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Nações Unidas

SITUAÇÃO HUMANITÁRIA EM Análise Trimestral Abril – Junho 2004 Este relatório foi escrito com a assistência e colaboração das Agências das Nações Unidas em Angola Resumo

Angola entrou no segundo trimestre de 2004 comemorando o segundo aniversário da assinatura do Memorando de Entendimento do Luena, que pôs fim a 27 anos de guerra. De acordo com o Presidente José Eduardo dos Santos, o país enfrentará dois ou três anos adicionais de transição, até que as populações se estabilizem.

Restabelecer a produção agrícola é o principal meio de estabilização da população. Além disso, houve uma grande melhoria durante a campanha agrícola de 2003/2004 e quase todas as famílias que tiveram possibilidade de plantar, cultivaram mais terra comparado a um ano atrás. Contudo, condições climatéricas adversas e vários insumos originaram resultados amplamente diferentes de região para região. Enquanto que em algumas áreas no Norte e Sul ainda tivessem tido modestos excessos, em outros lugares no Planalto Central vivia-se uma quase completa falha da safra. O Governo Angolano, preocupado com a ameaça de um déficit alimentar, que possa afectar negativamente o processo de retorno e reassentamento, apelou aos doadores para que apoiem as distribuições do PAM. De acordo com a Análise de Vulnerabilidade mais recente, conduzida por aquela Agência, mais de 1 milhão de pessoas necessitam ainda de assistência alimentar, mas as suas operações de distribuição de comida para o corrente ano apenas estão financiadas em 23 por cento.

Na metade do ano, o Apelo Consolidado de Transição foi financiado a 40 por cento, com cerca de US$ 73 milhões de contribuições e promessas e US$ 109 milhões de necessidades não respondidas. Os níveis de apoio variam de sector para sector: enquanto o UNICEF foi mas de 90 por cento e o UNHCR recebeu mais de US$ 10 milhões de um total de financiamento de US$ 17.3 milhões para apoio do repatriamento voluntário organizado, a falta de financiamento impedem o progresso noutros sectores, particularmente para a OMS e ONGs involvidos no restabelecimento dos serviços de saúde. A meio do ano, a OMS havia recebido menos de 16 por cento dos 2.4 milhões de dólares requeridos para o Pacote de Cuidados Básicos de Saúde, vigilância sanitária e coordenação e reintegração de trabalhadores de saúde projectada pelo Apelo.

Numa nota positiva, o Ministério do Planeamento convidou a sociedade civil a comentar o documento do Governo sobre a Estratégia de Redução da Pobreza (PRSP), a incluir no texto. O CONGA, o grupo de ligação de ONGs, está a trabalhar em parceria com o Projecto de Rádio do IRIN para criar uma campanha de disseminação de rádio para informar o público e gerar a participação e discussão para o processo de consultação. O IRIN apoiará os parceiros das ONGs na criação de programas radiofónicos sobre temas como o PRSP incluindo temas como a pobreza urbana e as questões de género a serem difundidos em programas da Radio Nacional de Angola.

A campanha de expulsão de trabalhadores estrangeiros ilegais na indústria diamantífera, conhecida como “Operação Brilhante”, foi temporariamente suspensa, em Maio, prevendo-se que recomece em Julho. Apesar da falta de canais de comunicação entre o Governo e os grupos de direitos humanos, existe um sentimento geral de que a próxima vaga de expulsões será efectuada no respeito integral das leis dos direitos humanos e da dignidade dos envolvidos.

Após seis meses de hiato devido à estação das chuvas, o repatriamento organizado recomeçou durante o trimester e regressados de todos os países fronteiriços estão a regressar. No final de Junho, cerca de 3,000 refugiados regressaram a Angola.

Embora o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA) tenha oficialmente encerrado as suas operações, foi criada uma Unidade de Coordenação para a Transição para apoiar a UNCT e as necessidades de coordenação do Governo para além da emergência humanitária, mediante recolha e gestão de informação, advocacia e coordenação, com apoio da rede de terreno existente (ver adiante).

