Os Parâmetros Do Conto Brasileiro Contemporâneo No Prêmio Jabuti De 1999 a 2008

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Os Parâmetros Do Conto Brasileiro Contemporâneo No Prêmio Jabuti De 1999 a 2008 1 ANEXO II OS PARÂMETROS DO CONTO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO NO PRÊMIO JABUTI DE 1999 A 2008 Luiz Gonzaga Marchezan UNESP, Araraquara/FAPESP A presente reflexão tem por objetivo analisar a disposição do ideário ficcional que perpassa os contos premiados e finalistas do Prêmio Jabuti no período de 1999 a ∗ 2008. São 33 obras premiadas , que compreendem um total de 610 contos, de 24 contistas. A pluralidade de motivos, valores e práticas literárias, que encontramos, pôde ser organizada, sem riscos de homogeneização, em conjuntos narrativos que configuram os parâmetros dos contos em pauta. Os conjuntos narrativos depreendidos exploram a cólera, o humor e a memória. Procuramos apreender aquilo que Bosi nomeia “a máscara estética possível para nossos dias” e a encontramos mesmo, como também prevê o estudioso, na oscilação ∗ Segue a relação anual das obras vencedoras e finalistas (a premiação ocorreu sempre no ano posterior à publicação). 1999: Charles Kiefer. Antologia pessoal. Mercado Aberto, 1998; Rubens Figueiredo. As palavras secretas. Cia. das Letras, 1998; João Inácio Oswald Padilha. Bolha de luzes . Cia. das Letras, 1998. 2000: Rubem Fonseca. Confraria das Espadas. Cia. das Letras, 1999; Raimundo Carrero. As sombrias ruínas . Iluminuras, 1999; Marçal Aquino. O amor e outros objetos pontiagudos . Geração Editorial, 1999; Ignácio Loyola Brandão. O homem que odiava a segunda-feira . Global, 1999; Menalton Braff. À sombra do cipreste. Palavra mágica, 1999. 2001: Lygia Fagundes Telles. Invenção e memória . Cia das Letras, 2000. 2002: Marçal Aquino. Faroestes . Ciência do Acidente, 2001; Rubem Fonseca. Secreções, excreções e desatinos . Campo das Letras, 2001. 2003: João Anzanello Carrascoza. Duas tardes . Boitempo, 2002; Lygia Fagundes Telles. Durante aquele estranho chá . Rocco, 2002; Rubem Fonseca. Pequenas criaturas . Cia. das Letras, 2002. 2004: Sérgio Sant´Anna. O vôo da madrugada . Cia. das Letras, 2003; José Roberto Torero. Pequenos amores . Objetiva, 2003; João Gilberto Noll. Mínimos, múltiplos, comuns . Francis, 2003. 2005: Paulo Henriques Britto. Paraísos artificiais . Cia. das Letras, 2004; Edgard Telles Ribeiro. Histórias mirabolantes de amores clandestinos . Record, 2004; Cíntia Masovitch. Arquitetura do arco-íris . Record, 2004. 2006: Marcelino Freire. Contos negreiros . Record, 2005; Silviano Santiago. Histórias mal contadas . Rocco, 2005; Mário Araújo. A hora extrema . 7 Letras, 2005. 2007: Rubens Figueiredo. Contos de Pedro . Cia. das Letras, 2006; Menalton Braff. A coleira no pescoço . Bertrand do Brasil, 2006; Charles Kiefer. Logo tu repousarás também . Record, 2006; Rubem Fonseca. Ela e outras mulheres. Cia. das Letras, 2006; Artur Oscar Lopes. A casa de minha vó e outros contos exóticos. Edições Inteligentes 2006; João Anzanello Carrascoza. O volume do silêncio . Cosac Naify, 2006; Autran Dourado. O senhor das horas . Rocco, 2006. 2008: 2008: Vera do Val. Histórias do Rio Negro . Martins Fontes, 2007; Jorge Eduardo Pinto Hausen. A Prenda de seu Damaso e Outros Contos. Alcance, 2007; Jaime Prado Gouvêa. Fichas de Vitrola . Record, 2007. 