Simona Vermeire
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Universidade do Minho Instituto de Letras e Ciências Humanas Simona Vermeire A viralidade em Saramago e Ionesco A viralidade em Saramago e Ionesco Simona Vermeire Com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia com a Referência SFRH/BD/72350/2010 UMinho|2014 agosto de 2014 Universidade do Minho Instituto de Letras e Ciências Humanas Simona Vermeire A viralidade em Saramago e Ionesco Tese de Doutoramento em Ciências da Literatura Especialidade em Literatura Comparada Trabalho efetuado sob a orientação da Professora Doutora Maria do Rosário Girão Ribeiro dos Santos agosto de 2014 DECLARAÇÃO Nome: Simona Vermeire Endereço electrónico: [email protected] Título da tese: A viralidade em Saramago e Ionesco Orientadora: Professora Doutora Maria do Rosário Girão Ribeiro dos Santos Ano de conclusão: 2014 Designação do Doutoramento: Doutoramento em Ciências da Literatura Especialidade em Literatura Comparada É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA TESE APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE; Universidade do Minho, ___/___/______ Assinatura: ________________________________________________ AGRADECIMENTOS À Sr.a Professora Doutora Maria do Rosário Girão Ribeiro dos Santos, pela dedicação incansável na orientação deste trabalho, pela excelência intelectual, pela determinação e paciência indomável e, finalmente, pela atitude nobre que me ensinou que “o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário”. (Albert Einstein). Doamnei Profesoare Maria do Rosário Girão Ribeiro dos Santos, pentru grația și noblețea intelectuală, pentru determinarea și atitudinea cu mi-a demonstrat că “unicul loc unde succesul vine înaintea muncii se află în dicționar” (Albert Einstein). Ao dr. José da Fonseca e Silva pela amizade que tornou o “sonho de Saramago” numa realidade feliz. A presente tese de doutoramento não teria sido possível sem o seu incentivo, e sobretudo, sem o seu apoio emocional, carinho paternal, sabedoria infinita e a leitura atenta da última versão da tese. Ao Sr. Professor Doutor Manuel José Silva pela atenção dedicada à leitura das diversas versões da dissertação e pela disponibilidade de partilhar a sua magnífica cultura sobre a história e a civilização portuguesa. Para Sr.a Dr.a Prof. Maria Clara Pedro de Jesus Oliveira, pela amizade e pela ajuda na tradução do resumo para inglês. À Sr.a Dr.a Adelina Gomes, funcionária do CEHUM, pela amizade e pelo apoio emocional. E, lembrando que a “gratidão é a memória do coração” (Lao-Tsé), dedico um amor eterno aos meus filhos, Amélie e Raffaello, que me acompanharam com o mais adorável candor e uma infinita paciência ao longo dos seus preciosos anos de infância. Ao meu melhor amigo, Geert Vermeire, pelo amor e a dedicação que inspiraram este projeto de investigação. À minha mãe, com muita gratidão pela vida que se transformou numa árvore cheia de sonhos felizes. E, não no último lugar, a José Saramago que reinventou a minha vida, ao ensinar-me que “dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.” Gratidão infinita à sua esposa, Pilar del Río e à sua maravilhosa amiga Soro de Lanzarote, que me abriram as portas da Casa e da alma do Mestre Saramago. III IV RESUMO A viralidade, conceito hodierno e proteiforme comum a várias áreas do conhecimento, constitui um bom pretexto, sob o nosso ponto de vista, para a leitura transdisciplinar e para a análise comparatista da obra de José Saramago e de Eugène Ionesco. Esta nova ‘ecologia’ viral ou ‘viral turn’ – que amplifica o mecanismo de autorreplicação, para além do plano biológico, ao envolver a noosfera, a economia, a psicologia e a comunicação – configura um horizonte de sedução ficcional patente em várias obras de José Saramago e de Eugène Ionesco. Assim sendo, a viroecologia (passe o neologismo) torna manifesto um complexo temático obsessor na obra dos Autores supracitados, incidindo sobre a replicação parasitária a nível somático (alterações dramáticas do corpo), a nível memético (a replicação noosférica), a nível metafísico (a morte como fenómeno contagioso pela ausência) e a nível digital (a replicação de imagens que aniquilam a corpórea consistência fenomenológica). Ao realçarmos o potencial tecnológico responsável pela germinação de um novo tipo de replicadores, os memes e os temes, salientámos a artificialização biológica (através da clonagem, da reprodução artificial e da criação de cyborgs), a artificialização psicológica (através da propaganda e da imersão no mundo da imagética digital) e a artificialização transcendental (através da ‘manipulação’ tecnológica da morte). Tendo em vista a ‘corrupção’ universal de qualquer tipo de informação, bem como da fonte energética que a viralidade pressupõe, ao complexificar