Gustavo Teixeira: O Poeta Que a Cidade Engoliu
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Samanta Rosa Maia GUSTAVO TEIXEIRA: O POETA QUE A CIDADE ENGOLIU Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para a obtenção do Grau de Bacharelado em Letras-Português. Orientador: Prof. Dr. Alckmar Luiz dos Santos. Florianópolis 2013 Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC. AGRADECIMENTOS A todos os que conheci, Daila, Douglas e Gentila, e não conheci, que sustentam o Museu Municipal Gustavo Teixeira, e ao Rodrigo, essa ―voz de assistência‖ (imprescindível) dos emails, pela confiança e pelo carinho. Ao Seu Martello, que nem sabe da melhor estadia que me deu! E ao Carlito, pela corrida de táxi que me guardou dos ventos misteriosos de São Pedro. Ao Luiz Henrique e à Stella, à Dona Maria Emília e aos familiares presentes, pela acolhida, pelas conversas, pelo socorro, pela segurança. A todos os familiares de Gustavo Teixeira que de alguma forma contribuíram com este trabalho. Ao Alckmar e ao NuPILL, por um norte. À minha família, pelo apoio e pelos cuidados comigo. E ao Giuseppe, com todo o amor do mundo, por todo o amor do mundo. Este obscuro passou, sem nunca haver deixado, Empós de um sonho vão, a terra em que nasceu. Como inglório, por lá, nos campos o avinhado Canta e morre a cantar, inglório assim, morreu. Seu canoro instrumento em surdo som magoado Estalou. Sob a cruz de estrelas deste céu, Tão belo aí fora, jaz em tumulo ignorado, Só das feras sabido, o sertanejo Orpheu. Mas não morreu seu canto. Anda em livros o nosso E o leem homens; o dele, entre rios e flores, Luar ou sol, num soluço a repeti-lo estão As aves, o fremir do vento, o ruído grosso Das cachoeiras da serra e com os mais trovadores O arrastado gemer das violas do sertão. Alberto de Oliveira RESUMO Buscando dar maior visibilidade ao poeta são-pedrense Gustavo Teixeira (1881-1937), este trabalho traz um levantamento de publicações e anúncios de publicações do escritor, antecedido por uma breve discussão sobre o cenário literário da virada do século XIX, percorrendo temas como: o espaço inaugural do escritor, a abastança de versos, o fortalecimento da imprensa e a adesão ao ―novo‖ urbano; bem como uma reunião de escritos diversos acerca do poeta e sua produção, sob o título ―Fortuna Crítica‖. Palavras-chave: Gustavo Teixeira. Literatura Brasileira. Parnasianismo. Poesia. ABSTRACT Hoping to grant more visibility to Gustavo Teixeira (1881 - 1937), the poet from São Pedro, this work contains an ensemble of publications and announcements of publications by the writer, preceded by a brief discussion on the literary scenery in the turn of the nineteenth century, covering topics such as: the inaugural space for the writer, the abundance of verses, the strengthening of the press and the adherence to the urban "novelties"; as well as a reunion of various writings about the poet and his production, under the title of ―Critical Essays‖. Keywords: Brazilian Literature. Gustavo Teixeira. Parnassianism. Poetry. SUMÁRIO INTRODUÇÃO....................................................................................15 1 – A EMENDA DOS SÉCULOS: O XIX-XX...................................17 1.1 “... COMPREENDENDO OS ÍNTIMOS ANSEIOS”....................19 1.2 “LAUTA MESA DE RARAS IGUARIAS”......................................20 1.3 “AS LETRAS, LENTAMENTE, DE UMA A UMA”.......................25 1.4 “A NOSTALGIA AZUL DOS TEMPOS DE AFRODITE...” – “NÃO TEM MAIS FIM A BÁRBARA TORTURA!”...............................30 1.5 “TINHAM A COR TRIUNFAL DAS PÚRPURAS ROMANAS”............................................................................................33 1.6 “NO PÁRAMO SIDÉREO A MINHA ESTRELA”.........................36 2 – GUSTAVO TEIXEIRA..................................................................39 2.1 “DA CIDADE E CERCANIAS, AS LANDES E AS SERRANIAS”..........................................................................................41 2.2 “PARA TE DESCREVER AS FORMAS HARMONIOSAS”..........43 2.3 “TODA UMA VIDA AZUL, COMO NUM COSMORAMA”.........46 2.4 “QUEM O ESCREVEU EM LUZ NA ASA DAS BORBOLETAS?”