Pontifícia Universidade Católica De São Paulo Puc-Sp
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Isabel Rebelo Roque Corpo e afeto em Alemanha ano zero, de Roberto Rossellini: rendilhando cartografias MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA SÃO PAULO 2020 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Isabel Rebelo Roque Corpo e afeto em Alemanha ano zero, de Roberto Rossellini: rendilhando cartografias Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRA em Comunicação e Semiótica, sob a orientação do Prof. Doutor José Amálio de Branco Pinheiro. MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA SÃO PAULO 2020 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP BANCA EXAMINADORA 2020 O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. AGRADECIMENTOS Não poderia deixar de iniciar agradecendo a Louis e Auguste Lumière, que trouxeram à luz e ao público em 1895 o cinema como técnica, e a Georges Méliès, que maravilhou o público ao levar-lhe em 1902 o cinema como magia. Sem eles, este trabalho nem sequer existiria. Devo agradecer também à linhagem de críticos de cinema que acompanhei ao longo dos anos, pela mídia, e que me ajudaram a dar corpo às percepções intelectuais, estéticas e afetivas que fui tecendo nas salas de cinema. Destes, destaco o mestre Inácio Araujo e seu curso Cinema – História e Linguagem, que me deu a conhecer a obra que viria a ser objeto desta dissertação. Inácio conhece o cinema não só como linguagem, mas como materialidade: foi montador, roteirista, assistente de direção e montagem e diretor. Agradeço a meus mestres na filosofia, Luiz Fuganti e Mara Lafourcade Rayel, o primeiro por me apresentar ao pensamento luminoso de Espinosa e Deleuze, a segunda por me levar pela mão no aprofundamento em Espinosa. À Mara sou grata também por me conduzir aos corredores da PUC-SP, onde pude respirar a atmosfera necessária do ambiente acadêmico, e por me ouvir e comigo debater os impasses e inquietações em que tantas vezes me vi no decorrer da pesquisa. Agradeço ainda aos meus colegas da Comunicação e Semiótica. As trocas em sala de aula e nos cafés foram inestimáveis para dar afeto, cor e calor a este trabalho. Estendo esse agradecimento aos professores do programa, pelos subsídios, impressões e olhar rigoroso e generoso sobre minha pesquisa. Por fim, meu agradecimento se dividirá entre estes dois nomes: o de Roberto Rossellini, pela visceralidade e potência que sempre imprimiu à sua obra e à sua vida, a ponto de mesclá-las dentro de si como um só corpo, e o de Amálio Pinheiro, professor e orientador, que me acolheu com seu conhecimento, generosidade, paciência e afeto, em mim confiou e a cujas ideias se deve em grande medida o que de amoroso e até alegre se puder flagrar neste trabalho. ROQUE, Isabel Rebelo. Corpo e afeto em Alemanha ano zero, de Roberto Rossellini: rendilhando cartografias, 2020. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Semiótica) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2020. RESUMO DE PESQUISA Este trabalho tem por objeto o filme Alemanha ano zero, coescrito, produzido e dirigido pelo cineasta italiano Roberto Rossellini em 1948 e considerado uma das obras representativas do neorrealismo italiano. A produção se insere na chamada “trilogia da guerra”, tendo sido antecedida por Roma, cidade aberta (1945) e Paisà (1946). Diferentemente das duas produções que a antecederam, a obra recebeu muito menos atenção tanto por parte do público como da crítica. Com apoio em bibliografia especializada e na análise da obra, são aqui empreendidas uma cartografia estética e uma cartografia ética da perambulação e dos encontros do protagonista, Edmund, um garoto de 12 anos de idade, em sua luta pela sobrevivência entre escombros em uma Berlim devastada pela guerra, até seu inesperado suicídio. A cartografia estética do filme se evidencia no percurso da horizontalidade dos planos-sequência (mas também em momentos de verticalidade), nos primeiros planos, no jogo de luz e sombra, na mise-en- scène, na perambulação constante do protagonista, na exploração das imagens ópticas e sonoras, que, segundo Deleuze se insere no legado neorrealista, e na direção de atores que investe em uma flagrante inexpressividade. A cartografia de afetos, ou ética, surge como rendilhado que se mescla aos aspectos estéticos, na medida em que vão sendo convocados conceitos espinosistas que subjazem à ideia de ética como “modo de ser”. O objetivo é, a partir da abordagem do corpo de Edmund como discurso e por meio do entrelaçamento entre as duas cartografias citadas, investigar o que esse corpo nos comunica. O trabalho busca delimitar e explorar aspectos ligados à relação corpo-tempo-espaço e evocar um sentido ético do ponto de vista