativa de ingressar na ABL, para a cadeira deixada vaga pelo médico Ivo Pitanguy, Cícero empatou com o cientista político Francisco Weffort, e a eleição foi anulada. Na segunda, por 18 votos a 15, foi derrotado pelo historiador Arno Wehling. Nascido no Rio de Janeiro, em 1945, Antonio Cícero Correia Lima é autor de letras conhecidas do público que acompanha a música popular Caetano Veloso e Antônio Cícero. brasileira (MPB), escritas para canções em que teve como parceiros sua irmã, a cantora Marina Lima (Fullgás), Adriana Calcanhotto (Inverno), João Bosco (Trem bala) e Lulu Santos (O Último Romântico). Formado em Filosofia, em 1972, pelo University College, da Universidade de Londres, ele publicou os livros de poemas Guardar (1992), A Cidade e os Livros (2002), Porventura (2012) e, em parceria com o artista plástico Luciano Figueiredo, O Livro de Sombras (2010). O novo acadêmico também escreveu ensaios filosóficos como O mundo desde o Fim (1995) e Finalidades sem Fim (2005). Organizou o livro de ensaios Forma e Sentido Contemporâneo: Poesia (2012) e, em parceria com Waly Salomão, o volume de ensaios O Relativismo enquan- to Visão do Mundo (1994). Intelectual atuante, Cícero concebeu, em 1993, o projeto Banco Nacional de Ideias, em colaboração com o também poeta Waly Salomão (1943-2003). Durante dois anos, o projeto promoveu ciclos de conferên- cias com a participação de artistas e intelectuais de renome mundial, como João Cabral de Melo Neto, Richard Rorty, Tzvetan Todorov, Hans Acadêmico Domício Proença Filho, presidente da ABL, com o acadêmico eleito Maguns Enzensberger, Bento Prado Jr. e . Antonio Cícero. ornalde 18 JLetras

famosa “Galeria das Elegâncias”, na qual Rian retratou personagens aristocráticas, dando vida com o seu lápis, aos grandes da época. Para não ter problemas, Fon-Fon publicava “Gentileza da permissão competente”. Grande dama, Embora tendo uma forte influência francesa, o que podemos ver na arte de Rian é a espontaneidade do traço, o poder de síntese e a capacidade de excluir o supérfluo. Não deforma os caricaturados, o grotesco não é o seu estilo. Ela mesma não escondia suas preferências neste setor, como se vê numa entrevista a Assis Nair de Teffé Barbosa: “Sem é para mim o maior caricaturista de todos os tempos e também De Losques, cujos trabalhos sempre me fascinaram.” Pode nos parecer muito fácil e até mesmo um pouco fútil na época em que vivemos, mas, se pensarmos que tudo isso aconteceu no início do século 20, e Nair de Teffé – Rian foi a esplêndida que Nair foi uma pioneira, sendo a única mulher a fazer caricaturas no Brasil, palestra proferida pela escritora e artista veremos quão corajosa e obstinada ela foi. Uma mulher a frente do seu plástica Sonia Sales na Academia Carioca tempo. de Letras. Nair de Teffé foi uma mulher a O grande sucesso dessa série de caricaturas permitiu a Rian publi- frente de seu tempo e soube como nin- cá-las nas revistas Careta e nas edições dominicais da Gazeta de Notícias. guém retratar a sociedade da época. A atriz Rejane foi uma das suas primeiras caricaturadas. Nair não perdia Reproduzimos alguns trechos da as apresentações da Companhia no teatro Municipal, e, usando um palestra, que estará na íntegra na pró- binóculo, ia desenhando no seu camarote. Desta forma, conseguiu ser xima revista da Academia Carioca de colaboradora das mais elegantes revistas parisienses, tendo recebido o Letras que tem a direção de Sérgio Fonta: convite de Pierre Lafitte, o célebre editor francês, para ser artista efetiva do Excelsior, e, para sua glória, ser afirmada como a primeira mulher Nair de Teffé, Rian caricaturista do mundo. Por Sonia Sales Em 29 de setembro de 1910, os jornais do Brasil publicavam o seguinte telegrama, como nos conta Herman Lima, um dos seus biógrafos: “Paris, 28. A revista parisiense Fantasio publicou duas páginas de cari- Nair de Teffé, uma das mais notáveis caturas da lavra da Senhorita Nair de Teffé, elogiando a gentil autora de tais mulheres brasileiras, filha caçula do Barão de desenhos.” Teffé, o diplomata Antonio Luiz von Hoonholz, e de Era o sucesso Mundial! sua esposa Maria Luisa Dodsworth, nasceu a 10 de junho J. Carlos, o grande caricaturista, aproveitando a ocasião, fez uma bela carica- de 1886, mas foi levada para a Europa com um ano de idade, só voltando à sua terra tura de Rian, com sua carinha de anjo e olhos claros e melancólicos”... Natal aos 19 anos. O único amor de sua vida, e com quem se casou, foi o Marechal Hermes da Poliglota, falando um francês impecável, teve esmerada educação nos prin- Fonseca, então Presidente da República. Conheceram-se quando o marechal, gran- cipais educandários de