Heládio Neiva de Castro Editor-Chefe (Revista Piauiense de Saúde)

Comissão Científica – ESAF – 2012

Alexandre Sérgio Silva

Amilton da Cruz Santos

Bruno Pena Couto

Marcelle de Oliveira Martins

Marcos Antônio Pereira dos Santos

Maria do Socorro Brasileiro

Severino Leão de Albuquerque Neto

Ytalo Mota Soares

EDITORIAL

O exercício físico e o esporte vêm sendo cada vez mais investigados, com olhares científicos ávidos e críticos na busca por novas descobertas, procurando desenvolver novos patamares de conhecimento.

Sabedores da contribuição e da influência do exercício físico e do esporte sobre os aspectos relacionados à saúde, os editores da Revista Piauiense de Saúde resolveram unir-se com um evento que têm como um dos seus objetivos disseminar o conhecimento científico.

Assim, o Encontro Nacional SESC de Atividades Físicas - ESAF e a Revista Piauiense de Saúde uniram-se em torno de objetivos comuns e apresentam à comunidade científica um Suplemento com os trabalhos completos aprovados pela comissão científica do evento.

Esta publicação apresenta-se dividida por áreas, e no sumário segue o título dos trabalhos seguidos dos nomes dos primeiros autores. As áreas definidas para publicação de trabalhos científicos no ESAF também norteiam este periódico, a saber: Atividade Física e Saúde; Fundamentos Históricos, Filosóficos e Metodológicos da Educação Física; Nutrição e Atividade Física; Psicologia do Esporte e do Exercício; Recreação, Lazer e Atividade Física e Treinamento Esportivo.

Espera-se com esta iniciativa motivar alunos e professores de Instituições de Ensino Superior no Brasil a publicarem as suas produções científicas. Procura-se ainda, motivar os profissionais que estão no campo de atuação a sistematizarem as suas práticas cotidianas, procurando evidenciar suas ações de forma científica, tornando-as possíveis de publicação. Este Suplemento tem o potencial de trazer para os demais acadêmicos e profissionais que não participaram do ESAF, a oportunidade de se conectarem com as pesquisas disseminadas.

A comissão científica do evento e os editores da Revista agradecem a todos os autores que tornaram possível esta publicação.

SUMÁRIO

ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE ...... 3 Análise da complexidade e intensidade percebida em exercícios de programa de treinamento funcional para idosos. Kamyla Rafaella Alves da Silva ...... 4

Efeitos do exercício físico associado à música no estado de ansiedade em sujeitos hipertensos. Jennifer Ariely Sales Suassuna ...... 12

Influência da suplementação de carboidrato no desempenho de força muscular e nos níveis de glicemia em uma sessão de treinamento concorrente. Cecília Quirino Dias ...... 19

Efeito da atividade física na massa óssea. Allan dos Santos Mateus ...... 27

Efeito da hipotensão pós-exercício em uma sessão de curta duração com exercícios resistidos em mulheres hipertensas. Klécia de Farias Sena ...... 36

Resposta glicêmica aguda em diabéticos obesos submetidos ao exercício aeróbio, resistido e combinado. Savanna Moreira de Farias ...... 44

Efeitos de uma sessão de vídeo game ativo sobre a demanda cardiovascular. Mariucha Walesca da Silva Lima ...... 50

A influência da velocidade de execução dos exercícios na intensidade do treinamento resistido. Gilmara Gomes Oliveira ...... 57

Diagnóstico do percentual de hipertensos que respondem ao exercício com HPE. Tuanny Lira Garcia...... 65

Indicadores antropométricos e teste de aptidão física em adolescentes de uma escola de João Pessoa-PB. Vanessa Lee Ferreira Cavalcante ...... 73

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, FILOSÓFICOS E METODOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ...... 79 A capacidade comunicativa corporal no futebol: uma análise semiótica dos dribles de Garrincha e Neymar. Rodrigo Wanderey de Sousa Cruz ...... 80

Educação física: arte, cultura e resistência ancestral. Rosivalda dos Santos Barreto ...... 90

NUTRIÇÃO E ATIVIDADE FÍSICA ...... 99 Interferência da suplementação de carboidratos nas alterações da glicemia durante um treinamento de endurance. Daniel Sandro Medeiros ...... 100

Prevalência de suplementação por praticantes de academia e associação com possíveis efeitos adversos. Maria Irene Gomes de Andrade ...... 108

Pró-hormônio: associação entre uso e efeitos colaterais em jovens praticantes de exercício resistido. Yale Costa de Melo Vieira ...... 116

PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO ...... 123 Relação entre motivação autodeterminada e ansiedade pré-competitiva e jogadores de handebol de areia. Stephanney Karolinne Mercer Souza Freitas de Moura...... 124

Motivação para a prática do voleibol as escolas estaduais de Montes Claros-MG. Reinaldo Sousa Santos ...... 132

RECREAÇÃO, LAZER E ATIVIDADE FÍSICA ...... 140 Atividade de aventura na natureza: entre emoção, risco e superação. Rogério Fonseca dos Santos ...... 141

Atividades físico-esportivas de lazer e as capacidades físicas e de autonomia do idoso: a percepção de professores. Helen da Silva Marinho ...... 148

TREINAMENTO ESPORTIVO ...... 153 Análise dos aspectos antropométricos, força explosiva e somatótipo de crianças e adolescentes em função dos estágios maturacionais. Marcos Antônio de Araújo Filho ...... 154

Comparação do índice de precisão do chute de finalização em futebolistas amadores. José Guilherme Caricchio Rosa ...... 162

Lesões acometidas no judô (masculino e feminino) e no handebol (feminino) nos jogos escolares 12 a 14 anos 2011. Rossini Xavier de Oliveira Junior ...... 171

3

ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE

4

Análise da Complexidade e Intensidade Percebida em Exercícios de Programa de Treinamento Funcional para Idosos

Kamylla Rafaella Alves da Silva, Delma Katiana da Silva Freitas, Eloisa Alves dos Santos, Marcelle de Oliveira Martins Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil [email protected]

RESUMO

O envelhecimento implica em diversas mudanças morfofisiológicas, que podem levar à diminuição da capacidade funcional e, consequentemente, ao decréscimo da qualidade de vida do idoso. Neste contexto ganha destaque o Treinamento Funcional, como proposta de programa de atividades físicas adequado e efetivo para esta faixa etária. O objetivo deste estudo descritivo foi avaliar a adequação de exercícios funcionais para idosos, em relação à complexidade e intensidade percebida. Analisou-se percepção subjetiva de esforço (PSE) e a realização de movimentos de 19 idosos de João Pessoa/PB, que executaram um protocolo de 66 exercícios distribuídos em 24 sessões, subdivididas em três fases de progressão, com diferentes tipos de treino (A = movimentos de membros superiores e inferiores; B = deslocamentos; C = treinamento do Core), cada qual com duração de até 60 minutos. Utilizou-se a Escala de Esforço Percebido de Borg com graduação de 6 a 20, aplicada ao término das execuções de cada exercício, e uma ficha de observação para cada participante. Os exercícios de Treinamento Funcional propostos não foram percebidos como muito complexos ou intensos, tendo sido classificados no máximo como “ligeiramente cansativo” (PSE = 14), e os diferentes tipos de sessões causaram, em média, intensidades percebidas similares (PSE média de 8,66 a 9,62). Foram mais difíceis e intensos, segundo os praticantes, os movimentos que integraram movimentos de braços e pernas, que exigiram amplo deslocamento do corpo no espaço, e que utilizaram padrão de movimentos diferentes do habitual. Também foram difíceis de executar, embora não necessariamente intensos, os movimentos com bases instáveis, mudança de direção e retirada da informação visual. Sugere-se que os exercícios do protocolo proposto possam ser aplicados com segurança em idosos, no que se refere ao esforço físico geral, embora pesquisas com medidas objetivas de intensidade devam ser realizadas.

Palavras-chave: treinamento funcional, idosos, exercícios.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento implica em modificações morfológicas, bioquímicas, psicológicas e funcionais (OPAS, 2005; TRIBESS; VIRTUOSO JÚNIOR, 2005). Face às diferentes e inúmeras mudanças fisiológicas, começam a surgir eventos relacionados com a diminuição da capacidade funcional, que afetam diretamente a execução das atividades e movimentos diários, e implicam em decréscimo gradual na qualidade de vida decorrente das alterações físicas, cognitivas, psicológicas e sociais (DUARTE; MARCO, 2007; MAZO et al., 2007; TRELHA et al., 2005). Neste contexto, ressalta-se a importância da prática regular de atividades físicas para o idoso, visto que esta contribui para a manutenção da sua condição física (CAMPOS; CORAUCCI NETO, 2004; MAZINI FILHO et al., 2010, PEREIRA, 2009) e ainda pode prevenir a diminuição da 5 capacidade funcional, diabetes e osteoporose (OPAS, 2005). Assim, considerando em especial a prática regular, sistematizada e orientada, ganha destaque o Treinamento Funcional, no âmbito dos métodos de treinamento ou propostas de condicionamento físico. O conceito de funcional é, por definição, algo concebido e executado para alcançar maior eficácia nas funções que lhe são próprias; é a capacidade de realizar tarefas motoras características do cotidiano de cada indivíduo com eficiência e independência, sejam elas relacionadas ao trabalho, lazer, dia-a-dia ou esporte (PEREIRA, 2009). Para tanto, os movimentos do Treinamento Funcional devem ser globais, integrados, multiplanares e com alto poder de transferência para a vida do praticante, e envolvem redução, estabilização e produção de força, estimulando-se principalmente as quatro qualidades físicas essenciais força, flexibilidade, equilíbrio e resistência (CLARK; RUSSEL, 2007; MONTEIRO; EVANGELISTA, 2010; CAMPOS; CORAUCCI NETO, 2004). Segundo Pereira (2009), um programa de atividades físicas voltado para idosos deve implicar em globalidade, exercícios que se assemelham às atividades diárias, movimentos generalizados e mecanismos de progressão. Essencialmente, portanto, um programa de atividades físicas para idosos será tanto mais efetivo quanto mais funcional, porém poucos estudos descrevem os protocolos de treinamento detalhadamente ou avaliam os exercícios utilizados. Este trabalho tem como objetivo analisar a complexidade e intensidade percebida em exercícios de um programa de Treinamento Funcional proposto para idosos.

MÉTODOS

Este é um estudo descritivo, quanti-qualitativo, oriundo de outra pesquisa maior, quase experimental, cujo protocolo de Treinamento Funcional foi proposto com vistas à melhora do equilíbrio dinâmico em idosos de João Pessoa/PB. A pesquisa foi autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba sob o protocolo 0085/11, com participação voluntária dos sujeitos. A coleta de dados ocorreu de 21 de julho a 04 de novembro de 2011, e os testes foram aplicados pela pesquisadora e ajudante devidamente treinando. A amostra inicial foi de 35 idosos, distribuídos por sorteio em Grupo Controle (n = 17) e Grupo Experimental (n = 18), homogêneos quanto ao gênero (maioria mulheres, com 13 casos no GC e 15 casos no GE), idade (média de 67,09 ± 4,95 anos) nível de atividade física habitual (maioria “ativos”, segundo o IPAQ adaptado para Idosos) e autonomia para a vida diária (todos “independentes”, conforme o Índice de Katz). Durante o estudo a perda amostral foi de 11 indivíduos, sobretudo por motivos de doença própria ou do cônjuge e viagens, concluindo-se a pesquisa com 15 sujeitos em GC e 09 sujeitos em GE. Com os sujeitos a que se refere o presente estudo (GE) foram realizadas 24 sessões de Treinamento Funcional, distribuídas nas fases de adaptação (duas semanas), progressão de dificuldade (duas semanas) e progressão de intensidade (quatro semanas). Cada semana foi constituída de três tipos de treino alternados - tipos A, B e C-, com intervalo de 48h e participação 6 de até cinco indivíduos por sessão. Cada sessão durou até 60 minutos, com 40 minutos de treino funcional após aquecimento, incluindo-se alongamentos estáticos e dinâmicos. Cada exercício foi realizado duas vezes (intervalo de 1 minuto) e tempo de execução de 1 a 2 minutos, respeitando as possibilidades individuais. No Quadro 1 apresenta-se descrição dos tipos de treino propostos, em suas diferentes sessões.

Quadro 1. Características das sessões de Treinamento Funcional

VARIÁVEL TREINO A TREINO B TREINO C Exercícios para membros Exercícios de Exercícios específicos Foco superiores e/ou inferiores. deslocamento. para a região do Core. Utilização de informações Utilização de recursos Dominar posturas nas visuais para Abordagem materiais que promovam posições em pé e deslocamentos lineares desestabilização. sentado. e/ou multidirecionais. Controle corporal durante Controlar movimentos mudanças de direção ou Estímulo e controle do Objetivos multiplanares e/ou velocidade de Core, de forma estática e específicos multisegmentares. deslocamento; transporte dinâmica. de diferentes cargas. Balance cushion, halteres, borracha, fitball de 65cm, Cones, cordasa, chapéu Cadeira, fitball de 65cm, Materiais rubber band, colchonetes, chinês, halteres ou soft ball, halteres ou step, caneleira, jump anilhas. anilhas, bastões. (mini-trampulim). a : cordas usadas para reproduzir a “escada de treinamento” (horizontal), colocadas no chão.

Como instrumentos, utilizaram-se a Escala de Esforço Percebido de Borg com graduação de 6 a 20 (UTTER; KANG; ROBERTSON, s/d) ao término das execuções de cada exercício, e uma ficha de observação para cada participante, com registros de frequência e dos acontecimentos gerais e importantes (execução motora e relatos pessoais). Os valores numéricos referidos da Escala de Esforço Percebido de Borg foram tratados com estatística descritiva, bem como foi feita a análise qualitativa considerando os registros das fichas individuais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dentre os 66 movimentos propostos 31 tiveram PSE de, no mínimo, valor 11 (“leve”), porém nenhum ficou acima de 14 (imediatamente abaixo de “pesado/difícil”), evidenciando que o treinamento proposto não foi exaustivo e atingiu valores moderados de intensidade percebida. Para Tribess e Virtuoso Júnior (2005) as intensidades para treinos de idosos devem ser de 12 a 13 na Escala de Esforço Percebido de Borg, embora Lutosa et al. (2010) tenham mostrado que exercícios de baixa intensidade são capazes de melhorar a capacidade física do idoso. Segundo o

Centers for Disease Control and Prevention (2012) idosos de 65 anos ou mais com bom condicionamento físico geral e sem limitações clínicas, devem praticar semanalmente 150 minutos de atividades aeróbicas moderadas ou 75 minutos em intensidade vigorosa, além de fortalecimento muscular em dois ou mais dias, trabalhando os principais grupos musculares. 7

Poucos estudos utilizaram o tipo de exercício como variável principal associada à percepção do esforço, porém os estudos apresentados indicam que nenhuma ou pequenas variações são encontradas entre diferentes tarefas de força quando se aplica similar intensidade (TIGGEMANN et. al, 2010). O mesmo ocorreu neste estudo, pois percebeu-se que na fase de adaptação houve maior variação das PSE relatadas, e na fase final, mais intensa, a PSE foi mais similar. A tabela 1 mostra os dados segundo a Escala de Esforço Percebido de Borg para cada tipo de sessão propostos, já considerando as três fases de aplicação do Treinamento Funcional:

Tabela 1. Percepção Subjetiva de Esforço para cada tipo de sessão de Treinamento Funcional Treino Sessão A Sessão B Sessão C Estatística (07 exercícios) (09 exercícios) (06 exercícios) Moda 08 08 08 Média 9,62 8,97 8,66 Mínimo – Máximo 06 – 14 06 - 14 06 - 12

Considerando cada etapa do estudo, verificou-se que a terceira fase do Treinamento Funcional proposto foi a de maior PSE, confirmando as estratégias escolhidas para aumentar o esforço (maior amplitude ou velocidade de movimentos, maior distância de deslocamento, acréscimo de cargas). As progressões foram pontos importantes no treinamento proposto, pois fizeram a intensidade mudar constantemente, e o exercício que foi inicialmente mais intenso não foi o mais intenso sempre, no decorrer do estudo. O American College of Sports Medicine (2011) salienta a necessidade de efetuar progressões de dificuldade em programas de atividades físicas para idosos, consideradas não só pedagógicas como seguras, e importantes para alcançar sucesso. Com relação ao treino “A”, os movimentos de maior PSE foram os seguintes: na fase de adaptação, “elevação dos braços em “L” com elevação da coxa, do lado oposto ao braço que se eleva lateralmente” (Quadro 2, exercício “a”); na segunda fase, destacou-se o movimento de “extensão do tornozelo (flexão plantar) em pé, com elevação frontal dos braços” (Quadro 2, exercício “b”); na terceira fase, o exercício de maior intensidade percebida foi o “afundo mais remada com elástico, em maior amplitude” (Quadro 2, exercício “c”). Verificou-se, portanto, que no treino “A” foram percebidos como mais intensos, em todas as fases, os movimentos integrados ou “híbridos”, que conjugaram ações de membros superiores e inferiores, independente de usar sobrecarga externa. Ainda, o exercício mais intenso nesse treino exigiu deslocamento do centro de gravidade e uso de material instável (elástico), implicando maior desafio ao controle postural.

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Quadro 2. Percepção de intensidade dos exercícios funcionais conforme a fase do estudo, e tipo de sessão. Fase do Classificação da Intensidade Percebida e Exercício Estudo/Tipo de Foto do movimento maior Frequência de Casosb para PSE Treinoa

“muito fácil” a “fácil” a Fase 1/A 10 casos (62%) de PSE de 7 a 9, em PSE de 7 a 11

“muito fácil” a “relativamente fácil” b Fase 2/A 6 casos (55%) de PSE acima de 10

em PSE de 8 a 12 “fácil” a “ligeiramente cansativo” c Fase 3/A 08 casos (89%) de PSE acima de 10,

em PSE de 9 a 14 “muito fácil” a “fácil” d Fase 1/B 12 casos (75%) de PSE de 8 a 10,

em PSE de 6 a 9 “muito fácil” a “fácil” e Fase 2/B 10 casos (90%) de PSE de 8 a 10,

em PSE de 8 a 12 “muito fácil” a “fácil” f Fase 2/B 10 casos (90%) de PSE de 8 a 10, em PSE de 8 a 11 “relativamente fácil” a “ligeiramente g Fase 3/B cansativo”

9 casos (100%) de PSE de 12 a 14

“muito fácil” a “fácil” h Fase 1/C 16 casos (100%) de PSE de 6 a 9

“muito fácil” a “relativamente fácil” i Fase 2/C 11 casos (100%) de PSE de 8 a 12,

com 5 casos de PSE acima de 10

“fácil” a “relativamente fácil” J Fase 3/C 9 casos (100%) de PSE de 10 a 12 a: A = exercícios para membros superiores e/ou inferiores; B = deslocamentos; C = treinamento do Core. b : considerar perda amostral ao longo do estudo. Convém lembrar que estas estratégias são típicas do Treinamento Funcional, conforme Monteiro e Evangelista (2010). Contudo, as classificações gerais da percepção do esforço para as 9 sessões do tipo “A” indicaram que estas foram desafiadoras, porém não foram intensas (máximo de “ligeiramente cansativo”). Para Tiggemann et. al (2010), diferenças nos volumes musculares, tipos de alavancas, predominância de fibras musculares, velocidade angular de execução, amplitude do movimento, nível de treinamento do grupo muscular, coordenação inter e intramuscular, são variáveis que podem influenciar na intensidade do exercício e, consequentemente, na avaliação do esforço percebido. No treino do tipo “B”, na fase de adaptação, o movimento de maior intensidade percebida foi “deslocamento à frente, com passos largos (avanço) alternados, percorrendo a distância de 3m” (Quadro 2, exercício “d”); na segunda fase, dois movimentos foram relatados como de maior intensidade percebida: “avanços com maior amplitude da passada percorrendo a distancia de 3m” (Quadro 2, exercício “e”), e “deslocamento com agachamentos laterais consecutivos, segurando uma bola, percorrendo a distancia de 3m” (Quadro 2, exercício “f”). Na terceira fase, o movimento de maior intensidade percebida foi o “deslocamento com agachamentos laterais, segurando cargas/halteres diferentes à frente, percorrendo distância de 3m” (Quadro 2, exercício “g”). Vale enfatizar que este foi o movimento de maior PSE em todo o treinamento aplicado. Verifica-se pois que o movimento “deslocamento com agachamentos laterais consecutivos” e suas progressões foram referidos com maior PSE em diferentes fases. Sugere-se que isto ocorreu porque os mesmos são os mais diferentes em termos de padrões motores, se comparados à vida diária, pois na vida cotidiana ocorrem mais frequentemente deslocamentos no plano frontal, e não no sagital. Embora idosos devam treinar estabilização e equilíbrio em movimentos de projeção corporal para esquerda e direita, para prevenir-se de quedas e desequilíbrios imprevistos, normalmente executam movimentos para frente e para trás. Assim o fator “novidade”, relacionado ao possível destreinamento neste padrão motor, pode ter feito com que os idosos percebessem-nos como mais intensos. Ressalta-se que a percepção de esforço indica sensações de tensão, desconforto ou fadiga experimentada, e portanto é uma avaliação subjetiva, que agrega informações do ambiente interno e externo do corpo e reflete a interação mente-corpo, com influências psicológicas e emocionais (UTTER et. al, s/d; TIGGEMANN et. al.,

2010). Na sessão do tipo “C”, verificou-se que o movimento de maior intensidade percebida na fase de adaptação foi a “posição foguete” (Quadro 2, exercício “h”); na segunda fase, foi a “prancha lateral com apoio na parede, com abdução do quadril e flexão do joelho à frente” (Quadro 2, exercício “i”). Na terceira fase, o movimento de maior intensidade percebida foi “prancha frontal, inclinada, com fitball na parede e em apoio unipodal, com movimento da perna elevada” (Quadro 2, exercício “j”). Sabe-se que o treinamento do Core é um fator elementar do Treinamento Funcional e muito importante para idosos devido ao controle postural (MONTEIRO; EVANGELISTA, 2010) e equilíbrio dinâmico. Neste estudo estas sessões foram as de menor PSE média, porém as de maior qualidade na execução dos movimentos. Sugere-se, portanto, que os exercícios propostos com foco na estabilização do Core nas posturas “em pé” e “sentado” foram 10 bastante adequados à população idosa, pois são reconhecidamente importantes para sua capacidade funcional e foram pouco intensos e fáceis de executar. Verificou-se também que os exercícios do treino do tipo “B” foram bem executados (qualidade dos movimentos) por todos os participantes, nas três fases do treinamento, e nenhuma dificuldade de execução foi relatada. O treino do tipo “A” foi o treino de maior dificuldade de execução, com necessidade de maior tempo para aprendizagem do movimento e exigência de maior coordenação motora, bem como maior grau de ofegância após o exercício e a necessidade de descanso. Acredita-se que este treino, por trabalhar membros superiores e inferiores de forma integrada, exige do corpo maior controle neuromuscular, além de trabalhar com diferentes amplitudes e múltiplos planos, exigindo a todo o momento atenção e controle motor. Também foram difíceis de executar (embora não necessariamente intensos) os movimentos com bases instáveis, mudança de direção e retirada da informação visual (executar de olhos fechados).

CONCLUSÃO

O protocolo proposto, apesar de aplicar propostas de sessão com variadas abordagens e focos de Treinamento Funcional, não implicou intensidades percebidas muito diferentes. Seus exercícios não foram percebidos como muito intensos, pois foram classificados em sua maioria como “fácil” a “relativamente fácil”, e no máximo “ligeiramente cansativos”. A sessão percebida como menos intensa e de melhor qualidade de movimentos foi a que propunha treinamento de estabilização para o Core, e a mais complexa e intensa foi aquela em que se aplicaram movimentos integrados. Caracterizou-se, pois, que quanto mais global e dinâmica a atividade proposta, maior a complexidade de execução e o esforço percebido. Foram mais difíceis e intensos, segundo os praticantes, os movimentos que integraram movimentos de braços e pernas, que exigiram amplo deslocamento do corpo no espaço, e que utilizaram padrão de movimentos diferentes do habitual. Também foram difíceis de executar (embora não necessariamente intensos) os movimentos com bases instáveis, mudança de direção e retirada da informação visual.

Este estudo mostra exercícios que podem, portanto, ser aplicados com segurança em idosos saudáveis no que se refere ao esforço físico geral, embora pesquisas com medidas objetivas de intensidade devam ser realizadas. Realizar as progressões e caracterizações indicadas, sempre graduais e aproveitando-se a aprendizagem (controle de movimentos) da fase anterior também se faz importante, pois a segurança do programa de exercícios para a terceira idade não implica somente na resposta cardíaca associada à PSE.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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EFEITOS DO EXERCÍCIO FÍSICO ASSOCIADO À MÚSICA NO ESTADO DE ANSIEDADE EM SUJEITOS HIPERTENSOS

Jennifer Ariely Sales Suassuna, Caio Victor Coutinho de Oliveira, Alesandra Araújo de Souza, Flávia Tavares Lúcio, Michele Frazão de Souza, Alexandre Sérgio Silva Laboratório de Estudos do Treinamento Físico Aplicado ao Desempenho e a Saúde – LETFADS, UFPB . João Pessoa – PB, Brasil. [email protected]

RESUMO

Objetivo: Analisar a influência da música no estado de ansiedade induzida por uma sessão de exercício. Materiais e Métodos: cinco hipertensos (47,6 ±7,3 anos) realizaram três sessões de exercício aeróbio em cicloergômetro (60-80% FCM) durante 40 minutos, e ouviram música clássica ou rock, ou não ouviram música num período de recuperação de 60 minutos pós- exercício. Mais duas sessões sem exercício foram realizadas, sendo uma com música no período equivalente ao de recuperação. O estado de ansiedade foi avaliado antes e ao término de cada procedimento através de um questionário psicométrico (IDATE). Resultados e Discussão: O estado de ansiedade apresentou melhoras em todos os procedimentos (entre 10% e 25% do valor dos escores), com exceção do controle (sem alterações) e rock (elevação de 8%). No entanto, sem diferenças significativas (p≤0,05). Conclusões: ouvir música em um período de recuperação pós-exercício não aprimora os efeitos ansiolíticos desta sessão de exercício.

Palavras-chave: exercício, ansiedade, música

INTRODUÇÃO

Ansiedade apresenta alta incidência mundial, afetando aproximadamente 8,3 e 6% das populações norte-americana e europeia por ano, respectivamente (WIPFLI et al., 2011). Caracteriza-se como estado mental de alerta tenso e fisicamente exaustivo, focalizado em perigo ou emergência iminente e inevitável (MOURA; TEIXEIRA, 2008) aliado a sensações de desconforto, apreensão e preocupação (VICKI, 2011). A partir das descobertas relacionadas aos mecanismos neurotransmissores e às drogas específicas seu tratamento, a ansiedade passou a ser considerada como um sintoma ou como quadro patológico (BROWN; GERBARGP, 2001). Desde então, a terapia medicamentosa corresponde à principal forma de tratamento, sendo, entretanto, comum observar efeitos colaterais como ganho de peso, hiperglicemia, hipertensão arterial e aumento do desejo de suicídio (GARDNER et al., 2005). Estes efeitos colaterais sugerem a necessidade de opções alternativas de tratamento que sejam seguras, acessíveis e eficazes (LADER et al., 2009) 13

Já existem evidências de que o exercício físico é capaz de promover efeitos ansiolíticos (LAWLOR; HOPKER, 2001). Possíveis fatores que podem explicar este fenômeno fisiológico seriam melhoria no autoconceito e autoestima (WIPFLI et al., 2011). Apesar disso, poucas pesquisas têm sido realizadas sobre os efeitos da atividade física sobre os transtornos da ansiedade em seres humanos (BARBOUR et al., 2007). Agindo similarmente ao exercício físico, a música também parece influenciar o estado de ansiedade (NILSSON, 2008), uma vez que pode atuar como agente de distração (LEE et al., 2012). Diversos outros efeitos fisiológicos já foram demonstrados com a audição da música, como maior tolerância a dor (JEON et al., 2011) e melhora da atividade nervosa autonômica (ELIAKIM, M. et al., 2012). Se a associação da música ao exercício físico pode potencializar seu efeito ansiolítico, é algo ainda a ser elucidado. Visto que os transtornos da ansiedade estão entre os transtornos mais comumente observados tanto na população geral quanto nos serviços de atenção primária à saúde especialmente em hipertensos (Vicki, 2011), e da inexistência de estudos que contemplem a associação entre exercício físico e música, é relevante a investigação de métodos não farmacológicos para o seu tratamento. Em virtude desta necessidade, o presente estudo teve por objetivo investigar se a associação de música e exercício físico apresentam efeitos sinérgicos no tocante à melhora dos níveis de ansiedade em sujeitos de meia idade.

MATERIAIS E MÉTODOS

Sujeitos do estudo Participaram do estudo cinco indivíduos hipertensos de meia idade (47,6 ± 7,37 anos), sendo três mulheres, praticantes de caminhada há no mínimo três meses. Foram incluídos na amostra indivíduos apresentando hipertensão arterial de graus I e II, conforme os critérios da Sociedade Brasileira de Hipertensão (VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, 2010), que não fossem capazes de entender letras de música na língua inglesa, nem serem músicos de profissão, não apresentassem arritmias complexas ou doenças cardiovasculares que contraindicassem a realização de exercícios físicos, e que fizessem uso de β-bloqueadores, bloqueadores de canal de cálcio não-diidropiridinico ou antagonistas alfa centrais. O estudo foi previamente aprovado pelo comitê de ética em pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, sob o protocolo nº 067/11. Após serem esclarecidos todos os procedimentos experimentais, os indivíduos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido de acordo com resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. 14

Desenho do estudo Os sujeitos foram submetidos a cinco sessões experimentais, sendo três com exercício aeróbio e duas sem exercício com mínimo, 48 horas de intervalo entre elas. Nas sessões exercício, os indivíduos ouviram música em duas ocasiões no período de recuperação, sendo uma sessão com música clássica e outra com heavy metal. Por último, uma sessão exercício aeróbio sem música. Nas duas sessões sem exercício, em uma delas ouviram música clássica, enquanto que na outra não ouviram qualquer música ao longo de 60 minutos do período de recuperação. Um questionário psicométrico de ansiedade foi aplicado antes do exercício e ao final dos 60 minutos de recuperação pós-exercício.

Protocolo do Exercício Os sujeitos realizaram três sessões de exercício aeróbio com duração de 40 minutos cada em uma bicicleta ergométrica da marca Moviment, modelo Perform V3, com intensidade de 60 a 80% da frequência cardíaca máxima (FCM). Para a determinação da zona de frequência cardíaca foi utilizada a equação proposta por Karvonen et al. (1957): FCT = FCR+ i%(FCM-FCR),

Onde:

FCT= frequência cardíaca de treinamento;

FCR = frequência de repouso;

FCM = frequência cardíaca máxima

i% = intensidade do treino

Para determinação da FC de repouso, foi utilizado um monitor de frequência cardíaca da marca Polar, modelo RSX800CX (Polar Electro Oy, Kempele, Finland) com precisão de uma sístole por minuto. Os sujeitos foram instrumentados com o monitor e permaneceram sentados por 10 minutos antes da realização do exercício. O menor valor de frequência cardíaca registrado neste período foi considerado como a frequência cardíaca de repouso. A FCM utilizada nesta equação foi determinada segundo o protocolo de Bruce. Esta equação, para estimativa da FCM, foi escolhida pelo fato de ter sido desenvolvida com uma população específica de hipertensos:

FCM= 204 – 1,07 x idade, onde:

FCM= frequência cardíaca máxima

Para garantir que os sujeitos realizassem o exercício dentro da zona alvo de treinamento prescrita, a FC foi monitorada a cada 5 minutos com o aparelho cardiofrequencímetro durante o exercício. 15

Estímulos Auditivos Os sujeitos foram submetidos, em três sessões, a estímulos musicais sempre no período de recuperação com e sem exercício por intermédio de fones de ouvido sem fio (Multilaser, Wireless), com variação entre 50 e 150 batidas por minuto e volume entre 80 e 100 decibéis. Em duas das sessões eles ouviram música clássica (seleção com 10 músicas de Chopin) e em outra sessão heavy metal (seleção com 10 músicas de Pantera).

Questionário para avaliar os Níveis de Ansiedade Os sujeitos foram avaliados quanto ao nível de ansiedade antes e ao término das sessões de exercício através do Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE-e). O instrumento foi adaptado em 1982 pelo TEA Edciones, sendo composto por 20 itens e respostas possíveis, autoadministrável e variar numa escala Likert de quatro pontos onde 0 (nada) e 4 (muitíssimo).

Tratamento dos Dados

Os dados estão apresentados como média e desvio padrão da média. Todos os dados passaram no teste de normalidade de Shapiro Wilk. Para se determinar possíveis diferenças no comportamento da pressão arterial pré e pós-exercício entre os procedimentos executados foi realizado um teste ANOVA two way com o post hoc de Tukey, adotando-se nível de confiança de 95%. Todos os dados foram analisados por meio do software SPSS versão 16.0.

RESULTADOS

O estado de ansiedade basal dos sujeitos apresentou-se similar em todos os dias de procedimento como pode ser observado no gráfico 1. Comparando os momentos pré e pós- exercício, observou-se a atenuação da ansiedade dos sujeitos (entre 10 e 25% do valor dos escores) nos procedimentos com exercício e música clássica, sem exercício com musica e apenas música, com exceção do controle que não apresentou nenhuma modificação. Em contrapartida, o procedimento de exercício com rock promoveu um aumento de 8% no estado de ansiedade dos sujeitos. No entanto, em nenhum dos procedimentos este comportamento da ansiedade apresentou diferenças significativas (p>0,05).

16

Gráfico 1. Comparação do estado de ansiedade antes e após o exercício em todos os procedimentos

60 Sem Música 50 Clássica 40 Rock Sem Exercício 30 Controle 20

10

Ansiedade Traço-Estado Ansiedade 0

Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós

O inventário de Ansiedade Traço estado avalia o nível de ansiedade dos sujeitos. Não foram encontradas diferenças significativas.

DISCUSSÃO

Os dados do presente estudo demonstram que a associação da audição de música durante 60 minutos de recuperação após exercício aeróbio não é capaz de alterar significativamente o estado de ansiedade em sujeitos hipertensos de meia idade quando comparada apenas ao exercício ou apenas à música. O interesse da música no contexto terapêutico remota desde a antiguidade (Grant, 1995). No meio científico, este interesse vem sendo demonstrado pela ampla publicação de trabalhos abordando esta temática. Trabalhos envolvendo alterações de sensibilidade à dor (JEON et al., 2011), temperatura corporal (ALLEN et al., 2001), frequência cardíaca (BALDARI et al., 2010), atividade nervosa autonômica (ELIAKIM, M. et al., 2012), redução dos níveis de ansiedade (LEE et al., 2012), e melhora do bem estar (HATEM et al., 2006) já foram observados em resposta a audição de música em diferentes contextos. Em pacientes hipertensos que seriam submetidos a procedimento cirúrgico, a música foi capaz de impedir o aumento da pressão arterial nos momentos pré, durante e pós-operatório (ALLEN et al., 2001; HATEM et al., 2006). Apesar disso, a quantidade de estudos que relaciona música e exercício para melhora do estado de ansiedade ainda são inexistentes. Com base nisto, este foi primeiro ensaio experimental que investigou a associação de música e exercício com propósito de observar um possível sinergismo na melhora do estado de ansiedade para pacientes hipertensos. Atribui-se à música alguns efeitos fisiológicos que acabam por repercutir no estado de ansiedade (LEE et al., 2012). Liberação de endorfinas, mudanças nas concentrações séricas de catecolaminas, redução da pressão arterial, frequência cardíaca e níveis séricos de ácido lático são prováveis fatores envolvidos nesse estado (ALLEN et al., 2001; BALDARI et al., 2010; 17

ELIAKIM et al., 2012). Em idosos, Bailey (BAILEY, 1986) verificou melhora da motivação, humor e sensação de responsabilidade e controle quando submetidos à música. No entanto, tais achados são inconsistentes na literatura, uma vez que o estado de ansiedade não se correlacionou com a pressão arterial (YUNG et al., 2003) e níveis séricos de cortisol e adrenalina (WANG et al., 2002). Outros autores ainda sugerem que o efeito benéfico da música se explica pela distração a qual os pacientes são expostos quando da escuta da música (MCCAFFREY; GOOD, 2000). Estes dados conflitantes podem ser atribuídos a diversos fatores, entre eles, os diferentes tipos de música utilizada, tempo de escuta da música, ambiente, presença de grupo controle, características fisiológicas dos sujeitos e preferências musicais (URAKAWA; YOKOYAMA, 2005). De certo, as evidências convergem para um efeito terapêutico da musica e do exercício sobre o estado de ansiedade além de outras variáveis (BALDARI et al., 2010; WANG et al., 2002). Porém, no presente estudo não encontramos qualquer alteração nem de forma associada ou isolada do exercício. Uma possibilidade de explicação para tais resultados é a maior limitação do estudo, o numero de sujeitos. Sugere-se, dessa maneira, a realização de estudos com desenhos metodológicos mais aprimorados para que dessa forma relações haja a possibilidade de demonstração de relação causa-efeito das variáveis utilizadas no presente ensaio.

CONCLUSÃO

A associação da música no período de recuperação não foi capaz de acentuar a resposta ansiolítica decorrente do exercício físico aeróbio em sujeitos hipertensos de meia-idade. Pesquisas adicionais são necessárias para elucidar se este comportamento também é observado em outros grupos populacionais.

REFERÊNCIAS

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ELIAKIM, M.; BODNER, E.; ELIAKIM, A.; NEMET, D.; MECKEL, Y. Effect of motivational music on lactate levels during recovery from intense exercise. Journal of strenght and Conditioning Research, v. 26, n. 1, p. 80-86, 2012. GARDNER, D. M.; BALDESSARINI, R. J.; WARAICH, P. Modern antipsychotic drugs: a critical overview. CMAJ : Canadian Medical Association journal = journal de l’Association medicale canadienne, v. 172, n. 13, p. 1703-11, 21 jun 2005. Grant, R. (1995). Music therapy assessment for developmentally disabled clients. In T. Wigram, B. Saperston, & R. West (Eds.), The art and science of music therapy: a handbook (pp. 273-287). London. HATEM, T. P.; LIRA, P. I. C.; MATOS, S. S. The therapeutic effects of music in children following cardiac surgery. Jornal de Pediatria, v. 82, n. 3, p. 186-192, 2006. JEON, Y. S.; CHOI, J. W.; JUNG, H. S. et al. Effect of continuous cuff pressure regulator in general anaesthesia with laryngeal mask airway. The Journal of International Medical Research, v. 39, n. 5, p. 1900-1907, 2011. LADER, M.; TYLEE, A.; DONOGHUE, J. Withdrawing benzodiazepines in primary care. CNS Drugs, v. 23, p. 19-34, 2009. LAWLOR, D. A.; HOPKER, S. W. The effectiveness of exercise as an intervention in the management of depression: systematic review and meta-regression analysis of randomised controlled trials. BMJ, v. 322, n. March, 2001. LEE, K.-C.; CHAO, Y.-H.; YIIN, J.-J. et al. Evidence that music listening reduces preoperative patients’ anxiety. Biological research for nursing, v. 14, n. 1, p. 78-84, jan 2012. MCCAFFREY, R.; GOOD, M. The lived experience of listening to music while recovering from surgery. Journal of Holistic Nursing, v. 18, n. 4, p. 378-390, 2000. MOURA, G. S.; TEIXEIRA-, F. Ansiedade-traço em estudantes universitários de Aracaju ( SE ). v. 30, n. 1, p. 19-24, 2008. NILSSON, U. The Anxiety- and Pain-Reducing Effects of Music Interventions: A Systematic Review. AORN Journal, v. 87, n. 4, p. 780-807, 2008. URAKAWA, K.; YOKOYAMA, K. Music can enhance exercise-induced sympathetic dominancy assessed by heart rate variability. Tohoku Journal of Experimental Medicine, v. 206, n. 3, p. 213-218, 2005. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 95, n. 1, p. 1- 51, 2010. VICKI, S. C. Anxiety Outcomes after Physical Activity Interventions: Meta- Analysis Findings. Nursing Research, v. 59, n. 3, p. 224-231, 2011. WANG, S.; KULKARNI, L.; DOLEV, J.; KAIN, Z. Music and preoperative anxiety: a randomized, controlled study. Anesthesia & Analgesia, v. 94, n. 6, p. 1489-1494, 2002. WIPFLI, B.; LANDERS, D.; NAGOSHI, C.; RINGENBACH, S. An examination of serotonin and psychological variables in the relationship between exercise and mental health. Scandinavian journal of medicine & science in sports, v. 21, n. 3, p. 474-81, jun 2011. YUNG, P.; KAM, S.; LAU, B.; CHAN, T. The effect of music in managing preoperative stress for Chinese surgical patients in the operating room holding area: A controlled trial. International Journal of Stress Management, v. 10, n. 1, p. 64-74, 2003.

19

Influência da Suplementação de Carboidrato no Desempenho de Força Muscular e nos Níveis de Glicemia em uma Sessão de Treinamento Concorrente

Cecília Quirino Dias, Gisele Augusta Maciel Franca, Fábio Thiago Maciel da Silva, Alexandre Sérgio Silva, Ytalo Mota Soares

Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa-PB, Brasil. [email protected]

RESUMO

O Treinamento Concorrente é a combinação do treinamento de resistência aeróbia com o treinamento de força em uma mesma sessão. Existem relatos de que força e a hipertrofia são prejudicadas neste treinamento, em parte pela depleção dos estoques de glicogênio. O presente estudo teve como objetivo analisar a influência da suplementação de carboidrato no desempenho de força muscular e nos níveis de glicemia em uma sessão de treinamento concorrente. A amostra foi composta por quatro sujeitos com experiência mínima de seis meses no treinamento de força e aeróbio, os quais foram submetidos a protocolos de treinamento concorrente com suplementação de carboidrato ou placebo. As variáveis estudadas foram o número de repetições máximas e a glicemia sanguínea antes, durante e após os protocolos. Os resultados encontrados demonstram que houve uma diferença significativa no nível de glicemia em um momento do treino de força, no qual o protocolo com suplementação de carboidrato apresentou valor maior quando comparado ao protocolo placebo (p<0,05). Também foi observado um declínio similar no desempenho de força verificado pelo número de repetições máximas nos dois protocolos. Concluiu-se que a suplementação de carboidratos resulta em valores de glicemia discretamente maiores na fase do treinamento de força durante um protocolo de treinamento concorrente, mas não influenciou no desempenho de força.

Palavras-chave: Treinamento Concorrente, Treinamento de Força, Suplementação.

INTRODUÇÃO

Tendo em vista os benefícios do treinamento da força muscular (FLECK, 2006) e da resistência aeróbia (HAKKINEN et al., 2003) e na maioria das vezes o pouco tempo destinado ao treinamento por praticantes não atletas, busca-se a rentabilização do treinamento quando se associam essas duas capacidades físicas. Segundo Gomes (2005) a este tipo de associação é dado o nome de Treinamento Concorrente (TC). 20

O TC tem em sua ideia principal a combinação do treinamento da capacidade aeróbia com o treinamento de força muscular dentro da mesma sessão de treinamento (AOKI et al., 2003; GOMES, 2005). Estudos mostram que os praticantes que realizam o TC podem estar sujeitos a situações distintas com mudanças positivas ou negativas tanto nos níveis de força, como na capacidade aeróbia, quando comparados a treinamentos das capacidades isoladas (COYLE, 2007; WILSON et al., 2011).

Entretanto, a literatura atual não apresenta um consenso sobre as causas da possível interferência, bem como as estratégias que possam minimizar tal efeito, no qual a diversidade dos protocolos utilizados nos diferentes estudos parece estar relacionada com essa falta de resultados conclusivos. Alguns estudos utilizaram sujeitos em diferentes níveis de treinamento: sedentários, atletas e indivíduos fisicamente ativos (SILVA, 2010; LEVERITT et al., 1999), outros variaram a ordem dos exercícios (SHAW, 2009; COLLINS, 1993), algumas pesquisas investigaram os efeitos agudos (AOKI et al., 2003; CRAIG et al., 1991) outras, por sua vez os efeitos crônicos (LEVERITT et. al., 1999; AOKI et al., 2003).

Um dos fatores que pode influenciar o desempenho de força é a depleção dos estoques de glicogênio, de modo que se acredita que tal interferência esteja relacionada ao metabolismo energético (LEVERITT, 2000). Além do conteúdo inicial de glicogênio, considerado fator limitante do desempenho de força, o carboidrato também poderia afetar a produção de força por meio da alteração da funcionalidade do sistema nervoso central através da alteração da glicemia (YASPELKIS et al., 2002; ROBERGS et al., 1991; BERGSTROM e HULTMAN, 1967).

Neste sentido a administração de carboidratos durante o exercício resulta na manutenção da glicemia, possibilitando que a glicose sanguínea sustente por período prolongado a demanda energética dos músculos e estes possam reduzir a taxa de depleção do glicogênio, aumentando assim a capacidade de manter-se em atividade (SILVA; MIRANDA; LIBERALI, 2008; WRITGHT et al., 1991; SHERMAN et al., 1991).

Portanto, o objetivo deste estudo foi analisar a influência da suplementação de carboidrato no desempenho de força muscular e nos níveis de glicemia em uma sessão de treinamento concorrente.

