Do N'gola Ritmos Ao Projeto Kalunga Congresso

Total Page:16

File Type:pdf, Size:1020Kb

Do N'gola Ritmos Ao Projeto Kalunga Congresso Do N’gola Ritmos ao Projeto Kalunga: travessias atlânticas entre Brasil e Angola Maurício Barros de Castro∗ Este artigo focaliza a história recente de Angola entre o período que cobre o surgimento de dois eventos político-culturais ocorridos no país: o N´gola Ritmos e o Projeto Kalunga. O N’gola Ritmos, criado em 1947, e o Projeto Kalunga, realizado em 1980, demonstram um diálogo contemporâneo existente entre o Brasil e o país africano. O que nos diz esse dialogo é que se torna importante analisar. N’gola Ritmos é o nome do grupo musical que, influenciado pelo samba, iniciou a retomada do semba e da cultura local angolana motivados pela resistência ao colonialismo português. O Projeto Kalunga foi uma missão que trouxe a Angola 65 artistas brasileiros, a convite do então presidente Agostinho Neto, líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). A caravana brasileira realizou shows em três cidades angolanas; Luanda, Benguela e Lobito. Este artigo busca mostrar a contribuição do trânsito atlântico contemporâneo entre Brasil e Angola na construção das identidades nacionais e diaspóricas existentes nos dois países, muitas vezes representadas pela cultura popular, no caso o samba e o semba. Assim, busco reconstituir a trajetória do N’gola Ritmos e do Projeto Kalunga com o intuito de analisar o diálogo cultural e político existente entre Brasil e Angola. Através de relatos, notícias de jornais, letras de música e levantamento bibliográfico espero trazer à tona esta memória esquecida que revela o impacto da África no Brasil contemporâneo e as devoluções da cultura ∗ Doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP). Desenvolve pesquisa de pós- doutorado no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPCIS-UERJ) com bolsa da FAPERJ. É autor dos livros Zicartola: política e samba na casa de Cartola e Dona Zica (Azougue Editorial, 2ed., 2013) e Mestre João Grande: na roda do mundo (Biblioteca Nacional/Garamond, 2010). brasileira em Angola. A partir da reconstituição da memória desses dois eventos é possível refletir sobre as mútuas influências, devoluções, recriações e invenções presentes nas culturas mediadas pelo “Atlântico Negro” (GILROY, 2001). Para apresentar estes dois eventos devo começar pelo mais recente, porque foi através do Projeto Kalunga que cheguei ao N’gola Ritmos e às reflexões que movem este trabalho. O motivo desse fio condutor é que nas memórias do Projeto Kalunga a relação entre samba e semba surge em diversas narrativas, nas entrevistas, nos textos dos jornais, nas letras das canções. Assim, o N’gola Ritmos se apresenta como o principal evento musical capaz de dialogar com a missão de músicos brasileiros que desembarcou em Angola. A missão que partiu do Rio de Janeiro levou para Angola grandes nomes da música brasileira. Dorival e Danilo Caymmi, Chico Buarque, Edu Lobo, Francis e Olivia Hime, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Clara Nunes, Dona Ivone Lara, Djavan, Cristina Buarque, Miucha, Grupo Nosso Samba, Martinho da Vila, João do Vale e João Nogueira se apresentaram para o público angolano. A idéia inicial, porém, não era convidar tantos músicos. O convite para se apresentar em Angola feito por Agostinho Neto se restringia a Chico Buarque. Este, por sua vez, convidou o produtor Fernando Faro para dirigir o show. Faro aceitou a tarefa, mas fez uma proposta mais ampla. Segundo contou: Era uma época em que eu vivia na casa do Chico Buarque, e eu cheguei lá, em 1979, e ele me disse assim: “Baixo, eu recebi uma ligação do pessoal de Angola, da parte do Agostinho Neto, me convidando para um show em Luanda. Eu quero saber o seguinte: você topa dirigir?”. Eu disse: “Poxa, baixo, Angola? Como é que faz? tem certeza que você quer ir?”