Oficinas De Imaginação E Escrita Para a Educação Em Direitos Humanos
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Oficinas de imaginação e escrita para a educação em Direitos Humanos 1 Daniela Palma (coordenação) Oficinas de imaginação e escrita para a educação em Direitos Humanos 1ª edição Campinas 2019 Este material não pode ser comercializado Grupo de pesquisa Nós-Outros: Linguagem, Memória e Direitos Humanos Líderes do grupo: Daniela Palma (IEL/UNICAMP) e Daniel do Nascimento e Silva (UFSC) Pesquisadores: Ana Paula dos Santos de Sá, Ana Luiza Barretto Bittar, Ana Júlia Valezi, Andresa Martins de Andrade Medeiros, Douglas Vinicius Souza Silva, Giulia Mendes Gambassi, Nayara Natalia de Barros, Maria Viviane do Amaral Veras, Rafael Salmazi Sachs, Tamitope Jane Aransiola Contato: [email protected] Instituto de Estudos da Linguagem Universidade Estadual de Campinas Rua Sérgio Buarque de Holanda, 571 Cidade Universitária - Campinas - SP CEP 13.083-859 Quanto mais as pessoas forem capazes de pensar no lugar de outrem, mais elas serão capazes de re(a)presentar, de tornar presente em si o que está ausente. (...) Isso não é empatia. Você não pode sentir o que os outros sentiram, mas imaginar, por meio da aprendizagem dos sentimentos e pensamentos alheios, como você teria sentido ou pensado se estivesse naquela situação. Você pensa o seu próprio pensamento, mas no lugar de outra pessoa. Apenas pensando os seus próprios pensamentos, você consegue realmente experienciar, ainda que de uma maneira mediada, vicariamente. [Anotação em roteiro de aula de Hannah ARENDT. Citada por: LAFER, C. Experiência, ação e narrativa: reflexões sobre um curso de Hannah Arendt. Estudos Avançados, São Paulo, v. 21, n. 60, p. 289-304. Tradução nossa, adaptada.] Vasilis Ververidis/123RF Projeto contemplado no 12° Edital de Projetos de Extensão Comunitária – PEC 2018 (UNICAMP) Coordenação: Daniela Palma Equipe elaboradora: Ana Júlia Valezi Ana Luiza Barretto Bittar Ana Paula dos Santos de Sá Daniela Palma Douglas Vinicius Souza Silva Giulia Mendes Gambassi Nayara Natalia de Barros Rafael Salmazi Sachs Talitha de Lima Paratela Leitura crítica e revisão: Cláudia Tavares Alves Projeto gráfico e editoração: Vanessa Lima Agradecimentos: Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UNICAMP (PROEC), Diretoria Executiva de Direitos Humanos da UNICAMP, Lauro Ávila Pereira, Fabio Knoll, Marcelino Freire, Alberto Pucheu, Ana Martins Marques, Greg Fischer (Rostos da Migração), Lauro Baldini, Pedro Ternes Frassetto, Diego Ferrite, Flávio Cruz Lenz Cesar, Luis Felipe Cruz Lenz Cesar, Maria Helena Rubinato, Companhia das Letras, Projeto Portinari, Marlene Vellasco, Awajatu Aweti, Museu Cora Coralina, Agência Brasil, André Villas-Bôas, Leila Maria Monteiro da Silva, Instituto Socioambiental, Matheus Fiorentini, Luis Fernando Verissimo, Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos (Chile), Musée du Quai Branly - Jacques Chirac (França). 2019 Os direitos autorais da obra pertencem ao Grupo de Pesquisa Nós-Outros da UNICAMP com base na lei nº 9.610/98. SUMÁRIO Apresentação 7 Direitos Humanos em aulas de escrita: 9 apontamentos e orientações Oficinas 29 Oficina 1: 29 Cada casa vale um conto – Direito à moradia e saudades do meu lar Oficina 2: 55 Dos fios que trançam uma história – Liberdade de expressão, identidade cultural e autoestima Oficina 3: 91 Histórias em deslocamento – Direito a migrar e o medo das fronteiras Oficina 4: 115 Nas correntezas da imaginação – Acesso à água e os direitos da natureza Oficina 5: 147 A morte em cena – Sentimentos de perda e o direito ao luto Atividades complementares de fixação 181 em escrita narrativa Carmen Cândido Rodrigues/Pixabay Apresentação Este livro se destina a professoras e professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio e das séries finais do Ensino Fundamental. Nossa proposta nasceu de uma pesquisa que teve como objetivo pensar em subsídios para a educação em Direitos Humanos nos espaços de ensino da linguagem. Partimos de um diagnóstico de que, apesar da constante referência à educação em Direitos Humanos em diversos documentos de políticas educacionais, as dificuldades manifestas para a abordagem do tema são recorrentes. Essas dificuldades têm naturezas didático-pedagógica e social, justamente pela impossibilidade de desvincular essas duas esferas. Os grandes desequilíbrios no acesso aos direitos fundamentais, em uma sociedade como a brasileira, onde não é possível ignorar a persistência de certas formas de exclusão e violência, tornam importante a tematização pedagógica dessas questões, porém, ao mesmo tempo, fazem com que qualquer proposta nesse campo seja atravessada por muitos ruídos, que podem ser expressos em um questionamento muito simples, mas que permite infindáveis interpretações e enquadramentos ideológicos: “direitos humanos, afinal, para quem e para o quê?”