MÉTODOS

Amostra

Foram selecionados quatro sujeitos do gênero masculino com idade de 24,25 ± 3,30 anos, fisicamente ativos, praticantes do treinamento de força e de corrida em esteira ergométrica a no mínimo seis meses de forma sistemática, com uma freqüência mínima de quatro vezes semanais, ausência de lesões osteomioarticulares, não estar fazendo uso de esteróides anabólicos androgênicos sintéticos, responder negativamente ao questionário Par-Q (Physical Activity 21

Readiness Questionnaire). O protocolo experimental foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Lauro Wanderley. Com base na Resolução específica do Conselho Nacional de Saúde (nº 196/96), todos os sujeitos foram informados detalhadamente sobre os procedimentos utilizados e concordaram em participar voluntariamente do estudo, assinando o Termo de Compromisso Livre e Esclarecido.

Determinação das intensidades do treinamento de força e resistência aeróbia Para a determinação da intensidade do treinamento de força foi realizado o teste de carga máxima (1RM), precedidos de duas séries de aquecimento usando de 40-60% de 1RM estimada na primeira série (5-10 repetições) e 60-80% de 1RM estimada na segunda série (3-5 repetições) com intervalo de um minuto entre as séries. Os sujeitos foram orientados que o movimento deveria ser realizado em sua amplitude total em apenas uma repetição máxima, quando esta não fosse satisfatória realizaram nova tentativa após intervalo de 3-5 minutos (FLECK e KRAEMER, 2009). Os exercícios escolhidos foram: flexora, desenvolvimento, agachamento na barra suspensa, rosca direta, extensora, tríceps pulley, leg 45º e supino. Após um intervalo de 48 horas os sujeitos realizaram o re-teste de 1RM. A intensidade do treino de resistência aeróbia foi de 70-75% da Frequência Cardíaca Máxima (FCmáx), sendo adotada a equação de Tanaka (2001) para sujeitos fisicamente ativos na determinação da FCmáx e as equações de Heyward (2004) para determinar a zona alvo.

Descrição dos protocolos de treinamento Os sujeitos foram submetidos de forma randomizada a dois protocolos distintos: a) treinamento de força antecedido do treinamento de resistência aeróbia (TC); b) treinamento de força antecedido de resistência aeróbia com suplementação (TCS). Nos dois protocolos os sujeitos realizaram 40 minutos de corrida em esteira ergométrica a uma intensidade de 70-75% da FCmáx e em seguida os exercícios de força (flexora, desenvolvimento, agachamento na barra suspensa, rosca direta, extensora, tríceps pulley, leg 45º e supino) em três séries de repetições máximas a 75-80% de 1RM com intervalo de 90 segundos.

Protocolo de suplementação Antes da aplicação dos protocolos de treinamento, os sujeitos tiveram sua dieta controlada. Foram oferecidas duas refeições antes dos protocolos: desjejum (quatro horas antes) e lanche (meia hora antes), calculadas individualmente e compostas por 1,5g/kg e 0,2g/kg de carboidrato e proteína, respectivamente (KERKSICK et al., 2008).

No protocolo TC foi administrado uma solução doce, composta de água, corante e sucralose (placebo) e no protocolo TCS uma solução de maltodextrina, diluída a 8% (carboidrato). A administração durante o treino aeróbio ocorreu nos seguintes momentos: no início, aos 20 22 minutos e ao final da corrida. Durante o treino de força ocorreu imediatamente após o 2º, 4º, 6º e 8º exercícios. Foram oferecidos em quantidades de 100 ml nos momentos já descritos, estimando um total de 32g de carboidratos e 400 ml de líquidos ingeridos por hora de exercício (KERKSICK et al., 2008).

Coleta e análise da glicemia Para quantificar a glicemia foi coletado sangue por punção transcutânea na ponta do dedo indicador e imediatamente analisado com auxilio do glicosímetro. As coletas foram feitas no repouso, durante o treino aeróbio (5, 15, 25 e 40 minutos) e durante o treino de força (imediatamente após o 2º, 4º, 6º e 8º exercícios) em ambos os protocolos. Todo o procedimento contou com métodos de assepsia, utilizando álcool, algodão, luvas e lancetas descartáveis.

Tratamento estatístico Os dados foram apresentados de forma descritiva como média e desvio padrão da média. Inicialmente foram aplicados os testes de Kolmogorov-Smirnov e de Barlet para verificar a normalidade dos dados e possíveis diferenças entre os desvios-padrão, respectivamente. Para comparar os resultados obtidos nos diferentes protocolos foi utilizado o teste de Kruskal - Wallis, com post hoc de Dunn, para comparar o comportamento de uma variável no mesmo protocolo foi utilizado o teste de Friedman. Para todos os testes foi adotado nível de confiança de 95%. As análises foram realizadas por meio do software Instat 3.0 (GraphPad, San Diego, CA).

RESULTADOS

Os valores médios dos níveis de glicemia obtidos durante a sequência de exercícios estão apresentados na figura 1. Houve diferença significativa quando comparado os valores de glicemia dos protocolos TC e TCS no momento após o segundo exercício de força.

Os valores médios dos níveis de glicemia obtidos durante a sequência de exercícios estão apresentados na figura 1. Houve diferença significativa quando comparado os valores de glicemia dos protocolos TC e TCS no momento após o segundo exercício de força.

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FIGURA 1- Gráfico da variação dos níveis de glicemia durante os protocolos de treinamento concorrente com suplementação de carboidrato (TCS) e placebo (TC). ** indica diferença significativa entre os níveis de glicemia, para valor de p>0,05.

Os valores médios dos números de repetições nas três séries em cada exercício estão apresentados na tabela 1. Ocorreu um declínio similar do número de repetições máximas entre as séries nos exercícios nos dois protocolos. Não havendo diferenças significativas independentemente da suplementação de carboidrato ou placebo.

Tabela 1 - Desempenho de força nas três séries dois oito exercícios de força, mediante o número de repetições máximas nos protocolos com suplementação de carboidrato e placebo.

1ª série 2ª série 3ª série TC TCS TC TCS TC TCS

Flexora 7 ± 2,58 7,5 ± 3,41 6,75 ± 2,63 6 ± 2,16 6 ± 2,16 5,25 ± 1,5

Desenvolvimento 6,75 ± 1,71 7,75 ± 1,71 6,25 ± 2,63 5,75 ± 0,5 4,75 ± 0,95 4,75 ± 1,5

Agachamento 6,5 ± 3 6,75 ± 3,86 6,5 ± 3,51 6,75 ± 3,86 6 ± 3,16 6 ± 2,94

Rosca direta 7,25 ± 1,26 7,25 ± 1,5 6,75 ± 1,5 6,75 ± 0,5 5,75 ± 0,96 5,75 ± 0,5

Extensora 9 ± 2,71 6,5 ± 1,91 8,25 ± 2,87 7,75 ± 1,71 7,25 ± 2,5 9,25 ± 4,19

Tríceps pulley 8,5 ± 2,52 8,5 ± 2,65 7,75 ± 1,71 7,5 ± 1 6,25 ± 2,06 6,5 ± 1,29

Leg 45º 9,5 ± 7,32 8 ± 5,3 8 ± 4,97 6,5 ± 3,51 10 ± 7,61 6,75 ± 5,19

Supino Plano 6 ± 2,71 5,25 ± 0,96 5,5 ±1 5,25 ± 3,2 3,75 ±2,01 4 ± 1,41

DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objetivo analisar a influência da suplementação de carboidrato no desempenho de força muscular e nos níveis de glicemia em uma sessão de treinamento concorrente. 24

No tocante a suplementação de carboidrato no desempenho de força durante uma sessão de TC, este estudo corrobora com o estudo de Aoki, et al. (2003) que verificou que a suplementação de carboidrato não foi capaz de minimizar a diminuição do número de repetições máximas do treinamento de força imediatamente após um treino aeróbio. No estudo de Silva et al. (2011) com uma metodologia similar ao presente estudo, também foi encontrado uma diminuição no desempenho da força nos dois protocolos (suplementação e placebo), indicando que a suplementação de carboidrato não afetou positivamente o desempenho de força. Alguns estudos que observaram a influência da suplementação de carboidrato no desempenho de força isolado verificaram que também não houve nenhum efeito ergogênico da suplementação em relação a substância placebo (CONLEY et al., 1995; HAFF et al., 2000).

Em relação ao comportamento glicêmico observou-se uma diferença significativa com valores maiores no nível de glicemia apenas após o segundo exercício de força no protocolo TCS, que pode ser explicada pelo fato da glicemia sofrer uma importante redução logo nos minutos iniciais do exercício aeróbio, e que este fenômeno é revertido com a suplementação de carboidratos durante o treinamento (SILVA et al., 2004). Desse modo a administração de carboidrato pode resultar em aumento na disponibilidade da glicose sanguínea, reduzindo a depleção de glicogênio muscular observada nas fases iniciais do desempenho físico (AHLBORG et al., 1967; COYLE et al., 1986).

CONCLUSÃO

Considerando os objetivos e os resultados obtidos no presente estudo, pode-se concluir que a suplementação de carboidrato resulta em uma glicemia discretamente maior na fase do treinamento de força, mas não influencia positivamente no desempenho de força durante uma sessão de treinamento concorrente, composto por um treino aeróbio (a 70-75% da FCmáx) realizado previamente ao treinamento de força (oito exercícios a 75-80% de 1RM).

Tendo em vista o crescimento do interesse da comunidade cientifica acerca do Treinamento Concorrente e, ainda a crescente utilização de suplementos por parte dos praticantes de atividade física, sugere-se a continuidade de pesquisas na perspectiva apresentada no presente estudo.

REFERÊNCIAS

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EFEITOS DA ATIVIDADE FÍSICA NA MASSA ÓSSEA

Allan dos Santos Mateus1, Anne Suellen Maria da Cruz1, Tamyra Maciel Vieira1, Eduardo Domingos da Silva Freitas1, Susane Graup2

1 Centro Universitário de João Pessoa, João Pessoa - PB 2 Universidade Federal do Pampa, Uruguaiana – RS [email protected]

RESUMO

Introdução: O osso é um tecido dinâmico que sofre um constante processo de restauração, estando suscetível a problemas como deformação e diminuição da massa óssea que pode desencadear uma patologia denominada de osteoporose. Objetivo: O objetivo deste artigo foi descrever alguns aspectos da fisiologia óssea, bem como os efeitos da atividade física no aumento da massa óssea, por meio de uma revisão bibliográfica. Resultados: Vários são os fatores que estão relacionados à manutenção da massa óssea, dos quais se destaca o estilo de vida amparado por uma dieta saudável e níveis de atividade física adequados. Ainda, merece destaque os hormônios que regulam os níveis plasmáticos de cálcio, como o paratormônio que retira cálcio dos ossos quando as concentrações no sangue são baixas e a calcitonina que deposita cálcio nos ossos quando os níveis sanguíneos de cálcio são elevados. O sistema ósseo também sofre grande influência das alterações hormonais impostas pela menopausa, principalmente pelo estrogênio, resultando em uma reabsorção óssea maior que o processo de formação. Conclusão: Nesse contexto, os efeitos da atividade física vêm sendo estudados sobre a manutenção e ganho da massa óssea, apresentando resultados positivos, ainda mais quando a atividade proporciona um estímulo de impacto e compressão maior, como é o caso dos exercícios resistidos. Palavras-chave: Massa óssea; Atividade física; Hormônios.

INTRODUÇÃO Embora o tecido ósseo seja forte e sofra um constante processo de restauração, ainda assim está suscetível a problemas como deformação e diminuição da massa óssea. Esse processo é decorrente de fatores hereditários, hábitos alimentares, tabagismo, menopausa, avanço da idade e sedentarismo. Essa perda de material ósseo pode ocasionar diversos problemas à saúde como deformação óssea, influência no crescimento e, sobretudo, osteoporose (FRAZÃO, 2007; HAMILL, KNUTZEN, 2008; PINHEIRO, 2009). A osteoporose é considerada como uma doença de etnia branca que atinge principalmente mulheres na pós-menopausa (HALBE, 2009; PINHEIRO, 2009) e em idades mais 28 avançadas, podendo comprometer a rigidez tecidual do osso pela perda da integridade trabecular, que torna os mesmos mais frágeis e suscetíveis a fraturas (HAMILL, KNUTZEN, 2008). Nessa perspectiva, a osteoporose caracteriza-se como uma epidemia silenciosa, apresentando-se como um problema de saúde pública (GDF, 2011), sendo que de acordo com o Ministério da Saúde (2003), estimativas apontam que aproximadamente 15 milhões de brasileiros estão propensos a desenvolver essa doença. Ainda neste contexto, a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP, 2008) afirma que no ano de 2006 cerca de 50 R$ milhões de reais foram gastos no tratamento de idosos acometidos por fratura de fêmur e que ainda foram gastos 20 R$ milhões em medicamentos para o tratamento da osteoporose.

Por outro lado, para evitar uma perda relativamente grande de massa óssea e consequente diminuição da densidade do tecido ósseo, é necessário que as pessoas adotem hábitos alimentares melhores, bem como, pratiquem regularmente atividades físicas orientadas, pelo fato de que uma dieta adequada pode fornecer nutrientes para o tecido ósseo, importantes para o seu fortalecimento e reestruturação, enquanto a prática de atividade física, por sua vez, possibilita o aumento da massa óssea, aumentando também a resistência do tecido e, dessa forma, diminuindo a incidência de fraturas (ASSIS et al., 2007; BARROS et al., 2008; HAMILL; KNUTZEN, 2008). Diante dessas informações, considerando a dimensão do problema, o presente estudo teve por objetivo descrever alguns aspectos da fisiologia óssea, bem como os efeitos da atividade física no aumento da massa óssea, por meio de uma revisão bibliográfica.

Fisiologia óssea O tecido ósseo é considerado um arcabouço resistente que possui algumas características funcionais extremamente importantes, como a produção de células sanguíneas, a proteção de órgãos vitais e a sustentação do peso corporal, servindo como um sistema de alavancas para a realização de movimentos. Além disso, serve como fonte de armazenamento de cálcio e fosfato (DANGELO; FATTINI,1987; HAMILL; KNUTZEN, 2008). O osso é composto basicamente por uma matriz inorgânica e por células especializadas, que desempenham distintas funções. Os componentes desta matriz inorgânica trata-se de cristais de fosfato de cálcio que se precipitam e se ligam a um suporte de colágeno, sendo a forma mais comum de fosfato de cálcio a hidroxiapatita (SILVERTHORN, 2003). De acordo com Bankoff, Zylberberg e Schiavon (1998), as células constituem a parte orgânica do tecido ósseo, sendo basicamente de quatro tipos: células de revestimento, osteócitos, osteoblastos e osteoclastos. Ainda conforme o referido autor, as células de revestimento, também chamadas de osteoprogenitores, são as precursoras dos osteoblastos, estas, por sua vez, são responsáveis tanto pela síntese da osteóide, que é o tecido ósseo ainda não calcificado, quanto da matriz extracelular através da deposição de cálcio; após certos tempo de atividade as células 29 de osteoblastos transformam-se e passam a ser chamadas de osteócitos, trabalhando apenas na manutenção da matriz. Os osteoclastos têm origem distinta dos osteoblastos, já que são células multinucleadas oriundas dos monócidos e macrófagos. A atuação das células dos osteoclastos ocorre diferente da ação dos osteoblastos, tendo em vista que os osteoclastos agem do processo de reabsorção da matriz, lançando cálcio na corrente sanguínea (NOBESCHI, 2010; OCARINO; SERAKIDES, 2006). Nesse contexto o processo de deposição óssea se dá em duas etapas: primeiro os osteoblastos secretam substâncias protéicas (matriz) que se polimerizam para formar as fibras colágenas (principais constituintes desta matriz) e, em seguida, ocorre à precipitação de sais de cálcio nos interstícios dessa matriz. Tal processo requer a combinação de cálcio e fosfato (fosfato de cálcio) e subseqüente mecanismo lento de conversão deste composto em hidroxiapatita, podendo esse mecanismo durar de semanas a meses (GUYTON; HALL, 2006). Já o processo de reabsorção do osso ocorre através da secreção de dois tipos de substâncias: enzimas proteolíticas, liberadas a partir dos lisossomos dos osteoclastos, e vários ácidos, inclusive ácido láctico, liberados pelas mitocôndrias e vesículas secretoras. As enzimas digerem ou dissolvem a matriz orgânica do osso e os ácidos causam a solução dos sais ósseos, liberando o produto para o sangue (GUYTON; HALL, 2006). Esse dinamismo do tecido ósseo garante a remodelação dos ossos num processo que perdura por toda a vida, garantindo a rigidez e a resistência da estrutura. Dessa forma, a integridade do tecido ósseo está diretamente relacionada ao equilíbrio entre o processo anabólico realizado pelos osteoblastos (deposição) e do processo catabólico realizado pelos osteoclastos (absorção), sendo que tais processos são mediados pela ação hormonal. Porém, diversos fatores podem ainda afetar o metabolismo deste tecido, tais como a genética, os hábitos alimentares e o nível de atividade física (OCARINO; SERAKIDES, 2006). A atividade das células ósseas pode ser regulada através da ação de hormônios que atuam de acordo com as concentrações do íon cálcio plasmático e que podem, dessa forma, influenciar nos processos de remodelação óssea. Os principais hormônios ligados ao controle da calcemia são os hormônios paratireoide ou paratormônio (PTH) e a calcitonina (LANNA et al., 2003). Somado a isso, quando a mulher entra na pós-menopausa os níveis de estrogênios apresentam queda, acarretando diminuição da massa óssea. Dessa forma, se controlada a diminuição do estrogênio pode-se ter uma redução do risco de gerar uma doença crônica e a osteoporose (GRODSTEIN, 1996).

Paratormônio e Calcitonina O paratormônio (PTH) é um hormônio em forma de proteína sintetizado pelas glândulas tireóideas que atua de maneira diferente da calcitonina e é responsável, além de outras funções, pela construção do osso e consequente aumento da massa óssea. Para tanto, o PTH pode atuar de maneira direta ou indireta (GRACITELLI et al., 2002; WHITFIELD, 1999).. 30

Em sua atuação direta, este hormônio interage com os rins, incitando a reabsorção de cálcio, e com as células de osteoblastos (o osso), promovendo a modelação do tecido. Vale salientar que a interação deste hormônio com as células de osteoclastos ocorrem intermediadas pelos osteoblastos. Quando atua indiretamente, este hormônio estimula a absorção de cálcio pelo intestino (GRACITELLI et al., 2002; WHITFIELD, 1999). A secreção do PTH ocorre quando o nível plasmático de cálcio encontra-se em baixa (CASHMAN, 2002). De acordo com Gracitelli et al. (2002), o PTH pode influenciar tanto o processo de absorção quanto o de deposição óssea, a ocorrência de um ou outro dependerá dos níveis plasmáticos e tempo de exposição ao PTH. O processo de deposição pode ser observado em caso de utilização de doses intermitentes, já a reabsorção pode ser notada em casos de uso por tempo prolongado deste hormônio e de altas concentrações plasmáticas do mesmo ( GRACITELLI et al., 2002). O estudo realizado por Finkestein et al (1994), sobre o PTH foi utilizado como base na prevenção da perda óssea, induzida pela diminuição na produção de estrogênio, o estudo teve duração de 6 meses e participaram do mesmo 50 mulheres de 20 a 44 anos de idade. Neste caso, apenas 10 indivíduos da amostra apresentaram perda óssea; foram administrados de 400U até 500μg. Portanto, este hormônio tem um mecanismo de ação no aumento das células de osteoblastos que contribuem para acréscimo na massa óssea, por meio das baixas concentrações de Ca++. Porém, se o PTH atuar de forma prolongada, o processo de reabsorção óssea se acentuará e isso poderá causar o enfraquecimento dos ossos (SIMONELI, 2002).

A atuação da calcitonina nos ossos consiste na desaceleração da reabsorção óssea por consequente inibição das células de osteoclastos. Assim como ocorre com o PTH, a secreção da calcitonina é mediada pelo nível plasmático de Ca++, porém, neste caso o hormônio será lançado na corrente sanguínea assim que for verificada alta concentração de Ca++ no sangue; no caso do PTH, a secreção hormonal esta relacionada à baixa calcemia plasmática (CASHMAN, 2002; DELMAS, 2002; YAZBEK, 2008).

Estrogênio No período contemporâneo, as mulheres vivem cada vez mais, o que torna necessário o entendimento da função hormonal do corpo. Assim, a pré-menopausa é considerada um fator determinante na queda da produção de estrogênio, o qual acarreta um crescimento no processo de remodelação óssea, que por sua vez auxilia na perda da massa óssea (VALADARES, 2008). Essa queda na produção hormonal ocorre quando a mulher entra no período de menopausa, podendo vir a causar doenças por deficiência na produção de estrogênio que é considerado um dos fatores primário no desequilíbrio da balança óssea. Então, quando se 31 encontra na pós-menopausa essa diminuição na taxa hormonal pode vir a ocasionar doenças cardiovasculares, ou ainda, osteoporose (PARDINI, 2007; VALADARES, 2008). Conforme Faloni (2007), o estrógeno atua sobre a reabsorção óssea, tendo início a partir da ação desse hormônio na formação do osteoclasto, agindo nas células de osteoprogenitores modificando os níveis de ligante do receptor ativador de fator nuclear-KB – RANKL (proteína que tem a função de regulação dos osteoclastos, por meio da função dos progenitores de osteoclasto.), que causa acréscimo nos níveis de osteoprotegerina – OPG (proteína também é denominada de fator inibidor da osteoclastogênese). Assim, o OPG se une a RANKL dificultado a ligação com o receptor presente em precursores de osteoclasto (RANK), inibindo assim a ação dos precursores das células de osteoclastos. Assim, quando o estrogênio começa atuando nas células de osteoclasto, inibe a ação deste, levando assim, a um aumento nos níveis de calcitonina que vai inibir a prostaglandina por meio da regulação do lugar que será feita a reabsorção óssea. Nessa perspectiva tem o acréscimo de paratormônio juntamente com o aumento dos receptores das células de osteoblasto (BUENO, 2004).

Fatores que Interferem na Densidade Óssea Os fatores que influenciam na baixa densidade óssea podem ser classificados como físicos (idade avançada, sexo feminino, hereditariedade, ciclos menstruais irregulares, uso de medicamentos corticosteróide, etc.) bem como, comportamentais (sedentarismo, baixa ingestão de cálcio, além da alta ingestão de proteínas, sódio, café, tabagismo e bebidas alcoólicas) (FRAZÃO, 2007; HAMILL, KNUTZEN, 2008; PINHEIRO, 2009). No entanto o peso corporal, a idade da menopausa e tempo de pós-menopausa tem sido apontados como fatores preditivos, podendo ser modificados ou não de acordo com sua natureza (HALBE, 2009; PINHEIRO, 2009). O estudo realizado por Peters e Martini (2009), demonstra que a nutrição tem função essencial na ingestão adequada de cálcio, vitaminas e proteínas. Conforme o estudo de Bezerra (2009), sobre influencia da cafeína em dosagem elevada por um período de 56 dias, observou-se que ao término o grupo exposto a uma dosagem elevada de cafeína diária apresentou uma massa óssea menor que o grupo de controle. Por outro lado, o sistema ósseo sofre grande influência das alterações hormonais impostas pela menopausa, resultando em uma reabsorção óssea maior que o processo de formação, fazendo com que haja a diminuição fisiológica da massa óssea (LANNA, 2003; NAVEGA, 2007; BEZERRA, 2009). A prática de atividade física quando associada à ingestão de cálcio interfere positivamente na densidade óssea havendo uma diminuição na prevalência da osteoporose (HALBE, 2009).

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Atividade Física e Massa Óssea Durante a realização de alguns estudos sobre o nível de massa óssea, observou-se que os sedentários oferecem um coeficiente diferente na densidade óssea, pois a prática de atividade física, responsável por estimular o tecido ósseo através do estimulo de impacto e compressão decorrente do exercício físico, que estimula o tecido ósseo, ocasiona o armazenamento de níveis maiores de massa óssea (PINHEIRO; 2009; ASSIS; 2007). O estudo realizado por Bailey (1999), ressalta que o exercício físico na faixa etária de 12 anos de idade tem efeito direto no aumento da densidade óssea de aproximadamente 9 a 17%, se comparado com um sedentário por toda a vida, considerando essencial nessa fase que o adolescente participe de atividade física com o intuito de aumentar sua densidade mineral óssea. Também a pesquisa de Siqueira et al. (2009), buscando avaliar a associação entre prática de atividade física na adolescência e osteoporose em um estudo de base populacional, encontrou que os indivíduos ativos na adolescência demonstraram probabilidade 67% menor do que os inativos de apresentar osteoporose na vida adulta. Considerar a modalidade da atividade física é de fundamental importância para o aumento da massa óssea, pois dependendo da intensidade de impacto as respostas são diferentes nas regiões que sofrem o estresse, pois os segmentos mais utilizados respondem de forma direta ao estresse (BARROS et al., 2008). Vale ressaltar que a força mecânica durante a atividade física que está sendo incitada é capaz de induzir, ainda, o tecido ósseo a se modificar por meio de estresse mecânico, pois ocorre uma resposta da célula do osteoblasto que começa a reconstruir o tecido ósseo através da atividade física, que é de essencial importância para o crescimento longitudinal e transverso (BALSAMO, 2006). A caminhada é uma atividade aeróbia amplamente realizada que tem sido indicada na prevenção, ou até mesmo no tratamento da osteoporose, por proporcionar melhorias na qualidade de vida e na recuperação da massa óssea com ênfase na cabeça do fêmur (KEMPER; 2009). No entanto, essa informação não é consenso na literatura, pois o estudo de revisão realizado por Palombaro (2005), visando analisar os efeitos da caminhada na massa óssea, não evidenciou mudança significativa na densidade óssea, concluindo que a intervenção proposta nos estudos pode não ter sido suficiente para causar estímulo necessário para a ativação da osteogênese. Outra atividade que vem demonstrando um aumento significativo no número de adeptos e vem ganhado espaço é a hidroginástica por ser uma atividade relaxante que apresenta baixo impacto, melhorias nos sistemas muscular, esquelético, respiratório, cardiovascular e nervoso. Em relação aos benefícios dessa atividade na massa óssea, os resultados não evidenciam alterações significativas para o aumento da mesma (ASSIS, 2007). Nesse contexto, o estudo de Assis (2007), demonstra que a hidroginástica não influencia diretamente no controle da perda de massa óssea e que os adeptos dessa atividade física não têm beneficio significante na sua densidade óssea, mas que os estímulos na musculatura podem diminuir a perda do conteúdo ósseo e 33 favorecer melhoras nos aspectos relacionados ao risco de queda (agilidade, flexibilidade, força, equilíbrio e resistência). Corroborando com o esse resultado, o estudo de Ramos e Mansoldo (2007), visando verificar as alterações na massa óssea de 13 idosas submetidas a oito meses de hidroginástica não encontrou alterações significativas na densidade óssea das participantes. Ainda, o estudo de Ramos et al. (2007), após oito meses de hidroginástica não evidenciou mudança significativa na massa óssea da região do colo do fêmur. Uma atividade que vem mostrando bons resultados na prevenção e tratamento da perda de massa óssea são os exercícios resistidos, já que esse exercício proporciona uma contração muscular contra determinada resistência externa, que gera sobrecarga através de estímulos de tensão (BALSAMO; 2005), proporcionando aumento da massa muscular e óssea (LAUNSTEIN, 2006). De acordo com o estudo de Balsamo (2005), analisando os efeitos da musculação em idosas, ocorre diminuição da perda de massa óssea, acréscimo na massa muscular, na flexibilidade, na coordenação, na agilidade e no equilíbrio, sendo esses fatores responsáveis por melhorar o dia-a-dia dos idosos proporcionando autonomia acarretando a diminuição da possibilidade de fraturas decorrentes de quedas. Valer ressaltar que o estudo de CUNHA et al. (2011), relata que o treinamento aeróbico e de força pode promover acréscimo significativo na massa óssea (p<0,01).

CONCLUSÃO A atividade física tem sido apontada de forma importante na prevenção e manutenção da massa óssea, apresentando resultados positivos, ainda mais quando a atividade proporciona um estímulo de impacto e compressão maior, como é o caso dos exercícios resistidos. Nesse sentido, ao se prescrever exercício para as pessoas que possuem osteoporose é necessário analisar com cautela as condições que o aluno apresenta, pois os exercícios de baixa intensiva não são capazes de proporcionar o aumento da massa óssea, não sendo eficazes no tratamento.

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Efeito da Hipotensão Pós- Exercício em uma Sessão de Curta Duração com Exercícios Resistidos em Mulheres Hipertensas

Klécia De Farias Sena, Márcia Devânia Guedes Simões, Izabhelle Agra, Cenyra Torres, Alexandre Sergio Silva Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Brasil. [email protected]

RESUMO A prática de exercício resistido já tem sido demostrada capaz de promover redução da pressão arterial. No entanto estudos envolvendo efeito da hipotensão pós-exercícios (HPE), com exercícios resistidos de curta duração em pessoa hipertensa ainda é escasso. Dessa forma o objetivo do estudo foi avaliar o impacto de uma sessão com exercício resistido com apenas quatro exercícios na HPE de sujeitos hipertensos. Quatro mulheres de meia idade com sobrepeso ou obesidade (46,8± 2,1 anos; IMC 27,2± 3,8 kg/m2) realizaram uma sessão experimental com quatro exercícios (extensora, voador, flexora e pulley frente) que constou de três séries, quinze repetições, intervalo de noventa segundos entre as séries e exercícios e uma intensidade de 4-6 na escala de ONIM-RES. Nesta mesma sessão foi verificada frequência cardíaca no repouso e nas ultimas séries de todos os exercícios, a pressão arterial também foi aferida na condição de repouso, pós-exercícios e no período de recuperação. Após 48 horas foi feito a sessão controle, onde as voluntárias permaneceram durante 60 minutos na condição de repouso e a cada 10 minutos de intervalo foi aferindo a pressão arterial totalizando um período de 40 minutos. A sessão de treinamento foi capaz de promover uma demanda cardiometabólica como também redução significativa da pressão arterial sistólica dos 10 aos 30 minutos em relação ao valor de repouso deste grupo. Já pressão arterial diastólica reduziu 10mmHg mais não foi significativa em relação a de repouso. No grupo controle não ocorreu alteração da pressão arterial. Conclui-se que uma curta sessão com exercícios resistidos, 20 minutos, promoveu redução na pressão arterial sistólica pós-exercício.

Palavras-chave: exercício resistido; baixo volume, pressão arterial.

INTRODUÇÃO A prática do exercício físico tem sido considerada como um meio não farmacológico para indivíduos hipertensos, por promover controle e redução da pressão arterial (PA) (PESCATELLO, et al,. 2004, FORJAZ et al., 2006a).Já é um consenso que uma única sessão de exercício físico aeróbico pode promover queda pressórica abaixo dos valores observados no período pré- exercício, fenômeno denominado de hipotensão pós-exercício (HPE) podendo esse efeito durar horas subsequentes a sua realização (MACDONALD, et al 2002; PESCATELLO, et al., 2004). 37

Além do exercício aeróbico, o exercício resistido já vem sendo recomendado como parte do programa para indivíduos hipertensos, por proporcionar adaptações musculares, pulmonares, e cardiovasculares, influenciando sua capacidade de realizar atividades da vida diária (UMPIERE e STEIN 2007). Considerando os efeitos do treinamento com exercícios resistidos sobre a pressão arterial, uma meta-análise envolvendo indivíduos normotensos e hipertensos observou redução de -2 e - 4% nas pressões arteriais sistólica e diastólica, respectivamente.(KELLEY e KELLEY 2000).De modo semelhante, outra investigação mais recente verificou queda de -3,2 mmHg e -3,5 mmHg nas pressões arteriais sistólica e diastólica, respectivamente, após o treinamento resistido (CORNELISSEN e FAGARD, 2005). Pesquisas sobre a ocorrência de hipotensão pós-exercícios (HPE) em hipertensos que empregaram o modelo de exercício resistido, que tem demostrado eficácia na redução da pressão arterial. (MEDIANO, et al, 2005; MELO, et al.; 2006). Segundo Bermudes et al (2004) e Polito, Ferinatti, (2006) do efeito hipotensivo pós-exercício podem estar relacionado com volume e intensidade do exercício, que são fatores que possibilitam diferentes respostas no sistema cardiovascular, alternando de forma significativa a pressão arterial (PA). Em relação aos volumes, tem sido utilizados protocolos com volumes de moderados para alto, pelo menos três séries, com doze a vinte repetições e com seis a dez exercícios. (BERMUDES et al 2004; MELLO et al 2006) Segundo o American College of Sports Medicine (2007), American Heart Association (2007) e Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2010) recomendam-se uma prescrição de exercicio com intensidade leve a moderada. Estudos relatam que os exercícios resistidos de baixa e moderada intensidade promovem reduções significativas nos níveis pressóricos pós-exercício (TERRA et al., 2008; CARDOSO, et al; 2010). Em contrapartida, outro estudo aponta que o exercício resistido de alta intensidade não apresenta efeito hipotensor, além de expor as articulações a um alto impacto, mas eleva o ganho da força e hipertrofia muscular. (FORJAZ et al., 2003). Apesar de a intensidade estar sendo bem investigada, pouca atenção tem sido dada ao volume aplicado nas sessões de exercícios resistidos. Reduções significativas da pressão arterial são observadas em protocolos de volume moderado a alto (BEMUDES et al, 2004; MEDIANO et al, 2005; MELLO 2006; MUTTI et al, 2010). Desse modo sessões com poucos exercícios e duração tão pequenas quanto 20 minutos de treinamento ainda não foram investigados. Sendo assim, este presente estudo está conduzido a avaliar o impacto de uma sessão com exercício resistido de curta duração, com apenas quatro exercícios na hipotensão pós-exercício de sujeitos hipertensos.

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MÉTODOS Sujeitos do Estudo: participaram do estudo 04 mulheres hipertensas de meia idade e sobrepeso ou obesidade (46,8± 2,1 anos; IMC 27,2± 3,8 kg/m2). Elas eram fisicamente ativas. E todas utilizavam medicamentos anti-hipertensivos. Desenho do Estudo: os sujeitos realizaram uma única sessão com exercícios resistido que constituiu de quatro exercícios, sendo dois para os membros inferiores e dois para o membros inferiores, a sessão constou de 3 séries de 15 repetições, intervalo de 90 segundos entre as séries, com os sujeitos referindo entre 4 e 6 na escala de OMNI-RES. Medidas de frequência cardíaca (FC), e pressão arterial (PA) foram tomadas na condição do repouso e no período de 40 minutos de recuperação com um intervalo de 10 minutos. A FC também foi mensurada ao final de cada série. Após 48 horas foi realizada uma sessão controle Preparação dos sujeitos: antes da realização da sessão experimental a massa corporal e a estatura foram mensuradas e neste mesmo dia foi apresentada e explicada a escala de ONIM- RES para que não houvesse qualquer dúvida no momento que fosse referido. Sessão experimental: a sessão constou de quatro exercícios resistidos seguindo esta ordem de realização, extensora, voador, flexora e pulley frente, com 3 séries de 15 repetições, intervalo de 90 segundos entre as séries e uma intensidade estimada ente 4-6 na escala de OMIN-RES (GEARHART et al. 2009). Sessão controle: foi pedido para que as voluntárias permanecessem sentadas no período de 10 minutos para mensurar a FC e PA de repouso e logo após simulamos que estivessem realizado exercícios ficando na posição da realização do mesmo. Após 20 minutos, medimos a PA a cada 10 minutos em período de 40 minutos. Medidas de frequência cardíaca (FC) e pressão arterial (PA): Medidas de frequência cardíaca foram registradas na condição de repouso, e no final da ultima série dos exercícios. O monitoramento dos batimentos cardíacos foi obtido através do método palpatório na artéria braquioradial. As medidas de PA foram verificadas ao final dos 10 minutos de repouso, ao final da sessão dos exercícios resistidos e a cada 10 minutos durante do período de recuperação. Será utilizado o método auscultatório, com um estetoscópio Missouri (Embu, Brasil) e um esfigmomanômetro de mesma marca previamente calibrado contra uma coluna de mercúrio (SBC, SBH, SBN, 2010). Análise estatística: Os dados foram inicialmente analisados quanto normalidade e homogeneidade por meio dos testes de Levine e Shapiro-Wilks. Em seguida, foram aplicados teste T independente de uma via para comparação das condições basais nos dias de procedimentos e ANOVA de duas vias para medidas repetidas para avaliar possíveis diferenças na pressão arterial. Foi usado o software Instat 3.0 (GraphPAd Instat, San Diego, CA, USA)

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RESULTADOS

Dados antropométricos e cardiovasculares estão apresentados na Tabela 1 onde podemos observar que todas as mulheres eram de meia idade e com sobrepeso ou obesidade. Todas usavam medicação anti-hipertensiva, não modificaram suas medicações para o estudo e tinham a pressão arterial controlada. As condições hemodinâmicas de repouso nos momentos anteriores ao procedimento experimental e controle não diferiram entre si.

Tabela1: Características antropométricas e cardiovasculares das voluntarias em condição de repouso

Experimental Controle P Idade (anos) 46,8±2,1 Peso (Kg) 62,6±7,1 Estatura (m) 1,5±0,1 IMC (Kg/m2) 27,3±3,8 FCR (bpm) 77,0±6,2 75,0±3,8 0,60 PAS (mmHg) 129,5±11,8 116,5±18,2 0,27 PAD (mmHg) 87,5±15,9 82,5±8,9 0,62 Dados de média e desvio padrão da média. IMC= Índice de massa corporal; FCR= Frequência cardíaca de repouso; PAS= Pressão arterial sistólica; PAD= Pressão arterial diastólica; p(<0,005)

A sessão de treinamento foi capaz de promover uma demanda cardiometabólica, a julgar pelo significativo aumento da frequência cardíaca de repouso para o exercício na sessão experimental. Este valor pós – exercício da sessão experimental também foi significativamente maior que a frequência cardíaca ao final dos 20 minutos em que as mulheres permaneceram em repouso na sessão controle. Estes dados estão apresentados na figura 1

Figura1: Valores da Frequência cardíaca da sessão experimental e controle. FCR= Frequência cardíaca de repouso, FCT= Frequência cardíaca de treino, FCC= Frequência cardíaca do controle. * indica diferença significativa em relação à frequência cardíaca de repouso. 40

A pressão arterial sistólica do procedimento experimental promoveu redução significativa dos 10 aos 30 minutos em relação ao valor de repouso deste grupo. No entanto em nenhum momento a pressão arterial sistólica da sessão experimental diferiu do controle.

Figura 2: Comportamento da pressão arterial sistólica nos procedimentos experimental e controle. * diferença estatística em relação da condição repouso ao período de recuperação em 10, 20 e 30 minutos.

Já para a pressão arterial diastólica houve uma queda de 10 mmHg, mas que não o suficiente para ser estatisticamente diferente do valor de repouso. Como também não houve diferença entre os valores do procedimento controle em nenhum dos momentos.

Figura 3: Comportamento da pressão arterial diastólica nos procedimentos experimental e controle.

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DISCUSSÃO No presente estudo, observou-se que uma única sessão com exercícios resistidos de baixo volume foi capaz de promover uma demanda cardiometabólica, como a redução da pressão arterial sistólica pós-exercício na sessão experimental, não ocorrendo esta redução quando comparada a sessão controle. Este achado corrobora com a literatura que assegura que o exercício resistido baixo volume, apenas uma série, reduziu a PAS em apenas na quarta medida após o treinamento em idosos hipertensos, fisicamente ativos, mas sem experiência previa neste tipo de exercício, (MEDIANO et al, 2005; QUEIROIZ et al, 2010).Esta redução da pressão arterial (sistólica e diastólica) após a atividade física é tida como uma das principais intervenções não- farmacológicas de controle da PA, principalmente em indivíduos hipertensos(HALLIWILL, 2001). Nesse sentido, quanto maior a magnitude e, principalmente, a duração da HPE, melhor o efeito do exercício sobre a saúde cardiovascular do praticante. Além disso, parece que a sucessão continuada desse comportamento hipotensivo após o esforço repercute cronicamente sobre a PA de repouso, tornando-a mais reduzida que aquela observada na condição pré-treinamento (MACDONALD, 2002) A ausência dessa diferença estatística em relação a sessão experimental pode ser explicada pela baixa pressão arterial de repouso apresenta pelos sujeitos na sessão controle. Como foi demonstrada na figura 2, a sessão experimental promoveu uma razoável redução da pressão arterial sistólica. No entanto, os valores caíram para apenas o que foi apresentado na sessão controle, justamente por nesta sessão a pressão arterial já ter iniciado de valores bem mais baixos em relação ao procedimento experimental. A redução da pressão sistólica e diastólica cai aproximadamente de 20mmHg e 10mmHg respectivamente. Comparando esses resultados com a literatura observamos que os valores do nosso estudo são similares e ou maiores que outros estudos com exercícios resistidos (MEDIANO et al, 2005; MUTTI et al, 2010). Contudo, os dados deste estudo estimulam sessões de curta duração e poucos exercícios como provavelmente capazes de promover melhoria da pressão arterial de hipertensos. No entanto, a ausência de significância na redução da pressão arterial pode ter sido a causa de uma amostra pequena, de modo este é mais um dado que estimula a continuação desta linha de pesquisa, para que no futuro se possa afirmar com mais precisão e pertinência qual é o verdadeiro papel de exercícios resistidos de curta duração no tratamento anti- hipertensivo.

IMPLICAÇÕES PRÁTICAS No presente estudo mostramos que treino com curta duração pode ser capaz de promover a redução da pressão sistólica, em mulheres hipertensas. Exercícios de curta duração proporcionam vantagem de ser mais estimulante para pessoas previamente sedentárias, além de ser muito mais segura para este tipo de pessoas.

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Resposta Glicêmica Aguda em Diabéticos Obesos Submetidos ao Exercício Aeróbio, Resistido e Combinado

Savanna Moreira de Farias, Francisca Márcia Paulo Marques, Naiane Ferraz Bandeira Alves, Suênia Karla Pacheco Porpino Faculdades Integradas de Patos – FIP Patos, PB, Brasil, [email protected]

RESUMO

Introdução: A prática regular de exercício físico aeróbio e resistido promove uma série de benefícios no controle glicêmico, como por exemplo a diminuição da glicemia após o exercício. No entanto, ainda não se sabe se o exercício combinado potencializa esses benefícios em indivíduos diabéticos obesos. Objetivo Principal: Comparar o efeito agudo do exercício aeróbio, resistido e combinado na resposta glicêmica em idosos portadores de diabetes mellitus II obesos. Material e Métodos: Sete sujeitos diabéticos obesos de ambos os sexos, (59 ± 2,6 anos; 32 ± 1 kg/m2), praticantes de exercício físico, foram submetidos a uma sessão de exercício aeróbio (EXA), uma sessão de exercício resistido (EXR) e uma sessão de exercício combinando aeróbio e resistido (EXC) com duração de 50 minutos. As medidas glicêmicas foram verificadas na condição de repouso (10 minutos antes de cada sessão), e imediatamente após a finalização de cada sessão. Resultados e discussão: Observou-se uma redução significativa na resposta aguda glicêmica imediatamente após três tipos de exercício em relação à condição repouso, sendo no EXA 186 ± 11 vs. 123 ± 12; (p < 0,05), no EXR 208 ± 16 vs. 177 ± 17; (p < 0,05) e no EXC 190 ± 21 vs. 145 ± 19; (p < 0,05). Não foram encontradas diferenças significativas (p>0.05) em relação à magnitude da redução glicêmica nos três procedimentos encontrados. Conclusões: Concluímos que tanto o EXA, quanto o EXR e EXC são capazes de promover agudamente redução da glicemia em indivíduos diabéticos. Adicionalmente, destacamos que uma sessão de EXA e uma sessão de EXR realizados isoladamente promovem redução da glicemia de magnitude semelhante quando comparada a uma sessão de EXC.

Palavras-chave: diabetes mellitus, exercício físico, glicemia.