. Ele disse: “Ah, quero”. Eu disse: “Eu acho desperdício a gente ir, nós dois, fazer um show em Luanda, no teatro Karl Marx. Eu achava legal se fosse um grupo como raramente se reuniu no Brasil para ir lá prestar solidariedade ao povo que libertou sua terra”. Ele disse: “Mas será que dá?” Eu disse: “Ué, vamos tentar”1. Fernando Faro e Chico Buarque conseguiram levar para Angola um “grupo como raramente se reuniu no Brasil”. A última apresentação - de volta a Luanda, após terem passado por Benguela e Lobito - aconteceu na Plaza de toros. Na ocasião, os compositores angolanos Felipe Mukenga, Rui Mingas e Valdemar Bastos participaram do show e cantaram com os músicos brasileiros. O evento terminou com todos cantando Cio da Terra. Faro dedicou algumas das poucas linhas escritas que existem sobre o Projeto Kalunga a este final emocionado: Era o último show num lugar chamado Plaza de toros. Artistas brasileiros e angolanos se apresentavam juntos. Aí estavam Caymmi, Djavan, Chico ao lado de Valdemar, Felipe Mukenga etc. O show estava terminando, caía a noite. O pessoal ia se arrumando para o número final, subindo todos para o palco, cantando Cio da terra. Eu estava ali no meio da praça, na mesa de som. tudo terminado, eu me debrucei sobre a mesa, cabeça escondida entre os braços e não pude conter a emoção. Senti os olhos molhados. Percebi que uma mão me tocava os ombros. Olhei, era o Chico. Que me abraçou, encostava sua cabeça na minha e dizia: "Você conseguiu, Baixinho". Eu pensei: a pessoa do verbo estava errada. Não era "você conseguiu". teria de ser "nós conseguimos"...2 Naquele momento se encerrava uma viagem de 18 dias em Angola, onde os artistas brasileiros viveram intensamente a cultura local do país. Entre sambas e sembas N´gola Ritmos é o nome do grupo musical angolano, criado em 1947, responsável pela “invenção do semba”, ritmo considerado representativo da identidade nacional angolana. De acordo com Maria J. Moorman: “A banda é geralmente creditada como criadora de um novo gênero musical, semba, associado com a nação emergente” (MOORMAN, 2008; 60). Além de surgir como música nacional de Angola, o semba também é considerado como origem do samba. Conforme cantou o compositor angolano Dom Caetano na canção Semba Dilema, de 1997: Eu Vim trazer meu semba / Sem querer trazer dilema / Mas é que o universo Tem de saber / Que o rico samba/ Nasceu do meu semba. No entanto, semba significa umbigada, uma prática que não existe no samba contemporâneo. Ao contrário, estaria relacionado mais intimamente a uma outra manifestação cultural de dança e música que precedeu o samba no gosto popular do Império: o lundu. De acordo com o pesquisador angolano Mário Rui, o lundu é “uma dança que está relacionada com o Kaduke de Mbaka (Angola), e que veio a ser uma das danças mais populares em Luanda com o nome de masemba (umbigadas, plural de semba), que se caracteriza pelo encontro dos corpos, na umbigada” (RUI, 1999). Desta maneira, tudo indica que samba e semba são práticas distintas que ganharam um aspecto genealógico na ânsia de se inscrever uma origem africana nas culturas consideradas nacionais e folclóricas. A nação é uma invenção moderna e recente, forjada no início do século xIx, “entendida como Estado-nação, definida pela independência ou soberania política e pela unidade territorial e legal” (CHAUÍ, 2000;16). Antes disso, o termo não tinha este peso jurídico e era atribuído a grupos nascidos em um mesmo lugar, normalmente vistos como pagãos pelos colonizadores, como foi o caso dos índios e negros. Não deixa de ser uma ironia, portanto, que as nações nas Américas tenham sido forjadas no contexto da escravidão, e que o sentido da palavra, anteriormente relacionado ao nativo, tenha sido apropriado para propagar um outro sentido, o de pertencimento territorial ao estados que surgiam. Os africanos escravizados, talvez com um objetivo similar - o de construir um pertencimento ao continente africano em terras estrangeiras - elegeram suas próprias nações. No Brasil, muitos candomblés