A Poética Do Samba-Enredo – a Canção Das Escolas De
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JACKSON RAYMUNDO A POÉTICA DO SAMBA-ENREDO – A CANÇÃO DAS ESCOLAS DE SAMBA DE PORTO ALEGRE PORTO ALEGRE, 2015. 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS ÁREA: ESTUDOS DE LITERATURA ESPECIALIDADE: LITERATURA BRASILEIRA A POÉTICA DO SAMBA-ENREDO – A CANÇÃO DAS ESCOLAS DE SAMBA DE PORTO ALEGRE Mestrando: Jackson Raymundo Orientador: Professor Doutor Luís Augusto Fischer Dissertação de Mestrado em Literatura Brasileira, apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós- Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2015. 3 4 Simbolizando em meus avós, Cabo e Miguelina Brito, que durante décadas mantiveram um espaço de celebração da cultura negra, dedico a todos que em suas vidas fizeram a opção de dar visibilidade aos invisíveis. 5 AGRADECIMENTOS Ao Professor Luís Augusto Fischer, que desde a graduação acompanha com muito interesse a minha paixão pelo tema, sendo fundamental nos caminhos trilhados, e por sempre procurar estar atento a todas as manifestações culturais, sem preconceitos. À minha família e aos amigos pela compreensão das ausências em suas vidas, seja em almoços, jantares ou sambas, e pelo apoio e torcida permanentes. À octogenária UFRGS, minha casa em toda a vida universitária, por ter me transformado intelectualmente. Ao samba, ao carnaval, à música e à literatura brasileira, enfim, às coisas boas da vida, que nos possibilitam viver com decência e transcender. 6 “Eu canto samba Porque só assim eu me sinto contente Eu vou ao samba Porque longe dele eu não posso viver Com ele eu tenho de fato uma velha intimidade Se fico sozinho ele vem me socorrer Há muito tempo eu escuto esse papo furado Dizendo que o samba acabou Só se foi quando o dia clareou Há muito tempo eu escuto esse papo furado Dizendo que o samba acabou Só se foi quando o dia clareou” Eu canto samba, Paulinho da Viola 7 RESUMO No século XX, o samba se tornou verdadeiro sinônimo de “brasilidade”. Num contexto de afirmação de nacionalismos, o ritmo outrora perseguido pelas autoridades policiais se tornou um símbolo pátrio. Com a fundação das escolas de samba, não só o carnaval muda a sua cara e se torna mais “ordeiro”, mas cria-se um gênero artístico próprio: o desfile de escolas de samba, gênero que desenvolve a sua própria canção, o samba-enredo. Esta pesquisa tem por objetivo esmiuçar os elementos literários/cancionais do samba-enredo, em busca do que o caracteriza como gênero cancional. O estudo sobre o samba-enredo deve estar relacionado ao gênero artístico do qual é indissolúvel. A análise é panorâmica, mas o aprofundamento de corpus se dá a partir das canções produzidas pelas escolas de samba de Porto Alegre no período entre 1976 e 2014. Diante disso, foram montadas unidades de sentido e sistematizados longas durações, ciclos e eventos. 8 ABSTRACT In the twentieth century, the samba has become synonymous with "Brazilianness". In a context of nationalism statement, the pace once chased by the police became an identity symbol. With the foundation of the samba schools, not only the carnival changes its face and becomes more "orderly", but creates its own artistic genre: the parade of samba schools, genre that develops its own song, the samba-song (samba-enredo). This research aims to scrutinize the literary / musical elements of samba, in search of the features as musical genre. The study on the samba-song (samba- enredo) should be related to artistic genre which is indissoluble. The analysis is panoramic, but the corpus of deepening occurs from the songs produced by samba schools of Porto Alegre produced in the period between 1976 and 2014. Thus, meaning units were assembled and systematized long durations, cycles and events. 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12 1. DO SAMBA AO SAMBA DE CARNAVAL ................................................. 18 1.1 Samba: origens e etimologia ......................................................................18 1.2 “De semba se fez samba...” ...................................................................... 21 1.3 A consolidação do samba .......................................................................... 22 1.4 A primeira escola de samba ...................................................................... 23 1.5 A visibilidade negra .................................................................................... 31 1.6. O surgimento dos desfiles de escolas de samba ..................................... 33 2. O CARNAVAL DE PORTO ALEGRE ........................................................ 34 2.1 Os primórdios ............................................................................................. 