Acesso e Coordenação

Aos 30 de Junho, após mais de uma década de coordenação da assistência Unidade de Coordenação de Transição Presença no Terreno humanitária, o OCHA foi substituída pela Unidade de Coordenação para a

A Sub-Escritório Uíge D Transição, ou UCT, um projecto de 18 N I B %[ A meses, que visa responder às C

ZAIRE M banza Congo Escritório Regional necessidades de coordenação durante UIGE o período de transição da emergência Uig e humanitária para o desenvolvimento. A BENGOBENGO E T R Ca x it o O LUNDA NORTE Luanda N MALANJE A unidade manterá uma versão reduzida Z N LUANDA A UNdalatando M alanje da rede de terreno estabelecida pelo K Saur im o LUNDA SUL L OCHA. Três Conselheiros de Terreno U S A Z N A Sum be U Regionais cobrirão o Norte, Sul e K Sub-Escritório Centro do país, apoiados por escritórios BIE Luena Kuit o chefiados por Funcionários Nacionais MOX ICO BENGUELA Hu a m b o (ver mapa). Cabinda e Bengo Sub-Escritório Luena continuarão a ser cobertas pelo HUILA

Lubango M enongue escritório de Luanda. Uma equipa [ Na m ib e NAMIBE Sub-Escritório Kuito reduzida em Luanda deverá cumprir as CUNENE KUANDO KUBANGO principais funções de coordenação, gestão de informação e advocacia, bem O n d jiv a como de identificação das necessidades de capacitação do Escritório Regional Escritório Regional Huambo Governo aos níveis nacional e provincial. Em fins de 2005, deverá estar finalizada a passagem de pastas das responsabilidades-chave de informação e coordenação para as instituições governamentais apropriadas.

Na última semana de Junho, reuniram-se, em Luanda, os 18 Coordenadores Provinciais da UTCAH para o Workshop de Capacitação das Coordenações Provinciais. Embora fosse um seminário interno da UTCAH, focalizado no desenvolvimento organizacional da unidade, o Instituto Nacional de Desminagem (INAD) e o Ministério da Administração do Território também enviaram representantes seus. Um dos resultados-chave dos seis dias de reunião foi a melhoria do fluxo de informação entre a capital e o terreno. A UTCAH a nível central terá um papel mais pro-activo garantindo orientação, aconselhamento político e resposta relativamente aos relatórios e informação recebidos do terreno. Os Coordenadores de Terreno foram sensibilizados a estabelecer mecanismos de coordenação mais descentralizados. Estes solicitaram igualmente meios financeiros adicionais e pessoal para a UTCAH e a Comissão Nacional para a Reintegração Social dos Deslocados e Desmobilizados (CNRSDD), por forma a garantir um reassentamento bem sucedido das famílias retornadas, bem como do seu papel de monitoria das ONGs. Meios adicionais e maior poder político são factores-chave para assegurar a eficiência da coordenação e as actividades de informação da UTCAH.

Em termos de acesso, o fim da estação das chuvas, no segundo trimestre do ano, conduziu a uma melhoria da circulação de pessoas e bens em todo o país. Contudo, embora os incidentes com minas anti-tanque tenham declinado significativamente, os incidentes com minas anti-pessoal parecem estar a aumentar. A tendência indica que, apesar das condições das estradas parecerem ser, pelo menos, estáveis, a pressão sobre os retornados com mecanismos de sobrevivência já frágeis para restabelecer os seus meios de vida e sustento, vem forçando estas pessoas a arriscar-se em áreas demarcadas ou conhecidas como estando minadas. Algumas vítimas de incidentes recentes com minas haviam passado pela Educação sobre o Risco de Minas e tinham conhecimento de estar a aventurar-se numa área potencialmente minada. Poderá também estar a contribuir para esta tendência uma menor vigilância das populações relativamente ao perigo de minhas e UXOs, dois anos após o fim dos conflitos.

