Francisco Lucas Pires – António Gomes De Pinho
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CDS 40 anos ao serviço de Portugal Título CDS – 40 anos ao serviço de Portugal Autores XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX Design e Paginação Vitor Duarte Impressão Cafilesa 1ª Edição Julho de 2015 ISBN XXXXXXXXXXXX Depósito Legal XXXXXXXXXXXX Todos os direitos reservados © 2015 XXXXXXXXXXXX e Prime Books [email protected] www.primebooks.pt económico | rápido | seguro ÍNDICE 12 anos na presidência do cds (1974- 82 e1988- 91) – Diogo Freitas do Amaral .................... 7 Francisco Lucas pires – António Gomes de Pinho .......... 35 sobre o trajeto da democracia cristã – Adriano Moreira ................................................................ 63 o partido popuLar – Manuel Monteiro ............................. 85 reaLismo e crescimento – Paulo Portas ....................... 149 para que serve o cds – José Ribeiro e Castro .................. 159 12 ANOS NA PRESIDÊNCIA DO CDS (1974- 82 e 1988- 91) diogo Freitas do amaral* i 1.ª fase (1974- 76): Criação e luta pela sobrevivência Nunca sonhei, antes do 25 de Abril de 1974, vir a ser fundador e líder de um partido político, Vice- Primeiro- Ministro de dois Governos de coligação, candidato à Presidência da República, presidente de uma Internacional partidária ou presidente da Assembleia Geral da ONU. O mais que admitia era vir um dia a ser Ministro. Tudo o resto fui, em Por- tugal e no estrangeiro, graças ao CDS. * Doutor em Direito Público pela Universidade de Lisboa; professor catedrático aposentado da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa; ex- professor convidado, em mo- mentos diferentes, da Universidade Católica Portuguesa, da Universidade Lusíada, do Ins- tituto Superior Técnico e da Universidade Lusófona de Lisboa; membro da Comissão Instaladora da Universidade do Minho e, posteriormente, vogal do seu Senado e do Con- selho Científico da respectiva Escola de Direito. 7 CDS – 40 ANOS AO SERVIçO DE PORTUGAL São conhecidas as circunstâncias em que, a 19 de Julho de 1974, criei, juntamente com outros fundadores, o Partido do Centro Democrático Social, com a sigla CDS. E logo no dia seguinte, ainda com 32 anos de idade, fui eleito presidente da respectiva Comissão Directiva provisória. Em Fevereiro de 1975 tornei- me presidente efectivo do CDS (I Congresso), tendo sido reeleito nos II, III, IV, VIII e IX Congressos (1976, 1978, 1981, 1988 e 1991). Totalizei no cargo onze anos, 8 meses e 15 dias, ou seja, em números redondos, 12 anos. Durante esse longo período, o partido foi governado, primeiro, pela «tróika» que formei com Adelino Amaro da Costa e Basílio Horta, entre 1974 e 1980, e depois, após a tragédia de Camarate, com Basílio Horta e Luís Beiroco (1980- 82 e 1988- 91). A principal razão por que fui o primeiro presidente do CDS, por designação unânime dos seus fundadores, foi o facto de ser, desde Maio de 1974, membro do Conselho de Estado – órgão máximo do novo re- gime, com poderes constituintes, legislativos e de veto sobre os decre- tos- leis do Governo. Quais os nossos principais objectivos, no momento da fundação? Eles ficaram escritos num texto pouco conhecido, de Adelino Amaro da Costa (que, a seu pedido, me deu para ler e que aprovei): O 25 de Abril, feito pelos militares, resultou do fracasso da acção da direita no poder e da acção da esquerda na oposição de- mocrática. Entre aquela e esta, o centro é indispensável a Portugal, porque é a filosofia política de síntese que aceita os desafios da es- querda e da direita, sendo a única orientação que leva às suas últi- mas consequências os equilíbrios requeridos pela busca da justiça, da liberdade, da igualdade e do progresso. O centrismo não é uma ideologia, mas uma plataforma aberta às ideologias que rejeitem qualquer forma de ditadura1. 1 Trechos citados no vol. I das minhas Memórias Políticas, 1995, pp. 187- 188. 8 CDS – 40 ANOS AO SERVIçO DE PORTUGAL No plano prático, nós queríamos reeditar a proeza do «Zentrums- partei» alemão – nome da Democracia Cristã entre 1870 e 1945 –, que, tendo dois partidos à sua direita (os conservadores e os nacionalistas) e dois à sua esquerda (os socialistas, ou sociais- democratas, e os comunis- tas), conseguiu ser de longe o partido mais votado e chegou a governar sozinho com maioria absoluta. Por várias razões, que têm a ver com a Revolução Social de 1974- 75 e com algum atraso na fundação do CDS, esse sonho nunca se concreti- zou. E, para nosso azar, todos os partidos à nossa direita (v. g., o Partido Nacionalista Português, o Partido Liberal e o Partido do Progresso) foram extintos pelos militares no Poder, ficando o CDS – quer na Assembleia Constituinte, quer depois na Assembleia da República – como o partido mais à direita com expressão parlamentar no novo regime. Não era isso que tínhamos sonhado: mas a Revolução, que não prevíramos, assim nos colocou. Partidário da direcção colegial, coloquei ao Conselho Nacional, na Primavera de 