o perfil epistemológico e ao fragilizar o sistema axiológico vigente na civilização humana, optámos por uma orientação teórica alicerçada no princípio de consiliência, proposto por E. O.Wilson e pelas novas tendências da crítica evolucionista (“Darwinian literary studies”). No âmbito deste quadro teorético, construímos uma plataforma interdisciplinar, recorrendo à Literatura Comparada, e nomeadamente, aos Estudos Culturais, suscetível de congraçar perspetivas recentes sobre a evolução universal: a memética e a(s) teoria(s) da singularidade tecnológica. Neste sentido, destacámos o caráter ‘visionário’ das obras em exegese, porquanto os seus Autores desenvolveram pistas ficcionais tendendo para uma compreensão aprofundada do modo de vida contemporâneo. Assim sendo, enfatizámos as mundividências e as mundivivências inéditas, patentes em representações literárias que funcionam como um dispositivo ficcional visando a adaptação da mente aos novos desafios evolutivos. Ao contrapor estes tópicos a uma breve perspetiva diacrónica da peste, que é, talvez, a praga mais explorada pelo imaginário literário, tentámos demonstrar o contributo inovador dos dois Homens de Letras no tocante ao paradigma das representações ficcionais, ‘alinhadas’ pelas tendências atuais de replicação parasitária em todas as vertentes/dimensões da realidade. Quedando-nos nestes aspetos de alteração viral, que repassam a obra de José Saramago e de Eugène Ionesco, e dilucidando-os pela via de vários contributos conceptuais, nomeadamente os de Deleuze e de Guattari, de Sloterdijk e de Michel Serres, enfatizámos novos horizontes ficcionais no que respeita à sintomatologia avassaladora dos ‘germes’, propagadores não apenas de doenças biológicas, mas, sobretudo, da ubiquidade de patterns autorreplicativos. Neste lógica fractal, que substitui as relações de contiguidade das pragas ‘clássicas’ pelas leis da autossimilaridade, a viralidade, na retentiva dos Autores escolhidos, configura a ‘patografia’ de uma época, cujo perfil imunológico já não se relaciona com questões mitológicas, nem com soluções médicas e/ou justificações fisiológicas. V Afinal, o polissemantismo virótico abarca um potencial tóxico universal ou, então, uma germinação infinita de várias categorias de replicadores, que vão constantemente redefinindo o horizonte de adaptação humana. Palavras-chave: viralidade, contágio, epidemia, replicação, teoria da singularidade, consiliência, memética, soma, resistência. VI ABSTRACT Virality, a modern and proteiform concept, common to various areas of knowledge constitutes a good pretext, in our point of view, towards a transdisciplinary reading and towards a comparative analysis of José Saramago’s and Eugène Ionesco’s works. This new viral ecology or viral turn, which amplifies the mechanism of autoreplication, beyond the biological level, involving -- the noosphere, economy, psychology and communication – establishes a horizon of fictional seduction present in several works by José Saramago and Eugène Ionesco. Thus, a viroecology (notwithstanding the neologism) highlights an obsessive thematic complex in the works of the above mentioned authors focusing on the parasitic replication at a somatic level (dramatic alterations of the body), at a memetic level (the noosphere replication), at a metaphysical level (death as a contagious phenomenon of absence) and at a digital level (the replication of images that annihilate the phenomenological consistence of the body). When emphasizing the technological potential responsible for the germination of a new type of replicators, the memes and the temes, we highlighted the biological artificialization (through cloning, artificial reproduction and creation of cyborgs) the psychological artificialization (through propaganda and the immersion in a world of digital imagetic) and the transcendental artificialization (through the technological manipulation of death). Considering the universal “corruption” of any kind of information as well as the energetic source that virality presupposes, making the epistemological profile more difficult, weakening the current axiological system in the human civilization, we opted for a theoretical orientation based on the consilience principle, proposed by E.O. Wilson and the new tendencies of the evolutionist critic. In the scope of this theoretical framework, we built an interdisciplinary platform, taking recourse to the comparative literature, and particularly, to the cultural studies, susceptible to encompass the recent perspective about the universal evolution: memetic and the theory or theories of technological singularity. In this way, we pointed out the ‘visionary’ character of the works in exegesis, because their authors developed fictional clues conducive to a deep understanding of