Passo Fundo, Agosto De 2014
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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS ÉVERTON LUÍS MATOS DE CAMPOS A HUMANIZAÇÃO DA “COISA” EM OS ESCRAVOS, DE CASTRO ALVES. Passo Fundo, agosto de 2014 ÉVERTON LUÍS MATOS DE CAMPOS A HUMANIZAÇÃO DA “COISA” EM OS ESCRAVOS, DE CASTRO ALVES. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Paulo Becker. Passo Fundo 2014 2 CIP – Catalogação na Publicação __________________________________________________________________ C198h Campos, Éverton Luís Matos de A humanização da “coisa” em Os escravos, de Castro Alves / Éverton Luís Matos de Campos . – 2014. 190 f. : il. ; 30 cm. Orientação: Prof. Dr. Paulo Becker. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade de Passo Fundo, 2014. 1. Análise do discurso literário. 2. Análise linguística. 3. Alves, Castro, 1847-1871 – Crítica Textual. 4. Escravos – Abolição. I. Becker, Paulo, orientador. II. Título. CDU: 869.0(81).09 __________________________________________________________________ Catalogação: Bibliotecária Marciéli de Oliveira - CRB 10/2113 3 AGRADECIMENTOS Embora a autoria deste texto seja creditava em meu nome, inúmeras são as pessoas que, direta ou indiretamente contribuíram para a sua construção. Preciso agradecer a todas elas acreditando, entretanto, que apenas essas palavras não serão suficientes para caracterizar a importância de cada uma dessas pessoas. Em primeiro lugar, agradeço aos meus pais (Nelsy e Darci) pelo suporte, pelo apoio, pela torcida, pela camaradagem, pois estão comigo nessa longa trajetória iniciada ainda lá na primeira série. Agradeço aos amigos de uma vida (Vinícius, Emília, Rafael, Paulo, Maurício, Maeli, Maria Helena) pelo suporte e pelos prazerosos momentos de debate sobre tudo: cinema, futebol, artes, política, literatura, história, música. Assim como aos amigos e companheiros de mestrado. Sou imensamente grato aos professores do PPGL da UPF (Prof. Dr. Miguel Rettenmaier, Prof. Dr. Ernani César de Freitas, Prof.ª Dr.ª Carme Schons, Prof. ª Dr.ª Márcia Saldanha Barbosa) por terem dividido comigo seus conhecimentos e experiências. Não poderia deixar de mencionar minha querida amiga Karine Castoldi pela atenção, pelo carinho e paciência dispensados. Agradeço a Prof.ª Dr.ª Katani Monteiro, da UCS, não somente pelos ótimos momentos de discussão, estudo e análise de história durante a graduação, mas também pela amizade e incentivo. Para agradecer ao meu orientador, Prof. Dr. Paulo Ricardo Becker, não existem palavras, mas tentarei. Poderia citar muitos itens, mas agradeço especialmente ao incentivo, paciência e generosidade que encontrei durante nossas reuniões. Finalmente, agradeço a minha companheira de jornada, Fernanda, pelo carinho, cumplicidade e por ter me dado o maior presente do mundo: Miguel. E a você, pequeno Miguel que tem se mostrado o mais importante de todos os meus professores. 4 RESUMO Esta dissertação parte sempre da exploração do texto poético de Castro Alves (Os Escravos), com o intuito de compreender como o “poeta dos escravos” busca humanizar o cativo (semovente/animal/propriedade) diante dos olhos do leitor branco de sua época, assim como a sua motivação. Partimos da compreensão de que, a obra Os Escravos, é um organismo e não a mera junção de textos líricos com profusão de temas. Propusemos uma divisão temática e metodológica dentro da obra, mapeando dessa forma os passos decisivos para a humanização do negro escravo. Nesse ponto, as concepções de Gorender (1985) e Mattoso (2003) nos ofereceram suporte para compreender a mentalidade escravocrata brasileira do século XIX. Essa divisão nos proporcionou ainda, entender como o poeta baiano funde, na mesma figura, negro e povo brasileiro, em contraponto ao escravista que representa a monarquia, o que dá a lírica castroalvina um sentido de discurso republicano. Nosso foco de análise também repousou na forma enunciativa e dialógica dessas composições líricas, a partir do estudo de Bakhtin (1992) sobre os temas. Palavras-chave: escravo, humanização, abolição, república, dialogismo. 