. A partir disso, o que se situava mais no campo das reflexões teóricas logo ganhou feições de um projeto de pesquisa de vocação extensionista. O grupo, então, trabalhou na construção de um modelo didático-pedagógico voltado à formação de jovens que pudesse ser oferecido em formato de oficinas de escrita. Ao longo desse trajeto, o mundo ao nosso redor passou por muitas transformações, muitas delas nos causaram apreensões e dúvidas sobre os rumos deste trabalho. Esses vacilos e inquietações, na verdade, se misturaram com uma vontade de ação, nada muito pretensioso, apenas um anseio de dispor de uma ferramenta pontual de ensino que, se não pudesse colaborar efetivamente para a formação em Direitos Humanos, conseguisse, ao menos, incitar proposições futuras de outros modelos mais abrangentes. O presente volume oferece, assim, alguns caminhos para o trabalho didático de temas do campo dos Direitos Humanos por meio de oficinas de escrita. Na verdade, a escrita é apenas um dos elementos que compõem essas propostas. A leitura, a pesquisa, o debate, a observação, entre várias outras formas de atividades para o conhecimento são acionadas no processo: elas ajudam a tecer uma “colcha de retalhos” que pode ser desmanchada e refeita a todo momento. O “processo”, assim, não é um meio, mas o próprio intuito das oficinas. 7 Há uma densidade fortemente narrativa nas propostas que apresentamos, que não pode ser compreendida por classificações estritas relacionadas a tipologias e gêneros textuais, mas como uma postura de ouvir (ou ler) e contar estórias e histórias. Narrativa aqui é uma forma de pensamento. De pensamento sempre em construção, pensamento em processo. Os exercícios que propomos, em formato de oficina, pretendem estimular reflexões a partir de compreensões jurídicas, filosóficas, históricas, literárias, artísticas e subjetivas dos Direitos Humanos e das formas sociais da diferença e da universalidade. A narrativa permite, de maneira mais ativa, experimentar inversões de perspectiva, o que, acreditamos, pode colaborar nos processos subjetivos que trabalham com os dilemas individuais e coletivos e com os sentimentos de alteridade. O volume foi organizado com um capítulo inicial, no qual apresentamos apontamentos gerais sobre a proposta pedagógica e algumas orientações a respeito do material didático. Na sequência, são oferecidas cinco sugestões de oficinas que tematizam, respectivamente, o direito à moradia, os direitos relativos ao corpo, o direto a migrar, os direitos à água e da natureza e o direito ao luto. No fim, há um bloco de atividades complementares de interpretação de texto e escrita que podem ser utilizadas nas oficinas. Este material está disponível em formato de e-book gratuito para uso livre e sua produção teve o apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UNICAMP, por meio do Edital de Projetos de Extensão Comunitária (PEC). Esperamos que este livro possa circular e suscitar novas ações, que o seu formato não se cristalize, mas que possa se transformar continuamente por meio de seus potenciais usos, e que gere derivações. Nós-Outros 8 Direitos Humanos em aulas de escrita: apontamentos e orientações Marco Rodrigues/123RF.com 9 OFICINAS DE IMAGINAÇÃO E ESCRITA PARA A EDUCAÇÃO EM DIREItOS HUMANOS 1. Ensinar Direitos Humanos? Partimos da pergunta elementar: é possível ensinar Direitos Humanos? Talvez a única forma de responder essa questão seja tomar a hipótese afirmativa e, a partir dela, testar novos questionamentos. Ensinar Direitos Humanos corresponderia a ensinar exatamente o quê? A ler a Declaração Universal dos Direitos Humanos e outros documentos correlatos? A história de formulação desses princípios? As bases jurídico-filosóficas que os sustentam? Discutir os contextos em que são violados? No âmbito do ensino da linguagem, tudo isso pode fazer parte, mas é possível ir além. Compreendemos que a abordagem dos Direitos Humanos propicia não apenas enquadramentos temáticos, mas possibilidades de exercitar formas de pensar e julgar. Recorremos aqui ao verbo sensibilizar: a educação em Direitos Humanos apontaria para a criação de espaços de aprendizagem que instigassem processos grupais e subjetivos de sensibilização. A ideia é compreender a palavra sensibilizar de uma forma ativa, visto que não se trata de fragilizar ou de se colocar vulnerável frente ao mundo, mas, ao contrário, de ser capaz de perceber, significar e agir.Sensibilizar é um caminho para tomar senso, ou seja, ser capaz de narrar, pensar, construir sentidos e alargar as consciências. De modo mais prático, a sensibilização seria um processo pautado pela articulação entre a compreensão mais racionalizada sobre processos históricos e sociais e a mobilização de paixões emocionais. Esta proposta de educação em Direitos Humanos se apoia em dois movimentos combinados: a sensibilização sobre as violações