A Concepção Curatorial No Museu Afro Brasil – Parque Ibirapuera, São Paulo/SP

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A Concepção Curatorial No Museu Afro Brasil – Parque Ibirapuera, São Paulo/SP UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – CFH PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL Carla Brito Sousa Ribeiro QUE “AFRO” É ESSE NO AFRO BRASIL? A concepção curatorial no Museu Afro Brasil – Parque Ibirapuera, São Paulo/SP Florianópolis 2018 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – CFH PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL Carla Brito Sousa Ribeiro QUE “AFRO” É ESSE NO AFRO BRASIL? A concepção curatorial no Museu Afro Brasil – Parque Ibirapuera, São Paulo/SP Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Antropologia Social. Orientadora: Professora Doutora Ilka Boaventura Leite. Florianópolis 2018 Carla Brito Sousa Ribeiro QUE “AFRO” É ESSE NO AFRO BRASIL? A concepção curatorial no Museu Afro Brasil – Parque Ibirapuera, São Paulo/SP Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Antropologia e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFSC. Florianópolis, 08 de março de 2018. __________________________________ Profª. Drª. Vânia Zikan Cardoso Coordenadora do Curso Composição da Banca Examinadora: _________________________________________________ Profª Drª Ilka Boaventura Leite (Presidente PPGAS/UFSC) _______________________________________________ Profª Drª María Eugenia Dominguez (Membro Interno PPGAS/UFSC) _____________________________________ Profº Dr. Paulo Jorge Pinto Raposo (Membro Interno – PPGAS/UFSC) ________________________________________________ Dr. Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho (Membro Externo – Associação Brasileira de História das Religiões AGRADECIMENTOS Venho de uma família para a qual o ensino superior é ponto extraordinário na trajetória de seus membros. Aliás, o acesso a ele só foi possível pela ruptura causada por minha mãe, que entre seus doze irmãos é a única que possui curso de graduação. Essa superação se deu na faixa de seus 40 anos de idade, quando era responsável por duas filhas, à época pré-adolescentes. Assim como muitas coisas em nossa vida, essa façanha se deve a ajuda incessante de Maria de Brito, tia com status de avó, mãe, tutora e matriarca, mesmo sem nunca ter tido filhos biológicos. Ao olhar para a vitória de minha mãe, não consigo deixar de vê- la como parte da minha. Assim como também percebo a contribuição das minhas avós, ambas já falecidas. Creio que não há melhor forma de me sentir grata do que lembrar das trajetórias dessas duas mulheres, que nunca tiveram a permissão de acesso ao ensino formal, que dirá a outros direitos pela minha geração tomados como tão garantidos. A elas foi designado o lugar das tarefas domésticas, o lugar de esposa “novinha e trabalhadora”, trazida como encomenda do sertão baiano para cuidar dos sete filhos do primeiro casamento do marido; O lugar de empregada doméstica vendida pelo próprio pai ainda criança no interior de São Paulo para trabalhar em “casa de família”. Nunca lhes foi concedido o direito de escolher sua profissão ou sua área de estudos. É a essas mulheres que sinto que talvez jamais poderei agradecer o suficiente por terem sobrevivido a todas as imposições em suas vidas para dar vez a gerações com maiores oportunidades, suas filhas e netas que podem lhes fazer justiça através do direito de escolha. Elas não deixaram bens, propriedades ou posses, mas deixaram um exemplo de resistência que não será esquecido. Sem o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq, não teria sido possível a conclusão desta etapa em tempo ideal. Fica o meu profundo agradecimento e o reconhecimento pelo privilégio de ter minha permanência na pós-graduação financiada. Sou grata também pelo suporte de minha orientadora, Ilka Boaventura Leite, que gentilmente me abriu as portas para uma pesquisa que havia sido iniciada por ela. Não tenho palavras para agradecer sua atenção, seus exemplos e por ter compartilhado sua experiência comigo, o que me proporcionou um profícuo voo livre através da Antropologia. Os colegas do Núcleo de Estudos de Identidades e Relações Interétnicas, o NUER, fundado há 30 anos pela professora Ilka Leite fizeram grande diferença neste percurso, e foram mais do que companheiros de uma linha de pesquisa, formando uma rede de apoio e suporte para seguirmos em meio ao cenário dos desmontes da educação brasileira de forma geral. Agradeço especialmente a Yérsia, mulher de coração gigantesco e uma força inspiradora, a Larisse por toda a sua sensibilidade e empatia, ao Yasser por sempre deixar os momentos mais leves e ao Willian, que me incentivou a tentar o processo de seleção para o programa. Um agradecimento especial vai também a toda a equipe do Projeto Territórios do Axé. Obrigada por me proporcionarem momentos tão valiosos para a minha formação acadêmica e para o meu crescimento enquanto indivíduo. Tenho muito a agradecer pelo suporte e apoio do PPGAS UFSC, um programa que conseguiu avançar nas discussões e implementou políticas afirmativas