2 “entre o retrato fosco da brutalidade corrente e a sondagem mítica do mundo, da consciência ou da pura palavra” (1977, p.22). Na organização deste texto, consideramos as diretrizes do Prêmio Jabuti, que, não poderia ser diferente, orientam as candidaturas dos autores; apresentamos as bases teóricas que fundamentam o tratamento que fazemos das obras, em que destacamos os conceitos de conto de enredo e conto de atmosfera, bem como a noção de conjunto narrativo. Na sequência, dedicamos uma seção para cada um dos três conjuntos narrativos depreendidos, que, como já adiantamos acima, compõem o universo da cólera, do humor e da memória. O estudo se fecha com uma reflexão que busca, à guisa de conclusão, considerar a totalidade dos contos examinados. Antes das coordenadas, expostas acima, no entanto, optamos por fazer alguns registros iniciais, índices e notícias, sobre a leitura no Brasil e por examinar os paratextos publicados nos volumes dos contos – partes de um todo a ser considerado conforme o propósito central desta pesquisa. Segundo a 4ª. edição de Retratos da Leitura no Brasil (2016), o brasileiro lê, por ano, 4,96 livros. Desses, 3 foram indicados pela escola. O leitor brasileiro lê, em média, 1 livro (inteiro ou em parte) a cada 3 meses, conforme essa mesma estatística, que se mantém sem alterações nos últimos 12 anos e em que se observa também que muitos leitores não se lembram dos títulos lidos. No mesmo recenseamento constatamos que, entre estudantes e não estudantes, num rol de 2978 pesquisados, 22% leem contos. Por escolaridade, esses leitores de contos no ensino Fundamental I (1ª. a 5ª. série) são 22%; no Fundamental II (6ª. e 9ª série), 25%; no ensino Médio, 20% e no Superior, 20%. Por faixa etária, mantido o mesmo rol de consultados, o percentual de leitores de contos mostra-se da seguinte maneira: na faixa etária de 5 a 10 anos, é de 37%; de 11 a 13, 40%; de 14 a 17, 31%, de 18 a 24, 23%; de 25 a 29, 21%; de 30 a 39, 12%; de 40 a 49, 14%; de 50 a 59, 13% e de 70 para mais, 11%. Há que se notar que os contos finalistas e premiados não participam das categorias de livros mais vendidos em nenhuma das edições de Retratos de Leitura no Brasil , nem do elenco dos autores admirados ou conhecidos pelos leitores brasileiros. Pode-se detectar, em categorias diversas concorrentes ao Prêmio Jabuti, um movimento ascendente nos números de inscrições a partir de 2008, ano em que foi superior a 2000. De 2009 a 2016, as inscrições sempre ultrapassaram o número de 2200, chegando a 2867 em 2010. Seguindo a linha do tempo, em 2015, houve, no entanto, uma redução de 3 12,6% no faturamento das editoras, pior resultado desde 2002; e em 2016, de abril a maio, o mercado vendeu 31,6 % a menos do que no mesmo período de 2015. Dos 33 volumes em questão, nesta pesquisa, 31 encontram-se na 1ª. edição; os ∗ dois restantes Confraria das Espadas (1999) , de Rubem Fonseca, conta com 2ª. edição e À sombra do cipreste (1999), de Menalton Braff, soma seis edições. Algumas obras foram incluídas na lista de leitura de vestibulares nacionais: Paraísos artificiais (2004), de Paulo Henriques Britto, aparece na lista de três vestibulares; Durante aquele estranho chá (2002), na lista de dois; Pequenas criaturas (2002), de Rubem Fonseca, O vôo da madrugada (2003), de Sérgio Sant´Anna, e Contos negreiros (2005), de Marcelino Freire, na lista de um vestibular. Ainda conforme a 4ª. edição de Retratos da Leitura no Brasil , o Brasil experimenta o aumento da escolaridade média de sua população, ao mesmo tempo em que constata que apenas 1 em cada 4 brasileiros tem habilidade de leitura. Já a criança brasileira, na escola, mostra-se apta para a leitura aos 