INTRODUÇÃO A diabetes mellitus (DM) é uma doença crônico-degenerativa de grande prevalência que se caracteriza por uma desordem metabólica do organismo (COELHO; WECHSLER; AMARAL, 2008). Esta patologia pode ocorrer por um distúrbio no metabolismo dos carboidratos caracterizado como hiperglicemia que é o aumento excessivo da concentração de glicose no sangue, como também, pela resistência ou deficiência da secreção de insulina, hormônio responsável pela metabolização da glicose (SARTORELLI; FRANCO, 2003; COELHO; WECHSLER; AMARAL, 2008). Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, os tipos mais comuns são a diabetes mellitus tipo I (DM I) e diabetes mellitus tipo II (DM II). Uma das formas para o controle da DM II está relacionada com modificações no estilo de vida, como por exemplo, 45 reeducação alimentar e prática regular de exercícios físicos (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2000). A prática regular de exercício físico promove uma série de benefícios no controle da glicemia, como o aumento da captação muscular de glicose, melhorando a sensibilidade à insulina, a tolerância à glicose, a diminuição da glicemia e a resposta glicêmica (ARAÚJO; BRITO; CRUZ, 2000; GUIMARÃES; TAKAYANAGUI, 2002; FERNANDES et al., 2005). Outra forma de execução de exercício físico na atualidade é o exercício combinado, que tem como principal característica a combinação de exercício aeróbio com exercícios resistido (ANDRADE; LAITANO; MEYER, 2005). Estudos apontam que exercício aeróbio promove uma melhora na resposta glicêmica em indivíduos diabéticos (FERNANDES et al..; ARSA, 2008). No estudo de Cambris et al., (2007) foi avaliada a glicemia capilar antes e após uma sessão de exercício aeróbio, e observou-se uma redução significativa de 190 para 155 ml\dl na glicemia, comprovando assim a relevância do exercício físico para o controle agudo na glicemia. Em outro estudo, Cambris e Santos (2006) encontraram que uma sessão de exercício resistido apresentou diminuição significativa na glicemia de 191 para 153 ml\dl, confirmando mais uma vez os benefícios do exercício para sujeitos portadores de DM II. Ainda não foi encontrado na literatura estudos que mostrem a resposta glicêmica em indivíduos diabéticos obesos após a prática de exercício combinado. Como na atualidade é comum encontrar portadores de DMII nas academias que associam a prática de exercícios aeróbios com exercícios resistidos, torna-se importante identificar variações na resposta glicêmica em sujeitos diabéticos após a realização de exercício combinado. Portanto, o objetivo deste estudo é verificar o efeito agudo imediato do exercício aeróbio, resistido e combinado na resposta glicêmica indivíduos diabéticos obesos.

MÉTODOS Sete sujeitos diabéticos obesos de ambos os sexos (59 ± 2,6 anos; 32 ± 1 kg/m2), participantes de um Programa de Exercícios Físicos na cidade de Patos (PB). Os sujeitos deveriam ser praticantes de exercícios assiduamente a pelo menos seis meses. Foram excluídos os sujeitos que apresentassem problemas ortopédicos (dor ou limitação) ou que fosse portador de pé diabético com ferida em tratamento. Os sujeitos foram submetidos a três procedimentos de exercícios com intervalo com duração de 50 minutos cada um e com intervalo de 48 horas entre cada sessão: exercício eróbio (EXA); exercício resistido (EXR) e exercício combinado (aeróbio + resistido; EXC). Os mesmos foram orientados a não realizarem exercício físico nas ultimas 24 horas que antecedessem as sessões, e que realizassem sua ultima refeição no mínimo 2 horas antes das sessões. Inicialmente os sujeitos realizaram uma anamnese para verificação das variáveis antropométricas: 46 peso e estatura. Em seguida realizaram alongamento e um teste de 15 repetições máximas (15RM) para determinar a carga ideal para cada exercício que seria realizado na sessão EXR. Após 48 horas à realização do teste de 15RM deu-se início aos procedimentos do estudo. A primeira sessão foi composta pelo EXA, sendo realizada uma caminhada em esteira (marca movimento) com intensidade de 50 a 70% da freqüência cardíaca máxima, conforme proposto por Karvonen (1957). Para o cálculo da freqüência cardíaca máxima foi utilizada a equação de Tanaka (2001). Durante as sessões os sujeitos foram acompanhados e monitorados pelos pesquisadores. A segunda sessão realizada foi o EXR que foi composto por três séries de 10 repetições, com intervalo de recuperação de 60 segundos entre as séries, sendo esses exercícios alternados por segmento: cadeira extensora (quadríceps - reto da coxa, vasto medial, lateral e intermédio), voador (peitoral maior, coracobraquial e cabeça curta do bíceps braquial), flexão de joelho (bíceps femoral, semitendinoso e semimebranoso), desenvolvimento (deltóide), abdução (glúteo máximo e glúteo médio), rosca direta (bíceps braquial), flexão plantar (gastrocnêmio lateral e medial e sóleo) e tríceps pulley (tríceps braquial). A terceira sessão foi composta por EXC (resistido + aeróbio), iniciando com o EXR (extensão de joelho, voador, flexão de joelho, abdução, rosca direta e tríceps pulley). Logo em seguida, foi realizado o EXA em esteira ergométrica, com duração de 30 minutos e intensidade de 50 a 70% da freqüência máxima. Para a medida da glicemia foi utilizado o glicosímetro da marca (Accu-Chek ®Softclix), o qual é composto por um aparelho monitor de glicemia, um lancetador, lancetas e tiras reagentes com a função de absorver o sangue. Para higienização foi utilizado álcool a 70% e algodão antes da perfuração do dedo. O procedimento foi realizado de acordo com as normas da Sociedade Brasileira de Diabetes. A primeira medida foi realizada após 10 minutos de repouso e a segunda, imediatamente, após a realização de cada sessão. Foi realizado o teste de Smirnov-Kolmogorov para testar a normalidade dos dados. Os dados foram apresentados com média e erro-padrão da média. Foi realizado o teste ANOVA one- way para verificar diferenças entre os três procedimentos investigados e o Teste t student para identificar diferenças significativas entre as condições de repouso e imediatamente pós-exercício. Para isso, foi considerado um nível de confiança de 95%. Foram utilizados os softwares GraphPadInstat versão 3.0 e GraphPadPrism versão 5.0 (GraphPad, La Rolla, Ca, EUA) para análises estatísticas e plotagem dos gráficos, respectivamente. Antes de se submeterem aos procedimentos do estudo, os sujeitos foram esclarecidos quanto aos riscos e benefícios de sua participação e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, concordando em participar dos procedimentos propostos em nossa metodologia, conforme Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Integradas de Patos sob o protocolo 066/2012.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO A figura 1 apresenta a resposta aguda glicêmica em indivíduos diabéticos após a sessão de EXA, EXR e EXC. Podemos observar que nos três procedimentos realizados os individuos estavam com os valores glicêmicos acima do considerado normal. Porém, imediatamente após cada procedimento esses valores já estavam estatísticamente menores em relação à condição repouso (p<0,05).

Figura 1: resposta glicêmica no repouso (PRÉ) e imediatamente após (PÓS) uma sessão de exercício aeróbio (EXA); uma sessão de exercício resistido (EXR) e uma sessão de exercício combinado (EXC). Valores são apresentados como média ± erro-padrão da média; * indica diferença significativa em relação a condição repouso (p< 0.05)

Na figura 2 podemos verificar a magnitude da redução dos níveis glicêmicos nos procedimentos EXA, EXR e EXC. É importante destacar que, embora a redução da glicemia tenha sido estatisticamente significativa (p< 0,05) em relação à condição repouso nos três procedimentos realizados, o teste estatístico não revelou diferenças significativas quando foram comparados os três procedimentos do estudo.

Figura 2: magnitude da redução dos níveis glicêmicos nos procedimentos EXA (exercício aeróbio); EXR (exercício resistido); EXC (exercício combinado). Valores são apresentados como média ± erro padrão da média. 48

Diante dos resultados apresentados, verifica-se a importância do exercício físico na melhora da resposta glicêmica em indivíduos diabéticos. A literatura aponta que os exercícios de baixa e média intensidade e longa duração como os exercícios aeróbios são os mais indicados no tratamento da DM, pois atuam positivamente na diminuição dos níveis de glicose circulante no sangue, bem como na produção de insulina (PITANGA, 2004). Segundo Powers e Howley (2000), a prescrição de exercícios aeróbios para DM II deve ter a freqüência de cinco a sete vezes por semana e intensidade correspondente a 50% do VO2 máximo, a fim de assegurar aumento da sensibilidade à insulina e a perda ou manutenção do peso corporal. No estudo de Cambris et al., (2007) avaliaram a glicemia capilar antes e após uma sessão de exercício aeróbio, observaram que ocorreu redução significativa de 190 para 155 ml\dl na glicemia, comprovando a relevância do exercício físico para o controle agudo na glicemia. Pode-se notar que tem sido recomendada a realização de exercícios aeróbios para indivíduos com DM. No entanto, estudos recentes têm demonstrado que o exercício resistido também é benéfico no controle glicêmico de diabéticos do tipo II (CIOLAC; GUIMARÃES, 2004). Tuomilehto et al., (2001) demonstraram que a realização de pelo menos quatro horas semanais de atividade física moderada a alta diminuiu, em média, 70% a incidência de DM II, em relação as pessoas que não praticam exercícios físicos. Cambris e Santos (2006) mostraram em seu estudo que uma sessão de exercício resistido apresentou resposta significativa na glicemia de 191 para 153 ml\dl, confirmando mais uma vez os benefícios do exercício físico para sujeitos portadores de DM II. Podemos observar que tanto os exercícios aeróbios como os resistidos apresentam resposta significativa na redução da glicemia. Outra forma de beneficio para essa população é a combinação do exercício aeróbio com o resistido. Segundo Sigal et al., (2007), a realização de treinamento aeróbio e resistido 4 isoladamente apresentou controle da glicemia em apenas 38% dos diabéticos, em quanto que o que realizou exercícios combinados obteve uma melhoria na glicemia em 46% dos diabéticos. Adicionalmente, a obesidade associada à diabetes em nosso estudo não foi um fator limitante para redução da glicemia nos indivíduos, sendo necessários novos estudos investigando essas variáveis. Contudo, podemos ressaltar que neste estudo analisamos apenas o efeito agudo imediato em apenas uma sessão. Mas estudos futuros serão realizados em nosso grupo de pesquisa analisando efeito agudo tardio e crônico.

CONCLUSÃO Podemos concluir que tanto exercício aeróbio, quanto exercício resistido são capazes de promover, agudamente, redução da glicemia em indivíduos diabéticos. Adicionalmente, destacamos que uma sessão de exercício aeróbio e uma sessão de exercício resistido realizados 49 em dias diferentes promovem redução da glicemia de magnitude semelhante quando comparada a uma sessão de exercício combinado.

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Efeitos de uma Sessão de Vídeo Game Ativo Sobre a Demanda Cardiovascular

Mariucha Waleska da Silva Lima, Felipe Joaquim de Oliveira Barbosa, Lucas Emmanuel Vasconcelos de Oliveira, Max Well Pereira de Oliveira, Guilherme Leadebal Bonifácio Dias. Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil [email protected]

RESUMO

Introdução: Recentemente tem surgido no mercado uma nova classe de jogos de vídeo cuja tecnologia combina videogame e exercício físico, utilizando dispositivos de interação física com o usuário, são os chamados “Exergames”, ou jogos ativos. Existem evidências que sugerem que os jogos ativos promovem um maior gasto calórico quando comparados aos jogos sedentários. No entanto, respostas cardiovasculares promovidas por este tipo de jogo ainda não estão bem elucidadas na literatura. Objetivo: Investigar se uma sessão de Nintendo Wii™ é capaz de promover alterações significativas na frequência cardíaca. Métodos: A amostra foi composta por nove sujeitos jovens, normotensos de ambos os gêneros com faixa etária de 18 a 28 anos, submetidos a dois protocolos. No primeiro foi realizada uma sessão de 60 minutos de jogo no vídeo game ativo Nintendo Wii™, e no segundo uma sessão controle sem exercício físico. Medidas de frequência cardíaca (FC), foram feitas antes e durante as sessões a cada 10 minutos. Resultados: Os valores encontrados de FC durante o jogo variam de 92.2 ± 15,8 bpm a 107.7 ± 16,8 bpm enquanto os valores encontrados no protocolo controle foram de 72 ± 7,8 bpm a 76.4 ± 9,8 bpm Conclusão: Uma sessão de jogo no vídeo game ativo Wii Sports™, é capaz de promover um aumento na demanda fisiológica, julgada pelo aumenta da frequência cardíaca em comparação ao estado de repouso.

Palavras – chave: Frequência cardíaca. Jogos de vídeo. Exercício físico.

INTRODUÇÃO

Os jogos de vídeo em todo o mundo tem se tornado um dos passatempos mais populares, podendo ser utilizado por indivíduos de todas as idades. Entretanto, ainda que seja uma forma de lazer acessível à maioria da população, sua prática, a princípio, sinaliza uma distanciação das práticas esportivas nas novas gerações (ARAÚJO et.al. 2011). Esse tipo de tecnologia tem se apresentado como uma ferramenta estimulante para o sedentarismo, tendo em vista que não induz a prática de exercícios físicos, mas coloca o indivíduo sob um maior tempo inativo nas horas de lazer e traz dessa forma males a saúde de seus praticantes, conforme apontam os estudos de 51 base epidemiológica, que normalmente associam os jogos eletrônicos à dependência psíquica ou à inatividade física (ABREU et. al. 2008), (MARK e JANSSEN, 2008) e (SETZER, 2008). Os jogos de video game tradicionais como o Sony Playstation ® versão 2 (San Mateo, CA, EUA) são jogados sentados, portanto, não estimulam o gasto calórico diário de um individuo além de acentuar o sedentarismo pela demanda de tempo na frente da televisão (GRAVES, 2007). Pesquisa têm mostrado que crianças e adultos, em diferentes sociedades, por dia têm disponibilizado mais tempo para assistir televisão, jogos de vídeo e dormir do que para a prática de exercício físico (COLLIS, 2001; CRESPO, 2001; FOTHERINGHAM, 2000). Estudo prévio aponta que 45% da população adulta norte-americana se utilizam de jogo de vídeo sedentário como ferramenta recreacional (WORLEY, 2011). A indústria da tecnologia, preocupada com o aumento de doenças relacionadas ao sedentarismo, e com a influência da mídia para essa redução, tem proporcionado mudanças consideráveis e uma grande evolução no mundo dos jogos de video game (UNNITHAN, 2005). Apesar dos jogos de vídeo sedentário ainda serem muito frequentes, tem se desenvolvido tecnologias de sensoriamento combinando videogame e exercício físico utilizando dispositivos de interação física com o usuário, chamados de “Exergames” (EXG), jogos que também podem ser usados como exercício físico (BOGOST, 2005 apud SOUZA, 2011). O primeiro modelo deste jogo foi o Wii™ (Nintendo, Kyoto, Japão). Depois, a Microsoft e a Sony adaptaram seus jogos inativos para esta tendência de jogos ativos. Nestes jogos, o praticante substitui o joystick por instrumento que o obriga a realizar as ações dos jogos virtuais como se estivessem de fato praticando-as. Diante da evolução dos jogos sedentários para ativos, pesquisadores envolvidos com exercício físico logo passaram a estudar as possibilidades fisiológicas deste jogo. Graves, et. al, (2007) comparam o gasto energético total entre o jogo sedentário no XBOX 360, e ativo através de jogos de boliche, boxe e tênis encontrados no WiiTM. Como resultado, verificaram que nos 3 jogos ativos o gasto calórico total foi 51% maior do que no jogo sedentário apresentando diferença estatística apenas entre o jogo sedentário (125,5±13,7kj/kg/min) e o tênis (202,5±31,5 kj/kg/min). Em estudo realizado com 22 crianças e 20 adultos comparou o Nintendo Wii™ com jogos de vídeo game sentados. Os resultados mostraram que o Wii™ tem um potencial de aumentar o gasto diário de energia (FOSTER, 2009). Worley (2011), realizou um estudo com 8 mulheres jovens e saudáveis com diferentes níveis de jogo utilizando o Wii™. O resultado demonstrou que o nível intermediario de um dos jogos do Wii™ produziu um maior gasto energetico e estresse metabolico do que o equivalente uma caminhada com velocidade de 3,5 m/s proposta pelo ACSM (MADDISON, 2007). Embora várias pesquisas tenham comparado o perfil de jogos de vídeo game ativo e sedentário, e que o resultado destas sugira que o vídeo game ativo promova um maior gasto calórico em relação ao sedentário, podendo ser indicado como uma forma de atividade física, não está bem esclarecido na literatura o efeito desse tipo de jogo nas respostas cardiovasculares. 52

Com base nessa lacuna, este estudo tem por objetivo investigar se uma sessão de Nintendo Wii™ é capaz de promover alterações significativas na frequência cardíaca.

MÉTODOS

Sujeitos do estudo Participaram do estudo cinco sujeitos jovens, normotensos de ambos os gêneros com faixa etária de 18 a 28 anos. Foram adotados como critério de exclusão: 1) o uso de medicamentos betabloqueadores; 2) não ser previamente praticante do jogo de tênis em videogame ativo. Os sujeitos estiveram orientados a não ingerir alimentos contendo cafeína e nem bebida alcoólica a pelo menos 48 horas antes das sessões de exercício. Após serem esclarecidos todos os procedimentos os sujeitos estiveram orientados a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

Desenho do estudo Os sujeitos foram submetidos a dois protocolos, sendo um com 60 minutos de jogo no vídeo game ativo (Nintendo Wii™), e uma sessão controle onde os indivíduos permaneceram sentados durante 60 minutos. Antes de cada protocolo, o indivíduo permanecia sentado por 20 minutos e logo após era verificada sua frequência de repouso. As sessões foram escolhidas de forma aleatória havendo um intervalo de 48h entre elas. Medidas de frequência cardíaca foram feitas durante as sessões a cada 10 minutos.

Adaptação ao jogo Os sujeitos participaram de um período de adaptação ao Nintendo Wii™ com duração de 20 minutos para que pudessem se familiarizar com o método aplicado e com o jogo Wii Sports™ Tênis. Durante as sessões, os participantes foram orientados da maneira correta de como manusear os controles com sensores de aceleração.

Protocolo do jogo do Wii Sports™ no Nintendo Wii™ Os sujeitos foram submetidos a uma sessão de jogo utilizando o vídeo-game Nintendo Wii™ com o jogo Wii Sports™ na modalidade Tênis. Durante a sessão, os sujeitos jogaram partidas de tênis durante 60 minutos. O jogo foi pré-programado para jogos em melhor de cinco games, para minimizar as interrupções entre o final do jogo e a preparação para o próximo.

Protocolo da Sessão Controle

Nesta sessão os sujeitos seguiram os mesmos procedimentos da sessão anterior, porém, não estavam submetidos a nenhum tipo de exercício físico, permanecendo sentados durante os 60 minutos. 53

Registro da Frequência Cardíaca

Os sujeitos foram instrumentados com o monitor cardíaco da marca Polar, modelo RS800cx (Polar ElectroOy, Kempele, Finland) e permaneceram sentados por 20 minutos para que pudesse ser mensurada a freqüência cardíaca de repouso. Após o início de cada protocolo a frequência cardíaca era monitorada a cada 10 minutos. Para a determinação da zona de frequência cardíaca será utilizada a equação proposta por Karvonen et. al (1957):

FCT = FCR+ i%(FCM-FCR),

FCT= frequência cardíaca de treinamento; FCR = frequência de repouso;

FCM = frequência cardíaca máxima; i% = intensidade do treino

Análise estatística

A análise estatística foi realizada a partir do software GraphPad Instat (versão 3.06, 32 bit para Windows). Previamente à análise, a normalidade homogeneidade dos dados foram testada por meio dos testes de Levene e Shapiro Wilk respectivamente. Comparação da frequência cardíaca nos dois protocolos foi feito por meio do teste de ANOVA Two Way (frequência cardíaca e momentos como fatores). Em todas as análises foi considerado um nível de significância de 5%. Os dados são média e desvio padrão da média.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na figura 1 estão representados os resultados obtidos para comportamento da frequência cardíaca (FC) nos dois protocolos. Os valores encontrados de FC durante o jogo variam de 92.2 ± 15,8 bpm a 107.7 ± 16,8 bpm enquanto os valores encontrados no protocolo controle foram de 72 ± 7,8 bpm a 76.4 ± 9,8 bpm A análise estatística demostrou haver resultado extremamente significativo aos 30 minutos do exercício no protocolo do jogo Wii™ em relação a frequência de repouso do mesmo ( p < 0.001). Quando comparado o repouso do protocolo controle com as medidas de FC do protocolo Wii foram encontradas diferenças significativas em todas as medidas (p < 0.05)

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Comportamento da frequência cardíaca

Figura I. Momentos de medidas da frequência cardíaca (FC) no repouso e a cada 10’ durante uma hora, nos procedimentos wii e controle. * representa diferença significativa entre as medidas dentro do mesmo procedimento p<0,001. # representa diferença estatística entre as medidas do protocolo controle e do protocolo wii p< 0.05.

O objetivo deste estudo foi confirmar ou não a hipótese de que uma sessão de jogo no vídeo game ativo, Nitendo Wii™, poderia aumentar a FC, e determinar assim o efeito deste tipo de jogo nas respostas cardiovasculares. Os resultados desta pesquisa confirmam essa hipótese quando apontam aumentos significativos na FC durante o jogo comparado com a frequência de repouso. Em concordância com este estudo, Penko (2012) avaliou os aspectos fisiológicos do jogo de boxe do Wii Sports™ em comparação ao jogo de vídeo game sedentário e apontou um resultado significativo na FC, a análise desse estudo revelou que o principal efeito da condição de atividade foi devido a um aumento significativo na FC progressiva a partir de repouso. Outra pesquisa realizada com 23 crianças mensurando o gasto energético promovido por jogos de vídeo game ativo, indicou que a FC foi maior durante o jogo de boxe no Wii Sports™ do que uma caminhada na esteira em relação à frequência de repouso. (GRAF et. al. 2009). Embora os dados revelados nesta pesquisa indiquem um aumento significativo na FC durante o jogo, a média de frequência atingida pelos participantes não se enquadrou na zona de treinamento adequada, 60 a 80% da FC máxima, tomando por base a equação proposta por Karvonen. Esse dado nos permite sugerir que uma sessão de vídeo game ativo, se praticada dentro da zona de treinamento adequada, poderia promover não apenas um maior aumento da FC, como também outros benefícios à saúde. É preciso, no entanto, esclarecer que ainda que tenha sido notado aumento na FC, este aumento é muito pequeno em relação ao que se pode obter com exercícios físicos ou recreativos. 55

Deste modo, os dados deste estudo indicam que jogar vídeo games ativos é melhor que jogar os vídeo games tradicionais, porém, o vídeo game ativo não substitui os exercícios, brincadeiras, atividades esportivas e recreativas que crianças e adolescentes podem e devem praticar.

CONCLUSÃO Apesar de os participantes da pesquisa não terem atingido nem mesmo 60% da frequência cardíaca máxima, durante o protocolo do jogo Wii Sports™, conclui-se que uma sessão desse jogo é capaz de promover alterações nas respostas cardiovasculares, aumentando significativamente a frequência cardíaca em comparação ao protocolo controle sem exercícios.

REFERÊNCIAS

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A Influência da Velocidade de Execução dos Exercícios na Intensidade do Treinamento Resistido

Gilmara Gomes Oliveira, Antônio Luiz Maia Rebouças, Gustavo da Silva Félix, Reabias de Andrade Pereira, Alexandre Sérgio Silva Universidade Federal da Paraíba - João Pessoa, Paraíba-PB [email protected]

RESUMO

Introdução: A velocidade de execução do exercício influencia diretamente na intensidade do treinamento podendo afetar as adaptações neurais, metabólicas e hipertróficas do músculo, porém, na literatura pouco se encontra a seu respeito na intensidade do exercício. Objetivo Principal: investigar a influência da velocidade de execução dos exercícios na intensidade do treinamento resistido. Materiais e Métodos: trinta sujeitos, com faixa etária de 19 a 27 anos, sendo 15 do gênero masculino, praticantes musculação a mais de um ano. Os sujeitos realizaram em diferentes sessões de treino uma série de repetições máximas no supino plano e no leg 45º, respectivamente, em três velocidades de execução distintas: habitual dos sujeitos, 2020 e 4020, com o auxílio de um metrônomo e um cronômetro. Para analisar possíveis diferenças na variação do número de repetições entre cada procedimento foi utilizado o teste t de Student para amostras emparelhadas e para diferenças nos resultados entre os gêneros.Resultados e Discussão: A análise dos dados evidenciou diminuições significativas (p=0,000) no número de repetições na execução do supino e leg 45o nas velocidades 2020 (34% e 34,6%) e 4020 (56,6% e 55,5%) quando comparadas à velocidade habitual dos sujeitos. O gênero feminino realizou um número de repetições 15% maior no supino (p<0,05) que o masculino apenas na velocidade habitual. Já no leg 45o as mulheres realizaram um número de repetições significativamente (p≤0,05) maior em todas as velocidades testadas. Por fim, quando comparados os exercícios executados, o número de repetições foi maior no leg 45o que no supino, 35%, 15,5% e 18,57% respectivamente nas VH, V2020 e V4020. Conclusões: A velocidade de execução influencia na intensidade dos exercícios reduzindo significativamente o número de repetições independente do gênero ou do tipo de exercício executado e, deve ser levada em conta na elaboração de um programa de exercícios resistidos.

Palavras chave: treinamento resistido, velocidade e intensidade.

INTRODUÇÃO

O treinamento resistido tem sido muito estudado por atender a diversos objetivos de diferentes faixas etárias que vão desde a manutenção e melhoria da resistência muscular localizada e da força a incrementos na potência e na massa muscular (CHIESA, 2002; GENTIL, 2005).Uma sessão de treinamento resistido deve ser montada basicamente utilizando-se como variáveis a seleção, o número e a ordem dos exercícios, as séries e repetições, a carga, o intervalo de repouso e a velocidade de execução dos exercícios (FLECK; KRAEMER, 2006). 58

Entretanto, Pereira; Gomes (2003), afirmam que quando se fala dos procedimentos para montar um programa de treinamento resistido à velocidade de execução raramente é citada e que os estudos que investigam o efeito de diferentes velocidades de movimento no treino apresentam discordâncias. Enquanto alguns estudos indicam que a execução lenta de movimentos é melhor que a rápida (CAIOZZO; PERRINE; EDGERTON, 1981; WESTCOTT et al, 2001), outros afirmam que a execução com velocidade alta é mais eficiente, (FARTHING; CHILIBECK, 2003; SHEPSTONE et al, 2005), e mais alguns afirmam que não há diferenças significativas entre as velocidades (EWING et al , 1990; KANEHISA, MIYASHITA, 1983).

Para (UCHIDA et al, 2006; BOMPA; CORNACCHIA, 2000) o treino de hipertrofia muscular deve ser realizado com velocidade lenta, sendo mais indicado 4020 (quatro segundos na fase excêntrica seguidos por dois segundos na fase concêntrica) e 2020 (dois segundos excêntricos seguidos por dois segundos concêntricos), pois para esse objetivo sugere-se mais tempo sob tensão muscular, o que resulta em aumento na intensidade e maior estímulo para hipertrofia.

Além disso, a maior parte dos estudos (CAIOZZO; PERRINE; EDGERTON, 1981; EWING et al, 1990; FARTHING; CHILIBECK, 2003; KANEHISA; MIVASHITA, 1983; SHEPSTONE et al, 2005; WESTCOTT et al, 2001) sobre velocidade tem investigado a sua influência nos resultados dos treinos de força e de hipertrofia e quando se trata do impacto desta nas variáveis de treinamento, principalmente no número de repetições, pouco se encontra. Todavia, é consenso que a velocidade de execução influencia diretamente na intensidade do treinamento podendo afetar as adaptações neurais, metabólicas e hipertróficas do músculo (FLECK; KRAEMER, 2006; GENTIL, 2005; ACSM, 2002).

Diante disto, este estudo tem como objetivo investigar os efeitos da velocidade de execução dos movimentos na intensidade do treinamento resistido. Para tanto se pretende verificar o número de repetições máximas que os participantes executam com uma mesma carga em três velocidades distintas: a velocidade rotineiramente utilizada nos treinamentos, velocidade de execução 2020 e 4020.

MÉTODOS

Sujeitos do Estudo: participaram do estudo 30 jovens com faixa etária de 19 a 27 anos, sendo 15 do gênero masculino, praticantes exclusivos de musculação há pelo menos um ano objetivando hipertrofia muscular. Assim foram selecionados os sujeitos que se dispuseram de forma voluntária a participarem do estudo, mediante consentimento por escrito, conforme resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. 59

Protocolo de cadência: para a coleta de dados foi utilizado um cronômetro da marca TIMEX do tipo digital com precisão de centésimos de segundo, para marcar o tempo em que os sujeitos realizavam cada fase da repetição e o tempo total da série. Também foram utilizados um metrônomo mecânico da marca WITTNER, que emitia um sinal sonoro fixado em 60bpm, para determinar a velocidade na qual os participantes realizaram cada repetição e fichas de anotação.

Desenho do Estudo: o procedimento foi dividido em quatro sessões com intervalo de 48 horas entre elas. Na primeira sessão foram registradas as cargas de treino juntamente com a velocidade de execução nas primeiras séries nos dois exercícios. Nas sessões subsequentes foi realizado um aquecimento prévio de 10 repetições com 50% da carga utilizada e na velocidade que seria trabalhada. Na segunda sessão, os indivíduos realizaram um aquecimento prévio e, após dois minutos de repouso foram incentivados a executar o maior número de repetições com carga e velocidade de execução habitual de treino. Seguindo o mesmo método da segunda, na terceira sessão foi utilizado um metrônomo para que o indivíduo executasse o exercício na velocidade 2020 e a quarta sessão na velocidade 4020. Entre as séries houve um intervalo de cinco minutos. Em nenhuma das sessões foi permitida ajuda externa e o exercício era interrompido quando o indivíduo atingia a falha concêntrica ou reduzia a velocidade de execução uma única vez.

Protocolo do exercício: em todas as sessões os indivíduos realizaram uma série de repetições máximas no supino plano e uma série no leg 45º respectivamente, em três velocidades de execução distintas: na velocidade de execução habitual dos sujeitos, na velocidade 2020 e na velocidade 4020.

Análise dos dados: Os dados estão apresentados como média e desvio padrão da média. Para analisar possíveis diferenças na variação do número de repetições entre cada procedimento foi utilizado o teste t de Student para amostras pareadas, para diferenças nos resultados entre os gêneros.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A TABELA 1 apresenta os resultados obtidos referentes ao número de repetições para uma mesma carga no supino plano (S), realizadas na velocidade habitual dos sujeitos (VHS), na velocidade 2020 (VS2020) e na velocidade 4020 (VS4020):

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Tabela 1 - Número de repetições conseguidos pela amostra nas três velocidades estudadas para o supino plano

N MINIMO MÁXIMO MÉDIA

V HS 30 11 27 18,93±3,8

VS2020 30 8 18 12,50±2,5

VS4020 30 5 11 8,20±1,6

VHS – Velocidade Habitual de Treino no Supino Plano, VS2020 – Velocidade dois segundos excêntricos seguidos por dois segundos concêntricos no Supino Plano, VS4020 – Velocidade quatro segundos na fase excêntrica seguidos por dois segundos na fase concêntrica no Supino Plano. Em relação às VHS-2020 p = 0,000 Em relação às V2020-4040 p = 0,000

Os sujeitos executaram um grande número de repetições na velocidade habitual, aproximadamente 34% e 56,6% a mais que nas velocidades 2020 e 4020 respectivamente, demonstrando claramente que a velocidade de execução afeta significativamente o número de repetições. Lachance; Hotobagyi (1994) evidenciaram em um estudo semelhante, que a execução dos exercícios de flexão e barra, com a velocidade natural dos praticantes, resultou em um número significativamente maior de repetições, trabalho e potência do que nas velocidades intencionais 2020 e 4020, indicando a dificuldade de se manter o número de repetições em velocidades mais lentas.

Tabela 2 - Comparação do Número de Repetições entre os Gêneros nas Velocidades Estudadas no supino plano.

GÊNERO VHS VS2020 VS4020 Masc. (15) 17,40±3,158 12,07±2,7 8,13±1,8 Femin. (15) 20,47±3,8 12,93±2,154 8,27±1,5 VHS – Velocidade Habitual de Treino no Supino Plano, VS2020 – Velocidade dois segundos excêntricos seguidos por dois segundos concêntricos no Supino Plano, VS4020 – Velocidade quatro segundos na fase excêntrica seguidos por dois segundos na fase concêntrica no Supino Plano. Em relação à VHS entre os gêneros p = 0,023

A TABELA 2 mostra que, quando comparados por gênero, houve diferença significativa no número de repetições entre os indivíduos no supino plano (SP), na velocidade habitual dos sujeitos (VHS). No entanto, nas velocidades 2020 e 4020, as diferenças no número de repetições 61 entre os gêneros deixaram de ser significativas. Verifica-se ainda que o gênero feminino apresentou uma queda maior no número de repetições nas velocidades 2020 e 4020 quando comparadas a velocidade habitual. Considerando que os indivíduos deveriam executar no máximo 12 RMs, os dados sugerem que ambos os gêneros estavam realizando este exercício com uma intensidade média de 36,6% abaixo do exigido e que em relação aos homens as mulheres executavam a série com uma intensidade ainda mais baixa (42,35%). Isso explica as diferenças entre os gêneros no número de repetições realizadas na velocidade habitual, porém, essa diferença diminuiu quando a velocidade foi reduzida: as mulheres apresentaram uma maior queda em relação à velocidade habitual no percentual de repetições nas velocidades 2020 (36,8%) e 4020 (59,5%) que os homens (respectivamente 30,6% e 53,2%), sugerindo que a redução da velocidade aumentou a intensidade dos exercícios em ambos os sexos.

Tabela 3 - Número de repetições conseguidos pela amostra nas três velocidades estudadas para o Leg 45º N MINIMO MAXIMO MÉDIA

V HL 30 13 38 22,63±5,5

VL2020 30 9 22 14,80±2,9

VL4020 30 6 15 10,07±1,9

VHL – Velocidade Habitual de Treino no Leg 45º, VL2020 – Velocidade dois segundos excêntricos seguidos por dois segundos concêntricos no Leg 45º, VL4020 – Velocidade quatro segundos na fase excêntrica seguidos por dois segundos na fase concêntrica no Leg 45º. Em relação às VHS- 2020 p = 0,000 Em relação às V2020-4040 p = 0,000

Com relação ao exercício de Leg 45º, na TABELA 3 verifica-se que os sujeitos executaram 34,6 % e 55,5% repetições a menos nas velocidades 2020 e 4020 quando relacionadas à velocidade natural, confirmando o fato de que essa variável influencia na intensidade do treinamento, nesse tipo de exercício, de modo que uma redução significativa ocorreu no número de repetições à medida que a velocidade foi diminuída. Quanto a isso, Smith; Bruce-Low (2004) afirmam que a dificuldade de realizar o exercício decresce à medida que a velocidade aumenta e que quando realizadas lentamente as repetições são mais difíceis de executar e por isso exigem um número de menor. Isso pode ser confirmado nos estudos de Ewing Jr. et al. (1990), Kanehisha; Miyashita (1983) e Westcott et al. (2001), nos quais para velocidades mais altas foi utilizado um número maior de repetições e para velocidades mais baixas um número menor, mostrando a preocupação 62 dos pesquisadores com a influência da velocidade no número de repetições, embora esse não fosse seu objetivo principal.

Tabela 4 - Comparação do Número de Repetições entre os Gêneros Executadas no Leg 45o nas Velocidades Estudadas

GÊNERO VHL VL2020 VL4020 Masc. (15) 19,9±3,1 13,5±2,2 9,1±1,4 Femin. (15) 25,4±6,0 16,1±3,0 11,0±1,9 VHL – Velocidade Habitual de Treino no Leg 45º, VL2020 – Velocidade dois segundos excêntricos seguidos por dois segundos concêntricos no Leg 45º, VL4020 – Velocidade quatro segundos na fase excêntrica seguidos por dois segundos na fase concêntrica no Leg 45º. Em relação à VHS e V4020 p = 0,005Em relação à V2020 p = 0,010

Comparando-se o número de repetições realizadas nas velocidades por gênero, observa-se na TABELA 4 que houve uma diferença significativa no número de repetições, além disso, as reduções no número de repetições foram maiores no gênero feminino da mesma forma que ocorreu no supino plano. Essas observações sugerem que a velocidade influencia na intensidade dos exercícios, qualquer que seja este, em ambos os gêneros.

Tabela 5 - Comparação do Número de Repetições entre o Supino Plano e Leg 45o nas Velocidades Executadas

EXERCÍCIO MÍNIMO MÁXIMO MÉDIA

V H S 11 27 18,93±3,8

L 13 38 22,63±5,5

V2020 S 8 18 12,50±2,5

L 9 22 14,80±2,9

V4020 S 5 11 8,20±1,6

L 6 15 10,07±1,9

VH – Velocidade Habitual de Treino, V2020 – Velocidade dois segundos excêntricos seguidos por dois segundos concêntricos, V4020 – Velocidade quatro segundos na fase excêntrica seguidos por dois segundos na fase concêntrica. S – Supino Plano, L – Leg 45º Em todas as velocidades p= 0,000 63

Quando comparadas entre os exercícios (TABELA 5), o número de repetições foi maior no leg 45º quando comparado ao supino plano, 16, 35%, 15,5% e 18,57% respectivamente nas VH, V2020 e V4020, indicando que a velocidade de execução dos movimentos afeta diferentemente o número de repetições realizadas nesses exercícios. Isso provavelmente se deve a quantidade de massa muscular envolvida para a execução dos mesmos. Nesse sentido, Gentil (2006) afirma que para uma determinada porcentagem de 1RM, a quantidade de massa muscular envolvida pode influenciar diretamente no número de repetições, já que grupos musculares menores são mais susceptíveis a fadiga.

CONCLUSÃO

A partir dos resultados obtidos neste estudo concluiu-se que a velocidade influencia na intensidade dos treinamentos causando uma redução significativa no número de repetições independente do gênero ou do tipo de exercício executado e, portanto deve ser levada em conta na elaboração de um programa de Treinamento resistido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Position Stand: Progression models in resistance training for healthy adults. Medicine and science in sports and exercise, v. 34: p. 364-380, Feb. 2002. BOMPA, T.O. CORNACCHIA, L.J. Treinamento de força consciente - Estratégias para ganho de massa muscular. Parte 2: Periodização do treinamento. São Paulo, Editora Phorte, 2000. CAIOZZO, V.J.; PERRINE, J.J.; EDGERTON, V.R. Training induced alterations of the in vivo force-velocity relationship of human muscle. Journal Applied Physiology, v. 51, n. 3, p. 750 – 754, Sep. 1981. CHIESA, Luiz Carlos. Musculação: Aplicações Práticas. Rio de Janeiro: Shape, 2002. EWING et al. Effects of velocity of isokinetic training on strength, power, and quadriceps muscle fibre characteristics. European Journal of Applied Physiology and Occupational Physiology, v. 61, n. 1-2, p. 159 – 162, 1990. FARTHING, Jonathan P.;CHILIBECK, Philip D.The effects of eccentric and concentric training at different velocities on muscle hypertrophy. European Journal Applied Physiology, v. 89, p. 578 – 586, 2003. FLECK, Steven J.; KRAEMER, William J.Fundamentos do treinamento de força muscular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. GENTIL, Paulo. Bases Científicas do Treinamento de Hipertrofia. Rio de Janeiro: Sprint, 2005. GENTIL, P. Bases Científicas do Treinamento de Hipertrofia. 2º edição. Rio de Janeiro: Sprint, 2006. KANEHISA, H.; MIYASHITA, M. Specificity of velocity in strength training. European Journal of Applied Physiology and Occupational Physiology, v. 52, n. 1, p. 104 – 106, 1983. 64

LACHANCE, P. F.; HORTOBAGYI T. Influence of cadence on muscular performance during push- up and pull-up exercises. The Journal Strength and Conditionig Research, v.8, p. 76 – 79, 1994. PEREIRA, M.I.; GOMES, P. S. Movement velocity in resistance training. Sports Medicine, Aukland, v. 33, n. 6, p. 427 – 438. 2003. SHEPSTONE, Tim N. et al. Short-term high- vs. low-velocity isokinetic lengthening training results in greater hypertrophy of the elbow flexors in young men. Journal of Applied Physiology, v. 98, p. 1768-1776, Jan. 2005. SMITH, D.; BRUCE-LOW, S. Strength training methods and the work of arthur jones. JEPonline, v. 7, n. 6, p. 52 – 58, Dec. 2004. UCHIDA, M. C.; CHARRO, M. A.; BACURAU, R. F. P.; NAVARRO, F.; PONTES JUNIOR, F. L. Manual de musculação: uma abordagem teórico - prática do treinamento de força. 4ª edição, São Paulo: Phorte Editora, 2006. WESTCOTT, W. L. et al. Effects of regular and super slow speed resistance training on muscle strength. The Journal of Sports Medicine and Physical Fitness, v. 41, n. 2, p. 154 – 158, Jun. 2001.

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Diagnóstico do Percentual de Hipertensos que Respondem ao Exercício com HPE

Tuanny Lira Garcia, Gabriel Luiz Soares Neto, Taís Feitosa da Silva, Fabiano Ferreira de Lima, Thamires Barbosa da Silva, Alexandre Sérgio Silva. Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil [email protected]

RESUMO

A hipotensão pós-exercício (HPE) é um dos benefícios promovidos pelo exercício físico enquanto prática relacionada à melhoria da saúde. Dados prévios indicam que modalidade, duração e intensidade podem afetar a magnitude da resposta hipotensora. O objetivo deste estudo foi Identificar hipertensos que apresentam HPE, em função da intensidade do exercício. Trinta e sete hipertensos de ambos os gêneros (60,5 + 8,7 anos), praticantes de exercícios físicos no SESC-PB foram solicitados a caminhar normalmente durante 60’ na velocidade em que estavam habituados a caminhar e, 48 horas depois mediante uma prescrição de seus exercícios; Frequência cardíaca (FC) e percepção subjetiva de esforço (PSE) foram mensuradas a cada 10’. A pressão arterial foi registrada em repouso, imediatamente após o exercício e a cada 10’ durante 60’ do período recuperação. Considerou-se que obtiveram HPE os sujeitos que alcançaram redução de 6 e 2 mmHg para pressão sistólica e diastólica respectivamente. Foi aplicado teste ANOVA para medidas repetidas, utilizando o software Instat 3.0. A FC, em ambos os procedimentos, demonstraram diferenças significativas entre os momentos de 30’ a 60’ do exercício (p<0,05), em comparação à sessão controle. Para PSE também foram encontradas diferenças significativas entre os 10’ a 60’ entre ambos os procedimentos (p<0,05). Nas sessões sem e com prescrição 46% e 59% dos sujeitos apresentaram apenas HPE sistólica, respectivamente. Quanto à HPE apenas diastólica, 5% e 7% dos sujeitos, respectivamente, a apresentaram. HPE tanto sistólica quanto diastólica, 35% e 30% dos sujeitos obtiveram. Conclui-se que o exercício físico com prescrição acentuou a HPE isolada tanto sistólica quanto diastólica de sujeitos hipertensos e reduziu o percentual de sujeitos que não obtiveram HPE.

INTRODUÇÃO

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma das doenças crônicas degenerativas de mais prevalência no mundo e o principal fator de risco para o surgimento de doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral e doença renal terminal (VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, 2010). No Brasil, 3,0 milhões de óbitos devem-se a HAS (MANTOVANI et al., 2008). Somando-se a isso, 22% da população brasileira acima dos 20 anos é acometida por ela e 15,2% corresponde a intervenções realizadas no Sistema Único de Saúde (SUS), representando um dos maiores dispêndios financeiros da atualidade (MANTOVANI et al., 2008; ALMEIDA FILHO , 2002; SECRETARIA DE POLÍTICAS DA SAÚDE, 2001)

O tratamento da HAS pode ser realizado através de acompanhamento medicamentoso. Outra forma de tratamento é a não medicamentosa, de baixo ou nenhum custo e alta eficácia, 66 como a prática de o exercício físico. No entanto, para melhor eficácia, é necessário que ocorra a interação entre as duas formas de tratamento, principalmente nos casos de maior gravidade da doença. Somando-se a isso, nos casos em que a HAS se desenvolve em níveis mais leves, o exercício pode ser a principal forma de controle (ZAITUNE et al., 2006).

Um dos benefícios promovidos pelo exercício físico é o efeito fisiológico conhecido como hipotensão pós-exercício (HPE) que leva a uma redução da pressão arterial (PA) para valores menores que os encontrados em repouso, podendo se estender por até 24 horas (LATERZA, RODON et al., 2007). Esse fenômeno permite que o exercício se torne uma ferramenta importante no controle da PA em hipertensos (RONDON E BRUM, 2003). Contudo, um dos preditores deste efeito promovido pelo exercício é a manutenção da intensidade do mesmo em moderada, ou seja, 60% a 85% da frequência cardíaca máxima (FCM) (FORJAZ; SANTAELLA et al. 1998).

Em um estudo realizado por Swift et al. (2012), com 404 hipertensos submetidos a um programa de exercício físico por seis meses, foi verificada a redução da pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD). Entretanto, observa-se que mesmo com a prática do exercício físico, 25% da população acometida pela HAS ainda mantém seus valores de PA inalterados, não sendo beneficiados pelo efeito da HPE (HAGBERG, PARK et al. 2000). Somando-se a isso, estes dados prévios referem-se ao efeito crônico do exercício, de modo que ainda não está bem estabelecido qual o percentual de sujeitos que conseguem responder agudamente ao exercício com HPE. Portanto, o objetivo deste estudo foi identificar hipertensos que apresentam HPE, de maneira isolada (PAS ou PAD) e concomitantemente (PAS e PAD) a protocolos de exercício sem prescrição (na intensidade em que os hipertensos estão acostumados a realizar suas caminhadas), ou com prévia orientação e prescrição da intensidade adequada de exercício.