se organizaram em forma de nações como jeje ou nagô, e são conhecidos, portanto, como “candomblés de nação”. De acordo com J. Lorand Matory: Ainda hoje, muitos descendentes daqueles africanos raptados se reconhecem como integrantes de “nações diaspóricas”, para usar um termo que é especialmente comum na América Latina, mas que também não é raro na América do Norte (considere-se, por exemplo, que os negros norte- americanos têm um hino nacional). Há também as naciones arará, congo e lucumí em Cuba, assim como as naçõe jeje, congo-angola e nagô no Brasil (MATORY,1999;58). O samba e o semba integram o universo destas “nações diaspóricas”, principalmente se levarmos em conta a importância da religiosidade na formação destas culturas profanas. O que torna possível conceber a cultura popular como um conceito ambivalente que representa, ao mesmo tempo, as identidades da “nação diaspórica” e da “nação territorial”. Por isso também é um conceito em permanente disputa para construção de identidades. O mais instigante deste processo de transformação do samba em referência nacional, no Brasil, é que em Angola, apesar de suas particularidades relacionadas à formação histórica da nação e à luta anticolonial, assiste-se a um processo similar. Uma dessas similaridades pode ser encontrada no fato de que tanto o samba como o semba foram popularizados pela Radio Nacional do Brasil e de Angola, respectivamente. Liceu Vieira Dias, um dos fundadores e lideres do N´gola Ritmos, foi quem apontou para a influência da musica brasileira para revalorização da musica angolana. Conforme narrou Marisa J. Moormam, referindo-se a Vieira Dias: No final dos anos 1930, junto com outros jovens assimilados, ele formou o Grupo dos Sambas. Eles inicialmente tocavam música brasileira. Foi a música brasileira, ele disse, “que nos levou a descobrir nossa cultura e o valor que ela tem”. Através de uma prática musical estrangeira Vieira Dias e outros jovens da sua geração retornaram para a sua própria cultura.
Recommended publications
  • Mulheres Compositoras No Brasil Dos Séculos XIX E XX
    REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 3, novembro 2016 Mulheres compositoras no Brasil dos séculos XIX e XX MULHERES Compositoras NO BrasiL dos SÉCULos XIX E XX Ana Carolina Arruda de Toledo Murgel1 Resumo O presente artigo traz os resultados parciais de minha pesquisa de pós-doutorado intitulada “Cartografias da Canção Feminina: composito- ras brasileiras do século XX”. O projeto, com apoio da FAPESP, visa le- vantar e analisar, numa perspectiva feminista, as obras de compositoras brasileiras no século XX (abarcando também as encontradas no século XIX), na tentativa de preencher uma lacuna frequentemente abordada na imprensa e em obras especializadas sobre a quase inexistência de mulhe- res na arte da composição musical, em especial até os anos de 1960. Palavras chave: Composição feminina. Música popular. Composito- ras brasileiras. ABstraCT This article presents the partial results of my post-doctoral research entitled “Cartography of Women Songs: Brazilian composers in the twen- tieth century”. The project, with support from FAPESP, intends to raise and analyze, from a feminist perspective, the works of Brazilian compo- sers in the twentieth century in an attempt to fill a gap often discussed in the press and specialized works on the near absence of women in the art of musical composition, particularly until the 1960s. Key words: Female composition. Popular music. Brazilian composers. Parece haver um consenso entre críticos musicais e a sociedade em geral de que as mulheres são excelentes intérpretes, mas que poucas se aventuraram na arte de compor. Em uma crítica escrita em 1996, no jor- nal Folha de S.Paulo, Pedro Sanches afirma: Com escassas exceções – Chiquinha Gonzaga, Dolores Duran, Maysa –, a composição no Brasil foi um ofício levado a cabo pelos homens até que a guerrilheira Rita Lee viesse cravar novos rumos.
