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Exilium Revista de Estudos da Contemporaneidade Créditos institucionais Profa. Dra. Soraya Soubhi Smaili Reitora Prof. Dr. Nelson Sass Vice-Reitor Profa. Dra. Lia Rita Azeredo Bittencourt Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Karen Spadari Ferreira Pró-Reitora Adjunta de Pós-Graduação e Pesquisa Cátedra Edward Saïd de Estudos Contemporâneos Coordenadora: Olgária Chain Féres Matos Vice-Coordenadora: Cynthia Andersen Sarti Inserção Institucional e composição A Cátedra Edward Saïd está vinculada à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da Unifesp Exilium: Revista de Estudos da Contemporaneidade – Periodicidade semestral Editora chefe: Olgária Chain Féres Matos Editora executiva: Maria das Graças de Souza Editores associados: Christiane Damien, Cynthia Andersen Sarti, Javier Amadeo, Jens Baungarten, Leandra Yunis, Thomaz Kawauche Conselho científico: Anselm Jappe (Accademia di Belle Arti di Sassari/Itália), Claudine Haroche (CNRS/França), Edgardo Bechara (Cátedra Edward W. Saïd/Argentina), Edward Alam (Universidade de Notre Dame/Líbano), Francisco Miraglia (USP), Giacomo Marramao (Universidade de Roma III/Itália), Gustavo Lins Ribeiro (UAM-Iztapalapa/México e UnB), Heloisa M. Starling (UFMG), Horacio González (Universidade de Buenos Aires/Argentina), Mamede Mustafa Jarouche (USP), Massimo Canevacci (Universidade de Roma/Itália), Miguel Chaia (PUC-SP), Patrícia Birman (UFRJ), Regina Novaes (UFRJ), Soledad Bianchi (Universidade do Chile/Chile), Maria Teresa Ricci (Université de Tours/França), Youssef Rahme (Universidade de Notre Dame/Líbano) Ilustração da capa: Félix Beaujour Projeto gráfico, diagramação e capa: Selma Consoli MTb 28.839 Revisão: Helô Beraldo e Thomaz Kawauche Endereço para correspondência: Cátedra Edward Saïd de Estudos Contemporâneos Universidade Federal de São Paulo – Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Rua Sena Madureira, 1500 São Paulo – SP CEP: 04021-001 E-mail: [email protected] Exilium Revista de Estudos da Contemporaneidade Exilium 1 (2020) Apresentação Exilium: Revista de Estudos da Contemporaneidade é vinculada à Cátedra Edward Saïd, da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da Unifesp. Ela se dedica a reflexões sobre a contemporaneidade em sua constituição histórica, geopolítica e cultural, em tudo o que ela comporta tanto de thauma e admiração como de traumas e sofrimentos. Tendo por eixo a questão do exílio, do êxodo, das partidas voluntárias ou forçadas por guerras; do racismo, das perseguições ou das perdas de pertencimentos simbólicos e afetivos, o exilium latino tem o sentido de desestabilizar a crença segundo a qual a língua materna ou um lugar de morada nos são próprios por natureza, revelando o exilium como abertura ao Outro, como um primeiro pharmakon ofertado pelo estrangeiro, simultaneamente remédio a uma outra vida e dificuldade em um país estranho e estrangeiro. Como anotou Edward Saïd, em suas Reflexões sobre o exílio, a respeito do êxodo palestino de suas terras com a fundação do Estado de Israel, um povo foi expatriado e sua condição, desde então, em campos de refugiados, em errância permanente, é a condição que se estende hoje a populações inteiras: [...] é o que temos mais próximo da tragédia na era moderna. Há o simples fato do isolamento e do deslocamento, que produz o tipo de masoquismo narcisista que resiste a todos os esforços de melhoramento, aculturação e comunidade. Nesse ponto extremo, o exilado pode fazer do exílio um fetiche, uma prática que o distancie de quaisquer conexões e compromissos. Viver como se tudo a sua volta fosse temporário e talvez trivial, [...] [exerce] pressão sobre o exilado para entrar em partidos, movimentos nacionais ou no Estado. O exilado recebe a oferta de um novo conjunto de afiliações e estabelece novas lealdades. Mas há também uma perda de perspectiva crítica, de reserva intelectual, de coragem mortal1. 1 SAÏD, Edward W. Reflexões sobre o exílio. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. pp. 55-56 exilium 1 (2020) Evidencia-se agora que a guerra é a condição de uma globalização que impede a formação de um mundo comum, pois não mais existem fronteiras que o determinem. Guerra total, na medida em que um ponto de conflito repercute de imediato no “Todo”, sendo um “combate sem fronteiras”. Não se sentir em sua própria casa é agora um “fenômeno originário”. Por vezes rejeitado, outras vezes à margem, nem recusado nem aceito com sua história, suas tradições, seus valores e modos de vida, trata-se de compreender esse novo Sujeito do desenraizamento em sentido amplo, uma vez que os reordenamentos do capitalismo moderno e a nova ordem do mundo – desinstitucionalização das instituições estruturantes – como o Estado-Nação, a família, a religião, a Escola, o trabalho se