MÉTODOS

Sujeitos do Estudo: O estudo foi desenvolvido com 37 sujeitos (60,5 + 8,7anos) com hipertensão controlada por terapia medicamentosa que realizavam exercícios físicos (hidroginástica, musculação e ginástica aeróbica) no SESC -PB. Foram adotados os seguintes critérios de inclusão: 1) ter no mínimo três meses da prática de exercício físico; 2) ser hipertensos; 3) não ter labirintite; 4) não possuir qualquer dano articular que prejudique a execução do exercício. Este projeto foi aprovado no comitê de ética em pesquisa com seres humanos do Hospital Universitário Lauro Wanderley. Todos os sujeitos da amostra foram solicitados a assinar o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) de acordo com resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

Desenho do estudo: foram realizadas duas sessões de exercício aeróbio na esteira ergométrica, onde os participantes foram instruídos na sessão sem prescrição realizar o exercício 67 na velocidade habitual e na sessão com prescrição permanecer na zona de treino prescrito pelos pesquisadores, entre 60% e 85% da frequência cardíaca máxima (FCmax). Medidas de FC foram registradas no final do período de repouso (10min) e FC e PSE a cada 10min durante os 60min de exercício. A PA foi registrada ao final do período de repouso e a cada dez minutos durante o período de recuperação (60min).

Protocolo do exercício: ao assinarem o TCLE, os sujeitos foram convidados a academia para realizar as duas sessões de exercício, que corresponderam ao exercício de 60 minutos na esteira ergométrica (Physicus, São Paulo-SP, Brasil). Na sessão sem prescrição, os voluntários determinavam previamente a velocidade que normalmente usam na esteira ou iniciaram uma caminhada neste ergômetro e elegeram nos primeiros minutos a velocidade que gostariam de adotar durante o exercício. Para a sessão com prescrição do exercício, foi estabelecida uma intensidade moderada (entre 60 e 85% da frequência cardíaca máxima), conforme proposta de Karvonen et al. (1957), sendo monitorada durante o exercício através de um cardiofrequencímetro. As duas sessões foram realizadas em uma mesma semana e foi dado um intervalo de pelo menos 48 horas entre as mesmas.

Medida da Pressão Arterial: no local da coleta de dados, os sujeitos foram solicitados a permanecer por 10 minutos em repouso e ao final deste período foi efetuado registro da PA de repouso. Da mesma forma, foram mensuradas medidas imediatamente ao final do exercício e a cada 10 minutos durante um intervalo de recuperação de 60 minutos. As medidas de pressão arterial foram realizadas pelo método auscultatório de acordo com os procedimentos propostos pelas VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2010).

Medida da Freqüência Cardíaca: A FC foi monitorada por meio de um cardiofrequencímetro da marca Polar (modelo RT1), após 10min do tempo de repouso e a cada 10min durante a realização do exercício (60min). Na sessão sem prescrição os sujeitos realizaram o exercício espontaneamente, onde os sujeitos regulavam a velocidade de acordo com a intensidade que costumavam realizar seus exercícios. Na sessão com prescrição, a FC foi monitorada da mesma forma, no entanto a intensidade foi ajustada de acordo com zona de treino 60 a 85% da frequência cardíaca máxima (FCM). Para a determinação da zona de treinamento foi utilizada a equação proposta por Karvonen et al. (1957):

FCT = FCR+ i%(FCM-FCR),

FCT= frequência cardíaca de treinamento; FCR = frequência de repouso;

FCM = frequência cardíaca máxima; i% = intensidade do treino 68

Medida da Percepção Subjetiva de Esforço: Durante o período de repouso a escala de Borg(1998) foi apresentada com índices de 6 a 20 para familiarização com os estágios de fadiga que variam de “muito leve” a “exaustivo”. Durante o exercício, a PSE foi questionada estritamente após a medida de FC, a cada 10min. Os índices desta escala refletem a intensidade na qual os sujeitos realizaram o exercício, para efeito de adequação da atividade adotaremos os valores de 11 a 14 por se relacionarem com uma intensidade moderada. (VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, 2010). Análise estatística: Foi aplicado teste ANOVA para medidas repetidas afim de avaliar possíveis diferenças nas respostas da FC (p<0,05). Foi usado o software Microsoft Excel 2007 e Instat 3.0 (GraphPAd Instat, San Diego, CA, USA).

RESULTADOS

Na Figura 1 estão apresentados os valores de FC durante os 60 minutos do exercício. Os dois procedimentos, com e sem prescrição, demonstraram diferenças significativas entre os momentos de 30’ a 60’ do exercício.

FC 160 # REPOUSO # # # * 140 * SEM PRESCRIÇÃO * * 120 COM PRESCRIÇÃO 100 80 60 40

20 Frequência CardíacaFrequência (bpm) 0 REP. 10' 20' 30' 40' 50' 60' Momentos de Medidas

Figura 1: Valores de FC durante os 60’ do exercício. * diferença significativa entre os 30’ e 60’ do procedimento sem prescrição; # diferença significativa entre os 30’ e 60’ do procedimento com prescrição. Valor de p<0,05.

Na Figura 2 estão apresentados os valores de percepção subjetiva do esforço mencionados pelos sujeitos durante os 60’ do exercício. Foram encontradas diferenças significativas entre os momentos de medida de 10’, 30’, 40’, 50’ e 60’ de ambos os procedimentos. 69

PSE 20

SEM PRESCRIÇÃO 15 * * # * COM PRESCRIÇÃO * # # # # 10 *

5 Frequência CardíacaFrequência (bpm) 0 11 14 10' 20' 30' 40' 50' 60' Momentos de Medidas

Figura 2: Valores de mensuração da percepção subjetiva do esforço durante os 60’ do exercício. * diferença significativa entre os momentos de medida procedimento sem prescrição; # diferença significativa entre os momentos de medida do procedimento com prescrição. Valor de p<0,05.

A Tabela 1 apresenta os valores de Hipotensão pós-exercício dos procedimentos sem e com prescrição. Os valores de Hipotensão pós exercício foram observadas respectivamente nos procedimentos sem prescrição e com prescrição, sendo, apenas HPE sistólica 46% e 59%; HPE diastólica 5% e 7% e HPE sistólica e diastólica apresentando 35% e 30%. Enquanto isso, para os procedimentos sem e com prescrição respectivamente, 14% e 4% não apresentaram valores hipotensores.

Tabela 1: Percentual dos valores pressóricos dos procedimentos sem e com prescrição, classificados em HPE Sistólica, HPE Diastólica, HPE Sistólica e Diastólica e Sem HPE.

SEM PRECRIÇÃO COM PRESCRIÇÃO

N % N %

HPE Sistólica 17 46% 16 59%

HPE Diastólica 2 5% 2 7%

HPE Sistólica e Diastólica 13 35% 8 30%

Sem HPE 5 14% 1 4%

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DISCUSSÃO

Em conjunto, estes dados de FC e PSE mostram que os sujeitos, ao realizarem exercício dentro da zona de treinamento aeróbio conforme a proposta de Karvonen (1957), o fazem com intensidade maior do que a que estão acostumados a adotar em seus exercícios. Considerando que a HPE foi mais eficientemente demonstrada na sessão com prescrição, estes dados advogam em favor de que profissionais estejam sempre em contato com praticantes de exercícios para que os mesmos possam tirar o maior proveito de seus exercícios, pelo menos do ponto de vista da HPE.

Hardberg et al. (2000), demonstrou que 25% dos sujeitos que praticam exercício não conseguem obter redução da pressão arterial. Deve ser lembrado que estes dados referem-se à resposta crônica da pressão arterial e que até o momento não temos dados do percentual de sujeitos que teriam (ou não teriam), resposta aguda da pressão a uma sessão única de exercício por meio da HPE. Os dados do procedimento de exercício sem prescrição indicou que 14% dos voluntários do estudo não obtiveram HPE. No entanto, este estudo foi desenhado para ter duas sessões de exercício justamente porque nós tínhamos a hipótese de que exercícios feitos sem prescrição profissional poderia ser a causa de uma possível alto percentual de sujeitos que não conseguiriam HPE. De fato, nossa suspeita se confirmou ao percebemos que, quando os sujeitos foram orientados para o exercício, a intensidade adotada tornou-se maior, e o percentual de sujeitos que não responderam ao exercício com HPE caiu para apenas 4%.

Estes dados são animadores, no sentido de podermos afirmar que uma sessão de exercício, quando praticada adequadamente, beneficia quase todos os hipertensos que a realiza (96% deles). Embora a HPE seja um fenômeno consagrado na literatura, nosso laboratório percebeu que não existiam dados quantificando quantos dos sujeitos que realizam exercício efetivamente conseguem o benefício da HPE.

De qualquer maneira, nosso estudo mostrou que, mesmo sem a prescrição do exercício, 46% e 5% dos voluntários apresentaram HPE sistólica e diastólica isoladamente, enquanto 35% obtiveram HPE tanto sistólica quanto diastólica. Embora os números da sessão com prescrição sejam melhores, este dado da sessão sem prescrição mantém a perspectiva dos benefícios do exercício na redução da pressão arterial mesmo com o exercício realizado em menores intensidades. De fato x. afirmam que a faixa de intensidade que resulta em melhor HPE é entre 60 e 80% da frequência cardíaca máxima (intensidade moderada). No entanto, (Forjaz, Matsudaira et al., 1998 afirmam ter encontrado HPE também em exercícios de intensidade leve (30 e 50% da frequência cardíaca máxima).

Dados prévios de nosso laboratório (artigo em fase de elaboração) mostram um valor bem maior de hipertensos que não conseguem redução aguda da pressão arterial (acima de 20%), dados estes que se assemelham aos dados de resistência á redução crónica da pressão arterial 71 de Hadberg (2000). O que pode explicar esta diferença entre estes dois estudos (mesmo sendo ambos de nosso laboratório), e usando metodologias diferentes são dois fatos: 1- O estudo prévio foi feito com praticantes de exercícios de caminhada em praças públicas, que não tinham qualquer orientação ou aproximação com profissionais de educação física. Enquanto isso, o presente estudo foi realizado no SESC com uma população que está em permanente contato e orientação de profissionais de educação física para a realização de diversas modalidades de exercício; 2- No estudo prévio os hipertensos caminhavam sem a utilização de ergômetros, de modo que a velocidade podia modificar-se em função da vontade dos sujeitos. Enquanto isso, no presente trabalho, a caminhada foi realizada em esteira ergométrica, de modo que a velocidade se mantinha constante durante todo o exercício independentemente da vontade dos sujeitos. Isso pode ter imposto uma maior intensidade aos sujeitos do SESC, o que contribuiu para uma melhor resposta hipotensora.

CONCLUSÃO

Este estudo mostrou que uma sessão de exercício aeróbio, realizada nos moldes em que hipertensos estão habituados a realizar cotidianamente, é capaz de promover HPE isolada ou concomitante em 86% dos praticantes. Entretanto, quando eles são instruídos quanto a melhor forma de prescrever seus exercícios, o praticam em uma intensidade maior e o percentual de sujeitos que são beneficiados com HPE aumenta para 96%. Estes dados atestam a capacidade do exercício para a redução da pressão arterial em hipertensos usuários dos serviços de exercício físico do Serviço Social do Comércio (SESC).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Indicadores Antropométricos e Teste de Aptidão Física em Adolescentes de uma escola de João Pessoa - PB

Vanessa Lee Ferreira Cavalcante, Giselly dos Santos Holanda Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil. [email protected]

RESUMO Introdução: A avaliação da aptidão física em escolares se faz necessária, uma vez que, através do conhecimento das qualidades físicas dos alunos, o professor pode classificar os escores obtidos diante de critérios estabelecidos e aceitos como referência, para então planejar suas aulas atendendo às necessidades dos alunos. Objetivo: Comparar os índices antropométricos e a aptidão física entre adolescentes de uma escola da cidade de João Pessoa. Metodologia: Trata- se de um estudo transversal de base escolar, cuja amostra foi composta por 30 escolares (15 meninos e 15 meninas) do ensino médio, com idades entre 14 e 18 anos de uma escola de João Pessoa. As análises quantitativas e estatísticas foram realizadas no SPSS versão 18.1. Utilizou-se o teste t para amostras independentes para comparar os valores médios dos testes da aptidão física entre meninos e meninas, no qual o resultado foi considerado significante quando p≤ 0,05. A aptidão física foi avaliada utilizando-se os testes somatomotores: força e resistência abdominal, flexibilidade, força explosiva de membros superiores e velocidade e as medidas antropométricas: massa corporal, estatura e IMC. Resultados e discussão: O IMC dos estudantes do sexo masculino e dos estudantes do sexo feminino foram respectivamente 22,37 kg/m2 (± 2,31) e 22,42 kg/m2 (± 5,12). Os meninos obtiveram melhores resultados nas variáveis RML e força, e, na variável velocidade as meninas apresentaram valor médio superior aos meninos. Para o teste de flexibilidade não foram observadas diferenças intergrupo. Conclusão: Os adolescentes obtiveram desempenhos aproximados do que é esperado para a faixa etária, os meninos se sobressaíram em dois testes (RML e força) e as meninas no teste de velocidade. Ressalta-se a necessidade de que esta avaliação seja realizada periodicamente pelos professores de educação física, a fim de observar a progressão dos alunos e identificar possíveis problemas de saúde.

Palavras-chave: Aptidão física, adolescentes, saúde.

INTRODUÇÃO A avaliação envolve aspectos técnicos e metodológicos referindo-se às medidas classificatórias e hierárquicas (RODRIGUES, 2003). Neste sentido, a avaliação física é uma fase importante antes de toda e qualquer intervenção ou programa de atividade física, pois é nesta etapa que se avaliam as condições iniciais para que posteriormente o ritmo e os limites da intervenção e/ou programa possam ser estabelecidos (SOUZA, 2005). Uma boa avaliação física se utiliza de critérios e protocolos bem selecionados fornecendo dados quantitativos e qualitativos e que indique por meio de análises e comparações a real situação em que se encontrava o avaliado. A aptidão física é uma variável que faz parte de uma avaliação física e é entendida como a capacidade de realizar atividades físicas com energia e vigor sem excesso de fadiga e também, como a manifestação de qualidades e capacidades físicas que diminuem o desenvolvimento de 74 doenças e incapacidades funcionais (SILVA; SILVA JÚNIOR; CABRAL DE OLIVEIRA, 2005; PITANGA, 2010). Considerando a avaliação da aptidão física em crianças e adolescentes na fase escolar, observa-se a necessidade de que esta seja realizada frequentemente pelo professor de educação física, a fim de identificar possíveis problemas de saúde nos escolares e acompanhar as variações na maturação biológica dos mesmos (SEABRA; MAIA; GARGANTA, 2001). A avaliação da aptidão física em escolares se faz necessária, uma vez que, através do conhecimento das qualidades físicas dos seus alunos, o professor pode classificar os escores obtidos diante de critérios estabelecidos e aceitos como referência (ARAÚJO; OLIVEIRA, 2008), para então planejar melhor suas aulas atendendo às necessidades dos alunos. Além disso, através da avaliação física é importante que o professor propicie aos alunos o entendimento acerca da relação entre saúde e atividade física e hábitos comportamentais saudáveis, pois é neste período da juventude que as ações habituais são formadas, segundo as oportunidades oferecidas a cada um (NAHAS, 2010). Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo comparar os índices antropométricos e a aptidão física entre adolescentes de uma escola da cidade de João Pessoa - PB.

METODOLOGIA Trata-se de um estudo transversal de base escolar realizado em novembro de 2011, cuja amostra foi composta por 30 escolares (15 meninos e 15 meninas) do ensino médio, com idades entre 14 e 18 anos de uma escola federal da Paraíba. A maioria dos estudantes era pouco ativa, participando apenas das aulas de educação física duas vezes por semana. A aptidão física foi avaliada utilizando-se alguns testes somatomotores sugeridos pelo Projeto Esporte Brasil (PROESP): força e resistência abdominal, flexibilidade, força explosiva de membros superiores e velocidade. Para a apresentação dos dados, utilizou-se a estatística descritiva (média, desvio padrão e valores percentuais). Utilizou-se o teste t para amostras independentes para comparar os valores médios dos testes da aptidão física entre meninos e meninas, no qual o resultado foi considerado significante quando p≤ 0,05. Todas as análise estatísticas foram realizadas no SPSS versão 18.1

RESULTADOS E DISCUSSÃO Na tabela 1 são apresentados os valores referentes às variáveis antropométricas idade (ID) (anos), massa corporal (MC) (Kg), estatura (EST) (m) e IMC (Kg/m2). Nesta tabela observa-se que todas as variáveis apresentaram similaridades entre os valores médios do gênero masculino e feminino, ressaltando que houve uma diferença na variável massa corporal. 75

Tabela 1. Valores de média, desvio padrão, máximo e mínimo para as variáveis antropométricas ID (anos), MC (kg), EST (m) e IMC (kg/m2).

VARIÁVES MASCULINO FEMININO

MÉDIA E DESVIO MÍNIMO MÁXIMO MÉDIA E DESVIO MÍNIMO MÁXIMO PADRÃO PADRÃO

*ID 16,00 ± 1,07 14,00 18,00 15,73 ± 1,03 14,00 18,00

*MC 68,75 ± 9,90 54,30 91,10 60,34 ±16,66 46,00 113,8

*EST 1,75 ± 0,07 1,65 1,90 1,63 ± 0,07 1,49 1,72

*IMC 22,37 ± 2,31 18,26 27,15 22,42 ± 5,12 17,05 38,57

*ID: Idade *MC: Massa corporal *EST: Estatura *IMC: Índice da massa corporal

Na tabela abaixo, estão os valores dos resultados dos testes de resistência muscular localizada, flexibilidade, força explosiva dos membros superiores e velocidade. Observa-se que os meninos obtiveram resultados significativos nas variáveis RML, flexibilidade e força. Na variável velocidade as meninas apresentaram valor médio estatisticamente significativo superior aos meninos.

Tabela 2. Valores de média, desvio padrão, máximo e mínimo para os testes flexões de abdominal, sentar e alcançar, medicineball e deslocamento de 30 metros de aptidão física. (n=30).

VARIÁVEL TESTES MASCULINO FEMININO

MÉDIA E DESVIO MÍNIMO MÁXIMO MÉDIA E DESVIO MÍNIMO MÁXIMO PADRÃO PADRÃO

*RML FLEXÕES DE 38,33 ± 6,63 23,00 51,00 30,47 ± 10,21 13,00 53,00 ABDOMINAIS

*FLEX SENTAR E 26,31 ± 6,46 13,00 36,00 23,73 ± 7,88 8,00 33,00 ALCANÇAR

FORÇA MEDI. 2,32 ± 0,44 1,68 3,43 1,88 ± 1,50 1,50 2,50 DESLOCAM. *VELOC. DE 30m 5,10 ± 0,41 4,55 6,16 5,91 ± 0,64 4,99 7,51 *RML: Resistência muscular localizada *FLEX: Flexibilidade VELOC: Velocidade

Na tabela 3 são apresentados os resultados da análise percentil (5, 10, 25, 50, 75, 90 e 95%) para os valores das variáveis estudadas. Identifica-se que na variável RML houve grande 76 diferença nos valores dos 5% dos alunos que atingiram 15,75 e dos 95% que desempenharam 51,90 repetições em um minuto. Com relação à flexibilidade observa-se que apenas 5% dos alunos possuem 8,83 e 95% apresentaram 34,82 existindo, portanto, uma grande amplitude entre tais valores. As variáveis força e velocidade apresentaram pouca diferença nos percentis 5% e 95%.

Tabela 3. Valores dos percentis 5, 10, 25, 50, 75, 90 e 95% para os resultados dos testes RML (n°), FLEX (cm), FORÇA (cm) e DESL 30(m).

VARIÁVEL TESTES PERCENTIL (%)

5 10 25 50 75 90 95

*RML FLEXÕES DE 15,75 23,00 26,00 35,50 40,00 47,70 51,90 ABDOMINAIS

*FLEX SENTAR E 8,83 13,30 21,13 26,00 30,63 33,90 34,72 ALCANÇAR

FORÇA MEDICINEBALL 1,52 1,59 1,71 1,99 2,33 2,69 3,04

*VELOC. DESLOCAMENTO 4,55 4,64 5,06 5,37 6,06 6,51 6,99 DE 30m *RML: Resistência muscular localizada *FLEX: Flexibilidade VELOC: Velocidade

Tabela 4. Teste t para amostras independentes para comparar valores médios de RML, Flexibilidade, Velocidade e Força explosiva de membros superiores. (n=30).

TESTE GÊNERO MÉDIA e DP VALOR de P VARIÁVEL FEMININO 23,73 ± 7,88 RML FLEXÕES DE ABDOMINAIS MASCULINO 26,31 ± 6,46 0,336

FEMININO 30,47 ± 10,21 FLEX SENTAR E ALCANÇAR MASCULINO 38,33 ± 6,73 0,019

FEMININO 5,91 ± 0,64 VELOC. DESLOCAMENTO DE 30m MASCULINO 5,10 ± 0,41 0,000

FEMININO 1,88 ± 0,31 FORÇA MEDICINEBALL MASCULINO 2,32 ± 0,44 0,004

*RML: Resistência muscular localizada *FLEX: Flexibilidade VELOC: Velocidade

Na tabela 4 pode-se observar que não houve diferenças estatisticamente significativas para a flexibilidade entre o gênero masculino e feminino. Este dado não corrobora com a maioria dos estudos existentes na literatura (ARAÚJO et al, 2008; ANDREASI et al, 2010; DUMITH; AZEVEDO JÚNIOR; ROMBALDI, 2007) onde afirmam que as mulheres são mais flexíveis do que 77 os homens e que tal aptidão vai se perdendo ao longo da vida. Porém, no estudo de Araújo e Oliveira (2008) a flexibilidade não indicou diferenças significativas entre os gêneros se assemelhando com os achados do presente estudo. Houve diferenças estatisticamente significativas para a RML entre os gêneros masculino e feminino. Os meninos alcançaram um melhor desempenho neste teste, que possivelmente está relacionado ao aumento simultâneo da força/resistência que ocorre nos rapazes no período pré e pós puberal, coincidindo com alguns estudos disponíveis na literatura (ARAÚJO; OLIVEIRA, 2008; HOBOLD, 2003). No teste de deslocamento de 30 metros, houve diferenças estatisticamente significativas entre os gêneros. Os meninos apresentaram valores mais baixos quando comparados às meninas, assemelhando-se com o estudo de (KREBES; MACEDO, 2005). As diferenças que surgem nos testes de velocidade de curta distância entre os adolescentes, estão relacionadas ao desenvolvimento neuromuscular que se apresenta de forma homogênea nesta fase da vida (VERARDI et al, 2007). E possivelmente esse destaque para as meninas dar-se-á pelo fato de que os meninos se encontram em um momento que os membros crescem desproporcionalmente, criando possíveis alterações psicológicas na relação com a percepção corporal e descoordenação motora (HUEBNER, 2000). Com relação à força explosiva de membros superiores identificaram-se diferenças estatisticamente significativas intergrupo. Os meninos obtiveram maior desempenho em relação às meninas. Esta superioridade dos rapazes pode estar relacionada a fatores biológicos e sócio- culturais (CAPUTO et al, 2009; VERARDI et al, 2007).

CONCLUSÃO Conclui-se que os adolescentes obtiveram desempenhos aproximados do que é esperado para a faixa etária, onde nos testes de Força explosiva e RML, o grupo masculino alcançou melhores resultados, o que pode ser explicado pelos fatores biológicos. No teste de Corrida de 30 metros, as meninas obtiveram um saldo mais satisfatório. Para o teste de flexibilidade não foram observadas diferenças intergrupo. Diante do exposto, vimos o quanto é importante que os alunos independentes da faixa etária ou do gênero sejam submetidos a uma avaliação mais completa, pois evidenciará a real situação em que se encontra. Ressalta-se a necessidade de que esta avaliação seja realizada periodicamente pelos professores de educação física, a fim de observar a progressão dos alunos e identificar possíveis problemas de saúde.

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REFERÊNCIAS

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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, FILOSÓFICOS E METODOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA

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A Capacidade Comunicativa Corporal no Futebol: uma Análise Semiótica dos Dribles de Garrincha e Neymar

Rodrigo Wanderley de Sousa Cruz, Djavan Antério Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa-PB, Brasil [email protected]

RESUMO

Este artigo discorre acerca da capacidade comunicativa corporal no futebol brasileiro. De forma mais específica, analisa o fundamento drible através de dois ícones deste esporte, Garrincha e Neymar. Utilizando-se da semiótica peirceana no nível da significação, objetivou-se descrever os diferentes significados dos gestos incorporados ao movimento de cada jogador, bem como a interação entre eles e seus marcadores (jogadores adversários). Caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa, do tipo documental. Constatou-se com o estudo que o ato de driblar defini-se não somente como um fundamento técnico, mas, sobretudo, por sua representatividade transcendental do nexo motor e anatômico. Deste modo, apresenta-se com desfecho da análise a prerrogativa de que a aprendizagem esportiva do futebol pode e deve proceder por meio de elementos subjetivos tais como o prazer de jogar, a alegria de movimentar- se e a satisfação em praticar esporte.

Palavras-chave: Comunicação Corporal; Futebol; Semiótica, Drible.

INTRODUÇÃO

O futebol, especialmente o brasileiro, era na primeira metade do século XX voltado para o espetáculo: dribles, fintas, toques de efeito e malabarismos diversos. É assim que o homem cresce, vivendo o corpo distraidamente, [...] atraído, estimulado e dirigido para o desenvolvimento da inteligência (SANTIN, 2006). No caso específico no Brasil, o drible, como gesto corporal, se torna o fundamento mais relevante, por sua imprevisibilidade, por possuir formas corporais únicas, constituindo numa expressão corporal admirada pelos amantes futebolísticos. Ele é um gesto que não está totalmente codificado, tendo em vista que seu movimento constitui uma situação de imprevisibilidade e exige uma capacidade de executar aleatoriamente, para que se vença o obstáculo (MACIEL, 1999).

Escolhemos o futebol (precisamente o drible), como uma das mais significativas manifestações expressivas de nossa cultura, pois acreditamos ser o futebol uma instituição brasileira, por ter tornado possível a sublimação de vários daqueles elementos irracionais de 81 nossa formação social e de cultura. Nenhuma outra técnica de futebol provocou maiores reações entre os jogadores e público do que o ato de driblar.

No Brasil, existiu um jogador que encantou platéias do mundo inteiro pelo que fazia com seu corpo ao driblar. Evidenciando a ginga, expressividade e inteligência, Manuel Francisco dos Santos (o Garrincha), foi fundamental para a consolidação da “brasilidade do futebol, do futebol- arte”. (MORAES, 2007, p. 99). Garrincha foi um jogador que se notabilizou pelos dribles, apesar (ou, talvez, em função) de suas pernas tortas, que o caracterizava fisicamente. Sua participação nas Copas do Mundo de 1958 (Suécia) e 1962 (Chile) foi considerada fundamental para a conquista da Seleção Brasileira. É considerado por muitos o maior jogador de futebol de todos os tempos, ficando atrás apenas do Edson Arantes do Nascimento, o “Rei Pelé”.

Contudo, já na contemporaneidade, temos um jogador que por muitos especialistas vem sendo comparado ao Garrincha. Evidentemente não pelas “pernas tortas”, mas efetivamente pelos seus dribles desconcertantes. Falamos de Neymar da Silva Santos Júnior (o Neymar), atual atacante do Santos Futebol Clube (São Paulo). Com acentuada destreza, Neymar vem conquistando o mundo com seus dribles, jogadas e gols. Sua habilidade no futebol é reconhecida tanto pela plateia comum como por aquela que é especializada no assunto. Premiado mundialmente, Neymar deixou de ser promessa para destacar-se como peça-chave para a próxima Copa do Mundo que ocorrerá no Brasil, em 2014.

Diante do exposto, percebemos a relevância em compreender os dribles de Garrincha e Neymar não apenas de maneira simplista, observando prioritariamente a beleza da jogada e o entretenimento que dela surge. Pelo contrário, analisamos o drible como uma gestualidade própria do jogador brasileiro, considerando a linguagem e a comunicação corporal que nele se apresentam. Dessa forma, destaca-se como questão-problema do estudo: Em que medida o drible no futebol pode servir de parâmetro para uma representatividade do jeito peculiar do brasileiro jogar? Objetivou-se descrever os diferentes significados dos gestos incorporados ao movimento de cada jogador, bem como a interação entre eles e seus marcadores (jogadores adversários).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Ao orientar-nos pela busca do sentido do drible adentramos no universo da semiótica, por isso, trata-se de uma pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa, do tipo documental, que utiliza como instrumento de análise de dados a semiótica de Charles Peirce (1995). Esse procedimento consiste em atentar para o detalhe, para os resíduos marginais e minúcias, tratando-os como sistemas de signos passíveis de serem lidos. A partir das pistas gestuais remontamos uma realidade complexa e opaca do drible, resistente às análises reducionistas, ou 82 seja, tomamos os gestos nos dribles de Garrincha e Neymar como signos da comunicação dos corpos entre si e em suas relações com os espaços e com os objetos.

Após uma investigação midiática, coletamos 3 dribles de cada um dos jogadores e analisamos os movimentos dos jogadores através de todo o contexto da jogada, estabelecendo critérios que foram determinantes para a escolha específica do drible de cada um deles: (i) importância do jogo; (ii) número de jogadores participantes na jogada; e (iii) desfecho da jogada (passagem pelo adversário, toque de bola, gol marcado).

Posteriormente, elegemos um único drible para cada jogador, aquele que fora contemplado por um contexto mais rico no que se refere os aspectos pertinentes à analise: (a) maior grau de comunicação estabelecida; (b) detalhamento dos signos semióticos; (c) evidenciação das intenções entre os sujeitos envolvidos; e (d) disponibilidade da jogada em sua completude (filmográfica e/ou fotográfica). A partir daí, ambos os dribles, cada qual de seu respectivo jogador, foram alvos de análise e discussão durante todo o estudo. O procedimento que roteirizou a realização da “leitura” semiótica dos gestos nos dribles foi o da significação, que se refere à relação do signo consigo mesmo ou trata da natureza do seu fundamento, sua capacidade para funcionar como signo. No caso específico de Neymar, pudemos editar a jogada, resultando em fotogramas fiéis. Já com Garrincha, pela dificuldade de encontrar arquivos midiáticos de qualidade, recorremos a imagens fotográficas de dribles renomados, que expressassem tanto o contexto comunicativo corporal, quanto as condições para uma análise semiótica mais detalhada.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Partimos do pressuposto de que a ambiência produzida em cada drible particular confirma uma configuração geral. Deste modo compreendemos que o movimento é comunicação, e que, significa bem mais do que dizer que ele é portador de uma mensagem dirigida a outros. Comungamos da tese de que o modo de ser do homem, sendo na existência junto com outros. Significa interagir com o ambiente no qual está imerso. O movimento além de ser na interação é também possibilidade de um mostrar-se do ser (GOMES-DA-SILVA, 2011).

A seguir trataremos de cada drible escolhido, analisando e discutindo subsidiados pela semiótica peirceana no nível da significação. Através de estudos de Gomes-da-Silva (2005), Sousa Cruz (2006) e Santaella (2009) podemos explicar a semiótica de Peirce como a ciência que estuda os signos. Estuda as organizações discursivas da significação, qualquer que seja o campo em que se manifestem, descrevendo, analisando e interpretando essas linguagens. Frisamos que 83 nossa intenção não é comparar os dois jogadores aqui tratados. Absolutamente, procuramos encontrar similaridades que ressaltem a beleza do movimento e sua expressividade comunicativa.

Dribles analisados

1) GARRINCHA (Manuel Francisco dos Santos)

Informações Gerais: - Jogo: Brasil x Inglaterra (1958); Brasil x Tchecoslovaquia (1962) / - Campeonato oficial: Copas do Mundo / - Ano: Entre 1958 – 1962.

Fotos das jogadas:

1 2 3

- Link das imagens: http://migre.me/9WGLR

- Descrição geral das jogadas:

Garrincha atraía os adversários para o drible e os driblava muitas vezes seguidas, em uma série de duelos nos quais geralmente era vencedor, o que divertia muito o público, mas, mais que tudo, desorganizava e desmoralizava o time adversário. Sua arrancada com seu corpo encurvado fazia com que a sua perna direita, com a bola sob seu domínio, dificultasse muito os defensores ingleses e tchecos (fotos acima).

2) Drible – Neymar (Neymar da Silva Santos Júnior)

Informações Gerais: - Jogo: Santos Futebol Clube x São Paulo Futebol Clube / - Campeonato oficial: Semifinal do Campeonato Paulista / - Ano: 2012 / - Placar final do jogo: Santos 3 x 1 São Paulo / - Envolvidos na jogada: Neymar (Santos) e Ivan Piris (São Paulo) / - Duração do drible: 11 segundos.

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Fotogramas da jogada:

1 2 3

4 5 6

7 8 9

- Link do vídeo: http://migre.me/9zdDJ

- Descrição geral da jogada: Aos 35 minutos do primeiro tempo de jogo, o Santos com vantagem de 2 gols a zero sobre o São Paulo, Neymar recebe a bola e apresenta ao seu marcador daquele dado momento, o Pires, uma sequência de dribles desconcertantes. No total, foram cinco "cortes" consecutivos do santista em cima de seu adversário, o que levou o jogador paulista a aplicar uma falta que fora punida com cartão amarelo.

Análise comunicativa corporal da jogada

Para analisarmos a ação comunicativa corporal dos jogadores em questão, recorremos a teoria da Comunicação Corporal, cuja a base teórica se compõe por diferentes autores que discutem dentro de uma mesma esfera ideológica. Dentre eles, destacamos Corraze (1982), 85

Knapp e Hall (1999), Rector e Trinta (1985), Pease e Pease (2005), Picard (1986) e Weil e Tompakow (1986).

Iniciando com Garrincha, chamamos atenção para a similaridade entre as composições da jogada. Este, com seu drible mais característico, se manifesta corporalmente de forma bastante peculiar, com tronco ligeiramente flexionado e pendendo a direita, braços em abdução quase completa, pernas em posição semi-flexionada, preparando para o arranque na corrida, e, principalmente, olho fixo na bola. Os adversários, em total situação de estresse, compõem uma conjuntura corporal similar, entretanto, a preocupação em tomar a bola, ou mesmo atrapalhar a continuação da jogada é refletido na inviabilidade da ação.

O que mais caracteriza essa relação comunicativa entre Garrincha e seus adversários é a sua velocidade de ação. O jogador brasileiro dispara em direção a direita, de forma repentina e inesperada, deixando seus marcadores ao léu, sem chance alguma de uma ação de desarme. Decodificando a comunicação corporal das situações apresentadas, revela-se uma troca de informações desequilibrada, ou seja, Garrincha, tendo toda a habilidade que lhe era notável, lança a mensagem que irá sair pela direita, porém o tempo entre mensagem e ação é separado por um tempo tênue. Além do mais, nada garante que os adversários entendiam a mensagem em si, a não ser depois que ela era complementada pela ação.

Com Neymar o contexto é mais complexo. Primeiramente por se tratar de vários dribles numa mesma jogada, e mais, sobre um mesmo adversário. Fica evidente a destreza do jogador santista, que, pouco importando com a marcação que lhe é feita, movimenta-se em campo com leveza e agilidade, injetando em seu adversário um grau de estresse que pouco depois seria revertido em uma ação “anti-jogo”.

Neymar abusa da comunicação corporal, lançando informações enganosas de para onde partiria. Seu marcador acredita em cada mensagem, dirigindo-se para o lado que pensa ser o certo. Todavia, cada informação lançada é substituída por uma ação contrária. Enquanto Neymar “informa” que partirá para direita, dando, inclusive, alguns passos nesta direção, por meio de um movimento truncado ele corta o movimento e se volta ao lado oposto, deixando o marcador no vazio. Isto acontece quatro vezes seguidas, o que faz o nível de estresse do jogador adversário elevar-se ao extremo, a ponto de cometer falta, parando assim a jogada.

O que mais caracteriza a relação comunicativa entre Neymar e seu marcador são as “informações contraditórias”. Isto é, Neymar, apesar de evidenciar uma ação que irá fazer, dirigindo-se e executando-a, rompe no meio do trajeto, aplicando velocidade em direção contrária. Analisando a jogada, percebemos o quão significativo é ter e saber dominar a comunicação corporal. Não afirmamos que Neymar, ou mesmo o Garrincha, sabiam ou tinham consciência disso. Acreditamos apenas que ação inconsciente é parte da singularidade desses jogadores. 86

Neymar demonstra muito bem isso nesta jogada. Seu corpo fala uma coisa e faz outra; seus olhos ludibriam o adversário; sua corporeidade emerge ações diversas e, aparentemente, contraditórias, porém com total significado consciente, buscando livra-se para seguir solto, livre, em busca do êxito maior, o gol.

Análise semiótica da jogada

A significação, na semiótica peirceana, diz respeito à análise das propriedades internas do fenômeno. De modo que essa primeira seção tem o objetivo de analisar os dribles descritos adentrando especificamente na arquitetura da primeira tricotomia, cuja finalidade é situar nossa compreensão básica do drible, ou seja, como essa atividade humana nos aparece como signo à consciência. E o significado das mensagens em si mesmas, nos seus aspectos qualitativos, singular e geral.

Seguindo a sugestão de Santaella (2002), percurso da análise semiótica que empreendemos segue a própria lógica interna das relações do signo. Por isso, começamos pela qualidade do drible, ou seja, pelas propriedades signicas, que existem nas situações dos jogos. É o quali-signos dos dribles que destacamos. A primeira impressão que as cenas e as observações dos dribles nos oferecem é a vitalidade das ações. A qualidade dos movimentos de Neymar chama atenção por sua leveza, facilidade, domínio da bola, estabilização do corpo, explosão muscular, arrancadas fulminantes.

Guiselini (2004) enfatiza que onde existe vida, existe movimento. Onde existe movimento, existe ritmo, fluência, manifestação de uma forma particular de energia química, mecânica, pessoal. Movimento é também deslocamento, mudança; é indicador de atividade, vitalidade, vigor, disposição, alegria, dinamismo. Neymar, do início ao fim do drible consolida essa vitalidade no momento em que está de posse da bola, quando se afasta dela, durante o enfrentamento com o adversário e na eficácia do drible, sendo interrompido apenas com uma falta.

Castro (2003) relata que um dos segredos de Garrincha estava no seu equilíbrio – os troncos que tinha como pernas faziam-no resistir aos piores trompaços dos adversários sem cair. Para derrubá-lo, só com rapas e rasteiras, e, mesmo assim, ele se levantava num instante e seguia com a bola dominada. A idéia de Garrincha era driblar, enganar, vencer o adversário com a bola, com o corpo. Seus adversários queriam tomar a bola, evitar o drible, mas como não conseguiam faziam a falta. Assim, sua expressão era entendida e seus atos consolidados eternamente.

Gomes-da-Silva (2011) atenta para o aspecto singular das situações de jogo implica em dirigir um segundo olhar para as cenas e observações dos dribles de Garrincha e Neymar. Dessa 87 vez, realçando suas especificidades existenciais, ou seja, fazendo um delineamento contextual. O sin-signos do drible consiste numa corporificação do quali-signos. As descrições das ações de Garrincha e Neymar se baseiam em situações vividas no contexto em que se encontrava. Freire (1988) entende que descrever o homem se movimentando é descrever sua inteligência. Descrevê- lo em ato é descrever seus sentimentos, e assim por diante.

As cenas formam um retrato detalhado do drible de Garrincha, tem sua existência real e temporalmente definida, seja no Maracanã, seja em campos suecos, seja em campos chilenos. “Retirar o movimento do seu contexto é deixar escapar sua força vivaz, sua energia vital, diriam os físicos e os místicos” (GOMES-DA-SILVA, 2011, p.53). Já nas cenas dos dribles de Neymar, acontecem no campeonato brasileiro, libertadores (sulamericanos) e no campeonato paulista, jogando muitas vezes na Vila Belmiro, Morumbi ou Pacaembu, sempre pelo Santos Futebol Clube. Eis a significância de levar em consideração o contexto em que o drible acontece. O campeonato, o jogo, os times que se enfrentam, a torcida, a vantagem no jogo e na tabela do campeonato, o momento do jogador, entre outros. Tudo vem a influenciar a execução do drible. Mais que isso, a sua real existência (ANTÉRIO, 2008).

Atuando pelo Santos, desde a categoria de base, Neymar atualmente vem se destacando por seus gols, sua velocidade e, especialmente, por seus dribles envolventes e criativos. No ano do centenário do Santos (1912-2012), ele encanta a platéia com suas inovações no ato de driblar e sua disposição dentro de campo, independentemente da competição ou situação de jogo envolvido. Desde que estreou profissionalmente, já acumula vários títulos, entre eles o tricampeonato paulista (2010-2011-2012), Copa do Brasil (2010) e Libertadores (2011).

Preocupados com a generalização ou com a padronização convencional do signo, situamos as cenas e as observações das situações de dribles em seus tipos gerais. Gomes-da- Silva (2011) diz que esse é o momento de tratar das réplicas dos sin-signos. Há o registro de duas cenas em momentos diferentes, em épocas distintas, com dois protagonistas (Garrincha e Neymar) e vários coadjuvantes (adversários). Esses dribles não possuem uma única aparição, mas tem regularidade. Como essa regularidade ultrapassa as quatro repetições, antes destacadas, podemos abordá-las como legi-signos. Os dribles são espontâneos, são regulares sempre, são criados, se repetem em algumas ocasiões, em outras não há o mesmo drible.

Nas cenas Garrincha percorre pela linha de fundo à direita, com a bola sob o domínio de sua perna direita, com arrancadas velozes, paradas bruscas, um percurso horizontal, pela diagonal, corpos em movimento, estáticos. Neymar transita pela linha de fundo à esquerda, dominando velozmente a bola tanto com a perna direita, quanto com a perna esquerda durante os dribles. Seu trajeto difere dentro do campo de jogo, ora para direita, ora para esquerda, se deslocando para lateral do campo. 88

Este fundamento (domínio) tem como principal função mostrar a habilidade que o atleta tem em amortecer a bola na sua recepção, sobretudo, conservando-a próximo de si, mantendo-a sobre controle, com as diferentes partes do corpo, evitando que o adversário aproveite sua falha e fique com a posse de bola. Infelicidade total dos zagueiros adversários.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como considerações finais, ressaltamos que, através do drible, é possível perceber a maneira diferenciada de o brasileiro jogar. O balanço do corpo, a ginga, a destreza dos movimentos, evidenciam peculiaridades que estão diretamente ligadas à conjuntura cultural do povo brasileiro. O toque de bola, o jeito de correr, o olhar, são elementos que extravasam a técnica propriamente dita. São, sobretudo, repercussões de uma criação, de uma tradição.

Por conseguinte, analisando os diferentes significados dos gestos incorporados ao movimento de cada jogador, bem como a interação entre eles e seus marcadores (jogadores adversários), foi possível vislumbrar uma maneira diferente de praticar/jogar futebol. Na realidade, é mais do que sabido que, independente do título de “país do futebol”, somos um país que expõe sua cultura, sua tradição, seu jeito singular de ser estando com “a bola nos pés”. Desta forma, nós, enquanto profissionais de educação física, comungamos da tese de que tanto o comportamento motor como a real aprendizagem e desenvolvimento, pode e deve proceder por meio de elementos subjetivos tais como prazer, alegria e satisfação, valorizando assim o ato de jogar como uma expressão de identidade e cultural de um povo.

REFERÊNCIAS

ANTÉRIO, D. O drible no futebol brasileiro: uma análise da comunicação corporal. Monografia (Graduação em Educação Física), Universidade Federal da Paraíba, 2008. ANTÉRIO, D. Repercussões pedagógicas na capacidade comunicativa corporal do educador. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2011. CASTRO, R. Estrela solitária. Um brasileiro chamado garrincha. Companhia das Letras, 2003. CORRAZE, J. As comunicações não-verbais. RJ: Zahar, 1982. FREIRE, J.B. De corpo e alma: o discurso da motricidade. Summus, 1988. GOMES-DA-SILVA, P. N. O jogo da cultura e a cultura do jogo: por uma semiótica da corporeidade. Ed. Universitária da UFPB, 2011. ______. Jogo, cultura e pulsão: uma semiótica dos brinquedos e dos brincantes. In:VITA,I.B;ANDRADE,F.C.B. (Orgs). (Des)fiando a trama: a psicanálise nas teias da educação. Casa do psicólogo, 2005. GUISELINI, M. Aptidão física, saúde, bem-estar. Fundamentos teóricos e exercícios práticos. Ed. Phorte, 2004. KNAPP, M. L.; HALL, J. A. Comunicação não-verbal na interação humana. Tradução de Mary Amazonas Leite Barros. São Paulo: JSN, 1999. 89

MACIEL, L. E. Futebol e cultura popular: uma reflexão filosófica sobre os fundamentos “arqueológicos”. In: MINISTÉRIOS DO ESPORTE-INDESP. Prêmio Indesp de literatura desportiva. V.2. Brasília: Indesp, 1999, p.203-233. MORAES, A. S. A construção dos atletas vencedores: Grécia antiga e Brasil atual em uma perspectiva comparada. In: Melo,V.A. (Org.) História comparada do esporte. Rio de Janeiro. Shape, 2007. NOGUEIRA, A. O homem e a bola. RJ: Mitavaí, 1986. PEASE A.; PEASE B. Desvendando os segredos da linguagem corporal. Rio de Janeiro, Ed. Sextante, 2005. PICARD, Dominique. Del código al deseo: el cuerpo em La relación social. Editorial Paidos, SACIF, Buenos Aires, 1986. PIERCE, C. Semiótica. 2.ed. SP: Perspectiva, 1995. RECTOR, M.; TRINTA, A. R. A comunicação não-verbal: a gestualidade brasileira. Petrópolis, Vozes, 1985. SANTAELLA, L. Semiótica aplicada. SP: Pioneira, 2002. ______. O que é semiótica?Ed. Brasiliense, 2009. SANTIN, S. Perspectivas na visão da corporeidade. In: Moreira, W.W. Educação Física e esportes: perspectivas para o século XXI. 13ª edição. Papirus, 2006. SOUSA CRUZ, R.W. O significado da linguagem nos jogos infantis: uma semiótica da corporeidade. Monografia (Graduação em Educação Física), Universidade Federal da Paraíba, 2006. WEIL, P. e TOMPAKOW, R. O corpo fala: a linguagem silenciosa da comunicação não-verbal. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 1986.