    [Show full text]
  • Clara Nunes E a Performance Da Fé
    O Corpo como Texto: Clara Nunes e a Performance da Fé Imagem da Capa: Edição Fotográfica de Afrane Ferreira Távora, artista visual macapaense, construída especialmente para esta tese, em 2019. Instagram: @tudonotodo UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Ciências e Letras Campus de Araraquara - SP EMERSON DE PAULA SILVA O CORPO COMO TEXTO: CLARA NUNES E A PERFORMANCE DA FÉ ARARAQUARA – S.P. ABRIL 2021 EMERSON DE PAULA SILVA O CORPO COMO TEXTO: CLARA NUNES E A PERFORMANCE DA FÉ Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Estudos Literários da Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖ (UNESP) – Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara (FCL-Ar) como requisito para obtenção do título de Doutor em Estudos Literários. Linha pesquisa: Teorias e Crítica do Drama Orientadora: Profa. Dra. Elizabete Sanches Rocha Bolsa: CAPES ARARAQUARA - S.P. ABRIL 2021 Silva, Emerson de Paula S586c O Corpo como texto: Clara Nunes e a performance da fé / Emerson de Paula Silva. -- Araraquara, 2021 250 p. : il., fotos Tese (doutorado) – Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara Orientadora: Elizabete Sanches Rocha 1. Clara Nunes. 2. Performance Cultural. 3. Religiões Afro-Brasileiras. 4. Corpo. 5. Texto. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. EMERSON DE PAULA SILVA O CORPO COMO TEXTO: CLARA NUNES E A PERFOMANCE DA FÉ Tese de doutorado, apresentada ao Programa de Pós - Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras – UNESP/Araraquara, como requisito para obtenção do título de Doutor em Estudos Literários.
    [Show full text]
  • Contemporary Carioca: Technologies of Mixing in A
    Con tempo C o n t e m p o r a r y raryC a r i o c a Cari oca ontemporary CCarioca Technologies of Mixing in a Brazilian Music Scene Frederick Moehn Duke University Press Durham anD LonDon 2012 © 2012 Duke University Press All rights reserved. Printed in the United States of America on acid-free paper ♾ Designed by Kristina Kachele Typeset in Quadraat and Ostrich Sans by Tseng Information Systems, Inc. Library of Congress Cataloging- in- Publication Data appear on the last printed page of this book. Duke University Press gratefully acknowledges the support of Stony Brook University, which provided funds toward the publication of this book. For Brazil’s musical alchemists ontents Illustrations ix C Preface xi Acknowledgments xxiii Introduction 1 1 Marcos Suzano: A Carioca Blade Runner 25 2 Lenine: Pernambuco Speaking to the World 55 3 Pedro Luís and The Wall: Tupy Astronauts 92 4 Fernanda Abreu: Garota Carioca 130 5 Paulinho Moska: Difference and Repetition 167 6 On Cannibals and Chameleons 204 Appendix 1: About the Interviews, with a List of Interviews Cited 211 Appendix 2: Introductory Aspects of Marcos Suzano’s Pandeiro Method 215 Notes 219 References 245 Discography 267 Index 269 llustrations Map of Rio de Janeiro with inset of the South Zone 6 1 “mpb: Engajamento ou alienação?” debate invitation xii 2 Marcos Suzano’s favorite pandeiro (underside) 29 I 3 Marcos Suzano demonstrating his pandeiro and electronic foot pedal effects setup 34 4 A common basic samba pattern on pandeiro 48 5 One of Marcos Suzano’s pandeiro patterns 49 6 Marcos
    [Show full text]
  • Milton Nascimento: Num Canto Do Mundo, O Conto Do Brasil
    Universidade de Brasília Instituto de Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em História Área de Concentração: História Cultural Linha de Pesquisa: Identidades, Tradições, Processos Tese de Doutorado Orientadora: Eleonora Zicari Costa de Brito Milton Nascimento: Num canto do mundo, o conto do Brasil Mateus de Andrade Pacheco Brasília, Dezembro de 2014. Universidade de Brasília Milton Nascimento: Num canto do mundo, o conto do Brasil Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília, na área de Concentração de História Cultural, como requisito à obtenção do título de Doutor em História. Mateus de Andrade Pacheco Brasília, Dezembro de 2014. Banca Examinadora Profa. Dra. Eleonora Zicari Costa de Brito (UnB – Orientadora) Profa. Dra. Maria Thereza Ferraz Negrão de Mello (UnB) Profa. Dra. Maria Amélia Garcia de Alencar (UFG) Prof. Dr. Edwar de Alencar Castelo Branco (UFPI) Prof. Dr. Ivan Vilela Pinto (USP) Profa. Dra. Marcia de Melo Martins Kuyumjian – Suplente – (UnB) À dona Maria, minha eterna Paixão. E ao Bituca, menino-passarinho, que de sons fez ramagens para trançar seu ninho Ouvir um pássaro é agora ou nunca é infância ou puro momento? ouvir um pássaro é sempre (dói fundo no pensamento). Orides Fontela, Cantiga Agradecimentos Essa pesquisa foi tecida na coletividade de vozes que apanhei pelos caminhos. Pessoas que fizeram essa empreitada valer a pena, dando força e incentivo, impulsionando o voo. Agradeço à minha irmã Maria Abília, a Bia, interlocutora provocativa, sempre me instigando a me entregar mais, a correr atrás de fontes e apanhar sensibilidades para arquitetar histórias. Nossos bate-papos diários, ambientados na atmosfera percussiva da cozinha, criam espaço para maturar o pensamento musical, cavar nossos percursos para pesquisa e para a vida.
