Em Torno De Duas Repúblicas: 15 De Novembro De 1889
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i i i i Em torno de duas Repúblicas Luís da Cunha Pinheiro Maria Manuel Marques Rodrigues (Organização) i i i i i i i i i i i i i i i i Em torno de duas Repúblicas 15 de novembro de 1889 – 5 de outubro de 1910 i i i i i i i i Lisboa, 2012 FICHA TÉCNICA Título: Em torno de duas Repúblicas: 15 de novembro de 1889 – 5 de outubro de 1910 Organização: Luís da Cunha Pinheiro e Maria Manuel Marques Rodrigues Coleção: Ensaios LUSOFONIAS Composição & Paginação: Luís da Cunha Pinheiro Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Lisboa, dezembro de 2012 ISBN – 978-989-8577-05-4 i i i i i i i i Luís da Cunha Pinheiro Maria Manuel Marques Rodrigues (Organização) Em torno de duas Repúblicas 15 de novembro de 1889 – 5 de outubro de 1910 CLEPUL Lisboa 2012 i i i i i i i i i i i i i i i i Índice Luís da Cunha Pinheiro e Maria Manuel Marques Rodrigues Introdução............................5 Isabel Lustosa Nasce a República: entre a nostalgia monarquista e o progresso positivista............................. 11 I Escritores na Revolução 25 Eugénio Lisboa Manuel Teixeira-Gomes: dias de Londres........... 27 Júlio Machado Vaz Bernardino Machado: culto privado............... 39 II Retratos dos primórdios da República em Por- tugal e no Brasil 51 Giovanni Ricciardi Lima Barreto e a República.................... 53 Margarida Gouveia Raul Brandão: memórias e dramatismo. A revolução republicana 71 Maria Eunice Moreira Republicanos Gaúchos: um “causo” muito curioso....... 85 Teresa Martins Marques O Imaginário Republicano em José Rodrigues Miguéis..... 101 3 i i i i i i i i III A República e o Republicanismo nos Países Afri- canos de Língua Portuguesa 113 Augusto Nascimento A República em São Tomé e Príncipe: os escolhos à afirmação da elite são-tomense........................ 115 Fátima Mendonça Imprensa e circulação de ideias em Moçambique........ 151 Luís Dias Martins A recepção da República na imprensa de Cabo Verde...... 173 IV Relações luso-brasileiras no início do período republicano 185 Beatriz Weigert João do Rio e a República Portuguesa.............. 187 João Marques Lopes Romances e romancistas brasileiros em Portugal: o caso da re- vista Atlântida (1915-1920).................... 197 José Viegas e Maria Manuel Marques Rodrigues Ecos de duas Repúblicas: o 5 de Outubro na imprensa brasileira 209 Vania Chaves e Maria da Conceição Silva O Presidente brasileiro Hermes da Fonseca e a Revolução Republicana em Portugal.................... 227 i i i i i i i i Introdução Luís da Cunha Pinheiro Maria Manuel Marques Rodrigues Na década de 80 do século XIX o regime monárquico brasileiro vivia uma profunda crise. A falta de apoio popular devia-se a, entre outros fatores, à interferência de D. Pedro II em assuntos religiosos, às constantes críticas efetuadas por membros do Exército face à corrup- ção crescente, ao desejo sentido por grande parte da população de uma maior liberdade e de uma maior participação nos assuntos políticos. A 15 de novembro de 1889 o Marechal Deodoro da Fonseca, com o apoio dos republicanos, demitiu o Conselho de Ministros e o seu presi- dente e nessa mesma noite proclamou a República no Brasil. Três dias depois D. Pedro II e a família real embarcaram de regresso à Europa. A novel constituição da República garantia alguns avanços políticos, embora representasse os interesses das elites agrárias, implantando o voto universal com exceção das mulheres, dos analfabetos e dos mili- tares de baixa patente. A bandeira nacional adotada pelo decreto n.o 4 de 19 de novembro de 1889, é constituída por um retângulo verde, no qual está inserido um losangolo amarelo e no centro um círculo azul i i i i i i i i 6 Luís da Cunha Pinheiro, Maria Manuel Marques Rodrigues com vinte e umas estrelas brancas, representando os estados de Ama- zonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba do Norte, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso e o Município da Corte, e uma faixa branca contendo a frase “Ordem e Progresso”. O brasão da República é cons- tituído por um escudo azul-celeste apoiada sobre uma estrela de cinco pontas, com uma espada em riste. Ao seu redor está uma coroa for- mada de um ramo de café frutificado e outro de fumo florido sobre um resplendor de ouro. O hino da Proclamação da República do Brasil é da autoria de Medeiros e Albuquerque e a música de Leopoldo Miguez, tendo sido publicado no Diário Oficial de 21 de janeiro de 1890. O governo de Deodoro da Fonseca (1889 a 1891) caraterizou-se pelo esforço de implantação do novo regime e por uma grande instabi- lidade. O Marechal Deodoro da Fonseca