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EDUCAÇÃO FÍSICA: CAPOEIRA ARTE, CULTURA E RESISTÊNCIA ANCESTRAL

Rosivalda dos Santos Barreto Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, Ceará, Brasil. [email protected]

RESUMO

A capoeira é uma atividade corporal identificada vezes por luta ou dança e emerge na sociedade brasileira por via do enfrentamento ao escravismo. Por conta disso surgiram as organizações sociais, visando o respeito à humanidade e direto à liberdade das(os) afrodescendente e das(os) africanas(os) no Brasil. O tráfico negreiro e a escravidão intensificaram a prática da capoeira no Brasil, e ela se inscreveu como parte da unidade entre os africanos e afrodescendentes que apresenta elementos marcadores da cosmovisão, que é a forma africana de ver o mundo. O objetivo desse texto é apontar ao que se propõe a Educação Física escolar no momento atual, com um recorte para o trato da capoeira como prática pedagógica. O método utilizado foi o qualitativo com enfoque para a metodologia afrodescendente de pesquisa que se destaca com uma visão ‘desde dentro’, assenta-se nas categorias que envolvem a população negra. O estudo foi bibliográfico e desenvolvido a partir de aulas teóricas e práticas, seminários e exibição de filmes, visita às academias de capoeira angola e regional, e do uso da literatura específica e depoimentos dos estudantes. Os materiais utilizados foram os instrumentos da orquestra da capoeira, livros didáticos, filmes e quadra de esportes. Concluímos compreendendo a capoeira como uma prática corporal completa e que se insere no campo da valorização da história dos afrodescendentes no Brasil, tendo a oralidade africana e afrodescendente inscrita no patrimônio cultural imaterial brasileiro como base na afrodescendência, sendo a capoeira guardiã da ancestralidade africana, como patrimônio cultural negro e uma das principais bandeiras de luta para a libertação da população negra do escravismo e por isso disseminada mundialmente. A escola e a Educação Física são parceiras colaborativas no fortalecimento das identidades negras coletivas e individuais, da autoestima e na preservação da memória e do patrimônio cultural brasileiro onde o corpo em sua totalidade é o principal protagonista.

Palavras-chave: Capoeira; Cosmovisão Africana; Educação Física.

INTRODUÇÃO

A capoeira é uma arte afrodescendente de matriz africana utilizada na luta por libertação dos africanos escravizados no Brasil. Os africanos disponibilizaram seu corpo para fazer emergir da capoeira a expressão corporal concreta e explícita no processo de libertação, o corpo é depositário das emoções, afetos e sentimentos. Esse texto apresentará os aspectos filosóficos africanos inseridos na capoeira, o seu aporte educativo e o da Educação Física mostrando o enfoque pedagógico e a importância da corporalidade pela prática da capoeira como um elemento de constante aprendizagem que é fundamental no processo educativo nas aulas de Educação 91

Física. Discorro sobre a metodologia de pesquisa que vem tomando corpo desde o início dos anos 1990, voltada para os estudos das afrodescendências e que utiliza categorias de análise que buscam compreender as problemáticas étnicorraciais no Brasil, tendo com base a história africana e afro-brasileira. Abordarei o que subjaz a unidade africana e as organizações sociais que foram coadjuvantes da capoeira na arte da luta pela libertação dos africanos e seus descendentes. Como exemplo da prática pedagógica, descreverei em síntese o projeto de capoeira desenvolvido no CMLEM (Colégio Modelo Luis Eduardo Magalhães), Salvador/BA, como parte do conteúdo da disciplina Educação Física com estudantes do 2º ano do Ensino Médio. O presente artigo abordará inicialmente a metodologia utilizada na pesquisa, que é específica para o trato com as temáticas das africanidades; a descrição dos resultados estará atrelada à discussão teórica sobre a cosmovisão africana na qual a capoeira se insere e como foi desenvolvido o projeto de capoeira na escola supracitada; e por fim afirma que a Educação Física quando trata com a prática da capoeira oportuniza a aplicação da Lei 10.639/03 e visibiliza a história dos africanos e dos afrodescendentes no Brasil que foi negada pela historiografia oficial. O objetivo desse projeto foi: compreender e analisar criticamente a trajetória da capoeira na Bahia, no Brasil e no mundo, destacando-a como resistência da população negra; estabelecer diferença entre capoeira Angola e Regional; estimular o conhecimento histórico da capoeira como expressão corporal e baluarte para compreender a cultura de base africana; evidenciar a importância da capoeira como elemento propulsor de resistência e luta pela liberdade do povo brasileiro; compreender os significados da ginga da capoeira Regional e Angola e conhecer as músicas, instrumentos, ritmos e golpes de capoeira e seus significados.

MÉTODOS

O método de pesquisa foi desenvolvido por meio da análise qualitativa com enfoque nas afrodescendências a partir das ideias de (CUNHA JUNIOR, 2008). A metodologia afrodescendente de pesquisa foi gestada pelo Prof. Dr. Henrique Cunha Junior desde meados da década de 1990. As metodologias que tratarei nesse tópico são a que deram suporte ao desenvolvimento da práxis pedagógica que teve a capoeira como conteúdo no processo educativo. O projeto educativo envolveu a direção da unidade escolar, a professora ministrante das aulas de Educação Física e estudantes de 5 turmas do Ensino Médio num ambiente constante de troca de aprendizagem. Desenvolveu-se em seis meses sendo apresentado às turmas e devidamente distribuídas as tarefas e o material para a pesquisa que foi acompanhada periodicamente. As atividades foram desenvolvidas em cinco grupos de pesquisa, subdividido em mais 5 grupos por turma. Os procedimentos foram organizados coletivamente na sala de aula, fizemos entrevistas, diário de campo e visitas a grupos de capoeira Angola e Regional. Realizamos encontro com grupos de capoeira locais e palestras ministradas pelos estudantes com o resultado das pesquisas. Da pesquisa afrodescendente nos utilizamos de categorias de análise como africanidades, afrodescendências, memória, identidade e autobiografia numa visão ‘desde dentro’ dos problemas 92 que afetam a população negra, aliadas à produção da história social e da educação. Considerando a ancestralidade como parte da memória coletiva, identidade e patrimônio cultural. Tratamos em nossas análises das questões política, social, econômica da população afrodescendente como problema estrutural e o racismo antinegro como problema específico, diferenciando-o da discriminação e do preconceito (CUNHA JUNIOR, 2011).

Utilizamos o termo pesquisador ‘desde dentro’ defendido por Narcimária Luz (2000), por compreender que o pesquisador conheça ou esteja em contato com a cultura de base africana, e os problemas que afetam o pesquisador e a população negra de maneira geral. No caso desse trabalho vi ‘desde dentro’ das africanidades e dos conhecimentos concernentes à prática da Educação Física. Não somos atores externos, nem guiados por formação antropológica, e etnográfica por que não investigamos como observadores e sim numa relação sujeito/sujeito. Atentamos para a produção da consciência social e história social considerando a historicidade da experiência. Tratamos com situações sociais, políticas, econômicas e culturas da população afrodescendente.

As categorias memória; identidades são importantes por que “expressam a capacidade de expressão e de reação dos grupos sociais em luta, seja pela hegemonia da sociedade ou pelos direitos sociais [...]”, além de o pesquisador possuir “[...] conjunto de informações não disponíveis para outros pesquisadores. [...]”. Quanto à autobiografia, é importante no sentido de fazer o pesquisador afirmar sua identidade como sujeito, interagir com o sua comunidade que é um fator fundamental para aprendizagem e tomada de consciência de si, como parte do que pesquisa. As categorias de análise nos mobilizam durante todo o percurso da pesquisa desde sua elaboração. A observação não concerne no pesquisador estar constantemente questionando, ela implica em buscar compreensão do ambiente pesquisado (CUNHA JÚNIOR, 2008). Trata-se de uma pesquisa participante no sentido de dinamizar seus próprios conceitos e categorias. Induzindo a um novo problema, o pesquisador se envolve com a pesquisa e se transforma no enfrentamento do desafio que o modifica, provocado pela proposta inicial da pesquisa, por novos contatos e novos conhecimentos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A metodologia de trabalho utilizada para o projeto no CMLEM, onde a capoeira foi o conteúdo pedagógico, teve como princípio a discussão da proposta de atividades e a socialização das mesmas com os estudantes. Para trabalhamos com grupos de pesquisa nas turmas fizemos uma pesquisa sobre a temática ‘Capoeira arte, cultura e resistência popular’ para apropriação desse conhecimento. Fizemos também leitura e discussão de textos específicos. As aulas foram expositivas com auxílio de retroprojetor, projeção de filmes e seminários sobre a temática, oficinas com alunos e vivências na turma para a promoção do enriquecimento do acervo cultural do estudante a cerca da capoeira e sua origem afro-brasileira, assentada na cultura africana. As 93 aulas consistiram em práticas e envolveram debates que romperam com alguns preconceitos sobre a capoeira. Foi ministrada palestra sobre capoeira e oficinas para os estudantes interessados, e visitas às academias de capoeira Angola e Regional. Essas atividades tiveram como finalidade oferecer um arcabouço teórico-prático para dar suporte à organização de um seminário pelos estudantes como atividade final, onde eles também eram palestrantes. Além das rodas de capoeira com grupos convidados e o do CMLEM, houve apresentação do de roda e do maculelê. A avaliação do trabalho foi processual promovida pelo grupo desde a sua elaboração até o resultado configurado na aprendizagem resultando no evento cujo tema foi o título desse trabalho. Tangível à Educação Física existem correntes que primam pelo paradigma da aptidão física numa perspectiva biológico-funcional (BETTI apud TANI e SÉRGIO,1997). Outro pela Educação Motora como um ramo pedagógico da Educação Física ligado à Motricidade Humana, preenchendo as lacunas encontradas na Educação Física segundo (SÉRGIO, 1992). E a mais atual que se assenta nos movimentos renovadores dessa disciplina na qual se inserem autores como SOARES et. al. (1992), elaboradores da Abordagem Crítico-Superadora que enfoca a Educação Física propositiva, sistematizada numa dimensão critico superadora, pautada no eixo paradigmático da cultura corporal numa concepção histórico-crítica e no método de análise da realidade do materialismo histórico dialético. Onde o conhecimento é uma mediação entre o aluno e seu aprender. Privilegia uma dinâmica curricular que valoriza na constituição do processo pedagógico a interação dos elementos: conhecimento, tempo, espaço pedagógico e normatização, bem como os segmentos sociais, pais, alunos e funcionários. Preconiza os ciclos da escolarização da aprendizagem que são: ciclo de organização da identidade dos dados da realidade; da iniciação à sistematização do conhecimento; da ampliação da sistematização do conhecimento e do aprofundamento da sistematização do conhecimento SOARES et. al. (1992, p. 23), configurando- se numa aplicação pedagógica para a Educação Física, em que a capoeira se ajustou na execução desse projeto.

Atendendo ao paradigma da aptidão física o sistema educacional brasileiro optou entre 1882 a 1954 indiscriminadamente por métodos ginásticos estrangeiros sem nenhuma atualização para a realidade brasileira e práticas de alguns esportes. A exemplo dos pareceres de Rui Barbosa emitidos em 1882 que tiveram grande influência e repercussão, inclusive recomendando que os professores de Educação Física tivessem competência reconhecida na Suíça, Suécia e Saxônia e as atividades fossem específicas param meninos e meninas separadamente. Mas é digno de nota que esse paradigma perdurou por mais décadas, as quais não serão abordadas aqui, não que esse paradigma tenha desabado depois de 1954 (MARINHO s.d, p.14-15). O autor ainda aponta para a existência da prática da atividade física, como cultura corporal das populações indígenas voltadas para a natação, e canoagem, a equitação e o arco e flecha. No que tange às marchas assinala a resistência dos índios e quanto á equitação menciona o amor dos índios pelos cavalos. 94

Também abaliza as touradas e corridas como primeiras atividades praticadas pelos portugueses no Brasil. Verificamos que o autor menciona a prática corporal dos índios, mas alude a das touradas e cavalhadas como algo que deveria ser exercitado, quando explica a resistência dos índios em praticar as marchas.

No que tange às populações africanas o corpo é o meio pelo qual o homem se relaciona com o mundo, na filosofia africana essa relação é complexa. Essa forma de comunicação com o mundo está imbricada nos valores civilizatórios africanos que estão ancorados na ancestralidade, transmitida pela oralidade africana que documenta e se materializa a capoeira. Essa de certa forma representa a unidade africana de entender o mundo e a relação dele com todos os seres animais, vegetais e animais, que é resultado das relações que envolvem a energia vital e é força, o axé, na cultura ioruba que compreende quase toda a região norte e ntu o “ser” a banto (LUZ, 2000; ALTUNA 1985). A capoeira é parte da ancestralidade africana, transmitida pela oralidade preservada pela unidade africana que compreende a solidariedade, comunalidade, a religiosidade descrita na vivência originada no princípio da relação com o grupo, onde a união deve ser permanente para perpetrar o equilíbrio do próprio grupo. Isso se ancora no maat, da filosofia egípcia que significa equilíbrio, que foi quebrado devastado com as invasões no Egito e perpetração das invasões do Islã e da igreja católica, levando ao colapso atual do continente africano, resultado da colonização europeia. A unidade na diversidade africana está representada na sua cosmovisão, que é a visão de mundo dos africanos, onde o sagrado subsiste nas relações sociais considerando a existência da energia imbricada e circulando entre os seres animais, vegetais e minerais tendo origem divina.

A roda da capoeira é a representação da circularidade africana, da circulação de energia vital que emana do criador transversalizando todos os seres supracitados. A energia se expressa por meio da palavra que está imersa e envolvida no sagrado. A capoeira é a forma de os africanos e afrodescendentes tentarem em meio ao crime que foi a escravidão, manterem o equilíbrio e a formação do grupo e respeito à ancestralidade. Um exemplo é a hierarquia solidificada pela experiência, que cimenta o respeito ao mais velho, ao mestre. E a oralidade pelo meio da música, tradição oral e do jogo de capoeira, no caso do recorte desse texto. No continente africano a ancestralidade ocorre pelo reconhecimento às origens familiares comuns de cada família, no caso da capoeira a formação do grupo e o respeito ao mestre. Exemplo da música, ‘Menino quem foi o seu mestre?’ e na canção abaixo,

Bimba ensina eu/ Ensina eu/ / Nasceu na Velha Bahia/ Espalhando pelo mundo/ a sua filosofia/ Coro, Da iuna e regional; Ele foi o criador/ Um valente um guerreio/ Que a Bahia abençoou/ Coro, Nas rodas de capoeira/ Sempre foi um vencedor/ De rasteira a cebeçada/ Muita gente derrubou/ Coro, Hoje em dia a capoeira/ pelo mundo se espalhou/Agradeço a mestre Bimba/ A raiz que ele espalhou. 95

No canto de entrada que segue abaixo, existe a saudação ao mestre dos mestres que é a representação viva da ancestralidade, primeiro Deus, depois o mestre, isso é sagrado na capoeira,

Viva meu Deus/ Viva meu mestre!/ Que me ensinou/A capoeira!/ A malandragem!/Água de beber!/ Aruandê¹/ Volta do mundo!/ Que o mundo deu!/Que o mundo dá!/ Faca de ponta!/ Goma de engomar!/ Ferro de furar! Galo cantou!/ Cocorocô!/É mandingueiro!/ É cabeçeio!/ Vamos embora! Pela barra afora!

A tradição oral na filosofia africana banto, que não difere muito da ioruba Luz (2000), se manifesta pelas fórmulas rituais, textos didáticos, histórias etiológicas, contos populares, mitos, récitas (forma literária africana), poesias variadas e oficia; e narração histórica (ALTUNA 1985. p. 37).

[...] A tradição oral é biblioteca, o arquivo, o ritual, a enciclopédia, o trato, o código, a antologia poética e proverbial, o romanceiro, o tratado teológico e a filosofia. Ela exige plena adesão interior com perfeita exteriorização É a “memória muscular” exercida nas festas. [...] Através da “memória muscular” eles saltam (quase literalmente, pois a dança ritual desempenha um papel de primordial transmutação) os séculos, os anos-luz que separam a atual situação da respectiva origem. (ALTUNA 1985, p.32-35).

Na filosofia bantu² o ser humano é um ser falante, somado à cultura, que implica no muntu, que consequentemente implica em bantu, coletividade³, essa unidade se explica pela expansão da cultura egípcia por toda a África, segundo Cheikh Anta Diop (1923-1986). Compreende a solidariedade, comunalidade, circularidade, religiosidade, cultura, estética que engendra o pensamento africano, assegurando que tudo é energia, envolto em energia vital (Altuna 1985, p. 76) e movimento onde a fecundidade tem importância fundamental para o plano geracional. O que podemos ver resignificado na cultura brasileira, na música, artes e religiosidade de matriz africana, nesse caso o

NTU, o princípio da existência de tudo. “O Muntu é a pessoa constituída pelo corpo, mente, cultura e palavra. O Ubuntu, a existência definida pela existência de outras existências. Eu nós existimos porque você e os outros existem, tem um sentido colaborativo da existência humana coletiva nisto [...] A natureza como respeito profundo a vida. [...] Uma criança nasce e de imediato é classificada na categoria de coisas, seres animados, até que através da palavra falada alguém lhe dê um nome e o pronuncie. A palavra transforma o ser animado potencial humano, passível de inteligência humana a ser desenvolvida.” CUNHA JUNIOR (2010, p. 26-31)

A prática da capoeira, as irmandades negras e a religião de matriz africana extrapolam a mera corporalidade, desempenham um papel fundamental no processo de libertação e práxis da filosofia e cultura de base africana. Da mesma forma as escolas de samba, o samba de roda, o pagode o chorinho, o maculelê. Diferindo do que aponta Fontoura; Guimarães (2002) quando mencionam que a capoeira cativou a muitos, por isso se manteve viva enquanto cultura popular, 96 não observando na capoeira o laço de comunalidade, porque o grupo é importante e se compõe de família nuclear ou conjugal, família elementar e família alargada bantu, ou extensa ioruba.

As relações ou laços de parentesco alargado não são de consanguinidade, ele “consolida o valor mais estimado e desejável, pois que engendra a solidariedade e fundamenta esse humanismo tão sadio” (ALTUNA 1985, p. 114). É nele que se encerram as relações interpessoais na capoeira, candomblé e nas irmandades negras que convivem numa relação de individualidade e coletividade concomitante que possibilitaram a união que a fez surgir. Fontoura; Guimarães (2002) citam que os africanos eram separados no Brasil por terem dialetos diferentes, mas é digno de nota que os africanos têm e falam muitos idiomas. Quando se define as línguas africanas como dialetos, estabelece-se uma hierarquia onde apenas o idioma do colonizador é sobrevalorizado em relação às línguas mães africanas, no entanto a diferença linguística não impediu a prática da capoeira nem o surgimento das manifestações culturais africanas organizadas e sistematizadas.O modo de vida africano que fez surgir no Brasil a capoeira por via dos seus descendentes, não foi apenas pelo crime cometido pelo colonialismo europeu, a escravidão. Reagiam com o seu corpo não pela ausência da posse da arma de fogo como se refere Fontoura; Guimarães (2002), o faziam porque conheciam a liberdade na África e tinham a sua filosofia de vida.

O conhecimento da liberdade na África moveu os africanos no Brasil a criarem estratégias de sobrevivência que não fugiu à noção de grupo. Esse grupo é um conjunto activo, orgânico e místico, formado por vivos e defuntos de ambos os sexos, descendentes de um antepassado comum, reconhecido por todos como tronco original, manancial da vida comunitária, epónimo donde brota o sangue comum, corente vital que gera a unidade solidária inquebrantável entre todos descendentes através das gerações (ALTUNA 1985, p. 114).

APLICAÇÕES PRÁTICAS

A Educação Física passou por alguns momentos de debates que estimulou à análise sobre a sua prática. Como resultado do desconforto tangível ao paradigma da aptidão física, na escola sugeriu-se a prática da abordagem pedagógica critico superadora. Nela o processo educativo compreende ciclos educativos que inserem o educando e educador no mundo não só da prática, mas ao que subjaz a prática, onde professores, estudantes, pais e funcionários são partes do processo educativo. Não difere do que propõe a capoeira, dessa forma podemos compreender a importância e o potencial educativo da capoeira como conteúdo da Educação Física no processo ensino/aprendizagem. Essa importância reside em parte no entendimento da história da capoeira e em sua esteira a da África, dos africanos e dos afrodescendentes, colaborando para a aplicação da Lei 10.639/03. Ela foi promulgada em 09 de janeiro de 2003, alterando a 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial 97 da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira". Torna obrigatório o ensino e o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira, da África e dos Africanos. A luta dos negras/os, sua cultura e sua contribuição na formação da sociedade nacional, nas áreas social, econômica e políticas pertinentes à História do Brasil. Esses conteúdos serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. Insere o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra.

Dessa forma a capoeira e a Educação Física são aportes educativos que são fundamentais na proposição da Educação Física dinamizando o processo ensino/aprendizagem onde o corpo aprende com a motricidade, habilidade, congnoscitividade, agilidade, inteligibilidade e relação com o grupo. Esse é o aspecto pedagógico que promove o interesse dos estudantes por aprender não só a capoeira, mas sobre a história dos afrodescendentes que é invisibilizada pela história oficial. Promover a compreensão de que a capoeira traz em si uma filosofia que permeia a ancestralidade e as africanidades. Quando o estudante é partícipe do processo e compreende e visibiliza aquilo que lhe foi negado como cidadão, que é o conhecimento da sua história, fortalece o sentimento de autoestima, de pertencimento, sua identidade mostrando a capacidade do seu grupo e da população negra construir e enfatizar o valor do trabalho em grupo para a promoção do aprendizado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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98

FONTOURA, Adriana Raquel Ritter; GUIMARÃES, Adriana Coutinho de Azevedo. História da Capoeira. Revista da Educação Física, UEM. Disponível em: . Acesso em: 05 Jun. 2012. MARINHO, Inezil Pena. História da educação física no Brasil. São Paulo: Cia do Brasil, [S.d.]. SOARES, C. L. et al. Metodologia do ensino de educação física: coletivo de autores. São Paulo: Cortez, 1996. SERGIO, Manuel. Educação física ou ciência da motricidade humana? Campinas/SP: Papirus, 1991.

______

¹ O mesmo que aruanda, lugar específico plano espiritual reservado aos trabalhadores da umbanda. O que é aruanda? http://familiaaruanda.blogspot.com.br/2011/03/o-que-e-aruanda.html>.

² Grupo de povos africanos raficados e escravizados no Brasil.

³ Anotaçõs de aula, da disciplina Cultura Brasileira, no curso de Mestrado em Educação, o que coincide com ALTUNA, Pe. Raul Ruiz de Asúa. Cultura tradicional banto. Secretariado Arquididiocesano de Pastoral. Luanda, 1985.

99

NUTRIÇÃO E ATIVIDADE FÍSICA

100

Interferência da Suplementação de Carboidratos nas Alterações da Glicemia durante um Treinamento de Endurance

Daniel Sandro Medeiros, Alenna Tabosa Tavares, Camilla de Lima Bonifácio, Manoel Miranda Neto, Sonálle Carolina Andrade de Albuquerque, Alexandre Sérgio Silva Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil, [email protected]

RESUMO

Dos substratos energéticos mais utilizados nos exercícios de endurance, os carboidratos aparecem como fundamental para determinar o desempenho do atleta, afetando de forma positiva ou negativa, a glicemia do individuo. O objetivo deste estudo foi verificar e analisar a influência da ingestão de carboidratos sobre as respostas na curva glicêmica durante um treinamento de corrida de 25 quilômetros de atletas de endurance, com intensidade de 70 a 75% do VO2max. Participaram do estudo três atletas, com idade entre 20 e 39 anos (28,33 + 9,73). Foram duas sessões de treinamento, separadas por uma semana, sendo uma com ingestão de carboidratos a cada 20 minutos na primeira hora e a cada 10 minutos a partir de então e outra com ingestão de água nos mesmos momentos. Coletas sanguíneas foram feitas imediatamente antes do treino, e imediatamente antes de cada dose de carboidrato ou água. A análise dos dados foi feita através do teste t de Student para dados emparelhados, visando observar diferenças na monitoração com e sem suplementação para cada par de dosagens em relação ao tempo. Os dados foram colocados em gráfico, para se procurar a deflexão positiva da curva glicêmica. Para a construção do gráfico foi utilizado como recurso de informática o Excel. A glicemia sofreu queda rápida já na primeira dosagem, subindo na dosagem seguinte, porém os atletas suplementados apresentaram uma taxa de glicemia mais alta quando comparados ao treino sem suplemento, com diferenças estatisticamente significativas (p< 0,05). A suplementação de bebidas enriquecidas com carboidratos interfere positivamente sobre as alterações sofridas pela glicemia em exercícios de endurance, mantendo-a mais elevada durante todo o treinamento. Isto pode melhorar o rendimento, evitar proteólise e retardar a fadiga nos atletas, justificando assim a sua utilização.

Palavras-Chave: Endurance, carboidrato, glicemia.

INTRODUÇÃO

Os corredores de endurance de elite chegam a percorrer em seu treinamento semanal distâncias que podem chegar a 200Km (MOREIRA,1996), no entanto se esses treinos não forem bem prescritos pelos profissionais envolvidos, pode tornar os treinamentos inadequados, afetando 101 negativamente o desempenho, visto que existem vários fatores fisiológicos envolvidos na melhora da performance do atleta. Durante o treinamento e provas de endurance, o atleta utiliza como principais fontes energéticas todos os macronutrientes (gorduras, carboidratos e proteínas) e para que se tenha uma boa performance durante um treinamento ou uma competição de longa duração, esses substratos devem ser oferecidos em taxas adequadas, ou o desempenho será afetado (POWERS; HOWLEY, 2000).

Dentre os substratos energéticos acima citados, os carboidratos aparecem como fundamental para o atleta de endurance, pois além de fornecer grande parte da energia utilizada durante as provas e treinamentos, ele estar diretamente ligado a outros fatores que podem afetar o rendimento, como liberação de hormônios (cortisol, hormônio do crescimento, glucagon, noradrenalina e adrenalina), comprometimento da utilização da gordura como fonte energética e ocorrência da proteólise (CURI et al, 2003; MCARDLE et al., 1996; POWERS; HOWLEY, 2000). A diminuição da disponibilidade de glicose e glicogênio como substrato energético e a ocorrência de desidratação são constituídos como os principais fatores limitantes durante a prática de exercícios de resistência (DAVIS; BROWN, 2001). Quando a glicose começa a cair na realização de atividades de endurance, ocorre a liberação dos hormônios hiperglicemiantes que são responsáveis em manter a glicose plasmática em níveis normais (MCARDLE et al., 1996; POWERS; HOWLEY, 2000). Porém, essas respostas hormonais ao exercício retardam a depleção do glicogênio muscular utilizando as outras fontes de energia, estimulando a produção de glicose pelos aminoácidos e outros substratos diferentes dos carboidratos, ocorrendo queda de rendimento, mesmo com o aumento acentuado dos hormônios circulantes, os quais são responsáveis pelo inicio da fadiga. Por outro lado, a ingestão de bebidas com carboidratos, fornecidos de forma adequada, pode ser uma boa opção para a reposição de glicose e líquidos durante o exercício, retardando a fadiga e melhorando o rendimento (DAVIS; BROWN, 2001). Poucos estudos foram realizados para avaliar as alterações sofridas pela glicemia durante a prática de exercício físico longo. Houve a realização de alguns estudos com atletas e não- atletas, onde analisaram as alterações sofridas na glicemia, no lactato, nos ácidos graxos livres e hormônios (insulina, glucagon, cortisol, hormônio do crescimento, adrenalina e noradrenalina) em atividades de longa duração, onde se notou a importância da glicemia no controle das outras variáveis metabólicas estudadas (TSUJI; CURI, 1993; FOSS; CUNNINGHAM, 1993; SÁ; , 2001; DAVIS; BROWN, 2001).

Em função da relação de dependência da glicose com outras variáveis metabólicas que possam afetar a performance em provas de longa duração, a monitoração da glicemia durante o treinamento de endurance surge como uma boa opção para controle e avaliação do treinamento, podendo oferecer parâmetros sobre a necessidade de suplementação para o atleta. 102

Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo verificar e analisar a influência da ingestão de carboidratos sobre as respostas na curva glicêmica durante o treinamento de 25 quilômetros de atletas de endurance, com intensidade de 70 a 75% do VO2max (estimado pelo protocolo de 12 minutos de Cooper, conformo descrito em Guedes (2006).

METODOLOGIA

A pesquisa caracteriza-se como estudo experimental do tipo pré-experimental, tendo como população corredores de endurance da cidade de João Pessoa – PB, ao nível de competições estaduais. A amostra foi selecionada mediante procedimento não-probabilístico por tipicidade, subgrupo “típico” de atletas de endurance. O estudo foi realizado com 3 atletas da equipe paraibana de atletismo, Greco UFPB, que treinam na pista de atletismo da Universidade Federal da Paraíba, com idade correspondente entre 20 e 39 anos (28,33 + 9,73). Todos os indivíduos foram informados detalhadamente sobre os procedimentos utilizados e concordaram em participar de maneira voluntária do estudo, assinando um termo de consentimento livre e esclarecido.

O treinamento de 25 Km foi realizado uma vez por semana, aos sábados pois os treinos costumam ser mais longos, tendo início nas primeiras horas da manhã em percurso escolhido pelo atleta. No dia da coleta o treinamento foi realizado na pista de atletismo da UFPB, saindo do percurso de rotina. O procedimento de coleta de dados foi realizado em dois finais de semanas, pertencente a duas semanas ordinárias, para evitar o efeito do treinamento semanal sobre a resposta glicêmica, onde no primeiro sábado foi feito o procedimento controle e no segundo a suplementação. Antes de iniciarem o treinamento os atletas foram questionados sobre o que foi ingerido no desjejum. Após isto, medidas glicêmicas foram tomadas nos seguintes momentos: logo antes do treinamento; a cada 20 minutos na primeira hora; a cada 10 minutos depois da primeira hora; e no final do treino. No procedimento sem suplementação de carboidratos, foi fornecida água conforme a vontade do atleta. No procedimento experimental a suplementação era ingerida a cada parada de 20 minutos na primeira hora; 10 minutos depois da primeira hora para a realização da dosagem glicêmica, os atletas bebiam maltodextrina numa concentração de 7%. Para a coleta de dados o atleta interrompia a corrida e era feita primeiramente uma assepsia do dedo indicador com algodão e álcool, para então ser feita a retirada de sangue arterial do mesmo, utilizando o lancetador, sendo colocada uma gota de sangue no glicosimetro da marca Accu-Chek Advantage, com precisão de 1mg/dl, e o lancetador da mesma marca, para a obtenção do valor da glicemia. A análise dos dados foi feita através do teste t de Student para dados emparelhados, visando observar diferenças na monitoração com e sem suplementação para cada par de 103 dosagens em relação ao tempo. Os dados foram colocados em gráfico, para se procurar a deflexão positiva da curva glicêmica. Para a construção do gráfico foi utilizado como recurso de informática o Excel.

RESULTADOS

Os resultados das alterações glicêmicas desses três participantes, durante o treinamento de 25km, são apresentados no gráfico abaixo. Com o nível de significância p< 0,05 o comportamento da glicemia durante o treinamento com e sem suplementação foi similar nos três atletas, com algumas diferenças individuais em termos de valores entre os avaliados.

FIGURA I: valores da glicemia, durante o treinamento de 25 Km dos atletas I (p= 0.005),II (p= 0.002)e III (p= 0.000) com e sem suplemento.

Observando o gráfico abaixo, as médias da glicemia dos atletas suplementados com carboidrato se manteram acima das médias do grupo controle, havendo leve diferença estatística entre os dois procedimentos pois o grupo suplementado teve maior influência na glicemia.

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Glicemia(MG/dl)

140 122,3 119,9 120 101,8 100 93,25 86,44 80 75,25 Atletas CS 60 Atletas SS

40

20

0 1 2 3 Atleta 1(I),2(II) e 3(III)

Figura II: Resultados como média e desvio padrão

Médias e Desvio Padrão:

Atleta I CS 122,3±5,411 ; Atleta I SS 101,8±2,575 ; Atleta II CS 119,9±7,487 ;

Atleta II SS 86,44±2,231 ; Atleta III CS 93,25±1,031 ; Atleta III SS 75,25±1,729

DISCUSSÃO

Pode-se destacar como primeiro ponto a ser observado, a queda rápida da glicemia ocorrida logo na primeira dosagem aos 20 minutos, chegando a níveis considerados baixos (próximo de 60 g/dl), com exceção do atleta III que não apresentou essa primeira queda, pois já começou o treinamento com essa taxa glicêmica baixa em relação aos demais. Outro ponto a ser observado é que a partir desta primeira queda, a glicemia voltou a subir, mas sempre permanecendo à níveis próximos do pré-treino, perdurando até o final do treino.

A queda rápida da glicemia pode ter sido devido a predominância do uso deste substrato como fonte de energia no inicio do exercício, é lógico sugerir que a fonte predominante de substrato energético durante o treinamento foi a glicose plasmática e os estoques de glicogênio muscular, pois a diminuição dos níveis sanguíneos de glicose nos primeiros 20 minutos é um 105 indicador da captação da glicose circulante para o fornecimento deste substrato energético para os músculos em contração (FOSS; CUNNINGHAN, 1993; TSUJI; CURI, 1993; DAVIS; BROWN, 2001; CURI et al, 2003; POWERS; HOWLEY, 2000). No entanto, o que pode está acontecendo é que o músculo esteja consumindo muito glicogênio, sem que a captação de glicose seja alta, mas infelizmente não se encontrou dados na literatura para confirmar esta suposição. Os mesmos autores acima citados colocam que ocorre a liberação de hormônios (glucagon, cortisol, hormônio do crescimento e catecolaminas) junto a queda rápida da glicose na fase inicial, e esses hormônios são responsáveis pela manutenção da glicose sanguínea em níveis normais, por meio da modificação do metabolismo, estimulando outros substratos como fonte de energia. Então, dá pra se dizer que o retorno da glicemia após os 20 minutos de exercício pode ser resultado da liberação de hormônios glico-reguladores, proporcionando a utilização dos lipídeos como fonte de energia, levando ao aumento da glicose à níveis próximos do pré-treino. É importante colocar para os atletas de endurance, que durante seus treinamentos e provas longas, principalmente na fase final do exercício, existe a possibilidade da liberação continua desses hormônios devido a depleção do glicogênio muscular e hepático, podendo este ser um dos fatores responsável pelo início da fadiga, prejudicando o seu rendimento (DAVIS; BROWN, 2001; CURI et al, 2003, FOSS; CUNNINGHAN, 1993; FERREIRA et al, 2003; McARDLE et al,1996).

Pode-se dizer que mesmo com os níveis glicêmicos em níveis próximos aos de pré-treino até a fase final, os atletas podem estar sofrendo prejuízos causados pela permanente liberação desses hormônios. Dentre estes prejuízos está a proteólise que é causada pelas altas e prolongadas concentrações de cortisol na corrente sanguínea (McARDLE et al, 1996).

Porém, esse estudo não monitorou a proteólise, pois sua ocorrência é uma suposição lógica, baseada no comportamento metabólico/hormonal no exercício. (McARDLE et al, 1996; POWERS; HOWLEY, 2000). Essa confirmação da proteólise só se daria com a monitoração da concentração sérica de enzimas musculares concomitante com a monitoração glicêmica.

Comportamento glicêmico com suplementação

Os atletas só foram suplementados após os 20min, por isso o comportamento glicêmico nessa fase, conforme mostrado no gráfico foi parecido com os níveis sem suplementação, onde também se observou queda da glicemia já na primeira dosagem. 106

Um ponto importante após a suplementação à ser observado, foi a elevação da glicemia a níveis superiores aos do pré-treino, permanecendo essa superioridade até o final do treino.

Observando o atleta III no gráfico, apesar de não elevar a glicemia a valores altos, ele apresentou nível de significância maior que os outros dois atletas, podendo ser explicado pelo baixo valor glicêmico apresentado por esse atleta no procedimento sem suplementação. Os resultados mostraram valores de glicemia maiores com a suplementação. Isso mostra a influência da suplementação de carboidrato quando comparado as respostas glicêmicas sem suplementação. Esse aumento da glicose plasmática a níveis superiores do pré-treino na fase suplementada leva a entender que a ingestão de maltodextrina ajudou a manter a glicemia, reduzindo a concentração de hormônios como o cortisol, catecolaminas, glucagon e hormônio do crescimento e aumentando a concentração de insulina, sendo enfatizado por Davis e Brown (2001) quando afirmam que a ingestão de carboidrato imediatamente antes e/ou durante os exercícios de resistência produz modificações significativas no comportamento dos hormônios glico-reguladores. Embora não tenhamos avaliado medidas de estoques musculares e hepáticos, entendemos ser possível afirmar que a suplementação de bebidas á base de carboidrato diminuem a depleção do glicogênio muscular e hepático, aumentando a captação de glicose e oxidação nos músculos e cérebro, sendo importante para atletas que praticam exercícios longos e exaustivos. Estes possibilidades justificam este e os demais estudos que tem sido conduzidos para avaliar a suplementação de carboidratos e o comportamento glicêmico no exercício.

CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos neste estudo conclui-se que a suplementação de bebidas enriquecidas com carboidratos interfere positivamente sobre as alterações sofridas pela glicemia em exercícios de endurance, podendo promover melhora no rendimento, evitar proteólise e retardo da fadiga dos atletas, através das possíveis modificações hormonais induzidas pela suplementação, justificando assim a sua utilização.

Contudo a relação da glicemia com as variáveis fisiológicas que possam comprometer a performance do atleta de endurance durante os treinamentos e as competições, ainda precisam ser melhores investigadas, e futuras pesquisas deveriam ser realizadas, empregando, se possível, dosagens em períodos mais curtos (de 5 a 10 min) desde o inicio do treino, suplementar antes do início do treino, equipamento laboratorial para a coleta dos dadose um estudo correlacional entre comportamento glicêmico x concentração de hormônios séricos e enzimas marcadoras de proteólise (creatinoquinase, aldolase, lactatodesidrogenase).

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REFERÊNCIAS

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Prevalência de Suplementação por Praticantes de Academia e Associação com Possíveis Efeitos Adversos

Maria Irene Gomes de Andrade, Nayara Moreira Lacerda Massa, Klébya Hellen Dantas de Oliveira, Walkiria Valeriano da Silva, Alexandre Sérgio Silva

Universidade Federal da Paraíba, Laboratório de Estudos do Treinamento Físico Aplicado ao Desempenho e Saúde, João Pessoa, Paraíba, Brasil. [email protected]

RESUMO

Introdução: os suplementos nutricionais estão cada vez mais presentes nas academias de ginástica, sendo consumido por grande parte dos praticantes de exercício físico, mesmo que à eficácia dos seus benefícios propostos ainda não estejam bem estabelecidos, e existam relatos de efeitos adversos por uso de suplementos. Objetivo: avaliar a prevalência do uso de suplementos de praticantes de exercício de musculação e associar aos possíveis efeitos adversos. Material e Métodos: realizou-se estudo transversal, com amostra representativa composta por 172 sujeitos, de ambos os sexos, praticantes de exercício físico em 15 academias distribuídas nos cinco distritos sanitários da cidade de João Pessoa–PB. Resultados e Discussão: dos sujeitos, 127 eram homens, e a média de idade da amostra foi de 25,7± 5,6 anos. Observou-se alto consumo de suplemento (93,7%) e bom nível de escolaridade, o que pode refletir na disposição e motivos elencados para a prática de exercícios. A saúde, estética e hipertrofia foram os principais motivadores. Dentre os tipos de suplementos utilizados, os compostos protéicos foram os mais citados, seguidos dos suplementos a base de carboidratos. Apesar do crescimento expressivo da indústria de suplementos e do consumo por praticantes de exercício, este é realizado em maior parte, sem recomendações de um profissional habilitado tecnicamente. Quanto ao uso de suplementos foram relatados efeitos adversos, entre homens: insônia (24,4%), acne (21,15%), agressividade (13,46%) e cefaléia (13,46%), e mulheres: problemas renais (14,29%) e acne (7,14%). Conclusão: A realização de testes clínicos para diagnóstico preciso desta associação entre uso de suplementos e efeitos adversos fazem-se necessárias. Há alta prevalência de consumo de suplementos entre praticantes de exercícios, e os profissionais de saúde são que os menos os prescrevem. Fato preocupante, uma vez que os usuários relatam uma alta incidência de efeitos adversos advindos do uso de suplementos.

Palavras-chave: suplementos alimentares, efeitos adversos, exercício físico.

INTRODUÇÃO

A busca por melhor qualidade de vida impulsionou a prática de atividade física e a modificação de hábitos alimentares e de estilos de vida em pessoas de todas as idades (ARANHA et al., 2012). A alimentação e hidratação adequadas podem afetar a saúde, peso, composição corporal, disponibilidade de substrato durante o exercício, tempo de recuperação pós-exercício e o conseqüente desempenho na atividade (PINHEIRO et al., 2008). Embora nem sempre necessários, a procura e consumo de suplementos nutricionais está tornando-se cada vez mais comum entre praticantes de atividade física, particularmente, freqüentadores de academias, muitas vezes sem uma orientação adequada e sem segurança no uso desses suplementos, utilizados principalmente com finalidade ergogênica e estética (HALLAK; 109

FABRINI, 2007; SCOFIELD; UNRUH, 2006; DOMINGUES et al., 2007; GOMES et al., 2008). Este fenômeno pode ser preocupante na medida em que se encontram dados de consumo de forma exagerada (GARCIA; VIVIANI, 2003), Segundo Goston e Correia (2010) 36,8% da população estudada afirmaram que faziam uso de algum tipo de suplemento esportivo, sendo este consumo mais comum entre atletas (50%), diferindo da população em geral (35%) (MAUGHAN; BURKE, 2004). Diante do elevado consumo inadvertido e dos diversificados suplementos nutricionais disponíveis no mercado, somado à falta de regulamentação mais rigorosas na produção e comercialização de tais produtos, no que diz respeito a sua eficiência, segurança e prescrição, o consumidor pode estar exposto a riscos por efeitos adversos, que podem vir a representar um problema de saúde pública (CALFEE; FADALE, 2006; HALLAK; FABRINI, 2007; PEREIRA; LAJOLO, 2003; MILLEN et al., 2004; TIAN et al., 2009). Apesar da existência de um grande volume de estudos apontando a prevalência da suplementação, a grande maioria foi feita com populações específicas e não elucida quais possíveis efeitos adversos advindos de seu. Isto leva a crer que para que estes dados sejam confiáveis, o estudo deve ter caráter populacional, com amostra representativa. Portanto, o objetivo deste estudo é apresentar dados de prevalência do uso de suplementação em praticantes de musculação de academias dos cinco distritos da cidade de João Pessoa-PB e associar com possíveis efeitos adversos advindos de seu uso.