...................................................................................56 2.5 “DE PÁGINAS DE LUZ, RECORDAÇÕES DE TUDO” – PERCURSO EM PERIÓDICOS............................................................58 2.6 “SOBRE O PAPEL CORRENDO, LINHA A LINHA” – NO ENCALÇO DAS PUBLICAÇÕES........................................................59 2.7 ACERVO GUSTAVO TEIXEIRA...............................................81 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................89 REFERÊNCIAS...................................................................................91 ANEXO A – Fortuna Crítica...............................................................99 ANEXO B – ―Embarque para a posteridade”.................................267 ANEXO C – Farmácia de Miguel Carretta, na Rua Nicolau Mauro (São Pedro, SP)...................................................................................269 ANEXO D – Casa em que se hospedava Oswald de Andrade, na Rua Nicolau Mauro (São Pedro, SP)................................................271 ANEXO E – “Herma do poeta são-pedrense”.................................273 ANEXO F – Museu Gustavo Teixeira..............................................275 ANEXO G – Acervo Gustavo Teixeira.............................................277 ANEXO H – Estante de “caixas” do “Acervo Biblioteca G.T.”.....279 ANEXO I – Estante das demais “caixas”.........................................281 15 INTRODUÇÃO Quem foi Gustavo Teixeira? Ora, não bastando a dificuldade em responder quem ele é, com tal insistência se me afigura também – e principalmente – o passado [de] Gustavo Teixeira. O são-pedrense não veio a mim por meios acadêmicos, nem sequer por meios interessantes – a história de sua chegada talvez não mereça espaço: o trabalho surgiu da leve inclinação inicial, e inconfessável, que de quando em quando nos move em associação às coisas – para simplificar e esconder bastante o puro ―gosto‖. Logo Gustavo Teixeira se tornou um grande representante da riqueza literária, por vezes esquecida ou sublinhada em seus ―excessos‖ com certo desgosto, do fim do séc. XIX e início do séc. XX, e em se tratando de literatura paulista, ficou evidente sua importância. O rascunho do primeiro projeto para a pesquisa e realização do trabalho tinha como proposta a análise da obra do poeta, e não demorou a ser abandonado, em razão não somente da escassez – cabe dizer, imediata – de estudos sobre Gustavo Teixeira voltados à literatura que fossem mais que ―apreciações adjetivosas‖, mas também do custoso acesso a esses materiais. Alterada a proposta, programou-se uma viagem até São Pedro, cidade do poeta, no interior de São Paulo. Os dias 22 a 25 de julho de 2013, passados no Museu Gustavo Teixeira, numa concentração com um sem número de papéis do escritor, livros de seu acervo pessoal e documentos relacionados, boa parte fotografados por mim, serviram de medida real para o que é e o que pode ser. Parte da pesquisa, dedicada à investigação e análise de periódicos (o exame das ocorrências de ―Gustavo Teixeira‖ serviu de instrução para o direcionamento e a ampliação das buscas) e ao estabelecimento de uma bibliografia, pôs-se em andamento já em setembro de 2012, e prosseguiu até o momento de elaboração do trabalho por escrito. No retorno com os materiais que o plano do trabalho se resolveu: reunir o que houvesse de produções sobre Gustavo Teixeira como ―Fortuna Crítica‖ (para o que serviu de apoio- primeiro o livro ―Gustavo Teixeira: poeta da solidão e da renúncia‖ de Arruda Dantas, por conter uma bibliografia básica sobre Gustavo Teixeira), juntamente com um estudo, obrigatório, de seu tempo (a fim de introduzir o poeta como um ponto de resistência ao próprio tempo e à recaracterização da cidade e das letras); listar as publicações do poeta (até 1937, ano de sua morte) 16 em periódicos e descrever ligeiramente a situação do Acervo Gustavo Teixeira. 17 CAPÍTULO 1 A EMENDA DOS SÉCULOS: O XIX-XX 18 19 1.1 “... COMPREENDENDO OS ÍNTIMOS ANSEIOS” Em uma conferência sobre Olavo Bilac, Amadeu Amaral, explicando o ―mecanismo‖ dos sonetos bilaquianos, que, segundo ele, eram repletos de imagens, e não simplesmente imagens, mas ―representações de ideias abstratas sob formas concretas e coloridas‖ (1920, p. 23), cita duas condições para que, fundidas umas às outras, corporificadas, estas imagens se impregnem no ―espírito do leitor‖ e, finalmente, adquiram ―pleno relevo e sequência‖. A primeira das condições mencionadas é a exigência de um leitor culto, que ―tenha uma cabeça sofrivelmente mobilhada de ideias‖; a segunda, que me interessa destacar e é o motivo do resgate dessa conferência, cabe apresentá-la à maneira do autor: A segunda condição para que as imagens do poeta ganhem plena significação, ligando-se e completando-se, é que se leia com simpatia. Também este elemento é indispensável. Se toda arte, ainda a mais singela e acessível, exige do leitor ou do ouvinte a colaboração da sua inteligência, também não existe arte, por mais impressionante e vitoriosa, que não exija a colaboração da simpatia – uma espécie de boa vontade que se submete e se abre, contente e voluptuosa, mais ou menos como uma flor se deve entregar a um raio de sol. Arte é comunhão. Comunhão de espíritos. Só a simpatia dá relevo, cor, brilho, eficácia ao trabalho do artista. Ela procura nesse trabalho, guiada como por um faro divino, através do que é frustrâneo e opaco, o mínimo