1975, a questão da utilidade da nossa existência num contexto tão diferente do que antecipáramos e na posição de «refúgio da direita conservadora e nacionalista». Por larga maioria, o nosso órgão máximo entre congressos deliberou que devíamos continuar, lutando contra a tentativa de Revolução comunista já em curso, mas mantendo sempre a nossa linha de actuação «centrista», «democrática» e «social» (C. D. S. = Centro Democrático Social), por muito que amigos e adversários nos quisessem empurrar para desempenhar o papel de «extrema- direita legal», como o PCP então nos chamava. Assim se fez. E não faltaram ocasiões para demonstrarmos a todos – quer à direita, que nos queria controlar ou incorporar no PSD, quer à esquerda, que nos queria diminuir ou eliminar – que o nosso pensamento e a nossa actuação eram cem por cento democráticos. Nunca nos declarámos «antifascistas», como alguns dizem hoje contra nós, mas é verdade que nos afirmámos sempre democratas, contrários a qualquer ditadura, e opostos ao «regresso ao passado». Provámo- lo na chamada «crise Palma Carlos» (Julho de 1974), no 28 de Setembro (de 1974), no 11 de Março (de 1975) e no «Verão 9 CDS – 40 ANOS AO SERVIçO DE PORTUGAL quente» de 1975, até ao 25 de Novembro: não alinhámos com as tenta- tivas golpistas de 1974, não nos envolvemos na infeliz iniciativa spino- lista de Março de 1975, e não aceitámos as armas que nos quiseram distribuir, para combater o PREC, durante o «Verão quente» desse ano. Foi este comportamento exemplar, bem como o facto de a Junta de Salvação Nacional e a Comissão Coordenadora do MFA me terem ficado a conhecer de perto no Conselho de Estado, que permitiu a so- brevivência do CDS à Revolução de 1975. Alguns, no PCP e na ex- trema- esquerda civil, nunca perceberam como é que o CDS conseguiu resistir a tudo o que foi feito para o destruir. Mas a explicação é simples: o MFA, que me tinha convidado para Ministro do 1.º Governo Provi- sório (o que recusei), conheceu- me bem, durante 10 meses, no Conselho de Estado; e eu levei- os a contactar também com o Adelino Amaro da Costa, o Basílio Horta, o Emídio Pinheiro e o Victor de Sá Machado. Por isso eles sabiam que, tanto no plano das ideias como no plano dos factos e comportamentos, não tinham nada por onde nos pudessem acusar, fosse do que fosse, nem tinham razões para suspeitar de nós. Também muito nos ajudou – é claro – a solidariedade efectiva, pronta, total, da União Europeia das Democracias Cristãs (antecessora do actual PPE). E ainda o líder do Partido Socialista português, Mário Soares, que sempre acreditou em nós desde 1974, como partido moderado e democrático – embora, para ele, de direita. Aliás, é curioso sublinhar aqui que, em Janeiro de 1975, quem nos livrou do terrível cerco ao Palácio de Cristal, no Porto (ao fim de horas de resistência e de alguma luta corpo a corpo), foi a pressão fortíssima então exercida sobre o Presidente Costa Gomes pelo dr. Mário Soares e pelo Presidente francês Giscard d’Estaing, que lhe telefonaram a meio da noite, a meu pedido, e o convenceram a ordenar o envio de uma força de pára- quedistas de Cortegaça (Aveiro), para nos livrarem daquele inferno (que durou das 17 h de um Sábado às 06 h da madrugada de Domingo). O CDS, de partido marginal, mal- amado e condenado a desapa- recer, transformou- se assim, na longa noite do Palácio de Cristal (25 de Janeiro de 1975), no instrumento efectivo do primeiro teste à jovem De- mocracia portuguesa: se um partido como aquele, de ideologia demo- 10 CDS – 40 ANOS AO SERVIçO DE PORTUGAL crata- cristã e de comportamento irrepreensivelmente legalista, não pu- desse existir ou subsistir no novo regime político português, este não seria um regime democrático, mas sim uma ditadura comunista ou ter- ceiro- mundista. Ao mesmo tempo, o episódio do Palácio de Cristal não só reforçou o ânimo dos que lá estiveram, como se tornou no grande chamariz para novas adesões: ao longo da história do CDS, a julgar pelo número de militantes que diziam «eu estive no Palácio de Cristal», aquele Congresso não teve seiscentos ou setecentos participantes, mas várias de- zenas de milhares! Houve, assim, em virtude das circunstâncias, mas também pela vontade e determinação de dirigentes e militantes, uma radical mudança de objectivos: em vez de procurarmos ser o maior partido português, de- cidimos ser – como único partido não- socialista que escapou a uma ten- tativa de Revolução comunista (haverá algum outro exemplo na História europeia?) – um partido de ideologia democrata- cristã, a quem caberia a difícil tarefa de enquadrar na democracia e na moderação centrista uma boa parte da direita que fora salazarista ou marcellista, e ansiava por um chefe (talvez um general) que pusesse o país na ordem. Ao não acompanharmos os generais António de Spínola, Kaúlza de Arriaga e Galvão de Melo nas suas tentativas ou ideias mais ou menos autoritárias, creio poder dizer, sem exagero, que ganhámos, no meio de um grande vendaval, as «esporas de ouro» da Democracia.