MATERIAL E MÉTODOS

Realizou-se um estudo transversal com 172 sujeitos de ambos os sexos, com idade superior a 18 anos, praticantes de exercício físico em 15 academias da cidade de João Pessoa– PB. A amostra foi definida com base no cálculo amostral, com nível de confiança de 90%, erro amostral de 5% e percentual de praticantes de academia que consomem suplementos nutricionais de 80% (GOMES et al., 2008), constituiu-se uma amostra representativa dos aproximadamente 16.000 praticantes de exercícios físicos, das 200 academias registradas no conselho regional de educação física, alocadas nos cinco distritos sanitários da cidade de João Pessoa-PB. Três academias de cada distrito sanitário foram randomicamente selecionadas e os sujeitos distribuídos aleatoriamente. Após consentimento dos proprietários das academias, os sujeitos eram convidados a participar do estudo, em momentos distintos do treino e horários diversos, conforme preferência, para evitar falhas de registro. Para a coleta dos dados, realizou-se um estudo piloto e foi utilizado um questionário estruturado, composto por 13 perguntas, que contemplavam o perfil do participante, o uso de suplementos e tempo de uso, uso pregresso de esteróides anabolizantes, efeitos adversos apresentados por uso de suplementos, indicação para uso de suplementos, 110 exercícios físicos realizados e tempo de prática de exercício físico. O questionário foi aplicado na forma de entrevista, no período compreendido entre outubro e novembro de 2011. Todos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, após breve explanação do estudo, devidamente aprovado pelo comitê de ética em pesquisa com seres humanos do Hospital Universitário Lauro Wanderley, da Universidade Federal da Paraíba, conforme Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, sob número de protocolo 704/2010. Para ser considerado usuário de suplemento no momento da pesquisa, os sujeitos deveriam fazer uso de algum tipo de suplemento alimentar há pelo menos quatro meses e não fazer uso de esteróides anabolizantes. Os não-usuários foram considerados grupo controle para os propósitos de comparação dos efeitos adversos dos suplementos. Os participantes do grupo controle deveriam não usar suplementos ou esteróides anabolizantes. Se tivesse histórico de uso de algum suplemento, deveria não estar mais em uso há pelo menos quatro meses. Os dados foram tratados por meio de estatística descritiva, apresentados como média e desvio padrão da média e como percentuais de prevalências dos fenômenos estudados na população, analisados através do pacote estatístico do Microsoft Office Excel, 2007, para Windows.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Participaram 172 indivíduos frequentadores de academia de musculação dos cinco distritos de João Pessoa, destes 127 do sexo masculino. A média de idade da amostra foi de 25,7± 5,6 anos (para mulheres 25,92 ± 5,19 e para homens 25,96 ±5,08 anos). A amostra foi divida em dois grupos, de acordo com o uso ou não de suplementos, onde, 93,7% faziam uso de suplementos, apresentando este um maior percentual de indivíduos do sexo masculino (77,1%), corroborando estes dados com o estudo de Hirschbruch et al. (2008). Já o grupo controle composto de 6,3% da amostra total, apresentava maior percentual de mulheres (53,3%) – Tabela1. Considerando o consumo de suplementos por gêneros, os dados obtidos estão de acordo com Gomes et al. (2008), Pereira, Lajolo e Hirschbruch (2003), os quais relataram um elevado consumo de suplementos por homens. A amostra possui um bom nível de escolaridade, no entanto, apresenta diferença entre os anos de estudo, onde o grupo suplementado revela maior percentual de indivíduos com nível superior incompleto (38,98%), diferindo do não suplementado, aonde prevaleceu maior percentual de indivíduos (33,3%) com o nível de escolaridade médio completo. Podendo isto refletir na disposição e motivos elencados para a prática de exercícios, onde em ambos os grupos, a saúde, estética e hipertrofia foram os principais motivadores, respectivamente. Estando em consonância com resultados de Hirschbruch et al. (2008), o qual elenca os mesmos motivos já citados. Ressalta-se que a hipertrofia muscular é um dos principais objetivos apresentados pelos sujeitos deste estudo, independentemente de gênero. Similar a este achado, Trog e Teixera 111

(2009) observou que 32% dos sujeitos relataram o mesmo objetivo.

Tabela 1: Características sociais e culturais dos sujeitos do estudo Variáveis Suplementos GS Controle Gênero Masculino 77,1% 22,9% Feminino 46,7% 53,30% Grau de Escolaridade Fundamental incompleto 0,84% 0 Fundamental completo 1,69% 0 Médio Incompleto 8,47% 7.40% Médio Completo 21,18% 33.3% Superior Incompleto 38,98% 24.07% Superior Completo 29.66% 27.7% Motivos para a prática Estética 47,45% 35,18% Saúde 66,94% 70,37% Lazer 21,18% 20,37% Hipertrofia 42.37% 33,3% Rendimento esportivo 14,40% 12,96%

Os motivos para a prática de exercício pode está relacionada ao elevado uso - 93,7%- e escolha do tipo do suplemento. A elevada prevalência do consumo elucidada no estudo corrobora com outros dados de prevalência realizados no Brasil. Santos (2002) verificou na cidade de Virória – ES, que 70% da população pesquisada consumia algum tipo de suplemento e Gomes et al. (2008) em pesquisa na cidade de São Paulo, relatou um elevado consumo de suplementos (52%). Dentre os tipos de suplementos utilizados, os compostos protéicos foram os mais citados, independentemente do gênero, seguidos dos suplementos a base de carboidratos. O que pode ser associado ao objetivo de ganho de massa muscular, descrito pelos entrevistados. Os tipos de suplementos consumidos estão descritos na tabela 2.

Tabela 2. Tipos de suplementos utilizados pelos sujeitos

Variáveis Homens Mulheres Proteína 59,61% 85% Carboidrato 26,92% 0 Termogênico 15,38% 15% Pré-hormonal 4,80% 0

Relatos da literatura também apontam as proteínas como os suplementos mais consumidos. Oliver et al. (2008) elucida que 28% dos indivíduos pesquisados faziam uso de proteínas. Pereira et al. (2003) descreve que 38,9% usavam suplementos protéicos. Considera-se que a preferência pelos compostos protéicos possa derivar do fato de que os aminoácidos 112 constituem substrato muito importante para a síntese de proteína muscular pós–exercício, aliados aos carboidratos simples (GOSTON et al, 2010; PEREIRA et al, 2003; ALVES et al., 2009). Os termogênicos e pró-hormonais são substâncias consideradas eficazes, mas embora sua segurança ainda não esteja bem estabelecida, o consumo foi descrito entre os sujeitos do estudo. Há relatos que apontam para efeitos adversos importantes no sistema cardiovascular oriundo do uso de termogênicos (HALLER et al., 2010) e efeitos adversos importantes, em usuários de pró- hormonais ( VAN THUYNE et al, 2006; ZIEGENFUSS et al., 2002). O mercado consumidor de suplementos cresce de forma expressiva, no entanto este consumo muitas vezes é realizado sem recomendações de um profissional habilitado tecnicamente. A indicação para uso de suplementos diferiu para os homens e mulheres, onde os amigos e familiares foram os mais citados pelos homens, já as mulheres referiram que em 35,71% a indicação do uso de suplemento era realizada por educador físico, seguido por uma auto- prescrição. Apenas 21,15% dos homens, e 21,43% das mulheres relataram ter adquirido suplementos por orientação de um nutricionista (Tabela 3).

Tabela 3. Indicação do uso da suplementação Variáveis Homens Mulheres Nutricionista 21,15% 21,43% Médico 3,85% 0% Educadores físicos 29,51% 35,71% Balconistas de loja 7,69% 0% Amigos 39,42% 14,29% Familiares 57,7% 0% Conta própria 31,73% 28,57 Outros 8,65% 7,14%

Os dados encontrados para prescrição por nutricionistas, são similares ao estudo Santos e Barros Filho (2002), o qual observou que a indicação do consumo de suplementos por nutricionista foi de 21,5 %, e na pesquisa de Domingues e Marius (2007) 27% dos entrevistados fizeram consumo dessas substâncias devido a recomendações médicas e nutricionais. Apesar destes dados, se faz de relevância ressaltar a importância da prescrição por profissionais qualificados e autorizados a prescreverem este tipo de suplementação alimentar, seja ele para a melhora do desempenho fisico, estético ou até mesmo para a a melhora da qualidade de vida (HIRSCHBRUCH et al,. 2008) . Os dados encontrados denotam o fato de que os suplementos têm sido tratados na academia como um produto de mercado, dissociado de cientificidade e profissionalismo, uma vez que o profissional que mais devia estar envolvido na prescrição, o nutricionista, passar a existir entre os que menos prescrevem suplementos. Do ponto de vista de saúde pública, este é um fenômeno preocupante, pois produtos associados à saúde estão inseridos na sociedade sob a gerência de leigos, e movidos pela lógica do mercado. 113

Diante do uso indiscriminado destes compostos alimentares as Diretrizes Brasileiras de Medicina e Esporte (2003), alertam que o uso excessivo dessas substâncias pode ser prejudicial à saúde, podendo conter substâncias que podem gerar efeitos colaterais e, tóxicos se usados com imprudência (READER’S DIGEST, 2001). O grupo que faz uso de suplementos relatou os efeitos adversos advindos de seu uso (Tabela 4). Observou-se que 73,59 % dos usuários do sexo masculino e 50% das mulheres relataram algum desconforto ou efeito adverso advindo do uso de suplementos. Os homens relataram que os principais efeitos adversos são: insônia (24,4%), acne (21,15%), agressividade (13,46%) e cefaléia (13,46%). Estes relatos diferindo das mulheres as quais relataram ser: problemas renais (14,29%) e acne (7,14%).

Tabela 4. Efeitos adversos advindos do uso de suplementos

Variáveis Homens Mulheres Calvície 0% 7,14% Hipertrofia da próstata/desenvolvimento de 11,54% 7,14% pelos faciais Acne 21,15% 14,29% Agressividade/hipertrofia do clitóris 13,46% 7,14% Hipertensão 8,65% 0% Limitação do Crescimento/Alteração do humor 9,62% 0%

Aumento do colesterol 5,77% 0% Ginecomastia/diminuição das mamas 4,81% 0% Dores de cabeça 13,46% 7,14% Impotência e esterilidade/irregularidade ou 8,65% 7,14% ausência da menstruação Insônia 24,4% 7,14% Problemas de Fígado 7,69% 7,14% Problemas Renais 9,62% 14,29% Problemas de tendões e ligamentos 4,81% 0% Outros 5,77% 0%

Efeitos adversos são citados pelo uso de termogênicos, como a taquicardias e insônia (SACHDEVA et al., 2005; FORTE et al., 2006). Esse tipo de suplementação possui substâncias que são mimetizadoras das catecolaminas, que além de ativar a lipólise, também aumentam a frequência cardíaca e induzem a vasoconstricção (JITOMIR et al., 2008; BLOOMER et al., 2009). Os efeitos adversos auto-referidos pelos indivíduos demonstram uma associação do uso de suplementos com uma variedade de reações negativas à saúde. No entanto, estudos que relatam efeitos adversos advindos de uma população ampla ainda são escassos na literatura. Muitos dos estudos se resumem a efeitos colaterais relatados em casos isolados. Diante do exposto, denota-se a importância da realização de testes clínicos com a população que faz uso de suplementos, para que ultrapassemos o nível apenas dos que é relatado pelos sujeitos, uma vez que estes relataram uma razoável quantidade e prevalência de 114 efeitos adversos. Mas, estes dados são limitados pelo fato de que foram avaliados apenas os efeitos percebidos pelos sujeitos e atribuídos á suplementação, de modo que duas vertentes podem ser consideradas: 1- não há a certeza de que estes efeitos realmente tenham sido promovidos pela ingesta de suplementos; 2- exames clínicos são necessários, uma vez que outros efeitos como hipertensão arterial, disfunção hepática e renal, dislipidemia podem ocorrer e não são percebidos sem avaliação clínica. Portanto, a partir destes dados preliminares sugerimos a necessidade de realização de estudos clínicos com uma amostra representativa para avaliar efeitos adversos provocados pelo uso de suplementos nutricionais.

CONCLUSÃO

Elucida-se uma alta prevalência de consumo de suplementos em praticantes de exercícios em academias de ginástica na cidade de João Pessoa-PB. Destaca-se deste estudo o fato de que profissionais de saúde são que os menos prescrevem estes suplementos. Este fato é preocupante, uma vez que os usuários relatam uma alta incidência de efeitos adversos advindos da ingesta de suplementos. A parti deste estudo realizado com uma amostra representativa dos praticantes de academia dos cinco distritos da capital, sugerimos a realização de um estudo clínico para avaliar efeitos adversos do uso de suplementos.

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116

Pró-Hormônio: associação entre Uso e Efeitos Colaterais em Jovens Praticantes de Exercício Resistido

Yale Costa de Melo Vieira, Lydiane Tavares Toscano, Luciana Tavares Toscano, Camyla Rocha de Carvalho Guedine, Jousianny Patrício da Silva, Cássia Surama Oliveira da Silva

Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil. [email protected]

RESUMO

Nas últimas décadas, os esteroides anabolizantes androgênicos (EAAs) passaram a ser muito utilizados por praticantes de exercício físico como um recurso anabólico, porém apresenta efeitos colaterais. Como alternativa, o mercado da suplementação esportiva desenvolveu os pró- hormônios (PHs), mais conhecidos como anabolizantes naturais que prometem aumentar a produção endógena de testosterona apresentando, supostamente, efeitos adversos minimizados. O objetivo deste estudo foi investigar possíveis efeitos colaterais sobre a pressão arterial sistêmica, o perfil lipídico e glicêmico, além da segurança hepática resultante da utilização dessas substâncias por praticantes de exercício resistido em academias da cidade de João Pessoa. Quinze praticantes, sendo nove usuários de PHs (24,4±6 anos) e seis controles (21,6±2 anos) responderam a um questionário contendo dados sociodemográficos, nível de atividade física, uso de suplementação e efeitos adversos auto-referidos. Foram avaliados pressão arterial sistêmica, perfil lipídico, glicêmico e hepático. Agressividade (33,3%), insônia (33,3%) e ginecomastia (22,2%) foram os efeitos relatados com maior prevalência pelos usuários de PHs. Apresentaram ainda, valores maiores do que o grupo controle para pressão arterial diastólica (p=0,01), colesterol total (p=0,02) e relação colesterol total/HDL, enquanto o colesterol HDL (p=0,001) encontrava-se diminuído. Conclui-se que o uso de pró-hormônio por praticantes de exercício resistido, induz distúrbios hormonais como ginecomastia, distúrbios comportamentais como agressividade e insônia, alterações fisiológicas como maior pressão arterial diastólica, além de alterações bioquímicas indesejáveis nos níveis séricos de colesterol total, HDL-c, razão CT/HDL e transaminase glutâmica pirúvica.

Palavras-chave: esteroides anabolizantes, pró-hormônio, exercício resistido.

INTRODUÇÃO

A crescente valorização do corpo na sociedade de consumo, o culto a autoimagem, a superação dos limites físicos e a busca por resultados a curto prazo vêm encorajando os jovens a consumirem suplementos nutricionais, pró-hormônios e Esteroides Anabolizantes Andrógenos - EAAs (FERRARI, 2011). Os EAAs são derivados sintéticos da testosterona utilizados para fins terapêuticos em situações de deficiência deste hormônio ou para potencializar o efeito anabólico do treinamento (FRAGKAKI et al., 2009). Os primeiros relatos sobre a utilização de EAAs visando aumentar o desempenho esportivo ocorreram durante um campeonato de levantamento de peso em Viena 117

(1954) no qual atletas mostraram melhora do desempenho e da força (CUNHA et al., 2004). Desde então, vêm aumentando a demanda do seu consumo entre os desportistas (SANTOS et al., 2006). Recentemente o mercado da suplementação esportiva lançou os pró-hormônios (PHs) como uma alternativa para o uso de EAAs por serem vendidos como suplementos alimentares com a promessa de aumentar a produção endógena de testosterona e de outros esteroides anabolizantes (BHASIN et al., 2005). Os PHs são popularmente conhecidos como anabolizantes naturais, sendo assim utilizados por atletas para acelerar os resultados dos treinamentos (CLARKSON; TOMPSOM, 1997); (BROUNS, 2005). No entanto, a The World Anti-Doping Code, (2011) proíbe o uso da substância presente nos PHs, da mesma forma que a Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva (KREIDER et al., 2010) considera esse tipo de suplemento inseguro para o consumo. Nessa perspectiva, a crescente utilização de esteroides anabolizantes tem sido alvo de várias pesquisas, devido aos efeitos colaterais e às alterações fisiológicas provocadas (LIMA; CARDOSO, 2011) que variam de acordo com cada pessoa, tipo de substância, tempo de uso e dosagem (SANTOS et al., 2006). Dentre os efeitos colaterais relatados encontram-se a hipertensão arterial sistêmica (HAS), aumento da lipoproteína de baixa densidade (LDL-c), a redução da lipoproteína de alta densidade (HDL-c), arritmias (GEBARA et al., 2002), hepatotoxicidade, acnes severas, calvície, ginecomastia, insônia, cefaleia, dentre outros (BOFF, 2008). Alterações psiquiátricas e psicológicas como agressividade, mudanças de humor, euforia, irritabilidade, comportamento antissocial, surtos esquizofrênicos e suicídio também são consequências relatadas (ARAÚJO, 2003). Diante da escassez de pesquisas associando o uso de PHs aos efeitos colaterais em usuários praticantes de exercício físico, o objetivo deste estudo foi investigar os possíveis efeitos colaterais sobre a pressão arterial sistêmica, o perfil lipídico e glicêmico, além da segurança hepática resultante da utilização dessas substâncias por praticantes de exercício resistido em academias da cidade de João Pessoa.

MÉTODOS

Sujeitos: quinze praticantes de exercícios resistidos da cidade de João Pessoa/ PB, sendo nove no grupo PHs (24,4±6 anos) e seis no grupo controle (21,6±2 anos). Foram excluídos do grupo PHs usuários de testosterona sintética e/ou portadores de doenças hepáticas, diabetes, hipertensão ou complicações cardíacas, e do grupo controle, além desses requisitos, os usuários não poderiam fazer uso de esteroides, pró-hormônios ou suplementos nutricionais há pelo menos oito meses. A pesquisa foi previamente aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Lauro Wanderley, Universidade Federal da Paraíba, sob o protocolo CEP/HULW nº 630 /10. Os participantes da pesquisa foram previamente esclarecidos quanto aos procedimentos 118 e solicitados a assinar o termo de consentimento livre e esclarecido de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Composição do PH (M-Drol): de acordo com dados fornecidos pelo fabricante (Competitive Edge Labs) este produto possui como princípio ativo a substância 2a, 17a-dimetil-etiocholan-3-ona, 17b- ol na quantidade de 10 mg por unidade. Desenho de estudo: foi aplicado um questionário, avaliado previamente através de um estudo piloto, contendo dados sociodemográficos, nível de atividade física, uso de suplementação e seus possíveis efeitos adversos. Posteriormente, foi mensurada pressão arterial e coletadas amostras sanguíneas para análise de glicemia, colesterol total (CT), lipoproteínas de alta densidade (HDL– c), transaminase glutâmica pirúvica (TGP) e transaminase glutâmica oxalacética (TGO). Protocolo de pressão arterial: a medida de pressão arterial sistêmica foi realizada pelo método indireto através da técnica auscultatória com uso de esfigmomanômetro de coluna de mercúrio devidamente calibrado. Os procedimentos para aferição foram realizados de acordo com a VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2010). Coletas e análises sanguíneas: foram coletados 5 mL de sangue venoso, após jejum de no mínimo oito horas, para análise de glicemia, CT, HDL–c, TGP e TGO. As coletas foram realizadas por enfermeiras experientes e as análise feitas no Laboratório de Estudos e Treinamento Físico Aplicado ao Desempenho e a Saúde (LETFADS). O sangue foi imediatamente colocado em tubos de ensaio a vácuo, sem anticoagulante. As amostras foram centrifugadas a 3000 RPM por 15 minutos e o sobrenadante transferido para ependorfs e refrigerado em alíquotas a -20°C ou 4°C até as análises. Estas foram realizadas por meio de kits comerciais (Labtest, Minas Gerais, Brasil), de acordo com as instruções do fabricante. Análise dos dados: os resultados foram apresentados como média e desvio padrão da média. Foram aplicados os testes de Shapiro-Wilk e Levene para verificar a normalidade e homogeneidade dos dados. Ao revelarem normalidade foi utilizado o Teste t Student, corrigido por Welch´s. Os dados foram analisados por meio do software Instat 3.0 (GraphPad, San Diego, CA, USA), adotando significância de p<0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os voluntários utilizavam além do M-Drol algum suplemento à base de aminoácidos, sendo o whey protein o mais usado (66,6%) seguido pela creatina (23,3%). Observou-se que 77,8% dos sujeitos conheciam os possíveis efeitos colaterais do uso do M-Drol, dentre eles destacou-se a agressividade (33,3%). Estudos em ratos demonstraram que o uso crônico de EAAs afetou as transmissões nos circuitos neurais alterando a expressão de medo, ansiedade e depressão (OBERLANDER et al., 2012). Alterações comportamentais, como agressividade e irritabilidade foram observadas após o uso prolongado dessa substância (CONACHER; WORKMAN, 1989) que em altas doses pode causar sérios distúrbios do humor (POPE; KATZ, 1994). 119

A insônia (33,3%) foi outro efeito evidenciado, corroborando com Oberlander et al., (2012) que indicam que o uso crônico de EAAs afeta significativamente o cérebro levando a modificações neuroquímicas, possivelmente envolvidas no estresse e insônia. Tais substâncias estão diretamente relacionadas à irregularidade do sono devido ao seu efeito estimulante no sistema nervoso central. Uma implicação clínica característica do uso dessa substância é a ginecomastia, que no presente estudo foi observada em 22,2% dos sujeitos corroborando com Babigian e Silverman (2001) que ressaltaram esse efeito em 20 fisiculturistas após o uso prolongado de altas doses de esteroides anabolizantes. Essa manifestação pode resultar da conversão periférica de androgênios em estradiol e estrona (MARAVELIAS et al., 2005). Um efeito clássico do uso de EAAs é o aparecimento de acnes, uma doença dermatológica associada ao aumento da produção de hormônios sexuais masculinos. Corroborando com essa afirmação Soares e Duarte (1991) mostraram que a acne ocorre em 50% dos usuários de anabolizantes, sendo um forte indicador clínico do abuso dessas substâncias. Apesar desse efeito ser observado frequentemente por usuários, o mesmo não aconteceu no presente estudo (tabela 2).

Tabela 2: Efeitos colaterais relatados por usuários de M-Drol M-DROL CONTROLE Calvície (%) 11,1% 20% Agressividade (%) 33,3% 0% Insônia (%) 33,3% 0% Ginecomastia (%) 22,2% 0% Cefaléia (%) 22,2% 20% Acne (%) 0% 60% *Os dados são valores percentuais de prevalência dos efeitos colaterais.

Observou-se que os usuários de M-Drol apresentavam pressão arterial diastólica maior que os sujeitos do grupo controle, porém dentro dos parâmetros preconizados pela Sociedade Brasileira de Hipertensão (ANDRADE et al., 2010). Kuipers et al. (1991) verificaram que o uso de esteroides anabolizantes por fisiculturistas induziu um aumento da pressão arterial diastólica, retornando aos valores normais aproximadamente seis semanas após cessar a administração da droga. A hipertensão arterial induzida pelo uso de esteroides pode estar associada ao aumento da capacidade de resposta das catecolaminas e da produção de renina (CASAVANT et al., 2007). Em relação ao perfil lipídico no grupo PHs o colesterol total, HDL-c e a razão CT/HDL apresentavam-se alterados negativamente. Esse perfil foi confirmado por Vanberg e Atar (2010) onde constataram que a testosterona pode ter um efeito adverso sobre o perfil de lipoproteínas e saúde cardiovascular, aumentando o nível de colesterol total após uma única dose da mesma, 120 tendo seus valores restaurados após 15 dias de abstinência. Ansell, Tiarks e Fairchild (1993) observaram os efeitos dos EAAs sobre as lipoproteínas em humanos, apresentando resultados consistentes, nos quais mostraram que os EAAs reduziram acentuadamente os níveis de HDL-c e aumentaram os níveis de LDL-c. A razão CT/ HDL foi maior no grupo M-Drol, caracterizando alto risco para doenças ateroscleróticas (BATISTA; FRANCESCHINI, 2003). Na pressão arterial sistólica, glicemia e nos marcadores hepáticos não houve diferenças entre os grupos. Entretanto, em relação ao TGP, os valores do grupo PHs estavam acima dos parâmetros permitidos de acordo com os valores propostos por Reitman e Frankel (1957). Corroborando com o presente estudo, Pertusi, Dickeman e McConathy (2001) mostraram que o uso de EAAs por fisiculturistas estava diretamente relacionado aos valores elevados de TGO e TGP, isso porque, segundo Evans (2004) o uso de anabólicos pode alterar a estrutura e a função do fígado desencadeando distúrbios hepáticos (tabela 3).

Tabela 3: Parâmetros fisiológicos e bioquímicos avaliados nos grupos. VARIÁVEIS M-DROL CONTROLE p PAS (mmHg) 128,4±7 121±11 0,13 PAD (mmHg) 82±5 74±6 0,01* Glicemia (mg/dl) 75,5±16 70,6±9 0,51 Colesterol total (mg/dl) 145,6±46,2 92,3±27,6 0,02* Colesterol HDL (mg/dl) 21,1±3,7 32,5±4 0,0001* Colesterol total / HDL 6,87±1,8 2,82±0,58 0,0002* TGO (U/ml) 27±12 23±5 0,45 TGP (U/ml) 33±27 14±8 0,12 Os dados estão apresentados como média ± desvio padrão da média. (*) = Diferença em relação ao controle (*p<0,05).

CONCLUSÃO E APLICAÇÕES PRÁTICAS

Os dados do presente estudo indicam que o uso de PHs, por jovens praticantes de exercício resistido, induz à distúrbios comportamentais como agressividade e insônia, distúrbios hormonais, alterações fisiológicas e bioquímicas. A partir desses esclarecimentos, ressaltamos a importância dos nutricionistas esportivos manterem-se atualizados para prescreverem suplementos nutricionais de forma consciente. Sabendo que algumas associações esportivas proíbem o uso dos pró-hormônios o profissional habilitado deve desencorajar seu uso. Sendo assim, é de fundamental importância que ao prescrever suplementos se avalie sua segurança e eficácia com base em dados científicos. 121

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PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO

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Relação Entre Motivação Autodeterminada e Ansiedade Pré-Competitiva Em Jogadores De Handebol De Areia

Stephanney Karolinne Mercer Souza Freitas de Moura, Rogério Márcio Luckwu dos Santos, Alysson Bandeira de Melo.

Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil.

[email protected]

RESUMO

O estudo da ansiedade no desporto atualmente vem despertando grande interesse em treinadores, atletas e psicólogos em todo o mundo. Sabe-se que este fenômeno pode interferir diretamente sobre o rendimento do desportista resultando daí sua importância. Um fator que pode influenciar sobre a ansiedade de um modo geral é a motivação (tema central de diversos estudos da atualidade). Este estudo teve como objetivo verificar e relacionar os níveis de motivação autodeterminada e a ansiedade pré-competitiva de 36 jogadores de ambos os gêneros participantes da I Etapa do Campeonato Brasileiro de handebol de Areia. Foram utilizadas neste estudo dois instrumentos: a escala de motivação esportiva- SMS (Sports Motivation Scale) e o Inventário do Estado de Ansiedade Competitiva (IEAC; CSAI-2). Foram encontrados os seguintes resultados: 1) A motivação autodeterminada exerce influência positiva em relação à ansiedade pré-competitiva; 2) Quanto maiores os níveis de motivação autodeterminada maiores os níveis de ansiedade; 3) Existe uma relação positiva e significativa entre a motivação intrínseca de realização e a ansiedade somática; 4) Há uma relação negativa entre ansiedade somática e autoconfiança; 5) e a autoconfiança apresentou uma correlação negativa em relação à ansiedade cognitiva. De uma forma geral os resultados apontam para uma forte influencia preditiva da motivação intrínseca de realização sobre a ansiedade encontrada na amostra na fase final da competição.

Palavras-chave: Ansiedade pré-competitiva, Motivação Autodeterminada, Handebol de Areia.

INTRODUÇÃO A motivação e a ansiedade atualmente tem sido importantes objetos de estudo no contexto desportivo. Muitas teorias tratam do papel desses fatores psicológicos sob sua influência e a relação com a personalidade, assim facilitando a compreensão do comportamento humano diante de determinadas situações. A teoria da autodeterminação motivacional (DECI e RYAN, 1985) constitui um modelo explicativo da motivação humana que tem sido aplicado em vários âmbitos, entre eles, o físico- desportivo. Segundo esta teoria, a motivação de um indivíduo se apresenta em três tipos, sendo estes: Motivação intrínseca, motivação extrínseca e desmotivação. Segundo os autores desta teoria os três tipos de motivação existem simultaneamente dentro dos indivíduos diferindo apenas em níveis de apresentação ou externalização em determinadas situações ou contextos. O conceito de motivação intrínseca (MI) por Deci e Ryan (1985) é o compromisso de uma pessoa com a atividade por causa do prazer e pelo desfrutar que esta produz. De acordo com 125

Vallerand, Derci, e Ryan (1985) existem três subtipos da Motivação Intrínseca: MI de conhecimento; MI de realização; e MI de estimulação . A motivação extrínseca (ME) está apresente em pessoas influenciadas por motivos externos. A sua participação em uma determinada atividade se dá não pela satisfação obtida pela prática em si (mesmo que estes motivos mais tarde também tragam satisfação e sensação de dever cumprido) e sim para conseguir uma recompensa externa (elogios, aplausos da torcida, salário,etc). Segundo Soares et al (2008) é uma força originada pela vontade de conquistar um reconhecimento externo. A ME divide-se em três subtipos de acordo com Vallerand, Deci, e Ryan (1987): São eles a ME de Regulação externa; A ME de Regulação Introjetada; e ME de Regulação Identificada. Já a desmotivação é a total inexistência motivação. A prática desportiva é uma situação que causa grande estresse e com isso acaba gerando altos níveis de ansiedade nos seus praticantes durante o período de competição, podendo causar picos de desempenho (negativos ou positivos) movidos por fatores emocionais e motivacionais. E isso pode ser visivelmente observado por qualquer pessoa que assista ou participe de um esporte. Ballone (2004), afirma que a ansiedade é uma atitude fisiológica (normal) responsável pela adaptação do organismo às situações novas, onde se encaixam bem as situações do esporte competitivo. Para Samulski (2002) a ansiedade é dividida em dois componentes: A ansiedade estado refere-se a uma reação ou resposta emocional que é sentida por um indivíduo que percebe uma situação particular como pessoalmente perigosa ou ameaçadora. Por sua vez a ansiedade traço é definida como uma característica estável do individuo, como uma predisposição adquirida no comportamento, que independe do tempo e faz com que esse indivíduo perceba situações não muito perigosas como sendo ameaçadoras. Vários autores (BARA e MIRANDA, 1998; FLEURY, 2005) consideram que o estado de ansiedade pode ser dividido em duas componentes distintas: ansiedade cognitiva e somática. Para Fontanari et al (2010) a ansiedade cognitiva surge mais precocemente ao aproximar- se de uma competição e permanecendo em alto nível, ela determina-se pela sensação emocional de apreensão e tenacidade psíquica. No qual podemos observar a tensão, a alteração no humor, falta de concentração entre outras. Já a ansiedade somática ou fisiológica, é referente às percepções de sintomas corporais causados pela ativação do sistema nervoso autônomo, caracterizado por uma grande variedade de sintomas somáticos, tais como diarreia, taquicardia, aumento da frequência respiratória, sudorese nas mãos, tensão muscular, lentidão e pouca explosão muscular entre outras. A autoconfiança é conceituada por Machado (2006) como uma crença geral que o indivíduo tem de que pode realiza com sucesso uma determinada atividade. De acordo com Martens et al (1990) podemos considerar que a autoconfiança é a inexistência da ansiedade cognitiva. De forma resumida pode-se dizer que a ansiedade cognitiva faz com que o atleta tenha pensamentos negativos e preocupações acerca da sua performance 126 desportiva e isso acaba levando-o a uma incapacidade de concentração. Características estas que se opõem as de um indivíduo que tem autoconfiança. Este estudo teve como objetivo verificar e relacionar os níveis de motivação autodeterminada e a ansiedade pré-competitiva de 36 jogadores de ambos os gêneros participantes da I Etapa do Campeonato Brasileiro de handebol de Areia.

MÉTODOS

Para este estudo foram utilizados como amostra os jogadores participantes da I etapa do Circuito Brasileiro de Handebol de Areia, disputada na cidade de João Pessoa – PB, perfazendo um total de 36 atletas. As variáveis que consideramos neste estudo foram: motivação intrínseca de realização, motivação intrínseca de estimulação, motivação intrínseca de conhecimento, motivação extrínseca de regulação externa, motivação extrínseca de regulação identificada, motivação extrínseca de regulação introjetada, amotivação, ansiedade cognitiva 1, ansiedade somática 1, autoconfiança 1 (variáveis coletadas na fase inicial da competição), ansiedade cognitiva 2, ansiedade somática 2 e autoconfiança 2 (coletadas na fase final da competição. Foi utilizada a escala de motivação esportiva- SMS (Sports Motivation Scale) desenvolvida por Pelletier et al. (1995) traduzida e adaptada ao contexto brasileiro por Serpa, Alves e Barreiros (2004) para avaliar os níveis de motivação autodeterminada da amostra. Para avaliar os níveis de ansiedade pré-competitiva foi utilizado o Inventário do Estado de Ansiedade Competitiva (IEAC; CSAI-2). Criado por Martens et al (1990), em sua versão traduzida e adaptada do CSAI-2, por Cruz e Viana (1993). Os representantes da Confederação Brasileira de Handebol de Areia e os treinadores foram contatados previamente para verificar a possibilidade de os atletas responderem aos questionários momentos (aproximadamente 30 minutos) antes de um jogo. Esse procedimento foi feito com todas as equipes da competição durante a primeira fase da competição na qual todos os atletas responderam os questionários relacionados com a motivação autodeterminada e sobre a ansiedade e em um segundo momento foi aplicado apenas o questionário relacionado com a ansiedade para as quatro equipes que participaram da fase final do campeonato, então para este estudo foram utilizados apenas os resultados das quatro equipes finalistas. O preenchimento dos questionários se deu de forma totalmente voluntária e todos os participantes receberam as informações necessárias para tal. Esta pesquisa teve a aprovação do comitê de Ética do Hospital Lauro Wanderley (Universidade Federal da Paraíba) e tem como número de protocolo CEP/HULW nº 475/10.

127

RESULTADOS Os resultados das análises estatísticas descritivas apresentaram uma amostra com níveis moderados altos para todas as variáveis analisadas. À luz da primeira análise a amostra apresenta um perfil motivacional autodeterminado (M=1.74) ainda que demonstrado um índice alto de motivação extrínseca (M=4.81). Encontramos também uma amostra com níveis moderados altos de ansiedade somática (M=1.71) e ansiedade cognitiva (M=1.93). O fator autoconfiança também apresentou um nível elevado (M=3.11). Todos os resultados descritivos relevantes para este estudos estão representados na tabela 1.

TABELA 1 - Estatísticos descritivos

N Mín. Máx. M Desvio padrão Idade 36 17.00 43.00 25.75 5.67 MI de conhecimento 35 1.00 7.00 5.19 1.64 MI de realização 35 2.50 7.00 5.91 1.22 MER identificada 35 1.50 7.00 4.78 1.18 MER introjetada 35 2.00 7.00 5.21 1.27 MER externa 34 1.75 7.00 4.57 1.43 Ansiedade somática 1 36 1.11 2.44 1.71 0.29 Ansiedade somática 2 32 1.00 2.11 1.54 0.30 Ansiedade cognitiva 1 36 1.00 3.50 1.93 0.60 Ansiedade cognitiva 2 32 1.00 3.13 1.79 0.59 Autoconfiança 1 36 1.00 4.00 3.11 0.69 Autoconfiança 2 32 1.78 4.00 3.26 0.48 Motivação Intrínseca 34 3.17 7.00 5.71 1.08 Motivação Extrínseca 33 2.17 6.42 4.81 1.04 Índice autodeterminação 30 -0.29 4.08 1.74 0.86

Pode ser observado na tabela 1 que as variáveis da ansiedade (ansiedade cognitiva, ansiedade somática e autoconfiança) estão diferenciadas pelas numerações 1 (que representa a primeira fase da competição) e 2 (que representa a fase final da competição). Com isso, estas variáveis puderam ser comparadas, revelando que os indivíduos da amostra apresentavam as seguintes médias: Os níveis de ansiedade somática apresentaram (M=1.71) na primeira fase e em seguida diminuindo para (M=1.54) na fase final. A variável da ansiedade cognitiva na fase inicial apresentou (M=1.93) e também diminuiu na fase seguinte para (M=1.79). Já a variável autoconfiança apresentou (M= 3.11) na fase inicial tendo um aumento significativo para (M=3.26). Deu-se continuidade às análises estatísticas procedendo a análise correlacional com objetivo de encontrar relações entre as variáveis do estudo. Então foi realizada uma análise de correlações bivariadas. Os resultados estão representados na tabela 2.

TABELA 2 – Análise correlacional 128

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

1. Idade 1 ,034 -,030 ,167 -,008 ,065 ,079 ,099 -,034 -,256(*) -,163 ,015 2. MI de 1 ,615(**) ,491(**) ,669(**) ,323(*) ,830(**) ,586(**) ,504(**) ,190 ,265(*) -,099 realização 3. MI de 1 ,660(**) ,621(**) ,512(**) ,902(**) ,763(**) ,464(**) ,005 ,200 ,245 conhecimento 4. MER 1 ,584(**) ,349(**) ,651(**) ,804(**) ,343(**) -,034 ,179 ,079 introjetada 5. MER 1 ,506(**) ,751(**) ,840(**) ,475(**) ,073 ,252(*) ,056 identificada 6. MER externa 1 ,472(**) ,773(**) -,163 -,168 -,051 ,331(**) 7. Mot. 1 ,774(**) ,588(**) ,043 ,233 ,098 Intrínseca 8. Mot. 1 ,256 -,029 ,182 ,172 Extrínseca 9. Índice 1 ,021 ,037 -,098 autodeterminação 10. Ansiedade 1 ,620(**) -,612(**) cognitiva 11. Ansiedade 1 -,362(**) somática 12. Autoconfiança 1

(*) p > 0,05 e (**) p > 0,01

A motivação intrínseca de realização apresentou uma correlação positiva significativa com a variável da ansiedade somática (,265*). A ansiedade cognitiva também se correlacionou positivamente com a ansiedade somática (,620**) e negativamente com a autoconfiança (-,612**). E a ansiedade somática apresentou uma correlação negativa com a autoconfiança (-,362**). Com base nos resultados encontrados na análise correlacional, idealizou-se um modelo estrutural no qual a variável MI de realização prediria a ansiedade somática, a ansiedade cognitiva e a autoconfiança. O modelo idealizado está representado na figura 1.

** = P<0.5; *** = P>0.5

FIGURA 1 – Modelo estrutural idealizado da análise correlacional.

A variável MI de realização predisse positiva e significativamente a variável ansiedade somática que por sua vez apresentou poder preditivo e significativo sobre a ansiedade cognitiva. Encontrou-se ainda uma relação negativa entre ansiedade somática e autoconfiança ainda que 129 esta capacidade preditiva não apresentasse nível de significância aceitável (p=.07). A autoconfiança apresentou um coeficiente de regressão negativo (β = -.51) em relação à ansiedade cognitiva. O modelo apresentou valores aceitáveis para os índices de ajuste (Normative Fit. Index (NFI)= .99 , RFI = (.99) Comparative Fit Index (CFI) = 1.0 , Tucker-Lewis Index (TLI) = 1.1 e Root Mean Squere Error of Approximation (RMSEA) = 0). Na tabela 3 estão descritos os resultados do modelo estrutural acima representado constando de coeficiente de regressão (β) e o nível de significância (p).

TABELA 3 - Resultados do modelo estrutural.

Β p

Ansiedade somática MI realização .30 ,016

Autoconfiança Ansiedade somática -.22 ,072

Ansiedade cognitiva Ansiedade somática .44 ***

Ansiedade cognitiva Autoconfiança -.51 *** Com base nos resultados encontrados neste estudo foram desenvolvidas as partes discursivas e conclusivas relacionadas com as teorias que embasaram e fundamentaram a pesquisa.

DISCUSSÃO

A primeira hipótese formulada referia-se à inexistência de relação entre motivação e ansiedade pré-competitiva na amostra, mas de acordo com os resultados obtidos através das análises correlacionais esta hipótese não é aceita, pois na amostra estudada, a motivação exerce influência positiva em relação à ansiedade pré-competitiva. De acordo com o modelo hierárquico da motivação intrínseca e extrínseca (VALLERAND, 2007) a motivação acarreta consequências (positivas ou negativas) nos aspectos cognitivos, afetivos e comportamentais. Desta forma deve existir alguma relação entre as variáveis da motivação e ansiedade pré-competitiva. A segunda hipótese previa que quanto maiores os níveis de motivação autodeterminada menores serão os níveis de ansiedade pré-competitiva da amostra, que também foi refutada. Na análise correlacional entre as variáveis da motivação autodeterminada e ansiedade pré- competitiva apresentaram uma relação positiva entre elas, mostrando que quanto maiores os níveis de motivação autodeterminada maiores os níveis de ansiedade. Já a terceira hipótese criada, propunha que quanto maior o nível de motivação autodeterminada maiores seriam os níveis de ansiedade pré-competitiva da amostra. Os resultados obtidos na análise correlacional indicaram uma relação positiva e significativa entre a motivação intrínseca de realização e a ansiedade somática, ou seja, quanto maior o nível de 130 motivação intrínseca de realização maior o nível de ansiedade somática de amostra, corroborando as ideias principais da teoria da autodeterminação e do modelo hierárquico da motivação intrínseca e extrínseca, ficando desta forma a terceira hipótese parcialmente confirmada. Encontrou-se ainda uma relação negativa entre ansiedade somática e autoconfiança, ou seja, quanto maiores os níveis de ansiedade somática menores são os níveis de autoconfiança. Este resultado está de acordo com outro estudo relacionado com a ansiedade (MARTENS et al, 1990). Ainda neste sentido, Dosil (2004) afirma que dependendo do nível de ativação da ansiedade somática pode acarretar no individuo consequências positivas ou negativas, ou seja, na amostra estudada os níveis de ansiedade somática estavam muito elevados e podendo ter acarretado uma diminuição nos níveis de autoconfiança. E por último, a autoconfiança apresentou uma correlação negativa em relação à ansiedade cognitiva. Este último resultado está de acordo com o estudo realizado por Cevelló, Escartí e Guzmán (2007), onde foram encontrados relações significativas e positivas entre os componentes da ansiedade (ansiedade cognitiva e ansiedade somática) estas, por sua vez, se relacionaram negativamente com a autoconfiança.

CONCLUSÃO Os resultados mostraram níveis elevados de motivação tanto na sua forma intrínseca como na sua forma extrínseca para a amostra analisada. De uma forma geral, os resultados apontam para uma forte influência preditiva da motivação intrínseca de realização sobre a ansiedade encontrada na amostra na fase final da competição. Deste modo encontrou-se uma relação significativa e positiva entre um tipo de motivação autodeterminada (motivação intrínseca de realização) e a ansiedade somática.

Para tentar compreender os resultados encontrados neste estudo buscou-se refletir sobre o contexto da competição: Provavelmente os resultados do estudo sofreram influência direta de outra variável não controlada neste estudo: o interesse dos jogadores com relação aos resultados pretendidos na competição. Como já mencionado, encontramos um nível de motivação intrínseca de realização bastante alto. Sabe-se que esta variável está relacionada com o comportamento do sujeito mediante o cumprimento de uma tarefa ou objetivo, ou seja, supõe-se que o principal objetivo dos atletas componentes da amostra era simplesmente chegar à fase final deste campeonato, uma vez que aqueles que nela estivessem já estariam automaticamente classificados para etapa final do campeonato brasileiro, onde estariam concorrendo a um incentivo financeiro.

Acredita-se que este estudo pode servir de ponto de partida para futuras estruturações de outras pesquisas, no sentido de compreender o funcionamento dos mecanismos da motivação e da ansiedade sobre o rendimento desportivo. Tal compreensão poderia servir de guia para a elaboração de treinamentos e estratégias para evitar que níveis elevados de ansiedade possam 131 interferir negativamente no rendimento dos desportistas. Outro aspecto que seria interessante relevar é o interesse que deve ser despertado pelo tema da motivação. Esta variável tem sido estudada em muitos âmbitos (inclusive o esportivo) e posta em lugar de destaque por sua importância sobre o rendimento, bem-estar e persistência de conduta das pessoas de uma forma geral. Devem-se criar estratégias dentro do ambiente desportivo no sentido de evitar a desmotivação em atletas e não atletas para assim evitar as possíveis consequências negativas indicadas nas teorias que embasam este estudo.

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MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA DO VOLEIBOL NAS ESCOLAS ESTADUAIS DE MONTES CLAROS – MG

Reinaldo Sousa Santos1,2, Flavio de Jesus Camilo1,2, Yvan Rodnon Ferreira2 , Walter Luiz Moura2, Italo Rogério Magalhães2

1- Universidade Estadual de Montes Claros – Montes Claros, Minas Gerais, Brasil 2- Faculdades Unidas do Norte de Minas – Montes Claros, Minas Gerais, Brasil

[email protected]

RESUMO

INTRODUÇÃO: A motivação para prática esportiva depende da interação entre a personalidade (expectativas, motivos, necessidades, interesses) e fatores do meio ambiente como facilidades, tarefas atraentes, desafios e influências sociais (WEINBERG e GOULD citados por SAMULSKI, 2002). OBJETIVO: identificar quais motivos que levam as jovens à prática do voleibol. Essa investigação caracterizou-se por ser descritiva e quantitativa com corte transversal. MATERIAL E MÉTODOS: A amostra foi composta por 40 meninas com idade média de 14,97 (±0,61) anos e tempo de prática esportiva de 13,27 (±10,22) meses, das Escolas Estaduais de Montes Claros - MG. O instrumento utilizado foi o Inventário de Motivação para Prática Desportiva, de Gaya e Cardoso (1998), composto por 19 perguntas objetivas, subdivididas em 3 categorias: competência desportiva, saúde e amizade/lazer. RESULTADO e DISCUSSÃO Na análise estatística, verificou- se a distribuição percentual de respostas. Os resultados indicaram que fatores associados à competência desportiva foram tidos como mais importantes para a maioria das meninas. Em contrapartida, variáveis como “para emagrecer” e “para não ficar em casa” possuíram menor importância. Através do presente estudo objetivou-se identificar os fatores motivacionais que levam atletas adolescentes das Escolas Estaduais de Montes Claros – MG a praticarem o voleibol. CONCLUSÃO: A exemplo da literatura, os resultados apontam a Competência Desportiva, seguida pela saúde, como principais motivos para a pratica do voleibol.