34 2.2 O Estado Novo e os primeiros grupos carnavalescos ............................... 36 2.3 Nacionalismo, regionalismo e etnicidade ................................................... 39 2.4 O negro e a cultura negra em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul ........ 40 2.5 A consolidação dos desfiles de escolas de samba em Porto Alegre ......... 41 2.6 Os (outros) carnavais de Porto Alegre hoje ............................................... 47 2.7 Os desfiles de escolas de samba de Porto Alegre na atualidade .............. 49 2.8 Considerações ........................................................................................... 55 3. SAMBA-ENREDO – A INVENÇÃO DE UMA FORMA CANCIONAL BRASILEIRA .................................................................................................. 56 3.1 Ascensão do samba e visibilização das culturas periféricas ..................... 56 3.2 O externo e o interno formando uma nova estrutura literária .................... 58 3.3 A constituição da forma própria do samba-enredo .................................... 64 3.4 Considerações finais .................................................................................. 68 4. DESFILE DE ESCOLAS DE SAMBA, UM GÊNERO ARTÍSTICO ............. 70 10 4.1 O desfile de escolas de samba na perspectiva dos Estudos Interartes e de Intermidialidade ................................................................................................ 71 4.2 Do verbal ao não-verbal, do enredo e do samba-enredo às outras linguagens: um caso de transposição intersemiótica ...................................... 86 4.3 Considerações Finais ................................................................................ 92 5. DO TEMA-ENREDO PARA O SAMBA-ENREDO: TRANSPOSIÇÃO DE GÊNEROS ....................................................................................................... 94 5.1 Do tema-enredo ao samba-enredo: estudo de caso ..................................96 5.2 O samba-enredo na bibliografia ............................................................... 102 5.3 O primeiro samba-enredo ........................................................................ 103 5.4 Características cancionais do samba-enredo .......................................... 106 5.6 Considerações finais ................................................................................ 109 6. A PRESENÇA DO ÉPICO NO SAMBA-ENREDO .................................... 111 6.1 Levantamento historiográfico sobre a presença do épico no samba-enredo ........................................................................................................................ 113 6.2 A estrutura épica no samba-enredo ......................................................... 116 6.3 Estudo de caso: Festa de Batuque .......................................................... 123 6.4 Considerações finais ................................................................................ 127 7. A POÉTICA DO SAMBA-ENREDO DE PORTO ALEGRE ...................... 129 7.0 Longas durações, ciclos e eventos do samba-enredo de Porto Alegre ... 134 7.1 As longas durações do carnaval de Porto Alegre ...............................137 7.1.1 Longa duração: Formação e miscigenação do Brasil ........................... 137 7.1.2 Longa duração: o negro (e a religiosidade afro-brasileira) ................... 157 7.1.3 Longa duração: o índio ......................................................................... 173 7.1.4 Longa duração: Porto Alegre ................................................................ 178 7.2 Os ciclos do carnaval de Porto Alegre ................................................ 204 11 7.2.1 O ciclo dos sambas-enredo de exaltação ao carnaval ......................... 204 7.2.2 O ciclo dos sambas-enredo irreverentes e críticos ............................... 212 7.3 Evento: o desfile das escolas de samba em 2000 e os Sete Povos das Missões ........................................................................................................ 223 7.4 O Rio Grande do Sul ............................................................................. 230 CONCLUSÃO ............................................................................................... 233 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 240 ANEXOS ........................................................................................................ 247 12 INTRODUÇÃO Muitos capítulos ainda estão por serem escritos na história da cultura brasileira, em particular na chamada “cultura popular”1. Transformados no século XX como alguns dos ícones do Brasil e do ideal de brasilidade, o samba e o carnaval