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Foram enviados para Luanda, para efeitos de consolidação num Incedências das Minas, Janeiro - Junho 2004 Plano Nacional de 10 Acção contra as 9 Minas, dezoito planos AT

s 8 provinciais de acção 7 AP contra minas, 6 desenvolvidos com 5 ONG de desminagem 4 e aprovados pela 3 Comissão Num. Incedência 2 governamental de 1 Desminagem 0 (CNIDAH). A Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho CNIDAH solicitou mais informação sobre as actividades de desminagem par parte dos parceiros e doadores. Aos doadores solicitou-se informar o CNIDAH de quaisquer financiamentos e as ONG foram informadas de que nenhum novo projecto de desminagem seria autorizado sem a aprovação do CNIDAHl. Os parceiros das ONG indicaram com clareza que era mais vantajoso trabalhar com uma única entidade. Em Maio, uma visita do Grupo de Apoio à Acção contra as Minas solicitou o compromisso e a liderança do CNIDAH. A missão de Doadores composta por Embaixadores junto da ONU, também solicitou uma mais estreita cooperação entre ONGs de Desminagem e CNIDAH, e mais contribuições financeiras do governo e encorajou o uso dos recursos existentes como as FAA, soldados desmobilizados e a polícia.

Protecção

O líder da UNITA, Isaias Samakuva, foi recebido pelo Primeiro Ministro, Fernando Da Piedade Dias dos Santos, na sequência de queixas oficiais de que os desmobilizados da UNITA estavam a ser sistematicamente discriminados pelas autoridades em muitas regiões do país. Uma queixa oficial da liderança da UNITA sobre alegados actos de intimidação, que incluem vandalização de escritórios do partido, a violência física e desaparecimento de alguns dos seus activistas, a implementação de políticas para deliberadamente isolar e impedir os funcionários da UNITA de trabalhar nas administrações municipais e encorajar o tribalismo em desvantagem de famílias de UNITA que tentam reassentar-se nas suas áreas de preferência. Num dos casos, um administrador recentemente apontado pela UNITA, declinou o posto devido a ameaças contra si entre a comunidade. As províncias do Uige, Kuando Kubango, , Bié e Huambo foram especificamente mencionadas na queixa oficial, mas as NU tiveram conhecimento de relatos de casos semelhantes nas províncias de Malanje e Cunene. O sentimento no terreno é que os problemas são, frequentemente, mais de natureza espontânea do que uma estratégia premeditada coordenada. Durante o encontro, o Primeiro Ministro reafirmou este ponto e assegurou ao líder da UNITA que tais incidentes eram localizados e não faziam parte de qualquer agenda do MPLA a nível nacional.

A suspensão por 45 dias das expulsões dos trabalhadores ilegais no quadro da ‘Operação Brilhante’ terminou oficialmente na primeira semana de Julho. Foi reportado que todos os cidadãos de países da África Ocidental tinham sido deportados e mantidos num centro de trânsito em Viana no final do período em análise. A despeito dos repetidos pedidos das Agências das NU, o acesso aos cidadãos da África Ocidental, concentrados no centro de trânsito de Viana, nunca foi garantido e vários encontros com o Coordenador Humanitário das NU e o Ministro do Interior para discutir a questão foram cancelados. Embora não tenha sido indicada qualquer data para o retomar oficial do processo, o chefe dos Serviços de Emigração anunciou que Cabinda será o ponto de acolhimento dos trabalhadores ilegais a serem repatriados. Apesar disso, os parceiros dos direitos humanos sentem- se confiantes de que operações futuras se desenrolarão respeitando as convenções internas e internacionais e os princípios dos direitos humanos.

Os esforços para reduzir a pobreza urbana não foram estimulados pelo desmantelamento sistemático dos mercados locais em Luanda e nalgumas capitais provinciais. Houve, em consequência, um

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aumento da criminalidade, não só em Luanda, mas também nas capitais provinciais e mesmo nalguns municípios. As autoridades tentaram lidar com o ritmo crescente de crimes violentos, frequentemente perpetrados contra mulheres e crianças nos bairros de Luanda e capitais provinciais. Apesar do aumento dos crimes, a situação geral de segurança melhorou, levando as Nações Unidas a baixar o estatuto de segurança de Angola para a Fase II.

A ONG canadiana Development Workshop apresentou os resultados preliminares de um estudo sobre o desenrolar da integração e da alocação de terras a ex-combatentes da UNITA no Huambo, num workshop de meio-dia. De acordo com a DW, apenas 30 por cento destas pessoas foi capaz de se aproximar da auto-suficiência. A muitas famílias não foram distribuídos os dois hectares requeridos e muita da terra distribuída é de má qualidade para a agricultura. A rede de autoridades tradicionais (os sobas),por seu lado, parece ter menos influência no processo do que previamente esperado. Embora os números sejam potencialmente alarmantes, os indicadores precisavam ser cuidadosamente comparados com outros grupos, como deslocados, residentes e refugiados, para dar uma idéia equilibrada da situação actual.