    [Show full text]
  • Leilane, Leandro, Assunção Da Silva Natal, Março De 2013
    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS – MESTRADO E DOUTORADO CLARA NUNES COMO OBRA DE ARTE: A EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS A PARTIR DA CULTURA MUSICAL Leilane, Leandro, Assunção da Silva Natal, março de 2013. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS – MESTRADO E DOUTORADO CLARA NUNES COMO OBRA DE ARTE: A EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS A PARTIR DA CULTURA MUSICAL Tese apresentada, como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Ciências Sociais, junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – mestrado e doutorado – da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob orientação da Professora Doutora Maria da Conceição Xavier de Almeida. Leilane, Leandro, Assunção da Silva Natal, março de 2013. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS – MESTRADO E DOUTORADO BANCA AVALIADORA Professora Doutora Maria da Conceição Xavier de Almeida (Orientadora) Professora Doutora Izabel Cristina Petraglia (UNINOVE-SP) Avaliador externo 1 Professor Doutor Iran Abreu Mendes (Educação - UFRN) Avaliador externo 2 Professor Doutor Orivaldo Lopes Pimentel Junior (Ciências Sociais - UFRN) Avaliador Interno 1 Professora Doutora Brasilia Carlos Ferreira (Ciências Sociais- UFRN) Avaliador interno 2 Professor Doutor José Willington Germano (Ciências Sociais - UFRN) Suplente interno ____________________________________________________________ Professora Doutora Josineide Oliveira (UERN) - Suplente externo ______________________________________________ Geralmente meus discos anteriores são batizados com o nome de uma música do próprio disco. Nesse, porém, com as muitas fotos que fiz para a escolha da capa, esta me causou especial emoção e fez brilhar na minha cabeça esta palavra, esperança.
    [Show full text]
  • “SAMBA É QUE NEM Passarinho!”
    “SAMBA É QUE NEM PASSARINHO!” Denise Espírito Santo Este texto faz parte de um estudo maior sobre poesia em letra de canção e performance vocal nas culturas popula- res e urbanas, mais especificamente nos redutos negros da cidade do Rio de Janeiro em pleno período de transfor- mações sociais, políticas e culturais no início do século XX. Parte deste estudo foi utilizada dentro de uma proposta de aula-espetáculo para alunos do ensino fundamental de uma escola pública de Petrópolis. Naquela ocasião, o objetivo principal era trabalhar com alguns temas e questões culturais que poderiam integrar uma proposta pedagógica na área do ensino da arte inspirada pela Lei n. 10.639. Cabe dizer, que esta lei tornou obrigatório o en- sino da diáspora africana, da história da África e das re- lações étnico-raciais no cotidiano escolar. Recentemente, a lei passou a abrigar também a contribuição da matriz indígena para uma reflexão sobre o caráter multicultural de nossa sociedade brasileira. AUTORIA, CULTURA POPULAR, SAMBA, TRADIÇÃO, RIO DE JANEIRO SANTO, Denise Espírito. “Samba é que nem passari- nho!” Textos escolhidos de cultura e arte populares, Rio de Janeiro, v.5, n.1, p. 57-64, 2008. SANTO, Denise Espírito. “Samba é que nem passarinho!” 57 “Samba é que nem passarinho, é de quem pegar primeiro” dizia Sinhô1, composi- tor carioca e protagonista de uma das mais acirradas disputas autorais nos primórdios da indústria fonográfica no Brasil. Em suas incursões nos principais redutos daquela localida- de conhecida como a Pequena África, na sua mais popular casa de samba – a Casa da Tia Ciata – Sinhô ouvia atentamente os sambas que iam nascendo do improviso do partido alto e, valendo-se de sua memória privilegiada e de uma falta de cerimônia, registrava-os depois como de sua autoria.