Nice e Paris. Exímia pianista e poeta, possuía também uma de amigo de seu pai, foi passar alguns dias em Petrópolis, e ela teve que recebê-lo. belíssima voz de soprano. Filha e irmã de diplomatas, tendo convivido com a alta O presidente surpreso apertou-lhe a mão com muita simpatia. Conversaram um sociedade da Europa, estava a par de todos os movimentos culturais, o que a fazia pouco, mas, quando ele se despediu, o aperto de mão foi bem mais prolongado. ainda mais encantadora. Nair, excelente amazona, gostava de cavalgar pelos arredores de Petrópolis Com palavras repletas de firulas, bem a gosto da primeira metade do século e sempre encontrava amigos, inclusive o marechal. Vários encontros se seguiram, 20, assim a descreveu Fiorelli na revista Fon-Fon: mas, agora, na companhia de seu pai. Certo dia, o cavalo de Nair tropeçou, jogan- “Miúda, miudinha, mimosa, frágil, delicada, uma figurinha de biscuit, digna do-a no chão, o marechal, aflito, foi ajudá-la, mas, ao verificar que ela nada sofrera, de luxuosa etagère envidraçada e de pelúcia forrada. Uma teteia, um fetiche, que ajoelhou-se e romanticamente a pediu em casamento. Um casamento feliz que compensa a exiguidade corporal por uma exuberância de vida e graça. Fala com durou até a morte do marechal em 1923. calor sibilando muito levemente as palavras, num arroubo constante, das suas Como primeira dama do país, Nair revolucionou o Palácio com sua juventu- predileções. Pontua frases lapidadas na sua excelente cultura intelectual. Adora de, introduzindo o violão em seus saraus. música, o teatro e a agitada vida mundana. Um dos muitos escândalos que provocou foi ao aparecer em uma reunião Segundo a própria Nair, o seu gosto pela caricatura revelou-se muito cedo, ministerial com um vestido em cuja barra havia caricaturado todos os ministros. aos nove anos, quando estudava em Nice, no convento de Santa Úrsula. Mais tarde, Em outra festa de gala, com toda a elite presente, organizou um belíssimo em Paris, entrou para o curso de pintura de Mle. Lavreet, uma expositora do Salon. sarau e, entre os clássicos tocados, Nair executou ao violão o maxixe “Corta Jaca”, Mas o que ela amava e a motivava eram os portraits-charges, as caricaturas. O Barão de Chiquinha Gonzaga. A letra e a maneira de dançar ruborizaram a maioria das de Teffé, extremamente conservador, fazia o impossível para desviar-lhe a vocação, senhoras presentes. Rui Barbosa fez questão de criticá-la até no Senado. Mais uma mas para ela, era irresistível. vez o povo brasileiro se deliciou com a ousadia de Nair, e o “Corta Jaca” foi um A voluntariosa Nair retrucava com bravura contra o conservadorismo pater- sucesso! no. Ela sabia se impor numa época em que a mulher não passava de um enfeite, Após deixar a Presidência em feita apenas para encantar e viver restrita ao lar. Mulher trabalhar? Nunca! 1914, o marechal e Nair mudaram Querendo aprimorar-se, numa de suas viagens a Paris, ainda fez o curso de para Petrópolis, com idas periódicas à modelo vivo na famosa Academia Julian, Europa, onde ela pôde mais uma vez Voltando ao Brasil, o Barão de Teffé foi com a família viver em Petrópolis, a mostrar os seus dotes artísticos. cidade serrana do Rio de Janeiro, que, no verão, era o lugar central da sociedade Com a morte de seus pais e enviu- brasileira. Lá Nair foi feliz com o seu piano, sua música, seus pássaros e seus cães. vando, Nair se viu sozinha. Era uma Foi justamente em Petrópolis, que, por acaso, deu-se a conhecer sua incli- mulher rica, com muitas propriedades nação para a caricatura, quando Laurinda Santos Lobo, amiga de seu pai, e um dos deixadas pelo pai, mas solitária! Com ícones da sociedade brasileira, descobre uma de suas caricaturas e fica fascinada. o tempo, aficionada aos jogos de azar, O seu desenho faz tamanho sucesso, que Nair passa a ser o charme da estação de e não se assustem, ao jogo do bicho, veraneio. As conversas das senhoras, que antes só giravam em torno de vestidos e ficou com as finanças abaladas. Perdeu chapéus, agora só falam das caricaturas de Nair. E ela não tem tempo para mais quase tudo, e com o que restou de suas nada, chegava a desenhar até vinte caricaturas por dia. economias construiu o cinema Rian na O Barão de Teffé, a princípio tão rigoroso, acabou tornando-se um dos seus Av. Atlântica, entre as Ruas Constante mais entusiastas admiradores. Já não se opunha aos seus desenhos ou às suas Ramos e Barão de Ipanema. Um pré- exposições e não mais iria impedir sua colaboração em revistas e jornais: “Sem dio de quatro andares que administrava remuneração, é claro!” pessoalmente, até que se desentendeu João do Rio, em sua coluna “Cinematógrafo” da Gazeta