Segurança Alimentar

Preocupado com o risco de que um déficit alimentar possa afectar o processo de retorno e reassentamento, o MINARS convocou uma reunião especial a 1 de Julho com Ministérios, Nações Unidas e doadores para rever a situação de segurança alimentar até meados de 2005. Durante o trimestre, registaram-se relatórios dramáticos – mas muitas vezes contraditórios – sobre perdas de produção severas. Em fins de Junho, uma série de avaliações, conduzida nos últimos três meses, revelaram uma imagem clara da situação de segurança alimentar em Angola: uma missão conjunta FAO/PAM avaliou a colheita e a extensão dos prejuízos causados por chuvas excessivas e o Relatório de Análise de Vulnerabilidade correspondente ao período Novembro-Abril, tem exclusivamente enfoque na segurança alimentar.

A colheita da campanha agrícola 2003/2004 foi, em geral, boa. Cerca de 90 por cento das famílias cultivaram mais terra que no ano transacto. Contudo, devido às condições climáticas e aos insumos, os resultados diferem drasticamente de região para região. Enquanto a produção nas regiões Norte e Sul do país foram muito boas, registando mesmo excedentes, a colheita no Planalto Central foi decididamente mista, com algumas áreas registando perdas quase absolutas.

Indubitavelmente, chuvas irregulares, ventos fortes e queda de granizo, causaram danos significativos nas culturas no Huambo, partes do Bié, Huíla, Benguela e Kuanza Sul. De forma ainda mais significativa, factores como a falta de animais de tracção, material orgânico e fertilizantes químicos, falta de rotação cultural, solos esgotados e sementes pouco apropriadas para a região, determinaram que, mesmo em áreas onde as famílias cultivaram maior área, os rendimentos fossem menores. Em resultado disso, as reservas alimentares no Planalto Central podem estar esgotadas em Julho no caso dos agregados mais vulneráveis. As reservas alimentares em províncias como o Moxico e o Kuando Kubango poderão esgotar-se dentro de três meses após a colheita de cereais que iniciou em Maio/Junho. A situação é bastante melhor na região Sul, onde as reservas de cereais na Huíla podem durar entre 4 e 6 meses. Todas as restantes províncias registam bolsas de população vulnerável à insegurança alimentar, na sua maioria retornados, mas estes são, geralmente, considerados menos vulneráveis e menos sensíveis a choques que afectem os seus sistemas de sustento do que os de retornados no Planalto Central e na região Sudeste. Grupos Populacionais e Graus de Vulnerabilidade

GRAU DE VULNERABILIDADE IDP RET REA RES TOTAL

Insegurança Alimentar 0 239,620 0 94,200 333,820

Vulnerabilidade Elevada 0 462,729 21,900 232,830 717,459

Moderadamente Vulneráveis 0 256,087 20,200 241,351 517,638 A Análise de Vulnerabilidade indica que há aproximadamente 1.05 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar ou em grau elevado de vulnerabilidade a ela e necessitam de assistência alimentar imediata. Com cerca de 500,000 outras pessoas moderadamente vulneráveis, o Governo solicita assistência para cerca de 1.5 milhões de pessoas. Os retornados são ainda o grupo populacional mais vulnerável e constituem cerca de 60 por cento das pessoas que necessitam de

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assistência alimentar. Comparado ao último ano, quando 2.34 milhões de pessoas necessitavam de assistência alimentar, o número de pessoas necessitadas diminuiu em cerca de 33 por cento.

Dado o número de pessoas que ainda necessita de assistência alimentar, o Governo lançou um apelo aos doadores de financiamento das actividades de assistência alimentar do PAM, nos próximos 12 meses, até meados de 2005. Para aa última metade de 2004, o PAM ainda necessita de 35,000 tm de comida, principalmente cereais, avaliados em aproximadamente US$20 mihões. O PAM ainda está à espera que o Governo de Angola disponibilize os US$7.5 milhões prometidos para as operações do PAM para o período 2004-2005.

