O Parthenon Literario

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O Parthenon Literario V O PARTHENON LITERARIO PARTHENON LITERARIO foi um incentivo e um exemplo. Infiuiu de maneira täo poderosa e brilhante, tanto no, momento historico como no meio physico, ampliando o seu campo de acgäo sociolatrica ate äs condigöes da raga, de conformidade com a trilogia de Taine. Porto Alegre parecia entäo ß. metröpole intellectual do Brasil. Nunca se vira mesmo, em nenhuma das nossas grandes e cultas capitaes, ta- manho numero de poetas e prosadores reunidos diante das aras do ideal commum. As tradigöes da cörte do Imperio, com o triumviratjo dos poetas do indianismo, Porto Alegre, Magalhäes e Gongalves Dias, e posteriormente com Casimiro de Abreu, Pedro Luis e Teixeira de Mello; S. Paulo, Pernambuco, Bahia e Maranhäo, as tres primeiras com as suas gera- göes academicas e a ultima no seu periodo atheniense; sem esquecer os poetas de Villa Rica, no tempo da In- confidencia, nada disso se pode comparar com a ra- diosa capital gaücha no decennio de 1868 a 1878. A cörte do Imperio viu em si os maiores prosadores e poetas do Sul e do Norte, alem dos que nasceram 'ino seu illuminado scenario espiritual, mas sempre reunidos em limitado numero, com dois ou tres na epoca de Dutra e Mello, outros tantos com Francisco Octaviano, ou com Manuel Antonio de Almeida, alem dos que surgiram com o romancista de Innocencia, mais tarde Visconde de Tau­ nay, logo depois da geragäo de Castro Lopes e Joa­ quim Manuel de Macedo. 64 MUCIO TEIXEIRA Mas, mesmo sendo o centro dt: todas as forgas vi­ vas da nacionalidade, Hmitou-se a isso, sem comtudo dei- xar de ser um viveiro de herdes e getiios, com o seu' Duque de Caxias e o nosso sabio Imperador D. Pedro II, o maior de todo-; os brasileiros em todos os tempos., A cidade do Rio de Janeiro, sem nunca ter tido, ate hoje, um momento historico-literario como aquelle decennio de Porto Alegre, foi e e o vastisshno centro da enorme peripheria para onde convergem as mais poderosas cere- bragöes de todos os pontos do paiz, mas sem que o numero dos seus oriundos possa antepör-sc ä invasäo que a assoberba, como as aguas de muitos rios cor­ rendo para o mar. S. Paulo viu reunidos na sua tradicional escola de direito os cinco ou seis companheiros de Alvares de Azevedo, mas todos de differentes provincias, que foi o que aconteeeu posteriormentc, nas geragoes de Castro Al­ ves com Fagundes Varella, e de Carvalho Junior com Oli­ veira Bello, ambos riograndenses. Pernambuco teve as epocas de Pedro de Calasans com Franco de Sä; a de Castro Alves, com Tobias Barreto e Sylvio Roinero: a de Annibal Falcäo com Generino dos Santo-;, e a de Fausto Cardoso com Martins Junior; a Bahia e o Ma- ranhäo viram as geracöes de Junqueira Freire e de Agra- rio de Menezes, e de Trajano Galväo com Almeida Braga. Em Porto Alegre, porem, reuniam-se no Parthenon Literario mais de cincoenta intellectuaes, todos riogran­ denses, que se chamavam: — Caldre e Fiäo, Apollinario Porto Alegre, com seus irmäos Achilles e Apelles, Jose Bernardino dos Santos, Affonso Marques, Lobo Barreto. Gustavo Vianna, Baptista Pereira, Ferreira d.\ Luz, Fer­ reira Neves, Menezes Paredes, Ignacio de Vasconcellos, Bibiano de Almeida, Sä Brito, Aurelio de Bittencourt, Hi­ lario Ribeiro, Antonio Palmeiro, Alves forres, Miguel Werna, Luis Motta, Sousa Motta, Paria Correa, Azevedo. junior, Sylvino Vida!, Augusto Tota, Sueiro Junior, Sousa Lobo, Paula Soares, Leopoldo de Freitas, Theodoro de Miranda, Terencio de Miranda, Benjamin Villas Boas, Francisco Cunha, Pereira Gomes, Fernando Osorio. Vasco de Araujo, Fernando Ferreird Gomes, Graciana de Azam- buja, Arthur Rocha, Lobo da Costa, Taveira Junior, Eu­ doro Berlink, Ataliba Valle, \rgemiro Galväo, Erico da OS GAÜCHOS 65 Costa, Ernesto Silva, Joaquim Moreira, Lucio Cidade,. Trajano Cesar, Julio de Castilhos, Tallone Junior, Ho- mero Baptista, Assis Brasil e Mucio Teixeira. Tambem faziam parte do Parthenon as poetisas Ama­ lia Figueiröa, Julieta Monteiro e Revocata de Mello; a prosadora Luciana de Abreu, a primeira mulher que no Brasil subiu ä tribuna das conferencias literarias; os sa- cerdotes Teixeira, Vianna e Massa, notavel orador sa- grado o primeiro, os outros eruditos preeeptores da ju- ventude do tempo. Entre os mogos do Parthenon des- taeavam-se um velho e um menino: o velho era o ve- ne*-ando dr. Caldre e Fiäo, o menino era Eu. Alguns annos antes floresceram na mesma cidade de Porto Alegre as geragöes de Araujo Porto Alegre, (51) depois Baräo de Santo Angelo, e de Antonio Alvares Pe­ reira Coruja, erudito chronista e professor de primeiras letras; do sabio Araujo Ribeiro, senador do Imperio e Visconde do Rio Grande; (52) e logo em seguida a de Felix da Cunha, com as poetisas Rita Barem de Mello e Clarinda de Siqueira, dignas continuadoras de Delfina da Cunha, e os dois illustres allemäes Carlos von Ko- seritz e Carlos Jansen, a quem tanto devem as letras e o jornalismo do Rio Grande do Sul. Alem da incomparavel superioridade numerica, a mo­ cidade do Parthenon näo se limitou ao terreno exclusivo da literatura: saeudiu a ramaria entrancada na floresta escura da politica, para que batesse em cheio naquelle solo feeundo o sol que devia vigorisar a sementeira das ideas novas, dando extraordinario impulso äs correntes d t aspiragäo republicana, e cooperando de maneira effi- caz para a solugäo do problema abolicionista, cuja ini- ciativa partira de um de seus membros, o dr. Caldre e (51) Apollinario Porto Alegre e seus irmäos näo eram pa- rentes deste insigne prosador e poeta, cujo nome de fami­ lia era Pitangueira. (52) O senador Araujo Ribeiro, Visconde do Rio Gran­ de,,. 