transformam aceleradamente, produzindo disfunções sociais necessárias ao mantenimento das contínuas inovações tecnológicas e de seu prestígio, bem como ao do mercado e de seu funcionamento. Razão pela qual a Exilium: Revista de Estudos da Contemporaneidade procura ampliar o âmbito de análise dessas questões do presente, uma vez que o exilado, que se encontra em estado de total abandono dos laços de origem, valores, memórias comuns, paisagens –, faz, assim, um apelo a nossa solicitude e a designa antes de nossa própria decisão: é um pedido de não abandono. Uma política da experiência estrangeira amplia nosso próprio mundo, contribuindo com o cosmopolitismo do espírito e da hospitalidade. Olgária Matos Editora chefe 6 Sumário Oriente e Ocidente Sobre a universidade ..................................................................... 11 Edward W. Saïd On the university ............................................................................ 23 Edward W. Saïd Xangô vai à Meca: Islã, comércio e as religiões tradicionais iorubás ...................................................................................... 35 Murilo Sebe Bon Meihy Mahamoud Darwich, Palestino e Pele-Vermelha ......................... 57 Laymert Garcia dos Santos Crítica da contemporaneidade Guerra, religião, secularismo e alguns sujeitos sensíveis: reflexões preliminares a partir de Talal Asad .......................... 73 Patrícia Birman A desigualdade econômica, social e psíquica das mulheres: uma questão democrática ...................................................... 101 Claudine Haroche L’inégalité économique, sociale et psychique des femmes: une question démocratique .................................................... 119 Claudine Haroche Fetichismo e narcisismo: a base do capitalismo? ..................... 137 Anselm Jappe Feticismo e narcisismo – la base del capitalismo? .................. 145 Anselm Jappe História, memória e ficção em textos e contextos africanos: notas sobre Moçambique ...................................................... 151 Rita Chaves Vária Por um Novo Renascimento: Leonardo da Vinci como símbolo da cultura humanista e técnico-científica .............. 181 Giacomo Marramao Per un Nuovo Rinascimento: Leonardo da Vinci come sintesi di cultura umanistica e tecnico-scientifica ............... 189 Giacomo Marramao La apuesta literaria del joven Bolaño: riesgo, desafío, vértigo, sin miopía ................................................................... 197 Soledad Bianchi OrienteOriente ee OcidenteOcidente Sobre a universidade1 Edward W. Saïd Magnífico Reitor, Senador Hatfield, membros do Conselho de Curadores da AUC2, membros da faculdade AUC e pessoal administrativo, membros da classe dos formandos, ilustres convidados, pais, parentes e amigos, senhoras e senhores: Não me importo em lhes confessar, como um sinal de minha idade quase bíblica, que há cinquenta anos, durante os anos 1940, cresci no Cairo e que a Universidade Americana do Cairo foi a primeira universidade com a qual tive algum contato. Dois de meus primos de Jerusalém estudaram aqui, meu pai era amigo próximo de John Badeau, então reitor desta universidade, e, posteriormente, embaixador de John Kennedy no Egito; por fim, a Sala Ewart era a principal sala de concertos do Cairo, e foi lá que adquiri os rudimentos da minha formação musical. Aos poucos tomei consciência de suas equivalentes locais, a Universidade do Cairo e a Universidade de al-Azhar, cada qual, como a AUC, prestando um valioso serviço a gerações de estudantes egípcios, árabes e muçulmanos. Eu também tenho orgulho em dizer que, em 1994, meu filho Wadie aperfeiçoou seu extraordinário domínio da língua árabe aqui mesmo, no Centro de Estudos Árabes no Exterior (CASA), um grande feito para um garoto de Nova Iorque que, por uma questão de solidariedade com sua origem árabe, se tornou fluente na língua e na cultura de seus antepassados em uma época em que tanto uma quanto outra eram vistas com hostilidade nos 1 Este artigo foi primeiramente publicado como: SAÏD, Edward W. On the University. Alif: Journal of Comparative Poetics, n. 25, p. 26-36, 2005. Tradução para o português de Everson Machado. Publicação autorizada. Agradecemos ao Professor Walid El Hamamsy, editor Chefe da revista Alif, a autorização para a publicação em português. 2 Universidade Americana do Cairo. exilium 1 (2020) Estados Unidos, terra em que nasceu e foi criado. Estou honrado e feliz por estar aqui hoje, em primeiro lugar, enquanto árabe palestino e filho da imensa e inigualável história cultural do Egito e, em segundo lugar, enquanto americano. A combinação dessas duas diferentes correntes na AUC – e, claro, em vocês mesmos, turma de 1999, a última do século – é extremamente desafiadora e enriquecedora, mas, ao mesmo tempo, muito problemática. Qualquer um que conheça