    [Show full text]
  • Redalyc.Religion and Black Cultural Identity. Roman Catholics, Afro
    VIBRANT - Vibrant Virtual Brazilian Anthropology E-ISSN: 1809-4341 [email protected] Associação Brasileira de Antropologia Brasil Gonçalves da Silva, Vagner Religion and black cultural identity. Roman Catholics, Afro-Brazilians and Neopentecostalism VIBRANT - Vibrant Virtual Brazilian Anthropology, vol. 11, núm. 2, diciembre, 2014, pp. 210-246 Associação Brasileira de Antropologia Brasília, Brasil Available in: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=406941918008 How to cite Complete issue Scientific Information System More information about this article Network of Scientific Journals from Latin America, the Caribbean, Spain and Portugal Journal's homepage in redalyc.org Non-profit academic project, developed under the open access initiative Religion and black cultural identity Roman Catholics, Afro-Brazilians and Neopentecostalism Vagner Gonçalves da Silva Abstract Over the last decade, a number of religious groups have assumed differing positions on the relationship between ‘black identity’ and religion. In this article, I intend to present some of the tendencies in the current debate between the Afro-Brazilian religions and the black Roman Catholic and Evangelical movements. I suggest that this debate be constructed from positions engendered from the interrelationships of these groups and from the policies for promoting the legacy of African symbols as a part of Brazil’s national heritage. Keywords: Afro-Brazilian religions, Catholicism, evangelicals, black move- ment, Afro-Brazilian Ministry, black identity, ethnicity. 210 vibrant v.11 n.2 vagner gonçalves da silva Religion and black cultural identity Roman Catholics, Afro-Brazilians and Neopentecostalism Vagner Gonçalves da Silva This article is dedicated to the memory of Rita Amaral Introduction During the last few years I have been working on a research project, the object of which is to analyze the role that the Afro-Brazilian religions and their symbols have played in the construction of Brazil’s national identity in general, and of black groups in particular1.
    [Show full text]
  • VIRGÍNIA ROSA CANTA CLARA Era Uma Vez Uma Sambista De Perfil
    VIRGÍNIA ROSA CANTA CLARA Era uma vez uma sambista de perfil popular e de sucesso gigantesco. Morta prematuramente (aos 40 anos de idade em 1983), sua contribuição ao que se convencionou chamar de MPB, vai muito além dos sambas que imortalizou. Clara Nunes não foi esquecida e tem sido homenageada por outra grande intérprete da música popular brasileira: Virgínia Rosa, que é fã confessa de Clara e preparou um show no qual revisita sua obra. Desde que foi convidada para participar do show “O Amor Que O Mar Levou - Uma Homenagem ao ABC do Samba” - a cantora Virgínia Rosa tem pesquisado a obra de Clana Nunes. Sua participação nesse evento foi um enorme sucesso e então o desejo de mergulhar mais fundo no trabalho da interprete gerou o CD “VIRGÍNIA ROSA CANTA CLARA”, em fase de lançamento pelo Selo SESC. O disco tem direção musical de Ogair Júnior e participações especiais do ator Ailton Graça, do grupo vocal Clarianas, do sanfoneiro Toninho Ferragutti e de Osvaldinho da Cuíca. AS VÁRIAS FACES DE CLARA Quase todos pensavam que CLARA NUNES era “macumbeira” quando popularizou títulos como “Tributo aos Orixás”, “Conto de Areia”, “O Mar Serenou”, “A Deusa dos Orixás”- contribuições de Candeia e da dupla Romildo/Toninho. Pensavam também que ela era baiana, quando cantava Caymmi... Muitos pensavam que era sertaneja quando interpretava “Seca do Nordeste” e “Último Pau-de-Arara”. Outros ainda pensavam que era pernambucana quando saía “frevando”... Muitos outros achavam que era carioca do morro quando aderiu à Mangueira e cantou os mais nobres sambistas - Nelson Cavaquinho, Cartola, Monarco, Carlos Cachaça, Bide e Marçal, Darcy da Mangueira, Paulinho da Viola..