INTRODUÇÃO

Segundo Paim (2003), o entendimento dos motivos pelos quais os jovens se envolvem nos esportes tem sido fonte de várias pesquisas para profissionais e pesquisadores da área da Psicologia Esportiva. O ato de praticar esportes em suas diferentes especificidades exige de crianças e adolescentes um alto desenvolvimento de suas funções, qualidades e estados 133 psíquicos para permanência no processo de preparação e competição desportiva (BENCK; CASAL, 2006).

A aprendizagem de uma modalidade esportiva sempre vinculada às características do jogo e seguindo uma progressão pedagógica ideal proporcionará maior motivação para aprender o esporte (REZENDE, 2008). O esporte é fortemente direcionado para o alcance de metas pelo sentido e intensidade dos esforços (SAMULSKI, 2002, KIJINICK; GORGATTI; SANTOS, 2005 CITADOS POR INTERDONATO et al., 2008). Essa ação é tida como causa de um motivo, um impulso ou uma intenção, que leva um indivíduo a agir de determinada forma (MAGILL, 1984).

Analisando os motivos pelos quais as crianças se envolvem em programas esportivos, SAMULSKI (2002) destaca que o aluno procura ter alegria, aperfeiçoar suas habilidades, aprender coisas novas, praticar com amigos, fazer novas amizades, adquirir forma física e sentir emoções positivas. Aliás, segundo Weinberg e Gould citados por Samulski, (2002), o aspecto motivacional relacionado a prática esportiva depende da interação entre a personalidade (expectativas, motivos, necessidades, interesses) e fatores do meio ambiente como facilidades, tarefas atraentes, desafios e influências sociais.

Os esportes coletivos, como o vôlei, têm como característica o ataque e a defesa, em que as diferenças que envolvem cada modalidade são os fundamentos e as estratégias utilizados para se chegar à vitória. O voleibol especificamente é um jogo em que o atleta usa as mãos, mas só para tocar a bola. Não é permitido carregá-la ou segurá-la (TEIXEIRA, 1996). Os fundamentos básicos do voleibol são: passe, recepção ou domínio e finalização (MELO, 2002).

Na escola, segundo a visão de Campos (2006), podemos chamar o voleibol de voleibol – educação, no qual deve ser desenvolvido o princípio pedagógico da educação, podendo com isso agir no sentido de contribuir para qualidades físicas, morais, éticas e, contudo se ter uma relação com outras disciplinas formadoras.

Segundo Olah e fogagnoli (2008) o voleibol como um conteúdo da Educação Física escolar poderá por sua vez ser representado como um jogo pode-se ter alterações de regras e, contudo adaptações. Isso vai de acordo com a faixa etária da turma trabalhada e principalmente respondendo aos objetivos que o professor almeja atender, além disso, apresenta dois lados, podendo ser de rendimento (voltado para a técnica), ou então o esporte de forma lúdica sem que haja preocupação com a perfeição dos movimentos.

Para Crisóstomo (2005), essa prática deverá ser trabalhada de forma recreativa e divertida, para que, as crianças possam se sentir motivadas por tal esporte. Fatores motivacionais levam adolescentes e crianças a se envolverem na prática de esportes e com isso pode ser útil para a elaboração de treinos estratégicos, contribuindo no processo de ensino aprendizagem e 134 aumentando a probabilidade de permanência na prática da atividade esportiva (BERLEZE; VIEIRA; KREBS, 2002).

Tendo em vista a relevância do tema, este estudo tem como objetivo identificar quais os motivos que levam as crianças e adolescentes à prática esportiva, no nosso caso o voleibol, uma vez que, o conhecimento de tais fatores pode contribuir para a elaboração de mecanismos que melhorem sua aderência à modalidade.

MÉTODOS

A pesquisa é de natureza descritiva e quantitativa com corte transversal. Teve como critério de inclusão meninas com idades entre 14 e 16 anos e tempo de prática esportiva maior que 10 meses. Os nomes das voluntárias não aparecerão neste estudo como meio de resguardar a identidade das mesmas.

A amostra foi, composta por 40 meninas, com idade média de 14,97 ±0,61 anos e tempo de prática esportiva de 13,27 ±10,22 meses, das Escolas Estaduais de Montes Claros - MG.

Como instrumento de avaliação, utilizou-se o Inventário de Motivação para a Prática Desportiva (Gaya e Cardoso, 1998), pela sua facilidade de aplicação e reprodutibilidade. Esse instrumento é composto por 19 perguntas objetivas, subdivididas em 3 fatores: competência desportiva, saúde e amizade/lazer.

A aplicação do Inventário de Motivação para a Prática Desportiva foi realizada para cada atleta pertencente à amostra antes dos treinamentos e dos jogos, de forma anônima e foi preenchido voluntariamente, com autorização dos treinadores.

Os motivos para a prática esportiva foram classificados em três categorias:

1) Competência desportiva: para vencer; para ser o melhor no esporte; porque gosto; para competir; para ser um atleta; para desenvolver habilidades; para aprender novos esportes e para ser jogador quando crescer;

2) Saúde: para manter a saúde; para desenvolver a musculatura; para manter o corpo em forma, para emagrecer, para exercitar-se e para ter bom aspecto;

3) Amizade e Lazer: para brincar; para encontrar os amigos; para divertir-me; para fazer novos amigos e para não ficar em casa.

Cada variável possuiu três alternativas de níveis de importância: 1) “nada importante”, 2) “pouco importante”, e 3) “muito importante”. No plano estatístico, foram realizadas análises das frequências das respostas através do programa SPSS 13.0 For Windows. 135

RESULTADOS

Como resultado obteve-se o percentual dos níveis de importância da motivação das atletas divididas por categoria. Tabela 1- Quanto à Competência Desportiva , tabela 2 – quanto a Saúde e tabela 3 – quanto a Amizade e Lazer

Tabela 1 – Percentual dos níveis de importância da motivação na categoria: Competência Desportiva

N= 40 Nada importante Pouco importante Muito importante

Para Vencer. 2,5% 25% 72%

Para ser melhor no esporte. 15% 25% 60%

Porque gosto. - 22% 77,5%

Para competir. 10% 10% 80%

Para ser um atleta. 10% 27,5% 62,5%

Para desenvolver habilidades. 2,5% 22,5% 75%

Para aprender novos esportes. - 25% 75%

Para ser jogador quando crescer 17,5% 35% 47,5%

Total: 7,18% 24,06% 68,75%

Total: n° de respostas no geral das variáveis que classificam a competência desportiva

Tabela 2 – Percentual dos níveis de importância da motivação na categoria: Saúde

N= 40 Nada importante Pouco importante Muito importante

Para manter a saúde. 2,5% 2,5% 95%

Para desenvolver a musculatura. 20% 30% 50%

Para manter o corpo em forma. 7,5% 25% 67,5%

Para emagrecer. 30% 52,5% 17,5%

Para exercitar-se. - 7,5% 92,5%

Para ter bom aspecto. 10% 27,5% 62,5%

Total: 11,2% 27,2% 61,6%

Total: n° de respostas no geral das variáveis que classificam a competência de Saúde

136

Tabela 3 –Percentual dos níveis de importância da motivação na categoria: Amizade e Lazer

N= 40 Nada importante Pouco importante Muito importante

Para brincar. 11 / 27,5% 13 / 32,5% 16 / 40%

Para encontrar os amigos. 4 / 10% 15 / 37,5% 21 / 52,5%

Para divertir-me. 2 / 5% 18 / 45% 20 / 50%

Para fazer novos amigos. 3 / 7,5% 8 / 20% 29/ 72,5%

Para não ficar em casa. 16/ 40% 14 / 35% 10 / 25%

Total: 36 / 18% 68 / 34% 96 / 48%

Total: n° de respostas no geral das variáveis que classificam a competência de Amizade e Lazer.

O Gráfico1 exemplifica a comparação entre as categorias e seus respectivos graus de importância no estudo.

Gráfico 1 - comparação entre as categorias e seus respectivos graus de importância no estudo.

DISCUSSÃO

Os resultados indicaram que os fatores motivacionais mais relevantes para o envolvimento das adolescentes no voleibol, são: Competência Desportiva (68,75%) da preferência, seguido de Saúde (61,6%) e por último Amizade/lazer (48%) (TABELA 1, 2, 3 e GRÁFICO 1). Foram observados valores elevados para a Competência Desportiva, quanto às afirmativas desta categoria, as menos votadas foram: “para ser melhor no esporte” e “para ser jogador quando crescer”. As questões mais consagradas entre as atletas foram: “porque eu gosto” e “para competir”. 137

Este fato se assemelha ao estudo realizado por Paim (2001), em que foram analisados fatores motivacionais nos adolescentes do sexo masculino, praticantes de futebol em escolinhas de iniciação esportiva. Nessa investigação, o motivo “para ser o melhor no esporte” foi considerado mais importante pelos jovens. Juntamente, outras pesquisas com análise na aprendizagem de novas habilidades em âmbitos esportivos e escolares também demonstram esses saldos (BERLEZE; VIEIRA; KREBS, 2002). Sugere-se ainda que os motivos achados sejam intrínsecos, relacionados com a tarefa, em que o prazer pela realização do movimento, o gosto pelo esporte e a aprendizagem de movimentos novos são os fatores mais motivadores.

Devemos considerar que a motivação é um processo relacionado à integração de fatores intrínsecos e extrínsecos, tendo os extrínsecos grande influencia nas decisões e metas a serem seguidas pelo atleta (SAMULSKI, 1995). Assim, a maior motivação das jovens pela Competência Desportiva também pode ser decorrente da popularização do vôlei e de seus atletas, uma vez que, com freqüência, suas competições são transmitidas pela mídia.

Segundo Hahn (1998) citado por (Nunez et al. 2008), também constatou que vencer e competir eram os principais motivos a levarem crianças à pratica de esportes. Segundo o autor, isso ocorre devido a um constante desejo de comparação entre os jovens, fazendo com que a competição seja fator altamente relevante nessa faixa etária. Para krug (2002), o desejo de experimentar novos desafios para colocar em evidência suas potencialidades é uma das características dos adolescentes.

Fatores externos impulsionam as pessoas a cumprir determinadas metas. Nesta orientação a tabela 2 apresenta os resultados da categoria Saúde. Acredita-se que a preocupação com esta categoria esteja associada com estímulos externos, como ações educativas, mídia e escola, que podem influenciar neste comportamento.

Os resultados demonstram que parte da amostra está preocupada com a saúde. Dentre as questões, as que possuíram maior preocupação foram “para manter a saúde e” para exercitar-se”. Por outro lado às menos significantes foram: “para desenvolver a musculatura” e “para emagrecer”. Esta última foi a que obteve um menor percentual de respostas.

Estes achados compactuam com os achados de Interdonato et al. (2008), Paim e Pereira (2004), em que a variável para “emagrecer” sofreu pouca importância entre os capoeiristas. A maioria da amostra desses dois estudos eram compostas pelo sexo masculino, já o presente estudo é formado somente por pessoas do sexo feminino, isso induz ao fato que o sexo feminino que era apontado como se preocupar mais com a estética, hoje, com a grande difusão de informações sobre qualidade de vida tanto no ambiente familiar, escolar e nas mídias, além disso, observa-se também o crescente número de pesquisas relacionadas á saúde, pode ser por esse 138 motivo que a variável “estética”, no qual, procura somente um corpo perfeito, teve pouca importância.

Em relação à categoria Amizade/lazer, pode-se observar que, apesar de apresentar menor incidência, a categoria influencia no desenvolvimento do adolescente, que está sempre em busca de afiliação. Entre os motivos relacionados à categoria, o mais representativo para a maioria foi: “para fazer novos amigos” e o menos representativo “para não ficar em casa”.

Embora em muitos casos crianças pratiquem esportes motivados em fazer novos amigos e/ou reforçar laços de amizade, conforme exposto por Santiago e Messina (2003) citados por Nunez et al. (2008), esses motivos foram os que apresentaram os menores percentuais em nosso estudo em comparação com as categorias Competência Desportiva e Saúde. Isso pode ter acontecido em decorrência da faixa etária da população avaliada (adolescentes); segundo os mesmos autores, enquanto crianças estão mais interessadas em fazer amigos e fortalecer laços de amizade, os jovens praticam esporte para obter maior desempenho e habilidades.

A maioria dos estudos com jovens tem apontado a Competência Desportiva como a principal motivação á prática esportiva, em contrapartida, estudos desenvolvidos por Paim (2003) e Interdonato et al. (2008), constataram que a busca pela melhoria na saúde configuraram-se como o principal motivo da prática de esportes. Para Paim (2001) isso tem ocorrido pela relação existente entre esporte e saúde e por sua divulgação como fator de prevenção de doenças relacionadas ao sedentarismo.

CONCLUSÃO

Através do presente estudo conclui-se que diferentes são os fatores motivacionais que levam atletas adolescentes das Escolas Estaduais de Montes Claros – MG a praticarem o voleibol. A exemplo da literatura, os resultados apontam a Competência Desportiva, seguida pela saúde, como principais motivos.

A preferência pela categoria Competência desportiva pode ser explicado devido à faixa etária das adolescentes, também pode ser decorrente da popularização do vôlei e de seus atletas, uma vez que, com frequência, suas competições são transmitidas pela mídia.

As repostas menos escolhidas foram os fatores ligados a Amizade e Lazer. Isto pode ter ocorrido devido as jovens já participarem de campeonatos e encontrarem com frequência nos locais comuns, como escolas e diferentes cursos.

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140

RECREAÇÃO, LAZER E ATIVIDADE FÍSICA

141

ATIVIDADE DE AVENTURA NA NATUREZA: ENTRE EMOÇÃO, RISCO E SUPERAÇÃO

Rogério Fonseca dos Santos, Priscilla Pinto Costa da Silva, Ana Cláudia Dias de Fontes, Emília Amélia Pinto Costa da Silva Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ, João Pessoa, Paraíba, Brasil [email protected]

RESUMO

As atividades de aventura na natureza conduzem aos sentimentos e emoções que envolvem o risco e a superação como elementos centrais. O objetivo do estudo é analisar as sensações de emoção e risco vivenciados mediante as práticas de aventura na natureza. Trata-se de uma pesquisa-ação, envolvendo 10 estudantes do curso de Bacharelado em Educação Física do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ, que participaram durante a disciplina Atividades de aventura na natureza de práticas de canoagem, trekking, rapel, corrida de orientação, moutain bike escalada em top roup. Os dados foram coletados por meio de um questionário aberto, e estudados a partir da análise de conteúdo, auxiliada pelo recurso do softwere AQUAD 6. Os resultados indicaram duas categorias analíticas: a primeira sentimentos e emoções que vem a despertar nas vivências e experiências das atividades de aventura na natureza; e a segunda situação de risco que foram apontados as sensações de risco durante a prática como o perigo. As atividades de aventura na natureza no currículo do curso de Educação Física permitiu que os alunos vivenciassem novas experiências com si mesmo, com a natureza e com o próximo.

Palavras-chave: Atividade de aventura na natureza; Educação Física; Universitário.

INTRODUÇÃO

As atividades de aventura na natureza estão crescendo desde a década de 1970 (BRUHNS 2009), tanto na perspectiva de novos adeptos as práticas, como também nas adaptações e classificações das modalidades. Muitas destas atividades são seculares, como o mergulho, montanhismo e orientação, que serviam para a sobrevivência do ser humano (COSTA, 2000). Contudo, com o processo de civilização do ser humano, estas atividades foram perdendo espaço para os novos estilos de vida na modernidade, que provocou o deslocamento da população rural para os centros urbanos (SILVA et al., 2011). Não obstante, as atividades de aventura na natureza estão ganhando outras características, o que decorre ao seu crescimento, principalmente nas grandes cidades. Por um lado, Costa (2000) acredita que o instinto humano, do ser humano-natureza sentir a necessidade de aventura-se e “retornar” a montanha. Por outro lado, autores (MARINHO (2008; 2009; LAVOURA; MELO; MACHADO, 2007; SCHWARTZ, 2006) apontam para novas descobertas e sensações, as quais a vida cotidiana não permite vivenciá-las. Em adicional, o avanço tecnológico tem auxiliado no crescimento destas atividades, oferecendo apetrechos e equipamentos que oferecem alguma segurança aos praticantes 142

(MARINHO, 2008; 2009). Assim, permitindo novas experiências práticas, novos movimentos e diferentes desafios, que envolve uma percepção mais de um risco imaginário, do que por um risco real, justificando pelo fato dos aspectos que envolvem a segurança dos praticantes (SILVA; CHAO, 2011). O crescimento destas atividades está ganhando espaço também nos cursos de ensino superior, fazendo parte dos componentes curriculares da grade curricular do curso de educação física. Embora, ainda sejam poucas instituições que oferecem disciplina relacionada aos esportes de aventura, a necessidade no mercado aumenta, pois os ministrantes de tais atividades, na maioria das vezes não têm formação de curso superior para gerenciar a práticas (SILVA; FREITAS, 2010; SCHWARTZ; CARNICELLI FILHO, 2006). Neste sentido, observa-se a necessidade de desenvolver novos estudos afim de trabalhar as atividades de aventura na natureza na dimensão do ensino superior, visando a melhoria deste componente curricular como prática a ser consolidada na sociedade. Desta forma, o presente estudo tem o objetivo de analisar as sensações de emoção e risco vivenciados mediante as práticas de aventura na natureza.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa de caráter qualitativo caracteriza-se como uma pesquisa-ação, por ter a finalidade intencional de alterar uma situação pesquisada e propor ao conjunto de sujeitos mudanças que visam ao aprimoramento das práticas investigadas (SEVERINO, 2007). No entendimento de Flick (2009), a pesquisa-ação objetiva a pesquisa e promove uma intervenção, que busca transformação de uma realidade. Participaram da pesquisa 10 estudantes, de ambos os sexos, e idade entre 22 a 28 anos, do curso de graduação de Bacharelado em Educação Física, do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ, cursando o 7º período, da disciplina Esporte de Aventura. Vale salientar que a maioria dos estudantes já tinha vivenciado alguma atividade de aventura na natureza. Como instrumento para coleta de dados foi utilizado um questionário aberto e um roteiro de observação. Como recursos para registro das atividades/informações foram usados um diário de campo, um gravador para os registros orais e uma câmera digital para registros fotográficos, instrumentos que auxiliaram nas coletas de dados. O estudo de campo foi dividido em 4 momentos, realizando diferentes atividades de aventura na natureza. No primeiro encontro foi realizada a corrida de orientação, utilizando um mapa do campus no UNIPÊ, com o percurso de aproximadamente 2,5 km. No segundo encontro, realizou-se o trekking e rapel em Poço Escuro, no município de Pilões – PB, há 120 km da capital. O trekking teve um percurso de 12km e o rapel de 20 metros, sendo 10m em rapel negativo. No terceiro encontro foi realizada uma trilha de moutain bike de 22 km, no município de Lucena – PB. A trilha é bem diversificada com muitas subidas e descidas, areia e barro, encontrando também 143 duas travessias de rio. No quarto encontro foi o mais longo, realizado em um fim de semana na Pedra da Boca no município de Araruna – PB, e foi realizado as seguintes atividades: moutain bike de 25 km, rapel de 50 metros, trekking de 2,5km com incursão em cavernas e escalada em top roup. Os questionário foram transcritas e, em seguida, submetidas ao soft Analysis of Qualitative Data (AQUAD) 6, que auxiliou na obtenção da frequência absoluta das palavras para formar as categorias analíticas, as quais foram avaliadas a partir da Análise de Conteúdo, por ser uma técnica metodológica que dá suporte às análises de questionário abertos, por meio dos procedimentos sistêmicos da descrição dos conteúdos (BARDIN, 2009). Para a construção dos diagramas que apresentam as categorias de análise foi utilizado o soft GoDiagram Express versão 2.6.2.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As atividades de aventura na natureza podem despertar sensações e emoções nunca vivenciadas, que resultam no envolvimento com a natureza, o ambiente, a atividade de aventura, os praticantes, e o conhecimento de si mesmo. Dentro destas características, os resultados do presente estudo conduziram a duas categorias analíticas, discutidas a seguir, construídas a posteriori: a primeira, Sentimentos e Emoções, que referem aos aspectos pessoais de superação em relação às vivencias; e a segunda categoria Situação de Risco, que resultam nas situações de sensação de risco vivenciadas durante as atividades.

SENTIMENTOS E EMOÇÕES

Os sentimentos e as emoções que vem a despertar nas vivências e experiências das atividades de aventura na natureza, e podem ser oriundas dos aspectos naturais ou ainda do sentimento de superação, como foi apontado pelos participantes da pesquisa. A Figura 1, apresentada a seguir, ilustra os resultados encontrados por meio do questionário respondidos pelos participantes, no que diz respeito as questões de superação pessoal e sensações prazerosas.

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Figura 1: Características que conduziram aos sentimentos e emoções

A categoria sentimentos e emoções, destacada na cor cinza escuro, representa duas subcategorias, que estão assinaladas na cor cinza claro: Natureza e Superação, seguida das variáveis de maior frequência apresentada nos questionários, que estão marcadas na cor branca. Os aspectos de sentimentos e emoções nas atividades de aventura na natureza conduz a singularidade em vivenciar fortes emoções, como apresentam os estudos de Caillois (1990) e Csikszentmihalyi (1992), que, respectivamente, caracteriza como inlix as sensações de vertigem, e por flow um estado mental imerso em um sentimento de êxtase. A subcategoria natureza, diz respeito às características encontradas durante as atividades de aventura na natureza. O cenário natural desperta para a sensibilização e respeito com a natureza e o próximo, como aponta Bruhns (2009). As atividades de aventura na natureza despertam para a questão da sensibilização e amizade, capaz de renovar as relações do praticante consigo mesmo, com o próximo e com a natureza (MONTEIRO, 2006). Nesta direção, o participante 9 relatou que o “contato com a natureza que é inesquecível e a interação com os colegas”. Assim, a relação ser humano-natureza é reconstruída de forma contínua abarcando as atividades de aventura na natureza, o sujeito praticante e os integrantes que se envolvem na prática. As variáveis como mar, paisagem, trilha e pureza, que mais foram apontadas pelos praticantes recaem nos aspectos da sensibillização com a natureza, como mostra o participante 8 ao lembrar das sensações: “Minha melhor sensação foi quando todo grupo estava no mar, cada um com seu caiaque, no qual paramos e ficamos observando a tranquilidade do mar, vi alguns peixes nadando em cardume, foi muito gratificante o dia”. Le Breton (2007) em seus estudos com a relação do ser humano e o mar ressalta que a ida ao mar é um desafio individual, à procura de uma legitimidade e de reconhecimento de si. 145

A subcategoria superação corresponde ao sentimento de desafio que foi vencido, geralmente em relação a um desafio consigo mesmo. Esta subcategoria, pode ser compreendida a partir de duas perspectivas, antes de enfrentar um desafio, que desperta para sensações negativas, como são apontadas nas variáveis medo, dor, dificuldade e cansaço, e a outra perspectiva com sensações positivas como obstáculo, experiência, prazer, companheirismo e socialização. Lavoura, Schwartz e Machado (2008), apresentam em seus estudos que as atividades de aventura na natureza apresentam ambiguidade referente aos aspectos emocionais, ora proporcionando sensações prazerosas, e ora apresentando sentimento negativos, como exemplo, o medo. Essa ambiguidade se sensações foi apontado pelo participante 1, ressaltando que a atividade da Pedra da Boca foi “a mais gostosa, a mais completa e dinâmica de todas elas. Proporcionou uma maior socialização entre a turma, muita troca de experiências e interação. Deu pra sentir adrenalina, medo, auto confiança fadiga, superação, companheirismo, estresse bom, foi de mais”. Neste sentido, as atividades de aventura na natureza, promovem sentimentos e emoções jamais vivenciadas o que despertam para sensibilização do participante com a natureza e os demais que interagem com o ambiente que os cercam. Estas atividades podem contribuir para melhorar a relação do sujeito com si mesmo, si conhecendo melhor por meio de novas descobertas do “eu-sujeito”.

SITUAÇÃO DE RISCO Na perspectiva de Le Breton (2009), o risco é inerente à vida humana, sendo a sensação de risco nas atividades de aventura na natureza pode está associada mais a uma sensação de risco imaginária do que um risco real, pois a indústria tecnológica vem suprindo as necessidades destas atividades oferecendo alguma segurança aos praticantes (SILVA; FREITAS, 2011). A figura a seguir apresenta a relação entre a situação de risco apontadas pelos participantes do estudo.

Figura 2: Características que conduziu a situação de risco 146

A categoria situação de risco assinalada na cor cinza escuro levou a duas subcategorias, marcadas na cor cinza claro, natureza e equipamento, seguida das variáveis de maior frequência destacadas na cor branca. As situações de risco durante as atividades de aventura na natureza estão intrínseca aos participantes, pois os aspectos naturais podem ser desconhecidos. É preciso compreensão e uma leitura da natureza antes e durante a atividade para tentar prever os riscos que possam ocorrer no período da prática (SILVA; CHAO, 2011). A subcategoria natureza refere às características encontradas pelos praticantes, levando as variáveis perigo, clima e participantes. As variáveis mencionadas podem corresponder a partir da perspectiva da natureza como um elemento incerto e desconhecimento a ser explorado. O participante 2 lembra que “o clima, quando despeitamos este fator podemos está arriscando nossas vidas”. Nessa direção, Silva e Freitas (2011) apresentam que as ações da natureza como a variação climática, aparecimento de animais, o risco de acidente e lesão que algumas atividades podem provocar são caracteristicas marcadas pelo incerto (SILVA; FREITAS). A subcategora equipamentos se relaciona com a prevenção de imprevistos que podem ocorrer durantes as atividaes de aventura na natureza. Marinho (2008; 2009) ressalta que equipamentos específicos oferecem artifícios com a mais moderna tecnologia que proporcionam alguma segurança e permitem melhor manuseio e desempenho aos praticantes. O participante 10, quando ressalta o momento da atividade de rapel afirma que “a pessoa confia a vida, em uma corda em determinada altura. Não tem como não ter um pouco de medo”. Neste relato, observa- se a presença do risco imaginário, pois o sentimento de medo está presente mesmo sabendo que os riscos estão gerenciados pelos equipamentos de segurança. As situações de risco nas atividades de aventura na natureza permite aos participantes novas percepções e motivações, bem como uma inteligação com a natureza evolvendo prezerosas sensações de superação e reconhecimento de si. As formas de aprendizagem e gerenciamento de risco por meios das atividades de aventura na natureza conduz a signicativas experiências, além de de melhorar os aspectos da auto-motivação, superação e o sentimento de realização.

CONCLUSÃO O estudo apresentou a importância das atividades de aventura na natureza para uma turma do ensino superior do curso de Bacharelado em Educação Física, em que foi promovido novas experiências por meio de diferentes atividades como a corrida de orientação, trekking, rapel, moutain bike, canoagem, e escalada em top roup. Os participantes vivenciaram diferentes sensações e emoções, que se dividiram por um lado em sensações positivas, como o prazer, e por outro lado sensações negativas, como medo, que conduz as situações de risco que são inerentes a estas atividades. 147

Torna-se importante a inserção de disciplinas que envolvem as atividades de aventura na natureza no currículo do curso de Educação Física, pois é uma área que está crescendo e é preciso formar profissionais qualificados para a atuação. Em adicional, as experiências e vivências por meio das atividades de aventura na natureza alerta para as questões da educação ambiental, da sustentabilidade e de alertas de segurança, que podem ser melhor explorados nos próximos estudos.

REFERÊNCIAS BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009. BRUHNS, H. T. A busca pela natureza: turismo e aventura. Barueri: Manole, 2009. CAILLOIS, R. Os jogos e os homens. Lisboa: Edições Cotovia, 1990. COSTA, V. L. M. Esportes de Aventura e risco na montanha. São Paulo: Manole, 2000. CSIKSZENTMIHALYI, M. A psicologia da felicidade. São Paulo: Saraiva, 1992. FLICK, U. Introdução a Pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Bookman Companhia, 2009. LAVOURA, T. N.; MELO, C. C. C.; MACHADO, A. A. Estados emocionais na prática esportiva: Relações entre medo e vergonha no contexto esportivo. Revista brasileira de Ciência e Movimento, v. 15, n. 3, p. 79-77, 2007. LAVOURA, T. N.; SCHWARTZ, G. M.; MACHADO, A. A. Aspectos emocionais da prática de atividades de aventura na natureza: a (re)educação dos sentidos. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 129-127, 2008. LE BRETON, D. Condutas de risco: dos jogos de morte ao jogo de viver. Campinas: Autores Associados, 2009. MARINHO, A. Lazer, aventura e risco: reflexões sobre atividades realizadas na natureza. Revista Movimento. Porto Alegre, v. 14, n. 02, p. 181-206, 2008. MARINHO A. Lazer, aventura e ficção: possibilidades para refletir sobre atividades realizadas na natureza. Motriz, v. 15, n. 1, p. 1-12, 2009. MONTEIRO, S. V. Lazer, natureza e amizade: formas de subjetividade na modernidade tardia. In: Marinho, A.; BRUHNS, H. T. Viagens, lazer e esporte: o espaço da natureza. Barueri: Manole, 2006. SCHWARTZ, G. M. A aventura no âmbito do lazer: as AFAN em foco. In: SCHWARTZ, G. M. (org.) A Aventura na Natureza: consolidando significados. Jundiaí: Fontoura Editora, 2006. SCHWARTZ, M. G.; CARNICELLI FILHO, S. (Desin)formação profissional e atividade de aventura: focalizando os guias de “rafting”. Rev. Bras. Educ. Fís. Esp. v. 20, n. 2, São Paulo, p. 103-109, 2006. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007. SILVA, P. P. C.; CHAO, C. H. N. Práticas Corporais na Natureza: por uma educação ambiental. Rev. da Educação Física/UEM, Maringá, v. 22, n. 1, p. 89-97, 2011. SILVA, P. P. C.; FREITAS, C. M. S. M. Emoções e riscos nas práticas na natureza: uma revisão sistemática. Motriz, v. 16, n. 1, p. 221-230, 2010.

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ATIVIDADES FÍSICO-ESPORTIVAS DE LAZER E AS CAPACIDADES FÍSICAS E DE AUTONOMIA DO IDOSO: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES

Helen da Silva Marinho, Tayse Guedes Cabral, Maria Dilma Simões Brasileiro Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil. [email protected]

RESUMO

A prática regular de atividade física proporciona ao idoso, melhorias nos aspectos biopsicossociais. Entretanto, para que estas melhorias aconteçam, é necessário que o professor conheça os alunos e suas limitações. O objetivo deste estudo foi conhecer a percepção dos professores, em relação às melhorias alcançadas nas capacidades físicas e na autonomia dos idosos, participantes de um programa de atividades físico-esportivas de lazer. Caracteriza-se como um estudo qualitativo, com dados coletados por meio de entrevistas semiestruturada, com 3 professores de um programa de atividades físico-esportivas de lazer para idosos. Os dados foram analisados por meio da técnica de Análise de Conteúdo. Os resultados apontam que para os professores pesquisados, um planejamento de aulas elaborado especificamente para este grupo etário, com enfoque no lazer, contribui para que os idosos obtenham melhorias na autonomia e na capacidade física. Neste sentido, um programa de atividades físico-esportivas de lazer é capaz de promover melhorias na autonomia e nas capacidades físicas dos idosos, proporcionando uma melhor qualidade de vida.

Palavras-chave: Idoso. Atividade física. Lazer

INTRODUÇÃO

Para um envelhecimento bem sucedido é necessária a busca constante por melhores padrões de qualidade de vida. Neste sentido, minimizar, retardar ou reverter os declínios biopsicossociais causados pelo envelhecimento está associado à prática regular de atividade física. A atividade física promove melhorias nas condições de saúde, na capacidade física e funcional do idoso (CHAIM et al., 2010; SILVA et al., 2011). Estudos afirmam que diversos declínios funcionais ocasionados pelo processo de envelhecimento são provocados pelo desuso físico, consequência da inatividade física (CASTRO, 2011; SANTOS e KNIJNIK, 2006). Segundo Borges (2009), idosos que praticam atividade física regular apresentam bons níveis de autonomia para o desempenho de suas atividades diárias, enquanto os sedentários apresentam maior dificuldade e alguma dependência. Os programas que oferecem atividades físicas para idosos têm como objetivo, na sua grande maioria, melhorias nas capacidades físicas e funcionais dos idosos, visto que a 149 manutenção e a preservação destas capacidades são essenciais para o desempenho das Atividades da Vida Diária (AVD’s), prolongando assim sua independência. Estas atividades, quando estão associadas às vivências de lazer, contribuem para o desenvolvimento das relações afetivo-sociais, promovendo assim benefícios para a saúde do idoso (SENFFT, 2004; MARCELLINO, 2006; BRASILEIRO et al., 2011). Entretanto, para que as necessidades dos idosos sejam atendidas, é necessário que o profissional de Educação Física conheça os alunos, o processo de envelhecimento, assim como domine metodologias de ensino-aprendizagem específicas para esta faixa etária. O profissional deve buscar entender e interpretar a participação do idoso nos programas de atividade física e, desta forma, promover a autonomia e independência dos mesmos, para que as dificuldades e barreiras sejam vencidas no decorrer das aulas (VENDRUSCOLO et al., 2011). Neste sentido, este estudo buscou conhecer a percepção dos professores, em relação às melhorias alcançadas nas capacidades físicas e na autonomia dos idosos, participantes de um programa de atividades físico-esportivas de lazer.

METODOLOGIA

O presente estudo, caracterizado com descritivo-exploratório de abordagem qualitativa, foi realizado com os 3 (três) professores do projeto Lazer e Inclusão Social na Terceira Idade da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Este projeto faz parte do Programa Lazer Ativo e envelhecimento: uma proposta metodológica, do Departamento de Educação Física (DEF) da UFPB. Este programa tem como objetivo promover qualidade de vida para os idosos, por meio de vivências físico-esportivas de lazer (BRASILEIRO et al., 2011). As atividades são oferecidas 3 vezes por semana, visando o trabalho do sistema cardiorrespiratório, da flexibilidade e da força muscular, por meio do lúdico. As atividades realizadas são os jogos pré-esportivos, dança, atividades rítmicas, hidroginásticas e jogos aquáticos, além de dinâmicas de grupo e atividades de relaxamento. A pesquisa foi realizada por meio de uma entrevista semiestruturada e as falas foram gravadas com a permissão dos participantes. Posteriormente, as falas das entrevistas foram transcritas, categorizadas, codificadas e analisadas por meio da técnica de Análise de Conteúdo, proposta por Bardin (2002). Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da UFPB, sob o protocolo nº 0229/11. Todos os sujeitos do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a realização do presente estudo, partiu-se do pressuposto de que os professores que trabalham com atividades físico-esportivas de lazer com idosos precisam ter uma formação que possibilite identificar as melhorias ocorridas durante as aulas. Gobbi et al. (2007) afirma que para o professor compreender o aluno e o processo de ensino-aprendizagem é preciso que esse profissional tenha conhecimentos e habilidades específicas em relação à população. Essas afirmações confirmam o fato de que os professores necessitam de conhecimentos dos seus alunos e o domínio de metodologias de ensino, para a conquista dos objetivos previstos durante o planejamento das aulas. Este conhecimento não está restrito, portanto, aos resultados dos testes e questionários aplicados aos alunos periodicamente, mas também e, sobretudo, a percepção, a sensibilidade, ao conhecimento subjetivo que os professores têm dos seus alunos e do grupo de trabalho. Nesse contexto, o estudo apontou que para os professores pesquisados, os testes e questionários aplicados aos alunos são indicadores do indivíduo e do grupo, mas o diferencial está em um planejamento de aula bem elaborado para este grupo etário: “[...] se trabalhada de forma correta, como a gente sempre trabalha, é o suficiente” (Entrevistado 3). O entrevistado 2 afirma que “muitos relatam que melhoraram [...]. Exemplo: um idoso que relatava que no início não conseguia sentar direito e agora eu vejo que ele tem mais facilidade em realizar os exercícios”. E o entrevistado 1 afirma que: “[...] conforme foi passando as aulas, as atividades, eles vão melhorando as capacidades físicas, se tornando mais aptos para o dia a dia”. Corroborando com a observação dos professores, Guimarães et al. (2008) enfatiza que os idosos ao participarem de programas de atividade física, tendem a melhorar seu nível de autonomia funcional, facilitando a realização das atividades da vida diária. Outro aspecto abordado no estudo foi o fato das aulas realizadas terem como enfoque o lúdico e as atividades de lazer. Streit et al. (2012) afirmam que essas atividades são relevantes para a população idosa e é uma forma de estratégia para a manutenção de um envelhecimento ativo. O idoso ao participar destas atividades, estabelece relações sócio-afetivas, que contribuem significativamente para melhorias relacionadas à saúde, tanto física quanto psíquicas, visto que o envelhecimento é um processo que acarreta alteração nos aspectos biopsicossocial (ALMEIDA et al., 2005). Os professores entrevistados colocam em evidência que uma proposta de aulas físico- esportiva para o idoso, tendo como objetivo melhorias nas capacidades físicas, o componente do lúdico e as práticas relacionadas ao lazer são primordiais para a motivação e permanência do idoso nas atividades. Conforme Mourão e Silva (2010), as atividades recreativas proporcionam ao indivíduo a oportunidade de sensação de sucesso, contribuindo para a melhoria e manutenção da autoestima do idoso. 151

Para os professores entrevistados, essas aulas com características lúdicas também possibilitam a obtenção de melhorias nas capacidades físicas dos idosos, como afirma o professor 1:

Como muito dos idosos não tem essa cultura, nunca tinham tido essa vivência de praticar a atividade física, então chegar e começar a praticar de forma lúdica, através mesmo do lazer, brincando, acaba sendo mais fácil de incorporar aquilo ali na vida deles.

O professor 2 também ressalta que: “A metodologia do trabalho é no lúdico. Tem a parte mais de exercício, mas tem também as práticas de atividades lúdicas, como dinâmicas. A metodologia das aulas está mais voltada para parte do lazer. Fica mais fácil de ter essas melhorias”. Nesta perspectiva, as vivências lúdicas e de lazer, além de estimular as capacidades físicas, estimulam também às relações sociais, o cognitivo, o símbolo, a criatividade e as emoções. Portanto, o lúdico e as atividades de lazer promovem uma melhor qualidade de vida aos idosos, ao aumentar também o processo de integração entre eles e consigo mesmo (BRASILEIRO et al., 2011). Corroborando com os achados deste estudo, Morais (2009, p. 85) afirma que as atividades de lazer “[...] favorece o desenvolvimento e a preservação da autonomia, pois, além de propiciar estados emocionais positivos, alimenta a criação de vínculos e promove o exercício de atividades físicas, intelectuais e sociais”. Este autor afirma ainda que, as práticas de atividades de lazer tornam o idoso mais autônomo, ao melhorar o seu deslocamento, promovendo, assim mesmo, as chances de continuar exercendo o controle sobre a própria vida e sobre as atividades cotidianas correspondentes.

CONCLUSÃO De acordo com a percepção dos professores, as atividades físico-esportivas, com o enfoque no lúdico e no lazer, proporcionam melhorias na autonomia e nas capacidades físicas dos idosos, oportunizando uma velhice mais autônoma e independente, associada a uma boa qualidade de vida. Estes dados sugerem um estudo que estabeleça uma comparação entre os testes biomédicos realizados com o grupo de idosos e a avaliação subjetiva realizada pelos professores.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M. M. G.; MOREIRA, R. F.; ARAÚJO, T. M.; PINHO, P. S. Atividades de lazer entre idosos, Feira de Santana, Bahia. Revista Baiana de Saúde Pública, v.29, n.2, 2005. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2002. 152

BORGES, M. R. D.; MOREIRA, A. K. Influência da prática de atividades físicas na terceira idade: estudo comparativo dos níveis de autonomia para o desempenho nas AVDs e AIVDs entre idosos fisicamente ativos e idosos sedentários. Revista Motriz, v. 15, n. 3, p. 562-73, jul/set. 2009. BRASILEIRO, M. D. S.; MACHADO, A. B.; MATIAS, B. A.; SANTOS, A. C. Do diagnóstico à ação: uma proposta de lazer ativo e envelhecimento. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v. 16, n. 3, p. 271-274, 2011. CASTRO, A. A. Qualidade de vida e capacidade funcional em idosos adeptos a educação física gerontológica. Boletim Informativo Unimotrisaúde em Sociogerontologia, v. 2, n. 1, p. 39-55, 2011. CHAIM, J.; RAMUNDO, M. E.; FERREIRA, C. A. S.; YUASO, D. R. Prática regular de atividade física e sedentarismo: influência na qualidade de vida de idosas. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, v. 7, n. 2, p. 198-209, maio/ago. 2010. GOBBI, S.; HIRAYMA, M. S.; TANAKA, K.; GOBBI, L. T. B.; SEBASTIÃO, E. Interface entre ensino, pesquisa e extensão na formação de profissionais de educação física para a intervenção com idosos. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 6, n. 2, p. 13-25, 2007. GUIMARÃES, A. C.; ROCHA, C. A. Q. C.; GOMES, A. L. M.; CADER, A. S.; DANTAS, E. H. M. Efeitos de um programa de atividade física sobre o nível de autonomia de idosos participantes do programa de saúde da família. Fit Perf J, v.7, n. 1, p. 5-9, 2008. MARCELLINO, N. C. Estudos do lazer: uma introdução. 4ª ed. Campinas: Autores Associados, 2006. MORAIS, M. L. S. Ludicidade, humor, diversão e participação social: motivos de bem-estar em todas as idades. Bol. Inst. Saúde, v. 47, p. 84-86, 2009. MOURÃO, C. A.; SILVA, N. M. Influência de um programa de atividades físicas recreativas na autoestima de idosos institucionalizados. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, v. 7, n. 3, p. 324-334, 2010. SANTOS, S. C.; KNIJNIK, J. D. Motivos de adesão à prática de atividade física na vida adulta intermediária I. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 5, n.1, p. 23-34, 2006. SENFFT, M. D. Lazer saudável na terceira idade. Caderno Virtual de Turismo, v. 4, n. 4, p. 69- 78, 2004. SILVA, D. M.; MESQUITA, D. S.; SOUZA, M. O.; SALES, P.G. Os benefícios da atividade física no processo de socialização de mulheres da terceira idade. Revista UNIABEU Belford Roxo, v.4, n. 7, p. 64-73, mar/Ago. 2011. STREIT, I. A.; DURIEUX, A.; BENETI, M. Z.; NAMAM, M. Programa saúde e lazer no IFSC: contribuindo para o envelhecimento ativo. Revista Conexão UEPG, v. 8, n.1, p. 94-99, 2012. VENDRUSCOLO, R.; SOUZA, D. L.; CAVICHIOLLI, F. R.; CASTRO, S. B. E. Programas de atividades físicas para idosos: apontamentos teórico-metodológicos. Pensar a Prática, Goiás, v. 14, n. 1, p. 1-13, 2011.

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TREINAMENTO ESPORTIVO

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ANÁLISE DOS ASPECTOS ANTROPOMÉTRICOS, FORÇA EXPLOSIVA E SOMATOTIPO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM FUNÇÃO DOS ESTÁGIOS MATURACIONAIS

Marcos Antônio de Araújo Filho1; Eric de Lucena Barbosa1; Ramon Cunha Montenegro1; Emília Amélia Pinto Costa da Silva1; Priscilla Pinto Costa da Silva1 1Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ - Brasil; [email protected]

RESUMO

Introdução: Verifica-se que a maturação sexual exerce efeitos sobre o crescimento e o desenvolvimento, visto que indivíduos apresentam mesmo idades cronológicas, porém com grande variação maturacional. Objetivo: analisar e comparar características antropométricas, força explosiva de membros inferiores e somatotipo nos estágios maturacionais em praticantes de escolinhas de Futebol da cidade de João Pessoa-PB. Métodos: Estudo comparativo, com delineamento transversal, o qual avaliou 84 indivíduos masculinos com idades entre 07 a 17 anos, divididos conforme o desenvolvimento de pelos pubianos: P1 (n= 12), P2 (n=23), P3 (n=18), P4 (n=18) e P5 (n= 13). Utilizaram-se os teste estatístico de Kolmogorov-Smirnov e Análise de Variância (ANOVA) One Way para as medidas repetidas (post hoc de Sheffe). Resultados: apontaram que o estágio P1 apresentou média de idade de 9,25 anos configurando maturação precoce. Nas comparações, ocorreram diferenças significativas nas idades (F = 19,829; p = 0,000), entre P1 para P3, P4 e P5, P2 para P4 e P5 e entre o P3 e P4. Já a massa corporal total (F = 19,193; p = 0,000), foram encontradas entre P1 para P4 e P5, P2 para P4 e P5 e entre o P3 e P5. E na estatura (F = 23,394; p = 0,000), entre o P1 para P3, P4 e P5, entre P2 e P4 e P5 e entre o P3 e P5. À força relativa apontou diferenças significativas (F = 6,687; p = 0,000), entre P1 para P4 e P5, como também, um declino nos resultados à medida que os garotos fossem maturando. No somatotipo identificou-se a predominância da mesomorfia, entretanto não existiram diferenças significativas. Conclusão: a antropometria ocorreu um aumento em decorrência da maturação, consecutivamente, interferem significativamente nos resultados da força explosiva. Quanto ao somatotipo, todos os estágios apresentaram a mesomorfia com maior predominância com resultado mais aparente para o estágio P2.