do o perfil geral de seus alunos – Obrigada turma do mestrado de 2016!. Agradeço especialmente pelo apoio e incentivo na participação de Congressos, bem como por tornar possível todo o empenho que foi empregado pela Comissão Geral de Organização das Jornadas Antropológicas 2017. Este grupo e esta experiência foram muito ricos para a minha formação. Sou grata também a minha irmã, Aline, que trilhou os caminhos iniciais na UFSC, e me proporcionou conhecer e entender um pouco melhor essa instituição e a cidade de Florianópolis. Ao meu companheiro João, agradeço por todas as formas de suporte que conseguiu a mim dispender. Por fim eu gostaria de ressaltar a grande relevância que alguns colaboradores do Museu Afro Brasil tiveram para esta pesquisa. Agradeço especialmente as saudosas conversas com Romilda, Isabel, Tiago, Roberto, Fátima, Luís, Luciara e Jefferson, sujeitos que deixaram suas marcas de uma maneira ou de outra neste texto. Além de toda a disponibilidade do Guilherme, também colaborador do Museu e colega de tempos mais remotos, quando da formação em Museologia pelo Centro Paula Souza. Obrigada pelos textos e pelas palavras. [...] Se você tá afim de ofender É só chamá-la de morena, por crer Você pode até achar que impressiona Aqui no Ile Ayê a preferência é ser chamada de negona O sistema tenta desconstruir Te afasta das suas origens Para que você não possa interagir Construir Já passou da hora de acordar Assumir sua negritude É vital para prosperar Ser negro não é questão de pigmentação É resistência para ultrapassar a opressão Sem pressão [...] Alienação Bloco Ilê Aiyê Letra: Sandro Teles e Mário Pam RESUMO Esta pesquisa se orientou pela abordagem etnográfica do Museu Afro Brasil, tendo em vista levantar aspectos que permitissem refletir sobre o conceito e as ideias de “afro” da instituição. O conceito, que norteia a concepção curatorial no Afro Brasil, se revelou como um imaginário próprio, composto pelo arranjo de objetos de toda a sorte de categorias, que junto a instalações e elementos de cenografia, comunicam o “afro” ao público de uma maneira aberta. O acompanhamento da rotina institucional também possibilitou perceber que este “afro” transcende a narrativa curatorial, pois é evidenciado na visão política dos colaboradores do Museu que atuam na comunicação com o público visitante, principalmente através de seus educadores. Remontar os percursos, tanto do idealizador e realizador do Afro Brasil, Emanoel Araújo, quanto dos conceitos que fizeram parte da concepção do Museu no formato das exposições que o precederam, auxiliou a pensar a institucionalização do “afro” e os modos como essa noção vem sendo moldada atualmente através de um processo criativo conjunto. Palavras-chave: Museu Afro Brasil; imagem; afro-brasileiro; afroidentidade. ABSTRACT This research has been oriented by an ethnographic approach of Museu Afro Brasil, aiming to sum up aspects to consider about the concept and the ideas of “afro” of this institution. This concept, that guides the curatorial conception in the Afro Brasil, has revealed itself as a particular imagery, composed by an arrangement of all source of object categories. Toghether with art installations and scenographic elements they communicate the “afro” to the public in a wide and open to interpretation way. Following the Museum's routine has also permitted to realize that this “afro” transcends the curatorial narrative, once it moves around its workers' political vision transmitted to the public, specially perceived on its educators' activiities. To retrace steps, both the Museum's creator Emanoel Araújo, and the concepts that were part of the Museum's conception in his previous exhibitions, has helped us to understand the process that led to the “afro” institutionalization. Tracing these steps has also been useful to comprehend how this notion is being built today, as a creative collective process. Key words: Museu Afro Brasil; image; afro-brazilian; afro identity. RÉSUMÉ Cette recherche a été orienté par l'approche ethnographique du Museu Afro Brasil, avec l'objectif de rassembler des éléments capables de nous faire réflechir sur le concept et les idées de “l'afro” de l'institution. Ce concept, qui guide la conception des expositions du Musée, s'est révélé comme une imagerie particulière, composé par l'arrangement des objets d'une variété de catégories. Avec des installations d'art et des décors scéniques, cette imagerie communique “l'afro” aux visiteurs, ouvert à leur interprétation. Suivre la routine de l'institution a également permis de réaliser que cet "afro" transcende le récit curatorial, car dans ses mouvements, il est réalisé dans la vision politique des employés du Musée qui travaillent en communication avec le public visiteur, spécialement à travers leurs éducateurs. Tracer les chemins du créateur et directeur d'Afro Brasil, Emanoel Araújo, aussi que les parcurs des concepts qui ont fait partie de la conception du Musée - au format des expositions qui l'ont précédé -, a aidé à réfléchir sur l'institutionnalisation de “l'afro”.
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