    [Show full text]
  • Guinga Traz Toque De Brasilidade Ao Santander Cultural
    Nota de Imprensa Guinga traz toque de brasilidade ao Santander Cultural São Paulo, 22 de maio de 2017 – No último sábado de maio, dia 27, às 17h, o Átrio do Santander Cultural recebe Carlos Althier de Sousa Lemos Escobar, mais conhecido como Guinga. Um dos mais destacados compositores e instrumentistas da música popular brasileira é atração do projeto Ouvindo Música da unidade de cultura do Santander em Porto Alegre. ´ Guinga é carioca da zona norte do Rio de Janeiro, especialmente do bairro de Madureira, onde nasceu em 1950. Foi aluno de violão clássico de Jodacil Damasceno, e aos 16 anos, começou a compor. Trabalhou profissionalmente como violonista, acompanhando artistas como Clara Nunes, Beth Carvalho, Alaíde Costa, Cartola e João Nogueira. Com várias de suas músicas gravadas por músicos como Elis Regina, Michel Legrand, Sérgio Mendes, Leila Pinheiro, Chico Buarque, Clara Nunes, Ivan Lins, Guinga é um artista que coleciona elogios da crítica especializada. Parcerias com Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc, Chico Buarque, Nei Lopes, Sérgio Natureza, Nelson Motta, Simone Guimarães, Francisco Bosco, Mauro Aguiar e Luís Felipe Gama estão traduzidas em diversos trabalhos ao longo de sua carreira. Em 2002, o artista carioca teve biografia escrita pelo jornalista Mário Marques (Guinga, os mais belos acordes do subúrbio, Ed. Gryphus). Em 2003 teve lançado seu songbook (A música de Guinga, Ed. Gryphus). Seu disco Rasgando Seda, em parceria com o Quinteto Villa-Lobos, lançado pelo Selo SESC-SP em 2012, foi indicado ao Grammy na categoria Melhor Disco Instrumental do Ano-2012. Mais informações e vídeos estão no site http://www.guinga.com/index.php/channel- videoteca Música: R$ 12,00 Ingressos antecipados pelo site myticket.com Estudantes e pessoas acima de 60 anos pagam meia-entrada.
    [Show full text]
  • Clara Nunes: Ética E Sensibilidade Incomum
    CLARA NUNES: ÉTICA E SENSIBILIDADE INCOMUM BEATRIZ H. RAMOS AMARAL “ O meu canto é uma missão ” (João Nogueira / Paulo César Pinheiro) Ótima surpresa para os leitores: os que gostam de música de qualidade, os que admiram a extraordinária arte de Clara Nunes (1942-1983), os que gostam de narrativas brasileiras bem contadas, com a espontaneidade da memória. Acaba de ser lançado “CLARA NUNES nas memórias de sua irmã dindinha Mariquita”, parceria entre Maria Gonçalves da Silva e Josemir Nogueira Teixeira, filósofo, professor e poeta. PubIicação da Editora Jaguatirica, o livro reúne memórias da irmã de Clara, que a criou desde a infância, quando a cantora ficou órfã. Clara nasceu em 1942, na cidade de Paraopeba, Distrito de Cedro, Minas Gerais. Anos depois, o distrito emancipou-se e recebeu o nome de Caetanópolis. Da vida de Clara ainda menina, brincando livre entre pássaros e árvores e começando a cantar na escola e no coral da igreja, as memórias trazem testemunho verdadeiro, com cenas curiosas, tecidas num fio de linha vivo, íntegro e vibrante. Um relato que somente Maria Gonçalves da Silva poderia apresentar. A grande elevância da nova obra tem repercussão no panorama cultural, musical, social, artístico, étnico e antropológico, pois Clara Nunes tem o indiscutível mérito da primazia e do pioneirismo, na música popular brasileira, da defesa da igualdade - real e substancial - entre todos, independentemente de raça, credo ou situação econômica - bem como da defesa da diversidade religiosa, da tolerância religiosa, do respeito a todas as crenças, da valorização os ritmos brasileiros, da música autêntica de nosso país, da cultura brasileira de raiz, da afirmação e do reconhecimento da cultura das trás raças que compõem o brasileiro: indígenas, africanos e portugueses (e europeus em geral).