5 anos. A pesquisa também detecta que a população adulta, fora da escola, fora, portanto, da órbita de indicação escolar de livros, tem lido mais, por iniciativa e vontade própria. Esse interesse pela leitura, hoje, encontra-se associado à busca de conhecimento. Parece haver uma movimentação no público leitor, que passa a ler ao longo de toda a vida e em lugares e plataformas diversas, impulsionado pela televisão, pela internet, pelas redes sociais, etc. A pesquisa ainda indica que metade dos leitores brasileiros lê por empréstimo, a outra metade adquire seus livros e 30% afirmam nunca ter adquirido um volume. O assunto do livro, indicado em orelhas e prefácios dos volumes, é o grande motivador da escolha para a leitura ou compra da obra. PARATEXTOS: ORELHAS, PREFÁCIOS, POSFÁCIOS Dos 33 volumes estudados, 13 incluem orelhas assinadas por um crítico, exceto um deles cuja orelha é escrita pelo próprio autor; 19 contam com orelhas sem uma assinatura; e um único não conta com orelha, mas insere um prefácio assinado pelo contista em coautoria com um crítico. Observamos, ainda, que, além de orelhas, 15 volumes trazem prefácios ou posfácios, às vezes, mais de um posfácio. Lygia Fagundes ∗ Neste texto, identificaremos, sempre, a data da primeira publicação, conforme consta da nota anterior. 4 Telles, em Durante aquele estranho chá (2002), faz nota introdutória para o seu livro e dois críticos os posfácios. O assunto das orelhas assinadas dirige-se a um público leitor. A título de explicação, faremos um comentário acerca da disposição dos textos de orelhas e prefácios dos volumes que receberam mais de uma edição, e também daqueles escolhidos como leituras obrigatórias de exames vestibulares. Confraria das Espadas (1999), de Rubem Fonseca, na 2ª. edição, conta com um texto anônimo como orelha, e traz, ao final do volume, notas biográficas sobre o autor e mais dois textos, um de Sérgio Augusto, “Prazer & Morte”, e outro de Malcom Silverman, “Resenha” . Seguindo o estudo de Silviano Santiago sobre a obra de Rubem Fonseca, Sérgio Augusto inclui Confraria das Espadas na terceira fase do autor, momento em que substitui argumentos calcados na racionalidade, por outros, calcados no “delicioso, injurioso, luxurioso e libidinoso nonsense ” (AUGUSTO, 2014, p. 142). Para Sérgio Augusto, o livro afasta-se de quaisquer traços da dignidade humana, e mostra o homem em situações de “prazer e morte” (AUGUSTO, 2014, p. 143). Malcom Silverman, por sua vez, considera a obra em questão como as anteriores, sem diferenciá- la das demais: trata-se de “um cosmos enlouquecidamente ficcional refletido numa disfunção sociossexual (...) [em que] persiste, aí, a natureza patológica das relações sociais” (SILVERMAN, 2014, p.149). As notas biográficas finais localizam, no tempo do autor, sua opção por uma “literatura noir , pop, brutalista e sutil”; suas leituras desde a adolescência, assim como a trajetória de vida e de trabalho em várias de suas ocupações. À sombra do cipreste (1999), de Menalton Braff, encontra-se na 6ª. edição. O volume da 1ª. à 5ª. edição contou com orelha de Moacyr Scliar, um texto bem humorado, inteligente, em que afirma o valor da forma literária do conto, sua popularidade, para destacar do contista Menalton seu domínio da narrativa breve, situando-o como notável ficcionista, que faz o conto na sua melhor expressão: uma narrativa curta, intensa, voltada para situações limites diante de assuntos essenciais da existência.
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