espinosista. E o que nos comunica o corpo de Edmund? Nossa hipótese é de que o “discurso” desse corpo é tão mais eloquente quanto mais ele deixa de dizer: o corpo de Edmund não age; apenas reage. Daí em certos momentos termos a impressão de estar diante de um olhar inexpressivo, como o de um autômato. Estrangeiro em seu próprio país, Edmund está em um não-lugar, uma não-infância. Daí, também, sua vulnerabilidade a tudo o que vê e ouve. Um corpo que, saturado e à deriva, sem lugar entre os adultos, entre as crianças menores e entre as crianças maiores, entrega- se finalmente, pouco antes de se lançar para a morte, à brincadeira, ao jogo, à infância sem lugar. Como objetivo secundário, buscamos fazer emergir desse rendilhado, não obstante seu desfecho de aparente desesperança, o que Rossellini afirmou ter pretendido: legar ao cinema uma obra de profundo amor à vida como potência e invenção de outros mundos. PALAVRAS-CHAVE Cinema; corpo; infância; afeto; estética; ética; potência. ROQUE, Isabel Rebelo. Body and affect in Germany year zero, by Roberto Rossellini: interweaving cartographies, 2020. Master’s Thesis (Comunicação e Semiótica) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2020. ABSTRACT This study focuses on Germany, year zero, a 1948 film cowritten, produced, and directed by the Italian film-maker Roberto Rossellini and regarded as a representative artwork of the Italian neorealism. The piece integrates the so called “trilogy of war”, preceded by Rome, open city (1945) and Paisà (1946). In contrast to the previous productions, this film has received much less attention from the audience and the critics. Based on specialized literature and film analysis, we provide an aesthetic cartography and an ethical cartography to the wanders and meetings of the protagonist, Edmund, a twelve year-old boy who struggles to survive among the rubbles of a Berlin devastated by war, until his unexpected suicide. The film’s aesthetic cartography is revealed in the course of the horizontality of the sequence planes (but also in moments of verticality), in the first planes, in the use of lights and shadows, in the mise-en-scène, in the constant wander of the protagonist, in the use of optic and sound images, which, according to Deleuze, is placed among the neorealist legacy, and in the casting direction that highlights a notorious expressionlessness. The affect cartography, or ethical cartography, arises as an interweaving that merges the aesthetic aspects whilst evoking Spinozism concepts that underlies the idea of ethics as “mode of being”. Through the understanding of Edmund’s body as a speech and based on the assembly of the aforementioned cartographies, the goal is to investigate what that body communicates. Our study aims at defining and exploring aspects attached to the body-time-space relationship, as well as evoking an ethical sense from Spinoza’s point of view. What does Edmund’s body tell us? Our hypothesis is that the “speech” of his body is even more eloquent when it is not saying: Edmund’s body does not act; it reacts instead. Consequently, at certain moments, we have the impression of staring at an expressionless look, such as an automaton’s. As a foreign in his own country, Edmund is nowhere, in a non-childhood. Hence his vulnerability to everything he sees and listens. It’s a saturated, drifted body, which finds place neither among adults or younger and older children. Just before meeting death, this body finally gives itself to games, amusements, and a placeless childhood. As a secondary objective, we tried to make arise from this interweaving, even though its end of apparent hopelessness, what Rossellini claimed to be his intention: bequeath to the cinema an art workpiece of deep love to life as potency and invention of other worlds. KEYWORDS Cinema; body; childhood; affect; aesthetics; ethics; potency. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Fotograma do filme Alemanha ano zero (1948) ............................................... 33 Figura 2 – Fotograma do filme Alemanha ano zero (1948) ............................................... 36 Figura 3 – Fotograma do filme Alemanha ano zero (1948) ............................................... 40 Figura 4 – Fotograma do filme Alemanha ano zero (1948) ............................................... 40 Figura 5 – Fotograma do filme Alemanha ano zero (1948) ............................................... 40 Figura 6 – Fotograma do filme Alemanha ano zero (1948) ............................................... 40 Figura 7 – Fotograma do filme Alemanha ano zero (1948) ............................................... 40 Figura 8 – Fotograma do filme Alemanha ano zero (1948) ..............................................