Mesmo com os recentes atrasos e dificuldades estruturais, o Governo acredita que o país será auto- suficiente em três anos. O Ministro da Agricultura declarou que Angola deveria ser capaz de produzir alimentos suficientes para se alimentar até 2007. No debate sobre a questão dos OGM, não houve indicações de um “período de graça” para a implementação das novas regras ditadas pela decisão de Angola de não aceitar doações de OGM.

Saúde Pública

Desde Abril que a OMS e o Programa Nacional de Medicamentos Essenciais do MINSA vêm alertando para a potencial ruptura das reservas de medicamentos em Julho. Foram confirmadas falhas no Moxico, Bié, Kuando Kubango, Huila, Benguela e Lunda Norte e os parceiros prevêem uma ruptura generalizada ao país, particularmente no Huambo, Malanje e Lunda Sul.

Mesmo nas regiões em que se registaram melhorias na disponibilidade de kits de medicamentos essenciais, como na província da Huíla, a capacidade e qualidade do pessoal técnico dos postos de saúde continua a ser baixo. A nível racional, o fornecimento adequado de medicamentos essenciais e o nível de competência profissional do pessoal de saúde continua a ser o principal obstáculo dos esforços do MINSA em apoiar as Direcções Provinciais de Saúde na organização e reconstrução da rede de saúde periférica. A formação profissional e o uso racional de medicamentos essenciais continuam a ser o maior desafio nas áreas rurais onde o baixo perfil do pessoal de saúde resulta, muitas vezes, em prescrições e diagnósticos que não são correctamente combinados.

Os parceiros da saúde estão igualmente preocupados com as reduções e atrasos de financiamento durante a fase de transição, que provocam rupturas no processo de capacitação e forçam a uma passagem de pastas prematura das ONG para os centros de saúde a nível municipal. Por exemplo, no Bié, apesar das preocupações com a falta de capacidade entre o pessoal do MINSA, a falta de meios essenciais e o pessoal que não recebe o salário regularmente, a MSF-Bélgica está a transferir um CNS com 250 crianças sob tratamento, por falta de fundos para manter o programa. Esta tendência ocorre não só na área de nutrição, mas também na de projectos de saúde.

Outras questões importantes são a falta de acesso, os elevados custos de transportação e a inadequação da informação de planificação canalizada do nível periférico para o nível central. O baixo custo e o programa de Abastecimento e Gestão (SUMA) podem ajudar na gestão dos stocks, mas esta aplicação necessita de ser amplamente espalhada para ser eficaz.

A adopção de um sistema de informação unificado sobre saúde, com ligações entre todos os parceiros do MINSA será um passo-chave para o sucesso da Política Nacional de Redução da Mortalidade Materno-Infantil, a ser finalizada pelo Ministério da Saúde. A iniciativa visa reduzir em 50 por cento a mortalidade infantil e, em 30 por cento, a materna, até 2008. O Governo reconheceu a necessidade de um mecanismo de coordenação forte entre os corpos ministeriais e os respectivos serviços de saúde no terreno para que esta iniciativa tenha sucesso. O Comité de Coordenação inter- Agências (CCI), estrutura criada em resposta, para juntar doadores e parceiros implementadores, jogará um papel-chave. O CCI foi originalmente criado para gerir a campanha de vacinação de erradicação da pólio e do sarampo e alargou, depois, o seu papel para cobrir a imunização de rotina. Dado o sucesso destes esforços, o CCI constituído pelo MINSA, OMS, UNICEF e ONG parceiras na área da saúde, redefiniu o seu mandato para integrar todas as matérias de saúde pública, em particular os problemas relacionados com a saúde materno-infantil.

Apesar de existir uma situação nutricional geral estabilizada, as taxas de malnutrição em crianças permanecem elevadas. Cerca de 11,000 crianças com malnutrição moderada frequentam actualmente centros nutricionais suplementares e as admissões mensais de crianças com

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malnutrição severa anda à volta das 1,000 crianças ainda. O Programa Nacional de Nutrição (PNN), que trabalha conjuntamente com a Unidade PAV, está a implementer um programa de Gestão Integrada de Doenças Infantis (IMCI), com duas intervenções-chave, focalizadas na gestão, a longo prazo, da malnutrição infantil: suplementação com vitamina A e monitoria do crescimento infantil.