5 ABSTRACT This master thesis starts from the study of Castro Alves poetical text (Os Escravos), in order to understand how "The Poet of the Slaves" pursuits to humanise the captive (livestock/animal/property) before the eyes of the white readers of his era, as well as his motivation. We start from the understanding that the literary work is an organism and not a mere junction of lyrical texts with a profusion of themes. We propose a thematic and methodological division within the work, thus mapping the crucial steps to the humanisation of the black slave. In this point, the conceptions of Gorender (1985) and Mattoso (2003) presented us bases to understand the Brazilian enslaver nineteenth century mindset. This division provided us also understand how the Bahian poet merges, in the same figure, the black and the Brazilian people, in counterpoint to the enslaver that represents the monarchy, giving the lyric a republican sense. Our analysis also focus on the enunciative and dialogical form of this lyrical compositions, from the studies of Bakhtin (1992) about these themes. keywords: slave, humanisation, abolition, republic, dialogism 6 SUMÁRIO 1 PALAVRAS INICIAIS ..................................................................................................... p. 8 2 CASTRO ALVES: ENTRE O PARAÍSO NATURAL E O INFERNO SOCIAL........... p. 11 2.1 O poeta e o Brasil de seu tempo..................................................................................... p. 11 2.2 Escravidão no Brasil do século XIX ............................................................................. p. 15 2.3 O poeta condoreiro e a crítica ....................................................................................... p. 19 3 A TEORIA BAKHTINIANA .......................................................................................... p. 26 3.1 Enunciação e dialogismo .............................................................................................. p. 26 3.2 Os gêneros do discurso ................................................................................................. p. 32 4 O EXÍLIO ........................................................................................................................ p. 37 5 A FAMÍLIA DO CATIVO .............................................................................................. p. 72 6 VÍTIMAS E ALGOZES ................................................................................................ p. 105 7 O NEGRO: DA SUJEIÇÃO À REDENÇÃO ................................................................ p. 149 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ p. 180 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ p. 184 7 1 PALAVRAS INICIAIS As navegações empreendidas pelos estados modernos europeus redesenharam o mundo, evidenciaram as mais exóticas culturas e transformaram para sempre o modo do ser humano viver, não somente em termos econômicos e políticos, mas especialmente sociais. Essas viagens acabaram, ainda, por alargar o fosso existente entre um homem e outro. Enquanto que, na Idade Média, a posse da terra dava a uma pessoa o status de senhor e o servo era, meramente, o que havia de mais baixo em se tratando da escala social do feudalismo, o mundo moderno trouxe à luz um ser que oscilava entre o humano e o animal: o escravo negro. Essa visão antiquada não se limitou há seu tempo, ela se estende até os dias atuais, pois, em pleno século XXI, ainda nos deparamos com a crença anacrônica de que alguns homens são superiores aos outros. Exemplos de racismo estão na mídia, são manchetes corriqueiras e basicamente, envolvem personagens do mundo esportivo. Parece que não bastou a humanidade o exemplo dado pelo movimento nazista, que entre as décadas de 1920 e 1940, atormentou a Europa, procurando encontrar uma base científica que pudesse comprovar a existência de uma raça que se sobrepusesse às demais. Não lograram êxito os cientistas ou pseudo-cientistas do nacional-socialismo, aliás, a tese da superioridade ariana foi aniquilada pelas vitórias do atleta americano negro Jesse Owens, nas olimpíadas de Berlim, em 1936. O Apartheid, na África do Sul, foi um grande exemplo da capacidade de mobilização e união das pessoas em prol da igualdade racial e da liberdade. Nelson Mandela conseguiu sair de sua prisão de quase 30 anos e, a partir das muitas feridas deixadas pelo regime segregador, unir uma nação. Usou como “arma” simplesmente o diálogo, a compreensão e o perdão. Contudo, essa grande página da história é apenas mais um capítulo na luta pelo fim do racismo. As raízes do racismo estão entrelaçadas na história do nosso país e o combate a essa prática é um movimento que não cessa, é um exercício que precisa constantemente ser praticado. Atualmente, inúmeras personalidades e instituições estão engajadas em campanhas que valorizam as diferenças de cada pessoa como forma de se alcançar a igualdade e o respeito. No século XIX, no qual o Brasil vivia sob a égide da escravidão, alguns membros daquela sociedade não se calaram diante da opressão, tomaram a frente na luta pelos milhares de cativos que eram tratados de modo sub-humano e usaram os mais variados discursos, do 8 religioso ao econômico. Os escravos eram