A Improvisação Nos Primeiros Álbuns Do Tamba Trio
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GUILHERME CAMPIANI MAXIMIANO Transformação na música instrumental brasileira: a improvisação nos primeiros álbuns do Tamba Trio Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Música, Área de Concentração Processos de Criação Musical, Linha de Pesquisa Técnicas Composicionais e Questões Interpretativas, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do Título de Mestre em Artes, sob a orientação do Prof. Dr. Rogério Luiz Moraes Costa. São Paulo 2009 GUILHERME CAMPIANI MAXIMIANO Transformação na música instrumental brasileira: a improvisação nos primeiros álbuns do Tamba Trio Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Música, Área de Concentração Processos de Criação Musical, Linha de Pesquisa Técnicas Composicionais e Questões Interpretativas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do Título de Mestre em Artes, sob a orientação do Prof. Dr. Rogério Luiz Moraes Costa. São Paulo 2009 FOLHA DE APROVAÇÃO GUILHERME CAMPIANI MAXIMIANO Transformação na música instrumental brasileira: a improvisação nos primeiros álbuns do Tamba Trio Aprovado em: Banca Examinadora Prof. Dr. ________________________________________________ Instituição: ___________________ Assinatura: _________________ Prof. Dr. ________________________________________________ Instituição: ___________________ Assinatura: _________________ Prof. Dr. ________________________________________________ Instituição: ___________________ Assinatura: _________________ RESUMO O presente trabalho tem o objetivo de investigar o uso da improvisação nas gravações iniciais do Tamba Trio, grupo surgido no início da década de 1960 no Rio de Janeiro. Ao longo da pesquisa, foram utilizadas algumas ferramentas de análise para compreender quais as modalidades de improvisação presentes nas gravações. Comparações foram feitas entre o Tamba com outras manifestações da mesma época. Nessas análises, foram encontrados aspectos que permitem concluir que o Tamba representou importantes tendências estilísticas da época e que influenciaram a produção da música instrumental brasileira desde então. ABSTRACT This work aims to investigate the use of improvisation on the first recordings of Tamba Trio, a group that came together in the beginning of the 1960‟s in Rio de Janeiro. Throughout the development of the work, various analysis tools were used, in order to understand the modes of improvisation present in the recordings. The findings thereof were used to compare Tamba with other artists of the same period. The results allows the conclusion that Tamba Trio represented and pioneered some important trends that influenced the so called Brazilian Instrumental Music that has been produced since then. ii Dedicado a João Antunes Maximiano iii AGRADECIMENTOS Espero ter sido um aluno merecedor do esforço de Rogério Costa, sem cuja cuidadosa orientação esse trabalho jamais teria se concretizado. Sem a imensa atenção que me dispensaram Bebeto Castilho e Hélcio Milito o texto teria ficado muito mais pobre, e por isso eu sou eternamente grato. A Daniel Obeid e Marcio Zorzella, que muito ajudaram lendo e propondo melhorias a versões preliminares. A Henrique Penna, o Peninha, e Sergio Basbaum, pela troca de idéias musicais e pessoais. A Marli Batista Ávila pela compreensão, pela amizade e por ser uma excelente colega de trabalho. Agradeço a Renato Amoroso, Ivan Ivanov e Zeca Louro, do blog Loronix pelos discos emprestados e pela disponibilidade em colaborar. A minha esposa Kika e a meus pais, pela ajuda e pela compreensão. iv SUMÁRIO 1. Introdução 1 2. Música instrumental brasileira 8 3. Improvisação em música popular 30 4. O Tamba Trio 60 5. Improvisação no Tamba Trio 75 6. Conclusão 97 Referências 100 Anexos 113 v 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho traz uma investigação de um caso de uso da improvisação na música popular brasileira: os solos que se ouvem nos três primeiros álbuns do Tamba Trio. O Tamba Trio, ao registrar seu trabalho em disco, no início dos anos 60, representa tendências que vinham se manifestando na cena da música instrumental da época que tinha lugar em casas noturnas cariocas e paulistas. Estas tendências incluem maneiras particulares de abordar o arranjo, a harmonia, o ritmo e a improvisação e são verificáveis também em outros grupos inspirados pelo jazz e pela bossa nova, como o Zimbo Trio, os grupos de Sergio Mendes e de J.T. Meirelles e muitos outros. Essa cena musical, apesar de não ser um objeto freqüente de investigações acadêmicas, é amplamente citada em livros, documentários e na imprensa; termos como samba-jazz, bossa nova instrumental têm sido usados para classificá-la. Desdobramentos mais recentes desta música foram denominados