O suplemento de viatmina A para as mães a amamentar e a crianças entre os 6 meses e os 5 anos de idade não só reforça o sistema imunitário das crianças, como ajuda a combater as doenças mais comuns que contribuem para a malnutrição: diarréia, malária e infecções respiratórias agudas. Deven do usar uma estratégia casa-a-casa, cerca de 5 milhões de crianças serão abrangidas pela imunização e o suplemento de vitamina A na próxima volta de Imunização Nacional a 23-25 de Julho e a 20-22 de Agosto. A planificação começou em meados de Junho nas 18 províncias, com apoio técnico e financeiro das Nações Unidas.

Simultaneamente à vacinação de rotina e à suplementação em vitamina A, será revitalizada a monitoria regular do crescimento da criança nos serviços de saúde em, pelo menos, 25 municípios. O UNICEF, o PNN e o IMCI colaboram na preparação de um treinamento e materiais de informação para o pessoal de saúde, por forma a garantir uma abordagem uniformizada do treinamento do pessoal e facilitar o processo de implementação.

Registou-se um surto de infecções diarreicas agudas na cidade de Malanje, resultado do consumo de água contaminada. Mais de 300 casos foram registados em Maio e Junho, 80 por cento dos quais em crianças com menos de 5 anos. A Oxfam respondeu com um abastecimento para três meses de cloro para as fontes públicas de água, mas o Governo necessita de assumir o processo de desinfecção.

Retorno, Reassentamento e Reintegração

A segunda fase do processo de repatriamento voluntário organizado começou em todas as fronteiras durante o trimestre. Entre 20 de Maio e fins de Junho aproximadamente 2,730 pessoas regressaram mediante um processo de repatriamento organizado. Cerca de 5,640 outras, que o fizeram de forma espontânea, foram assistidas em centros de recepção do HCR. Este estima que o dobro deste número regressou espontaneamente sem assistência. Em Malanje, os refugiados estão a regressar a Kinguengue e Kihuhu, áreas onde não existem serviços sociais básicos. Na Lunda Norte, cerca de 14,500 pessoas regressaram espontaneamente a 6 municípios sem assistência. Na Lunda Sul, 4,000 pessoas retornaram sobretudo a localidades onde não existem serviços sociais e não há acesso a assistência. Uma vez que quase todos os que chegaram da RDC não possuem documentos de identificação civil, porque não têm dinheiro para pagar o registo, o MINARS e o Departamento de Justiça concordaram que os que apresentarem a declaração do MINARS e um documento das autoridades da fronteira seriam registados gratuitamente.

O repatriamento da Namíbia para o Kuando Kubango deverá começar a 15 de Julho, com um primeiro comboio de 240 pessoas de um número projectado de 6,000 para áreas em e . O repatriamento da Namíbia para o Cunene foi completado em Junho. Apenas 626 pessoas das 1,500 esperadas pelo UNHCR optaram por fazê-lo. Relatórios do escritório da OCHA no terreno indicam que muitos decidiram ficar na Namíbia, devido à incerteza quanto às condições que iriam encontrar em Angola.

O repatriamento para a província do Zaire a partir de Kimbesse começa em princípios de Julho. O centro de recepção para 800 pessoas em e o repatriamento da RDC para o Uíge deverão iniciar brevemente, logo após o fim da reabilitação da estrada entre Mbanzo Soso e Maquela do Zombo. Foi instalado um escritório regional do UNHCR em Malanje para apoiar o repatriamento planificado para aquela província.

O UNHCR juntou-se ao UNAIDS como décimo co-patrocinador. A prevenção do HIV é uma questão central na protecção geral aos refugiados. Os refugiados estão em risco de infecção, na medida em que a guerra e o conflito os expuseram à pobreza, desintegração familiar, ruptura social e maior violência sexual – realidades adversas para muitos.

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Educação

Dois eventos importantes ocorridos durante o trimestre confirmaram o desejo do Governo de Angola em cumprir com o compromisso de de universalização da educação primária: o Conselho Nacional sobre Educação para Todos, que contou com 350 delegados de 18 províncias de Angola e a participação da Sede da UNESCO e o Forum Nacional sobre Cuidados e Desenvolvimento da Primeira Infância em Angola, ambos apoiados, financeira e tecnicamente, pelas NU.