empreendeu a consolidação da República ao enfrentar com sucesso numerosos movimentos arma- dos, tais como a Revolta da Armada, no Rio de Janeiro, e a Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul. Em 1891 o Marechal Deodoro da Fonseca renunciou à Presidência perante a divergência dos elementos civis do Governo face à centrali- zação do poder desejada pelos militares. Vinte e um anos depois, e num momento em que o presidente brasi- leiro o marechal Hermes da Fonseca estava de visita a Portugal, eclodiu o movimento que conduziu à implantação da República portuguesa. Antes do movimento republicano ter alcançado o sucesso ocorre- ram algumas tentativas frustradas. Uma das últimas sucedeu a 14 de julho de 1910 a qual falhou devido à falta de cooperação do regimento de Caçadores 2. Mas o espírito revolucionário era irreversível. Quinze dias antes da revolução, a 29 de setembro, na sede do diretório do Par- tido Republicano Português decorreu uma reunião preparatória do mo- vimento. Apesar de algumas dificuldades de última hora, nomeadamente o assassinato de Miguel Bombarda e o suicídio de Cândido dos Reis por www.clepul.eu i i i i i i i i Prefácio 7 se ter convencido de que o movimento iria falhar, a República é procla- mada em Loures e em vários municípios da margem sul do Tejo no dia 4 de outubro. A 5 de outubro de 1910 é proclamada a República, na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, constituindo-se um governo provisório presidido por Teófilo Braga e que incluía António José de Almeida como ministro do Interior, Afonso Costa na pasta da Justiça, José de Mascarenhas Relvas nas Finanças, Bernardino Machado nos Negócios Estrangeiros, António Luís Gomes no Fomento, António Xavier Cor- reia Barreto na Guerra e Amaro Justiniano de Azevedo Gomes na Ma- rinha. Nesse mesmo dia a família real embarcou para o exílio. No dia seguinte a República é proclamada no Porto, Vila Real e Viana do Castelo, mas somente no dia 12 o novo regime chega a todo o país. Em 1910 o território português, para além do continente e dos arquipélagos da Madeira e Açores, incluía as antigas colónias onde a notícia da proclamação do novo regime chegou via telégrafo. A 6 de outubro a República foi proclamada em Cabo Verde e Angola, no dia seguinte em Goa e Moçambique e a 10 de outubro em Macau. Em outubro de 1910 para além da alteração do regime político verificou-se a substituição dos símbolos nacionais, abandonando-se os monárquicos. O Governo Provisório nomeou uma comissão, integrada por João Chagas, Abel Botelho, Columbano Bordalo Pinheiro, entre outros, com o objetivo de elaborar um projeto de bandeira da Repú- blica Portuguesa. Após algumas discussões a nova bandeira, de dese- nho rectangular com as cores verde, da esperança, e vermelha, símbolo do combate, e ao centro o brasão da República constituído pelo escudo e pela esfera armilar, foi aprovada pelo Governo a 29 de novembro de 1910 e homologada pela Assembleia Constituinte a 11 de junho do ano seguinte. Para além da bandeira adotou-se como hino nacional a mar- cha A Portuguesa composta, ainda durante a Monarquia, por Alfredo Keil, como resposta ao Ultimato Inglês de 11 de janeiro de 1890, e com letra do poeta Henrique Lopes de Mendonça. Como moeda adotou-se o escudo, tendo o sistema monetário sido reestruturado por um decreto www.lusosofia.net i i i i i i i i 8 Luís da Cunha Pinheiro, Maria Manuel Marques Rodrigues do Governo Provisório de 22 de maio de 1911, apesar de as primei- ras moedas só terem sido cunhadas em 1912 e o papel moeda somente ter a sua primeira emissão em 1916, com uma nota de 20 escudos. O novo regime criou também uma nova força policial a Guarda Nacional Republicana. Os primeiros países a reconhecerem oficialmente a novel República foram o Brasil e a Argentina, no dia 22 de outubro de 1910. A 19 de junho de 1911 ocorreu a sessão de abertura da Assembleia Nacional Constituinte, eleita por sufrágio em que participaram os cida- dãos alfabetizados e os chefes de família maiores de 21 anos, e a 21 de agosto foi promulgada a Constituição Política da República Portuguesa cujo primeiro artigo prevê: A Assembleia Nacional Constituinte, tendo sanccionado por unanimidade, na sessão de 19 de junho de 1911, a Revolução de 5 de outubro de 1910, e affirmando a sua confiança inquebran- tavel nos superiores destinos da Patria dentro de um regime de liberdade e justiça, estatue, decreta e promulga, em nome da Na- ção, a seguinte Constituição Politica da Republica Portuguêsa: TITULO I Da forma de Governo e do territorio da Nação Portuguêsa Artigo 1.o A Nação Portuguêsa, organizada em Estado Unitario, adopta como forma de governo a Republica, nos termos d’esta Constituição.