de música instrumental brasileira. O surgimento do Tamba é cronologicamente muito próximo aos marcos iniciais da bossa nova, e compartilha com ela uma parte importante do repertório e alguns aspectos estéticos, a começar do samba como matriz. Veremos que isso não significa que a agitada cena de música instrumental da época, representada em parte pelos trios de piano, seja um mero desdobramento ou vertente da bossa nova. Apesar das evidentes intersecções, esse texto não se preocupará em contribuir com as discussões sobre o significado da bossa nova 1 e suas exatas delimitações temporais e estilísticas, e adotaremos diretamente a visão de alguns autores que serão citados oportunamente. Também veremos que a música produzida nessa cena mostra intersecções importantes com o jazz, até mais intensas do que se verifica na própria bossa. Nos interessarão aqui certos aspectos dessa intersecção, a saber o destaque dado à execução instrumental, a própria presença do improviso e o modo como ele ocorre. Também serão discutidas outras influências, por exemplo de grupos vocais brasileiros e americanos e do choro, que de alguma maneira estão presentes na música do Tamba e de muitos outros músicos que trabalhavam na noite no Rio de Janeiro na virada da década de 1950 para a de 1960. Apesar de identificar essas influências, este estudo tampouco pretende contribuir para a discussão a respeito da exata contribuição do jazz (ou de outras matrizes, como a música erudita) para a bossa nova. Este trabalho elege, como objeto de pesquisa, uma parte delimitada do trabalho do Tamba, que são os três primeiros álbuns. Essa escolha inicial descarta outras formações do Tamba – os três discos contam com a participação de Luiz Eça (piano), Bebeto Castilho (baixo, flauta e saxofones) e Hélcio Milito (percussão) tocando e cantando, além de instrumentistas convidados. Outra vantagem é que esses três registros, concentrados nos anos iniciais de atividade do grupo, apresentam razoável coesão estilística: a maioria das faixas apresenta alguma modalidade de improvisação, faz uso das mesmas sonoridades, emprega as vozes dos integrantes de maneira semelhante e atém- se a um mesmo tipo de repertório. Em produções posteriores do trio, a formação 2 alterou-se (entre outras mudanças, Octávio Bailly assumiu o baixo e Laércio de Freitas o piano), sintetizadores e guitarras foram incluídos e cantores- compositores foram convidados a participações especiais. Dentro destas gravações, o texto se aprofundará somente nas improvisações; através da transcrição e análise de solos selecionados, procuraremos jogar luz sobre sua estruturação. O objetivo é compreender o uso da improvisação nestes discos e se esse uso representa uma novidade estética, na medida em que se diferencia de outras produções anteriores. *** Esse é um trabalho que trata, como já está patente, da chamada música popular. Há muitos contextos em que uma divisão entre música erudita e popular não é muito eficaz, principalmente para compreender algumas manifestações musicais que ocorrem a partir da virada do século XIX para o XX. Como resultado, é comum encontrar em textos sobre o tema menções aos limites dessas definições, e aos erros em que se pode incorrer ao classificar artistas em uma ou outra categoria. Em seu livro sobre Anacleto de Medeiros, o historiador fluminense André Diniz comenta (2007): [...]durante um bom tempo os trabalhos sobre o universo da música brasileira estabeleciam uma diferenciação discutível entre música erudita, popular e folclórica. Felizmente esse instrumental teórico passou a ser questionado por uma série de pesquisas, que destacavam a dificuldade de compreender nossa história cultural em 3 conceitos tão estanques. Historiadores, sociólogos, antropólogos, críticos literários, e musicólogos vêm produzindo leituras de nossa história musical que permitem uma visão mais ampla e complexa do seu processo de formação (p. 12). Há uma miríade de realizações de fronteira e cruzamentos entre popular e erudito que corroboram as palavras de Diniz, que ocorreram dentro e fora do Brasil. Alguns exemplos são as incursões de instrumentistas eruditos pelo território popular (como a colaboração do violista John Cale, membro do grupo de La Monte Young, com a banda de estimação de Andy Warhol, The Velvet Underground, contada pelo crítico Alex Ross no livro The Rest is noise: listening to the twentieth century – ROSS, 2007, p. 508), composições eruditas que buscam inspiração na música popular (como o prelúdio Minstrels, de Claude Debussy), incursões de compositores populares por formas habitualmente eruditas (como a Rapsody in Blue de George Gershwin), e interpretações de peças eruditas por grupos populares (como o Moto Contínuo de Radamés Gnatalli, registrado na última faixa do terceiro disco do Tamba).