Para dar início ao processo de resposta aos compromissos assumidos durante o Forum da Primeira Infância, os participantes sugeriram a institucionalização de uma Comissão inter-ministerial para coordenar as actividades dos 14 ministérios e do Instituto Nacional da Criança. A esperança é que este corpo de coordenação atinja resultados positivos e rápidos em todos os aspectos que se relacionem com a preparação para a escola.

Apesar dos reconhecidos esforços para melhorar a qualidade da educação primária mediante treinamento de treinadores e professores locais (15,000 durante a pausa pedagógica, em Maio, em 15 províncias, com ênfase no HIV/SIDA, Acção contra Minas ou o ensino do português como segunda língua), há ainda lugar a melhorias na coordenação das actividades relacionadas com a integração de retornados, particularmente as crianças em idade escolar que não falam português. O desenvolvimento e disseminação de orientações pedagógicas claras para o treinamento e os materiais de treinamento, bem como para questões de natureza administrativa, pode ajudar na integração das crianças retornadas.

O Programa de Educação para a Vida e a Paz financiado pela União Europeia e implementado em 15 províncias em 2003/2004 terminou em Maio. Foi possível envolver cerca de 86,000 crianças e adolescentes, em 8,592 grupos de aprendizagem de 10 crianças cada, com a colaboração de 47 parceiros, incluindo ONG nacionais e internacionais, Igrejas e associações comunitárias. Enquanto se trabalha na definição de padrões mínimos para a educação de adolescentes fora da escola, estão em preparação outras medidas para incluir adolescentes nas zonas mais vulneráveis.

Mais de 57,000 crianças não frequentam a escola na província de Malanje, devido a atrasos contratuais com os professores recém-treinados. Embora tenham sido contratados, em Benguela, 5,000 professores, estima-se que sejam necessários, pelo menos, mais 3,000 para responder a apenas 75 por cento das necessidades do sector da educação. No , em Benguela, os professores recusam-se a assumir os postos nos municípios por falta de habitação, atrasos no pagamento dos salários e falta de outros serviços.

Devido à situação das reservas alimentares, o PAM foi incapaz de assistir cerca de 1,000 pessoas de um curso de alfabetização de adultos no Kwanza Sul. O programa de alfabetização começou em fins de 2003, com assistência garantida pelo PAM aos professores. A assistência foi estendida aos participantes como meio de melhorar a sua motivação e participação no programa.

Foco no HIV/SIDA

Um passo importante no reforço da resposta nacional ao HIV, foi a aprovação, pela Assembleia Nacional, da Lei sobre HIV/SIDA, que estabelece os direitos das pessoas portadoras de HIV/SIDA e as responsabilidades do Governo na adopção de medidas de prevenção, controlo, tratamento e pesquisa. Um aspecto da lei é considerado controverso: a lei estabelece direitos e deveres para as pessoas seropositivas. Neste sentido, os seopositivos podem ser considerados como cidadãos com direitos e deveres particulares.

Em Abril, o MINSA e os parceiros envolvidos na luta contra o HIV encontraram-se em Luanda para discutir dados de prevalência e comportamento sobre HIV e Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) em Angola. Em fins de 2003, haviam sido oficialmente referidos12,576 casos de SIDA, mas estes números estão, sem dúvida, drasticamente sub-estimados. A província do Cunene regista a maior taxa de infecção de HIV, de cerca de 13 por cento, entre mulheres grávidas, enquanto que no Moxico o mesmo grupo é referido como registando menos de 2 por cento. Um inquérito conduzido pelo MINSA/OMS nas províncias de Luanda e Malanje mostrou uma média de uso de preservativos de apenas 3.5 e 8.4 por cento respectivamente. O mesmo inquérito, mostrou que entre 72.5% a

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97,9% da população parece já ter ouvido falar do HIV/SIDA. Apesar das enormes dificuldades em estabelecer um sistema de vigilância para monitorar a epidemia ao longo do tempo, os dados disponíveis confirmam que a epidemia cresce rapidamente em muitas províncias.