    [Show full text]
  • Inside the Brazilian Rhythm Section
    CHAPTER 1 SAMBA 17 Inside the Brazilian Rhythm Section amba, which first emerged in Rio de Janeiro at the beginning of the GENERAL S20th century, has taken many forms and remains one of the most rec- INFORMATION ognizable Brazilian rhythms. It is a predominantly vocal genre consisting of both fixed and improvised verses in call and response format. Its urban carioca form was at its inception a fusion of many of the elements of Rio’s rich popular culture: lundu, maxixe, Afro-Brazilian circle dances and rhythms with origins in the northeast of Brazil, and harmonic and melodic influences of choro. In fact, some of the first composers of samba were ‘chorões’ like Donga, Pixinguinha, and Sinhô. By the 1920’s, as carnaval replaced the Portuguese-rooted entrudo, samba became associated with the celebra- tion. Since the appearance of the samba schools in the 1930’s, sambas intended for carnaval have been referred to as samba-enredo. The lyrics of these songs usually treat a biographical, historical, literary, or folkloric theme chosen for that year’s celebration. The best of these often enter the commercial recording market. A number of sub-genre have appeared including sambalanço, samba de breque, samba-enredo, samba-canção, samba-choro, samba exaltação, samba de gafieira and partido-alto. Some of the more prominent samba composers are: Noel Rosa, Wilson Batista, Sinhô, Cartola, Beth Carvalho, Jamelão, Zé Keti, Paulinho da Viola, Moreira da Silva, Ary Barroso, Dorival Caymmi, Nelson Cavaquinho, Moacyr Santos, Clara Nunes, Martinho da Vila and João Nogueira. rasilified is a medium fast samba in C major.
    [Show full text]
  • O SAMBA DE CLARA NUNES: Religião Afro-Brasileira E Musicalidade
    O SAMBA DE CLARA NUNES: Religião afro-brasileira e musicalidade Emerson Sena da Silveira Doutor em Ciências da Religião PPGCR/UFJF Docente do PPGCR UFJF RESUMO A música popular brasileira agrega diversos elementos sociais que a particularizam. Entre eles, o fator religioso, manifesto por alguns artistas, deixando entrever a íntima conexão entre música e religião. Clara Nunes e diversos outros artistas lançam/lançaram mão do aspecto religioso afro-brasileiro em suas obras chamando a atenção da mídia e da sociedade para a cultura africana. Objetiva-se, neste trabalho, analisar a música de Clara Nunes (1942-1983) e as relações com elementos folclóricos e africanistas em sua produção e trajetória musical. A disseminação dos ritmos musicais desta cantora via mídia, consumo e espetáculo, permitiu a produção de releituras e ressemantizações do tema mitológico africano. Assim, pergunta-se: qual o imaginário ritual-religioso apreendido na produção musical de Clara Nunes e sua conexão entre a música popular brasileira e a expansão das práticas religiosas afro-brasileiras no Mercosul? A partir da análise histórico-antropológica do nexo entre a produção musical de Clara Nunes, a religiosidade afro-brasileira e sua expansão, pretende-se debater a identidade sociorreligiosa produzida pelas tensões de uma sociedade desigual para com as populações negras e o samba, um ritmo cujas raízes remontam às práticas afro-brasileiras. PALAVRAS-CHAVE: Mitologia Africana; Samba; Música e Religião. ABSTRACT Brazilian popular music adds many social elements that particularize itself. Among them, religious factor, expressed from some singers, leaving a glimpse of the intimate connection between music and religion. Clara Nunes and many others singers make/made use of Afro- Brazilian religious aspects in their works drawing attention of the media and society for the African culture.
    [Show full text]