6 o autor da cekbre obra hvtitulad'a A Creagäo, ou a Natu­ reza inte.rpretada pelo senso commum, em que se revela phi- losopho e demonstra scientificamente o creseimento da terra. A edigäo brasileira 6 ponco conheeida, mas foi tradtizida em varias linguas, tenidb a traducgäo allemä dez edigöcs, sendo a inglesa prefaciada por Darwin. 66 MUCIO TEIXEIRA Fiäo, que em 1840 ja discutia o assumpto pela imprensa do Rio de Janeiro, tomando parte nas celebres reuniöes da Chacara do Castello, onde o conselheiro Franga e Leite reunia os emaneipadores de entäo. (53) O Parthenon Literario foi um enorme e doirado vi- veiro de atrevidas aguias, que dali saeudiram as grandes azas de envergadura capaz de transpör as cuiminanci:?5- da poesia e da sciencia, da arte e da politica, da admi- nistragäo e da diplomacia, sem exclusäo de um so dos departamentos da esphera social. Teve poetas, oradores, dramaturgos, jornalistas, parlamentares, tribunos, roman- cistas, diplomatas, estadistas e polygraphos. E' tal a indifferenga indigena por aquillo de que mais nos deveriamos orgulhar, que uma instituigäo täo notavel como o Parthenon Literario, sem igual entre as suas congeneres, inclusive o Instituto Historico, que e o mais considerado nucleo da nossa intellectualidade, nem ao menos e citada na Historia da Literatura Brasileira do meu grande amigo e primeiro critico nacional Sylvio Ro- mero, que se limitou a dizer apenas isto: - no Sul os mais notaveis foram Carlos Ferreira nas Rosas Loucas e Mucio Teixeira nas Sombras e Claröes». Apenas AIcides Maya rasgou o pesado veu de silen­ cio que oecultava a unica Academia de Letras que o Bra­ sil tern tido ate hoje, quando disse: — «Surgiu Mucio Teixeira, no Rio Grande do Sul, em epoca de effervescen- cia literaria, a do Parthenon, dominada por uma forte corrente de ideas humanitarias e liberaes, republicanas, e, simultaneamente, por um notavel movimento naciona- lista nas letras. As tradigöes gaüchas, estudadas carinhosamente, fa- voreciam a tendencia revolucionaria e demoeratica da mo­ cidade de entäo. Comegara a propaganda abolicionista na imprensa e na tribuna das conferencias; os jornaes sus- tentavam incandescentes polemicas philosophicas, politi­ cas e religiosas, todos queriam a America livre... For- mulava-se ao mesmo tempo o problema da nacionalidade dos typos heroieos, as suas luctas e costumes; impu- (53) Nesse mesmo anno de 1S40 o Dr. Caldre e Fiäo publicou o volume do seu romance, de propaganda aboli­ cionista, intitulado O Corsario. OS GAÜCHOS 67 nha-se geralmente como o primeiro e o mais sagrado de- ver de patriotismo. A poesia tornara-se perigosamente ba- talhadora, doutrinaria, arrebatada». Quanto äs academias, cumpre dizer que mallograram todas as tentativas de fundagäo de uma verdadeira Acade­ mia de Letras no Brasil, talhada pelos moldes da Fran­ cesa ou da Real Academia de Espanha, ate que final­ mente o fallecido immortal Machado de Assis se lem- brou de fundar a que ora possuimos (,54). A idea primacial da creagäo de uma Academia de Letras Brasileira, surgiu no Instituto Historico, em 1847, como se ve do seguinte teör indicativo:. «10 de Julho de 1847. Senhores. Os abaixo-assignados, convencidos da necessidade urgente de uma associagäo que se occupe especialmente das Bellas Letras, e pro- mova o seu adiantamento, näo so com trabalhos proprios, como tambem animando a mocidade, e reunindo os ele- mentos esparsos de um corpo que pode influir no pro­ gresso da literatura a animar aos que a ella se dedicam: resolveram crear, debaixo da protecgäo do Instituto His­ torico e Geographico Brasileiro, um Instituto Literario para preencher esta lacuna, dividido em tres seguintes secgöes: A primeira de literatura propriamente dita, sub- dividida em prosaica, e poetica; a segunda de linguistica; a terceira de literatura dramatica. Offensa seria expender aqui ao illustrado Instituto Historico e Geographico quanto as Letras Brasileiras devem esperar da creacäo de semelhante sociedade, e muito mais animada pela primeira instituigäo literaria do paiz, a quäl por sem duvida se näo negarä, attento o seu reconhecido zelo por tudo quanto tende ao progresso da nossa patria, a prestar-Ihe o seu valioso apoio, pois que delle deve resultar, alem de incontestaveis beneficios, uma aureola de gloria para a nascente associagäo.
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