A descentralização do Plano Estratégico Nacional de HIV/SIDA (PNE) começou em Junho, mediante uma série de workshops levados a cabo pelo Programa Nacional de Luta contra o SIDA (PNLS), com apoio das Agências das NU. Uma equipa multisectorial composta por pessoal dos ministérios, do Programa Nacional de SIDA, do PNUD, FNUAP, UNAIDS e por ONG ligadas ao trabalho de HIV/SIDA, foram enviados para as capitais provinciais para apoiar a organização e facilitação dos referidos workshops. Este processo é um aspecto crucial do processo de planificação estratégica, mediante o qual se processa a translacção da Estratégia Nacional em Planos Provinciais de Acção, desenhados no contexto específico da província e dando particular atenção à implementação e às capacidades de mobilização de recursos a nível local. O documento final será um instrumento fundamental para as autoridades nacionais e provinciais na distribuição de recursos e implementação de estratégias.

O projecto do PNUD de “Reforço do sistema educativo angolano para a luta contra o HIV/SIDA” realizou um seminário de cinco dias, em Junho, para treinar 21 ONG angolanas em intervenções dirigidas ao HIV/SIDA. O objectivo do treinamento foi reforçar as ONG, técnica e institucionalmente, para que possam realizar actividades de prevenção sobre DST/HIV/SIDA junto de populações vulneráveis e garantir apoio ao PLWA. Este projecto é um elemento central das estratégias de prevenção primária consagradas no Plano Estratégico Nacional. O desenvolvimento de curricula para introduzir tópicos sobre educação sexual e HIV/SIDA nos programas escolares é um elemento fundamental do projecto.

Uma missão da OMS visitou Angola, de 21 a 25 de Junho, para assistir o Ministério angolano da Saúde e os parceiros a progredirem no objectivo da OMS ‘Três por Cinco’ de atingir 3 milhões de pessoas elegíveis nos países em desenvolvimento que necessitem de terapia anti-rectroviral em fins de 2005. A equipa encontrou-se com vários oficiais de alto nível do Governo angolano, agências bilaterais e das NU. Durante esses encontros, as discussões focalizaram-se no desenvolvimento de estratégias e mobilização dos recursos necessários para melhorar os serviços e maximizar o número de angolanos que possam contribuir para o objectivo de 3x5. O grupo alvo proposto para Angola de 15,000 pacientes com tratamento de ARV em 2005 foi considerado muito ambicioso e reduzido para 5,000. Actualmente, o Governo garante tratamento ARV a 2,000 pacientes, 1,500 dos quais através de serviços em Luanda. Um grande desafio será descentralizar a estratégia para as províncias. Actualização do Apelo para a Transição

A 30 de Junho, o Apelo Consolidado para a Transição foi financiado a 40 porcento, com cerca de US$73 milhões em contribuições e promessas e US$109 milhões de necessidades requeridas. Os números abaixo reflectem oficialmente as contribuições registadas e as promessas reportadas através da Sede do OCHA em Genebra. NIVEIS DE FINANCIAMENTO PARA O APELO 2004 - 30 JUNHO 2004 Total de Organização Solicitações Solicitações Solicitações não Recursoss % Coberta Apeladora Originais Revistas atingidas Disponíveis FAO 14,940,500 5,724,865 1,962,653 3,762,212 34.3%

IOM 18,782,369 10,956,382 3,749,317 7,207,065 34.2% OCHA 3,754,506 3,549,506 2,757,081 792,425 77.7% OHCHR 1,200,000 1,361,755 296,736 1,065,019 21.8% UNDP 6,315,839 1,444,475 1,171,756 272,719 81.1% UNFPA 1,499,500 999,666 0 999,666 0.0% UNHCR 18,881,586 17,318,335 10,058,257 7,260,078 58.1%

UNICEF 10,917,350 10,917,350 9,902,520 1,014,830 90.7% UNMAS 122,000 0 0 0 0.0% WFP 146,371,795 107,038,778 41,030,076 66,008,702 38.3% WHO 7,757,745 2,351,275 373,134 1,978,141 15.9% ONGs 32,044,512 20,018,420 789,995 19,228,425 4.1%

GRAND TOTAL 262,587,702 181,680,807 72,849,869 108,830,938 40.1%

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