de Notícias, protes- com o seu sócio, que, segundo ela, se tava, “Mlle. Nair de Teffé faz caricaturas, mas não as publica. Por quê? Os curiosos apropriou do cinema em 1946. preconceitos desta estranha Terra! Entretanto, a tanta gente que viaja é impossível Em 1974, lançou, em Niterói, um ignorar a insistência com que Sem e Des Losques e outros que caricaturam tout livro autobiográfico A verdade sobre a Paris, e como jornais sérios como L’Echo de Paris publicam na primeira página revolução de 1922, no qual explicava a senhoras e cavaleiros da melhor sociedade caricaturados por lápis insignes”. Nessa atuação de seu marido. Lendo a notícia ocasião, Nair passou a expor semanalmente os seus trabalhos, ora na vitrine da no jornal, fui ao lançamento e tive a Chapelaria Watson ora na Casa Davi, fazendo com que o grande público pudesse honra de conhecê-la. Uma senhorinha conhecer o seu trabalho. Casamento de Nair de Teffé com o Marechal muito simpática com brilhantes olhos A partir de 13 de agosto de 1910, o Brasil inteiro veio a conhecer as caricatu- Hermes da Fonseca, retratado pela revista azuis. ras de Nair, já agora assinando Rian, quando a revista Fon-Fon as publicou em sua Fon-Fon. ornalde JLetras 19 HélioHélio OiticicaOiticica ganhaganha suasua maismais completacompleta mostramostra

nos EUA Hélio Oiticica em frente ao poster da peça Prisoner of Second Avenue, em Nova York, 1972. (Reprodução de fotografia de nos EUA César e Claudio Oiticica, Rio de Janeiro)

Por Manoela Ferrari

O brasileiro Hélio Oiticica (1937- 1980), considerado um dos maiores A jornalista artistas da história da arte brasileira, Manoela Ferrari, é destaque do Whitney Museum, em do Jornal de Nova York. Na maior mostra de sua Letras, marca obra realizada nos EUA, a exposição presença na reúne 150 trabalhos, das experiências exposição To com desenho e pintura a partir de organize delirium, estudos geométricos nos anos 1950 em Nova York. até algumas de suas instalações mais icônicas, como “Tropicália” (1967), “Éden” (1969), “CC5 Hendrix-War” (1973) e “Rijanviera” (1979). Hélio Oiticica buscou a supera- ção da noção de objeto de arte como tradicionalmente definido pelas artes plásticas até então, em diálogo com a Teoria do “não objeto” de Ferreira Gullar. O espectador também foi rede- finido pelo artista carioca, que alçou A mostra To o indivíduo à posição de participador, organize delirium aberto a um novo comportamento é dividida em que o conduzisse ao “exercício experi- nove temas mental da liberdade”. Os trabalhos, no conceituais. A instalação “Éden”, no saguão do Whitney Whitney Museum, oferecem ao públi- Museum, permite a interação do expectador, co a possibilidade de dançar, vestin- que caminha descalço pelas areias do espaço. do parangolés, e de caminhar, de pés descalços, pela areia do “Éden”. A céle- bre frase do poeta Haroldo de Campos “Para se organizar o delírio” intitula a exposição, que comemora os 80 anos do nascimento do artista. A curadora Elizabeth Sussman lembra que, mesmo com suas produções mais celebradas finalizadas antes da mudança para a cidade, Hélio viveu Nova York como poucos artistas de seu tempo: “Há também o formato artístico por ele criado com Neville de Almeida, os ‘quase-filmes’, presentes com destaque na mostra.” A influência de Oiticica é enorme na arte contemporânea e seu período americano foi especialmente importante para o desenvolvimento teórico de A exposição de ideias que depois se expandiriam em formatos dos mais diversos, como foto- Hélio Oiticica grafia, cinema e escrita (na década de 1970, Hélio Oiticica ganhou uma bolsa da reúne 150 Fundação Solomon R. Guggenheim, e se mudou para Manhattan, onde viveu trabalhos do durante 7 anos, de 1971 a 1977). O desafio a que se propõe a retrospectiva, no artista no Whitney Whitney Museum, é apresentar de forma consistente esse período nova-ior- Museum. quino – a parte mais sombreada de seu trabalho e de maior influência sobre gerações recentes. Um dos efeitos positivos da internacionalização da obra de Oiticica, segundo o professor Pedro França, do MAM de São Paulo, é “torná-la mais aberta a interpretações errantes, livres e produtivas, por artistas que não têm relação direta com o contexto no qual ela emergiu – o Brasil.” A mostra também tomou forma de um caprichado catálogo de 320 pági- nas com textos dos curadores, ricamente ilustrado, um luxuoso documento em inglês que começa com afirmação poderosa: “Hélio Oiticica foi um dos mais inovadores e ousados artistas a emergir no cenário mundial nos anos pós-Se- gunda Guerra.” Dividida em nove temas conceituais, To organize delirium fica até outubro no Whitney Museum, em Nova York.