Palavras-chave: Futebol, Salto Horizontal, Maturação.

1 INTRODUÇÃO

A avaliação é importante no acompanhamento da prática desportiva, pois permite julgar o quanto foi eficiente o sistema de trabalho usado com os indivíduos. Em jogadores de futebol torna- se necessário visto que se pode identificar as suas condições e limitações, evitando futuros incidentes que eventualmente poderão acontecer. Rinaldi e Arruda (1999), afirmam que a 155 avaliação física em jogadores tem se mostrado importante no sentido de oferecer parâmetros mais exatos para a prescrição de treinamento.

Para Balikian (2002), o futebol consiste em uma atividade complexa, que envolve a solicitação do desenvolvimento de capacidades físicas. Viviani (1993) revela que independente da posição do jogador, várias qualidades são exigidas para que ele possa atingir uma boa performance, dentre elas a força. Neste sentido, Toledo (2000) afirma que o futebol é um desporto com várias particularidades e que exige a utilização da força explosiva e da resistência muscular localizada.

Os desportos coletivos abrangem diversas características físicas entre seus participantes. Reilly (2000) estudou as análises antropométricas de jogadores de futebol e observou uma heterogeneidade entre as posições. Em outro estudo Queiroga (2005), revela que por meio das características somáticas podem-se produzir informações a respeito da estrutura física do atleta, descrevendo sua morfologia muscular, óssea e adiposa. Viviani (1993), afirma que as características somatotipicas tende a ficar estável mesmo com avanço da idade.

Seabra (2001) e Bar-Or (1986) revelam a importância de conhecer as características dos jovens que são submetidos a programas de atividades físicas organizadas, identificando as respostas do seu desenvolvimento. Por meio da descoberta dos estágios maturacionais de crianças e adolescentes, possibilitará distinguir de maneira mais clara as adaptações morfo- funcionais proporcionadas pelo treinamento.

A maturação sexual caracteriza-se como um processo evolutivo marcado por uma série de mudanças biológicas que ocorrem numa determinada sequência, e é afetada por fatores genéticos e ambientais (MARTIN et al. 2001; MATSUDO e MATSUDO, 1991).

Deste modo, Seabra (2002), revela que com facilidade pode-se diagnosticar que indivíduos futebolistas e não futebolistas, da mesma idade cronológica e sexo, apresentam diferenças significativas ao nível dos aspectos somáticos, da aptidão física geral e específica, e das respectivas habilidades.

Partindo destes pressupostos, surge a seguinte indagação, qual será os efeitos da maturação sexual nas características antropométricas, força explosiva e somatotípicas em crianças e adolescentes praticantes de futebol?

Assim, objetivou-se de maneira geral analisar e comparar as características antropométricas, força explosiva de membros inferiores e o somatotipo em função dos estágios maturacionais de crianças e adolescentes, praticantes de uma Escolinha de Futebol da cidade de João Pessoa-PB.

156

2 MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa descritiva, de natureza comparativa desenvolvimental, com delineamento transversal, a qual avaliou um quantitativo de 84 individuos do gênero masculino com faixas etárias entre 07 a 17 anos, praticantes de futebol de uma Escolinha da cidade de João Pessoa - Paraíba, divididos em cinco estágios conforme o desenvolvimento de pelos pubianos proposto por Tanner (1962), ou seja, P1 (n= 12), P2 (n=23), P3 (n=18), P4 (n=18) e P5 (n= 13). Todos os testes foram realizados no centro de aperfeiçoamento físico da escolinha, antes da realização dos treinamentos. Foi utilizado no tratamento estatístico os teste de Kolmogorov- Smirnov para a identificação da normalidade e Análise de Variância (ANOVA) One Way para as medidas repetidas (post hoc de Sheffe). Todos estes procedimentos foram tratados com nível de significância de (p<0,05). A massa corporal total foi determinada com uma balança Filizola®, devidamente calibrada e aferida, cuja precisão é de 100 gramas. Já para estatura utilizou-se um estadiômetro portátil da marca Sanny® (FERNANDES FILHO, 2003).

Por meio, do teste proposto por Johnson e Nelson (1979) de salto horizontal (salto em distância parado) foi identificada a força explosiva de membros inferiores. O material necessário foi uma fita adesiva, para assinalar a linha de partida e uma trena para medida do salto.

Após o resultado do salto horizontal utilizou-se a divisão da distância percorrida pela massa corporal total, identificando assim, a força relativa. Esta medida foi para garantir que a massa corporal dos indivíduos não influenciasse nos resultados do teste.

As características somatotípicas foram identificadas por meio do protocolo de Carter e Heath (1990), a qual tem a finalidade de descrever os aspectos corporais apartir do crescimento. Este protocolo se classifica em endomorfia (adiposidade relativa), mesomorfia (massa muscular relativa) e ectomorfia (linearidade relativa).

Com o teste de Marshall e Tanner (1970), foram identificadas as características da maturação sexual secundária, como os pelos pubianos. De acordo Matsudo (1991), atesta a alta reprodutibilidade e confiabilidade da observação direta com valores de 0,93 – 0,99. Em uma sala comum, mas individualmente, são apresentadas as pranchas de Marshall e Tanner (1970) com as fotografias dos diferentes estágios de desenvolvimento para cada característica sexual secundária (pelos pubianos).

Para evitar a curiosidade e facilitar o entendimento do procedimento foi colocada em cima das pranchas (fotos), uma folha em branco, que foi retirada no momento da avaliação. Foi solicitado aos indivíduos que observassem com atenção cada uma das fotos e marcar na ficha de avaliação o número da foto que mais se parece com ele naquele momento. A característica sexual avaliada foi registrada como um P (para pelos púbicos) para os meninos que correspondeu do 157 estágio (1 a 5). É importante destacar que houve a autorização dos responsáveis e que não houve qualquer tipo de constrangimento para os avaliados.

Todos os procedimentos de coletas foram seguidos de acordo com à regulamentação (196/96) do Conselho Nacional de Saúde CNS de 10/09/1996.

3 RESULTADOS Serão apresentados a seguir os principais resultados deste estudo, expondo as vinculações com o objetivo do presente trabalho. Na tabela 01, foram mencionados os valores das médias, desvio padrão, mínimo e máximo para os aspectos antropométricos, massa corporal total e estatura nos estágios de Tanner (1962) (pêlos pubianos) respectivamente. Nas comparações múltiplas, foram encontradas diferenças significativas nas idades (F = 19,829; p = 0,000), entre P1 para P3, P4 e P5, P2 para P4 e P5 e entre o P3 e P4. Já a massa corporal (F = 19,193; p = 0,000), foram encontradas entre P1 para P4 e P5, P2 para P4 e P5 e entre o P3 e P5. E na estatura (F = 23,394; p = 0,000), entre o P1 para P3, P4 e P5, entre P2 e P4 e P5 e entre o P3 e P5.

Tabela 1: Valores médios, desvio padrão, mínimo e máximo da idade, massa corporal total e estatura nos estágios investigados.

Idade (anos) Massa Corporal Total (Kg) Estatura (cm) Estágios n μ s Mín_Máx μ s Mín_Máx μ s Mín_Máx

P1 12 9,25±1,88 7_14 31,67±7,79 21,50_47,20 138,60±11,06 118,20_154,00

P2 23 10,70±1,40 8_13 40,97±9,79 25,90_63,70 144,51±10,56 130,00_175,20

P3 18 12,56±2,57 9_17 44,11±12,92 25,40_69,80 153,57±12,19 131,00_180,30

P4 18 13,72±1,73 10_17 55,04±12,26 35,10_82,70 163,06±9,10 144,00_177,50

P5 13 15,00±1,80 11_17 65,88±9,76 52,30_88,80 172,48±8,55 159,00_187,00

Legenda: μ = Média; s = Desvio Padrão; Min_Máx = Valores Mínimos e Máximos

No gráfico 01, são apresentados os resultados médios da força explosiva dividida pela massa corporal total. Observou-se que no salto em distância (F = 6,687; p = 0,000), houveram diferenças significativas entre P1 para P4 e P5. É importante destacar que a força explosiva relativa apontou um declino nos resultados à medida que os garotos foram maturando. 158

0,55

0,5

0,45

0,4

0,35

0,3

0,25 G1 G2 G3 G4 G5

Gráfico 01: Resultado da força explosiva dividida pela massa corporal total

No gráfico 02, são descritos os valores do somatotipo em função dos estágios maturacionais. Identificou-se que as configurações principias foram: P1 - Mesoectomórfico (2,65, - 4,14, -3,82), P2 – Mesoendomórfico (3,69, - 4,87, - 2,39), P3 - Mesomorfico-Ectomorfico (2,66, - 3,99, - 3,68), P4 Mesomorfo Balanceado (2,79, - 4,36, - 3,09) e P5 Mesomorfo Balanceado (2,91, - 3,58, - 2,81). Verificou-se que não existiram diferenças significativas nos resultados da endomorfia (F = 1,349; p = 0,259), mesomorfia (F = 2,214; p = 0,075) e ectomorfia (F = 2,219; p = 0,074). Porém, a mesomorfia identificou-se como o tipo físico mais predominante entre as crianças e os adolescentes avaliados.

Gráfico 02 – Somatotipo em relação aos estágios maturacionais

159

4 DISCUSSÃO Com base nos resultados do estudo pode-se observar que os garotos encontrados no P1 apresentaram média de idade de 9,25 anos, configurando um estágio do surgimento de pelos precocemente. Carvalho (1990) afirma que a média de idade do surgimento de pêlos pubianos é de 11,4 anos. Chipkevitch (1995) revelou o surgimento dos pêlos no sexo masculino com 11,3 anos. Já estudo realizado por Medeiros (2005), aponta valores médios de 12,03 anos.

Em relação ao surgimento e a duração da puberdade, o presente estudo revelou que garotos apresentaram médias da idade de 10,70 e com permanência de 3,02 anos. Em um estudo com 2751 meninos islandeses saudáveis com faixa etária de 6 a 16 anos, Agustsson et al. (2001) observaram os primeiros sinais de surgimento de pêlos pubianos que ocorreu aos 12,74 e o tempo médio de intervalo entre o início e o fim foi de 2,34 anos. Bundak (2006) ao analisar 1112 crianças e adolescentes saudáveis do sexo masculino, com faixas etárias de 8 a 18 anos, identificou que o início da puberdade aconteceu por volta dos 11,6 anos e tinha uma duração por mais 4,9 anos. Já Castellino et al. (2005), analisaram 3496 crianças e adolescentes de escolas públicas e comparou seus resultados com os de Bronzeados (1976), os autores observaram que em relação ao surgimento da puberdade, a média das idades diminuiu um ano.

Ao analisar a massa corporal total, observou-se que os picos de desenvolvimento aconteceram entre os estágios P1 para o P2 e P3 ao P5. Já a estatura, mostrou que os maiores valores de estatura ocorreram entre os estágios P1 para P2 e P3 ao P4. Saito (2001) revela que em crianças e adolescentes, os hábitos alimentares influenciam no aumento da massa corporal. Gallahue (2000) afirma que o aparecimento, duração e intensidade do estirão do crescimento poderão ser controladas pelo genótipo, porém, a velocidade é influenciada pelo fenótipo.

Alonso (2005) ao estudar o comportamento da massa corporal total e estatura de crianças e adolescentes com faixas etárias de 8 a 18 anos praticantes de futsal observou que a massa corporal teve aumento expressivo a partir do P2 ao P5, no entanto, ficou configurado que o primeiro e o segundo estirão de crescimento aconteceram no P3 e P4 respectivamente. Os dados referentes a força explosiva nos estágios de desenvolvimentos maturacionais apontaram um declínio nos resultados à medida que os garotos foram maturando. Isso pode ser justificado pelo estudo de Siff e Verkhoshansky (2000), que apontam que a força tende a diminuir quando a massa corporal total e a estatura são aumentadas. Estudo realizado por Ré et al. (2005), afirma que a massa corporal teve influências positivas nos resultados do teste de força explosiva absoluta realizada por meio do salto horizontal e uma maior estatura influência devido ao comprimento do membro.

Ao analisar os resultados do somatotipo, identificou-se a predominância da mesomorfia. Seabra (2002), em estudo realizado com crianças praticantes de futebol, afirma que o componente mesmomorfo caracterizou-se como dominante. 160

O estágio P1 apresentou um moderado desenvolvimento músculo esquelético relativo com maior volume muscular e ósseo, e articulações de maiores dimensões, como também uma linearidade relativa moderada, com menos volume por unidade de altura e mais alongados. Já o estágio P5 apresenta características semelhantes do estágio P1, no entanto, verificou-se uma adiposidade relativa com pouca gordura subcutânea e contornos musculares e ósseos visíveis (FERNANDES FILHO, 2003).

5 CONCLUSÃO

Com relação à massa corporal total e a estatura identificou-se um aumento progressivo em decorrência dos estágios maturacionais, consecutivamente estes componentes interferiram significativamente nos resultados da força explosiva do salto horizontal. Quanto ao somatotipo, pode-se destacar, que em todos os estágios a mesomorfia apresentou maiores predominâncias e um resultado mais aparente para o estágio P2. Assim, estes achados poderão ser explicados pela maior intensidade das descargas hormonais (aumento da testosterona) proporcionados neste estágio (púbere), caracterizando como inicio do estirão do crescimento. Recomendam-se estudos envolvendo análises das características genéticas juntamente com parâmetros eletromiográficos dos membros envolvidos no movimento, bem como um acompanhamento nutricional.

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162

Comparação do Índice de Precisão do Chute de Finalização

em Futebolistas Amadores

José Guilherme Caricchio Rosa; José Mauro Malheiro Maia Junior; Jeferson Macedo Vianna, André Luiz S. Teixeira, Vinicius de Oliveira Damasceno Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, Juiz de Fora, Minas Gerais – Brasil [email protected]

RESUMO

Introdução: o futebol é um esporte complexo e diversificado solicitando exigências relacionadas aos aspectos técnico, tático, físico e psicológico. Suas ações utilizadas para decidir um jogo aliam- se a realização de um gesto motor adequado, a técnica. Assim sendo, uma dessas atividades é o chute que após certo tempo de jogo e acúmulo de desgaste físico podem sofrer variações quanto sua eficiência. Objetivo: comparar o índice de precisão do chute de finalização a gol, antes e depois de uma partida de futebol, entre futebolistas amadores da cidade de Juiz de Fora/MG. Metodologia: através de uma amostra de 18 indivíduos do sexo masculino foram analisadas a composição corporal (idade: 16,4 ± 1,4 anos; peso: 63,6 ± 5,4 Kg; altura: 171,4 ± 8,2 cm; %G: 9,0 ± 6,5 %, IMC= 22,1 ± 3,1), o número de passadas durante um jogo de futebol para quantificar o desgaste físico e o índice de precisão no teste de finalização pré e pós-jogo de duas equipes (A e B). Para o teste de finalização uma baliza de futebol foi dividida em cinco locais pré-determinados para serem acertados durante o teste. Cada série era composta por 10 chutes sendo 02 em cada setor e as finalizações eram realizadas da marca penal com qualquer parte do pé. Resultados e Discussão: o desgaste físico não demonstrou diferença significativa entre as equipes (A=8296,0 e B=7947,5 passos, p=0,469846). No teste de precisão os futebolistas apresentaram resultados de 117 acertos (65%) antes do jogo e após o jogo 90 acertos (50%). Conclusão: o desgaste físico para este nível parece não influenciar diretamente à diminuição da coordenação dos movimentos técnicos e a redução do índice de precisão da finalização.

Palavras-chave: futebol, fadiga, finalização

INTRODUÇÃO

O futebol é considerado um dos esportes mais populares do mundo, apresentando em meados do ano 2000 mais de 240 milhões de praticantes (WONG, HONG, 2005), sob as formas de lazer, recreação e alto rendimento (SOUZA, ZUCAS, 2008). Nos últimos anos verificou-se um crescente interesse das ciências biológicas em aprofundar os estudos nas mais diversas áreas do conhecimento referente a essa atividade (PRADO et al., 2006), assim como as ciências do esporte também vêm demonstrando um aumento na produção de conhecimento a respeito do futebol, sendo esta modalidade coletiva a mais estudada, em termos científicos, no mundo (PONTES et al., 2006). 163

No que diz respeito ao desporto supracitado, quanto esporte de alto rendimento, este solicita dos futebolistas um conjunto bastante diversificado de exigências relacionadas aos aspectos técnico, tático, físico e psicológico (SOUZA, ZUCAS, 2008), que devem ser desenvolvidas por profissionais capacitados (SILVA et al., 2005). Do ponto de vista fisiológico, por ser uma modalidade de caráter intermitente, é extremamente complexa, com ações específicas que evidenciam uma tipologia de esforço de grande diversidade (REBELO, OLIVEIRA, 2006) e que exige a participação energética de todos os sistemas (BANGSBO, MOHR, KRUSTRUP, 2006) sendo aproximadamente 88% com atividades aeróbicas e os 12% restantes com atividades anaeróbicas de alta intensidade (GUERRA, SOARES, BURINI, 2001).. Devido a sua duração, o futebol pode ser considerado um esporte de endurance (PRADO et al., 2006), por isso os jogadores devem ser capazes de manter um alto nível de esforço durante todo o jogo. No entanto, identifica-se um declínio na distância percorrida, na intensidade de trabalho, além de variações na FC, nas concentrações de lactato e de glicose no decorrer do jogo (MORTIMER et al., 2006).. Apesar da base metabólica de uma partida de futebol ser aeróbia, a maioria das ações utilizadas para decidir um jogo (chutar, driblar e cabecear) é de caráter anaeróbio (CHAMARI et a., 2004) que aliada à realização de um gesto motor adequado, a técnica, produzem resultados amplamente satisfatórios. Assim sendo, uma dessas atividades é o chute, que após certo tempo de jogo e acúmulo de desgaste físico pode sofrer algumas variações quanto sua eficiência. Segundo Lucena (1994), o chute é a ação de golpear a bola visando desviar ou dar trajetória à mesma, estando ela parada ou em movimento. A técnica utilizada pela maioria dos jogadores é o chute com a face dorsal do pé (chute com o “peito do pé”), pois é o mais recomendado para dar direção à bola. Contudo, na segunda metade de uma partida de futebol, se o nível de glicogênio muscular estiver diminuído, desde o início do jogo, haverá comprometimento do desempenho físico, pois, na sua ausência, o trabalho muscular é mantido pela energia fornecida pela gordura, em processo totalmente aeróbio e, portanto, perdendo em eficiência (GUERRA, SOARES, BURINI, 2001). Durante a simulação de uma partida de futebol, com jogadores de elite, foi observada depleção de 50% do glicogênio muscular ao final do jogo (GUERRA, SOARES, BURINI, 2001). Estas alterações podem afetar a performance da musculatura, a taxa de produção de força, a potência e a velocidade de encurtamento das fibras musculares causando deficiência na performance motora (RIBEIRO, OLIVEIRA, 2008). Mas haverá alguma alteração no índice de precisão do chute do atleta? A precisão do chute (Kicking accuracy), é um importante componente da performance do futebol e pode ser definida como a habilidade de chutar a bola numa área específica (FINNOFF, NEWCOMER, LASKOWSKI, 2002). Ali (2011) em seu estudo, classificou alguns testes para análise da precisão do chute dos futebolistas, porém são reduzidos os estudos encontrados que focam uma análise da precisão do chute antes e após uma partida de futebol. Seria interessante avaliar o atleta de forma específica, 164 utilizando testes que se aproximassem ao máximo do gesto motor utilizado na prática da modalidade (SILVA et al., 2006), dessa forma, é necessário que os testes atendam as demandas da modalidade e que suas condições se reproduzam durante o jogo (BORTOLOTTI et al., 2010). Posto isso, o presente estudo tem por objetivo comparar a precisão do chute de finalização a gol, antes e depois a uma partida de futebol, entre futebolistas amadores da cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais.

MATERIAL E MÉTODOS

Sujeitos: Foram selecionados para a amostra deste estudo 18 futebolistas amadores do sexo masculino, integrantes da equipe de futebol do Colégio Militar de Juiz de Fora (CMJF) – MG (idade: 16,4 ± 1,4 anos; peso: 63,6 ± 5,4 kg; altura: 171,4 ± 8,2 cm; %G: 9,0 ± 6,5 %, IMC: 22,1 ± 3,1). Habitualmente, o volume de treinamento desses indivíduos corresponde a três vezes por semana, durante duas horas por dia, disputando partidas amistosas e competitivas regionais entre uma e duas vezes a cada quinze dias.

Os participantes foram informados dos objetivos da pesquisa, dos procedimentos, possíveis desconfortos, riscos e benefícios do estudo antes de assinar o termo de consentimento livre e esclarecido em uma reunião com a presença da comissão técnica da equipe e seus respectivos responsáveis. Como critérios de inclusão foram aceitos para o estudo aqueles que após uma avaliação clínica realizada pelo médico do Colégio Militar estavam aptos a realizar as tarefas propostas. O critério de exclusão foi qualquer tipo de lesão que impediu a realização dos testes.

As condições meteorológicas encontradas nas datas de realização dos testes foram as seguintes: Min/Máx. 18/27 ºC, URA 41/74%, Vento: 5 km/h; Min/Máx. 20/28 ºC, URA 49/81%, Vento: 7 km/h

Seções dos Testes - Procedimento 1: A primeira etapa do estudo consistiu de uma avaliação da composição corporal, sendo todas as mensurações realizadas no início da manhã na sala de avaliações do CMJF. Por ocasião das mensurações, todos os participantes estavam descalços, com o busto nu e apenas um short.

A estatura teve sua aferição realizada com o corpo mais alongado possível. Como recomenda Lohman et al., (1988), as mensurações foram tomadas em triplicata e a média da estatura calculada. Foi medida por um estadiômetro (Country Tecnology®, Gays Mills, WI; modelo 67031), com resolução de 0,1 centímetros.

A massa corporal foi registrada através de um aparelho Filizola® eletrônica/digital, com resolução de 100 gramas (modelo “Personal Line”). O avaliado estava na posição de pé e de costas para a escala da balança. 165

Na estimativa do percentual de gordura foi utilizado o método das dobras cutâneas, medidas por um adipômetro científico da marca Lange©. Para tanto, o protocolo aplicado foi o de três dobras (peitoral, abdominal e coxa), de Jackson & Pollock (1978). Na busca de atingir os objetivos propostos neste estudo foi realizada a segunda etapa do experimento, conforme descrito a seguir.

Procedimento 2: Em um segundo dia após um aquecimento de 10 min. e uma pausa de 5 min. para hidratação foi realizada a avaliação da precisão no chute de finalização pré-jogo, onde cada indivíduo, após três chutes de prática, desferiu dois chutes, com qualquer parte do pé, em cada um dos cinco locais pré-determinados pelo avaliador (figura 1) (MOR, CHRISTIAN, 1979; TRITSCHLER, 2003).

Figura 1. Desenho ilustrativo do dispositivo de finalização (DE MOR-CHRISTIAN, citado por TRITSCHLER, 2003).

Os jogadores foram divididos em duas equipes (A e B) sendo uma em cada baliza e mediante sorteio foram ordenados para iniciar as finalizações. A distância do chute foi a mesma da marca penal (11m), tendo o batedor como referência, sendo sua sequência a seguinte:

1º - 02 chutes no canto inferior direito, 2º - 02 chutes no canto inferior esquerdo, 3º - 02 chutes no canto superior direito, 4º - 02 chutes no canto superior esquerdo, 5º - 02 chutes no centro, parte média do gol.

Os chutes certos e errados foram contabilizados para análise dos resultados, sendo computado como válido aquele que passou pelo local selecionado ou acertou as linhas demarcatórias do local. As medidas 1, 2, 3 e 4 terão 0,81 m2 e a medida 5 terá 3,5 m2 de acordo com a figura 1.

Procedimento 3: Dando sequência ao desenho experimental, em um terceiro encontro, foi realizada uma partida de futebol com dois tempos de 35 minutos, estando as equipes A e B 166 dispostas em sistema tático 4-4-2, equilibrado, com dois volantes e dois meios armadores no meio de campo (quadrado). Em se tratando de um jogo treino houve a necessidade de estimular os futebolistas como sendo um jogo para a disputa de vaga para uma competição subseqüente. O objetivo foi de implementar desgaste físico nos futebolistas, atingindo um nível de fadiga coerente com o exigido em jogadores de futebol deste nível e por fim um novo teste de precisão no chute de finalização foi realizado. Com o intuito de mensurar a distância percorrida pelos futebolistas e controlar melhor o esforço durante a partida de futebol, foi fixado no elástico do short, próximo ao quadril dos jogadores, um pedômetro modelo SW 200 da marca Digi-Walker.

Os testes realizados foram precedidos por um período de quatro meses de treinamento.

Tratamento estatístico

A análise estatística da amostra foi realizada através da estatística descritiva (média e desvio padrão) para as variáveis contínuas e discretas e a estatística inferencial para verificar a diferença entre o número de passos entre as equipes A e B, onde foi utilizado Test t Student não pareado. Para verificar a associação entre o pré e pós-jogo e escore de acerto foi utilizado teste q- quadrado. Para a análise dos dados, foi utilizado o programa Statiscal Package for the Social Sciences (SPSS 20.0 para Windows). O nível de significância adotado foi de p < 0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Embora a amostra tenha sido, inicialmente, com um único grupo (n=20) os dados foram coletados a partir de duas equipes de futebol, havendo durante o experimento desistência de um participante de cada equipe (n=18) (idade (anos) - 16,4 ± 1,4; Peso (kg) - 63,6 ± 5,4; Estatura (m) - 171,4 ± 12,3; Gordura Corporal (%) - 9,0 ± 6,5; IMC (kg/m2) – 22,1 ± 3,1).

Seguindo a análise da amostra foi verificado com o auxílio de um pedômetro o número de passos percorridos por cada futebolista durante a partida de futebol. Em relação ao número de passos e a distância percorrida não foram encontradas diferenças estatisticas entre a equipe A e a equipe B (8296,0 ± 908,4 e 7947,5 ± 1184,2 passos, p = 0,46; 6,6 ± 0,7 e 6,3 ± 0,9 km, p = 0,53).

Em referência ao teste de precisão na finalização da marca penal os resultados pré- jogo e pós-jogo sofreram variações, sendo a média de acerto pós-jogo menor ao pré-jogo (tabela 1).

167

Tabela 1. Resultado do teste de precisão pré e pós-jogo nos locais pré-definidos no dispositivo de finalização.

Pré Pós

Média ± DP Média ± DP P

ID 1,67±0,594 1,44±0,511 0,237

IE 1,56±0,511* 0,89±0,676* 0,002

SE 0,94±0,725 0,56±0,725 0,092

SD 0,89±0,676 0,78±0,676 0,658

M 1,44±0,616 1,33±0,616 0,612

Legenda: ID: inferior direito, IE: inferior esquerdo, SE: superior esquerdo, SD: superior direito, M: meio. * p < 0,05

Assim sendo, no computo geral, a precisão inicial teve um percentual de acertos de 65% (117 acertos) e após desgaste físico houve uma redução para 50% (90 acertos). Corroborando com alguns estudos que demonstraram queda no rendimento motor após uma sessão de esforço físico (RIBEIRO, OLIVEIRA, 2008; GUERRA, SOARES, BURINI, 2001).

Contudo, no estudo em foco, como mostra a tabela 1, a parte IE (inferior esquerda) da baliza sofreu variação significativa na precisão sendo a média de acertos de 1,56 ± 0,511 antes do desgaste e 0,89 ± 0,676 após o incremento do esforço físico. Esta situação pode ser atribuída, pois a maioria dos atletas, por serem destros, teria uma maior dificuldade em manter a precisão no referido canto.

A prática esportiva de alto rendimento exige que o atleta apresente um perfil adequado, que possibilite a realização das atividades de uma determinada modalidade. No futebol, a composição corporal adequada às características da modalidade tende a propiciar um alto rendimento esportivo e eficiência, com menor dispêndio energético (SOUZA, 1999).

A intensidade do exercício durante jogos de futebol pode ser indicada pelo total e pela forma com que a distância é percorrida, pois esta representa o nível de dificuldade dos exercícios que estão sendo realizados (REILLY, 1997). Em geral, a distância percorrida pelos jogadores durante uma partida também dependerá da qualidade do oponente, do nível da competição, das considerações táticas, da importância do jogo, da motivação dos jogadores, do tipo de grama e das condições ambientais (BANGSBO, NORREGAARD, THORSOE, 1991). Na análise dos estudos realizados por diversos autores observou–se que a distância média percorrida por um jogador de futebol é de 10,8 km (SOUZA, 1999; MIYAGI, OHASHI, KITAGAWA, 1999). De acordo 168 com Reilly (1997) atletas profissionais percorrem entre 8 e 12 km durante uma partida. Já Castagna, Abt (2003) chegaram a valores entre 11 e 13 km ao estudar futebolistas italianos, e Castagna, D’Ottavio, Abt (2003) encontraram valor médio de 7 km para atletas jovens com média de idade de 17 anos. Os futebolistas participantes do estudo tiveram uma média que variou de 6 a 7 km, tendo em vista a influência do tempo de jogo. Alguns autores mostram que a distância média no primeiro tempo é 5% maior do que a do segundo tempo (MIYAGI, OHASHI, KITAGAWA, 1999; BANGSBO, NORREGAARD, THORSOE, 1991). Ananias et al. (1998) em um estudo realizado com 17 futebolistas brasileiros verificou uma diminuição da distância percorrida de 5446 m, no primeiro tempo, para 4945 m no segundo tempo.

Embora inúmeros sejam os aspectos abordados no esporte em questão a decisão da partida recai sobre a técnica desempenhada pelo futebolista em um momento oportuno e neste interim observou-se a precisão do chute de finalização antes e após a exigência física imposta por uma partida de futebol.

Sendo assim, um estudo com 20 futebolistas amadores, considerados novatos, (até 2 meses de treinamento), Falk e Pereira (2009), quantificaram a fadiga do atleta por via anaeróbica através do teste RAST e observou finalizações da marca penal em 04 áreas de 01 m² delimitadas na baliza constatando uma queda de rendimento na média da precisão pós-teste quando comparada ao pré-teste. O referido estudo obteve como resultados 22,92% de acertos antes e 15,63% depois do incremento da fadiga. A partir destes dados parece que o índice de desgaste físico pode influenciar diretamente na diminuição da coordenação dos movimentos técnicos.

Em estudo semelhante e com futebolistas mais experientes (no mínimo 06 meses de treinamento) Falk observou uma melhora nos índices de precisão após o esforço físico. O número de acertos no pré-teste foi de 27,29% e o de acertos no pós-teste de 29,17%. Sendo possível observar uma melhora na precisão, tendo em vista um melhor suporte na reação física ao desgaste quando incrementada em grupo de jogadores experientes e mais bem preparados. Isto leva a crer que jogadores mais experientes parecem estar mais adaptados ao desgaste e podem ter um aproveitamento melhor na precisão do chute de finalização.

Em face da variação dos resultados é notório verificar a redução na precisão dos grupos como um todo e nos futebolistas inexperientes, no entanto as diferenças não se tornam significativas para promover alterações bruscas na influência da precisão.

Apesar das limitações metodológicas, como a desconsideração de variáveis intervenientes importantes (alimentação, desgaste físico individual, posição dos atletas, velocidade da bola, motivação do atleta), os resultados em geral demonstram uma queda na performance motora do atleta no pós-jogo. Contudo torna-se interessante dar relevância às aplicações práticas dos resultados que podem interferir em uma melhor orientação na escolha do local de finalização do 169 jogador, seleção mais criteriosa dos batedores de bola parada e maior adaptação do treinamento para um melhor suporte do desgaste físico.

CONCLUSÃO

Os resultados da influência do esforço físico neste nível de prática desportiva sugerem que o índice de precisão do chute sofra uma pequena influência negativa após os 70 minutos de uma partida de futebol. No entanto essa diferença não é significativa para resultar em alterações diretas na precisão do chute.

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171

Lesões Acometidas no Judô (Masculino e Feminino) e no Handebol (Feminino) nos Jogos Escolares 12 a 14 anos 2011

Rossini Xavier de Oliveira Junior, Lucélia Alves, Ricardo Hugo, Wilson Costa, Giselly dos Santos Holanda, Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ, João Pessoa, Paraíba, Brasil. [email protected]

RESUMO

Introdução: O judô requer destreza de forca, velocidade, resistência, habilidade e agilidade, logo as lesões traumáticas físicas acabam sendo inevitáveis para os praticantes. O handebol é um esporte de alto risco para a ocorrência de lesões, sendo uma modalidade esportiva coletiva com possibilidades de contato entre os oponentes e companheiros de equipes. Objetivo: Identificar as lesões mais acometidas durante as competições nas Olimpíadas escolares de 12 a 14 anos na etapa 2011 nas modalidades de judô no gênero (masculino e feminino) e Handebol gênero feminino. Metodologia: É um estudo transversal com caráter descritivo observacional. A amostra foi composta por 16 atletas da modalidade handebol do gênero feminino, 23 atletas da modalidade Judô do gênero feminino e 14 atletas da modalidade Judô do gênero masculino com idades entre 12 e 14 anos dos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Espírito Santo, Paraíba, Alagoas, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Maranhão, Pará, Goiás, Sergipe, Amapá, Amazonas, Rio Grande do Sul e Ceará que participaram das Olimpíadas Escolares 2011 na cidade de João Pessoa que se lesionaram durante os jogos e foram atendidos pela equipe de primeiros socorros do evento. Para coleta de dados utilizou-se questionário estruturado contendo perguntas relacionadas ao local da lesão (área anatômica), lesão pré-existente, posição do atleta no momento da lesão, tratamento da lesão, mecanismo da lesão, materiais utilizados pela equipe de primeiros socorros, local acometido da lesão e tipo de lesão. Resultados e discussão: A articulação do ombro foi a mais acometida, no Judô foram 24% no feminino e 33% no masculino. No handebol feminino 27%. Conclusão: A articulação do ombro foi a mais lesionada, tanto Judô como no handebol, devido ao seu formato anatômico e outrosfatores estruturais.

Palavras-chave: Judô, Handebol, Lesão.

INTRODUÇÃO As Olimpíadas Escolares é um grande evento estudantil esportivo do Brasil e é considerado um dos maiores do mundo; esta competição reúne milhares de alunos-atletas de instituições de ensino públicas e privadas. O ciclo das Olimpíadas Escolares mantém os objetivos de promover a inclusão social a partir do esporte, descobrindo novos talentos e criando um novo ambiente favorável à continuidade da prática esportiva no país, o evento é sempre realizado em 172 duas etapas em cidades diferentes com faixas etárias distintas. A etapa de 12 a 14 anos conta com a disputa de 12 modalidades. E é nessa faixa etária, durante a infância e adolescência que ocorrem importantes mudanças fisiológicas, principalmente no sistema reprodutor, acontecem ainda mudanças psicológicas que traduzem a passagem progressiva da infância para a adolescência, e embora a puberdade forneça a base para a adolescência, não deve ser interpretada como seu sinônimo. Outra característica da puberdade é o acelerado aumento nas dimensões corporais. No entanto, a idade, a duração e a intensidade em que acontecerão são geneticamente predeterminadas, podendo apresentar considerável variação entre os indivíduos (BARBANTI; MACHADO, 2007). E esses sujeitos, a procura cada vez mais precoce de diferentes modalidades esportivas e o alto nível de competitividade dos esportes que antigamente eram considerados recreacionais, tem produzido um número cada vez maior de lesões do aparelho locomotor e dentre as mais frequentes estão as lesões musculares (COHEN; ABDALLA, 2003). O judô como vários outros esportes competitivos, requer força, velocidade, resistência, habilidade e agilidade, logo as lesões traumáticas físicas acabam sendo inevitáveis para todos que praticam esses esportes. O handebol é avaliado como um esporte de alto risco para a ocorrência de lesões, pois é uma modalidade esportiva coletiva com possibilidades de contato entre os oponentes e até mesmo com indivíduos da mesma equipe, além de ter o salto e a corrida com constantes mudanças de direção dentre os gestos básicos de sua prática. A pesquisa teve como objetivo identificar as lesões mais acometidas durante as competições nas Olimpíadas escolares de 12 a 14 anos na etapa 2011 nas modalidades de Judô no gênero (masculino e feminino) e Handebol gênero feminino.

METODOLOGIA

O presente estudo é de caráter transversal devido à necessidade de um único momento para a coleta dos dados, sem nenhum período de acompanhamento, sendo não probabilístico. A pesquisa é de caráter descritivo observacional.

A amostra foi composta por 16 atletas da modalidade handebol do gênero feminino, 23 atletas da modalidade Judô do gênero feminino e 14 atletas da modalidade Judô do gênero masculino com idades entre 12 e 14 anos dos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Espírito Santo, Paraíba, Alagoas, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Maranhão, Pará, Goiás, Sergipe, Amapá, Amazonas, Rio Grande do Sul e Ceará que participaram das Olimpíadas Escolares 2011 na cidade de João Pessoa que se lesionaram durante os jogos e foram atendidos pela equipe de primeiros socorros do evento. 173

Para coleta de dados utilizou-se questionário estruturado contendo perguntas relacionadas à local da lesão (área anatômica), lesão pré-existente, posição do atleta no momento da lesão, tratamento da lesão, mecanismo da lesão, materiais utilizados pela equipe de primeiros socorros, local acometido da lesão e tipo de lesão.

As informações coletadas através de questionário fechado foram aplicadas por educadores físicos do Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ. Os resultados representam a distribuição percentual das ocorrências, onde se utilizou o programa Microsoft Excel para tabulação dos dados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Na tabela 1, quanto à articulação mais acometida de lesão no Judô para o gênero feminino e masculino e no Handebol feminino observa-se que a articulação mais acometida foi a glenoumeral (ombro). No Judô foram 24% no feminino e 33% no masculino. No handebol feminino 27%.

Tabela 1 - Articulação mais acometida de lesão no Judô e no Handebol.

JUDÔ HANDEBOL

FEMININO MASCULINO FEMININO

Articulação Quantidade % Quantidade % Quantidade %

Ombro 6 24 6 40 4 26,67

Cotovelo 5 20 1 6,67

Joelho 2 8 1 6,67 3 20

Tornozelo 1 4 1 6,67 3 20

Punho 5 20 1 6,67 1 6,67

Outros 6 24 6 40 3 20

Total 25 100 15 100 15 100

Fonte: própria (2012).

174

Na tabela 2 relata o tipo de lesão no Judô e no Handebol, onde foi visto que a articular foi mais evidenciada. No Judô feminino com 62,5% e no masculino com 62%. No handebol feminino com 63%.

Tabela 2 – Tipo de lesão no Judô e no Handebol.

JUDÔ HANDEBOL

FEMININO MASCULINO FEMININO

Tipo de Lesão Quantidade % Quantidade % Quantidade %

Articular 15 62,5 8 62 10 63

Muscular 4 16,7 3 23 6 38

Óssea 5 20,8 2 15

Total 24 100 13 100 16 100

Fonte: própria (2012).

O Handebol é um esporte com muito contato físico tanto no ataque quanto na defesa. Na tabela 3 pode-se observar que a posição do atleta no momento da lesão tanto no ataque como na defesa foi de 50%.

Tabela 3 – Posição do atleta no momento da lesão no Handebol.

FEMININO

Quantidade %

Ataque 8 50

Defesa 8 50

Total 16 100

Fonte: própria (2012).

Na tabela 4 vai demonstrar que, na maioria dos casos, não havia pré-existência de lesões nos atletas de Judô e nas atletas de Handebol. 175

Tabela 4 – Pré existência de lesão nos atletas de Judô e nas atletas de Handebol.

JUDÔ HANDEBOL

FEMININO MASCULINO FEMININO

Pré Quantidade % Quantidade % Quantidade % existência

Sim 9 39,13 1 7,14

Não 14 60,87 13 92,86 16 100%

Total 23 100 14 100 16 100%

Fonte: própria (2012).

Na tabela 5, observa-se que quando existiu contato, na maioria dos casos houve lesões.

Tabela 5 – Mecanismo de como ocorreu a lesão em relação ao contato no judô e no handebol.

JUDÔ HANDEBOL

FEMININO MASCULINO FEMININO

Mecanismo Quantidade % Quantidade % Quantidade %

Com contato 23 100 14 100 13 81,25

Sem contato 3 18,75

Total 23 100 14 100 16 100

Fonte: própria (2012).

O tratamento mais utilizado pelos socorristas nos atletas de Judô e Handebol foi a crioterapia com 64,7% no Judô feminino, para o masculino 59,1% e no Handebol feminino 60%, tabela 6.

176

Tabela 6 – Tratamento da lesão utilizado pelos socorristas no Judô e no handebol.

JUDÔ HANDEBOL

FEMININO MASCULINO FEMININO

Tratamento da lesão Quantidade % Quantidade % Quantidade %

Crioterapia 22 64,7 13 59,1 12 60

Imobilização 12 35,3 8 36,4 7 35

Contenção 1 4,5 1 5

Total 34 100 22 100 20 100

Fonte: própria (2012).

Na tabela 7, quanto aos materiais utilizados pelos socorristas no atendimento nos atletas Judô e nas atletas de Handebol foi visto que atadura foi mais utilizada, sendo 85,7% no Judô feminino e 53,33 no masculino. No handebol a atadura foi utilizada em 77,78% dos casos.

Tabela 7 – Materiais utilizados pelos socorristas no atendimento nos atletas de Judô e nas atletas de Handebol.

JUDÔ HANDEBOL

FEMININO MASCULINO FEMININO

Materiais Quantidade % Quantidade % Quantidade % utilizados

Maca 1 6,67

Tipoia 1 7,15 2 13,33 1 11,11%

Tala 1 7,15

Gase 4 26,67

Atadura 12 85,7 8 53,33 7 77,78%

Soro Fisiológico 1 11,11%

Total 14 100 15 100 9 100%

Fonte: própria (2012). 177

Na pesquisa foi observado que a articulação do ombro foi a mais acometida, no Judô foram 24% no feminino e 33% no masculino. No handebol feminino 27%. No esporte são comuns lesões que afetam a articulação do ombro que é propensa a lesões por manter um arriscado equilíbrio entre movimento, estabilidade, sobrecarga e impacto, fatores estes que podem estar relacionados às causas de incapacidade em alguns atletas (SOARES, 2003).

De acordo com Miranda (2008), a articulação do ombro é lesionada em razão do seu formato anatômico e alguns fatores contribuem para seu alto índice de lesão, incluindo a falta de profundidade da cavidade glenoidal, a frouxidão das estruturas ligamentares necessárias para acomodar sua extensa amplitude de movimento e a falta de força e resistência dos músculos essenciais para oferecer estabilidade dinâmica à articulação. No esporte são comuns lesões que afetam a articulação do ombro que é propensa a lesões por manter um arriscado equilíbrio entre movimento, estabilidade, sobrecarga e impacto, os quais podem estar relacionados às causa de incapacidade em alguns atletas.

A tabela 2 relata quanto ao tipo de lesão no Judô e no Handebol, onde foi visto que a articular foi mais evidenciada. No Judô feminino com 62,5% e no masculino com 62%. No handebol feminino com 63%. Um dos mecanismos das lesões esportivas é o excesso de uso ou sobrecarga: resultado de um somatório de tensões ou pressões repetidas e não resolvidas em determinado tecido. Frequentemente esses mecanismos são observados no contexto da aplicação de cargas cíclicas ou do excesso de treinamento. Cerca de 30% a 50% de todas as lesões esportivas tem relação ao uso excessivo.

O Handebol é um esporte com muito contato físico tanto no ataque quanto na defesa. Na tabela 3 pode-se observar que a posição do atleta no momento da lesão foi de 50%. O potencial de lesão nesse esporte é devido ao seu caráter dinâmico e pelas regras serem muito menos restritivas do que no basquetebol (SEIL et al, 1998). Algumas novas regras que foram adicionadas (como a que penaliza a falta de efetividade no ataque e a proibição da manutenção da bola em poder dos jogadores por mais de três segundos sem quicar a bola) aumentaram a frequência de ataques e ações rápidas, o que eleva ainda mais o potencial de lesão (MACEDO, 2008). Além disso, no handebol o bloqueio do movimento que ocorre durante o braço de arremesso, expõe o atleta à sobrecarga nas articulações glenoumerais e dos cotovelos resultando em alta incidência de lesões nos membros superiores (HEGAZZO, 2007).

Nesse contexto, as modalidades esportivas que envolvem movimentos excessivos da articulação do ombro como o judô e o handebol devem receber atenção especial dos técnicos, com o intuito de diminuir a ocorrência de lesões nos atletas (FAGGIONI; LUCAS; AL GAZI, 2007).

178

CONCLUSÃO

Na pesquisa foi observado que a articulação do ombro foi a mais acometida, tanto Judô como no handebol, devido ao seu formato anatômico. Além disso, alguns fatores contribuem para seu alto índice de lesão, como a falta de profundidade da cavidade glenoidal, a frouxidão das estruturas ligamentares necessárias para acomodar sua extensa amplitude de movimento e a falta de forca e resistência dos músculos essenciais para oferecer estabilidade dinâmica à articulação. E, portanto, a maioria das lesões tem grande relação com o seu uso excessivo nos esportes.

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